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SESSÃO I: Dia 10/11/2022 - 8h às 9h 50min

Sentença

Dispensado é o relatório, passo a decidir.


Afasto a preliminar de prescrição alegada pelo primeiro réu, Host Turismo S.A,
uma vez que o STJ, em casos semelhantes como no ARESP nº 1312418-DF,
vêm adotando a Teoria da Actio Nata, em que orienta que a prescrição somente
terá inicio com o nascimento da pretensão ou da ação.
No presente caso, a ciência inequívoca do ato ensejador da reparação civil,
ocorreu em janeiro de 2019 quando o autor foi surpreendido com o bloqueio de
sua bancária, e ao procurar saber do que se tratava, descobriu junto à Jucerja
que havia assinatura falsificada em alteração de contrato social, portanto, não
merece acolhimento as arguições de prescrição.
Quanto a preliminar de ilegitimidade passiva arguida pelo segundo réu, afasto-
a, uma vez que a alteração contratual se deu pelo segundo réu, em que de forma
fraudulenta, cedeu diversas ações ao autor, e, portanto, deve compor o polo
passivo da ação.
Presentes as condições da ação e os pressupostos processuais, inexistindo
quaisquer nulidades ou irregularidades que devam ser declaradas ou sanadas,
bem como preliminares que pendam de apreciação, passo analisar o mérito.
No mérito não restam dúvidas de que houve fraude na transferência de 150.000
ações ordinárias por meio de alteração contratual realiza pela segundo réu de
forma fraudulenta, conforme laudo pericial de fls. 17-20, em que a perícia
grafotécnica constatou a falsidade da assinatura no documento, que não é da
parte autora.
Além disso, em audiência realizada, conforme fls. 100-102, a testemunha
arrolada pelo autor confirmou que o autor esteve morando nos
Estados Unidos quando ocorreu a fraude de alteração contratual, e, portanto, é
incontroverso que o autor não pode figurar como sócio do primeiro réu, pois
jamais adquiriu quaisquer participação na empresa, assim, declaro sem efeito a
alteração contratual e o consequente desfazimento do negócio tendo em vista
que é nulo diante de sua ilicitude, conforme art. 166, II, do CC.
A conduta ilícita dos réus se mostra diante da aposição de assinatura falsificada
em contrato social da empresa, já o dano, se mostra configurado tendo em vista
que a fraude realizada vem causando ao autor diversos prejuízos, visto que se
encontra impossibilitado de realizar movimentações de sua conta em
decorrência do bloqueio, bem como de obter créditos diante das restrições, e
ainda vem sendo cobrado de dívidas da sociedade empresária que não faz parte.
Não se pode perder de vista que a situação vem causando ao autor abalos
psicológicos, dor, angústia, sofrimento, e principalmente, fere direito de sua
personalidade, qual seja, sua honra, o que por si só é causa que gera o dever
de ser compensado pelo dano causado.
O nexo causal se mostra diante da assinatura falsificada que deu causa aos
diversos transtornos que o autor vem suportando.
Desta forma, é inegável que a conduta ilícita dos réus causou dano ao autor,
consoante ao disposto no art. 186 do CC, devendo os causadores do dano,
reparar os danos a direito do autor de forma solidária, conforme dispõe o art. 942
do CC.
Nesse sentido, em observância da razoabilidade e proporcionalidade, os danos
sofridos pelo autor, em vista as circunstâncias do dano e repercussão, além do
porte e a capacidade econômica de ambas as partes, fixo a título de reparação
pelo dano suportado o valor de R$ 30.000,00.
Isto posto, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO AUTORAL, com resolução de
mérito, na forma do art. 487, I do CPC para:
a) Condenar aos réus de forma solidária, a pagar ao autor a título de
compensação por danos morais o valor de R$35.000,00 (trinta e cinco mil reais),
com incidência de juros moratórios de 1% ao mês a contar do evento danoso,
além de correção monetária por índices da CGJ/RJ a contar da sentença.
b) Declaro desfeito o negócio, tornando sem efeito a alteração contratual
mencionada na assembleia, bem como a exclusão do autor dos atos
constitutivos do segundo réu, no prazo de 15 dias, sob pena de multa diária de
R$600,00 em caso de descumprimento.
c) Condeno ainda os réus a arcar com o pagamento das despesas processuais
e honorários advocatícios, estes fixados em 10% do valor da condenação, com
fundamento nos arts. 82, §2º, 85, §2º e 86, parágrafo único, todos do CPC.
d) Determino a expedição de ofícios ao Detran e a comunicação aos órgãos
judiciais onde tramitam as ações trabalhistas e execuções fiscais contra os réus.
Publique-se. Intime-se.
Após o trânsito em julgado, nada sendo requerido em execução, dê-se baixa e
arquive-se.

Rio de Janeiro, 05 de novembro de 2022.

JUIZ DE DIREITO

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