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Apresentação da disciplina:
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Dirley da Cunha Júnior, Direito Constitucional, p. 43
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b) ela também é o limite do poder
político/administrativo/econômico/familiar/religioso, não podendo ser
efetivado nenhum ato que a contrarie. Ou que, caso isto tenha ocorrido, ele deve
ser anulado (suprimido) do nosso meio social. Em suma, ela tenta estabelecer,
de forma ordenada, a segurança e a liberdade em nosso país, civilizando e
racionalizando o poder, estabelecendo salvaguardas para a sociedade, sem se
identificar com concepções abrangentes de natureza religiosa, moral, filosófica
ou ideológica.
e) seu texto, no mais das vezes escrito em expressões amplas e até mesmo
ambíguas, é a fonte de inspiração e de busca de novos direitos a serem
reconhecidos pela sociedade. Ela claramente se propõe mais do que regular a
sociedade que já existe. Ela se propõe a ser o veículo institucional que acolhe
a transformação desta mesma sociedade.
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O caráter escrito é o modelo predominante no Brasil e na quase totalidade do mundo, com a notável exceção
do Reino Unido. Alguns autores, como Zachary Elkins em The Endurance of National Constitutions (A
duração das Constituições Nacionais, em tradução livre), p. 49, afirmam que isso não é exatamente correto,
sendo melhor afirmar que a Constituição Britânica não é sistematizada apenas, encontrando-se esparsa em
diversas leis comuns.
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explicativa da realidade político-jurídica de qualquer país. Vamos a um exame
mais detalhado do que se fala quando se usa a expressão “Normas
Constitucionais Materiais”.
Nossa pergunta aqui é diversa: que assuntos uma Constituição não pode deixar
de tratar e por quê?
b) Organização do Estado.
E até o início do século XX, apenas as questões relevantes para essa classe
serão consideradas “Direito Constitucional”.
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Como exemplo, nos termos dos artigos 92 e 94 da Constituição do Império (1824), a condição de eleitor
dependia da comprovação de renda individual de cem mil réis anuais e a de candidato duzentos mil reis
anuais. Segundo o artigo “Preços e Comercialização do Café no Vale do Paraíba Paulista”, extraído da
Biblioteca Digital da FGV em acesso do dia 29 de jul de 2022, em 1825, uma saca de café valia
aproximadamente 3 mil réis. A mesma saca vale hoje, também aproximadamente, R$ 987,96 (cotação para
vendas em setembro de 2023, conforme consulta ao site https://www.noticiasagricolas.com.br/cotacoes/cafe,
em 31 de julho de 2023.
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Até 1934, o Brasil tinha como renda tributária quase que exclusivamente os impostos sobre importação e
exportação.
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A palavra “mulher” não existe na Constituição do Império, por exemplo
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A Constituição dos Estados Unidos, em sua Seção 2, não só mencionava abertamente a existência de
pessoas em estado de servidão no país, como as incluía, a proporção de 60% das pessoas livres, para cálculo
do coeficiente eleitoral para eleição de deputados.
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d) Questões como diversidade sexual e proteção ambiental não são sequer
concebidas como problemas.
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Em muitos países, como no Brasil, primeiro os trabalhadores urbanos, muito depois os trabalhadores rurais,
e muito, muito depois, os trabalhadores domésticos.
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mais de uma classe social nos respectivos países, e que elas tinham pretensões
jurídicas diversas, que mereciam abrigo constitucional.
Esta incorporação teve como primeiro marco o direito ao voto. Embora deva
ser registrado o pioneirismo da Nova Zelândia, que legislou sobre o voto
feminino em 1893, na grande maioria dos países tratou-se de algo que somente
subiu à Constituição em meados do século XX: Estados Unidos, em 19209;
Brasil, 1934; França, 1945; Japão, 1946; Argentina, 1947; México, 1955, etc.
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http://pwerth.faculty.unlv.edu/Const-USSR-1924(abridge).pdf, acesso em 30.07.2022
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Como regra geral para todo país, havendo Estados que adotaram anteriormente.
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primeira vez na história constitucional, a completa paridade entre os eleitos
para escrever a nova Constituição daquele país, ora em processo de conclusão.
Para ficar apenas nas questões rigorosamente formais, tal ausência permitiu,
por exemplo, que mulheres casadas fossem consideradas relativamente
incapazes até 1962, e que utilizassem o CPF do marido até 1988.
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A extrema formalização do conceito jurídico de família, normalmente com a atribuição de seu
estabelecimento e rompimento ao homem exclusivamente, foi um elemento histórico relevante na submissão
social da mulher.
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Uma terceira “onda”, ainda mais inconclusa, é a que pretende estender a
cidadania constitucional a partir de questões raciais.
Não podemos esquecer que o Brasil foi legalmente escravista (o sistema não
tinha previsão constitucional) até 1888. Proclamada a República, o novo regime
apressou-se em estabelecer uma série de legislações aparentemente neutras,
mas de profundo teor racialista: a) imigração em massa de europeus, com o
declarado objetivo de “clarear” a população; b) negativa do voto aos
analfabetos (ou seja, a praticamente todos os ex-escravizados); c) completa
ausência de políticas de emprego ou distribuição de terras aos ex-escravizados;
d) repressão policial/judicial à chamada “vadiagem” e às manifestações de
descendentes de africanos, como a umbanda e a capoeira.
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III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
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Trata-se de uma caminhada ainda no início, e bastante imperfeita, e, como a
incorporação das mulheres, também permanentemente sob ataque, inclusive no
aspecto formal. Neste sentido, a atuação legislativa e judicial destinada a
esvaziar o conceito de racismo, pela criação do tipo penal mais leve da “injúria
racial”, que reduz o ataque racista a uma rixa entre indivíduos isolados.
Para concluirmos este tópico, vamos pensar sobre grupos de pessoas e assuntos
que ainda lutam pelo reconhecimento de um mínimo de dignidade da cidadania
constitucional.
Por outro lado, há países que se dão ao trabalho de inscrever em sua própria
Constituição a proibição de qualquer reconhecimento constitucional em função
da orientação sexual, como a Rússia, Hungria e Polônia. e outros que
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simplesmente proíbem e criminalizam qualquer ato sexual não heterossexual,
como a Argélia e o Egito.
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Oscar Vilhena Vieira, Rubens Glezer e Ana Laura Pereira Barbosa.
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a presidência de José Sarney, o esforço estatal foi pelo reconhecimento do valor
do texto constitucional e pela sua implementação concreta.
É preciso dizer, contudo, que tal processo de esvaziamento “por baixo” do texto
constitucional não é original: em medidas variáveis, países como Hungria,
Polônia, Israel e até mesmo os Estados Unidos têm vivido tal fenômeno,
caminhando para um autoritarismo centrado no Poder Executivo, com o
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enfraquecimento de todos os demais poderes e órgãos de controle, sempre
baseados na alegada proteção de valores religiosos e familiares.
No Brasil, tal processo parece suspenso, mas apresento essa reflexão para vocês
para que possam ver que a proteção constitucional não é um fato da natureza,
nem algo imune a retrocessos. Constituição é ponto de encontro entre a Política
e o Direito, como afirmei acima. Este encontro pode ser cooperativo ou
conflitivo, neste último caso, com consequências impossíveis de se prever.
1.5 CONCLUSÃO
Salvo Melhor Juízo: episódio 35, “Posse e Propriedade”, para uma primeira
escuta.