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1. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
2
PAGANELLI, Celso Jefferson Messias. Ativismo judicial no direito digital: responsabilidade
objetiva das redes sociais na internet. In: PAGANELLI, Celso Jefferson Messias; SIMÕES,
Alexandre Gazetta; IGNÁCIO JUNIOR, José Antonio Gomes. Ativismo judicial: paradigmas
atuais. São Paulo: Letras Jurídicas, 2011. pp. 17-18.
Sobreleva, nesse rumo, a denominada função diretiva que se
atribui à Constituição, consistente no propósito de efetivar os valores nela
positivados, assegurando que a atuação estatal seja norteada pelo bem-estar,
pela igualdade e pela justiça, como salienta a Ministra Cármen Lúcia no
acórdão a seguir transcrito:
3
Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/constituicao/artigoBd.asp?item=2> Acesso em:
04/04/2015.
Portanto, o que se quer dizer é que as políticas públicas do
Estado devem ser voltadas para a integral aplicação da Constituição,
atribuindo-se aos ditos “valores supremos” um significado concreto que
viabilize sua efetiva realização na vida social.
4
DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério, tradução e notas: Nelson Boeira. São
Paulo: Martins Fontes, 2002.
5
LASSALE, Ferdinand. O que é uma Constituição Política. Rio de Janeiro: Editora Global,
1987.
6
PIOVESAN, Flávia. Proteção judicial contra omissões, 2ª ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2003. p. 41.
7
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das normas constitucionais, 7ª ed. São Paulo:
Malheiros, 2008. p. 47.
Com efeito, o supracitado autor delineou uma lógica segundo a
qual a aplicabilidade plena das normas constitucionais depende,
inevitavelmente, da atuação do legislador infraconstitucional, que possui a
função precípua de elaborar leis que atribuam um significado concreto à
Constituição. Como se verá mais adiante, esse raciocínio norteou a idealização
de uma classificação das normas constitucionais conforme sua aplicabilidade e
eficácia que viria a ser consagrada na doutrina brasileira (normas
constitucionais de eficácia plena, contida e limitada). Porém, em uma análise
prefacial, o que merece relevo é a constatação de que o Poder Legislativo deve
sempre atuar no sentido de conferir concretude à Constituição, o que lhe
reveste de relevante valor social.
8
PAGANELLI, Celso Jefferson Messias. Ativismo judicial no direito digital: responsabilidade
objetiva das redes sociais na internet. In: PAGANELLI, Celso Jefferson Messias; SIMÕES,
Alexandre Gazetta; IGNÁCIO JÚNIOR, José Antonio Gomes. Ativismo judicial: paradigmas
atuais, 1ª ed. São Paulo: Letras Jurídicas, 2011. p. 17.
9
BARROSO, Luiz Roberto. Jucialização, Ativismo Judicial e Legitimidade Democrática, p.
09. Disponível em:
<http://www.oab.org.br/editora/revista/users/revista/1235066670174218181901.pdf>
Acesso em: 02/04/2015
10
CAPPELLETTI, Mauro. Juízes legisladores?, trad. Carlos Alberto Alvaro de Oliveira. Porto
Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 1993. p. 44.
Tanto é assim que Flávia Piovesan, ao introduzir o tema da
proteção judicial contra omissões legislativas, pontuou que a concretização da
ordem constitucional se apresenta como dever jurídico dos “Poderes
Públicos”11, expressão abrangente que envolve todas as instâncias políticas,
inclusive a atividade administrativa.
11
PIOVESAN, Flavia, op. cit., p. 20.
12
O preço da corrupção no Brasil: valor chega a R$ 69 bilhões por ano. Disponível em:
<http://sindjufe-mt.jusbrasil.com.br/noticias/2925465/o-preco-da-corrupcao-no-brasil-valor-
chega-a-r-69-bilhoes-de-reais-por-ano> Acesso em: 09/04/2015
1.2. Protagonismo do Poder Judiciário
13
BARROSO, Luís Roberto, op. cit., p. 1.
14
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4.277 e
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132.
15
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3.150.
