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CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA OSTENSIVA E

PRESERVAÇÃO DA ORDEM PÚBLICA

DIREITO CONSTITUCIONAL
JANEIRO – 2024

1º CICLO DE ENSINO
Sumário

Aula 1 e 2 - Direito Constitucional: Conceito; Classificação; Objeto e Elementos das Constituições


...................................................................................................................................................... 3

Aula 3 e 4 - Poder Constituinte: Poder Constituinte Originário; Poder Constituinte Derivado;


Cláusulas pétreas. Organização do Estado: Forma de Estado; Forma de Governo; Sistema de
Governo e Regime de Governo ................................................................................................10

Aula 5 e 6 – Direitos e deveres Individuais e Coletivos: características, elementos dos direitos


individuais previstos no art. 5º da CRFB/88 .......................................................................... 14

Aula 7 e 8 –Remédios Constitucionais ................................................................................... 19

Aula 9 e 10 – Direitos Sociais: Trabalho, Saúde e Educação Nacionalidade e Cidadania:


Conceito; aquisição; perda ..................................................................................................... 23

Aula 11 e 12 – Tratados Internacionais: Incorporação ao Ordenamento. Controle de


Constitucionalidade e Convencionalidade ............................................................................. 28

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 37


Breve Histórico do Constitucionalismo

Ao buscarmos uma definição do conceito de constitucionalismo, encontramos incontáveis


teorias desenvolvidas ao longo da história, tornando-se conveniente a adoção de uma linha
doutrinária mais sucinta, neste intuito, mostra-se pertinente o conceito defendido pelo Professor
Dalmo de Abreu Dallari, que define constitucionalismo como um sistema normativo fundamental
baseado em uma norma superior.
A despeito de diversos documentos relevantes
que surgiram desde a antiguidade, o
constitucionalismo contemporâneo tem seu embrião
na oposição imposta pela nobreza inglesa à retomada
do absolutismo Plantageneta, verificado no reinado de
Henrique II (1154-1189), que resultou na assinatura
da Magna Carta pelo Rei João Sem Terra em 1215,
instrumento formal limitador dos poderes do monarca
que possibilitou, mediante séculos de evolução, a
consagração da supremacia do Parlamento como base
do ordenamento jurídico britânico.
Ainda considerando a evolução histórica
cronológica do sistema constitucionalista
moderno, temos a Constituição Norte Americana
de 1787como a primeira promulgada como norma
positiva superior a demais leis, estabelecendo em
seu preâmbulo os fundamentos da República 1,
decorrendo do esforço na busca de um sistema
político eficaz que garantisse a ruptura comum
sistema colonial e, concomitantemente, limitasse o poder estatal, com respeito às liberdade e os
direitos fundamentais dos indivíduos e da coletividade 2.

1
We the People of the United States, in Order to form a more perfect Union, establish Justice, insure domestic
Tranquility, provide for the common defence, promote the general Welfare, and secure the Blessings of Liberty to
ourselves and our Posterity, do ordain and establish this Constitution for the United States of America.
2
DALLARI, Dalmo de Abreu. A Constituição na Vida dos Povos: Da Idade Média ao Século XXI. São Paulo, SP:
Saraiva, 2010, fl.230
A inovação verificada na Constituição norte americana, a primeira como lei escrita de
natureza superior, garantiu ao sistema político que surgia uma clareza de objetivos e fundamentos
até então inéditas, consolidando a ideia de uma norma cogente fundamental daquele povo,
influenciando outras nações, onde cresciam os movimentos de ruptura com regimes despóticos,
destacando-se neste cenário a França, onde aqueles grupos interessados em severas mudanças
políticas viram em uma Constituição escrita uma ferramenta essencial na garantia dos direitos
individuais frente aos desmandos perpetrados por governos totalitaristas.
Imersos em intensos conflitos sociais os lideres revolucionários franceses, encontravam
certa similitude entre o contexto político norte americano, na época da promulgação de sua
constituição, e aquele vivenciado na França com os levantes populares contra o regime
monárquico vigente.
Com o escopo de trazer luz aos
direitos fundamentais do indivíduo frente
à penúria dos regimes totalitários até
então vigentes, foi proclamada em 1789 a
Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão, documentoque declarava de
forma expressa uma série de direitos
inerentes ao homem
pela simples
condição humana, constituindo uma
verdadeira carta de direitos
incorporada posteriormente ao
preambulo da Constituição Francesa de
1791.
Após as duas Guerras Mundiais, consequente a retomada da constitucionalização europeia,
foi redefinido o papel das Constituições, consolidando-se um modelo constitucionalista de caráter
social, iniciado com a Revolução Mexicana e República de Weimar, atribuindo à Constituição um
caráter social, servindo não apenas como fonte de direitos e garantias individuais, mas também
garantidora do bem-estar social.

Neoconstitucionalismo

Após esta leve introdução com relação aos movimentos do antigo e do moderno
“Constitucionalismo”, surge após a Segunda Guerra Mundial (segunda metade do século XX) o
“movimento neoconstitucionalista”, também chamado de constitucionalismo contemporâneo, cujo
objetivo é desenvolver, interpretar e aplicar o direito constitucional e as constituições.
Este instituto é dividido em diversas classificações, dentre elas destacam-se três marcos
principais o histórico, o filosófico e o teórico.

O marco histórico é conectado ao marco temporal do pós-Segunda Guerra Mundial, em que


novas constituições foram elaboradas na Europa em diversos países.

O marco filosófico é o chamado pós-positivismo, é um fenômeno em que o texto constitucional


vai além do que está meramente escrito, havendo o dever de que direitos naturais devem ser
minimamente assegurados, pois há circunstâncias que leis que provocam extremas injustiças devem ser
consideradas inválidas. Como por exemplo da sanção de dispositivo normativo que autorize o direito ou
invoque a obrigação do direito de matar pessoas em situação de rua, no caso tal dispositivo, mesmo
estando prevista nas normas de uma constituição, não prosperaria, a fim de possibilitar que o direito
possa se aproximar do que seja considerada, de forma majoritária, daquilo que seja justo, moral e ético.

Por fim, o marco teórico, é o conjunto de teorias relacionadas à aplicabilidade constitucional,


além de novos métodos interpretativos, chamado de nova hermenêutica constitucional.

Conceitos de Constituição

Superado um breve histórico da evolução do constitucionalismo, surge de forma


irrefutável a necessidade de definirmos o conceito de constituição, com este objetivo deve ser
delimitado o sentido abordado, embora sejam inúmeros os conceitos possíveis, encontramos
consagrados pela doutrina três sentidos, quais sejam:

1. Constituição Sociológica, conceito cunhado por Ferdinand Lassale que estabelece a


constituição como a soma dos fatores reais de poder, afirmando que uma constituição escrita deve
refletir a realidade política de um país, sob pena de se tornar uma mera folha de papel.

