Você está na página 1de 11

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70084880988 (Nº CNJ: 0001651-28.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DIVISÃO PARCIAL.


IMÓVEL RURAL. FRAÇÃO MAIOR QUE O
MÓDULO RURAL DA REGIÃO. POSSIBILIDADE.
ÁREA REMANESCENTE. INDIVISÍVEL.
PRELIMINARES DE INTEMPESTIVIDADE E
SENTENÇA EXTRA PETITA REJEITADAS.
Nos termos do art. 1.320, primera parte, do Código Civil, o
condômino pode exigir, a todo o tempo, a divisão de área
comum.
No caso concreto, a divisão é cabível uma vez que não viola
as dimensões exigidas no Módulo Rural da Região. A área
remanescente de propriedade dos demandados permanece
indivisível, evitando-se o retalhamento, entretanto, a
situação de indivisão não impede a divisão da área do autor.
APELAÇÃO PROVIDA.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70084880988 (Nº CNJ: 0001651- COMARCA DE CASCA


28.2021.8.21.7000)

OTACILIO MARQUES APELANTE

PLINIO CERBARO APELADO

GEMA FOCHI CERBARO APELADO

DEONILDA DECOL FOCHI APELADO

ILIDIO ANTONIO FOCHI APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível do


Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento à apelação.

Custas na forma da lei.


Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores
DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO E DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA.
Porto Alegre, 14 de setembro de 2022.
1
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70084880988 (Nº CNJ: 0001651-28.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN,


Relator.

RELATÓRIO
DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

Trata-se de apelação cível movimentada por OTACÍLIO MARQUES,


inconformado com a sentença única de fls. 274-283, que julgou conjuntamente a ação de
usucapião (processo nº090/1.11.0001899-2) e ação de divisão (processo nº
090/1.11.0000741-9).

A sentença apelada reúne o seguinte dispositivo:

III – DISPOSITIVO:

EM RAZÃO DO EXPOSTO:

1 – JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido


formulado por LUIZ CERBARO para DECLARAR o seu
domínio sobre a parte correspondente a 2.080,00m² do
imóvel de matrícula nº 2.392 do RI de Casca/RS, que deverá
ser subtraída da área remanescente do proprietário registral
e de sua esposa, Plínio Cerbaro e Gema Fochi Cerbaro.

Considerando que o autor Luiz restou vencido em relação


ao réu Otacílio Marques, deverá arcar com os honorários
advocatícios do patrono do referido réu que fixo em 10%
sobre o valor atualizado da causa, com fulcro no artigo 85,
§ 2º do CPC.
Diante do Princípio da Causalidade e ante a falta de
contestação, deixo de condenar os demais réus (Plínio
Cerbaro, Gema Fochi Cerbaro, Pedro Castelani, Santina
Corrêa Castelani, Jandir Decol, Evanir Rosália Fochi
Decol, Ilídio Antonio Fochi, Leonilda Decol Fochi, Euclides
Nardi e Danir Cerbaro Nardi) aos ônus sucumbenciais, pois
não deram causa à propositura da demanda (Apelação Cível
Nº 70044997088, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Luiz Renato Alves da Silva, Julgado
em 14/03/2013).

2
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70084880988 (Nº CNJ: 0001651-28.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

O demandante fica responsável pelas custas processuais.

Suspensa a exigibilidade da sucumbência, uma vez que a


parte requerente litiga sob o pálio da gratuidade da justiça.

Com o trânsito em julgado, expeça-se mandado ao Registro


de Imóveis, servindo a presente sentença de título para a
abertura de matrícula do imóvel, satisfeitas as obrigações
fiscais. Ressalto, que sendo objeto de usucapião é a
área de 2.080m2, situada dentro do todo maior de
99.711,20m² do imóvel de matrícula n.2.392 do RI de
Casca/RS. Assim, deverá ser aberta nova matrícula para
registro do usucapião, pois o instituto é forma originária de
aquisição da propriedade e, por isso não será exigível a
indicação do número do registro anterior (art. 176, § 1º, II,
5), não se aplicando o princípio da continuidade1.

2 – JULGO IMPROCEDENTE a ação movida por


OTACILIO MARQUES em face de PLINIO CERBARO,
GEMA FOCHI CERBARO, DEONILDA DECOL FOCHI
e ILIDIO ANTONIO FOCHI, com fulcro no art. 487, inc. I,
do Código de Processo Civil.

