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Apresentação da Ementa – Introdução ao Estudo de Direito

Plano de Ensino

Nota: como a turma é maior do que o esperado, todos devem apresentar uma vez em
dupla. Digam até o dia 10 com uma lista para mim que eu encaminho para o Marcio de
quem vai apresentar qual coisa.

Vamos tentar ampliar o leque para tentar interessar vocês em alguma coisa que surja. Não vai
ser toda aula que vai chamar a atenção de todo mundo, ou toda temática, isso é inevitável, mas
alguma coisa deva interessar algum de vocês.

Não vamos trabalhar com a bibliografia básica que está no plano de ensino. Vamos falar um
pouco do Bobbio e Kelsen, Miguel Reale não, livro muito difícil e árido de ler na primeira
matéria, mas isso é questão de gosto.

Livro para “ficar com dez” A STORY OF JUSTICE AND REDEMPTION. Penguin, 2014.
(Nome de “Compaixão” no Brasil).

Pergunta para a próxima aula: “O direito é uma ciência? Sim ou não, por quê?”

Aula 24 de Março: a onipresença do direito: como as leis afetam (ou falham em afetar) o
comportamento humano? Um estudo sobre a falibilidade da punição e da pena de morte.

Podemos pensar em quantas leis nos afetam no dia a dia? Em cada momento individual, desde
acordar, até abrir a porta, caminhar até o carro, dirigir, chegar em seu local de trabalho? É uma
quantidade inumerável de momento a momento. E questões de lei de alta e baixa eficácia? A
lei seca, por exemplo, pode ser percebida como efetiva, as leis antifumo têm uma percepção
grande baseada em estudo sólidos de que houve uma redução drástica em países como brasil
na quantidade de pessoas que fumavam e que fumam hoje. Cigarro era uma coisa muito mais
aceita socialmente, professores fumando em sala de aula, por exemplo, restaurantes hoje em
dia que não aceitam cigarros, não é mais uma questão de disputa ou algo que deve ser
rediscutido, é aceito em consenso

E leis que não atingiram seus objetivos? Os exemplos são muitos. Leis de proteção ambiental,
por exemplo. Porque que algumas leis dão tão certo, enquanto leis fracassam tão
grosseiramente nisso?
Vamos mostrar algumas leis que não só evitaram produzir os seus resultados esperados, mas
também “saíram pela culatra”. Porque, por exemplo, as faixas de pedestre funcionam em
Brasília com a sua legislação, mas não em São Paulo, por exemplo? Um exemplo de sala;
a lei de alienação de parentes, que pode ser usado muito no Brasil por mulheres que acusam
que os pais estão abusando os filhos, e o pai acusa a mãe de alienação parental e o filho retorna
para o pai.

Outro exemplo em casa: lei contra moradia, onde só é disponibilizada um teto, a casa não tem
condições necessárias para abrigar os moradores de rua, portanto, não gerou os resultados
produzidos. Um exemplo de lei, para o professor, de uma lei que era incialmente inefetiva e
depois se tornou efetiva foi a lei de cotas para universidades, que começou sem o suporte
necessário para gerar efeitos, mas ao longo do tempo gerou frutos, com pequenos progressos.

Aula 17 de Março: A Força do Direito? A possibilidade de uso de força física é o elemento


que distingue o direito de outros sistemas de regras? A discussão entre Hart e autores
contemporâneos. Qual é a definição de direito de acordo com os manuais? O ordenamento que
regula as interações humanas através da força coercitiva do Estado. A religião não tem a força
coercitiva, assim como a moral, por exemplo. Mas o Direito pode falar; caso deixe de declarar
para a receita federal o seu salário, poderá impor uma sanção (consequência para a ação ou,
nesse caso, não-ação). Nessa aula iremos demonstrar a maior complexidade sobre a
definição do direito, e que existem autores que divergem desse ponto sobre a simplicidade
do Direito.

Opinião minha: A eficácia de leis e normas em qualquer ordenamento é estudada pela


Sociologia Jurídica. De interesse maior para IED podemos extrair o conteúdo nessa discussão
sobre as fontes de direito, tanto no exemplo das leis antifumo, quanto para o exemplo das leis
de tráfego em Brasília quando comparado a outros estados.

Pode-se dizer, de forma geral de acordo com a doutrina, que o direito é extraído de costumes,
princípios, jurisprudência, doutrina e legislação. Claro que ao pensarmos assim caímos na
armadilha de definir o que é o direito. O Prof. Márcio irá problematizar essa definição adiante,
mas a definição ‘doutrinária’ ou dogmática do Direito como “Um ordenamento de normas que
busca regular as relações sociais em uma sociedade através da força coercitiva do Estado” é a
definição mais comumente adotada pela doutrina e por manuais, então continuarei com ela no
momento (mais tarde iremos elaborar sobre isso).
Dimitri Dimoulis em “Manual de Introdução ao Estudo de Direito” diferencia as fontes do
direito entre “Fontes Formais” e “Fontes Materiais” (P.166). Aqui ele define as fontes
“materiais” ou “genéticas” como;

“os fatores que criam o direito, dando origem aos dispositivos válidos. São
fontes materiais todas as autoridades, pessoas, grupos e situações que
influenciam a criação do direito em determinada sociedade.”
Uma falácia comum entre leigos ao direito é correlacionar o seu conceito com o conceito de
‘lei’. Até mesmo a concepção positivista do direito não é tão simplesmente reduzível. No seu
manual, Dimoulis introduz vertentes diferentes dentro do campo do direito quanto à sua origem
material; A descritiva, por exemplo, diz que “Existe uma interminável série de valores sociais,
de necessidades humanas, e de elementos culturais que influenciam a criação das normas
Jurídicas” (Diniz, 1998, P. 281-282).

