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Na transição brasileira do período ditatorial para o ingresso no processo de

redemocratização, a sociedade brasileira se viu na necessidade de elaboração de


uma nova constituição federal. Portanto, partiu-se para o processo de elaboração de
um texto constitucional num momento de intensa negociação e sensibilidade
institucional pelo receio de que o equilíbrio de forças políticas que se tinha
alcançado naquele momento pudesse se romper.

Dessa forma, formou-se uma assembleia nacional constituinte que


expressava um convívio de forças estando presentes quase que com o mesmo peso
tanto forças de conservação, representada por senadores e deputados vinculados
ao regime passado, quanto deputados e senadores progressistas, que vieram
depois a se caracterizar como lideranças políticas.

Isso levou a que o processo da formação de uma nova constituição, fosse


extremamente negociado e partindo-se do zero, ou seja, sem a presença de nenhum
anteprojeto. Dessa forma, existiam negociações ponto a ponto.

Os direitos fundamentais e sociais ingressaram no sistema brasileiro como


uma alavanca de transformação. Os progressistas empenharam-se em implementar
tais direitos na constituição para que estes criassem uma pauta de prioridades para
uma deliberação política posterior. Destarte, buscou-se incentivar e dar liberdades
aos futuros legisladores para que pudessem desenvolver ainda melhor esse instituto
constitucional.

Naquele momento histórico, para as forças de conservação, essa pauta não


incomodava muito. O motivo disso é que, naquela época, imaginava-se que os
direitos fundamentais e sociais pudessem se caracterizar como norma meramente
indicativa, ou seja, sem que estivesse revestida de eficácia.

Foi criada naquele momento, além do Ministério Público, a Defensoria Pública


visando o empreendimento da representação judicial dos vulneráveis que também,
mais recentemente, foi investida de autonomia administrativa e financeira.

Passou a existir então um conjunto de características que pretendia assegurar


os direitos sociais e fundamentais visando a solução dos problemas por outras vias
caso a legislação não viesse a fazê-lo.
Os efeitos desse conjunto de direitos fundamentais tornam-se então a ser de
aplicação imediata. Destarte, no afã de fazer valer e consolidar o novo texto
constitucional e a proposta transformadora que dele emanava, a doutrina passou a
considerar que os direitos fundamentais, além de revestirem-se de aplicação
imediata, mereciam que fossem considerados de eficácia imediata.

A diferença entre esses dois institutos não é meramente retórica pelo fato de
aplicação imediata trabalha na dimensão do tempo de ação, ou seja, algo que detém
aplicação imediata é algo que se aplica já. Já na eficácia imediata é passado a se
considerar algo que tem eficácia no resultado, ou seja, no plano de uma analítica
substantiva.

Percebe-se então que essa mudança teve efeitos muito significativos na


compreensão de que tipos de deveres de agir em relação ao Estado poderiam ser
extraídos do texto constitucional. Algo que foi possível apenas pelas características
que permitiam que a solução de problemas dos deveres sociais do Estado poderia
ser executada por vias diferentes daquelas previamente imaginadas.

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