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AO JUÍZO DA ___ VARA CÍVEL DA COMARCA DA CAPITAL, REGIONAL


DE CAMPO GRANDE - RJ

CELINA RICARDINA DOS SANTOS DE OLIVEIRA, brasileira, viúva, pensionista,


inscrita no RG nº 408177 MBRJ e no CPF nº 770.193.267-49, residente e domiciliado na
Avenida Joaquim Magalhães, nº 180, bloco 16, AP. 104, Senador Vasconcelos, Rio de
Janeiro – RJ, CEP 23012-120, não possui endereço eletrônico, vem por seus Advogados,
ADRIANO MACIEL DE SOUZA, brasileiro, casado, advogado, inscrito na OAB/RJ
229747,email:dradrianosouzadv@gmai.com ; BRUNA DA SILVA PEREIRA ,
brasileira, solteira ,advogada ,inscrita na OAB/RJ 230.592,
email:advbrunaspereira@gmail.com e Márcio Araújo de Jesus, brasileiro, casado,
advogado, inscrito na OAB/RJ 234788, email:marcio.araujo@adv.oabrj.org.br com
escritório profissional situado à Av. Expedicionário Jose Amaro nº554 Vila São Luís
Duque de Caxias-RJ, aos quais eu concedo os poderes das cláusulas “AD JUDICIA ET
EXTRA”, para promover a defesa de meus direitos e interesses junto a uma das Varas da
Justiça desta Comarca.

AÇÃO DECLARATÓRIA DE EXTINÇÃO DE CONTRATO c/c


RESTITUIÇÃO DE VALORES E PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

em face de ÚNICA CONSULTORIA EM GESTÃO EMPRESARIAL, inscrita


no CNPJ nº 19.491.137/0001-14, com sede na Avenida Presidente Vargas, nº 509, 10º
andar, Centro, Rio de Janeiro – RJ, CEP 20071-003, endereço eletrônico
apg.diretor@hotmail.com, pelas razões de fato e de direito que passa a expor.

1. DA JUSTIÇA GRATUITA

A Autora é pessoa que não tem recursos suficientes para pagar as custas, despesas
processuais e honorários advocatícios, sendo pessoa pobre na acepção jurídica do termo.
Assim, ela possui direito à gratuidade da justiça.
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De acordo com o art. 99, § 3º do CPC/15, “presume-se verdadeira a alegação de


insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural”. Ademais, também vale
ressaltar que, conforme o § 2º do art. 99 do CPC/15, ao Magistrado somente cabe indeferir
o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos legais
para a concessão de gratuidade.

Ademais, consta em anexo o contracheque atual da Autora, comprovando que


sua renda atualmente se encontra muito reduzida (R$1.180,14 líquidos), justamente
por causa do negócio jurídico ora questionado.

Assim, requer a concessão da gratuidade judiciária, também chamada de benefício


da justiça gratuita, com base nos artigos 98 e seguintes do CPC (Lei nº 13.105/15) e no
art. 5º, XXXV, LV e LXXIV da Constituição Federal e nos artigos 98 e seguintes da Lei
nº 13.105/15.

2. DA PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO

A Autora (68 anos) requer seja observada a regra contida na Lei nº 10.741/03 e art.
1.048, I, do CPC, que assegura a preferência na tramitação do feito aos idosos.

O autor nasceu em 1953, contando, portanto, com mais de 60 (sessenta) anos de


idade na propositura da presente.

Pelo exposto, requer seja concedida tramitação preferencial.

3. DOS FATOS

A Requerida integra grupo econômico (Grupo Uni) que tem por finalidade a prática
de golpes de empréstimo consignado, em esquema de pirâmide, estando, portanto,
coligadas para finalidade comum, tendo algumas delas sócios comuns.

A Autora celebrou com a Ré “INSTRUMENTO PARTICULAR DE ASSUNÇÃO


DE DÍVIDA E OUTRAS AVENÇAS”, no qual ficou convencionado que a Autora
entregaria à Ré o valor de R$ 84.717,52 (oitenta e quatro mil, setecentos e dezessete mil
reais e cinqüenta e dois centavos) para receber em retorno 72 parcelas mensais de R$
2.334,00 (dois mil trezentos e trinta e quatro reais), em sua conta corrente no banco
Bradesco.

