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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA __ VARA CÍVEL DA COMARCA DA

BURITIS - RONDÔNIA

JUSTIÇA GRATUITA

JOEL APARECIDO DOS SANTOS, brasileiro, casado, empresário, portador da Cédula de


Identidade RG nº 582.746 SSP/RO, inscrito no CPF sob o nº 593.589.392.49, residente e
domiciliado na Rua Ouro Preto, 2065, Setor 03, nesta cidade de Buritis-RO, CEP 76.880-000,
vem, por intermédio de seus advogados constituídos por meio da procuração anexa, com
endereço profissional na Rua Tenreiro Aranha, 2494, Sala 120, Galeria Eldorado, na cidade
de Porto Velho-RO., CEP 76.801-114, e-mail advocaciapaulotimoteo@gmail.com, com fulcro
na Dignidade da Pessoa Humana-Fundamento da República Federativa do Brasil (art. 1º, III,
CRFB/88)1, e artigo 104-A do CDC, com a redação data pela Lei 14.181/2021, propor o
presente

PEDIDO DE REPACTUAÇÃO DE DÍVIDAS c/c OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA


DE URGÊNCIA – LEI DO SUPERENDIVIDAMENTO

junto aos credores abaixo indicados, para fins de que seja instaurado processo com vistas à
repactuação de dívidas e que seja elaborado plano de pagamento de dívidas, nos termos do
Art. 104-A do CDC, conforme redação dada pela Lei 14.181/2021.

DOS CREDORES PARA CITAÇÃO

Abaixo indica os credores para a presente repactuação:

MARIA DE FÁTIMA DOS SANTOS SOTÉ, brasileira, casada, empresária, portadora da Cédula
de Identidade RG 371.179 SSP/RO., e CPF 300.205.652-91, residente e domiciliada na Rua
Theobroma, 1428, Setor 02, nesta cidade de Buritis-RO., CEP 76.880-000, e-mail
defatimamaria134@gmail.com;

BANCO DO BRASIL S/A – AG 2270-5, sociedade anônima, devidamente inscrita no CNPJ


00.000.000/4427-04, com sede Av. Jatuarana, 4718, Jardim Eldorado, CEP 76808-110 - Porto
Velho, RO;
BANCO BRADESCO CARTÕES S/A, Fundação Pública de Direito Privado, devidamente inscrita
no CNPJ 59.438.325/0001-01, com sede na NUC CIDADE DE DEUS, S/N, 4º Andar Prédio
Prata, Bairro VILA YARA, Cidade de Osasco, CEP 06.029-900;
1
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
(...)
III - a dignidade da pessoa humana;
Pelos fatos e fundamentos expostos a seguir.

I – DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

O instituto da gratuidade de justiça existe para garantir que a parte vulnerável


economicamente tenha acesso à justiça, acabando com os obstáculos pecuniários que
comprometeriam sua atuação em juízo. Trata-se de uma decisão sem critérios objetivos
para sua concessão, ficando a cargo do magistrado avaliar o caso concreto.
Afinal:

O conceito de necessitado não é determinado mediante regras rígidas, matemáticas, não se


utilizando limites numéricos determinados. Têm direito ao benefício aqueles que não
podem arcar com os gastos necessários à participação no processo, na medida em que,
contabilizados os seus ganhos e os seus gastos com o próprio sustento e da família, não lhe
reste numerário suficiente para tanto. O direito ao benefício decorre da indisponibilidade
financeira do sujeito. (MARCACINI, Augusto Tavares Rosa. Assistência jurídica, assistência
judiciária e justiça gratuita cit., p. 90).

Logo, a situação de hipossuficiência do requerente não se dá pela renda/salário, mas


também pelo nível de endividamento do mesmo.

Aliás, a lide tem por objeto exatamente o reconhecimento do superendividamento do


Requerente, com pedido de suspensão do pagamentos das parcelas avençadas, por
causarem prejuízo à subsistência do autor, revendo as cláusulas do contrato de compra e
venda, para que seja garantida a sobrevivência deste.

É um contrassenso acreditar que pessoas que estão ingressando em juízo justamente para
terem a condição de superendividado reconhecida possam arcar com as altas custas
judiciais.

Importante lembrar que faz jus ao pedido de gratuidade aqueles que não têm condições de
custear as despesas processuais sem prejuízo da sua mantença e de sua família.

