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PROJUDI - Processo: 0002603-89.2014.8.16.0113 - Ref. mov. 120.

1 - Assinado digitalmente por Fabiana Kaori Shinike


16/07/2021: RECEBIDOS OS AUTOS. Arq: Acórdão

PROJUDI - Recurso: 0002603-89.2014.8.16.0113 - Ref. mov. 55.1 - Assinado digitalmente por Vilma Regia Ramos de Rezende:12699

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
12/04/2021: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Desembargadora Vilma Régia Ramos de Rezende - 12ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE

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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ
12ª CÂMARA CÍVEL

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Autos nº. 0002603-89.2014.8.16.0113

Apelação Cível n° 0002603-89.2014.8.16.0113


Vara de Família e Sucessões de Marialva
Apelante(s): A.A.M.D.C., A.A.M.D.S., A.D.M., A.M.M.T., A.M.M., A.A.M. e A.M.
Apelado(s): L.T.S.
Relator: Desembargadora Vilma Régia Ramos de Rezende

APELAÇÃO CÍVEL. SUCESSÕES. PETIÇÃO DE HERANÇA.


SENTENÇA QUE RECONHECEU A CONDIÇÃO DE HERDEIROS DOS
AUTORES E DECLAROU A NULIDADE DA PARTILHA/INVENTÁRIO
EXTRAJUDICIAL. INSURGÊNCIA DOS REQUERENTES. PRETENSÃO
DE ANULAÇÃO TAMBÉM DAS ALIENAÇÕES DO IMÓVEL QUE
COMPUNHA O MONTE-MOR. DESCABIMENTO, À LUZ DO CASO
CONCRETO. ART. 1.827, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CC, QUE, EM
HOMENAGEM A SEGURANÇA JURÍDICA, PRESERVA AS
ALIENAÇÕES ONEROSAS FEITAS PELO HERDEIRO APARENTE A
TERCEIRO DE BOA-FÉ. ATUAL PROPRIETÁRIO REGISTRAL A
QUEM, NO CASO, NÃO É IMPUTADA, TAMPOUCO COMPROVADA,
MÁ-FÉ, SEQUER FAZENDO PARTE DO PROCESSO. SENTENÇA
MANTIDA.
RECURSO NÃO PROVIDO.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 0002603-89.2014.8.16.0113,


oriundos da Vara de Família e Sucessões de Marialva, distribuídos a esta Décima Segunda Câmara Cível
do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ, em que figura como Apelante ANA M. M.
T. e OUTROS e, como Apelado, LÚCIA T. S.

RELATÓRIO

Trata-se de Apelação Cível interposta contra sentença (mov. 62.1) proferida nos autos de Ação de
Petição de Herança c/c Nulidade de Inventário/Partilha Extrajudicial n° 0002603-89.2014.8.16.0113,
ajuizada por ANA M. M. T. e OUTROS em face de LÚCIA T. S., que julgou parcialmente procedente o
pedido inicial, a fim de “reconhecer que ANA M. M. T., ADERLENI M. M., AGLAER A. M. C., ARLENI
A. M. S., AROLDO A. M. e ARLI D. M. e ARISLENE M. são herdeiros por representação de MADALENA
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T. A. e que, via de consequência, possuem cada um deles direito a 7,14% do imóvel descrito na matrícula
de seq. 1.37. Por consequência, declaro nula a partilha realizada por meio da escritura pública de

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inventário e partilha registrada no livro 202-E, folhas 140 do 1º Tabelionato de Notas e Protestos de
Marialva, Estado do Paraná. Considerando, porém, que o imóvel já foi alienado e diante do exposto na

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fundamentação, deixo de anular os negócios jurídicos posteriores e condeno a ré LÚCIA T. S. a indenizar
os autores com o valor correspondente a 50% do montante obtido com a venda do imóvel, sendo
aproximadamente 7,14% para cada autor, a ser apurado em liquidação de sentença, salientando que o
valor da venda deverá corrigido monetariamente a contar da data da alienação, acrescido de juros de
mora de 1% a contar da citação”.

Ante a sucumbência, condenou a ré ao pagamento das custas e despesas processuais, bem como
dos honorários advocatícios devidos ao procurador da parte adversa, estes fixados em 10% sobre o valor
atualizado da condenação.

Inconformados, ANA M. M. T. e OUTROS, autores, apelam (mov. 113.1), sustentando, em


síntese, a) que, ante a preterição dos herdeiros apelantes, com ofensa a norma de ordem pública, foi
declarada pelo juízo a quo a nulidade da escritura pública de inventário/partilha, com efeitos ex tunc, o
que, consequentemente, macula os negócios praticados com base neste; b) que a ré realizou o
inventário/partilha extrajudicial em domicílio diverso do da de cujus e do local do imóvel a partilhar, com
o objetivo de usurpar bens dos herdeiros apelantes, sendo que, na mesma ocasião da lavratura da escritura
pública, vendeu o imóvel deixado pela falecida ao seu próprio advogado, deflagrando nítido conluio entre
eles; c) que, por essas razões, merecem anulação todas as alienações do imóvel que compunha o
monte-mor, retornando o bem à propriedade registral dos autores.

Sem contrarrazões, já que, regularmente citada, a ré deixou de constituir advogado.

É o relatório.

FUNDAMENTAÇÃO

A Apelação é tempestiva, pois que os autores foram intimados da sentença em 16/11/2020 (mov.
106) e interpuseram o recurso em 25/11/2020 (mov. 113).

Quanto ao preparo, estão dispensados, posto que beneficiários da justiça gratuita (mov. 7.1).