Custas processuais pelo autor. A exigibilidade resta


suspensa, eis que litiga sob o pálio da AJG.

Sem honorários em face da ausência de pretensão resistida.

Nas suas razões recursais (fls.193/194, processo nº 090/1.11.0000741-9),


sustenta que, a sentença que julgou improcedente a ação divisória com fundamento de que
verifica-se a existência de áreas inferiores a dois hectares , cujas medidas somem a 600m²,
merece reforma. Alega a ocorrência de sentença extra petita, porquanto deu a decisão razões
diversas das apresentadas pelos apelantes. Aduz que o objeto da presente ação é a divisão e o
desmembramento da área de 83.719,29m² localizada dentro do todo maior de 99.711,20m²,
registrada no R-3-2.392 do CRI de Casca/RS e/ou na dimensão reduzida pela passagem da
RST 129 (79.392,00m²). Asseveram que há concordância tácita com a proposta de divisão
apresentada pelo perito às fl. 174. Sustentam que dita proposta deve ser homologada,
porquanto mais justa e equânime. Afirma que tal não traz prejuízo a parte contrária, bem

1
EL DEBS, Martha. Legislação notarial e de registros públicos comentadas, 3ª ed. Salvador:
Juspodivm, 2018, p. 860.
3
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70084880988 (Nº CNJ: 0001651-28.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

como não afeta benfeitorias. Aponta que decisão contrária conduzirá a alienação do imóvel
comum. Aduz que se desincumbiu do ônus da prova. Requer, no final seja conhecida e
provida a apelação, para reforma da sentença, possibilitando a divisão e desmembramento da
área.

Por sua vez, os apelados apresentaram contrarrazões, fls. 197-198, alegando


em abreviada síntese, que o todo maior não comporta divisão, posto que o lote que a parte
quer dividir não atinge a medida mínima para o parcelamento do solo (dois hectares).
Assevera que incide, na espécie, a LEI Nº 4.504/64. Requer seja desprovido o recurso.

O Ministério opina pelo não conhecimento do apelo (por intempestividade),


e, no mérito, pelo provimento, em parecer assim ementado:
APELAÇÃO. INTEMPESTIVIDADE. AÇÃO DE DIVISÃO
DE TERRAS PARTICULARES. PEDIDO DE DIVISÃO
PARCIAL. NÃO REMANESCE ÁREA INDIVISÍVEL.
MÓDULO RURAL. POSSIBILIDADE. 1) O apelante teve
ciência inequívoca da sentença conjunta nos autos apensos
e, após o prazo legal, interpôs o apelo, que se revela
intempestivo. 2) No mérito, o pleito inicial é de extinção do
condomínio e divisão da área exclusivamente quanto ao
autor. Assim, não se vislumbra que a divisão resultará em
uma das áreas com metragem inferior a 02 hectares, fração
mínima de parcelamento, conforme considerado na
sentença. Divisão parcial do condomínio que permanece
quanto aos demais condôminos. 3) Parecer pelo não
conhecimento e, no mérito, pelo provimento.

Veio concluso o feito para julgamento.


É o relatório.

VOTOS
DES. GLÊNIO JOSÉ WASSERSTEIN HEKMAN (RELATOR)

Eminentes Colegas:
Cuida-se de ação de divisão de terras particulares proposta OTACÍLIO
MARQUES contra PLÍNIO CERBARO E OUTROS, com a finalidade de obter a divisão da
4
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70084880988 (Nº CNJ: 0001651-28.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

fração de terras rurais de 83.719,29m², localizada dentro do todo maior de 99.711,20m²,


registrada no R-3-2.392 do CRI de Casca/RS e/ou na dimensão reduzida pela passagem da
RST 129 (79.392,00m²).

Sobreveio, no entanto, sentença que entendeu pela inviabilidade da


pretensão, fulcro no fato do imóvel não possuir metragem superior à fração mínima de
parcelamento da localidade, a saber, do Módulo Rural da região corresponde a dois (02)
hectares, enquanto a área do autor soma 600m², conforme laudos periciais acostados às fls.
120 e 174 dos autos.
Cinge-se a controvérsia re ursal a possibilidade de divisão, para tanto
aplicando-se das diretrizes do laudo pericial de fl. 174, ao fundamento de que este aponta a
forma mais justa e igualitária de divisão entre as partes, bem como não afeta qualquer
benfeitoria, além disso proporcionária ao apelante melhor acesso a sua propriedade.

