Você está na página 1de 24

Assinado em 17-06-2021, por

José Manuel Lopes Barata, Juiz Desembargador

Assinado em 17-06-2021, por


Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Maria Emília dos Ramos Costa, Juiz Desembargador Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)

CONCLUSÃO: - Em 17-06-2021, ao Exmo. Desembargador Relator, Dr. José


Manuel Barata.
(Termo eletrónico elaborado por Escrivão Adjunto Isabel Maria Caeiro Carrilho)
=CLS=

Procº 782/18.3T8BJA.E1

Acordam os Juízes da 2ª Secção Cível do Tribunal da Relação de Évora

Recorrente: Carlos Filipe Banza Martins

Recorrido: Companhia de Seguros Allianz Portugal, S.A.

*
No Tribunal Judicial da Comarca de Beja, Juízo Central Cível e Criminal
de Beja – Juiz 2 na ação declarativa de condenação proposta por Carlos Filipe
Banza Martins contra Companhia de Seguros Allianz Portugal, S.A., com
fundamento em acidente de viação, foi pedida a condenação da Ré a pagar ao
autor a quantia de 327 677,73 Euros, acrescido de juros à taxa legal contados
desde a citação ou, em alternativa, na referida quantia 327 677,73 Euros atualizada
de acordo com a taxa da inflação ou os índices de preços por forma a corrigir a
desvalorização da moeda, desde a data de propositura da ação e até à douta
sentença e em juros à taxa legal contados após a mesma.
Após contestação, foi realizado o julgamento tendo-se decidido:
Pelo exposto, o tribunal julga a ação procedente por provada e, consequentemente,
condena a Ré a pagar ao Autor a quantia de 39.872,73€ trinta e nove mil oitocentos e setenta e
dois euros e setenta e três cêntimos), acrescida de juros de mora à taxa legal em vigor.
1
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


Custas pelo Autor na proporção de 88% e pela Ré na de 12%.

*
Não se conformando com o decidido, o autor recorreu da sentença,
formulando as seguintes conclusões, que delimitam o objeto do recurso, sem
prejuízo das questões de conhecimento oficioso, artigos 608º/2, 609º, 635º/4, 639º
e 663º/2 do CPC:
Da alteração do julgamento quanto à matéria de facto
i. O autor/apelante discorda pontualmente com o julgamento da
matéria de facto no que importa aos seguintes 4 pontos: C), I), J) e L);
ii. O autor/apelante considera que estes factos devem ser tidos
por provados face a uma cuidada análise da prova testemunhal realizada na
audiência de discussão e julgamento, com a necessária conjugação com as regras
da experiência comum e da lógica.
iii. Nomeadamente, pelos depoimentos das testemunhas Hélia
José Santinhos Correia e José Miguel Santinhos Banza, a primeira a cônjuge do
autor/apelante e o segundo o seu filho e cujos depoimentos estão registado
através do sistema de gravação digital entre as 14:25 e as 14:39 (14 minutos) e entre
as 14:39 e as 14:54 (15 minutos), conforme consta da acta da audiência final de 10
de Setembro 2020, realizada pelas 14 horas e pelos acervo de documentação
médica junta aos autos e, bem assim, com os pareceres do INMLCF, a
documentação junta em 5 de Fevereiro de 2019 pela Companhia de Seguros
Tranquilidade e pareceres técnicos de medicina legal juntos pelo autor/apelante em
2 de Janeiro de 2019) tudo
iv. Tudo visto, requer-se ao Venerando Tribunal da Relação de Évora
que julgue provado os factos supra-referidos e identificados pelas leras C) I) J) L)
e os mesmos aditados à matéria dos factos provados.

Da revogação parcial da sentença e da decisão no respeitante ao


mérito da causa

2
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


v. Em caso de acidente de viação e de trabalho, as
respetivas indemnizações não são cumuláveis, mas antes complementares,
assumindo a responsabilidade infortunística laboral carácter subsidiário.
vi. Na condenação da seguradora no pagamento da indemnização
devida por acidente de viação não se deve deduzir a indemnização devida
por acidente de trabalho já paga ao sinistrado em processo de acidente de
trabalho.
(Resumo do acórdão do STJ de 11 de Julho de 2019, 6ª Secção
processo 1456/15.2T8FNC.L1.S1)
vii. Importa, pois, revogar parcialmente a decisão recorrida e
concluir que o autor/sinistrado, aqui apelante, tem direito a uma indemnização por
danos patrimoniais destinada a compensar a perda da sua capacidade geral de
ganho calculada nos termos do direito civil e à qual não se deduzirá a
indemnização já arbitrada em processo de acidente de trabalho.
Procedem-se às operações de liquidação e quantificação do
dano, o autor/apelante pretende a revogação parcial da sentença recorrida e
que o Venerando Tribunal da Relação de Évora condene a companhia ré/apelada
nos seguintes termos:
viii. 16.800,00 Euros como indemnização pelo dano não patrimonial
sofrido no período de incapacidade absoluta e pelo dano não patrimonial
resultante da incapacidade parcial temporária até à fixação da incapacidade parcial
permanente, no qual se incluirá a indemnização pelo dano sofrido quantum
doloris;
ix. 50.000,00 Euros pelo dano não patrimonial sofrido e
resultante das incapacidades genérica e profissional parciais e permanentes, no
qual se incluirá a indemnização pelo dano não patrimonial estético e pelo dano
não patrimonial de afirmação pessoal;
x. Aumentando-se deste modo a indemnização já arbitrada
no Digno Tribunal “a quo”.
xi. E mantendo-se a indemnização já arbitrada no Digno Tribunal
“a quo” de 35.000,00 Euros a título de ressarcimento do dano biológico.
3
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