2. Constituição Política ou Decisionista, conceito formulado pelo jurista alemão Carl


Schimit, definindo constituição como a decisão política fundamental de um estado que pode ou
não estar prevista em uma ou várias leis.

3. Constituição Jurídica, conceito idealizado pelo jurista e filósofo austríaco Hans


Kelsen, define constituição como a lei mais importante do ordenamento jurídico de um estado,
sendo o pressuposto de validade das demais leis. Segundo Kelsen o direito é um sistema
hierarquizado de normas, no qual a norma inferior obtém sua validade na norma superior, neste
sentido delimita-se a conhecida pirâmide kelsiana:

Classificação das Constituições

Assim como diferentes conceitos, as constituições também podem ser classificadas de


diferentes formas, sendo as principais estabelecidas pela doutrina:

1. Quanto à estrutura

Preâmbulo: Introdução ao texto Constitucional.

Parte permanente: Dispositivos Constitucionais.

ADCT: Conceito: o termo significa Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. São
regras que asseguram a harmonia do antigo regime constitucional (1969) para o novo
regime (1988), possuindo regras de caráter meramente transitórios.

Obs: Dentre os elementos da estrutura da Constituição o Preâmbulo não é obrigatório, além


de não possuir, de acordo com o STF, valor jurídico-normativo (ADI n. 2.076/AC).

2. Quanto ao conteúdo:

✓ Material: possui apenas conteúdo materialmente constitucional, não importando


se prevista em um ou mais documentos.
✓ Formal: possui conteúdo constitucional e temas não materialmente
constitucionais, importando apenas a forma pela qual foi aprovada, temos como
exemplo de constituição formal a Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988 (CRFB/88), que possui em seu texto normas que não tratam de matéria
constitucional, conforme pode ser verificado no §2º do artigo 242;
Art. 242. O princípio do art. 206, IV, não se aplica às instituições
educacionais oficiais criadas por lei estadual ou municipal e existentes na
data da promulgação desta Constituição, que não sejam total ou
preponderantemente mantidas com recursos públicos.

§ 1º O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das


diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro.

§ 2º O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será


mantido na órbita federal.(g.n)

3. Quanto à forma:

✓ Escrita/Instrumental: formada por um texto, conforme entendimento do jurista


Paulo Bonavides, divide-se em Escrita Legal, formada por documentos esparsos ou
fragmentados, e Escrita Codificada, formada por documento único.
✓ Não escrita (costumeira): fruto dos costumes, baseando-se na jurisprudência
dominante.

4. Quanto ao modo de elaboração:

✓ Dogmática: é aquele fruto de um trabalho legislativo especifico, refletindo os


dogmas, idéias fundamentais, de um determinado momento histórico.
✓ Histórica: é aquela de corrente de uma lenta evolução histórica.

5. Quanto à origem:

✓ Promulgada, Democrática ou Popular: elaborada por legítimos representantes do


povo, normalmente organizados em torno de uma Assembleia Constituinte.
✓ Outorgada: Elaborada sem a participação de representantes do povo, imposta por
vontade de um poder absoluto ou totalitário.
✓ Cesarista, Bonapartita, Plebicitária ou Referendária: é aquela criada por
ditador ou imperador e posteriormente submetida à aprovação popular por
plebiscito ou referendo.
✓ Pactuada/ Dualista: criada de um compromisso instável de duas forças políticas
rivais, gerando um equilíbrio precário, tem como principal exemplo a Magna Carta
de 1215 imposta pelos nobres britânicos ao Rei João sem Terra.
6. Quanto à extensão:

✓ Sintética: é a Constituição que regula apenas princípios basilares de um Estado.


✓ Analítica: é aquela que extrapola a abordagem de princípios básicos, detalhando
outros assuntos.

7. Quanto à Rigidez:

✓ Imutável: não traz um si nenhuma possibilidade de alteração.


✓ Rígida: aquela que exige um procedimento para alteração mais complexo que o
utilizado para criar ou alterar as demais leis.
✓ Flexível: é a Constituição que exige um procedimento de alteração idêntico ao
aplicada às demais leis, sem a exigência de um procedimento mais complexo.
✓ Semirrígida ou semiflexível: é aquela constituição que possui uma parte rígida,
somente podendo ser alterada por procedimento mais complexo em relação ao
dirigido à alteração das demais leis, e uma parte flexível, que se submete ao mesmo
procedimento de alteração das leis.

8. Quanto à Ontologia (realidade social vivenciada pelo texto constitucional):

✓ Normativas: são aquelas que estão escritas em perfeita consonância com a realidade
social.
✓ Nominativas: são textos constitucionais que não conseguem efetivar os anseios sociais.
A Constituição do Brasil de 1988 ainda é nominal.
✓ Semânticas: são aquelas cuja finalidade buscam legitimar o poder autoritário estatal ao
invés de limitar o poder de governantes. São constituições ditatoriais, autocráticas.

Objetos/Elementos da Constituição

Seguindo a classificação de José Afonso da Silva os elementos das constituições dividem-se em:

Elementos Orgânicos: regulam a estrutura do Estado e do Poder.


Elementos Limitativos: referem-se aos direitos fundamentais, que limitam a atuação do
Estado protegendo o indivíduo consagrando direitos e garantias fundamentais.
Elementos Sócioideológicos: fixam uma ideologia estatal, possuem cunho ideológico, são
exemplos os artigos 1º e 4º da CFRB/88, que estabelecem os fundamentos da república e os
princípios que regem as relações internacionais, respectivamente. (revelam o compromisso da
constituição com o povo)
Elementos Formais de Aplicabilidade: referem-se às regras de interpretação e aplicação da
Constituição, a exemplo do preâmbulo, ADCT, e a aplicabilidade imediata dos direitos e
garantias fundamentais dispostas no §1º do artigo 5º da CRFB/88. (é a regulação de como
uma norma irá entrar em vigor)
Elementos de Estabilização Constitucional: são normas que objetivam solucionar conflitos
constitucionais garantindo a solução de conflitos institucionais entre poderes, bem como
protegem a integridade do Estado e da própria Constituição. (ex.: intervenção federal)
Poder Constituinte

É o poder o qual incumbe elaborar (criar), reformar (alterar) ou complementar uma


Constituição.