Um exemplo dado pelo texto é de que em uma sociedade tecnológica onde existe a necessidade
de conhecimentos especializados, o Estado deve oferecer um acesso à educação, portanto serão
criadas normas possibilitando o acesso ao ensino básico e organizando os estudos técnicos e
universitários, ou seja, as necessidades do sistema de produção podem ser consideradas
como fonte material das normas que organizam um sistema de educação pública.

Autores do direito mais relacionados à sociologia jurídica considerariam essa descrição


insuficiente e consideram que as forças políticas e grupos sociais são o que determinam o
conteúdo do direito. Ou seja, a fonte material do direito poderia ser considerada a vontade de
um povo, de uma classe social, ou de um grupo de poder. Ainda temos mais divergências;
a concepção funcionalista poderia arguir que o direito é a expressão dos interesses gerais da
sociedade (harmonia, paz, segurança), que é fortemente discordada pela teoria crítica de
conflito social, que acredita que o direito é um resultado da continua luta entre interesses
opostos, em que os interesses dos mais fortes prevalecem e são tutelados pelo direito.
Dimoulis considera, e eu, pessoalmente, concordo que essa última, a teoria do conflito social,
é a que demonstra a “verdadeira fonte do direito”, mas acredito que tenho deixado claro que
isso é uma questão controvérsia.

Com tudo isso estabelecido, vamos voltar para uma das fontes que eu apresentei no começo
desse texto, os costumes, e como isso se interliga com os casos de eficácia ou ineficácia de leis
que discutimos mais cedo. Podemos dizer que, desde sua origem (e existem autores que dizem
que, mesmo de formas diferentes, ‘onde existe sociedade, existe o direito’), o direito extraiu o
seu conteúdo dos costumes de qualquer dada sociedade.
Isso é feito para incentivar as práticas já aceitas pela comunidade, pais ou povo em questão, e
desincentivar práticas divergentes da mesma; por exemplo, as leis anti-fumo só passaram a
ser cogitadas durante o processo legislativo quando os costumes societais ao redor do cigarro
sofreram mudanças através do novo conhecimento científico da época quanto à relação de
fumar com contrair câncer de pulmão. Não se trata apenas do fato de que os parlamentares do
Brasil e de outros países receberam essas informações e decidiram oficializar uma lei; mesmo
sabendo dos efeitos nocivos do cigarro, caso a convicção social em voga fosse de que o fumo
ainda deveria ser legalizado em qualquer ambiente a qualquer hora, o custo de capital politico
e social para tentar transformar a proibição de fumar em lei seria alto, e qualquer projeto
alinhado à esta concepção provavelmente seria rejeitado. Existem alguns campos de estudo
dentro da Sociologia Jurídica que se dedicam a estudar fenômenos como esse; são aqueles
referentes à campos sociais e ao fenômeno do backlash que vocês irão ver mais tarde no
curso.

E quanto as leis de tráfico que funcionariam em Brasília e não, por exemplo, em São Paulo?
Apesar de Estados no Brasil não terem tanta autonomia política quanto aqueles nos Estados
Unidos, por exemplo, normas jurídicas ainda podem ser diferenciadas de acordo com a região
em que serão aplicadas, justamente por conta de costumes ou por conta das peculiaridades
regionais (isso será aprofundado em Organização do Estado (Segundo Semestre). Apesar
das leis procurarem ser generalizadas e abstratas, ainda devemos considerar as diferenças
entre diferentes regiões; por exemplo, a maior população de São Paulo, que como consequência
tem um número maior de veículos (São Paulo tem uma frota de veículos de 31,920,712 carros,
enquanto o Distrito Federal tem apenas 2,002,242 carros). Ou seja, mesmo que as leis de
trânsito sejam iguais entre o DF e SP (Obedecer a limites de velocidade, parar na faixa de
pedestre etc.), os efeitos produzidos por estas leis podem ter dimensões diferentes por
conta de fatores que vão além da lei em si.

doutrina sobre: Em todo estes resumos eu vou tentar recomendar uma leitura complementar,
fora do plano de ensino do Professor Márcio, sobre os assuntos que eu abordei ou vou abordar.
Já mencionado aqui, especialmente para aqueles que queiram concursar, uma ‘porta de entrada’
boa na minha opinião é o Manual de Introdução ao Estudo do Direito, por Dimitri Dimoulis.
Ele apresenta várias opiniões diferentes sobre todos os temas abordados, deixa seus próprios
vieses e linhas de pensamento claros, e em geral tem uma concordância grande com a Doutrina
mais aceita sobre qualquer tópico. Disponível na Biblioteca do IDP, mas caso queiram eu
também tenho um PDF.
Os Grandes Pensadores do Direito, por Clarence Morris é uma compilação de vários
filósofos e juristas juntamente com pequenos trechos sobre suas vidas, os efeitos de suas obras,
e trechos diretos de fontes primárias. Até para o tópico abordado aqui, das fontes do direito
(ou da definição do direito como um todo) dar pelo menos uma leitura breve sobre cada um
pode ajudar muito na hora de conceitualizar algumas coisas mais tarde.

Para a sociologia jurídica quanto ao estudo dos campos sociais o ator mais apropriado seria o
Pierre Bourdieu, mas claro que não é de muita importância se aprofundar nas ideias dele logo
de imediato, já que vamos ter uma matéria que se aprofunda bastante nele mais adiante.

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