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ILUSTRÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO

BRASIL – SUBSEÇÃO DE CRICIÚMA/SC

Representação n. 1122/2019

RUI BASTOS, já qualificado nos autos da REPRESENTAÇÃO de n.


1122/2019, em que figura como representante JOÃO PAULO DA SILVA, com
suporte jurídico no art. 73, §1º, da Lei n. 8.906/94 e no art. 59, caput, do Código de
Ética e Disciplina da OAB, vem apresentar DEFESA PRÉVIA, na forma como passa
a expor.

I - DA REPRESENTAÇÃO

FRANCISCO DA SILVA requisitou os serviços advocatícios de RUI


BASTOS para ajuizamento de Ação de Reconhecimento de Direito, para se buscar o
direito à aposentadoria especial por ex-combatente. Após uma minuciosa análise ao
caso, RUI BASTOS entendeu que seu cliente tinha direito ao benefício de R$
12.000,00, sendo ajuizada a ação de conhecimento na Justiça Federal de Criciúma/SC,
om condenação da UNIÃO ao pagamento das verbas atrasadas no montante de R$
950.000,00, além dos honorários de sucumbência de 20% (vinte por cento) do valor a
ser recebido pelo segurado.

Esgotadas as fases recursais, em sede de cumprimento de sentença, houve o


pagamento do valor da ação, que atualizado atingia 1.000.000,00, bem como o valor dos
honorários de 200.000,00.

Através de uma procuração com poderes especiais, o representado Rui


Bastos realizou o saque do valor total de 1.200.000,00, com o repasse da quantia de R$
600.000,00 ao seu cliente, dispondo assim, do valor de honorários contratuais e
sucumbenciais no montante de R$ 600.000,00.

Após o recebimento dos valores, a pessoa de JOÃO PAULO DA SILVA


procura o escritório do representado para questionar os valores recebidos pelo seu
genitor, por entender que pagos a menor do que o estipulado na sentença.
Mesmo com a explicação de que os descontos acerca dos honorários
estavam corretos, a pessoa de JOÃO PAULO DA SILVA procura a OAB de
Criciúma/SC, para que fosse instaurado processo ético-disciplinar em desfavor do
advogado, por locupletamento ilícito às custas de seu pai, sob os seguintes argumentos:
a) que seu pai era analfabeto; b) que não tinha ciência do contrato que assinou; c) má-fé
do advogado ao estabelecer valor de honorários tão elevados; d) que o advogado não
poderia ter recebido o alvará judicial; e) que seu pai foi prejudicado porque recebeu
apenas 60% (sessenta por cento) do valor da condenação.

Referida representação foi instaurada pela OAB, com a posterior


admissibilidade e nomeação de Conselheiro Relator, que determinou a notificação do
representado para apresentação de defesa e requerimento de provas.

II – DA DEFESA

- PRELIMINARMENTE. ILEGITIMIDADE DO REPRESENTANTE.

- PRELIMINARMENTE. AUSÊNCIA DE INTERESSE DE AGIR.


CLIENTE QUE CONCORDOU COM OS VALORES COBRADOS.

Mesmo que o cliente não tenha interesse na representação, questiona-se


se a OAB deve ou não prosseguir na representação. No caso, não se trata de
representação ex officio. A desistência da representação por parte do
representante, impede a apuração das infrações por parte da OAB?

2.1 DO AFASTAMENTO DOS ARGUMENTOS TRAZIDOS NA


REPRESENTAÇÃO

Primeiro, restou aventado na representação que se tratava de pessoa


analfabeta. Não obstante, trata-se de ex-militar das Forças Armadas, o que, por si só, já
demonstra a impossibilidade de se tratar de pessoa sem qualquer alfabetização, com
com conhecimentos mínimos de cidadania. Além do mais, na própria inicial restou
acostada a CNH, mesmo que vencida, o que confirma que sempre possuiu habilitação
para dirigir.
Por outro lado, mesmo que analfabeto, não há exigência legal de
instrumento público, sendo possível a outorga de instrumento de mandato particular,
conforme posicionamento do CNJ (Resolução n. , art.). Além do que o art. 595 do
Código Civil também não exige instrumento particular de mandato para analfabetos.

Segundo, argumenta-se que assinou um contrato de honorários sem


conhecimento do que se tratava. Porém, não há qualquer indicativo de que não tinha
ciência das cláusulas contratuais, até porque o cliente estava na posse de uma cópia do
contrato desde à época da contratação do advogado (ora representado).

Terceiro, argumenta-se que a contratação dos honorários se deu com


extrema má-fé, por ser considerado como valor abusivo e elevado para o tipo de
contratação.

Entretanto, não se trata de valor abusivo.

A uma, porque o advogado pode estabelecer valor de honorários contratuais


de forma a remunerar de forma digna o trabalho a ser desenvolvido.

Não há critérios de limitação para a hipótese de quota litis, salvo a previsão


do art. 50 do Código de Ética e Disciplina da OAB, que determina que o advogado não
possa receber valor superior ao do seu constituído.