Trata-se, portanto e substancialmente, de um contrato de mútuo.


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A Autora, iludida então pela promessa de grandes ganhos financeiros, foi levada a
autorizar que a Ré fizesse em seu nome empréstimo consignado junto ao Banco Pan, em
condições que ainda desconhece parcialmente, ficando a Autora incumbida de transferir
à Requerida o valor acima descrito, o que foi feito.

Inclusive, a Ré foi quem conduziu pessoalmente toda a operação financeira em


nome da Autora, que tão-somente autorizou o desbloqueio de sua margem consignável
junto à sua fonte pagadora (Marinha do Brasil), sem efetivamente participar da
negociação dos valores e condições acordados com o Banco Pan, nem sequer tendo
conhecimento prévio desses elementos, apenas anuindo a posteriori, quando recebeu
contato telefônico de um representante da Requerida.

Tudo na expectativa de que a Ré honrasse a obrigação por ela assumida.

Porém, após meses seguidos de atrasos no pagamento das parcelas, a Requerida


interrompeu por completo os pagamentos no mês de fevereiro de 2021, caindo assim
em inadimplemento absoluto, após o que a Autora teve notícias de que, na verdade, se
tratava de um golpe de pirâmide financeira, por meio do qual a Ré assediava
insistentemente aposentados e pensionistas para lhes “comprar a dívida” que estes
assumiriam junto à instituição financeira. O esquema tem sido aplicado a funcionários
públicos e seus pensionistas em grande escala, tendo sido objeto de recentes denúncias
no site Reclame aqui e em reportagem da Band News FM:
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Importante ressaltar que o mútuo acordado junto ao banco pela Ré corresponde a


mais de 66% do valor dos vencimentos da Autora, conforme contracheque em anexo,
o que implica violação do limite de 30% do vencimento bruto, mais que o dobro de sua
margem consignável, nos termos do artigo 1º, §1º da Lei 10.820/2003. Portanto, também
aqui não agiu a Ré no interesse da Autora, em violação de seus deveres de lealdade e
boa-fé.

A Requerida apresentou-se à Autora com vastos conhecimentos técnicos para


operar no mercado financeiro, dentro de um ambiente de negócios com ares de sério e
profissional, seduzindo a Autora para que esta aderisse ao plano de negócios, e receber
os valores mensalmente, garantindo que, caso houvesse alguma situação que
comprometesse o fim das operações ou o fechamento da empresa, seria realizada a
devolução do valor investido em até 48 horas, com o rendimento até ali computado.

Toda a operação estaria “supostamente” respaldada por uma apólice de


seguro sobre a qual recai forte suspeita, pois não se pôde apurar sua veracidade,
requerendo-se desde já ofício à seguradora Zurich Santander para esclarecimento quanto
à sua existência, validade e eficácia.

Dessa forma, resta evidente que a Autora foi ludibriada, tendo agido em erro
durante todo o tempo, por pensar que se tratava de uma empresa séria e lícita, sem
desconfiar de que se tratava, na verdade, de um esquema criminoso.

Cumpre dizer que o serviço oferecido pela Ré era uma armadilha para o
consumidor, porque inclusive o contrato não esclarece a finalidade do uso do dinheiro
pego da Autora. Apenas verbalmente foi-lhe dada a informação vaga de que se tratava de
um investimento, sem especificar em que seria investido o dinheiro, tão pouco o modo de
investir.

Entretanto, foi apurado em consulta à Comissão de Valores Mobiliários que


não há registro da Ré junto a este órgão regulador.
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Quando instou diretamente a Ré para que esta cumprisse o pactuado, a Autora foi
tratada com total descaso e negligência, mesmo diante da explanação do problema, que
atingiu de pronto sua alma. Foram meses e meses ligando, mandando mensagens. Foram
meses de inúmeras desculpas e prazos nunca cumpridos, meses de angústia e
aborrecimento, que se multiplicaram após a notícia de que a Ré não mais cumpriria suas
obrigações.