A CRFB, em seu artigo 5º, inciso LXXIV, assegura a assistência jurídica integral e gratuita aos
que comprovarem insuficiência de recursos. O requerente encontra-se endividado e sem
condições de arcar com as custas do processo, sem prejuízo do próprio sustento e o de sua
família. Sendo que o fato de ser titular de uma empresa, da qual não pode fazer retiradas,
não pode obstar a concessão do benefício legal.

Ademais, o Código de Processo Civil dispõe que “presume-se verdadeira a alegação de


insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural”. Desta forma, à pessoa natural
basta a mera alegação de insuficiência de recursos, sendo desnecessária a produção de
provas da hipossuficiência financeira. A alegação presume-se verdadeira.

Até porque: “A efetivação dos direitos individuais e coletivos, por meio da assistência
judiciária gratuita, suplanta os limites do direito formal, do arcabouço jurídico que proclama
a igualdade perante a lei e a proteção do Estado aos mais pobres. A letra fria da lei aquece-
se com o calor da vida real.” (SCHUBSKY, Cássio (org.). Escola de justiça: história e memória
do Departamento Jurídico XI de Agosto cit., p. 12).

Portanto, o autor AFIRMA, nos termos da Lei nº 1.060/50 e do art. 98 do CPC, que se
encontra com insuficiência de recursos, não possuindo condições financeiras para pagar as
custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios sem o prejuízo do sustento de
sua família, fazendo jus à GRATUIDADE DE JUSTIÇA.

II – DOS FATOS – DA ORIGEM DA DÍVIDA, POR CREDOR

Dá dívida da Requerida MARIA DE FÁTIMA DOS SANTOS SOTÉ

O autor é irmão da Primeira Requerida e morava em Porto Velho, com sua família,
financeiramente equilibrado, mantendo sua família com o suor de seu trabalho.
Em meados do ano de 2019, recebeu a oferta de sua irmã para adquirir a empresa LAJOTÃO
MATERIAS PARA CONSTRUÇÃO LTDA, com sede na cidade de Buritis, em razão da Primeira
Requerida ter outros planos e estar desistindo de manter a empresa funcionando.

Após várias tratativas o negócio foi formalizado verbalmente, da seguinte forma: A


transferência de titularidade da empresa LAJOTÃO MATERIAS PARA CONSTRUÇÃO LTDA,
bem como, o estoque de mercadorias levantado no dia 31/05/2019, com prazo de
pagamento de 3 (três anos), sem especificar, de imediato, o valor e a quantidade de
parcelas, ficando ajustado, posteriormente, para, 3 (três), parcelas anuais de R$ 81.463,00,
(Oitenta e um mil, quatrocentos e sessenta e três reais), totalizando R$ 244.389,00,
(Duzentos e quarenta e quatro mil, trezentos e oitenta e nove reais), com prazo de carência
de 12 meses, para pagamento da primeira parcela.

Mantendo a empresa em seu nome, a Primeira Requerida travou a cessão das suas quotas
de capital na empresa, impedindo, de imediato, a posse do Autor, no primeiro ano, que ficou
sem poder tomar as decisões necessárias ao amplo desempenho da empresa.

Visto que a empresa já passava por dificuldades financeiras e o Autor não pode levantar um
capital de giro, disponível nas instituições financeiras, em razão de ainda não ser o titular da
empresa que havia adquirido.

Mesmo insistindo para que a Autora lhe transferisse os quotas de capital, para a conclusão
do negócio, esta negligenciava a transferência, demonstrando sinais de arrependimento do
negócio, visto que as decisões administrativas do Autor, já coloca a empresa em ritmo de
estabilização e princípio de rota de ascensão.

Esta pendenga perdurou por quase um ano. Quando em 19/05/2020, a Primeira Requerida
transferiu as suas cotas da empresa para o Autor e coagiu a repactuar a forma de
pagamento, suprimindo em 1 (uma), parcela e aumentando o valor das parcelas.
Em que pese o Contrato Particular ser datado de 06/06/2019, data em que o Autor assumiu
de fato a empresa, somente foi assinado e teve as firmas reconhecidas no dia 19/05/2020,
mesma data de transferência da empresa. Confirmando a tese de que as tratativas iniciais
não foram honradas, onerando excessivamente o Autor.