Art. 50. (...).

A duas, porque o art. 38 do Código de Ética e Disciplina da OAB/95,


vigente à época da contratação, estabelecia que o advogado poderia receber valor
equivalente e não superior a 50%, não contemplando o valor de sucumbência.

A três, tem-se que no caso, mesmo que acrescido o valor de sucumbência, o


valor não foi superior ao valor de 50%.

No caso, trata-se de atuação extremamente relevante, consoante preceituado


pelo art. 49 do Código de Ética e Disciplina da OAB:

Art. 49. Incisos.

A quatro, porque as regras do art. 85 do CPC que tratam de honorários


advocatícios (10% a 20%) são específicas para honorários de sucumbência, não se
aplicando aos honorários contratuais, o que também é confirmado pelo art. 23 do E.
OAB.

A cinco, a tabela de honorários da OAB estabelece critérios mínimos, mas


não trata do caso específico.

Quarto, alegou-se na representação de que o advogado não poderia ter


recebido o alvará judicial. Porém, o representado tinha poderes especiais para tal
finalidade, conforme instrumento em anexo. Não se exige instrumento público para
outorga de poderes relacionados a alvará judicial por parte do patrono.

Quinto, restou alegado prejuízo ao constituinte, requerendo-se a devolução


dos valores. Entretanto, não houve qualquer prejuízo ao cliente, que recebeu 60% do
valor da condenação, equivalente a 600.000,00 (seiscentos mil reais), sendo que o
advogado tinha procuração e contrato específico para recebimento dos valores, não
ficando com qualquer quantia que seria indevida ou ilícita.

Tratando-se do representado, o mesmo procurou este a quem acusam por


infração ética e disciplinar, com intuito de alcançar o benefício de reconhecimento do
direito de aposentadoria especial em virtude de se tratar de um ex-combatente.

No entanto, alcançar este benefício exigiria muito trabalho e dedicação de


Rui Bastos, deste modo, Rui ofereceu um contrato de serviço para o senhor Francisco da
Silva em que continha uma clausula discorrendo a respeito do VALOR DA CAUSA no
qual, obtendo o ganho da causa receberia o equivalente a 40% do valor, mais os
honorários sucumbenciais.

Bem como, continha uma procuração dando poderes especiais para que
efetuasse o saque do valor total da causa para o seu cliente.

Consequentemente, ambos acordaram e deram prosseguimento com a causa.


No entanto, como já esperado pelo acusado, não seria uma causa de fácil ganho. Rui
teve sua causa indeferida várias vezes, mas, incansavelmente lutou até que obtivesse a
sua vitória.

Todavia, isso decorreu de muito sustentação oral nos tribunais, inclusive,


levou o caso do senhor Francisco para que o STJ desse um novo entendimento, pois, até
o momento entendiam que este benefício era válido somente a aqueles que participaram
das operações bélicas, tratando-se o representado apenas de um dedicado à vigilância e
patrulhamento.

Não obstante, todas essas sustentações, meses de dedicações, como as


viagens a Brasília e em outros tribunais, foram custeadas pelo escritório jurídico do
acusado Rui Bastos. Não esquecendo dos trabalhos importantes que Rui recusou para
que pudesse tratar com respeito e trazer a satisfação da causa ao seu cliente Francisco.

Contudo, Rui alcançou a vitória em sua causa obtendo para seu cliente um
valor final com as correções de R$ 1.000.000,00 de reais, de modo que como acordado
receberia deste montante o equivalente a 40%, ou seja, R$ 400.000,00. Somados aos
horários sucumbenciais estipulados pelo juiz, Rui Bastos recebeu o valor total de R$
600.000,00.

2.1 – DA INFRAÇÃO ÉTICA DO ART. 49 DO CÓDIGO DE ÉTICA E


DISCIPLINA DA OAB

Excelência, em resposta a primeira tese de acusação, baseada neste artigo,


conforme segue:

Art. 49. Os honorários profissionais devem ser fixados com moderação,


atendidos os elementos seguintes:
I - a relevância, o vulto, a complexidade e a dificuldade das questões
versadas;
II - o trabalho e o tempo a ser empregados;
III - a possibilidade de ficar o advogado impedido de intervir em outros
casos, ou de se desavir com outros clientes ou terceiros;
IV - o valor da causa, a condição econômica do cliente e o proveito para este
resultante do serviço profissional;
V - o caráter da intervenção, conforme se trate de serviço a cliente eventual,
frequente ou constante;
VI - o lugar da prestação dos serviços, conforme se trate do domicílio do
advogado ou de outro;
VII - a competência do profissional;
VIII - a praxe do foro sobre trabalhos análogos.

E através de uma rigorosa leitura sobre os fatos que neste foram narrados e
ao artigo que aqui foi apresentado, não há porque entender como abusivo a conduta em
que Rui Bastos teve com seu cliente, se levar em consideração todos os gastos que o
mesmo possuiu até que se alcançasse o que seu cliente esperava, ficando claro que não
foi retirado nenhuma pecúnia do mesmo, somente entregue aquilo que lhe foi de direito
com o ganho da causa.