16
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. MS 26.602; MS 26.603 e MS 26.604.
17
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
(ADPF) 130.
18
BARROSO, Luís Roberto, op. cit., pp. 5-6.
Judiciário ingressa de forma supletiva no campo de atuação dos demais
Poderes, o que revela o caráter político e social da atividade jurisdicional.
19
JORGE NETO, Nagibe de Melo Jorge. O controle jurisdicional das políticas públicas, 2ª
tir. Salvador: Juspodium, 2009. p. 19.
20
SIMOES, Alexandre Gazetta. Ponderações sobre o protagonismo judicial, o Estado
Social e a eficácia dos direitos fundamentais sociais. PAGANELLI, Celso Jefferson
Messias; SIMÕES, Alexandre Gazetta; IGNÁCIO JÚNIOR, José Antonio Gomes. Ativismo
judicial: paradigmas atuais, 1ª ed. São Paulo: Letras Jurídicas, 2011. p. 112.
participação democrática dentro dos quais avulta o processo
judicial21.
21
JORGE NETO, Nagibe de Melo Jorge, op. cit., p. 22.
22
GOMES, Sergio Alves. Hermenêutica jurídica e constituição no Estado de Direito
Democrático. Rio de Janeiro: Forense, 2002. p. 71
23
MIRANDA, Jorge. Manual de direito constitucional. Coimbra: Editora Coimbra, 1988, vol. 4,
p. 166.
ao atender as demandas sociais, é instado a preencher as lacunas deixadas
pela inatividade das outras esferas da atuação estatal, abre-se espaço para
reflexão acerca dos efeitos dessa postura sobre a separação dos Poderes e do
escopo político da função jurisdicional.
29
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil – Teoria geral do direito
processual civil e processo de conhecimento – vol. I. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 54
30
BRASIL. Constituição Federal (...)
31
THEODORO JÚNIOR, Humberto, op. cit., p. 54.
inafastável, vale dizer, uma atividade que não pode ser negada pelo Estado,
sob pena de infringência da garantia constitucional do acesso à justiça.
33
BOBBIO, Norberto. Teoria da norma jurídica, trad. Fernando Pavan Baptista e Ariani Bueno
Sudatti, apres. Alaôr Caffé Alves. Bauru: Edipro, 2001. p. 55.
34
Ibidem, pp. 55/56.
35
Ibidem, p. 56.
Não obstante, cumpre observar que o jusnaturalismo, aliado ao
iluminismo, viabilizou grandes avanços sociais, tais como a revolução francesa
(1789) e a independência norte-americana (1776), como salienta José Antônio
Gomes Ignácio Júnior36.
36
IGNÁCIO JÚNIOR, José Antonio, op. cit., p. 126.
37
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição, op. cit., p. 321.
38
Idem.
39
Ibidem, p. 322.
ao defender que aquilo que constitui o direito é a validade, não quer em
absoluto afirmar que o direito válido seja também justo; para Kelsen, a justiça é
um problema ético distinto do problema jurídico da validade 40. Portanto, os
positivistas simplesmente relegam a discussão da justiça para o plano ético,
refutando-lhe o caráter jurídico.
40
BOBBIO, Norberto, op. cit., pp. 58-59.
41
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição, op. cit., pp. 323-325.
42
ARENDT, Hannah apud IGNÁCIO JÚNIOR, José Antonio, op. cit., p. 133.
43
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição, op. cit., pp. 325-326.
metafísicos, como outrora, mas sim em princípios abarcados de forma explícita
ou implícita pela Constituição. Inicia-se, então, a partir das últimas décadas do
século XX, o que se denominou “pós-positivismo”, momento em que “as novas
Constituições acentuam a hegemonia axiológica dos princípios, convertidos em
pedestal normativo sobre o qual assenta todo o edifício jurídico dos novos
sistemas constitucionais”, como assinala Paulo Bonavides44.
