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ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GAB. DESEMB - WALACE PANDOLPHO KIFFER
14 de fevereiro de 2022

APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA Nº 0038642-50.2014.8.08.0035 - VILA VELHA - 2ª


VARA DA FAZENDA MUNICIPAL
APELANTE :O MUNICIPIO DE VILA VELHA
APELADO : GIL CLEMENTINO BARCELLOS DA SILVEIRA
RELATOR DES. WALACE PANDOLPHO KIFFER

R E L A T Ó R I O

Cuidam os autos de Apelação Cível interposta por MUNICÍPIO DE VILA


VELHA, em face de GIL CLEMENTINO BARCELLOS DA SILVEIRA,
manifestando irresignação em face da sentença de fls. 167/170, prolatada pelo
MM. Juiz de Direito da 2ª Vara da Fazenda Pública de Vila Velha/ES, que, nos
autos da Ação Declaratória de Inexistência de Relação Jurídica c/c Anulatória
de Tributo e Obrigação de Não Fazer, julgou parcialmente procedente o
pedido inicial, a fim de condenar o recorrente a anular os débito tributários
referentes ao IPTU inerente ao imóvel sob o cadastro municipal nº 1-92202-0.

Em suas razões, a apelante pugna pela reforma da sentença, aduzindo, em síntese, I) área de
preservação permanente e unidade de preservação são institutos distintos, não sendo aplicável a
mesma legislação para ambos; II) que a característica de “imóvel rural” deriva da comprovação
de que o imóvel possui um destinação rural, o que não ocorre nos autos; III) que o fato do imóvel
estar registrado como área de preservação permanente não afasta automaticamente a incidência
do IPTU.

Contrarrazões (fls. 184/189), pelo desprovimento do recurso.

É o Relatório. Em pauta para julgamento.

VOTOS

O SR. DESEMBARGADOR WALACE PANDOLPHO KIFFER (RELATOR):-

Cuidam os autos de Apelação Cível interposta por MUNICÍPIO DE VILA VELHA, em


face de GIL CLEMENTINO BARCELLOS DA SILVEIRA, manifestando irresignação
em face da sentença de fls. 167/170, prolatada pelo MM. Juiz de Direito da 2ª Vara da
Fazenda Pública de Vila Velha/ES, que, nos autos da Ação Declaratória de
Inexistência de Relação Jurídica c/c Anulatória de Tributo e Obrigação de Não Fazer,
julgou parcialmente procedente o pedido inicial, a fim de condenar o recorrente a
anular os débito tributários referentes ao IPTU inerente ao imóvel sob o cadastro
municipal nº 1-92202-0.

Em suas razões, a apelante pugna pela reforma da sentença, aduzindo, em síntese, I)


área de preservação permanente e unidade de preservação são institutos distintos,
não sendo aplicável a mesma legislação para ambos; II) que a característica de
“imóvel rural” deriva da comprovação de que o imóvel possui um destinação rural, o
que não ocorre nos autos; III) que o fato do imóvel estar registrado como área de
preservação permanente não afasta automaticamente a incidência do IPTU.

Contrarrazões (fls. 184/189), pelo desprovimento do recurso.

Fixados os termos da lide e ultrapassados os pressupostos de admissibilidade


recursal, passo aos fundamentos do presente voto.

Para deslinde do recurso em análise deve ser firmada a premissa de que o Imposto
incidente sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), de competência dos
Municípios (art. 156, inciso I, da CRFB), "tem como fato gerador a propriedade, o
domínio útil ou a posse de bem imóvel" na zona urbana, a teor do que dispõe o art. 32,
caput, do Código Tributário Nacional.

Porém, o STJ já definiu que a restrição à utilização da propriedade referente a área de


preservação permanente em parte de imóvel urbano não afasta a incidência do IPTU,
de forma que eventual isenção ou redução de base de cálculo do referido imposto,
assim como de qualquer outro tributo incidente sobre o imóvel pressupõe a existência
de lei específica, conforme dispõe o artigo 150, § 6º, da CF e o artigo 176, do CTN.
Precedentes. (TJES, Classe: Apelação Cível, 035180155794, Relator : Namyr Carlos
de Souza Filho, Órgão julgador: segunda câmara cível, Data de Julgamento:
15/06/2021, Data da Publicação no Diário: 22/06/2021)

Assim, a Lei Municipal pode conceder isenções a determinadas áreas de seu


interesse, sobre isso nós contamos com Lei Municipal nº 3.375/1997 (Código
Tributário de Vila Velha), que em seu artigo 155, inciso II, determina:

“Art. 155. Ficam isentos do Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial


Urbana:
[...]
II - os imóveis considerados de valor histórico ou cultural, e de preservação
permanente, obedecidos os requisitos e condições fixados em regulamento; [...]”

Insta salientar que, como relatório emitido pela Prefeitura (fl.18) no ano de 2008, o
Município afirma que a área está classificada como Zona Especial de Interesse
Ambiental, que não existe viabilidade ambiental para a construção na área e que o
proprietário poderá requerer isenção de IPTU, o que foi realizado, porém no ano de
2010, voltaram a ser cobradas as taxas referentes ao IPTU, indevidamente.
A análise expressa pela municipalidade, se encontra em consonância com as
imagens do local, inclusive, aéreas constantes dos autos, que demonstra inexistir
qualquer tipo de construção ou rua na localidade do terreno pertencente ao Apelado
(fl.31/35).

O Egrégio Superior Tribunal de Justiça já se manifestou acerca da hipóteses em que


o titular de domínio (ou de fração dele) de área non aedificandi, apesar de não fazer
jus à indenização pela intervenção estatal, merece ser exonerado do IPTU
exatamente por conta desse ônus social, uma vez cabal e plenamente inviabilizado o
direito de construir no imóvel ou de usá-lo econômica e diretamente na sua
integralidade.