Recentemente, um homem que se dizia ex-empregado da Requerida fez contato


com a Autora para informar que aquela está em situação falimentar, encaminhando à
Autora áudios e prints que teria recebido de seu então chefe e sócio da Ré, Darlan
Rodrigues de Almeida. Nesse material (anexo1), Darlan “supostamente” informaria a seus
empregados que a empresa não tinha mais como pagar ninguém, nem funcionários, nem
clientes.

Os fatos são já públicos. A Requerida suspendeu os pagamentos, nem seus


empregados estão recebendo as devidas comissões, quanto mais os investidores. O site
do Grupo Uni (www.grupounibrasil.com), inclusive, se encontra fora do ar há dias, mais
uma evidência de que o golpe entrou em fase de retração, na qual os sócios buscam
ganhar tempo para evadir-se à Justiça, inclusive sugerindo aos clientes prejudicados os
meios pelos quais atuar para “supostamente” reaver seu dinheiro. Alguns destes supostos
ex-funcionários montaram grupos de internet de vítimas do Grupo Uni, talvez para
monitoramento das ações.

Desde que descobriu tratar-se de um esquema, a Autora vem sofrendo com a


possibilidade de não reaver seu dinheiro e de não conseguir se sustentar, pois não
consegue mais honrar o empréstimo junto ao banco. Tendo já caído inadimplente, a
Autora está passado por grave dificuldade financeira, ao ponto de ter hoje sua
segurança alimentar e a de sua família em risco.

No caso em discussão, vem a Autora requerer a extinção do vínculo contratual e a


restituição do valor pago à Ré, devidamente compensado, atualizado e com os juros
legais, com vistas ao retorno das partes ao status quo ante, em razão do descumprimento
dos deveres de lealdade e boa-fé por parte da Ré, bem como da obrigação assumida por
esta na cláusula 12 do instrumento, in verbis:
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12. A CESSIONÁRIA assume todos os encargos provenientes da


operação do empréstimo consignado incorridos até o integral
pagamento da dívida (...).

Desta forma, não se vislumbra alternativa à Requerente senão o socorro judicial, a


fim de ser ressarcida dos valores que transferiu de boa-fé à Ré e indenizada pelos danos
causados por esta.

4. DO DIREITO

4.1 DA APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Trata-se aqui de questões afeitas às relações de consumo, ao teor do artigo 101, I


do Código de Defesa do Consumidor (CDC), prevendo a possibilidade de propositura
desta demanda no domicílio da Requerente, porquanto reconhecidamente hipossuficiente.

Dispõe a Constituição Federal de 1988 (CRFB) em seu artigo 5º, inciso XXXII, que
“o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. A defesa de seus
direitos é, portanto, garantia constitucional, efetivada pela Lei 8.078, de 11 de setembro
de 1990, que regulamenta as formas de proteção do consumidor, com normas de ordem
pública e interesse social.

Entre os direitos básicos previstos no CDC está à garantia de reparação dos danos
patrimoniais e morais, o acesso à justiça e a inversão do ônus da prova em favor do
consumidor, nos termos do artigo 6º, incisos VI, VII e VIII, devendo estes serem
aplicados ao caso em tela.

Cumpre destacar, em relação ao art. 6º, VIII, do CDC, que o Requerente encontra-
se em nítida desvantagem em relação à Requerida, o que por si só autoriza a inversão do
onus probandi, uma vez que se trata de aplicação do direito básico do consumidor,
inerente à facilitação de sua defesa.

Sendo assim, inexistem maiores dificuldades em se concluir pela aplicabilidade do


referido Código, visto que este corpo de normas pretende aplicar-se a todas as relações
desenvolvidas no mercado brasileiro que envolvam um consumidor e um fornecedor.

Portanto, requer seja o caso analisado e julgado sob o prisma da relação de


consumo, deferindo-se ainda, em favor do Requerente, o benefício da inversão do ônus
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da prova consoante artigo 6º, VIII, do CDC, ante a manifesta hipossuficiência técnica e
financeira em relação às Requeridas.