47
KELSEN, Hans. Teoria pura do direito, p. 214.
daquilo que o antecedeu. De fato, é possível visualizar
elementos particulares que justificam a sensação geral
compartilhada pela doutrina de que algo diverso se desenvolve
diante de nosso olhos e, nesse sentido, não seria incorreto
falar de um novo período ou momento no direito constitucional.
Nada obstante isso, fenômeno humano e histórico que é, o
constitucionalismo contemporâneo está ligado de forma
indissociável à sua própria história, como se verá adiante48.
48
BARCELLOS, Ana Paula de. Neoconstitucionalismo, direitos fundamentais e controle
das políticas públicas, pp. 1-2. Disponível em:
<http://www.direitopublico.com.br/pdf_seguro/artigo_controle_pol_ticas_p_blicas_.pdf>
Acesso em: 16/04/2015
49
BARCELLOS, Ana Paula de, op. cit., pp. 2-3.
Porém, antes que se possa adentrar na seara da nova
hermenêutica constitucional, é oportuno esclarecer o significado dos princípios
na atual dogmática jurídica.
56
KELSEN, Hans apud RAMOS, Elival da Silva, ibidem, p. 72.
57
MORAES, Maria Cecilia Bodin, op. cit., p. 57.
58
RAMOS, Elival da Silva, op. cit., pp. 81-82.
59
GOMES, Sergio Alves, op. cit., p. 42.
participação criativa do intérprete, faz-se notar também na seara constitucional,
sobretudo no contexto do neoconstitucionalismo, marcado por Constituições
principiológicas. Elival da Silva Ramos corrobora esse entendimento:
60
RAMOS, Elival da Silva, op. cit., p. 86.
61
GOMES, Sergio Alves, op. cit., pp. 44-45.
62
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição, op. cit., pp. 151-246.
uma extensa explanação, em detrimento da objetividade com que se almeja
abordar o tema deste trabalho -, ficou bem delineado que a hermenêutica
constitucional contemporânea preza pela participação ativa e criativa do
intérprete-aplicador, com vistas a ampliar os horizontes interpretativos da
Constituição e compreendê-la como um sistema uno e soberano de valores a
serem realizados.
63
SILVA, José Afonso, op. cit., p. 73.
Pode-se dizer que uma norma constitucional é auto-executável
quando nos fornece uma regra, mediante a qual se possa fruir
e resguardar o direito outorgado, ou executar o dever imposto;
e que não é auto-aplicável quando meramente indica
princípios, sem estabelecer normas por cujo meio se logre dar
a esses princípios vigor de lei64.
66
SILVA, José Afonso, ibidem., p. 82.
67
SILVA, José Afonso, op. cit., pp. 82-83.
68
SILVA, José Afonso, ibidem, pp. 84-86.
aplicáveis, reconheceu que “não há, numa Constituição, cláusulas a que se
deve atribuir meramente o valor moral de conselhos, avisos ou lições”69.
69
BARBOSA, Ruy apud SILVA, José Afonso, ibidem, pp. 75-76.
70
SILVA, José Afonso, op. cit., p. 76.
71
SILVA, José Afonso, ibidem, p. 164.
vantagem ou desvantagem aos seus destinatários, possibilitando que venham
a exigir prestações e abstenções do Estado.
2. ATIVISMO JUDICIAL
2.1. Origem
72
SILVA, José Afonso, op. cit., p. 175.
73
BARROSO, Luís Roberto, Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática,
op. cit., pp. 1-2.
alongamento da atuação do Judiciário já mostrava indícios em textos do início
do século passado, como a Constituição mexicana de 1917 e a Constituição de
Weimer de 191974.
74
IGNÁCIO JÚNIOR, José Antonio Gomes, op. cit., p. 132.
75
BARROSO, Luís Roberto, Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática,
op. cit., p. 7.
exercício da jurisdição no ordenamento jurídico em que se insere o fenômeno e
ao lugar atribuído às decisões judiciais entre as fontes do direito76.
76
RAMOS, Elival da Silva, op. cit., p. 104.