Quando da assinatura do documento, o Autor, que já estava na empresa há quase um ano, e


havia deslocado sua família para a cidade de Buritis, e não tinha mais como voltar para Porto
Velho, informou para a Autora que não conseguiria pagar a parcela nas condições
repactuadas, sendo que ela lhe disse, caso ainda queira o negócio, minha condição é esta,
coagindo o Autor a assumir um compromisso, sabidamente sem condições de ser cumprido.

Como já mencionado, apenas no ano de 2020, que foi realizada a alteração do Contrato
Social da Empresa, onde a Primeira Requerida saiu da titularidade da empresa e o
Requerente entrou na sociedade empresária EIRELI.

Esta demora na alteração contratual, por si só já impediu o Requerente de tomar decisões


necessárias na direção da empresa.

Após a efetivação da saída da Primeira Requerida da sociedade e a entrada do Requerente,


houve uma repactuação da negociação original, na qual o Requerente foi forçado a aceitar,
em razão de já haver deixado a sua vida equilibrada em Porto Velho e assumido a empresa,
em Buritis, não podia mais desistir, mesmo sabendo da onerosidade do contrato que estava
sendo forçado a assinar.

No pacto novo que o Requerente foi forçado a assumir, os pagamentos ficaram da seguinte
forma:
1) R$ 244.389,00 (Duzentos e quarenta e quatro mil, trezentos e oitenta e nove reais),
dividido em duas parcelas, sendo:
2) R$ 100.000,00, (Cem mil reais), com vencimento para o dia 01/06/2021; e
3) R$ 144.389,00 (Cento e quarenta e quatro mil, trezentos e oitenta e nove reais), com
vencimento para o dia 01/06/2022.

Bem ainda, as penalidades por descumprimento:

Não bastasse esta renegociação forçada hodierna, veio a PANDEMIA, e modificou o cenário
comercial do Brasil, e em especial o seguimento de Construção Civil, que teve uma alta
excessiva na aquisição dos produtos, na indústria, refletindo no custo do lojista, dificultando
a manutenção de um estoque mínimo regulador, complicando ainda mais a situação
financeira do Requerente.
Mesmo com dificuldades, sempre buscou manter a esperança de poder pagar a Primeira
Parcela na data aprazada, porém não conseguiu.

No dia 19/11/2021, fez uma transferência no valor de R$ 10.000,00 (dez mil), para a conta
da Primeira Requerida, e no dia 02/12/2021, fez uma nova transferência no valor de R$
5.000,00 (cinco mil reais), totalizando R$ 15.000,00, (quinze mil reais).

No dia 10/01/2022, foi surpreendido com a INTIMAÇÃO do Cartório de Protesto da Comarca


de Buritis, concedendo o prazo de 10 (dez) dias para efetuar o pagamento sob pena de
PROTESTO da NOTA PROMISSORIA emitida com garantia de pagamento da Primeira Parcela
do contrato de compra e venda da empresa.

Observa-se que a Primeira Requerida sequer descontou o valor dos adiantamentos


efetuados pelo Requerente, do valor total da promissória, tornando incontroverso a
cobrança indevida do valor de R$ 15.000,00, visto que, comprovadamente foi depositado na
conta da Primeira Requerida.

Após o protesto indevido do valor total da promissória, visto que não foi deduzido o valor
antecipado, a vida do Requerente piorou ainda mais.

Havia uma oferta de crédito da cooperativa, (dia 12/01/2022), dias antes do protesto,
conforme áudio recebido do Gerente de Negócios da CRESSOL, que não se concretizou em
razão do PROTESTO existente em nome do Autor.

Com a liberação prioritária desse crédito, prometida pelo Gestor Financeiro, o Requerente
poderia pagar a parcela e ainda incrementar o CAIXA da empresa e conseguir folego para
pagar a parcela que vence esse ano.

Porém, após a negativação indevida, a crédito foi suspenso e os limites bancários, os quais o
Requerente se socorria para emergências, foram retirados, complicando a saúde financeira
pessoal e da empresa que é sua única fonte de sustento pessoal e de sua família.

Atualmente, vê sua família encarar grande dificuldade financeira, neste momento de


profunda crise econômica, tendo o autor uma renda líquida mensal de aproximadamente R$
2.500,00 (dois mil e quinhentos e reais), (Energia: R$ 400,00; Aluguel R$ 700,00; Internet:
100,00; Compras em supermercado: R$ 1.000,00; Combustível: R$ 300,00), que faz de
retirada pro labora da empresa, apenas para manutenção da casa e de sua família.