xii. Pretende ainda o autor/apelante que o Venerando Tribunal da
Relação de Évora condene a companhia ré/apelada no pagamento de
uma indemnização pelo dano patrimonial resultante da incapacidade genérica
parcial permanente (posterior à consolidação médico-legal), indemnização que foi
totalmente negada no Digno Tribunal “a quo”.
i. Para o efeito, o autor/apelante tem como boa a matéria provada de
que a data da consolidação médico legal das suas lesões é 7 de Fevereiro de
2017 (facto provado 13);
ii. A sua incapacidade permanente corresponde a 14%, o somatório de 8
+ 6 pontos (factos provados 19 e 28);
iii. O seu rendimento no ano do acidente foi de 29.552,76 Euros +
3.513,48 Euros = 33.066,24 Euros (facto provado 32) e no ano seguinte
19.862,65 Euros + 1.466,78 Euros (facto provado 33), rendimentos de
trabalho dependente e independente;
iv. A esperança de vida do autor/apelante é 44 anos, isto é até aos 79
anos de idade (factos provados 34 e 35);
v. Rendimento médio do capital nos próximos 44 anos será de 1%;
inflação esperada nos próximos 44 anos será de 2% (presunção de facto segundo
critério de normalidade e de experiência);
xiii. Feitos os cálculos, segundo juízos de legalidade e de
equidade, o autor/apelante obtém valores que poderão atingir um máximo
de 492.929,00 Euros e nunca inferiores a 194.423,00 Euros.
xiv. Em situação extrema, à qual o autor/apelante não adere, esses
valores poderiam ser reduzidos entre 328.630,68 Euros e 129.612,00 Euros no
seu máximo e no seu mínimo.
xv. Assim, o valor constante no pedido 327.677,73 Euros (que
corresponderá ao somatório de todas as indemnizações pedidas) mostra-se
inteiramente razoável face à subsunção e aos critérios hermenêuticos
jurídicos anunciados do corpo destas alegações.

4
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


xvi. Valor de 327.677,73 Euros no qual deverá a companhia
ré/apelada ser condenada, acrescidos de juros contados à taxa legal desde a data
da sentença.
xvii. Julgando de outro modo o Tribunal “a quo” fez uma errada
aplicação e interpretação das regras que resultam, entre outros, dos Artigo 17º da
Lei n.º 98/2009, de 4 de Setembro e Artigos 483 e segts, 493, 495, 496, 562 e segts.
563, 564 todos do Código Civil e ainda as demais normas de direito que o
Venerando Tribunal da Relação de Évora queira aplicar suprindo as
insuficiências do recorrente.
Termos em que deve o presente recurso ser julgado procedente e a
sentença recorrida revogada e substituída por douto acórdão deste Venerando
Tribunal da Relação de Évora que julgue procedente e provada a acção e
condene a companhia ré/apelada no pedido: no pagamento ao autor/apelante
de 327.677,73 Euros e juros de mora contados desde a data da sentença recorrida.
*
A Ré contra-alegou, concluindo:
1. O prazo para apresentação das alegações pelo Recorrente não
está suspenso desde 22 de janeiro de 2021, face aos efeitos previsto no Artigo 4
da Lei 4-B/2021, pois o presente acto processual não é urgente e não implica actos
presenciais, preenchendo-se a previsão do n. 5 do mesmo Artigo, devendo
recurso ser rejeitado;
2. O Recorrente também não pagou o preparo do recurso sobre o valor
da acção constante da douta sentença recorrida que é de 327.677,73€ fruto da
descabida ampliação do pedido inicial de 111.500€, fixação de valor que o
Recorrente não ataca nesta apelação.
3. O Recorrente devia ter pago o preparo de 816€ e não os 510€ que
pagou, pelo que agora acresce a respectiva multa, devendo seguir-se os demais
tramites, cf. art 145º, 570º e 642º CPC e, caso continue a não pagar no prazo
indicado, ficar sem efeito o presente recurso.
4. O recorrente não concretiza os meios de prova que em relação a
cada um dos factos impugnados impõem uma decisão diversa, nem indicou, com
5
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


exactidão, as passagens da gravação em que se funda para alegar a impugnação
aos pontos da matéria de facto, limitando-se a remeter para os integrais
depoimentos das testemunhas e a pedir que as alíneas C), I), J) L) não provadas
passem a matéria provada, em clara violação do disposto non nºs 1º b) e 2º a) e b)
do artº 640º C.P.C.;
5. O recorrente não cumpriu, assim, os ónus impostos pelo artigo 640.º
do Código de Processo Civil, pelo que deve o recurso ser rejeitado, pelo que
6. o Recorrente, não interpôs o recurso no prazo geral de 30 dias, artº
638º nº1 C.P.C., dado não ter validamente impugnado a matéria de facto,
como se deixa alegado.
Sem prescindir,
7. O chamado dano biológico ou corporal, enquanto lesão da saúde e
da integridade psico-somática, traduzida em incapacidade funcional
limitativa e restritiva das suas qualidades físicas e intelectuais, não constitui uma
espécie de danos que se configure como um tertium genus na dicotomia danos
patrimoniais vs danos não patrimoniais;
8. O Recorrente padece défice funcional permanente da físico psíquica
de 8 pontos, mais 6 pontos pela ligeira deficiência na autonomia pessoal e
profissional;
9. O Recorrente, embora aceitando o valor dos 35.000,00€ atribuído
a titulo de dano biológico, pretende mais 327.677,73 € por supostos danos
patrimoniais pela incapacidade genérica parcial permanente posterior à data da
consolidação medico legal de 7/2/2017, do que foi devidamente indemnizado em
processo laboral, mas sem fundamento na matéria de facto;
10. O Recorrente recebeu 20.127,27€ de capital de remição e
7.594,94€ por incapacidade temporária para o trabalho, em sede de acidente de
trabalho por danos patrimoniais, no procº 1549/16.9T8BJA Juizo Trib. Trab. Beja;
11. O Recorrente não pode cumular a indemnização que
eventualmente lhe venha a ser atribuída, a título de danos patrimoniais por acidente
de viação, com a que lhe foi atribuída por acidente de trabalho.

6
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


12. Foram-
lhe atribuídos 35.000,00€ a título de dano biológico, fixado com equidade e
razoabilidade na sentença recorrida;
13. O chamado dano biológico ou corporal, enquanto lesão da
saúde e da integridade psicossomática da pessoa imputável ao facto gerador de
responsabilidade civil delitual, traduzida em incapacidade funcional limitativa
e restritiva das suas qualidades físicas e intelectuais, não constitui, ao contrário
do que o Recorrente pretende, uma espécie de danos que se configure como
um tertium genus na dicotomia danos patrimoniais vs danos não patrimoniais;
14. Antes permite delimitar e avaliar os efeitos dessa lesão – em
função da sua natureza, conteúdo e consequências, tendo em conta os
componentes de dano real – enquanto dano patrimonial (por terem por objeto um
interesse privado suscetível de avaliação pecuniária) ou enquanto dano moral ou
não patrimonial (por incidirem sobre bem ou interesse insuscetível, em rigor, dessa
avaliação pecuniária);
15. Mas o Recorrente pode desempenhar a sua atividade profissional
habitual, apenas com esforços acrescidos;
16. Inexiste fundamento para este exorbitante pedido de danos
patrimoniais futuros, que também se acham bem compensados, quer na verba em
instância laboral, quer nos bem fixados na douta sentença recorrida em sede de
dano biológico, pelo que deve ser indeferido o que ora pede.
17. Com um dano estético de 1/7 e um quantum doloris de 4/7
correspondente ao sofrimento físico e o mal-estar do ofendido provocadas
pelas lesões derivadas do acidente de que foi vítima, nomeadamente durante o
período de incapacidade temporária,
18. E o tipo de lesões, da zona em que ocorreram, do tempo que
levaram a curar e que duraram, deve ser mantido o quantum
indemnizatório por danos morais em €25.000,00, o que é equilibrado face à
função desempenhada pela indemnização e à orientação jurisprudencial em
casos semelhantes.

