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RESENHA 02

TEXTO RESENHADO: REIS, Jorge Renato dos; ZIEMANN, Aneline dos Santos.
O direito do autor no constitucionalismo contemporâneo: solidarismo
jurídico e função social. São Paulo: Max Limonad, 2018.
Luís Guilherme Nascimento de Araujo

O texto tem início dando destaque ao fato de que a percepção quanto à


efetividade da Constituição Federal tem sofrido modificações na
contemporaneidade, inobstante a figura de uma constituição escrita não seja
novidade em termos históricos. O constitucionalismo contemporâneo, nesse
sentido, é o “movimento” ou paradigma através do qual essas metamorfoses
têm ocorrido e, portanto, é o que estrutura essas novas formas e interpretações
do direito que resultam em novas práticas e atitudes diante da figura da
Constituição.
Esse paradigma constitucional hodierno perpassa por algumas
características essenciais, como o fenômeno da constitucionalização do direito
privado, a eficácia horizontal dos direitos fundamentais, a intensificação na
atuação da jurisdição constitucional, a maior relevância dos princípios na
hermenêutica jurídica, dentre outros. Esse substrato teórico e prático é o que
conforma a distribuição axiológica de todo o ordenamento jurídico no entorno
da Constituição, como fonte emanadora de princípios e valores vinculantes a
todos os domínios da estrutura social e estatal.
Destaca-se, por outro lado, que, por mais significativa e predominante
que seja essa tendência, nem todos seus pontos são unanimidade na
comunidade jurídica e acadêmica. A eminência atualmente angariada pelo
Poder Judiciário e pela jurisdição constitucional provoca reação de alguns
intérpretes e juristas sustentados pela falta de fundamentação democrática na
eleição e atuação de juízes e ministros e, ainda, por uma suposta invasão, por
este poder, nas atribuições dos demais, mais direta e classicamente ligados à
concretização das demandas populares.
Além disso, a aplicabilidade das normas constitucionais nos domínios
das relações privadas também é foco de objeções e desacordos teóricos, o que
assinala a heterogeneidade de concepções no constitucionalismo
contemporâneo. Entende-se, em consonância com os autores do texto, que o
mais adequado é conceber o ordenamento jurídico como uma unidade
sistemática regida pelas normas constitucionais e, portanto, ter como
pressuposta a aplicabilidade dos direitos fundamentais nas relações privadas e
a efetividade da normatividade da Constituição Federal sobre as demais áreas
do direito.
Partindo desse entendimento é que se faz necessária a construção de
mecanismos jurídicos e políticos que propiciem uma atividade conjunta dos
poderes estatais para a concretização da norma constitucional na sua
totalidade. É fundamental a superação das dicotomias entre direito público e
privado, indivíduo e sociedade, que não podem ser tidos como polos opostos e
inconciliáveis. Pelo contrário, a superação dessas dicotomias envolve o
reconhecimento da totalidade social, sem o abandono das suas
particularidades. Ou seja, o reconhecimento de que cada uma desses polos
compõe uma unidade dialética, que, ainda que singularizados, compõem um
todo unitário.

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