Ocorre que o autor não tem, por ora, como imaginar mais soluções engenhosas para honrar
o vultuoso compromisso forçado a assumir, sem comprometer profundamente o sustento
da família da qual é provedor.

Desta forma, da soma da parcela vencida, deduzindo o valor antecipado e a parcela que
ainda vencera, constata-se que o Requerente possui uma dívida com a Primeira Requerida,
em valor histórico, de R$ 229.389,00 (Duzentos e vinte e nove mil, trezentos e oitenta e nove
mil reais).
A retirada pro labore da empresa não comporta quitar a parcela vencida sem ensejar o
fechamento da empresa e a demissão dos 5 (cinco) funcionários que dela se mantém e
mantém ainda seus familiares.

E ainda, não comporta a provisão de pagamento em parcela única o valor que vence em
junho de 2022.

Portanto, o Requerente é pessoa idônea, sempre cumpridor de suas obrigações, entretanto,


não resta outra opção senão requerer a suspensão temporária dos efeitos do protesto
lançado indevidamente em seu nome, bem como a suspenção do vencimento da parcela do
dia 01/06/2022, para uma adequação da dívida à uma parcela razoável e dentro da
capacidade de pagamento do Requerente, que não se furta ao compromisso assumido,
apenas requer uma adequação, dada as circunstancias geradas pela PANDEMIA.

Como proposta de pagamento, informa que sua capacidade de pagamento atual permite o
pagamento da dívida, dividida em 60 (sessenta) parcelas de R$ 3.823,15, (Três mil oitocentos
e vinte e três reais e quinze centavos), podendo sem ampliado, após o restabelecimento de
seu crédito e incremento do capital de giro na empresa.

DA DIVIDA DO BANCO DO BRASIL

O Autor é correntista do Segundo Requerido, e possui a Conta Corrente 16.538-7, na Agência


2270-5, e no dia 13/04/2021, e para injetar um capital de gira na empresa, precisou fazer um
CDC com saldo devedor atual de R$ 10.251,34, sendo que estão em atraso duas parcelas.

Não tendo recursos para pagar as parcelas vencidas e tampouco as vincendas, requer seja
determinada suspensão do debito em conta das parcelas e dividido o saldo devedor em 60
(sessenta) parcelas de R$ 170,86, (Cento e setenta reais e oitenta e seis centavos), com
carência de 180 (cento e oitenta dias para pagamento da primeira parcela.

DA DÍVIDA DO BRADESCO CARTÕES

O Autor possui um carão de Crédito, bandeira VISA GOLD, vinculado ao Terceiro Requerido,
com o qual pagou despesas pessoais e a cirurgia de um funcionário, e depois não conseguiu
pagar a fatura.

Com os autos juros e encargos do cartão, não consegue mais pagar o cartão, sem que seja
repactuado o valor e reduzido os encargos.

Hoje a dívida está em R$ 7.585,00 (Sete mil quinhentos e oitenta e cinco reais), e como não
recursos para pagar o valor da fatura em aberto, requer seja determinada suspensão da
cobrança e dividido o saldo atual da fatura em 60 (sessenta) parcelas de R$ 126,41, (Cento e
vinte e seis reais e quarenta e um centavos), com carência de 180 (cento e oitenta dias para
pagamento da primeira parcela.

Das dívidas existentes, requer a repactuação da seguinte forma?


Primeira Requerida R$ 229.389,00 60 R$ 3.823,15
Segundo Requerido R$ 10.251,34 60 R$ 170,86
Terceiro Requerido R$ 7.585,00 60 R$ 126,41

O superendividamento pessoal totaliza o montante de R$ 247.225,34, (Duzentos e


quarenta e sete mil, duzentos e vinte e cinco reais e trinta e quatro reais), cujo plano de
pagamento acima proposto, importa no pagamento de parcelas mensais, conforme
proposto, sendo uma carência de 6 (seis) meses para pagamento da primeira parcela.

Do Reflexo do Superendividamento Pessoal, na Empresa

Com o superendividamento pessoal e o protesto indevido da NOTA PROMISSÓRIA, da


Primeira Requerida, houve empecilho para que o Autor conseguisse um capital de giro, em
nome da empresa, que hoje, também está em situação financeira difícil, cujo endividamento
passa a apresentar abaixo:

Conta Garantida no Banco do Brasil – Agência 4286-2, Conta Corrente 5224-8 R$ 11.136,79
Conta Garantida SICOOB Coop 3315-4, Conta Corrente 151-1 R$ 19.199,60
Conta Garantida CRESOL Coop 1693-4, Conta Corrente 11559-8 R$ 13.822,52
Giro Rápido CRESOL Coop 1693-4, Conta Corrente 11559-8 R$ 15.000,00

A empresa possui um endividamento com instituições bancárias no valor de R$ 59.158,91,


mais uma dívida aproximada de fornecedores no valor de R$ 100.000,00.

