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AO EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2 VARA CÍVEL DA COMARCA DE NOVO

HAMBURGO/RS

Nº do Processo: 5012680-44.2022.8.21.0019

CONDOMINIO RESIDENCIAL PAUL CEZANNE, já qualificada nos autos da presente AÇÃO


INDENIZATÓRIA C/C DANOS MORAIS que lhe move RODRIGO MERTINS DA SILVA, vem a
presença de Vossa Excelência, por seu procurador signatário, apresentar CONTESTAÇÃO,
pelos motivos de fato e direito que passa a apresentar.

I. PRELIMINARMENTE
a. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA INDEVIDA DO AUTOR – AUSÊNCIA DE DECLARAÇÃO
DE HIPOSSUFICIÊNCIA E INCOMPATIBILIDADE COM O ENUNCIADO 49 DO CETJRS

O autor postulou a concessão do benefício de gratuidade de justiça1, entretanto não


trouxe aos autos nenhum comprovante de renda e nem sequer declaração de hipossuficiência
financeira, prevista no §3º, do art. 99 do CPC.

Em que pese o §3º, do art. 99 do CPC refira “presumir-se” verdadeira a alegação de


insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural, cabe ao Magistrado, visando garantir
o funcionamento e financiamento do Poder Judiciário, exigir a efetiva comprovação para
concessão do benefício, nos termos do disposto na parte final do §2º do art. 99 do CPC5, c/c o
art. 5º, LXXIV, da Constituição Federal.

Nesse sentido, o Centro de Estudos do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, no dia
08 de agosto de 2017, aprovou enunciado normativo definidor de critérios objetivos para
concessão de gratuidade judiciária para a pessoa natural, que passo a adotar, nos seguintes
termos:
Enunciado nº 49: O benefício da gratuidade judiciária pode ser concedido, sem maiores perquirições, aos
que tiverem renda mensal bruta comprovada de até (5) cinco salários mínimos.

No caso dos autos, o autor discorre ser locatário de loja com valor de locação original de
R$ 2.500,00 (dois mil e quinhentos reais)2, não sendo valor compatível com o Enunciado n. 49,
ou seja, não compatível com pessoa natural que comprova auferir mensalmente renda bruta
inferior a CINCO SALÁRIOS MÍNIMOS NACIONAIS. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande
do Sul firmou entendimento:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. DECISÃO MONOCRÁTICA. EMBARGOS À EXECUÇÃO. BENEFÍCIO DA
GRATUIDADE DA JUSTIÇA. COMPROVAÇÃO DA NECESSIDADE. DEFERIMENTO. Defere-se o benefício da
gratuidade da justiça sem outras perquirições, se o requerente, pessoa natural, comprovar renda mensal
bruta abaixo de Cinco Salários Mínimos Nacionais, conforme entendimento firmado pelo Centro de Estudos
do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que adoto (enunciado nº 49). No caso dos autos, a parte
recorrente acostou aos autos comprovante de que é isento de declarar imposto de renda e que se trata de
pequeno produtor rural. Ainda, há demonstração de que é proprietário de uma empresa de bijuterias,
suvenires e artesanato, no entanto, nada nos autos indica a omissão de patrimônio. AGRAVO DE
INSTRUMENTO PROVIDO.(Agravo de Instrumento, Nº 52218003920228217000, Sexta Câmara Cível, Tribunal
de Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Julgado em: 04-11-2022)

Ante o exposto, requer a intimação do autor para que traga aos autos seus comprovantes
de rendimentos da pessoa física e da pessoa jurídica que firmou o contrato de locação trazido

1 Evento 1, INIC1, Página 20


2 Evento 1, CONTR5, Página 1
aos autos, sob pena de revogação do benefício de gratuidade de justiça e a consequente extinção
do feito por ausência de pagamento das custas judiciais.

II. DOS FATOS

O autor ingressou com a presente ação discorrendo ser locatário de imóvel pertencente
ao Condomínio Paul Cezanne, tendo ocorrido queda de pastilhas do Condomínio sobre seu
veículo, que estaria estacionado sobre a calçada, informando que tais danos poderiam ser
verificados através de fotos e vídeos, todavia deixando de trazer aos autos tais comprovações.