Além disso, no referido estatuto consta, dentre outras garantias ao consumidor, a


vedação de práticas abusivas, tais como as que figuram no contrato ora em discussão:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre


outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de
11.6.1994)

I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao


fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa
causa, a limites quantitativos;
(...)

IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor,


tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição
social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;

Vê-se que tais garantias do consumidor foram, no caso em tela, violados, posto que
1) a prometida operação de “assunção de dívida” pela Ré estava condicionada à
contratação de mútuo feneratício junto ao banco Pan e 2) a Ré valeu-se da ingenuidade e
vulnerabilidade de senhora idosa, ignorante e com baixo grau de instrução.

Ademais, é cediço que as disposições contratuais sejam interpretadas em favor do


consumidor, na qualidade de pessoa vulnerável, assim como nulas de pleno direito são as
disposições que neguem ao consumidor a opção pelo reembolso, em casos previstos em
lei, transfiram a responsabilidade a terceiros, fixem obrigações iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada ou sejam incompatíveis com a boa-
fé e a equidade.

No caso em tela, é evidente a má-fé da parte Ré, que, aproveitando-se da


vulnerabilidade de idosos, sabia desde o início que não honraria com os compromissos
que assumiu, vide o já grande número de processos das empresas do Grupo Uni, o qual
integra.
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4.2. DO ERRO

Para a validade do negócio jurídico, é preciso que a natureza do


ato e o objeto correspondam à convicção de seus agentes. (Paulo
Nader, Curso de Direito Civil, Parte Geral, volume 1, 5ª edição.
Rio de Janeiro, Forense: 2008, p. 374)

Quando o agente, por desconhecimento ou falso conhecimento


das circunstâncias, age de um modo que não seria a sua vontade,
se conhecesse a verdadeira situação, diz-se que procede com
erro. (Caio Mário, Instituições de Direito Civil: teoria geral, p.
326)

No caso em análise, a Autora, pensando tratar-se de um negócio legítimo, sem


suspeitar de que na verdade era um golpe.

É, portanto, notório o vício de consentimento no presente caso, manifestamente


comprovado pela documentação apresentada, bem como pelas circunstâncias da
celebração do contrato e do contrato per se, uma vez que se soubesse que a Requerida ab
initio não tinha intenção de cumprir com sua parte do acordo, não teria a Autora aderido
aos termos.

Assim, autoriza o requerente a formular seu pedido com fundamento nos


art. 138 e 139, III do Código Civil:

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as


declarações de vontade emanarem de erro substancial que
poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face
das circunstâncias do negócio.

Art. 139. O erro é substancial quando:


(...)
III – interessa à natureza do negócio jurídico, ao objeto principal,
da declaração ou a alguma das qualidades a ele essenciais.

Trata-se o caso em questão de erro essencial da Requerente a realização do contrato


de mútuo feneratício com a Requerido, pois se o requerente tivesse exata representação
da realidade e soubesse das circunstâncias de má-fé pela não intenção desde o início do
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pagamento não teria realizado tal negócio jurídico e demonstrando sua vontade em
realizá-lo.

Diz a doutrina, ainda, que o erro deve ser escusável, ou seja, que a falsa
representação possa recair sobre qualquer pessoa de normal diligência. Ora, dada a
circunstância, quis a Requerente acreditar na boa-fé da Requerida, confiando na palavra
de seu representante de que faria os pagamentos mensal e pontualmente à Autora, de
forma a cobrir o empréstimo que a própria Ré fez em nome desta junto a instituição
financeira.

Assim, claro está que houve erro por parte da Requerente, indubitavelmente
provocado pelo dolo manifestado pela Ré.

4.3. DO DOLO

Na definição clássica de Clóvis Beviláqua:

Dolo é artifício ou expediente astucioso, empregado para induzir


alguém à prática de um ato jurídico, que o prejudica,
aproveitando ao autor do dolo ou a terceiro.