Dessa forma, e presentes os demais requisitos e pressupostos de admissibilidade, o recurso deve


ser recebidoemambos os efeitos e conhecido, passando-se à análise de seu mérito.

A Sra. Madalena, autora da herança ora debatida, faleceu em 06/10/2005. Na data do óbito, não
possuía cônjuge/companheiro ou ascendente. Teve, no entanto, duas filhas: a Sra. Lúcia, ré, e a Sra. Alice,
pré-morta, mãe dos 7 (sete) autores que, portanto, sucedem por direito de representação (art. 1.852 do
CC). Ocorre que a Sra. Lúcia realizou o inventário/partilha extrajudicial dos bens da de cujus
declarando-se única herdeira, tomando para si, integralmente, o bem imóvel deixado pela falecida. No
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mesmo ato, cedeu seus direitos hereditários ao Sr. Nerilson, que a assistiu enquanto advogado. Os
requerentes, ao descobrirem que a casa de sua vó havia sido vendida – quando foram à cidade de Munhoz

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de Mello, constataram que lá estava sendo erguida uma construção – e que eles nada haviam recebido,
ingressaram com a presente ação pretendendo o reconhecimento de seu direito sucessório, com a

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consequente anulação da partilha/inventário extrajudicial e dos negócios de compra e venda pactuados
tendo como objeto o bem deixado pela Sra. Madalena.

A sentença foi de parcial procedência (mov. 62.1) porquanto, apesar de reconhecer o direito
sucessório dos autores e anular a partilha/inventário extrajudicial, o d. magistrado não invalidou as
alienações do imóvel que compunha o monte-mor. Contra essa decisão se insurgem os autores ante as
razões recursais já relatadas.

Pois bem.

A sentença merece ser confirmada.

O art. 1.827 do Código Civil, inserto no capítulo destinado à regulamentação da “petição de


herança”, estabelece que, anulado o inventário/partilha, “o herdeiro [preterido] pode demandar os bens
da herança, mesmo em poder de terceiros, sem prejuízo da responsabilidade do possuidor originário pelo
valor dos bens alienados”.

No entanto, em seu parágrafo único, faz a importante ressalva no sentido de que “são eficazes as
alienações feitas, a título oneroso, pelo herdeiro aparente a terceiro de boa-fé”.

Optou o legislador, portanto, uma vez anulado o inventário/partilha, por preservar parte de seus
efeitos, no caso, por conservar a alienação onerosa realizada por quem tinha a aparência de herdeiro, o
que fez em homenagem à segurança jurídica do terceiro adquirente. Este negócio apenas será ineficaz
caso o receptor do bem esteja de má-fé, sabendo estar adquirindo de quem não era legitimado para vender
– não haveria sentido, nessa circunstância, em falar em segurança jurídica.

No presente processo, extrai-se da matrícula do imóvel (mov.1.37 e 1.38) que após a


partilha/inventário extrajudicial este foi transferido não apenas uma vez - da Sra. Lúcia ao Sr. Nerilson,
mas três. Primeiro, a título oneroso, para o Sr. Nerilson. Segundo, também mediante pagamento, à Sra.
Cleunice. E terceiro, como garantia fiduciária, à Caixa Econômica Federal.

Os requerentes, no entanto, cingem-se a alegar que o Sr. Nerilson, enquanto advogado da Sra.
Lúcia, havendo a assistido na escritura pública de inventário/partilha extrajudicial e cessão de direitos
hereditários, teria a nítida intenção de fraudá-los.

A afirmação é verdadeira, mas não suficiente.

Se o ordenamento jurídico protege o terceiro adquirente que transaciona diretamente com o


herdeiro aparente, exigindo a prova de sua má-fé para a desconstituição do negócio, com muito mais força
resguarda o restante da cadeia de alienação, já possivelmente distante do vício em sua origem. Em outras
palavras, pouco importa se o Sr. Nerilson estava de má-fé ao adquirir o imóvel, sendo imperativo, para
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seu retorno ao acervo patrimonial dos autores, que estes tivessem comprovado que o atual proprietário do
bem (Caixa Econômica Federal) sabia tê-lo adquirido mediante a sucessão fraudulenta – lembrando que a

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boa-fé se presume, a má-fé se prova –. E fato é que este não foi inserido no polo passivo – deveria ter
sido, porquanto a sentença, se procedente, atingiria sua esfera jurídica –, nem se afirmou – tampouco se

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comprovou – ter a instituição financeira conhecimento da mácula do negócio em sua fonte, de sorte que,
em nome da segurança jurídica, é mesmo de se conservar sua condição de proprietário registral. A
questão se resolve, assim, em indenização em face da Sra. Lúcia, nos termos da r. sentença.

Por essas razões, voto pelo não provimento do apelo dos autores.

Considera-se prequestionada toda a matéria suscitada pelas partes em grau recursal.

DISPOSITIVO

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 12ª Câmara Cível do TRIBUNAL DE JUSTIÇA


DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E
NÃO-PROVIDO o recurso de A.A.M.D.C., por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O
RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de A.M.M., por unanimidade de votos, em julgar
CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de A.M.M.T., por unanimidade
de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de A.M., por
unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso
de A.A.M.D.S., por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO DE PARTE E
NÃO-PROVIDO o recurso de A.D.M., por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O RECURSO
DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de A.A.M..

O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargadora Rosana Amara Girardi Fachin, sem voto, e
dele participaram Desembargadora Vilma Régia Ramos De Rezende (relator), Desembargadora Ivanise
Maria Tratz Martins e Desembargador Luis Cesar De Paula Espindola.

Curitiba, 09 de abril de 2021.

Vilma Régia Ramos de Rezende

DESEMBARGADORA RELATORA

MB

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