Você está na página 1de 2

ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

-EMERJ-

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PARA A


CARREIRA DA MAGISTRATURA

PROGRAMA DO CURSO

CPI B 2 2022 – TÉCNICA DE SENTENÇA

As aulas do módulo serão ministradas nas seguintes datas: 08/11, 09/11 e


10/11.

SESSÃO V: Dia 10/11/2022 - 8h às 9h 50min

Prof. Dr. Eric Scapim Cunha Brandão

TEMA: Direito Civil. Anulabilidade de negócio jurídico. Alegação de fraude


em contrato social.

CASO CONCRETO:

Trata-se de demanda ajuizada por Andrei em face de Host Turismo


S.A. e de Norberto Buarque.
O autor alega que:
I - em janeiro de 2019, foi surpreendido com o bloqueio de sua conta
bancária, ocorrido em virtude de decisão judicial oriunda de processo trabalhista,
em que o primeiro réu figurava como reclamado;
II - foi até a Jucerja, a fim de se informar a respeito da sua condição de
sócio da mencionada pessoa jurídica, tendo em vista que jamais cogitou e
tampouco assinou documento que o colocasse como sócio da mencionada
empresa;
III - recebeu uma declaração que informava a situação da sociedade,
onde se via, por meio de uma alteração contratual, que seu primo, Norberto
Buarque, havia lhe cedido /transferido 150.000 ações ordinárias, por meio de
documento assinado em março de 2009;
IV - seria impossível ter praticado tal ato, uma vez que, entre 2008 e
2010, viveu nos Estados Unidos da América, onde trabalhou como jardineiro e
pedreiro, e, embora tivesse contato com a família regularmente (com o réu
inclusive), jamais permitiu nem soube nada a respeito de tal transferência de
ações;
V - por causa da inclusão fraudulenta do nome do autor no quadro
social da Host Turismo S.A., o demandante passou a receber diversas
cobranças, inclusive uma de mais quatro milhões reais;
VI - portanto, pode ser compreendido que o caso consiste em prática
criminosa, haja vista que saiu do país em novembro de 2008, e a assembleia
geral, em que supostamente teria assumido a posição de administrador da
sociedade, aconteceu em março de 2009, data em que a sua assinatura fora
falsificada;
VII - é pessoa humilde, que vive atualmente de pequenos trabalhos
esporádicos, principalmente da remoção de entulhos;
VIII - a referida alteração contratual aconteceu quando o autor ainda se
encontrava em território estrangeiro, razão pela qual crê que seu primo
provavelmente imaginava que não mais retornaria ao Brasil;
IX - a fraude vem lhe causando prejuízos indescritíveis, uma vez que
se encontra impedido de obter crédito e de movimentar contas bancárias, além
de receber cobranças de funcionários de uma sociedade empresária que
desconhece completamente.
Pelos motivos expostos, Andrei pede o desfazimento do negócio, de
modo que seja declarada sem efeito a alteração contratual da mencionada
assembleia, além da condenação dos réus ao pagamento do valor de R$
40.000,00, a título de reparação por danos morais. Pede, outrossim, o envio de
ofício ao Detran e a comunicação aos órgãos judiciais onde tramitam ações
trabalhistas e execuções fiscais contra os réus.
Em contestação, previamente, Host Turismo S.A. alega que:
I - o caso ora analisado consiste em prescrição, porque a assembleia
ocorreu em março de 2009, e a ação apenas fora proposta em 10/04/2020, isto é,
foi nitidamente ultrapassado o prazo previsto na Lei nº 6.404/76, no que tange à
ação para anular deliberações tomadas em assembleia geral ou especial;
II - também está prescrito o pedido referente à reparação por dano
moral, tendo em vista o prazo colocado pelo Código Civil.
Em contestação, previamente, Norberto Buarque afirma que:
I - não tem legitimidade passiva, pois perdeu o vínculo com a Host
Turismo, quando transferiu todas as suas ações ordináriaspara o autor, além
disso, apenas participou da assembleia geral na função de secretário, ou seja,
sem maiores poderes de decisão, motivo pelo qual entende que a legitimidade
caberia apenas à sociedade.
No mérito, os réus argumentam que:
I - a assembleia mencionada ocorreu de acordo com todas as
formalidades legais, assim como a transferência de ações ordinárias;
II - o autor esteve presente e assinou, demonstrando ciência do que
estava acontecendo;
III - o autor decidiu ajuizar a presente demanda depois de realizar
diversos atos desastrosos e de levar a sociedade à ruína;
IV - não há nos autos provas que demonstrem que o autor realmente
se encontrava em território estrangeiro.
Dessa forma, os réus pedem a total improcedência dos pedidos e a
condenação do autor em custas e honorários.
A fls.17-20, a perícia grafotécnica reconheceu a falsidade da
assinatura.
A fls. 100-102, em audiência, a testemunha arrolada pelo autor
confirmou o tempo em que o autor esteve morando nos Estados Unidos.
Autos conclusos. Elabore a sentença sem relatório.

Você também pode gostar