7
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


19. Este valor atribuído permite ao recorrente contrapor às dores e
sofrimentos ou, pelo menos, é apto a minorar de modo significativo os danos
delas provenientes.
20. Portanto, dentro da equidade, o valor deverá manter-se a verba
atribuída na sentença recorrida, para o A. poder distrair-se e esquecer a dor que
suportou.
21. O Recorrente pediu o valor global de 111.600,00 que ampliou
para 327.677,73€, esquecendo os já recebidos 20.127,27€ e 7.594,94€, o
que tudo não passa de tentativa de enriquecimento ilícito e ilegítimo à custa da
Recorrida;
22. O Recorrente não fundamentou, minimamente, estes valores
exorbitantes e descabidos que não passam de duplicações em relação aos valores
arbitrados na sentença recorrida, bem como aos já recebidos;
23. A sentença recorrida deve ser integralmente mantida, por não
violar qualquer preceito legal.
Nestes termos e nos demais doutamente supridos por Vªs. Exªs. deve ser
negado provimento ao presente recurso e confirmada integralmente a douta
sentença recorrida, para se fazer justiça.
*
Foram dispensados os vistos.
*
As questões que importa decidir são:
1.- A extemporaneidade e o preparo do recurso.
2.- A impugnação da matéria de facto.
3.- Os danos patrimoniais e não patrimoniais pedidos pelo
autor/recorrente.
*
Conhecendo.
1.- A extemporaneidade do recurso e o preparo sobre o valor da ação.

8
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


O recorrente alega que o recurso deve ser rejeitado por extemporâneo,
porque o respetivo ato processual não é urgente nem implica atos presenciais, face
ao que estabelece o artº 4º da Lei 4-B/2021.
Vejamos.
A sentença objeto do recurso foi proferida em 29-12-2020 e notificada
ao recorrente em 30-12-2020; tendo as férias judiciais se prolongado até 03-01-
2021 o prazo para interposição do recurso esteve suspenso até esta data (artº 28º
da Lei 62/2013, de 26-08 – LOSJ), o prazo de 30 dias para interposição do recurso,
a que a crescem mais 10, porque se impugnam também os factos (artº 638º/1 e 7
do CPC), iniciou-se no dia 04-01-2021, tendo o recurso sido interposto em 17-02-
2021.
Ora, importa agora atender ao regime legal aplicável decorrente da Lei
n.º 1-A/2020, de 19 de março, no aditamento introduzido pela Lei n.º 4-B/2021,
de 1 de fevereiro.
Esta última lei entrou em vigor em 02-02-2021, mas com produção de
efeitos ao anterior dia 22-01-2021, quanto aos artigos 6º-B a 6º-D, sem prejuízo das
diligências judiciais e atos processuais entretanto praticados (artº 4º) – veio
estabelecer um regime de suspensão de prazos processuais e procedimentais
decorrentes das medidas adotadas no âmbito da pandemia da doença COVID-19,
alterando aquela lei.
O artº 6º-B, sob a epígrafe “Prazos e diligências”, estabelece na parte que
ora releva:
1 – São suspensas todas as diligências e todos os prazos para a prática de atos processuais,
procedimentais e administrativos que devam ser praticados no âmbito dos processos e procedimentos que corram
termos nos tribunais judiciais, tribunais administrativos e fiscais, Tribunal Constitucional e entidades que junto
dele funcionem, Tribunal de Contas e demais órgãos jurisdicionais, tribunais arbitrais, Ministério Público,
julgados de paz, entidades de resolução alternativa de litígios e órgãos de execução fiscal, sem prejuízo do disposto
nos números seguintes. (…)
5 – O disposto no n.º 1 não obsta: (…)
d) A que seja proferida decisão final nos processos e procedimentos em relação aos quais o tribunal e
demais entidades referidas no n.º 1 entendam não ser necessária a realização de novas diligências, caso em que não
se suspendem os prazos para interposição de recurso, arguição de nulidades ou requerimento da retificação ou
reforma da decisão”.

9
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


Assim, decorre do citado n.º 1, como regra geral, a suspensão dos prazos
para a prática de atos processuais, procedimentais e administrativos, “que devam
ser praticados no âmbito dos processos e procedimentos que corram termos nos
tribunais judiciais”.
Porém, nos restantes números do artigo consagram-se várias exceções a
tal regra, sendo uma delas a citada alínea d) do nº 5.
Contudo, se a suspensão não obsta a que seja proferida decisão final nos
processos, pressupõe que ainda não tenham sido proferidas anteriormente tais
decisões.
Nos casos em que a decisão já tenha sido proferida – como no caso dos
autos – o prazo de recurso é abrangido pela regra geral do nº 1 do artº 6º-B, ou
seja, o prazo esteve suspenso desde 22-01-2021 até 06-04-2021 (Lei 13-B/2021, 05-
04 que revogou o citado artº 6-B).
Tendo o recurso sido interposto em 17-02-2021 (ainda durante o prazo
da suspensão), foi apresentado tempestivamente, pelo que improcede a requerida
rejeição do recurso.
Sobre a questão cfr. decisão do Presidente do TRE de 03-05-2021,
Procº 476/18.0T9ENT-A.E1:
A previsão da alínea d) do n.º 5 do artigo 6.º-B da Lei n.º 4-B/2021, de 01 de Fevereiro, ao
aludir "a que seja proferida decisão final", só pode reportar-se a situações em que foi proferida decisão final após a
sua entrada em vigor.
Quanto ao preparo do recurso, foi pago o correspondente ao valor da
ação, 111.500,00€, – valor que nunca foi impugnado – pelo que improcede a
requerida rejeição do recurso com este fundamento.
*
2.- A impugnação da matéria de facto.
O recorrente alega que a matéria de facto não provada constante dos
pontos C), I), J), e L) deve ser dada como provada.
Fundamenta a pretensão com o teor dos depoimentos das
testemunhas Hélia José Santinhos Correia e José Miguel Santinhos Banza, a
primeira a cônjuge do autor/apelante e o segundo o seu filho e cujos
depoimentos estão registado através do sistema de gravação digital entre as 14:25 e
10
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