1.Poder Constituinte Material

Este termo é utilizado para designar e fixar o conteúdo das normas constitucionais.

2.Poder Constituinte Formal

Divide-se em:
2.1. Poder Constituinte Originário: também denominado Genuíno, Primário ou de
Primeiro Grau, cria a primeira ou uma nova constituição de um Estado a partir de uma evolução
jurídico-política ou mesmo uma revolução popular. Para atingir seu objetivo ele é inicial (não
existe outro poder anterior ou superior a ele), autônomo (o poder constituinte determina a
estrutura da nova Constituição), ilimitado (tem autonomia para escolher o Direito que irá viger,
ou seja, não se subordina a nenhuma ideia jurídica preexistente) e incondicionado (é dotado de
liberdade quanto aos procedimentos adotados para a criação da Constituição, ou seja, não precisa
seguir nenhuma formalidade preestabelecida).
2.2. Poder Constituinte Derivado: também denominado de Segundo Grau é responsável
pela reforma da Constituição. Destaque-se que no Brasil, isto ocorre mediante as Emendas
Constitucionais ou pela incorporação de Tratados Internacionais de Direitos Humanos.
2.3. Poder Constituinte Derivado Decorrente: é aquele exercido pelos Estados, entes
federados, na elaboração das Constituições Estaduais.

Emenda Constitucional

Processo legislativo formal pelo qual são alteradas disposições da constituição, no caso da
CRFB/88 possibilidade de emenda constitucional é regulado pelo artigo 60 da Carta Magna,
exigindo a aprovação em dois turnos, nas duas casas do Congresso Nacional por três quintos de
seus membros.
No mesmo artigo 60 da CFRB/88, estão previstos os dispositivos limitadores do poder
reformador, qual sejam, a legitimidade para propositura de emenda, limitação material nas
figuradas cláusulas pétreas e limitações circunstanciais.
LEGITIMADOS - PEC
1 Presidente da República
2 Um terço dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal
3 Mais da metade das Assembleias Legislativas, pela maioria relativa dos respectivos membros

Limitações:
a) Limitação Material - Cláusulas Pétreas

Principal limitação material ao poder reformador, as cláusulas pétreas constituem um rol


de matérias insuscetíveis de proposta de emenda constitucional tendentes a sua abolição,
conforme estabelecido no §4º do artigo 60 da CRFB/88.

§4º não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente


a abolir:
I- a forma federativa de Estado;
II- o voto direto, secreto, universal e
periódico; III- separação dos Poderes;
IV- os direitos e garantias individuais.

b) Limitação Circunstancial

A constituição NÃO PODERÁ SER EMENDADA durante a vigência das seguintes


circunstâncias:

INTERVENÇÃO FEDERAL;
ESTADO DE DEFESA;
ESTADO DE SÍTIO.

O Poder Constituinte Derivado via emendas é o único modo de alterar a


constituição?
Não. Existem outras maneiras de alterar a constituição sendo um deles o tratado
internacional de direitos humanos que passar pelo mesmo procedimento das emendas
constitucionais e entrar no ordenamento com status equivalente à emenda constitucional.
Outra forma de alterar é através do instituto da Mutação Constitucional, também
chamado de poder constituinte difuso, por meio de modificação informal, que ocorre
quando o texto constitucional permanece o mesmo, contudo ele é interpretado em virtude de
novas realidades sociais através de novos contextos. Dessa forma o texto ganha novas
atribuições de sentido. Há a necessidade de salientar que este instituto é bastante criticado
pela doutrina denominando de “Ativismo Judicial”, o qual alegam que o Poder Judiciário se
imiscui nas atribuições do Poder Legislativo ultrapassando limites funcionais.
Ex.1: reconhecimento da união homoafetiva – ADI 4277/DF e ADPF 132/RJ;
Ex.2: vedação da prisão do depositário infiel – HC 90450/MG e HC 94695/RS.
ORGANIZAÇÃO POLÍTICO - ADMINISTRATIVA

República Federativa do Brasil

Conforme leciona Balladore Pallieri, Estado é uma ordenação que tem por fim específico
e essencial a regulamentação global das relações sociais entre os membros de uma dada
população sobre um dado território, na qual a palavra ordenação expressa a ideia do poder
soberano, institucionalizado, o Estado, como se nota, constitui-se de quatro elementos essenciais:
Um poder soberano de um povo situado num território com certa finalidade.

FORMA DE ESTADO FEDERALISMO

FORMA DE GOVERNO REPÚBLICA

SISTEMA DE GOVERNO PRESIDENCIALISMO

REGIME DE GOVERNO DEMOCRÁTICO

A denominação República Federativa do Brasil condensa no nome do Estado brasileiro, o


nome do país – Brasil, a forma de Estado, mediante o qualificativo Federativa, tratando-se de um
Estado Federal, e a forma de Governo – República.

Estado Federal: Forma do Estado brasileiro.

O federalismo como o conhecemos surgiu com a Constituição norte Americana de 1787,


baseia- se na união de coletividades políticas autônomas.

Podemos conceituar o federalismo como uma forma de Estado, denominada federação ou


Estado Federal, caracterizada pela união de coletividades públicas dotadas de autonomia político -
constitucional, autonomia federativa.
O Brasil assumiu a forma federativa de Estado mediante a declaração constante em seu
Artigo 1º “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:”
Sendo a federação o resultado da união das coletividades regionais autônomas que a
doutrina chama de Estados federados, constamos que nesta composição, no caso brasileiro,
entram outros elementos como os Territórios, o Distrito Federal e os Municípios.
Capacidades dos entes federados

A Organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a


União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos nos termos da
Constituição, adotando a forma federativa de Estado.
A Autonomia dos Estados, Municípios e Distrito Federal é assegurada pela sua capacidade
de auto-organização, autolegislação, autogoverno e autoadministração, capacidades estas
denominadas “c a p a ci d a d e s p o lí t ic a s ”.

AUTONOMIA (capacidades políticas) – Estados, Municípios e Distrito Federal


AUTO-ORGANIZAÇÃO Elaboração das Constituições e leis orgânicas
AUTOGOVERNO Eleição de seus representantes
AUTOLEGISLAÇÃO Criação e leis estaduais, municipais e distritais
Organização próprios dos Poderes Executivos, Legislativos
AUTOADMINISTRAÇÃO
e Judiciário, ressalvado o judiciário municipal, que é
inexistente.
Direitos Fundamentais

Uma definição, muito aceita pela doutrina, de Direitos Fundamentais estabelece que todos
aqueles direitos inerentes à própria condição humana que estejam positivados pela norma de um
determinado estado. Desta forma podemos diferenciar os conceitos de Direitos Humanos e
Direitos Fundamentais mediante a inserção destes últimos em uma norma formal.
A CFRB/88 estabelece os direitos e garantias fundamentais, dividindo-os em individuais,
coletivos, de nacionalidade e direitos e partidos políticos.