O objetivo do Autor com esta repactuação das dívidas e conseguir prazo e parcelamento
para pagar as dívidas pessoais, para, com folego das contas pessoais, sanear as dívidas da
empresa, para voltar dar lucro, para poder cumprir o plano de pagamento da dívida pessoal.

II – DO DIREITO

A) DO SUPERENDIVIDAMENTO

O superendividamento se encontra disciplinado no ordenamento jurídico brasileiro, com a


entrada em vigor da Lei 14.181/21.

Mesmo antes da publicação da mencionada Lei, já se admitia, a análise judicial dos


superendividados, aplicando o instituto jurídico do direito comparado, que se trata de uma
construção dogmática e jurisprudencial.

O superendividamento está caracterizado quando a pessoa física se vê impossibilitada de


honrar a totalidade de suas dívidas nos termos inicialmente convencionados, exatamente
como se encontra o Requerente, atualmente.

A lei do "Superendividamento" foi criada para trazer mudanças no Código de Defesa do


Consumidor, atribuindo recursos para evitar o número crescente de endividados no Brasil,
bem como permitir meios para as negociações, como se busca no caso concreto.
Assim expressa a implementação dos incisos IX e X no art.4 e inciso VI do art.5, ambos do
CDC:

art.4° A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o


atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua
dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os
seguintes princípios:
(...)
IX - fomento de ações direcionadas à educação financeira e ambiental
dos consumidores;
X - prevenção e tratamento do superendividamento como forma de
evitar a exclusão social do consumidor.

art.5° Para a execução da Política Nacional das Relações de Consumo,


contará o poder público com os seguintes instrumentos, entre outros:
(...)
VI - instituição de mecanismos de prevenção e tratamento extrajudicial
e judicial do superendividamento e de proteção do consumidor pessoa
natural;"

Podemos dizer que a nova lei traz uma nova característica para o consumidor inadimplente,
que é o "Superendividado", este perfil é atribuído ao indivíduo que está impossibilitado de
arcar com suas dívidas e em razão desta insolvência, sua subsistência está sendo afetada.
Cita-se a Lei 14.181/21.

‘Art. 54-A. Este Capítulo dispõe sobre a prevenção do


superendividamento da pessoa natural, sobre o crédito responsável e
sobre a educação financeira do consumidor.

§ 1º Entende-se por superendividamento a impossibilidade manifesta


de o consumidor pessoa natural, de boa-fé, pagar a totalidade de suas
dívidas de consumo, exigíveis e vincendas, sem comprometer seu
mínimo existencial, nos termos da regulamentação.

§ 2º As dívidas referidas no § 1º deste artigo englobam quaisquer


compromissos financeiros assumidos decorrentes de relação de
consumo, inclusive operações de crédito, compras a prazo e serviços de
prestação continuada.

§ 3º O disposto neste Capítulo não se aplica ao consumidor cujas


dívidas tenham sido contraídas mediante fraude ou má-fé, sejam
oriundas de contratos celebrados dolosamente com o propósito de não
realizar o pagamento ou decorram da aquisição ou contratação de
produtos e serviços de luxo de alto valor.’
Segundo o CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) a
entidade alega que no primeiro semestre de 2021 o número de inadimplentes que ganham
até 10 salário mínimos chegaram a 69%.

Justamente para reverter este quatro critico, a lei 14.181/21 estabeleceu as seguintes
mudanças:

Processo de repactuação de divida

A lei viabiliza um mecanismo, análogo à recuperação judicial, mas para as pessoas físicas

O Requerente possui os credores elencados no preambulo da peça, cujo valor excede a sua
capacidade de pagamento e que deu origem ao superendividamento, com valor histórico é
de R$ 247.225,34, (Duzentos e quarenta e sete mil, duzentos e vinte e cinco reais e trinta e
quatro reais).

Atendendo a norma positivada, o Requerente faz proposta de pagamento, do valor apurado,


em 60 (sessenta) parcelas de R$ 4.120,42, (Quatro mil cento e vinte reais e quarenta e dois
centavos), com carência mínima de 6 (seis) meses, contados da homologação do Termo de
Acordo.