No caso em discussão, verifica-se que a Autora foi vítima de um golpe de pirâmide


financeira praticado pela Ré, que tomou proveito da falta de conhecimento e da idade
avançada da Requerente, que, diante dos constantes assédios daquela, formou sua vontade
com base em elementos enganosos, eis que a Ré sustenta esquema criminoso profissional
que visa justamente a enganar pessoas de boa vontade que, assim, pensam estar a aderir
a um negócio jurídico lícito.

Estão, portanto, presentes os elementos do dolo

No entanto, os fatos provam que se tratava de um engodo

4.4. DA RESOLUÇÃO DO CONTRATO POR INADIMPLEMENTO DA RÉ

A figura jurídica da resolução de contrato liga-se ao inadimplemento de uma das


contratantes. Nos termos do artigo 475 do Código Civil, tem-se que

Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a


resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento,
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cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e


danos.

Aqui a Autora requer a declaração de extinção do contrato e a restituição do valor


por ela pago, em conseqüência de ter o devedor faltado ao cumprimento da sua obrigação.
Primeiramente com seguidos atrasos dos pagamentos aos quais se obrigara, e mais
recentemente pela sua completa interrupção, com fortes indícios de que não mais os
honrará, conforme anexos.

De acordo com Caio Mário da Silva Pereira,

deixando o contratante de cumprir a obrigação na forma e no


tempo ajustado, resolve-se o contrato automaticamente, sem
necessidade de interpelação do faltoso. É um efeito da “mora ex
re” nas obrigações líquidas a prazo certo, que vem operar a
resolução e ainda sujeitar o inadimplente às perdas e danos.
(Instituições de direito civil. Rio de Janeiro: Forense, 2012, cit.,
pag. 134.)

Nesse mesmo sentido, dispõe o Código Civil que

Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o


pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar
e forma que a lei ou a convenção estabelecer.

Conforme o ajuste contratual, a Ré pagaria mensalmente o valor equivalente às


parcelas do empréstimo que ela fez em nome da Autora junto ao Banco Pan, o que não é
feito desde fevereiro de 2021.

Resta, portanto, configurada a mora do devedor (Ré), ensejando que o credor, ora
Autor, requeira a resolução, com restituição de valores e perdas e danos.

Nesse particular, cumpre ressaltar que o Código Civil enuncia que o patrimônio do
devedor servirá como garantia do credor:

Art. 391. Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos


os bens do devedor.

Dessa forma, requer-se desde já o bloqueio judicial das contas, dos bens e dos
valores da Ré e de seus sócios, ou a reserva destes, caso já estejam bloqueados, EM
CARÁTER DE URGÊNCIA, a fim de garantir a restituição do valor entregue a ela pela
Autora.
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4.3 DA VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA

A boa-fé objetiva é princípio basilar do direito civil e do consumidor, segundo o


qual as partes possuem o dever de agir com base em valores éticos e morais da
sociedade. Desse comportamento, decorrem outros deveres anexos à obrigação principal,
como lealdade, transparência e colaboração, a serem observados em todas as fases do
contrato.

Inicialmente, frisa-se que o Requerente não recebeu os rendimentos prometidos e


teve o conhecimento de se tratar de esquema criminoso de pirâmide financeira cujos
lucros sem dúvida apenas aproveitam aos seus criadores.

Sendo assim, segundo o artigo 46 do CDC, os contratos de consumo não obrigarão


os consumidores se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de
seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a
compressão de seu sentido e alcance.

No caso dos autos, o serviço da Requerida era oferecido convencendo os


participantes/clientes/investidores de que receberiam fantásticos rendimentos. Ou seja,
dada a ocorrência de vício do consentimento diante da ilusão provocada nos
consumidores, foi a parte requerente induzida em erro, aderindo a proposta, contratando
plano de investimento, que na realidade ocultava prática ilícita (pirâmide financeira), e
que atualmente sequer paga os valores prometidos.

Portanto, resta claro que o desfazimento do negócio é um direito e um fato a ser


declarado por este Douto Juízo, seja pela nulidade do negócio jurídico, como pelo seu
inadimplemento.