I. Das preliminares:

(A) não conhecimento do apelo por intempestividade.

Suscita o Ministério Público preliminar de não conhecimento do recurso, por


intempestividade, uma vez que, cuidando-se de sentença única e de processos apensos, o
prazo recursal, no caso, começaria a correr da NE nº 221/2019, expedida em data de
19/11/19, na ação de usucapião, processo nº 090/1.11. 0001899-2, onde foi primeiramente
intimada a parte do resultado do julgamento. Assim, entendeo o MP QUE corre dessa data o
prazo de 15 dias para apelação.

Explico. Cuidando-se de processos em apenso com sentença única, o certo


seria que todos os prazos processuais, inclusive, os recursais, corressem da mesma data para
todos os processos – prazos comuns-, desde que corretamente intimados os procuradores e as
partes.

Criteirosamente analisando os processos, verifico que no processo em


apenso à ação de usucapião, isto é, a ação de divisão, processo nº 090/1.11.0000741-9, a

5
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70084880988 (Nº CNJ: 0001651-28.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

intimação do resultado do julgando (fl.190), ocorreu em momento posterior por NE


(28/2020), expedida em 17/02/2020. Fl. 190.

Restou cristalinamente expresso na ação de divisão:


“Intimação das partes da sentença proferida nos autos
090/1.11.0001899-2 que julgou improcedente a ação”.

Assim, em que pese a existência de sentença única para ambos os processos


(ação de usucapião e de divisão), a primeira intimação ocorreu apenas na ação de usucapião,
processo nº 090/1.11.00018999-2, com autor diverso e parte demandada mais ampla, não
fazendo qualquer menção a ação de divisão. Logo, nesse constexto, não pode a parte
apelante ser prejudicada por tal vício, sendo tempestivo o recurso interposto com prazo
contados da intimação na ação divisória.
Com efeito, afasto a preliminar.

(B) Sentença extra petita.

Alega a parte apelante preliminar de sentneça extra petita.


Afasto, de pronto, a alegação de sentença extra petita, pois, em que pese a
sentença ser desfavorável ao interesse do apelante, decidiu nos limites da matéria debatida e
da prova colacionada no feito, concluindo pela impossibilidade de divisão.

II. Mérito.

Adianto que, merece provimento o apelo.


Na verdade, o que efetivamente pretende o apelante OTACÍLIO MARQUES
é a divisão, separação da fração de terras rurais que adquiriu de PLÍNIO CERBARO,
correspondente a 83.758,50m², localizada dentro do todo maior de 99.711,20m², registrada
no R-3-2.392 do CRI de Casca/RS, sem contudo, tal altere a situação condominial dos
demandados quanto ao restante da área, a saber: a)2.080 m², do usucapiente LUIZ
CERBARO; b) 13.872,70 m², do condomínio mantido por ILÍDIO E ESPOSA, com fração
ideal de 600 m², e PLÍNIO E ESPOSA, com quota correspondente ao remanescente (600
6
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70084880988 (Nº CNJ: 0001651-28.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

m²).
Friso que, a todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa
comum. No caso vertido, assiste razão a parte apelante, pois o imóvel, nos termos do
requerido na inicial é divisível.
Assim sendo, da análise do laudo pericial elaborado pelo experte Rogério
Bolzan, bem como nos termos do postulado pelo autor na inicial, numa explicação
simplificada, o todo maior deverá se dividido em duas partes: (a) uma, com área rural
correspondente a 83.758,50m de propriedade do autor OTACÍLIO MARQUES; (b) a outra,
será mantida em condomínio indivísivel, evitando-se o retalhamento, cuja propriedade
pertence aos demais condôminos LUIZ CERBARO (2.080m²); ILIDIO CERBARO E SUA
ESPOSA (600M³) e PLÍNIO CERBARO E ESPOSA (com área equivalente a 600m²), os
quais, efetivamente, permanecerão com áreas indivisas.