77
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 25ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 142.
a) do ponto de vista estrutural e organizacional, que se verifica
na estrutura unitária e compacta dos países do common law, ao passo que nos
países do civil law predomina uma estrutura desunida e diluída, o que resulta
no enfraquecimento dos tribunais, dos magistrados singulares que a integram e
de suas decisões;
78
CAPPELLETTI, Mauro, op. cit., pp. 116-122.
O confronto entre um e outro sistema tem sido extremamente
fecundo, inclusive por demonstrar que, nessa matéria, o que
prevalece, para explicar o primado desta ou daquela fonte de
direito, não são razões abstratas de ordem lógica, mas apenas
motivos de natureza social e histórica.
(...)
79
REALE, Miguel, idem.
80
DAVID, René apud RAMOS, Elival da Silva, op. cit., p. 107.
Como se vê, o fenômeno da globalização se estende ao
universo jurídico, ensejando a homogeneização de padrões culturais e a
adoção de posturas semelhantes no enfrentamento de questões comuns a
todos, conforme observa Lewandowsky81.
2.2. Causas
81
LEWANDOWSKY, Enrique Ricardo. Globalização, regionalização e soberania. São Paulo:
Juarez de Oliveira, 2004, p. 50
82
ASCARELLI, Tullio apud REALE, Miguel, op. cit., p. 169.
83
CAPPELLETTI, Mauro, op. cit., p. 128.
brasileiro. No entanto, não é esta a única causa que coopera para o
estabelecimento da presente situação.
(...)
84
CAPPELLETTI, Mauro, op. cit., pp. 44/45.
85
Ibidem, p. 46.
Enfim, quem muito quer fazer, acaba nada fazendo. É
exatamente nessa lógica que aquele fenômeno de “agigantamento” do
Legislativo e do Executivo identificado por Mauro Cappelletti vai ao encontro
dos fenômenos omissivos do inativismo legislativo e do inativismo executivo.
86
CAPPELLETTI, Mauro, op. cit., p. 46.
87
Ibidem, p. 54.
88
Ibidem, p. 55/56.
89
REVERBEL, Carlos Eduardo Dieder. Ativismo judicial e Estado de Direito, p. 6.
90
BARROSO, Luís Roberto. Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática,
op. cit., p. 6.
91
RAMOS, Elival da Silva, op. cit., p. 22.
92
DWORKING apud SCHIAVON, SCHIAVON, Giovanne Henrique Bressan. Política
deliberativa de Habermas e controle de constitucionalidade, p. 2. Disponível em:
<https://www.academia.edu/10762712/Pol
%C3%ADtica_deliberativa_de_Habermas_e_controle_de_constitucionalidade> Acesso em:
03/06/15
93
SCHIAVON, Giovanne Henrique Bressan, op. cit., p. 10.
Em síntese, o controle de constitucionalidade deve manter os
canais abertos para a mudança política, garantir que os direitos
civis, os direitos de participação e que os direitos sociais sejam
respeitados, defender a qualidade constitucional e propriedade
das razões que justificam a ação governamental e assegurar
que os canais de influência da esfera pública da sociedade civil
independente reste desobstruído para a esfera pública forte e
não distorcido pelos poderes econômico ou administrativo94.
94
Ibidem, p. 14.
95
BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional, 14.ª ed. São Paulo: Saraiva, 1992,
pp. 324/327.
controle difuso, por qualquer juiz ou tribunal pátrio, tendo a decisão efeito
restrito às partes do processo.
2.3. Conceito
99
Tavares, Vieira e Valle observam que na primeira referência a
ênfase recai sobre o elemento finalístico, que é o compromisso de expansão
dos direitos individuais, ao passo que a segunda referência acentua o elemento
comportamental, que consiste em dar-se espaço à prevalência das visões
pessoais de cada magistrado quanto à compreensão das normas
constitucionais100.
100
TAVARES, Rodrigo de Souza; VIEIRA, José Ribas; e VALLE, Vanice Regina Lírio. Ativismo
jurisdicional e o Supremo Tribunal Federal.
Disponível em: < http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/brasilia/15_639.pdf>
Acesso em: 06/05/2015.
101
RAMOS, Elival da Silva, op. cit., p. 129.