as 14:39 (14 minutos) e entre as 14:39 e as 14:54 (15 minutos) e pelos acervo de
documentação médica junta aos autos e, bem assim, com os pareceres do
INMLCF, a documentação junta em 5 de Fevereiro de 2019 pela Companhia de
Seguros Tranquilidade e pareceres técnicos de medicina legal juntos pelo
autor/apelante em 2 de Janeiro de 2019).
É o seguinte o teor da matéria de facto impugnada:
C) O autor tentou retomar a actividade profissional, chegando a exercer
funções profissionais durante cerca de 3 ou 4 meses, após o que apresentou de novo queixas,
nomeadamente de dificuldade de exercer qualquer função profissional e pessoal, de conduzir, de
andar no campo, de manter concentração e vestir-se, de calçar-se e de higiene pessoal, e por
isso se viu na necessidade de suspender qualquer tipo de actividade;
I) O autor iniciou tratamentos de reabilitação no Centro Clínico de
Fisioterapia, em Beja, em 12 de junho de 2016 tendo sido transferido para o centro
Clínico de Fisioterapia em Santiago do Cacém;
J) O autor retomou os tratamentos de reabilitação no Centro Clínico de
Fisioterapia em Santiago do Cacém, ao final de uma semana, que realizou até janeiro de 2017;
L) O Autor não apresenta antecedentes familiares patológicos.

Ouvidos os depoimentos das testemunhas Hélia José Santinhos Correia e


José Miguel Santinhos Banza, mulher e filho do recorrente, resultou apenas que o
autor retomou a sua atividade profissional de vendedor de tratores, com o que tem
de visitar clientes, conduzindo um veículo automóvel para esse efeito, o que se
verifica até hoje.
O autor/recorrente era uma pessoa mais ativa e animada antes do
acidente, tendo ficado com um estilo de vida mais de casa/trabalho do que outras
atividades sociais, como andar a cavalo e conviver com alargado número de amigos.
De onde se conclui que não pode ser dada como provada a matéria de
facto constante da alínea C), dado que do depoimento das testemunhas não se
pode retirar tais asserções.
Estas testemunhas também não depuseram sobre qualquer questão
relativa à reabilitação do seu familiar, nem quanto a antecedentes patológicos na
família.
Quanto ao teor do vasto acervo de documentos juntos em 05-02-2019 e
02-01-2019, não cumpriu o recorrente o que dispõe o artº 640º/1 b) do CPC, não
indicando com precisão e em concreto qual o meio probatório que, em seu
11
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


entender, deveria implicar dar como provados os factos em apreço, limitando-se a
remeter para um conjunto de documentos (179 páginas no total), pelo que tal tem
como consequência não se poder considerar tal meio de prova.
Assim sendo, as conclusões atinentes à impugnação da matéria de facto
são improcedentes.
*
A matéria de facto a considerar é a seguinte:
Factos provados
1. No dia 20 de setembro de 2015, pelas 11 horas e 25 minutos, na
Estrada Municipal 1088, ao seu KM “0”, junto a Monte Viegas, freguesia de
Alcaria Ruiva, concelho de Mértola, ocorreu um acidente de viação no qual
foram intervenientes as seguintes duas viaturas:
- Viatura ligeira de mercadorias, matrícula 15-08-PZ, conduzida
por Joaquim Manuel dos Santos Izidoro;
- Viatura ligeira de mercadorias, matrícula 60-MN-67,
conduzida pelo autor Carlos Filipe Banza Martins.
2. A primeira viatura estava segura na companhia de seguros ré,
“Allianz Portugal, SA” e a segunda viatura estava segura na companhia de seguros
“Açoreana Seguros, SA”;
3. O A. tripulava o 60-MN-67 na execução de ordens recebidas
pela Tractomoz - Tractores e Máquinas Agrícolas de Estremoz S.A., sua
entidade patronal e proprietária do mesmo;
4. A viatura conduzida pelo autor seguia pela sua mão, na faixa direita
atendendo ao seu sentido de marcha, quando a viatura PZ, saiu da sua faixa de
rodagem, invadiu a faixa de rodagem contrária e o embateu de frente;
5. O embate das duas viaturas ocorreu na faixa de rodagem da viatura
do autor;
6. Na altura, estava bom tempo, o piso encontrava-se alcatroado em
bom estado de conservação;
7. Após o acidente o autor foi transportado, com imobilização lateral e
cervical, para o hospital de Beja, Hospital Distrital José Joaquim Fernandes, onde
foi sendo avaliado clínica e imagiologicamente (radiografias do membro superior

12
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


direito e joelhos), e lhe foram desinfetadas as lesões que apresentava e colocado
pensos;
8. O autor após ter efetuado uma ecografia teve alta;
9. Dois dias após o evento recorreu, novamente, ao Serviço de
Urgência do hospital de Beja, por queixas álgicas, insónias e pesadelos
relacionados com o evento, tendo sido medicado com analgésico e Lexotan, 1
comprimido 3 vezes por dia, durante cerca de um mês, passando depois a fazer 1
comprimido uma vez ao dia, à noite, acompanhado de Victan3 em SOS;
10. O autor realizou uma artroscopia em 07 de julho de 2016;
11. Manteve queixas álgicas e limitações na mobilidade do joelho
direito pelo que realizou nova RMN do joelho direito e em 16 de novembro de
2016, foi novamente submetido a artroscopia;
12. Atualmente sofre de uma gonalgia direita com limitações na
mobilidade do joelho direito, apresenta rigidez do joelho e dor à palpação;
13. A data da consolidação médico-legal das lesões é fixável em
07.02.2017; 14. O período de défice funcional temporário total é fixável em 238
dias;
15. O período de défice funcional temporário parcial é fixável em 98
dias.
16. O período de repercussão temporária na atividade profissional total é
fixável em 238 dias;
17. O período de repercussão temporária na atividade profissional
parcial é fixável em 98 dias;
18. O quantum doloris é fixável no grau 4/7;
19. O défice funcional permanente da integridade físico-psíquica é
fixável em 8 pontos;
20. Em termos de repercussão permanente na atividade profissional
as sequelas são compatíveis com o exercício da atividade profissional
habitual, mas implicam esforços suplementares;
21. Apresenta um dano estético permanente fixável no grau 1/7;
22. A repercussão permanente nas atividades desportivas e de lazer é
fixável no grau 3/7;
23. Necessita de tratamentos médicos regulares;
13
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