E para esta defesa, é possível encontrar amparo neste mesmo código de ética
e disciplina citando o seu artigo 48, §3º conforme segue:

§ 3º O contrato de prestação de serviços poderá dispor sobre a forma de


contratação de profissionais para serviços auxiliares, bem como sobre o
pagamento de custas e emolumentos, os quais, na ausência de disposição em
contrário, presumem-se devam ser atendidos pelo cliente. Caso o contrato
preveja que o advogado antecipe tais despesas, ser-lhe-á lícito reter o
respectivo valor atualizado, no ato de prestação de contas, mediante
comprovação documental.

E para apresentar como prova, fixo nesta defesa o anexo I com o contrato de
prestação de serviços e os comprovantes referentes às custas extras concebidas neste
processo, todas pagas pelo escritório jurídico de Rui Bastos, na qual não solicitou
reembolso de seu cliente.

Por estas razões, não houve qualquer infração ética, já que não houve ofensa
ao preceituado pelo Código de Ética e Disciplina da OAB.

2.2 – DA INFRAÇÃO DISCIPLINAR DO ART. 34, XX, DO


ESTATUTO DA OAB

A representação também imputa a prática de infração disciplinar do art. 34,


XX, do E. OAB, por se entender que houve locupletamento ilícito:

Art. 34. Constitui infração disciplinar:


XX - locupletar-se, por qualquer forma, à custa do cliente ou da parte
adversa, por si ou interposta pessoa;

(...). Locupletamento? Enriquecimento? Tentar demonstrar que a infração


disciplinar ocorre com o recebimento de vantagem que seria ilícita.

E em forma de defesa, é importante frisar todo o empenho que o


representado depositou nesta causa, valendo ressaltar, as recusas de prestações de
serviço que o mesmo precisou realizar para que o representado obtivesse ganho na
causa.

Apesar disso, seguindo os preceitos do artigo 50 do Código de Ética e


Disciplina da OAB, conforme segue:
Art. 50. Na hipótese da adoção de cláusula quota litis, os honorários devem
ser necessariamente representados por pecúnia e, quando acrescidos dos
honorários da sucumbência, não podem ser superiores às vantagens advindas
a favor do cliente.

Fica entendido que Rui Bastos não usou de enriquecimento ilícito sobre seu
cliente. Para este fato, é apresentado o anexo II onde apresenta os valores recebidos
desta causa, contendo também os honorários sucumbenciais. Através de uma breve
soma dos valores é possível esclarecer que não houve um demasiado ganho.

A fim de que não restem dúvidas, disponho-me a fazer a soma dos valores,
pois bem, o valor total do benefício do senhor Francisco com atualizações, ficou em R$
1.000.000,00 e como honorários sucumbenciais o juiz determinou o pagamento de R$
200.000,00. Por meio de uma simples soma destes valores, encontramos um montante
de R$ 1.200.000,00, como acordado, Rui Bastos retirou deste montante o que lhe era
devido da parte contratual, mais os seus honorários sucumbenciais, portando assim, de
um valor total de R$ 600.000,00. Ficando para o senhor Francisco um valor líquido, ou
seja, sem descontos com custas processuais, de R$ 600.000,00.

Mediante isso, fica claro que Rui Bastos não extrapolou de seus direitos e
está amparado pelo Código de Ética e Disciplina da OAB.

III – TESES SUBSIDIÁRIAS.

Pena prevista para o art. 34, XX é de suspensão (30 dias a 12 meses).


Porém, pode que a suspensão seja até a devolução dos valores.

Existe outra pena subsidiária?

Por exemplo, pode-se pedir a pena de censura do art. 36, II, com
conversão em advertência, em ofício reservado, sem registro nos assentos do
advogado, em razão da atenuante do art. 36, parágrafo único, do E. OAB?

III – REQUERIMENTO

ANTE O EXPOSTO, requer a este Conselho da Subseção:

a) seja indeferida liminarmente a representação, por falta de infração ética


ou disciplinar, na forma do art. 73, §2º, do E. OAB, com o seu arquivamento;
b) em caso de entendimento diverso, seja permitida a ampla produção de
provas, inclusive, de prova testemunhal, cujo rol segue ao final descrito;

c) ao final, a improcedência da representação, por não se tratar de infração


ética ou disciplinar.

Página da OAB. Jurisprudência do Tribunal de Ética.

ROL DE TESTEMUNHAS.

1 – DOUGLAS FERNANDO, brasileiro, advogado inscrito na OAB sob o


nº 15589, com escritório jurídico situado na Rua Cel. Pedro Benedet, 190, Centro,
Criciúma/SC;

2 – LEANDRO FERREIRA, brasileiro, advogado inscrito na OAB sob o nº


17985, com escritório jurídico situado na Rua Cel. Pedro Benedet, 190, Centro,
Criciúma/SC;

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