Direitos Individuais

Intimamente ligados as grandes revoluções do século XVIII, os direitos individuais


caracterizam-se pela necessidade de uma prestação negativa do Estado, ou seja, prescrevem ações
das quais o poder estatal deve se abster, constituindo um limite ao exercício deste poder.
O artigo 5º da Constituição Federal reza uma série de direitos e garantias, entre alguns dos
direitos fundamentais da Constituição Brasileira está o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança, à educação, à saúde, à moradia, ao trabalho, ao lazer, à assistência aos
desamparados, ao transporte, ao voto, entre outras, sendo estes direitos destinados a todos os
brasileiros e estrangeiros residentes no país.
IMPORTANTE

Direito à Vida

Obviamente a vida é o bem, historicamente, classificado como o mais importante de


qualquer pessoa, pois dela decorre a possibilidade de exercício de todos os demais direitos do
indivíduo, neste sentido, ao conceituar o direito à vida não pode se limitar ao “direito de não ser
morto”, mas em consonância com as características dos direitos fundamentais, as quais serão
elencadas em momento oportuno, devemos entender este direito como “o direito de nascer,
permanecer vivo e fruir uma vida com dignidade”.
Deve ser destacado que, embora de extrema importância, o direito à vida comporta
limitação, isto porque, a própria Constituição Brasileira prevê hipóteses nas quais é admitida a
aplicação da pena de morte, conforme disposto no Inciso VLVII, alínea „a‟, do Artigo 5º da
CRFB/88:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
XLVII – não haverá penas:
a) de morte,salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art.84,XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;(g.n)

Direito à Liberdade

Ao buscarmos a definição de Liberdade, percebemos de trata-se de um conceito bastante


amplo, podendo ser sintetizado como o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, de acordo com
a própria vontade, desde que não prejudique outra pessoa, é a sensação de estar livre e não
depender de ninguém, sendo também um conjunto de ideais de cada indivíduo.
A CRFB/88 destina extensa fração de seu conteúdo aos dispositivos inerentes ao exercício
do direito à liberdade, surgindo a necessidade de destacarmos alguns deles:

1. Liberdade de manifestação do pensamento. (Art. 5º, IV):“ é l i vr e a m a n i f es t a ç


ã o do
p e ns a m e n t o , s e n d o v e d a d o o a n o n i m a t o ” .
O indivíduo tem direito de se expressar da forma que quiser e o pensamento que quiser
externar, porém deve fazê-lo sem se valer da omissão de sua identidade e sem abusar dessa
liberdade, podendo ser responsabilizado pelo abuso nas esferas criminal, civil ou administrativa,
conforma o caso. Consequentemente, a própria CRFB/88 positiva o direito de resposta e
indenização (art 5º, V): “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da
indenização por dano material, moral ou à imagem”.
2. O direito à intimidade, vida privada, honra e imagem, conforme preconizado no artigo 5º, inc.
X : “ S ã o i n v i o l á ve i s a i n t i m i d a d e, a v i d a pr i v a d a, a h o n r a
e a i m a g e m d as p e ss o a s, assegurando o direito à indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua
vi o l a ç ã o ” .

3. Inviolabilidade de domicílio, previsto no Artigo 5º, inciso XI, da Constituição Federal


constitui um direito de elevadíssima relevância, principalmente aos considerarmos os
desdobramentos da atividade policial que, invariavelmente, acabam por atingir diversas
esferas de liberdade do indivíduo, sendo assim, a CRFB/88 limita as hipóteses em que é
possível adentrar no local de repouso ou trabalho de uma pessoa.

“a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar


sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
ju d i c i
al ” .

Consentimento do morador é causa supralegal

Causa Supralegal (acima da lei, porém abaixo da constituição): Não esta previsto em lei, porém, o
consentimento do titular do bem disponível exclui a ilicitude do fato, encontra-se embasamento resolutivo
na doutrina .

Atenção: O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o RE 603.616, decidiu que a entrada forçada em
domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em razões
concretas, devidamente justificadas posteriormente, que indiquem que dentro da casa ocorria situação de
flagrante delito.

Direito de Igualdade

Quando tratamos do direito de igualdade constante na norma constitucional, devemos


considerar a existência de distinção entre o formal e o material.

O Sentido Formal é meramente do que está previsto em lei: “todos são iguais perante a
lei, sem distinções de qualquer natureza”, ou seja, a lei atinge a todos, ninguém podendo negar
seu cumprimento

Já o Sentido Material é a concretização da igualdade na prática, ocorre quando


analisamos as interações sociais e percebemos que há considerável diferença entre as pessoas,
existindo indivíduos vulneráveis em relação a outros. E diante de discrepâncias surge o
conceito material de igualdade, decorrente da situação de fato, em que se trata de forma desigual
os desiguais, na exata medida de suas desigualdades, o que justifica normas de proteção
destinadas a grupos minoritários ou vulneráveis que, em vista da verificação da condição de
desvantagem, cria-se, pelo Estado, mecanismos de equalização.

Ex. 1: ações afirmativas;

Ex. 2: Estatuto do Idoso, Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto da Pessoa com


Deficiência, Lei Maria da Penha, etc.

Igualdade Formal Igualdade Material

Características dos Direitos Fundamentais

Tratando-se os Direitos Fundamentais de normas de caráter declaratório inerentes da própria


condição humana positivados e reconhecidos por determinada ordem jurídica, podemos elencar
suas características da seguinte forma:
1. Imprescritibilidade - significa algo que não pode caducar com o tempo ou não pode
ficar sem efeito em decorrência de um prazo legal.
2. Inalienabilidade - tais garantias não podem ser transferidas a outrem.
3. Irrenunciabilidade - Pertencem a todos os seres humanos não podendo ser objeto de
renúncia.
4. Inviolabilidade - Não podem ser desrespeitados por atos normativos ou atos de
autoridade ou agentes públicos
5. Universalidade - evem ser direcionados a todos, independente de nacionalidade, cor,
raça, crença, convicção política, filosófica ou qualquer outra.
6. Efetividade - Não adianta limitar a atuação do Estado e não garantir a efetividade desses
direitos. Por esse motivo, os direitos fundamentais devem ser efetivados pelos Poder Público,
garantindo-os por meio de sua atuação.
7. Complementariedade - São complementares uns aos outros, não podendo ser
interpretados isoladamente, buscando-se alcançar os objetivos elencados pelo constituinte.
Ações ou Remédios Constitucionais

Ações ou Remédios Constitucionais são dispositivos processuais que possuem o objetivo


de viabilizar o exercício de direitos individuais e coletivos, bem como a proteção contra a
violação de direitos, constituindo-se em GARANTIAS CONSTITUCIONAIS, são eles:

Habeas Corpus

Sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou violação em sua
liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder. Importante ressaltar que o Habeas
Corpus, também conhecido como o remédio heroico, destina-se a proteção do direito individual
de livre locomoção da pessoa física não podendo ser proposto em favor de pessoa jurídica.