24. Antes do acidente o Autor era saudável;
25. Praticava vários tipos de atividades não profissionais,
nomeadamente equitação e desportos ao ar livre;
26. O autor era uma pessoa alegre e comunicativa;
27. Após o acidente passou a isolar-se e a distanciar-se da família,
amigos, colegas de trabalho e clientes;
28. Atualmente apresenta perturbações persistentes do humor com
ligeira repercussão na autonomia pessoal, social e profissional, com atribuição de 6
pontos;
29. Apresenta perturbações do sono.
30. Na altura do acidente, o autor tinha a categoria profissional de
trabalhador por conta de terceiro e era técnico de vendas, recebendo a sua
remuneração a título de trabalho dependente e independente;
31. Em 2014 o autor auferiu como rendimentos de trabalho dependente
15.873,56 Euros e como rendimentos de trabalho independente 22.769,53 Euros;
32. O autor auferiu em 2015 como rendimentos de trabalho dependente
29.552,76 Euros e como rendimentos de trabalho independente 3.513,48 Euros;
33. O autor auferiu em 2016 como rendimentos de trabalho dependente
19.862,65 Euros e como rendimentos de trabalho independente 1.466,78 Euros;
34. O autor no momento do acidente tinha 44 anos de idade;
35. É previsível que o autor viva até perto dos 79 anos de idade;
36. Por sentença do Juízo de Trabalho de Beja, no âmbito do processo
1549/16.9T8BJA, ao autor foi atribuída uma indemnização por acidente de
trabalho que após os cálculos de remição foi definida em 13.755,14 Euros e
6.372,13 Euros, isto é um capital de 20.127,27 Euros;
37. Foi ainda atribuída ao autor a quantia de € 7.594,94 a título de
indemnização por incapacidade temporária para o trabalho.
*
Factos não provados
A) O Autor invadiu parte da metade direita da faixa por onde seguia o
veiculo segurado da Ré;
B) O autor foi sempre acompanhado pelo médico da companhia de
seguros “Açoreana”, no Centro Clínico de Beja (Dr. Gaspar Cano), com início
14
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


em 23 de Setembro de 2015, tendo estado cerca de um mês com incapacidade
absoluta, período após o qual teve alta;
C) O autor tentou retomar a atividade profissional, chegando a
exercer funções profissionais durante cerca de 3 ou 4 meses, após o que
apresentou de novo queixas, nomeadamente de dificuldade de exercer qualquer
função profissional e pessoal, de conduzir, de andar no campo, de manter
concentração e vestir-se, de calçar-se e de higiene pessoal, e por isso se viu na
necessidade de suspender qualquer tipo de atividade;
D) Por queixas álgicas em ambos os joelhos (com mais incidência
no direito), foi solicitada ecografia pela médica assistente de Medicina Geral e
Familiar;
E) Após receção de relatório de ressonância magnética (RMN) ao
joelho direito o autor foi encaminhado para a clínica GIGA;
F) O autor foi avaliado nessa Clínica em março/abril 2016, pelo Dr.
Beja da Costa, que solicitou nova RMN, que fez no SAMS;
G) O autor foi internado no dia da cirurgia de manhã, tendo tido alta
no dia seguinte ao almoço, locomovendo-se com duas muletas canadianas, com
indicação para descarga;
H) O autor fez descarga durante dois meses, sendo reavaliado
quinzenalmente na clínica GIGA;
I) O autor iniciou tratamentos de reabilitação no Centro Clínico de
Fisioterapia, em Beja, em 12 de junho de 2016 tendo sido transferido para o
centro Clínico de Fisioterapia em Santiago do Cacém;
J) O autor retomou os tratamentos de reabilitação no Centro Clínico
de Fisioterapia em Santiago do Cacém, ao final de uma semana, que realizou até
janeiro de 2017;
K) O autor iniciou quadro de acufenos, tendo sido avaliado
por médico otorrinolaringologista privado em Coimbra e passou a utilizar um
aparelho auditivo em cada um dos ouvidos;
L) O Autor não apresenta antecedentes familiares patológicos.
***
3.- Os danos patrimoniais e não patrimoniais pedidos pelo
autor/recorrente.
15
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


O recorrente alega que na sentença recorrida foi indevidamente
descontado o valor já recebido a título de indemnização por acidente de trabalho,
no valor de 20.127,27€, da indemnização atribuída a título de danos patrimoniais
destinada a compensar a perda de capacidade geral de ganho, causada pelo acidente
de viação em causa nos autos.
Para além disso, os danos não patrimoniais fixados no valor de
25.000,00€, devem ser aumentados, nos seguintes termos:
Deve ser fixada a quantia de 16.800,00€ a título de danos não
patrimoniais, no qual se incluirá o dano sofrido pelo quantum doloris:
- Como indemnização pelo dano sofrido no período da incapacidade
absoluta;
- Como indemnização pelo dano sofrido no período de incapacidade
parcial temporária, até à fixação da incapacidade parcial permanente.
Também a título de danos não patrimoniais, alega o recorrente que deve
ser fixada a quantia de 50.000,00€, no qual se incluirá a indemnização não
patrimonial pelo dano estético e de afirmação pessoal:
- Pelo dano sofrido e resultante da incapacidade genérica e profissional
parcial e permanente.
Alega também que a indemnização no valor de 35.000,00€ a título de
dano biológico deve ser mantida.
Discorda também do decidido pelo tribunal a quo ao não ter fixado
qualquer valor pelo dano patrimonial, resultante da incapacidade genérica parcial
permanente – posterior à consolidação médico-legal, – que computa num valor
entre o máximo de 492.929,00€ e o mínimo de 194.423,00€.
A recorrida argumentou que os montantes indemnizatórios por danos
não patrimoniais, no valor de 25.000,00€, e a indemnização por dano biológico, no
valor de 35.000,00€, se mostram equilibrados e devem ser mantidos.
No mais, deve o recurso improceder por exorbitante.
Quid juris?
Os danos em sede de indemnização civil por facto ilícito (artº 483º e sgs.
CC) podem ser de natureza patrimonial ou moral, também designados estes por
não patrimoniais (artº 496º CC).