Dessa forma, rescisão ou resolução, qualquer que seja o entendimento de Vossa


Excelência, a conseqüência principal deverá ser o retorno das partes ao estado anterior
à contratação, com a restituição do valor entregue pela Autora, devidamente
compensado, corrigido e acrescido de juros legais.

Quanto ao valor a ser devolvido pela Requerida, além daqueles pagos pelo
Requerente, há os lucros pela perda de uma chance.

Nesse diapasão, é altamente ilustrativo transcrever a inteligência do art. 402 do


Código Civil:
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salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e


danos devidos ao credor abrangem, além do que ele
efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de ganhar.

Outrossim, nos termos do art. 35, inciso I, do CDC, c/c art. 247, do Código Civil, é
dever da empresa cumprir a oferta veiculada e realizar o pagamento da quantia prometido,
isto é, o pagamento dos retornos financeiros prometidos.

Cumpre destacar que o contrato de aquisição de plano de investimentos é


considerado como de adesão, já que não foi ofertado à Requerente a possibilidade de
conhecimento amplo e claro de todas as cláusulas, tão pouco discuti-las.

Assim, é nítida afronta ao artigo 39, IV do CDC, permitindo a rescisão do contrato,


com a restituição integral do valor pago, corrigido e acrescido de juros, impedindo-se
lesão patrimonial à consumidora, o que desde já se requer.

5. DANO MORAL – RESPONSABILIDADE OBJETIVA

A conduta da Requerida submeteu a Requerente a enorme aborrecimento,


humilhação e constrangimento, pois foi incentivada através de falsas promessas, a
comprar planos de investimentos com todas as suas economias acumuladas durante anos,
em fundos não autorizados pela CVM.

Sabe-se que a Constituição garante a reparação dos prejuízos morais e materiais


causados ao ser humano, assegurando o direito da preservação da dignidade humana, da
intimidade e da intangibilidade dos direitos da personalidade.

O CDC, por seu turno, também contempla a indenização por dano moral, nos
incisos VI e VII, do artigo 6º, in verbis:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas
à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica,
administrativa e técnica aos necessitados;
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Ademais, a norma consumerista estatui que a responsabilidade por falha na


prestação dos serviços é objetiva, in verbis:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.

No mesmo sentido, os artigos 186, 187 e 927 do Código Civil, determinam que
aquele que por ação voluntária violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, ficará obrigado a repará-lo.

Art. 186 – Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927 – Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar
dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

A conduta da Ré causou muito mais do que transtornos financeiros à cliente,


trouxeram-lhe angústia, dissabor, frustração, sensação de impotência e desrespeito,
desgaste físico e emocional. Com o advento da Constituição da República Federativa do
Brasil de 1998, a aceitação pela reparação do dano moral se consagrou, de forma irrestrita
e abrangente, sendo alçado este direito à categoria de garantia fundamental, e considerada
como cláusula pétrea, portanto, imutável.

Insta destacar ainda que o STJ cancelou a súmula 75, derrubando qualquer
possibilidade de entendimento de mero aborrecimento, através de decisão proferida
no processo º 0056716- 18.2018.8.19.0000.

Importante destacar ainda que no dano moral não há necessidade de se provar o


prejuízo operado em razão do fato lesivo (in re ipsa), pois provada a ofensa, o dano moral
será uma presunção natural decorrente das regras de experiência comum.

Consigna-se que a reparação por dano moral tem um cunho punitivo e deve ser
imposta quando o comportamento do ofensor se revela reprovável, como é o caso dos
autos.
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Para a fixação da verba, deve-se ter em mente a finalidade de estimular o ofensor a


pautar-se dentro de paradigmas que melhor atendam o interesse do ofendido, atentando-
se para a gravidade do ato ilícito e suas conseqüências, sem perder de vista o caráter
pedagógico da verba reparatória, sempre com o objetivo de demonstrar, tanto para o
lesante como para a sociedade, que não se tolerará tal comportamento nem tampouco o
evento dele decorrente.

Ora, fatos aqui narrados certamente fogem à normalidade dos fatos, causando
desgaste emocional e aborrecimentos acima do que razoavelmente se espera de um
descumprimento contratual, interferindo de forma intensa e duradoura no equilíbrio
psicológico da demandante.