Discorre que o revestimento da fachada caiu por estar em más condições, sendo visível
através das fotos e vídeos que traria aos autos, que novamente não trouxe, discorrendo ter
ocorrido a negligência dos réus. Em seus pedidos, requereu o conserto da fachada, bem como a
condenação dos executados em danos materiais e morais.

Recebida a ação, este Excelentíssimo Juízo deferiu a tutela de urgência para que o
condomínio solucione o problema de desprendimento de pastilhas, o qual foi prontamente
atendido, sendo retiradas a totalidade das pastilhas da fachada da loja do autor.

Entretanto, conforme passaremos a expor, os pedidos de danos materiais e morais


postulados pelo demandante não merecem prosperar, uma vez que não restaram comprovados
os danos ao veículo e tão pouco a imagem do autor, se tratando de mero dissabor.

III. PRELIMINARMENTE
a. DA INÉPCIA DA INICIAL - AUSÊNCIA DE INFORMAÇÕES E ELEMENTOS
NECESSÁRIOS

O autor ingressou com a presente demanda sem trazer aos autos informações sobre o
ocorrido com o seu veículo, não informando a data em que ocorreu a queda das pastilhas e tão
pouco qualquer comprovação do dano que o veículo teria sofrido, limitando-se a juntar dois
orçamentos com valores discrepantes (um no montante de R$ 1.500,00 e outro de R$ 2.500,00)
e uma certidão de propriedade do veículo de placas IQH7225.

Nesse sentido, não consta nos autos nenhuma imagem do veículo, não sendo possível
afirmar, por conseguinte, que um eventual dano tenha sido causado pela queda de pastilhas da
fachada do condomínio demandado, sendo possível, inclusive, que eventuais danos fossem pré-
existentes. Este é o entendimento do TJRS:

INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL – Veiculação de pedido indeterminado – Autora que ajuizou


a demanda em face do plano de saúde do qual é beneficiária pleiteando o reembolso de
despesas médicas – Ausência de identificação das despesas (...) Apresentação de notas
fiscais avulsas somente na réplica, ausentes quaisquer esclarecimentos sobre a
documentação juntada – Artigo 330, §1º, II, CPC – Vício que impossibilita a defesa da ré,
bem como a própria prestação jurisdicional – Inépcia verificada – Sentença mantida –
Recurso desprovido. (TJSP; Apelação Cível 1013480-58.2019.8.26.0100; Relator (a): Luiz
Antonio de Godoy; Órgão Julgador: 1ª Câmara de Direito Privado; Foro Central Cível – 33ª
Vara Cível; Data do Julgamento: 15/12/2020; Data do Registro: 16/12/2020)

Deste modo, considerando a ausência total de elementos capazes de delimitar o


ocorrido, tem-se que é inepta a peça inicial do demandante, devendo ocorrer a extinção do feito,
sem resolução de mérito, nos termos dos artigos 322, 324 e 485, I, do Código de Processo Civil.
IV. DO DIREITO
a. DO DANO MATERIAL

Discorre o autor que seu veículo Fiat Uno Mille de placas IQH7225, utilizado para
transporte de peças e atendimento a clientes de sua empresa, foi atingido por pastilhas que se
descolaram da fachada do prédio que aluga, ocasionando dano material no montante de R$
1.500,00 até R$ 2.500,00, conforme orçamentos trazidos aos autos.

Entretanto, não há nos autos qualquer prova do dano material que o Autor alega ter
suportado, nem sequer uma foto ou um boletim de ocorrência, limitando-se a trazer aos autos
dois orçamentos para o conserto do carro, sem comprovar a despesa que eventualmente teria
despendido com a manutenção do veículo.

Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul entende ser necessária a
comprovação dos prejuízos efetivamente sofridos para possibilitar a cobrança dos danos
materiais:
APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. SECAGEM DE FUMO. DANO MATERIAL. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DOS PREJUÍZOS INDICADOS. Pretensão da parte autora de indenização por danos materiais
a partir da alegada falta de energia em sua unidade consumidora, o que teria causado prejuízos em folha de
tabaco que encontrava-se em cura em estufa elétrica. Concessionária demandada que anexou ao processo
informação quanto à ausência de interrupção do serviço. Prova dos autos que não evidencia o dano
patrimonial indicado. Dever de indenizar não configurado. Improcedência do pedido inicial. APELAÇÃO
PROVIDA. DECISÃO MONOCRÁTICA.(Apelação Cível, Nº 50029075920218210067, Décima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Alberto Schreiner Pestana, Julgado em: 19-12-2022)

De outra banda, é necessária destacar que ambos os orçamentos trazidos aos autos
foram realizados no dia 31/03/2022 e possuem valores discrepantes entre si 3, sendo o primeiro
realizado no município de Morro Reuter/RS no valor de R$ 1.500,00 e o segundo em Novo
Hamburgo/RS no valor de R$ 2.500,00, sendo improvável que ambas as empresas tenham
efetivamente analisado o veículo e chegado a orçamentos tão distintos de forma criteriosa.

Considerando a ausência de comprovação do dano, do gasto com o conserto e dos


orçamentos inverossímeis, não há como conceber o pagamento de danos materiais, devendo ser
julgado improcedente o pedido do demandante.

b. DO DANO MORAL

O autor discorre ter sofrido danos morais em decorrência da suposta queda de pastilhas
de revestimento sobre o seu veículo, o que não restou comprovado nos autos. Entretanto, o
instituto do dano moral, previsto no artigo 186 do Código Civil, necessita de comprovação do
dano e do consequente abalo há personalidade do indivíduo, não englobando meros dissabores
do dia a dia.

A caracterização de dano à moral de uma pessoa se faz necessária a presença da


Existência de Dano, da Culpa e do Nexo de Causalidade.

Quanto a Existência de Dano, conforme bem abordado no item IV.a, não há qualquer
comprovação de que o tenha ocorrido dano ao veículo utilizado pelo autor em sua empresa, nem
sequer qualquer informação ou comprovação de que este tenha ficado impossibilitado de
trabalhar em razão do suposto dano material. Nesse sentido, o primeiro requisito para

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Evento 1, OUT10, Páginas 1 e 2
caracterização do dano moral resta prejudicado, uma vez que não há qualquer comprovação do
dano.

Considerando a ausência de qualquer foto, perícia, laudo ou prova pré-constituída por


parte do demandante, não é possível afirmar que há Nexo de Causalidade entre a queda de
pastilhas da fachada do imóvel locado pelo demandante com o suposto dano causado ao seu
veículo, restando afastado novamente pré-requisito básico do instituto do Dano Moral.

Nesse sentido, não é possível transferir o ônus probatório ao Condomínio réu, uma vez
que não há como se produzir prova de que não houve dano ao veículo do demandante quando
este sequer traz aos autos uma foto do mesmo. `

De outra banda, cabe destacar que o conceito de dano moral diz respeito a ofensa à
honra e personalidade de cada indivíduo, sendo direito garantido pelo inciso X, do artigo 5º da
Constituição Federal4. Resta claro, por conseguinte, que não houve qualquer ofensa a honra ou
personalidade do demandante, não sendo cabível, por conseguinte, admitir o pedido de danos
morais.

Nesse sentido, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul firmou entendimento pelo qual
o mero aborrecimento não é gera dano extrapatrimonial passível de indenização:
RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. VEÍCULO ATINGIDO POR
TELHAS QUE CAIRAM DE PRÉDIO DO CONDOMÍNIO EM DECORRÊNCIA DE TEMPORAL. INDENIZAÇÃO DOS
DANOS MATERIAIS ALCANÇADA NA SENTENÇA. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DE LESÃO A DIREITOS DA PERSONALIDADE, DIGNIDADE OU DE GRAVE DESCONSIDERAÇÃO.
SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (Recurso Cível, Nº 71010050011, Primeira Turma Recursal
Cível, Turmas Recursais, Relator: Mara Lúcia Coccaro Martins Facchini, Julgado em: 23-08-2021)

APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. AÇÃO DE


REPARAÇÃO POR DANOS MATERIAIS C/C DANOS MORAIS. COLISÃO TRASEIRA. 1. DANOS EMERGENTES. a)
BÔNUS DA SEGURADORA. (...) 2. DANO MORAL. O acidente de trânsito não gerou lesões físicas aos
demandantes, cingindo-se à colisão traseira, com meros danos materiais apenas, não atingindo
a integridade física das vítimas, de modo que não se trata do denominado “dano moral puro” ou “dano moral
in re ipsa”. Além disso, a mera dificuldade de obter-se o reembolso das despesas na via administrativa não
implica, por si só, a caracterização do dano extrapatrimonial. (...). APELAÇÃO E RECURSO ADESIVO PROVIDOS
EM PARTE. (Apelação Cível, Nº 70082298308, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Ana Lúcia Carvalho Pinto Vieira Rebout, Julgado em: 26-08-2020)

RECURSO INOMINADO. AÇÃO COMINATÓRIA C/C REPARAÇÃO DE DANOS. OBRAS DE MELHORIA NA


FACHADA DE CONDOMÍNIO. RETIRADA DE TOLDO DA LOJA AUTORA EM RAZÃO DA OBRA. DEMORA NA
RECOLOCAÇÃO. CRITÉRIOS ESTÉTICOS PARA COLOCAÇÃO A SEREM ESTIPULADOS EM ASSEMBLEIA. TEMPO
TRANSCORRIDO ENTRE A ÚLTIMA ASSÉMBLEIA E O AJUIZAMENTO DA AÇÃO SUFICIENTE PARA O
CONDOMÍNIO TER TOMADO AS PROVIDÊNCIAS QUE OBSTARAM A PRONTA INSTALAÇÃO. PEDIDO DE
AUTORIZAÇÃO PROCEDENTE, CONDICIONADO AOS PADRÕES ESTÉTICOS ESTIPULADOS PELO CONDOMÍNIO,
EM TRINTA DIAS DA INTIMAÇÃO DESTA DECISÃO, PENA DE A AUTORA PODER REALIZAR A COLOCAÇÃO
CONFORME LHE APROUVER. DANOS MATERIAIS NÃO COMPROVADOS. AUSENTE PROVA DE REPERCUSSÃO
À IMAGEM DA EMPRESA AUTORA, PARA AMPARAR O PEDIDO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS. LIGÂNCIA
DE MÁ-FÉ NÃO EVIDENCIADA. SENTENÇA REFORMADA PARA JULGAR PARCIALMENTE PROCEDENTES OS
PEDIDOS. RECURSO PROVIDO. (Recurso Cível, Nº 71009324203, Quarta Turma Recursal Cível, Turmas
Recursais, Relator: Jerson Moacir Gubert, Julgado em: 23-03-2021)

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Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a
indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
Deste modo, resta claro não ser devidos os danos morais postulados pelo autor, uma vez
que não comprovados os danos materiais sofridos, o abalo a personalidade e,
consequentemente, o nexo de causalidade entre o fato alegado e o dano que teria ocorrido,
sendo necessária a improcedência da ação proposta.

V. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, requer a Vossa Excelência:

a. Preliminarmente:
i. A revogação do benefício da gratuidade de justiça concedido ao
demandante, uma vez que este não comprova a necessidade do
benefício, sendo proprietário de empresa consolidada e sequer trazendo
aos autos declaração de hipossuficiência financeira.
1. A intimação do demandante para pagar as custas iniciais do
presente feito, sob pena de extinção do feito.
ii. O reconhecimento da inépcia da inicial, com a consequente extinção do
feito, sem resolução de mérito, nos termos dos artigos 322, 324 e 485, I,
do Código de Processo Civil.
b. A TOTAL IMPROCEDÊNCIA DA PRESENTE AÇÃO, pelos fatos e fundamentos acima
trazidos;
c. A condenação do autor ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios;
d. Protesta pela produção de todos os meios de prova em Direito admitidos,
especialmente a prova PERICIAL, bem como o depoimento pessoal do autor, sob
as penas da lei.

Nestes termos, pede deferimento.

Novo Hamburgo, 28 de fevereiro de 2023.

André Zimmermann – OAB/RS 88.954

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