16
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


Por sua vez, o dano biológico consubstanciado na diminuição
psicossomática e funcional do lesado, sendo ressarcível, pode ser enquadrado quer
na categoria normativa dos danos patrimoniais quer na dos não patrimoniais.
Se este dano se repercutir na diminuição da capacidade de ganho atual ou
futura é integrado nos danos patrimoniais porque é de natureza objetiva e, por isso,
facilmente mensurável pela aplicação da teoria da diferença (artº 566º/2 CC).
Caso se repercuta no sofrimento da vítima provocado pelo dano estético,
diminuição do desempenho sexual, da atividade desportiva e de lazer ou no quantum
doloris, será integrado nos danos não patrimoniais porque a valoração da
indemnização que os procure ressarcir, sendo de natureza subjetiva, só pode
encontrar-se com recurso à equidade e ao bom senso do julgador (artº 566º/3 CC).
Opta-se, como facilmente se depreende, pela tese eclética (tertium genus),
ou seja, a de que o dano biológico não é forçosamente patrimonial nem não
patrimonial.
É a natureza do dano que o faz incluir numa ou noutra categoria, pelo
que só através da análise do caso concreto se pode decidir da sua natureza.
Ora, os danos que se mostram incontestados e que merecem a tutela do
direito são apenas os de natureza biológica integrados nos danos não patrimoniais,
porque não ficou demonstrado que o dano motivou uma perda de rendimentos do
lesado – atual ou futura – uma vez que continua a desempenhar a sua profissão de
vendedor de tratores, apenas com esforços suplementares (ponto 20 na matéria de
facto provada).
Este esforço suplementar deve ser considerado para o quantum
indemnizatório dos danos não patrimoniais, porque a sua existência não diminui a
capacidade de ganho do recorrente.
A quantia fixada pelo tribunal a quo quanto aos danos não patrimoniais
foi dividida em duas parcelas, 25.000,00€ para danos não patrimoniais e 35.000,00€
para o dano biológico, tudo no valor total de 60.000,00€.
Como acima se deixou já bem expresso, só existem duas espécies de
danos a ressarcir – os patrimoniais e os não patrimoniais.
O dano biológico pode ser incluído numa espécie ou na outra, conforme
a sua natureza; e nos autos o dano biológico deve incluir-se no âmbito dos danos

17
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


não patrimoniais, porque não implicaram uma diminuição da capacidade de ganho
do recorrente.
Assim sendo, improcedem as conclusões quanto à fixação de uma
indemnização pelo dano patrimonial resultante da incapacidade genérica parcial
permanente, porque inexistente.
Esta indemnização já está incluída no esforço acrescido que o recorrente
tem de desenvolver para exercer a sua profissão e é incluída no dano não
patrimonial.
Por muito esforço que o recorrente desenvolva em dividir e subdividir os
danos sofridos, eles hão de ser sempre patrimoniais ou não patrimoniais.
Relativamente à determinação do montante da indemnização, a
jurisprudência emitida pelos nossos tribunais superiores, em consonância com o
preâmbulo e o disposto no artº 1º/2, da Portaria 377/2008, de 26-05, vem
decidindo que “as tabelas constantes da Portaria 377/2008, de 26-05, alterada pela
Portaria 679/2009, de 25-06, apenas relevam no plano extrajudicial ou, quando
muito, como critério orientador ou referencial, mas nunca vinculativo para os
tribunais (artºs 564º e 566º/3, do CC)”, o que bem se compreende quando ali se
atribuem míseros 10.000,00€ de indemnização pela perda de um filho.
É disso exemplo lapidar a decisão proferida no Ac. STJ de 07-02 2008,
Moreira Camilo: a um jovem de 19 anos que ficou com 45% de invalidade
permanente, foi arbitrada a indemnização de 14.773,75€ pela Tabela da referida
Portaria e 94.570,57€ a título de equidade (citado por Menezes Cordeiro in Tratado
de Direito Civil, VIII, 2017, pág. 753).
No que respeita ao montante total dos danos não patrimoniais fixados
pelo tribunal a quo deve considerar-se a seguinte factualidade:
- O período de défice funcional temporário total é fixável em 238 dias;
- O período de défice funcional temporário parcial é fixável em 98 dias.
- O período de repercussão temporária na atividade profissional total é fixável em
238 dias;
- O período de repercussão temporária na atividade profissional parcial é fixável
em 98 dias;
- O quantum doloris é fixável no grau 4/7;
- O défice funcional permanente da integridade físico-psíquica é fixável em 8 pontos;

18
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


- Em termos de repercussão permanente na atividade profissional as sequelas
são compatíveis com o exercício da atividade profissional habitual, mas implicam esforços
suplementares;
- Apresenta um dano estético permanente fixável no grau 1/7;
- A repercussão permanente nas atividades desportivas e de lazer é fixável no
grau 3/7;
- Necessita de tratamentos médicos regulares;
- Antes do acidente o Autor era saudável;
- Praticava vários tipos de atividades não profissionais, nomeadamente equitação
e desportos ao ar livre;
- O autor era uma pessoa alegre e comunicativa;
- Após o acidente passou a isolar-se e a distanciar-se da família, amigos, colegas
de trabalho e clientes;
- Atualmente apresenta perturbações persistentes do humor com ligeira repercussão
na autonomia pessoal, social e profissional, com atribuição de 6 pontos;
- Apresenta perturbações do sono.
Dada a extensão e gravidade objetiva dos danos, sendo certo que os não
patrimoniais são com frequência mais difíceis de suportar do que os patrimoniais,
ponderando-se ainda que uma indemnização para ser justa tem que ser significativa,
sem cair nos exageros do sistema anglo-saxónico, o montante de 60.000,00€ fixado
pelo tribunal a quo não peca por excesso, devendo, isso sim, ser aumentado a fim de
se lograr um ajustado juízo de equidade do caso concreto (artº 496º/4 do CC), pelo
que deve ser elevado para 70.000,00€.
Sobre o juízo de equidade o nosso mais alto tribunal no Ac. de 20-05-
2010, proferido no Processo 103/2002.L1.S1 decidiu que o juízo de equidade se
alicerça “não na aplicação de um estrito critério normativo, mas na ponderação das
particularidades e especificidades do caso concreto (…), tal juízo prudencial e casuístico das
instâncias deverá, em princípio, ser mantido, salvo se o julgador se não tiver contido dentro
da margem de discricionariedade consentida pela norma que legitima o recurso à equidade – muito
em particular, se o critério adoptado se afastar, de modo substancial e injustificado, dos critérios ou
padrões que generalizadamente se entende deverem ser adoptados, numa jurisprudência evolutiva e
actualística, abalando, em consequência, a segurança na aplicação do direito, decorrente da
necessidade de adopção de critérios jurisprudenciais minimamente uniformizados, e , em última
análise, o princípio da igualdade.”
Os critérios que vimos seguindo e que estão na base do valor
indemnizatório fixado são passíveis de ser generalizados para todos os casos
19
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


