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Anacleto Brandão e Carlos Ferraz – Advogados.

Escritório à Oscar Soares, 922, B, Califórnia, Nova Iguaçu -


RJ, CEP 26.220-099. Telefones: . (21) 3589-4155 / (21) 96861-5084. E-mail:
chenriqueferraz@bol.com.br e anacletoadvogado@hotmail.com

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DO ____ JUIZADO ESPECIAL


CÍVEL DA COMARCA DE NOVA IGUAÇU / MESQUITA – RJ

SAMUEL VITOR SILVA RIBEIRO, brasileiro, solteiro, vendedor


autônomo, portador da carteira de identidade nº 27061816-8, DIC – RJ, CPF
144.167.917-04, residente e domiciliado à Rua Humberto Miranda, nº 30, fundos,
Inconfidência, Nova Iguaçu - RJ – CEP 26085-010, por seu advogado, vem propor

AÇÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

em face de UNICK SOCIEDADE DE INVESTIMENTOS LTDA., pessoa jurídica de


direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o nº 19.047.764/0001-60, estabelecida à
Rua Vinte e Cinco de Julho, 1037, Rio Branco, Novo Hamburgo – RS, CEP: 93.310-
251, pelos fatos e fundamentos que passa a expor.

DOS FATOS
1. Como sabem os operadores do direito, o “Esquema Ponzi” ou Pirâmide
Financeira, é um modelo comercial, infelizmente, muito usado em fraudes,
notadamente em momentos de crise financeira – contexto em que os
consumidores em geral estão preocupados em garantir sua sobrevivência e
de sua família e aumentar ganhos de investimentos;
2. Momentos de crise econômica, é verdade, propiciam a alguns empresários
mal intencionados condições de arrecadar valores de pessoas comuns com
falsas promessas de grandes lucros, notadamente porque induz o consumidor
desavisado a trazer outras pessoas para a pirâmide gerenciada e criada para
ludibriar o “investidor”;
3. Deve ser dito que o aludido modelo é uma grande fraude contra os
consumidores envolvidos, porque, se todos eles decidirem retirar o dinheiro
investido ao mesmo tempo, a pirâmide desaba como um castelo de areia;
O caso em exame é um exemplo típico do que foi dito e nesse sentido a parte
autora busca o provimento jurisdicional a fim de salvaguardar seus direitos e ser
indenizado pelos danos materiais e morais impingidos pela parte ré;
4. O Autor foi atraído para o esquema elaborado e gerenciado pela empresa ré,
e, entre os meses de abril e julho de 2019, pagou ao Réu o total de R$
4.897,47 (quatro mil, oitocentos e noventa e sete reais e quarenta e sete
centavos) já abatido o montante que resgatou (no importe de R$ 492,53 -
quatrocentos se noventa e dois reais e cinquenta e três centavos), conforme
os documentos anexados;
5. Ocorre que o Autor tomou conhecimento pela mídia que haveria sérios
problemas com a Demandada e seus sócios, inclusive envolvendo questões
criminais, ao que contatou os responsáveis daquela com objetivo de receber
o que pagara de volta e evitar, assim, o ajuizamento da presente ação.
Entretanto, de forma direta e até grosseira, o preposto da Ré “informou” que
só seria possível devolver pouco menos de 20% do valor entregue;
6. Infelizmente, não adiantaram as diversas tentativas administrativas do Autor
para resolver o problema de forma conciliada, inclusive porque o Réu
demonstra não ter interesse em resolver o problema, dando mostras de que
trata-se, sim, de fraude contra o Autor;
7. Ademais, vale dizer que a promessa da Ré - feita por ocasião da contratação
entre as partes - era no sentido de devolver integralmente tudo que visse a
ser pago, acrescido da remuneração devida, e, que, como se sabe, até as
promessas feitas verbalmente integram o contrato;
8. Trata-se de fato do serviço, engodo ao consumidor – na medida em que a Ré
se aproveita da hipossuficiência daquele –, falta de resposta e solução
adequada às fundadas reclamações do Autor, prejuízo material relevante,
desvio de tempo produtivo, abalo da tranquilidade do lar do Demandante,
além de vivenciar o Autor um incômodo sentimento de impotência, mediante o
fato de ter sido literalmente ludibriado;
Destarte, estão demonstrados o vício e o nexo de causalidade, bem como
constrangimentos e situações vexatórias impingidos à parte autora - o que sugere a
necessidade de provimento jurisdicional, porquanto, invés de resolver prontamente o
grave problema, a Ré optou por aumentar os danos diretos e reflexos aos direitos da
parte autora.

DO DIREITO
Corroboram os direitos da parte autora as garantias dispostas no Art. 6º, do
CDC, in verbis:
São direitos básicos do consumidor:
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes
produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade e preço, bem como
sobre os riscos que apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva,
métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra
práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de
produtos e serviços;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências.