102
Ibidem, p. 120.
103
Ibidem, p. 129.
Enfim, a partir de uma perspectiva que contempla os dois
extremos representados pelo positivismo jurídico clássico e pelo moralismo
jurídico, o autor conclui que se deve conciliar criatividade e obediência no plano
da jurisprudência, recorrendo às acertadas palavras de Miguel Reale que se
seguem:
107
Idem.
108
Ibidem, p. 9.
109
Ibidem, p. 10.
110
BARROSO, Luís Roberto, Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática,
op. cit., p. 6.
Ainda, Luís Roberto Barroso observa que o oposto do ativismo
é a auto-contenção judicial, postura que prevalecia até o advento da
Constituição de 1988, pela qual o Judiciário procura minimizar a sua
interferência nas demais esferas do Poder. Ao diferenciar esses dois
fenômenos, o autor observa que “o ativismo judicial procura extrair o máximo
das potencialidades do texto constitucional, sem contudo invadir o campo da
criação livre do Direito”, e “a auto-contenção, por sua vez, restringe o espaço
de incidência da Constituição em favor das instâncias tipicamente políticas”111.
111
Ibidem, p. 7.
Fixadas essas premissas, passa-se à análise do conceito de
judicialização da política, a fim de que se possa compreender quais são as
diferenças e semelhanças entre esses dois conceitos que integram a ideia de
protagonismo judicial.
De plano, verifica-se se que a definição de Luís Roberto
Barroso denota a semelhança entre esses dois fenômenos, sobretudo no que
tange à participação do Judiciário no cenário político, ao referir que
“judicialização significa que algumas questões de larga repercussão política ou
social são decididas pelo Poder Judiciário, e não pelas instâncias tradicionais:
o Congresso Nacional e o Poder Executivo”112.
112
BARROSO, Luís Roberto, Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática,
op. cit., p. 3.
113
CASTRO, Marcos Faro. O Supremo Tribunal Federal e a judicialização da
política. Revista de Ciências Sociais, São Paulo, n. 34, v. 12, 1997. p. 27.
A judicialização, no contexto brasileiro, é um fato, uma
circunstância que decorre do modelo constitucional que se
adotou, e não um exercício deliberado de vontade política. (...)
Já o ativismo judicial é uma atitude, uma escolha de um modo
específico e proativo de interpretar a Constituição, expandindo
seu sentido e alcance114.
119
BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição, op. cit., p. 249.
absolutismo – e nem do juiz espectador – o do Estado liberal -.
Sabe-se que o absolutismo, ao concentrar o poder nas mãos
do rei, mutilou a independência do juiz. O liberalismo produziu
o juiz passivo, autômato, espectador. O Estado Democrático,
de cunho social, contrário ao neoliberalismo, quer engendrar o
juiz dinâmico e participativo. É neste sentido que orienta a
hermenêutica constitucional120.
2.4. Objetivo
120
GOMES, Sérgio Alves, op. cit., p. 62.
121
PAGANELLI, Celso Jefferson Messias, op. cit., p. 21.
humanos e sociais como condição legitimadora da ordem jurídica estabelecida,
qual seja, o Estado Democrático de Direito, como segue:
122
SILVA, Guilherme Amorim Campos da. Direito ao desenvolvimento. São Paulo: Editora
Método, 2004. p. 31.
123
PRADO, João Carlos Navarro de Almeida. A responsabilidade do poder judiciário frente
ao ativismo judicial. In: AMARAL JÚNIOR, José Levi Mello do. Estado de direito e Ativismo
judicial. São Paulo: Quartier Latin, 2010.
Se os tribunais tomam a proteção de direitos individuais como
sua responsabilidade especial, então as minorias ganharão em
poder político, na medida em que o acesso aos tribunais é
efetivamente possível e na medida em que as decisões dos
tribunais sobre seus direitos são efetivamente
fundamentadas124.
124
DWORKING, Ronald. Uma questão de princípio, trad. Luís Carlos Borges. São Paulo:
Martins Fontes, 2001. p. 32.