Esta previsto no art. 5º, LXVIII da CF/88


Art. 5 CF
[...]
LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar
ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por
ilegalidade ou abuso de poder;

Existem duas modalidades de Habeas Corpus:

Habeas Corpus preventivo é utilizado nos casos em que ainda não houve privação de
liberdade, mas ela está sob ameaça concreta e iminente por conta de algum ato anterior. O habeas
corpus preventivo também é chamado de “salvo conduto” e impede que um ato ilegal se
concretize.

Habeas Corpus repressivo também é chamado de liberatório, pois almeja-se a liberdade


de outrem que tenha sido cassada por alguma ilegalidade ou abuso de poder.

IMPORTANTE
Habeas Data

Destinado a assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa, não se confunde


com o direito à informação, amplamente difundido atualmente, mas ao direito às informações
constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de interesse público,
do próprio impetrante, bem como à retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por
processo sigiloso, judicial ou administrativo.
Destaque-se que caso as informações relacionem-se a um terceiro, não caberá a
impetração de Habeas Data, mas sim mandado de segurança.

Está previsto no art. 5º, LXXII da CF/88


LXXII - conceder-se-á habeas data:
a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do
impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter público;
b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,
judicial ou administrativo;

ATENÇÃO

Mandado de Segurança

É o remédio constitucional destinado à proteção de direito líquido e certo, não amparado


por habeas corpus ou habeas data, sempre que o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder
for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.
Esclareça-se que direito líquido e certo é aquele que pode ser comprovado de plano, sem a
necessidade de uma extensa e demorada produção de provas, geralmente são provados por
documentos.
Conforme a CF/88 o mandado de segurança pode ser individual e coletivo, sendo o
individual previsto no art. 5º, inciso LXIX;
Art. 5º
[...]
LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e
certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável
pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;

E o coletivo no art. 5º, inciso LXX da CF/88

Art. 5º
[...]
LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:
a) partido político com representação no Congresso Nacional;
b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e
em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus
membros ou associados;

Mandado de Injunção

O Mandado de injunção é utilizado sempre que a falta de normas regulamentadora torne


inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à cidadania, ou seja, ele supre a omissão legislativa no caso concreto,
surtindo efeitos entre as partes que figuram no respectivo processo judicial, a fim de viabilizar
direito constitucionalmente garantido.

Esta previsto no art. 5º inciso, LXXI da CF/88

Art. 5º

[…]

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma


regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades
constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à
cidadania;

Ação Popular

A Ação Popular pode ser proposta por qualquer cidadão (nacional no gozo dos direitos
políticos) como objetivo de anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o
Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprova da má-fé, isento de custas da sucumbência.

Está previsto no art. 5º inciso, LXXIII da CF/88:

Art. 5º

[...]
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe,
à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e
cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do
ônus da sucumbência;

É de suma importância a verificação das acepções (sentido/significados) do termo


“cidadania” referente ao tema em estudo, pois não deve ser confundido com o termo nacionalidade,
porém há duas vertentes sendo a primeira em sentido amplo (lato) e a outra é a cidadania em
sentido restrito (estrito).
A de sentido amplo possui a significação da aptidão de populares titularizarem os direitos
mais próximos da dignidade da pessoa humana. A exemplo, nesta acepção, um recém nascido já
pode ser considerado um cidadão, pois dentre outros direitos fundamentais, possui direito à vida,
liberdade, segurança, maternidade, etc. Por este motivo não é errado o policial tratar a população em
geral pelo termo “cidadão”.
Contudo, em sentido estrito, o termo cidadão utilizado pelo remédio constitucional “Ação
Popular” significa a aptidão para ser titular de direitos políticos. Por esta ótica, é o nacional
portador de título de eleitor.
Direitos Sociais

Conforme posição sedimentada pela doutrina, os direitos sociais são aqueles dependentes
de uma prestação positiva do Estado, decorrendo de normas constitucionais de conteúdo
programático, ou seja, exigem a ação estatal para sua efetivação, constituindo direitos de segunda
dimensão. Estão diretamente ligados aos direitos à educação, saúde, trabalho, previdência social,
lazer e segurança.

Direito ao Trabalho.

O reconhecimento dos valores sociais do trabalho como um dos fundamentos do estado


brasileiro impede a concessão de privilégios econômicos condenáveis, por ser o trabalho
imprescindível à promoção da dignidade da pessoa humana.

O trabalho constitui instrumento de desenvolvimento da capacidade física e intelectual do


indivíduo, realizando-se integralmente como pessoa, consequentemente, o trabalho deve ser visto
como um direito de todo ser humano. O trabalho é, concomitantemente, um direito e um dever de
cada pessoa.
Expressamente disposto na CRFB/88 em seu inciso IV do artigo 7º, que todo trabalhador
tem direito a receber uma remuneração mínima que seja capaz de atender às suas necessidades
básicas e, nos termos do inciso V do mesmo artigo, que seja proporcional à extensão e a
Complexidade de seu trabalho, bem como que deve ser pago aos trabalhadores brasileiros um
salário mínimo, suficiente para satisfazer as necessidades básicas do trabalhador e sua família.
O trabalho em condições dignas e seguras, com remuneração justa, é um direito e um dever
de todos os seres humanos.
ATENÇÃO

ireito de greve e carreiras de segurança pública


que: O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a
todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública.
Direito à saúde

Embora a saúde individual de cada pessoa sofra a influência de uma série de fatores
desconexos da ação estatal ou mesmo das ações do próprio indivíduo, a Constituição Federal
elenca o direito à saúde como um dos direitos fundamentais do ordenamento jurídico pátrio,
devendo ser esclarecido que saúde, no presente caso, não se trata apenas da ausência de doenças,
mas, a imposição do direito que cada um tenha o acesso a um tratamento condigno de acordo com
o estado atual da ciência médica, independentemente de sua situação econômica, tratando-se de
direito social, que como os demais impõe uma prestação positiva do Estado para o seu perfeito
exercício.