A sensação de impotência, a sensação de estar sendo continuamente ludibriada, a


frustração pelas inúmeras promessas não cumpridas, o medo de ter a vida destruída pelo
não comprometimento da segunda Ré inundaram a mente, a alma, o coração e corpo físico
da requerente que acabou tendo uma crise nervosa.

Dessa forma, as esferas patrimonial e emocional foram plenamente atingidas, sendo


que os efeitos do ato ilícito praticado pelos requeridos alcançaram a vida íntima da
requerente, que viu quebrada a sua paz.

A indenização dos danos morais deve representar punição forte e efetiva, bem
como, remédio para desestimular a prática de atos ilícitos, determinando, não só à
requerida, mas para os prestadores de serviços, fornecedores de produtos, distribuidores...

Desta feita, nos termos da fundamentação acima, requer a condenação da Requerida


ao pagamento de indenização pelos danos morais suportados pela Requerente. Constatado
o ato do agente e o nexo de causalidade, resta perquirir a extensão do prejuízo, não para
garantir o recebimento da indenização, mas para que o valor seja arbitrado com
fundamento no artigo 944 do Código Civil.

No que concerne ao quantum, deve ser levado em conta os seguintes parâmetros,


aceitos tanto pela doutrina quanto pela jurisprudência:

a) a posição social e econômica das partes;


b) a intensidade do dolo ou o grau de culpa do agente;
c) a repercussão social da ofensa; e,
d) o aspecto punitivo-retributivo da medida.
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Nesse sentido, o montante não pode ser irrisório, a ponto de menosprezar a dor
sofrida pelo Requerente, que foi iludido por falsas promessas e está privado dos seus
recursos financeiros.

Além disso, a Requeridas ignorou os deveres de lealdade e boa-fé e todos os demais


princípios aos quais deviam obrigação, constrangendo o consumidor em evidente
necessidade financeira ao não ressarcir, pelo menos, os valores investidos, motivo pelo
qual o valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) se mostra justo e adequado a ser fixado a
título de danos morais.

6. DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

Restou comprovado que a Ré participa de grupo econômico (Grupo Uni Brasil) que
têm por finalidade a arrecadação de recursos financeiros para esquema de pirâmide
financeira. Finalidade ilícita em razão da qual se requer a desconsideração da
personalidade jurídica da Ré, com fundamento no Código de Defesa do Consumidor:

Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da


sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso
de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou
violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração
também será efetivada quando houver falência, estado de
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica
provocados por má administração.
(...)
§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as
sociedades controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas
obrigações decorrentes deste código.
(...)
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica
sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo
ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.

É notório que além dos ilícitos civis já enumerados (principalmente o dolo), a Ré


também adota comportamento condizente com tipo penal inscrito na Lei 1.521/1951 (Lei
dos crimes contra a economia popular), que assim dispõe:

Art. 2º. São crimes desta natureza:


(...)
IX - obter ou tentar obter ganhos ilícitos em detrimento do povo
ou de número indeterminado de pessoas mediante especulações
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ou processos fraudulentos ("bola de neve", "cadeias",


"pichardismo" e quaisquer outros equivalentes);

Dessa forma, estão configurados os requisitos para a desconsideração da


personalidade jurídica, em sede de medida cautelar de urgência, a fim de salvaguardar o
resultado útil do processo.

7. DA NECESSIDADE DA TUTELA DE URGÊNCIA CAUTELAR

A concessão da tutela de urgência depende do preenchimento de três requisitos: a)


existência de elementos que evidenciem a probabilidade do direito; b) perigo de dano ou
o risco ao resultado útil do processo; e c) ausência de perigo de irreversibilidade do
provimento antecipado (CPC, art. 300, caput, e § 3º).

No caso em tela, os documentos que acompanham a presente inicial comprovam


que a atividade desenvolvida pela Requerida é um esquema criminoso, do qual a
Requerente foi vítima.