125
PAGANELLI, Celso Jefferson Messias Paganelli, op. cit., pp. 22/23.
126
SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais, 6ª ed. Porto Alegre:
Livraria do Advogado Editora, 2006. pp. 388/389.
127
SIMÕES, Alexandre Gazetta, op. cit., p. 102.
Porém, justamente pelo caráter de complementaridade
existente entre os direitos fundamentais de primeira dimensão e os direitos
fundamentais de segunda dimensão, faz-se mister que os direitos sociais
tenham a maior eficácia possível, sob pena de se inviabilizar a aplicabilidade
dos direitos individuais e, consequentemente, de todo o sistema de direitos
fundamentais128.
134
REVERBEL, Carlos Eduardo Dieder, op. cit., pp. 01/02.
3. PERSPECTIVA CRÍTICA
3.1. Crítica
135
RAMOS, Elival da Silva, op. cit., p. 21.
De fato, há muito que se ponderar quanto à postura ativista do
Supremo Tribunal Federal e do Poder Judiciário como um todo. A despeito do
posicionamento favorável que ora se sustenta em relação ao ativismo judicial, é
certo que esse fenômeno deve ser analisado de forma minuciosa, inclusive sob
perspectiva crítica, a fim de que se possa delinear qual é o ativismo que deve
ser praticado, ou seja, em que circunstâncias, em que medida e de que forma o
juiz deve assim proceder.
138
RAMOS, Elival da Silva, op. cit., p. 129.
Segundo, porque a separação de Poderes somente encontra
real e legítimo sentido se cooperar para a eficiência estatal no atendimento das
finalidades humanas a que se destina, como exposto no tópico anterior, em
que o próprio Carlos Eduardo Dieder Reverbel reconhece que o Estado é meio
à realização da pessoa.
139
BARROSO, Luís Roberto, Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática,
op. cit., pp. 10/17.
seja exercido por agentes públicos cuja atuação é predominantemente técnica
e imparcial, ou seja, por magistrados que não possuem vontade política
própria. Esse é o fundamento normativo que justifica a legitimidade
democrática do Poder Judiciário.
(...)
140
BARROSO, Luís Roberto, Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática,
op. cit., p. 15.
141
REVERBEL, Carlos Eduardo Dieder, op. cit., pp. 08/09.
motivos de conveniência política, mas sim pelos valores e finalidades
positivados no texto constitucional.
142
BRASIL. Constituição (1988). Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal
Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...) IX -
todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas
as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação
do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>
Acesso em: 19/05/15
143
MORAES, Maria Celina Bodin de. Do juiz boca da lei à lei segundo a boca do juiz: notas
sobre a aplicação-interpretação do direito no início do século XXI. In: 10 anos de vigência do
Código Civil de 2002: estudos em homenagem ao professor Carlos Alberto Dabus Maluf, coord.
Christiano Cassettari, orientação Rui Geraldo Camargo Viana. São Paulo: Saraiva, 2013.
144
BARROSO, Luís Roberto, Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática,
op. cit., p. 16.
por exemplo. Há que se considerar, ainda, que o Poder Judiciário “tampouco é
passível de responsabilização política por escolhas desastradas”145.
147
CAPELLETTI, Mauro, op. cit., p. 49.
148
BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia; uma defesa das regras do jogo, trad. Marco
Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986. pp 311-312
149
VIEIRA, Oscar Vilhena Vieira. Supremocracia, p. 05.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rdgv/v4n2/a05v4n2.pdf> Acesso em: 19/05/15
150
Idem.
De acordo com Oscar Vilhena Vieira, essa proeminente
atuação do Supremo Tribunal Federal se deve a razões de ordem institucional,
no que destaca (a) a ambição da Constituição 1988 que, desconfiada do
legislador infraconstitucional, regulamentou um extenso campo de relações
sociais econômicas e públicas, criando, assim, uma enorme esfera de atuação
constitucional, bem como (b) as competências superlativas que foram
atribuídas àquela corte, acumulando funções que, na maioria das democracias
contemporâneas, estão divididas em pelo menos três instituições, quais sejam,
tribunais constitucionais, foros judiciais especializados e tribunais de recursos
de última instância151.