"Art. 104-A. A requerimento do consumidor superendividado pessoa


natural, o juiz poderá instaurar processo de repactuação de dívidas,
com vistas à realização de audiência conciliatória, presidida por ele ou
por conciliador credenciado no juízo, com a presença de todos os
credores de dívidas previstas no art. 54-A deste Código, na qual o
consumidor apresentará proposta de plano de pagamento com prazo
máximo de 5 (cinco) anos, preservados o mínimo existencial, nos
termos da regulamentação, e as garantias e as formas de pagamento
originalmente pactuadas.

Como prioriza a Lei, o Requerente, requer a designação de audiência de tentativa de


conciliação, advertindo a credora que o menosprezo pela tentativa de acordo, ao se omitir
injustificadamente em comparecer, poderá ter a exigibilidade de sua dívida suspensa.

Em não havendo acordo, Requer seja estabelecido o processo de superendividamento para


revisão dos contratos e repactuação das dívidas remanescentes, em seu valor original sem
os encargos abusivos.

B) DA DIGNIDADE HUMANA E O MÍNIMO EXISTENCIAL

O pedido principal do Requerente possui fundamento no princípio da dignidade da pessoa


humana, ao passo que pretende proteger o mínimo existencial de sua família. A dignidade
da pessoa humana é o centro da ordem jurídica democrática, revelando-se como verdadeiro
super (ou supra) princípio. Das lições do Ministro do Supremo Tribunal Federal e professor
Luís Roberto Barroso (2010, p.4) extrai-se que:
A dignidade da pessoa humana, na sua acepção contemporânea, tem
origem religiosa, bíblica: o homem feito à imagem e semelhança de
Deus. Com o Iluminismo e a centralidade do homem, ele migra para a
filosofia, tendo por fundamento a razão, a capacidade de valoração
moral e autodeterminação do indivíduo. Ao longo do século XX, ela se
torna um objetivo político, um fim a ser buscado pelo Estado e pela
sociedade. Após a 2a Guerra Mundial, a ideia de dignidade da pessoa
humana migra paulatinamente para o mundo jurídico, em razão de
dois movimentos. O primeiro foi o surgimento de uma cultura pós-
positivista, que reaproximou o Direito da filosofia moral e da filosofia
política, atenuando a separação radical imposta pelo positivismo
normativista. O segundo constituiu na inclusão da dignidade da pessoa
humana em diferentes documentos internacionais e Constitucionais de
Estados democráticos. Convertida em um conceito jurídico, a
dificuldade presente está em dar a ela um conteúdo mínimo, que a
torne uma categoria operacional e útil, tanto na prática doméstica de
cada país quanto no discurso transnacional.

Avançando um pouco, Barroso afirma que:

A dignidade da pessoa humana tem seu berço secular na filosofia.


Constitui, assim, em primeiro lugar, um valor, que é conceito
axiológico, ligado à idéia de bom, justo, virtuoso. Nessa condição, ela
se situa ao lado de outros valores centrais para o Direito, como justiça,
segurança e solidariedade. É nesse plano ético que a dignidade se
torna, para muitos autores, a justificação moral dos direitos humanos e
fundamentais. (BARROSO 2010, p.4)

Por seu turno, o Ministo Alexandre de Moraes (2010, p. 48) leciona que:

A dignidade da pessoa humana concede unidade aos direitos e


garantias fundamentais, sendo inerente às personalidades humanas.
Esse fundamento afasta a idéia de predomínio das concepções
transpessoalistas de Estado e Nação, em detrimento da liberdade
individual. A dignidade é um valor espiritual e moral inerente à pessoa,
que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e
responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito
por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável
que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente
excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos
direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária
estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos.

Começa-se a explanação dos fundamentos jurídicos dos requerimentos


dos autores pelo princípio que é a base de todo ordenamento jurídico
brasileiro, o qual provocou a mudança do ponto nevrálgico do Direito
Civil através de uma mudança axiológica provocada pela
constitucionalização do direito privado, que atribuiu eficácia horizontal
aos Direitos Fundamentais.