Diante desse quadro, urge que se assegure o resultado útil do processo, eis que é
praxe das pirâmides financeiras que o patrimônio, a empresa e seus dirigentes,
desapareçam após locupletar-se às expensas de suas vítimas.

No caso em análise, os requisitos estão completamente demonstrados, eis que o


inadimplemento da Ré implica necessariamente a subsistência da Autora, que já caiu
inadimplente perante o Banco Pan, porque não pode honrar o empréstimo junto a este por
questão de SEGURANÇA ALIMENTAR, principalmente em razão dos gastos que tem
com suas netas de 8 e 10 anos.

Todos esses fatores levam a conclusão que a pirâmide está ruindo, o esquema
ardiloso encontra-se no limite, e de uma hora para outra o patrimônio dos gestores com
certeza poderá estar indisponível para responder civil e criminalmente pelos atos
praticados.

Diante desse quadro temerário, necessário deferimento de tutela de urgência no


sentido de deferir o bloqueio via Sisbajud, RENAJUD, SREI, NAVEJUD e qualquer
outro sistema, no montante de R$ 150.000,00 ou bens de valor aproximado, para a
garantia do ressarcimento e indenização da Autora.
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Por fim, cumpre destacar que a medida pleiteada não é irreversível, porquanto, em
caso de improcedência do pedido requerido ao final da demanda, é viável, faticamente, o
desbloqueio do valor. Portanto, plenamente cabível a medida liminar. É o que se requer.

8. DOS PEDIDOS

Ante o exposto, REQUER:

a) Seja reconhecida no caso aqui apreciado a relação de consumo, com a aplicação


do Código de Defesa do Consumidor e a inversão do ônus da prova em favor da Autora,
na qualidade de vulnerável;

b) Sejam concedidos os benefícios da Justiça Gratuita e da prioridade de tramitação


para idoso;

c) Seja determinada a desconsideração da personalidade jurídica da Requerida para


que se alcance o patrimônio de seus sócios;

d) Seja concedida a tutela de urgência cautelar, inaudita altera pars, para


determinar o bloqueio de contas, bens e valores pertencentes à Ré e dos seus sócios via
Sisbajud, RENAJUD, SREI, NAVEJUD e qualquer outro sistema que o Juízo entenda
aplicável, na quantia de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais) ou a reserva deste
valor em contas, bens e valores que eventualmente já se encontrem sob bloqueio judicial,
a fim de garantir o resultado útil da presente demanda;

e) A citação da Requerida para, querendo, apresentar resposta, sob pena de


confissão quanto aos fatos e revelia;

f) a expedição de ofício à seguradora Zurich Santander Brasil Seguros S/A para que
esclareça sobre a existência, validade e eficácia da suposta apólice que consta do contrato
ora em discussão (nº 0011235117004);

g) No mérito, requer a procedência total dos pedidos para declarar o desfazimento


do negócio jurídico, condenando a Requerida à devolução do valor pago pela
Requerente, devidamente compensado, corrigido e com os juros legais, tudo a ser apurado
em liquidação de sentença;

h) A condenação da Requerida ao pagamento de R$ 30.000,00 (trinta mil reais) a


título de danos morais;
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i) A dispensa da audiência de conciliação e mediação;

j) Condenar a Requerida ao pagamento de custas e despesas processuais, bem como


de honorários advocatícios, estes em 20% sobre o valor da condenação, consoante o art.
85 do CPC;

l) Protesta provar o alegado, através de todos os meios de provas em direito


admitidos;

m) Que as futuras intimações e notificações sejam todas feitas em nome dos


advogados subscritores, nos endereços eletrônicos marcio.araujo@adv.oabrj.org.br ,
dradrianosouzadv@gmail.com e advbrunaspereira@gmail.com, sob pena de nulidade.

Dá-se à causa o valor de R$ 180,000,00, nos termos do artigo 292, § 2º do CPC.

Termos em que
Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 21 de maio de 2021.

Adriano Maciel de Souza


OAB/RJ 229.747

Bruna da Silva Pereira


OAB/RJ 230.592

Márcio Araújo de Jesus


OAB/RJ 234.788

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