Direito à Educação

A educação é um processo de aprendizagem e aperfeiçoamento, por meio do qual as


pessoas se preparam para a vida, por meio da educação se obtém o desenvolvimento individual da
pessoa, que aprende a utilizar do modo mais conveniente o conhecimento.

No Brasil é a própria Constituição que estabelece parâmetros à ação estatal, definindo os


recursos financeiros mínimos que, em cada ano, a União, os Estados, o Distrito Federal e os
Municípios devem destinar à manutenção e ao desenvolvimento do ensino.

Ainda neste sentido o artigo 205 da Constituição Federal, combinado com o artigo 6º,
eleva a educação ao nível dos direitos fundamentais do homem, sendo um direito social de todos,
e um dever do Estado, que deve fornecer a todos os serviços educacionais básicos, bem como
criar e ampliar as possibilidades de que todos possam exercer esse direito. O policiamento em
escolas insere-se no esforço da garantia de assegurar a todos o acesso à educação.

A educação básica, para as crianças, deve receber o máximo apoio, mas os adolescentes e
adultos também têm direito à educação. Quanto mais educação a população receber, maior será a
possibilidade de criação intelectual e, em consequência, de independência do país.

Direito de Nacionalidade

Nacionalidade é o vínculo jurídico e político entre o indivíduo e um determinado Estado,


constituindo uma relação de direitos e obrigações.
O direito de nacionalidade no ordenamento jurídico brasileiro está previsto no artigo 12 da
CRFB/88, o qual estabelece duas formas de estabelecimento do vínculo de nacionalidade.
I. Brasileiros natos: as hipóteses constitucionais de atribuição da condição de brasileiro
nato (nacionalidade originária) sendo que as hipóteses das alíneas a, b, e c do inciso I do artigo 12 da
Constituição Federal variam entre os critérios jus soli (Direito de solo) e o jus sanguini (Direito de
Sangue)
Entende-se por “jus soli” a adoção do critério territorial para atribuição da nacionalidade, de
modo que quem nasce no território nacional tem a nacionalidade daquele país, enquanto por jus
sanguinis o critério atrelado à filiação, de modo que indivíduo receberá a nacionalidade de seus genitores.

São brasileiros natos (art. 12, I):

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que
estes não estejam a serviço de seu país;
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles
esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e
optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;

II. Brasileiros naturalizados: consiste na nacionalidade derivada, sendo que


a naturalização não se estende aos filhos e a aquisição da nacionalidade não é direito
subjetivo, é faculdade do Poder Executivo.
São hipóteses (art. 12, II):

a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de


países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil
há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade
brasileira.
§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor
de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos
nesta Constituição
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos
casos previstos nesta Constituição.
Os casos previstos na CF/88 são funções estatais conforme o § 3º do art. 12 da CF/88, as
funções que somente podem ser exercidas por brasileiros natos:
o Presidente e vice-presidente da República;
o Presidente da Câmara dos Deputados;
o Presidente do Senado Federal;
o Ministro do Supremo Tribunal Federal;
o Carreira Diplomática;
o Ministro da Defesa;
o Oficial das Forças Armadas;
o Membro do Conselho da República.

Perda da Nacionalidade Brasileira

A possibilidade de perda da nacionalidade brasileira somente ocorrerá nos casos expressos


na CF/88:
Art. 12 [...]
[...]
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva
ao interesse nacional;
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em estado
estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos
civis;

Direito de Cidadania.

O Cidadão é um indivíduo qualquer que habita a cidade, e que como morador, tem direitos
civis e políticos, contudo, quando buscamos um conceito jurídico de cidadania, podemos verificar
que se trata da capacidade de participação nas decisões políticas, constituindo nas palavras de
Pimenta Bueno “as prerrogativas, os atributos, faculdades ou poder de intervenção dos cidadãos
ativos no governo de seu país, intervenção direta ou indireta, mais ou menos ampla, segundo a
intensidade do gozo desses direitos”.

Aquisição da cidadania decorre do alistamento eleitoral na forma da lei, mediante a


qualificação e inscrição da pessoa como eleitor perante a Justiça Eleitoral, sendo obrigatório para
os brasileiros de ambos os sexos maiores de dezoito anos de idade e facultativo para os
analfabetos, os maiores de setenta anos e maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
Destaque-se que não são alistáveis como eleitores os estrangeiros e os conscritos durante o
serviço militar obrigatório.
Conceito de Tratado

Sucintamente, podemos afirmar que os tratados internacionais, enquanto acordos


internacionais juridicamente obrigatórios e vinculantes “pacta sunt servanda” (princípio jurídico
relacionado a obrigatoriedades dos contratos – “o contrato faz lei entre as partes”) firmados entre
duas ou mais pessoas de direito público internacional (Estados soberanos, organizações
internacionais, Santa Sé, etc.…), com o objetivo de produzir efeitos jurídicos, bem assim, impor
conduta única para o atendimento de pontos de interesse comum.

Objetivando disciplinar e regular o processo de formação dos tratados internacionais


temos a Convenção de Viena de 1969, servindo como o tratado dos Tratados, definindo o termo
“tratado” como um acordo internacional concluído entre Estados, na forma escrita e regulado pelo
Direito Internacional, determinando ainda que todo tratado em vigor é obrigatório em relação às
partes e deve ser cumprido por elas de boa-fé.

Elementos Formais do Tratado

Preâmbulo

Dispositivos (artigos e clausulas)

Adoção do texto e assinatura

Em regra a assinatura do tratado internacional privativamente é do Presidente da Republica,


conforme art. 84, inciso VIII da CF/88:

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:

[...]

VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do


Congresso Nacional;

Entretanto, esse poder pode ser delegado. No Brasil, qualquer autoridade, pode assinar um ato
internacional, desde que possua a carta de plenos poderes, chamados “Plenipotenciários” firmado pelo
Presidente da República e referendada pelo Ministro das Relações Exteriores.

O art. 7º da Convenção de Viena, disciplina quem são as autoridades que podem representar o
país na assinatura de um tratado, os chamados “treaty making power”

1. Uma pessoa é considerada representante de um Estado para a adoção ou


autenticação do texto de um tratado ou para expressar o consentimento do Estado
em obrigar-se por um tratado se:

a) apresentar plenos poderes apropriados; ou

b) a prática ou outras circunstâncias indicarem que a intenção dos Estados e


organizações internacionais era considerar esta pessoa como seu representante para
esses fins e dispensar os plenos poderes.