Concluo que apesar da irresignação do Recorrido, no sentido de que o caso trata-se


de não incidência tributária, a partir da transcrição do art. 155, inciso II, da Lei
Municipal nº 3.375/1997, resta evidente que o instituto a ser aplicado à situação em
testilha é o da isenção tributária, vejamos o entendimento manifesto por este Egrégio
Tribunal:

EMENTA: DIREITO TRIBUTÁRIO E AMBIENTAL. APELAÇÃO VOLUNTÁRIA.


TUTELA PROVISÓRIA EM CONTRARRAZÕES. DESCABIMENTO. IPTU. IMÓVEL
LOCALIZADO EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE. LEI MUNICIPAL nº
3.375/1997 DE VILA VELHA. ISENÇÃO. EXIGÊNCIA DE REQUERIMENTO
ADMINISTRATIVO PARA VERIFICAÇÃO DO PREENCHIMENTO DAS
CONDIÇÕES EXIGIDAS. VALIDADE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. (...)
III. No caso dos autos, verifica-se da cópia da Certidão emitida pelo Cartório de
Registro de Imóveis do 1º Ofício de Vila Velha, carreado à fl. 121, que o loteamento
Parque Monte Moreno foi aprovado no ano de 1969, por meio do Decreto nº 187/69.
Nada obstante, consta da Análise Técnica realizada pela Coordenação de
Planejamento Urbano do Município de Vila Velha, que a Rua prevista no projeto de
loteamento não foi implantada, estando o terreno em questão localizado em Zona de
Especial Interesse Ambiental (ZEIA), concluindo a análise pela isenção do IPTU sobre
a área em questão, nos termos do artigo 155, inciso II, da Lei Municipal nº 3.375/1997
(Código Tributário de Vila Velha). IV. Apesar da irresignação do Recorrido, no sentido
de que o caso trata-se de não incidência tributária, consoante o alhures transcrito
artigo 155, inciso II, da Lei Municipal nº 3.375/1997, resta evidente que o instituto a ser
aplicado à situação em testilha é o da isenção tributária, que, com base no artigo 80
do Código Tributário de Vila Velha, exige requerimento administrativo para fins de seu
reconhecimento, diligência não realizada pelo contribuinte em relação ao débito fiscal
constante da Certidão de Dívida Ativa nº 298/2011 (fls. 05/14 dos autos da execução
fiscal n 0019331-78.2011.8.08.0035, em anexo). (...) VI. Recurso conhecido e provido.
(TJES, Classe: Apelação Cível, 035180155794, Relator : Namyr Carlos de Souza
Filho, Órgão julgador: segunda câmara cível, Data de Julgamento: 15/06/2021, Data
da Publicação no Diário: 22/06/2021)

EMENTA: REMESSA NECESSÁRIA. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA


DE RELAÇÃO JURÍDICO-TRIBUTÁRIA. ÁREA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL.
UNIDADE DE CONSERVAÇÃO. NÃO INCIDÊNCIA DE IPTU, COSIP E TAXA DE
COLETA DE LIXO. SENTENÇA MANTIDA. 1) Embora o STJ admita a cobrança de
IPTU sobre área de preservação permanente, desde de que não haja legislação
estadual isentiva (REsp 1482184/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
SEGUNDA TURMA, julgado em 17/03/2015, DJe 24/03/2015), no Município de Vila
Velha a Lei n° 3.375/97 prevê: fica suspenso o pagamento do imposto relativo a
imóvel declarado de utilidade pública para fins de desapropriação, por ato do
Município, enquanto este não se imitir na respectiva posse (art. 174). 2) Trata-se de
área destinada à preservação do ecossistema local, está inserida em unidade de
conservação, cuja Lei Federal n° 9.985/200 caracteriza como área rural. 3) Para a
cobrança da contribuição de iluminação (COSIP) e da taxa de coleta de lixo deve
restar demonstrado que o imóvel é favorecido por iluminação pública, por coleta de
lixo e que a parte é contribuinte de energia elétrica. 4) Sentença mantida. (TJES,
Classe: Remessa Necessária Cível, 035170205468, Relator : JOSÉ PAULO
CALMON NOGUEIRA DA GAMA, Órgão julgador: SEGUNDA CÂMARA CÍVEL,
Data de Julgamento: 28/01/2020, Data da Publicação no Diário: 06/02/2020)

Ante o exposto, CONHEÇO do recurso e a ele NEGO PROVIMENTO.

Por força do art. 85, §1º, do Novo Código de Processo Civil, são devidos honorários
advocatícios nos recursos interpostos, razão pela qual, atentando-se para o § 11, do
art. 85, condeno o apelante ao pagamento de honorários recursais que majoro em 2%
(dois por cento).

É como voto.
*

O SR. DESEMBARGADOR GETULIO MARCOS PEREIRA NEVES :-

Voto no mesmo sentido

O SR. DESEMBARGADOR ARTHUR JOSÉ NEIVA DE ALMEIDA :-

Voto no mesmo sentido

DECISÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, APELAÇÃO / REMESSA NECESSÁRIA Nº


0038642-50.2014.8.08.0035 , em que são as partes as acima indicadas, ACORDA o
Egrégio Tribunal de Justiça do Espírito Santo (Quarta Câmara Cível), na
conformidade da ata e notas taquigráficas da sessão, que integram este julgado, em,
À unanimidade: Conhecido o recurso de O MUNICIPIO DE VILA VELHA e
não-provido.

* *

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