Nessa circunstÂncia, é cabível a divisão parcial do todo maior, porquanto


não viola a metragem legal exigida no modulo rural da região (02 hectares), seguindo a
divisão o laudo complementar de fl. 174 do feito (art. 595 do CPC/15)
Observo que, intimadas as partes (NE 70/2016, fl. 175) para se manifestarem
sobre a sugestão de divisão do todo maior de fl. 174, os réus, ora apelados, silenciaram.
Aliás, desde a contestação não se opuseram a divisão, apenas, insurgiram-se com eventuais
despesas daí decorrente.
A respeito da possibilidade de divisão parcial do imóvel rural objeto da
presente ação, outro não foi o entendimento do Ministério Público, conforme se verifica do
excerto a seguir:

Atentando-se ao pedido formulado na exordial, verifica-se


que é relativo à “fração ideal de propriedade do autor,
expedindo-se o competente mandado para se registrado” e
refere que, no mais, “seja mantido o registro imobiliário do
imóvel dos réus na matrícula imobiliária hoje existente” (fl.
05).

Inexiste, portanto, pedido para que o imóvel em questão seja


dividido em relação ao todos os condôminos, o que, aí sim,
teria como resultado uma das áreas – a correspondente a
fração ideal de ILÍDIO E ESPOSA, de apenas 600 m² – em
metragem menor que a Fração Mínima de Parcelamento.
7
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70084880988 (Nº CNJ: 0001651-28.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

O pedido é de divisão parcial do condomínio, apenas para


que dele se retire o autor da ação, com separação concreta
da sua fração ideal, permanecendo o condomínio em
relação aos outros dois casais coproprietários, cuja soma
das frações ideais resulta em área única com metragem
superior à fração mínima de parcelamento. A possibilidade
de tal extinção parcial já foi ratificada por esse e.TJRS em
diversas oportunidades:

APELAÇÃO CÍVEL. DIVISÃO E DEMARCAÇÃO DE


TERRAS PARTICULARES. AÇÃO DE DIVISÃO E
DEMARCAÇÃO. ÁREA RURAL. HERANÇA.
CONDOMÍNIO PRO INDIVISO. PROVA PERICIAL.
DIVISÃO GEODÉSICA. PREJUÍZO NÃO
DEMONSTRADO. SENTENÇA MANTIDA. A ação de
divisão e demarcação objetiva compelir os condôminos a
promover a partilha da coisa indivisa, fixando os limites do
lote/quinhão que cabe a cada um dos comproprietários. In
casu, não restou comprovada a alegação de que a
divisão/demarcação sugerida pelo perito causará lesão
irreparável aos condôminos demandados, razão pela qual
deve ser mantida a sentença que, dividindo e demarcando a
área em lotes, declarou a extinção do condomínio apenas
em relação ao autor meeiro, único condômino proprietário
com área superior ao módulo rural mínimo previsto para
região. APELO DESPROVIDO. UNÂNIME.(Apelação
Cível, Nº 70072266836, Décima Sétima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liege Puricelli Pires,
Julgado em: 20-04-2017; grifou-se)

AÇÃO DE DIVISÃO DE CONDOMÍNIO. ÁREA


REMANESCENTE INDIVISÍVEL. POSSIBILIDADE. O
condômino pode exigir, a todo tempo, a divisão da coisa
comum. Art. 1.320, primeira parte, CCB. Caso em que a
divisão se mostra possível, à luz da legislação aplicável à
espécie. A circunstância de a área remanescente resultar
indivisível não impede a divisão. Interpretação do art.
1.322, CCB. Precedente. Negaram provimento. (Apelação
Cível, Nº 70028193845, Décima Nona Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Rafael dos
Santos Júnior, Julgado em: 05-05-2009; grifou-se)2
2
Do inteiro teor, cumpre destacar:
“Tal objeção não pode prosperar, pois o pedido inicial é de divisão da área não em três, mas em
duas partes, o que se mostra possível, à luz da legislação aplicável, dado que a fração
pertencente aos autores, por suas dimensões, é divisível do todo maior (consoante se extrai do
8
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70084880988 (Nº CNJ: 0001651-28.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

In casu, considerando o pedido formulado nesta ação


divisória, bem já descontando da fração de PLÍNIO E
ESPOSA a parte excluída em razão da sentença da
usucapião, a divisão pleiteada resultaria as seguintes áreas –
todas superiores à fração mínima de 02 hectares exigida para
o município de São Domingos do Sul:

I – 2.080 m², do usucapiente LUIZ CERBARO;

II –83.758,50 m², do apelante OTACÍLIO;

III – 13.872,70 m², do condomínio mantido em relação a


ILÍDIO E ESPOSA, com fração ideal de 600 m², e PLÍNIO
E ESPOSA, com quota correspondente ao remanescente.
Portanto, o imóvel em questão é passível de divisão parcial,
conforme pleiteado na inicial.