2. Em virtude de suas funções e independentemente da apresentação de plenos


poderes, são considerados representantes do seu Estado:

a) os Chefes de Estado, os Chefes de Governo e os Ministros de Relações


Exteriores, para os atos relativos à conclusão de um tratado entre um ou mais
Estados e uma ou mais organizações internacionais;

b) os representantes acreditados pelos Estados perante uma conferência


internacional, para a adoção do texto de um tratado entre Estados e organizações
internacionais;

c) os representantes acreditados pelos Estados perante uma organização


internacional ou um de seus órgãos, para a adoção do texto de um tratado em tal
organização ou órgão;

d) os chefes de missões permanentes perante uma organização internacional, para a


adoção ou autenticação do texto de um tratado entre os Estados acreditados e tal
organização.

Ratificação e Incorporação dos Tratados

O processo de formação dos tratados envolve os poderes Executivo e Legislativo. O


Executivo, representado pelo Chefe do Executivo ou Ministro das Relações Exteriores, assina o
tratado que se trata de aceite provisório, após, o tratado é apreciado pelo poder Legislativo, cas o
aprovado é ratificado pelo Presidente da República, gerando efeitos jurídicos no plano interno.
A CRFB/88 em seu artigo 21 define como competência exclusiva da União manter
relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais, bem como, em seu
artigo 84, inciso VIII, estabelece que compete privativamente ao Presidente da República celebrar
tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional.
A ratificação do Tratado, como dito anteriormente, depende de sua submissão ao
Congresso Nacional que, mediante votação em cada uma de suas casas, aprovara ou não a
inclusão do tratado no ordenamento jurídico brasileiro, caso aprovado será editado decreto
legislativo, o qual será remetido ao Presidente da República que o ratificará, incorporando-se o
tratado ao ordenamento jurídico interno.
Na ocasião da submissão ao congresso os tratados internacionais de direitos humanos
podem ser votados de duas formas distintas, pelo trâmite idêntico à lei ordinária, ou seja, pela
maioria simples ou por procedimento especial.
Procedimento especial para aprovação de Tratados Internacionais de Direitos Humanos
está previsto no §3ª do artigo 5º da CRFB/88 se caracteriza pela semelhança ao quórum exigido
para aprovação de uma emenda constitucional, sendo que os tratados aprovados nas duas casas do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos de seus membros serão incorporados ao
ordenamento com o status de norma constitucional.

Hierarquia Constitucional dos Tratado s de Direitos Humanos

A posição hierárquica dos tratados internacionais de direitos humanos, dependem da


forma de aprovação pelo rito ordinário ou o especial previsto no §3º do artigo 5º da CRFB,
podendo ser de ordem supralegal, no primeiro caso, ou constitucional ante o rito especial

ATENÇÃO

Controle de Constitucionalidade das Leis

Analisando de forma global os sistemas de controle de compatibilidade entre a


Constituição e as normas infraconstitucionais, a matriz constitucional norte americana ganha
destaque, pois alicerçada na supremacia e força vinculante de uma Constituição positivada,
necessitava de formas e modos de defesas de sua norma basilar frente ao poder normativo
atribuído aos diversos entes políticos, tendo para tanto consolidado o controle jurisdicional da
constitucionalidade dos atos normativos, quer sejam oriundos do Poder Legislativo ou,
eventualmente, do Poder Executivo, modelo hoje conhecido como sistema americano.
Costumeiramente, para fins didáticos, costuma-se dividir o controle jurisdicional de
constitucionalidade em modelo difuso, sistema americano, e controle concentrado, sistema
austríaco ou europeu, porém atualmente verifica-se em contexto global a aglutinação destes
modelos e a expansão de sistemas mistos como o observado no Brasil3.

Evolução dos Modelos de Controle de Constitucionalidade

Com o escopo de estabelecer uma sequência evolutiva do controle jurisdicional da


constitucionalidade, tem-se no ano de 1803 um momento determinante para o constitucionalismo
moderno, quando John Marshall, então Presidente da Suprema Corte dos Estados Unidos, ao
julgar o caso marburyv. Madison estabeleceu o postulado de que cumpria aos juízes interpretar e
aplicar a Constituição.
Sobre a decisão de John Marshall consolidou-se o modelo de controle de
constitucionalidade norte americano, com um caráter eminentemente difuso e concreto das leis,
sistema este que se espalhou por diversas nações do mundo.
De forma diversa daquela verificada no sistema norte americano, nos países europeus o
controle jurisdicional da constitucionalidade das leis se desenvolveu de forma diferente, atingindo
a maturação apenas no século XX, destacando-se neste contexto a contribuição de Hans Kelsen,
mediante a obra “Teoria Pura do Direito”.
Partindo da supremacia da Constituição dentro de uma estrutura escalonada do
ordenamento jurídico, Hans Kelsen influenciou diretamente a Constituição Austríaca de 1920 4,
criando, dentre outros, o conceito de controle concentrado da constitucionalidade das leis,
atribuindo a um órgão jurisdicional específico a competência de analisar a conformidade dos atos
normativos com a Constituição, surgindo a figura dos Tribunais Constitucionais, amplamente
difundidos na Europa.

Levanta-se, portanto, a questão de saber a quem deve a Constituição


conferir competência para decidir se, num caso concreto, foram cumpridas
as normas constitucionais, se um instrumento cujo sentido subjetivo é o de
ser uma lei no sentido da Constituição há de valer também como tal
segundo o seu sentido objetivo. Se a Constituição conferisse a toda e
qualquer pessoa competência para decidir esta questão, dificilmente
poderia surgir uma lei que vinculasse os súditos do Direito e os órgãos
jurídicos. Devendo evitar-se uma tal situação, a Constituição apenas pode

3
MENDES, Gilmar. O Controle de Constitucionalidade no Brasil, Repositório do Supremo Tribunal Federal,
www.stf.jus.br.
conferir competência para tal a um determinado órgão jurídico. 4

O controle de Constitucionalidade na Constituição de 1988

Notória a evolução dos mecanismos de controle de constitucionalidade trazidos pela


Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, a qual valorizou consideravelmente o
controle concentrado de constitucionalidade, consolidando a via de Ação Direta iniciada ainda
sobre a égide da Constituição de 1946, conservando-se o controle difuso principalmente em
questões alusivas aos direitos e garantias individuais e sociais.
O papel destacado atribuído ao Supremo Tribunal Federal pela Constituição Cidadã
materializa-se no texto constitucional de forma expressa ao fixar em seu artigo 102 a competência
da Corte.
Competência para propor Ações de controle de Constitucionalidade
Art. 103 CF. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação
declaratória de constitucionalidade
I - o Presidente da República;
II - a Mesa do Senado Federal;
III - a Mesa da Câmara dos Deputados;
IV - a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito
Federal
V - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
VI - o Procurador-Geral da República;
VII - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
VIII - partido político com representação no Congresso Nacional;
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Competência para julgar as ações de controle de constitucionalidade

Art. 102 CF/88 Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a


guarda da Constituição, cabendo-lhe: I. processar e julgar,
originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo
federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei

4
Hans Kelsn, Teoria Pura do Direito, tradução João Batista Machado, Editora Martins Fontes, p. 189.
ou ato normativo federal;
[...]

l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da


autoridade de suas decisões;
[...]

p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade;

o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for


atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara
dos Deputados, do Senado Federal, da Mesa de uma dessas Casas
Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais
Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal;

[...]