Ainda, os comandos dispostos nos artigos 927, 186 e 187 do CÓDIGO CIVIL
BRASILEIRO, baseiam a intenção da parte autora, no que tange à reparação pelos
danos de ordem material e moral perpetrados pela Ré.
Note-se que a situação enfrentada pelo ora Demandante é exatamente o
oposto de sua pretensão e da expectativa criada ao contratar com a Ré.
Como se sabe, incumbe a qualquer fornecedor de produtos ou serviços
oferecer atenção e qualidade, inclusive no pós-venda.
O vício, ou a deliberada omissão em relação aos serviços que devem ser
prestados no pós-venda constituem ausência de boa-fé objetiva, para além do mero
inadimplemento contratual. Isto porque, no caso em exame, a parte autora sente-se
enganada e frustrada em suas legítimas expectativas, além de ter a tranquilidade de
seu lar e sua vida afetadas por culpa exclusiva da ré, repise-se.
O crédito do Autor já era existente por ocasião do ato fraudulento, posto que
originários de depósitos feitos por aquela, ressaltando-se que o Demandante
esgotou as tentativas amigáveis de seu receber os valores que entregou.
Precioso é o ensinamento de Tavares Paes, quando diz, in verbis:
Hodiernamente não há mais necessidade de que exista o
animus nocendi em sua inteireza, aquela intenção precípua de
desviar bens à execução. Segundo Alvino Lima, basta que o
devedor tenha agido consciente que seu ato será prejudicial
aos seus credores, sendo suficiente uma previsão de dano.
Desta forma, não é necessário que o ato fraudulento decorra
de uma intenção de lesar os credores, de uma direção
específica da vontade do devedor prejudicá-los; é suficiente a
simples scientia damni por parte do devedor. (A fraude,
Tavares Paes, Ed. R, pg. 41).

Fica evidenciado, então, que até a duvidosa argumentação de que não havia
intenção de ludibriar o Autor, como chegou a dizer um dos prepostos do Réu, com
objetivo aparente de descaracterizar a responsabilidade deste, é carente de
qualquer fundamentação jurídica.

DESVIO PRODUTIVO
Ensina o professor Marcos Dessaune: "o tempo de que cada indivíduo dispõe
na vida, caracterizado pela escassez, inacumulabilidade e irrecuperabilidade, é
recurso produtivo primordial e inviolável” (texto disponível em
http://revistavisaojuridica.uol.com.br/advogados-leis-jurisprudencia/71/artigo25534 6-.
asp.).
Assim, o desperdício injusto desse tempo pessoal, quando provocado pelo
fornecedor
Sendo o dano por desvio produtivo uma construção doutrinária e
jurisprudencial recente, cabe ressaltar que a tutela do tempo pessoal, útil, livre ou
produtivo das pessoas encontra fundamento no art. 126 do Código de Processo
Civil, que fixa:
O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando
lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á
aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia,
aos costumes e aos princípios gerais de direito.

Aliado a isso, como se sabe, doutrina e jurisprudência são importantes fontes


do Direito, principalmente porque são responsáveis diretas pela atualização do
ordenamento jurídico e pela diminuição da distância entre a realidade concreta e o
direito positivado.
Assim, fiando- se na jurisprudência, na doutrina, na "cláusula geral de dano
injusto" (insculpida no art. 927, do Código civil de 2002), ou aplicando-se o princípio
constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/1988), há
necessidade de se reconhecer e condenar o mau fornecedor – e este é o caso - a
indenizar o consumidor que sofreu, também, um relevante e socialmente pernicioso
dano de desperdício do seu irrecuperável tempo de vida.

DOS PEDIDOS
Ante ao exposto, requer a V. Excelência que se digne a:
1. Citar o réu para resposta em audiência, sob pena de revelia;
2. Condenar o Réu a efetuar o pagamento, a título de reparação por
dano moral suportado pela Autora, no valor de R$ 18.000,00;
3. Condenar o Réu a devolver em dobro e com juros os valores
desembolsados pela parte autora, na medida em que está evidenciada
a ausência de boa-fé objetiva por parte do |demandado;
4. Inversão do ônus da prova, com fulcro no art.6º, VIII do CDC;
5. Seja dada ciência ao Ministério Público, pois há informação de que os
relatos constantes nesta exordial têm vitimado diversos clientes – o
que caracteriza crime contra as relações consumeristas, na forma do
artigo 67 Código de Defesa do Consumidor;
6. Finalmente, requer a produção de provas permitidas pela legislação
pátria, especialmente o depoimento pessoal do réu, por seus
representantes legais.

Dá-se à causa o valor de R$ 37.480,00.

Termos em que
P. Deferimento.

Nova Iguaçu, 17 de outubro de abril de 2019.

Anacleto Dionizio Brandão


OAB/RJ 147.285.

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