Ademais, deve ser considerado que, conforme bem


observado pelo Juízo a quo, inexiste controvérsia a respeito
da linha divisória sugerida nos autos:

“Ainda assim, o Sr. Perito apresentou nova sugestão de


divisão (fl. 174 daqueles autos), da qual não houve objeção
por parte de Plínio quando oportunizada manifestação, o

ofício acostado à fl. 150, expedido pela Secretaria de Planejamento Municipal de Porto Alegre).
Acerca da possibilidade de divisão parcial de condomínio, colaciono o precedente:
AÇÃO DE DIVISÃO. DIVISÃO PARCIAL. I – Ao condômino dissidente não é dado exigir a
extinção do condomínio, se os demais compartes desejarem mantê-lo; mas ele pode exigir a
divisão parcial do imóvel, a fim de se excluir. II – dispensabilidade da nomeação de agrimensor e de
arbitradores. Presentes e cumpridas todas as formalidades exigidas a divisão, na primeira fase, é
possível dispensar os trabalhos técnicos previstos para a segunda, mormente quando existe a
concordância implícita de todos os condôminos. III – remuneração do curador especial. Compete ao
autor adiantar a remuneração devida pelos serviços que presta o curador dado aos réus revéis, na
forma e arbitramento previstos pela lei n-6905/75 – regimento de custas do estado. Sentença
confirmada, em parte. (Apelação cível nº 594010654, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, relator: Clarindo Favretto, julgado em 12/05/1994)
A circunstância de a área remanescente resultar indivisível não impede a divisão pretendida pelos
autores. Tanto é verdade que o CCB/2002 prevê a hipótese no art. 1.322, o qual dispõe que “quando a
coisa for indivisível, e os consortes não quiserem adjudicá-la a um só, indenizando os outros, será
vendida e repartido o apurado, preferindo-se, na venda, em condições iguais de oferta, o condômino
ao estranho, e entre os condôminos aquele que tiver na coisa benfeitorias mais valiosas, e, não as
havendo, o de quinhão maior”.
As demais condôminas, efetivamente, restarão com áreas não divisíveis, consoante se extrai das
informações prestadas pela Secretaria de Planejamento Municipal (fl. 150). Todavia, como se disse,
esta circunstância não obsta a divisão, haja vista a possibilidade de as condôminas a) manterem
a coisa indivisa, nos termos do artigo 1320, § 1º, CCB, ou b) promoverem também sua divisão,
caso em que, não comportando o imóvel remanescente divisão cômoda, por aplicação subsidiária das
regras relativas à partilha (art. 1.321, CCB), poderá ser levado à venda judicial, com a partilha do
produto (art. 2.019,CCB).” (grifou-se)
9
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70084880988 (Nº CNJ: 0001651-28.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

que atrai novamente incontrovérsia acerca deste ponto.” (fl.


281 do apenso; grifou-se)

Assim, é caso de reforma da sentença, para que seja julgado


procedente o pedido, consoante a linha de demarcação
definida no mapa de fl. 174, contra a qual não houve
objeção, a ser considerada na fase executiva do
procedimento especial da ação de divisão de terras
particulares (NCPC, arts. 569/573 e 588/598).

Nessa conformidade, é o caso de provimento do apelo para reforma da


sentença julgando procedente o pedido inicial de divisão formulado pelo autor OTACÍLIO
MARQUES, seguindo a linha demarcatória dó mapa de fl. 174, na fase executiva da divisão
de terras particulares.

Sem honorários advocatícios sucumbenciais, ante a ausência de pretensão


resistida dos réus, bem como qualquer insurgência recursal no sentido de reforma da
sentença neste particular.

É o voto.

DES.ª WALDA MARIA MELO PIERRO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. DILSO DOMINGOS PEREIRA - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI - Presidente - Apelação Cível nº 70084880988,


Comarca de Casca: "DERAM PROVIMENTO À APELAÇÃO. UNÂNIME."

10
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

GJWH
Nº 70084880988 (Nº CNJ: 0001651-28.2021.8.21.7000)
2021/CÍVEL

Julgador(a) de 1º Grau: MARGOT CRISTINA AGOSTINI

11

Você também pode gostar