Ainda neste mesmo sentido, a Emenda Constitucional nº 45, de 08 de dezembro de 2004,


acrescentou a §1º do artigo 102, instituindo a Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental.

§ 1º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente


desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na
forma da lei.

A posição destacada do controle jurisdicional de constitucionalidade na Constituição


Cidadã decorre também dos efeitos atribuídos às decisões do Supremo Tribunal Federal
proferidas em controle concentrado de constitucionalidade, as quais, conforme preconizado no
texto constitucional produzem efeitos erga omnes e vinculante em relação ao órgão do Poder
Judiciário e da Administração Pública, conforme disposto no artigo1 02, §2º, da Constituição
Federal.

§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal


Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações
declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e
efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à
administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e
municipal.
Outro elemento importante da Constituição de 1988, relacionado ao controle de
constitucionalidade, é a instituição da inconstitucionalidade por omissão, decorrente da inércia do
legislador diante de uma exigência constitucional geralmente relacionada a uma norma de
eficácia limitada.
A Constituição Cidadã fornece duas vias para reparação da inconstitucionalidade por
omissão legislativa, relacionadas respectivamente com o controle concentrado abstrato e controle
difuso concreto, são elas a Ação Direta de Inconstitucionalidade por omissão e o mandado de
injunção.
A Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão foi instituída pelo artigo 103, § 2º, da
Constituição Federal e regulamentada pela Lei 12.063 de 27 de outubro de 2009, servindo como
via direta de controle de constitucionalidade.

§ 2º Declarada a inconstitucionalidade por omissão de medida para tornar


efetiva norma constitucional, será dada ciência ao Poder competente para a
adoção das providências necessárias e, em se tratando de órgão
administrativo, para fazê-lo em trinta dias. (CF/88, art. 103, § 2o)

O Mandado de Injunção, por suja vez, trata-se de um remédio constitucional previsto no


artigo 5º, Inciso LXXI, da Constituição Federal que tem por objetivo sanar no caso concreto a
inconstitucionalidade por omissão do legislador ordinário. Ressalte-se que não há lei especifica
que regule o Mandado de Injunção motivo pelo qual se aplicam as disposições da Lei 12016 de
07 de agosto de 2009 alusiva ao Mandado de Segurança.
Inconteste a natureza mista do sistema de controle de constitucionalidade brasileiro, o qual
possui inúmeros dispositivos de via direta de controle concentrado e abstrato das normas,
mantendo diversos mecanismos de controle concreto e difuso, ou mesmo pelo afastamento da
aplicação por qualquer magistrado.

Súmula Vinculante

Anteriormente a Emenda constitucional nº 45/2004, quando foi criado o instituto da


Súmula Vinculante, o citado efeito estava presente apenas nas decisões proferidas pelo STF no
controle concentrado de constitucionalidade, porém em ausência de efeito vinculante no controle
concreto fazia com que vários processos com objeto idêntico chegassem ao Supremo Tribunal
Federal, muitas vezes objetivando a declaração de um entendimento já sedimentado pela Corte.
Com o escopo de evitar que demandas recorrentes e idênticas sobrecarregassem a Corte
Suprema, a Emenda Constitucional nº 45/2004, criou a figura da Súmula Vinculante,
estabelecendo quatro requisitos para sua edição, quais sejam: tratar de matéria constitucional;
existência de reiteradas decisões do Supremo Tribunal Federal; existência de controvérsia atual
entre os órgãos judiciários ou entre esses e a Administração Pública; e o fato de a controvérsia
acarretar grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão
idêntica, conforme previsto no artigo 103-A da Constituição Federal.

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por


provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após
reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a
partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em
relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como
proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de
normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos
judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave
insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão
idêntica.
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação,
revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que
podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula
aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo
Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo
ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja
proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme ocaso.

Destaque-se do texto constitucional que a Súmula Vinculante vincula os órgãos


jurisdicionais, a administração pública direta e indireta em todas as esferas, cabendo em oposição
a ato que a contrarie a propositura de Reclamação ao Supremo Tribunal Federal.
Contudo, deve ser ressaltado que a Súmula Vinculante não impede ou vincula a atividade
legislativa própria, podendo tanto o legislativo no exercício de sua atividade própria quanto,
conforme entendimento de alguns autores, o executivo no exercício de atividade legiferante
(produção de leis) imprópria, legislar em contrariedade à Súmula Vinculante.
Concluindo uma breve abordagem sobre o sistema de controle de constitucionalidade
brasileiro, verifica-se a existência de um sistema misto que materializa uma evolução
significativa, abarcando características dos diversos sistemas de controle jurisdicional de
constitucionalidade existentes no mundo.

Controle de Convencionalidade

Considerando a forma de incorporação dos tratados internacionais, a qual possibilita que


tratados internacionais de Direitos Humanos sejam incorporados com o status de norma
constitucional, mediante o procedimento previsto no §3º do artigo 5º da CRFB/88, podemos
concluir que as normas infraconstitucionais devem se conformar a estes tratados, neste sentido,
surge com na doutrina e jurisprudência o conceito de controle de convencionalidade, tratando-se

da possibilidade de questionamentos e apreciação da adequação das leis às normas dos Tratados


Internacionais de Direitos Humanos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DALLARI,DalmodeAbreu.ElementosdeTeoriaGeraldoEstado.SãoPaulo:Saraiva.
LENZA,Pedro.DireitoConstitucionalesquematizado.SãoPaulo,Método.
MORAIS, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas.
SILVA, José Afonso da.Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros.
MARTINS, Flávio. Curso de Direito Constitucional. 4ªed..São Paulo, Saraiva, 2020.

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