análogos, podendo o valor arbitrado harmonizar-se com os padrões que a
atualidade da jurisprudência vem seguindo em situações análogas, ou seja, em
situação que afetem de forma sensível o padrão e a qualidade de vida dos lesados.
No caso presente o montante indemnizatório segue a linha
jurisprudencial que mais valoriza o sofrimento causado pelos danos não
patrimoniais incluindo o dano biológico.
O montante indemnizatório é atualizado na data da decisão conforme
jurisprudência assente (AUJ nº 4/2002, de 09-05-2002 – DR, S I-A de 27-06-2002).
No mesmo sentido se vem pronunciando a jurisprudência:
Ac. STJ de 21-01-2016, Lopes do Rego, Procº 1021/11.3TBABT.E1.S1:
1. O juízo de equidade das instâncias, essencial à determinação do montante indemnizatório por
danos não patrimoniais, assente numa ponderação, prudencial e casuística, das circunstâncias do caso – e não na
aplicação de critérios normativos – deve ser mantido sempre que – situando-se o julgador dentro da margem de
discricionariedade que lhe é consentida - se não revele colidente com os critérios jurisprudenciais que, numa
perspectiva actualística, generalizadamente vêm sendo adoptados, em termos de poder pôr em causa a segurança na
aplicação do direito e o princípio da igualdade.
2. Não é desproporcionada à gravidade objectiva e subjectiva das lesões sofridas por lesado em
acidente de viação o montante de €50.000,00, atribuído como compensação dos danos não patrimoniais (…)
envolvendo sequelas relevantes ao nível psicológico e de comportamento, produzindo as lesões internamento durante
83 dias, quantum doloris de 5 pontos em 7 e dano estético de 2 pontos em 7; ficando com um deficit funcional
permanente da integridade físico - psíquica, fixável em 16 pontos, e com repercussão nas actividades desportivas e
de lazer, fixável em grau 2 em 7, envolvendo ainda claudicação na marcha e rigidez da anca direita; implicando
limitações da marcha, corrida, e todas as actividades físicas que envolvam os membros inferiores e determinando
alteração relevante no padrão de vida pessoal do lesado, que coxeia e é inseguro, física e psiquicamente, triste,
deprimido e com limitação na capacidade de iniciativa; sofrendo incómodos, angústias e perturbações resultantes das
lesões que teve, dos tratamentos e intervenções cirúrgicas a que foi sujeito; terá de suportar até ao fim dos seus dias
os sofrimentos e incómodos irreversivelmente decorrentes das limitações com que ficou.

E Ac. Ac. STJ de 26-01-16, Carlos Moreira, Procº 309/11.8TBVZL.C1:


3 - O valor de 37.500 euros fixado a título de danos não patrimoniais, a lesado de 43 anos que,
nuclearmente, sofreu fractura bimaleolar da tíbia, fractura-luxação do tornozelo esquerdo, fractura do cubóide
esquerdo e do perónio, foi submetido a operações com colocação de placa e parafusos e fixação, fez exames e
tratamentos durante mais de dois anos, teve um dano estético de grau 3/7, um prejuízo de afirmação pessoal de
4/7, e um quantum doloris de 5/7, mostra-se aceitável já que, considerando as circunstancias do caso e os valores
fixados jurisprudencialmente, está ínsito em parâmetro admissível.
4 - Igualmente se mostra ainda inserta em margem de alea concedível – posto que seu limite máximo
- o arbitramento da quantia de 65.000,00 euros a título de danos futuros para tal lesado, o qual auferia a
quantia mensal de 712,30 euros e ficou com uma IPP de 20% ou Défice Funcional Permanente da Integridade
Físico-Psiquica, de 20 pontos.

20
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


Num caso em que a gravidade das lesões atingiu elevada gravidade, cfr. o
Ac. STJ de 18-10-2018, Hélder Almeida, Procº 3643/13.9TBSTB.E1.S1, tendo sido
atribuída indemnização por danos não patrimoniais no valor de 160.000,00€.
E, por último, os Acórdãos desta Relação:
- De 09-03-2017, Albertina Pedroso, Procº 81/14.0T8FAR.E1, onde foi
fixado montante de 60.00,00€ para os danos não patomimias resultantes de
acidente de viação.
- De 23-02-2017, Maria João Sousa e Faro, Procº 3088/12.8TBLLE.E1,
onde foi atribuído o valor de 348.879,10 a título de danos não patrimoniais em
resultado de acidente de viação.
- De 09-03-2017, Manuel Bargado, Procº 2153/12.6TBLLE.E1, onde foi
elevada a indemnização por danos não patrimoniais de 50.000,00€ para
120.000,00€.
- De 14-07-2020, Tomé de Carvalho, Procº 3908/17.0T8FAR.E1, em
que foi atribuído o valor de 60.000,00 € (sessenta mil euros), a título de danos não
patrimoniais.
- E numa decisão onde fomos adjunto, acórdão de 07-05-2020, Vítor
Sequinho, Procº 2072/14.1TBPTM.E1, foi elevado o montante indemnizatório por
danos não patrimoniais de 25.650,00€ para 80.000,00€.
O que vale por dizer que a verba indemnizatória total de 70.000,00€ por
danos não patrimoniais, incluindo o dano biológico, se mostra ajustada, pelo
procedem nesta parte e parcialmente as conclusões do recorrente.
*
Pode a indemnização por acidente de trabalho ser cumulada com a
indemnização a atribuir por acidente de viação, ou seja, por responsabilidade
extracontratual?
Os danos decorrentes de acidente de trabalho têm uma natureza
subsidiária relativamente aos danos decorrentes de acidente de viação. Ou seja, se
um dano patrimonial ou não patrimonial foi ressarcido em sede da ação que teve
como causa de pedir o acidente de viação, não podem os mesmos danos ser
cumulados em sede de ação que tem como causa de pedir o acidente de trabalho.
No caso dos autos ficou demostrado que “Em termos de repercussão permanente
na atividade profissional as sequelas são compatíveis com o exercício da atividade profissional habitual,
mas implicam esforços suplementares.”
21
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