Nesse sentido, é possível destacar as liçoes de Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald 2, o quais
afirmam que:

Todas as normas de Direito Privado – tanto o Código Civil (norma


geral) quanto as leis extravagantes específicas (normas especiais) –
estão cimentadas a partir da normatividade constitucional, devendo
obediência aos valores emanados da Carta Magna e, por isso,
fundamentadas em princípios de dignidade, solidariedade social,
igualdade substancial e liberdade (a tábua axiológica constitucional).

A dignidade da pessoa humana é efetivada através da proteção de direitos e garantias


fundamentais promovida pela Constituição Federal. Daí surge a ideia de um mínimo
existencial, o qual deve ser visto como a base e o alicerce da vida humana. Trata-se de um
direito fundamental e essencial, vinculado à Constituição Federal, e não necessita de Lei
para sua obtenção, tendo em vista que é inerente a todo ser humano.

A grande maioria dos direitos fundamentais depende de prestações positivas, exigindo


gastos financeiros por parte do Estado, que encontra restrições para a total efetivação
desses direitos na escassez de recursos do Estado.

Entretanto, não é possível deixar a mercê do Estado a decisão de implementar ou não ao


menos uma parcela mínima de cada direito fundamental social necessária para garantir a
vida digna de cada indivíduo, sob pena de atentar diretamente contra os direitos e garantias
constitucionais.

Esta parcela mínima dos direitos fundamentais é chamada Mínimo Existencial, que, no
entendimento de Rocha (2005, p. 445) foi criado “[...] para dar efetividade ao princípio da
possibilidade digna, ou da dignidade da pessoa humana possível, a ser garantido pela
sociedade e pelo Estado”.

Assim sendo, é à luz dos princípios da dignidade da pessoa humana e do mínimo existencial
que o Requerente requer a suspensão dos efeitos do protesto lançado indevidamente em
seu nome, até o cumprimento do plano de pagamento, proposto acima, para o
restabelecimento do seu crédito e o retorno de sua dignidade.

III – DOS PEDIDOS

Diante de todo o exposto acima, requerem os autores à V. Exa. que:

1 – Seja recebido e processado o presente pedido de repactuação de dívidas;

2
Curso de direito civil: parte geral e LINDB, volume 1 – 13. ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo: Atlas, 2015.
2 - A citação das empresas credoras para no prazo de 15 (quinze) dias, juntem documentos e
as razões da negativa de aceder ao plano voluntário ou de renegociar, nos termos do Art.
104-B, §2º do CDC;

3 - Seja designada audiência de conciliação para a tentativa de autocomposição das partes


para a solução da lide, nos termos do artigo 104-A do CDC com a presença de todos os
credores, e HOMOLOGAÇÃO do plano de pagamento formulado nesta peça e aceito por
todos os credores;

4 - Se não houver êxito na conciliação em relação a quaisquer credores, requer desde já seja
instaurado processo por superendividamento para revisão e integração dos contratos e
repactuação das dívidas remanescentes mediante plano judicial compulsório, nos termos do
Art. 104-B do CDC;

5 - Seja concedida medida de tutela de urgência de caráter antecipatório inaudita altera


pars, nos termos do art. 300 do Código de Processo Civil, para Suspender temporariamente
os efeitos do PROTESTO lançado indevidamente, pela Primeira Requerida, sob o Protocolo
56463, no Cartório de Protestos de Títulos de Buritis, até cumprimento do plano de
pagamento proposto no bojo desta peça, bem como, outros apontamentos designado pelos
demais credores.

6 - Seja julgada procedente a ação para confirmar em caráter definitivo a tutela de urgência
antecipatória cancelando os efeitos do protesto.

7 - Seja concedida a GRATUIDADE DE JUSTIÇA nos termos da Lei nº 1.060/50 e do art. 98 e


seguintes do CPC, tendo em vista que o Requerente é hipossuficientes financeiramente e
não possui condições de arcar com o pagamento de custas processuais e honorários
advocatícios, o que se constata dos documentos acostados que comprovam tal situação, e,
na remota hipótese de seu indeferimento, que permita o recolhimento das custas judiciais
ao final;

8 – Sejam a ré condenada ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios,


estes fixados em 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa;

9 – Seja produzida prova pericial, documental e oral, consistente no depoimento pessoal dos
autores.

Por derreadeiro, atribui-se à causa o valor de R$ 247.225,34, (Duzentos e quarenta e sete


mil, duzentos e vinte e cinco reais e trinta e quatro reais).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Porto Velho-RO, 26 de março de 2024.


PAULO TIMOTEO BATISTSA
OAB/RO 2437

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