155
STRECK, Lenio Luiz. Do pamprincipiologismo à concepção hipossuficiente de princípio,
pp. 08/09. Disponível em:
<http://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/496574/000952675.pdf?sequence=1>
Acesso em: 20/05/15
156
Ibidem, p. 20.
Entretanto, o autor adverte que a solução para o “pan-
principiologismo” não se encontra no outro extremo, isto é, no uso
hipossuficiente dos princípios, sendo certo que são estes que preservam a
autonomia do Direito e a concretização da força normativa da Constituição157.
3.2. Limites
159
RAMOS, Elival da Silva, op. cit., p. 26.
de justiça de um juiz, mas um julgamento mais apurado e
discriminatório, caso por caso, que dá lugar a muitas virtudes
políticas mas, ao contrário tanto do ativismo quanto do
passivismo, não cede espaço algum à tirania160.
163
BARROSO, Luís Roberto, Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática,
op. cit., p. 19.
Desse modo, a atuação ativista exerce, positivamente, uma
pressão sobre o Legislativo e o Executivo para que estes assumam a posição
que lhes incumbe na dinâmica da tripartição de Poderes. O ativismo judicial
que aqui se propõe não deve ter a pretensão de substituir os demais Poderes,
suprimindo a atuação a política, mas tão somente de amparar o cidadão
naquilo que compete ao Estado enquanto as autoridades competentes não
agiram. E, obviamente, uma vez que o Legislativo e o Executivo atuarem, o
Judiciário deve ceder.
164
BARROSO, Luís Roberto, Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática,
op. cit., p. 12.
Porém, não basta estabelecer quais são as circunstâncias que
ensejam o ativismo judicial, isto é, quando praticá-lo; deve-se definir, em linhas
gerais, como deve proceder o juiz ao empreender tal conduta. É que, como
dito, caso não observados os limites da razoabilidade da atuação jurisdicional,
o ativismo judicial pode vir a contrariar o propósito a que se destina,
convertendo-se em instrumento de opressão estatal.
165
IGNÁCIO JÚNIOR, José Antonio Gomes, op. cit., p. 156.
Do contrário, concebendo-se que as decisões judiciais
pudessem atuar no sentido de restringir direitos, estar-se-ia diante de grave
risco à segurança jurídica, uma vez que o cidadão correria o constante risco de
ter em desfavor de seu direito fundamental, além da própria omissão
institucional, a força imutável da coisa julgada.
Uma nota final: o ativismo judicial, até aqui, tem sido parte da
solução, e não do problema. Mas ele é um antibiótico
poderoso, cujo uso deve ser eventual e controlado. Em dose
excessiva, há risco de se morrer da cura. A expansão do
167
MORAES, Maria Celina Bodin de. Do juiz boca da lei à lei segundo a boca do juiz: notas
sobre a aplicação-interpretação do direito no início do século XXI. In: 10 anos de vigência do
Código Civil de 2002: estudos em homenagem ao professor Carlos Alberto Dabus Maluf, coord.
Christiano Cassettari, orientação Rui Geraldo Camargo Viana. São Paulo: Saraiva, 2013.
Judiciário não deve desviar a atenção da real disfunção que
aflige a democracia brasileira: a crise de representatividade,
legitimidade e funcionalidade do Poder Legislativo. Precisamos
de reforma política. E essa não pode ser feita por juízes168.
4. CONCLUSÃO
168
BARROSO, Luís Roberto, Judicialização, ativismo judicial e legitimidade democrática,
op. cit., p. 19.
Sendo assim, é inegável que o Poder Judiciário se apresenta
como uma última instância da população na busca pela apreciação daquelas
demandas sociais não atendidas pelas instâncias políticas ordinárias, motivo
pelo qual os juízes e tribunais, investidos que são da função inafastável de
apreciar toda e qualquer lesão ou ameaça a direito, são instados a se
manifestarem sobre questões de relevante valor social, assumindo um papel de
centralidade no cenário político brasileiro.