Ou seja, ficou provado nos autos que o recorrente/lesado não sofreu
qualquer diminuição patrimonial em sede de capacidade de trabalho presente e
futuro, pelo que os proventos que lhe advêm da atividade profissional, não foram,
porque não existem, ressarcidos na presente ação, sem embargo de o terem sido em
sede de acidente de trabalho.
O que ficou demonstrado é que o recorrente/lesado tem de desenvolver
um esforço suplementar, para desempenhar a mesma profissão e assim manter a
capacidade de auferir os mesmos rendimentos do trabalho.
Mas este esforço acrescido está contemplado nos danos não patrimoniais
acima descritos, pelo que se não verifica qualquer cumulação entre a indemnização
laboral por danos laborais/patrimoniais e a decorrente do acidente de viação.
O que significa dever a sentença ser revogada, na parte em que deduziu
ao valor de 35.000,00€ a quantia de 20.127,27 €, recebida pelo ora recorrente em
sede de ação por acidente de trabalho.
Contudo, caso se verifique alguma parte da indemnização que se
encontre cumulada – o que, como se disse, se não vislumbra –, está a entidade
patronal ou a seguradora do acidente de trabalho, investida no direto de regresso
contra o recorrente/lesado, nos termos gerais.
No mesmo sentido, cfr. Ac. STJ de 02-06-2015, Ana Paula Boularot,
Procº 464/11.7TBVLN.G1.S1:
I. Quando um acidente reveste, simultaneamente, a natureza de acidente de trabalho e de acidente de
viação, as indemnizações a arbitrar à vítima, ou aos seus representantes, por cada um desses títulos não se
cumulam, mas são complementares, assumindo a responsabilidade infortunística laboral carácter subsidiário.
II. Nestas circunstâncias, os responsáveis pela reparação do acidente de trabalho ficam desonerados
do pagamento de indemnização destinada a ressarcir os mesmos danos já reparados pelos responsáveis pelo acidente
de viação.
III. Com este regime pretende-se evitar que os beneficiários recebam uma dupla indemnização pelos
mesmos danos, sob pena de se verificar um injusto enriquecimento daqueles, como sucederia no caso de ser permitida
a acumulação das duas indemnizações.
IV. Mas, se no tribunal civil se tiver fixado certa indemnização por acidente de viação, abrangendo
tanto os danos patrimoniais como os não-patrimoniais, sem discriminação, deverá a seguradora laboral instaurar a
pertinente acção com vista a ser determinado o montante que, dentro do fixado judicialmente, deva ser descontado
no cômputo da indemnização pelo acidente de trabalho, alegando para o efeito os factos constitutivos do seu direito.
(…)
22
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


***
Sumário:
I.- O dano biológico, consubstanciado na diminuição psicossomática e
funcional do lesado, sendo ressarcível, pode ser enquadrado quer na categoria
normativa dos danos patrimoniais quer na dos não patrimoniais.
II.- Se o dano se repercutir na diminuição da capacidade de ganho atual
ou futura é integrado nos danos patrimoniais porque é de natureza objetiva e, por
isso, facilmente mensurável pela aplicação da teoria da diferença (artº 566º/2 CC).
III.- Caso se repercuta no sofrimento da vítima provocado pelo dano
estético, diminuição do desempenho sexual, da atividade desportiva e de lazer ou
no quantum doloris, será integrado nos danos não patrimoniais porque a valoração da
indemnização que os procure ressarcir, sendo de natureza subjetiva, só pode
encontrar-se com recurso à equidade e ao bom sendo do julgador (artº 566º/3 CC).
III.- É a natureza do dano que o faz incluir numa ou noutra categoria,
pelo que só através da análise do caso concreto se pode decidir da sua natureza.
IV.- Num caso em que se verifica que o período de défice funcional
temporário total é de 238 dias; o período de défice funcional temporário parcial é
de 98 dias; o período de repercussão temporária na atividade profissional total é de
238 dias; o período de repercussão temporária na atividade profissional parcial é
de 98 dias; o quantum doloris é fixável no grau 4/7; o défice funcional permanente
da integridade físico-psíquica é fixável em 8 pontos; em termos de repercussão
permanente na atividade profissional as sequelas são compatíveis com o
exercício da atividade profissional habitual, mas implicam esforços
suplementares; o lesado apresenta um dano estético permanente fixável no grau
1/7; a repercussão permanente nas atividades desportivas e de lazer é fixável no
grau 3/7; o lesado necessita de tratamentos médicos regulares; antes do acidente o
Autor era saudável; praticava vários tipos de atividades não profissionais,
nomeadamente equitação e desportos ao ar livre; o autor era uma pessoa alegre e
comunicativa; após o acidente passou a isolar-se e a distanciar-se da família,
amigos, colegas de trabalho e clientes; atualmente apresenta perturbações
persistentes do humor com ligeira repercussão na autonomia pessoal, social e
profissional, com atribuição de 6 pontos e apresenta perturbações do sono mostra-
23
Processo: 782/18.3T8BJA.E1
Referência: 7275324

Évora - Tribunal da Relação


2ª Secção Cível
Rua da República, 141-143 - Palácio Barahona
7004-501 Évora
Telef: 266758800/9 Fax: 266746853 Mail: evora.tr@tribunais.org.pt

Apelações em processo comum e especial (2013)


se equitativamente ajustado atribuir ao lesado o valor de 70.000,00€ a título de
danos não patrimoniais, o que inclui o dano biológico.
***
DECISÃO.
Em face do exposto, a 2ª Secção Cível do Tribunal da Relação de Évora
julga a apelação parcialmente procedente e fixa em 70.000,00€ (setenta mil euros)
os danos não patrimoniais sofridos pelo recorrente/lesado, quantia que inclui o
dano biológico, revogando-se também, em conformidade, a sentença na parte em
que deduziu a quantia de 20.127,27 € ao montante indemnizatório.
No mais, improcede a apelação.
Custas pelo recorrente e recorrida, na proporção do vencimento/
decaimento. – Artº 527º CPC
Notifique.
***
Évora, 17-06-2021
José Manuel Barata (relator)
Conceição Ferreira (não assina, mas tem voto de conformidade)
Emília Ramos Costa

24

Você também pode gostar