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FACULDADE FABEL

RODRIGO SILVA DOS SANTOS

HERANÇA DIGITAL

Belém

2022
RODRIGO SILVA DOS SANTOS

HERANÇA DIGITAL

Trabalho de direito civil do curso de bacharel em Direito da


Faculdade FABEL.
Professora :Carimi Canuto

Belém

2022
INTRODUÇÃO

Sem dúvidas, a internet prenuncia uma nova forma de patrimônio, os também


chamados bens digitais, pertencentes a todos os titulares de contas existentes no
ciberespaço. Neste ambiente eletrônico virtual, as normas jurídicas não puderam
adaptarse na mesma rapidez, deixando lacunas para serem completadas pelo Poder
Judiciário, nos possíveis litígios, advindos nestas situações.

O mais importante no presente trabalho é efetuar a análise das


consequências jurídicas relacionadas ao direito sucessório de bens armazenados
virtualmente, atualmente denominados como Herança Digital.

Assim, com base na legislação e na doutrina existente sobre a temática a


questão a ser esclarecida é: qual destino dado ao patrimônio digital quando da morte
de um indivíduo?

Em relação a essa nova forma de patrimônio que se apresenta atualmente,


será necessário a criação de normas específicas para regulamentar o assunto,
tendo em vista, a complexidade do tema e a fragilidade do ordenamento jurídico
brasileiro no tocante à tutela dos direitos de herança provenientes do patrimônio
digital, que não possui um reconhecimento expresso e um direcionamento objetivo
para cuidar desta matéria, fazendo-se necessário maior concretismo jurídico, vez,
que, em razão da falta de regulamentação expressa, resta prejudicada a
imprescindível segurança jurídica.

Existem inúmeras possibilidades e novas formas de patrimônio e herança


como nunca se viram ou imaginaram, como a herança digital.

As pessoas dispõem de tesouros armazenados no meio cibernético, porém


nunca pararam para pensar qual destino estes tesouros teriam no futuro que, na
maioria dos casos, ficam perdidos e abandonados e, em alguns, nem mesmo a
família tem conhecimento de sua existência.

Lima (2016) entende que os patrimônios da era digital deixados pelo falecido
podem não ter um valor econômico significativo, sendo apenas contas em redes
sociais ou e-mails, porém é importante avaliar o que será feito com esse acervo e se
a família tem ou não direito para o acesso à estas contas.
Para Nathalia Zampieri Antunes e Marcelo Carlos Zampieri (2015) a morte
não é um conteúdo, um assunto muito discutido em rodas de conversas, e muitas
pessoas nem mesmo gostam de falar no assunto. Para alguns, chega a ser um
absurdo falar em planejar o futuro de seus bens digitais. Mas a morte significa uma
certeza na vida de todos e pode se tornar um verdadeiro pesadelo para quem fica
quando o ente falecido não deixa expressa sua vontade em relação a esses bens
armazenados em meio digital, ficando para sempre ignorados. Afirmam ainda, que é
vasta a dimensão dos problemas e suas consequências nas relações sucessórias. A
principal questão a ser enfrentada é a vivência de legado digital e como regimentar a
sucessão dos arquivos na hipótese de declaração de último interesse do cônjuge, o
testamento.

Herança Digital

A acumulação desenfreada de informação em computadores, smartphones,


tablets e na nuvem, sugere uma adaptação da ciência jurídica às novas realidades
tecnológicas em relação ao gerenciamento pós - morte dos bens digitais de um
indivíduo, propondo alternativas viáveis para evitar o conflito em questões
sucessórias, seja de forma preventiva ou estabelecendo regras que possam ser
cumpridas uniformemente, sem prejudicar o ordenamento jurídico vigente.

O acervo do patrimônio digital pode ser composto por: fotos, vídeos, músicas,
textos, filmes etc., os quais podem ser adquiridos ou feitos por seu proprietário. De
posse destes ativos, o dono sabe da destinação e uso que lhe dará durante sua
vida, porém não sabe o que pode acontecer após seu falecimento e o destino de
todos estes ativos digitais.

Desse modo, sendo a herança o patrimônio transmitido aos herdeiros e


considerando a ideia expressa pelo código de 2002 de que o patrimônio inclui o
complexo de relações jurídicas dotadas de valor econômico de uma determinada
pessoa, percebe-se que arquivos digitais dotados de tal valor (sites, musicas, filmes,
livros, bens virtuais e etc.) devem fazer parte da partilha.

De acordo com Aurelio (2016) o conceito de herança digital tem sido discutido
em larga escala a nível internacional, ele abrange todo o legado digital que um
indivíduo deixa após sua morte. A importância desta temática se faz necessária
devido às transformações pautadas principalmente pelos avanços tecnológicos
vivenciados na sociedade atual. A herança digital tem se tornado uma preocupação
por parte de pessoas em diversos países, não somente por valores sentimentais,
mas também por valores monetários existentes em algumas coleções adquiridas por
intermédio de compras.

Investigar e analisar a atuação e as consequências jurídicas dos bens


armazenados no meio virtual e a forma de suceder esses bens, é fundamental para
que se discuta o potencial que a herança digital vem a oferecer no ordenamento
civil. Uma problemática que gira em torno da questão se o ordenamento jurídico
brasileiro dá suporte ao Poder Judiciário para analisar as pretensões das partes que
vivem numa era totalmente digital. (LARA, 2016).

No Brasil um dos casos de maior repercussão em relação a temática da


Herança Digital se deu com a morte da jornalista Juliana Ribeiro Campos, que
faleceu em 27 de maio de 2012, aos 24 anos de idade, em decorrência de
complicações causadas por uma endoscopia realizada dias depois de uma cirurgia
bariátrica. Desde então, a mãe da jovem passou a travar uma verdadeira batalha
para que o perfil de sua filha no facebook fosse excluído, tendo em vista as
inúmeras tentativas sem sucesso, junto à rede social, para a remoção da página.
(LIMA, 2016, p.57).

Em janeiro de 2013, Dolores entrou com uma ação judicial contra o


Facebook Brasil na 1ª Vara do Juizado Central de Campo Grande. Após dois
meses de espera, a juíza Vânia de Paula Arantes decidiu, por meio de
liminar, o cancelamento do perfil imediatamente com multa de 500 reais
por dia de descumprimento. A decisão não foi cumprida, e após comunicar
o fato à justiça a juíza emitiu nova liminar dando o prazo de 48h para que
fosse cumprida a decisão, com o prazo valendo após a entrega da
notificação via oficial de justiça (SILVA, 2014, p. 33).

A empresa só cumpriu a decisão judicial após a grande repercussão do fato


nos veículos de comunicação. Assim, a família da jornalista brasileira também
desejava acabar com o sofrimento causado pela presença constante de fotos e
vídeos da falecida na rede social, o que impossibilitava parentes e amigos
superarem a dor de sua partida repentina.

Oliveira (2014, p. 38-39) afirma que existe um outro aspeto da vida atual e
que advém da crescente utilização das novas tecnologias que não fica tratado,
constituído de Herança Digital. Paralelamente a uma vida real, muitos dos indivíduos
têm uma vida que caminha lado a lado a si e que é fruto das inovações tecnológicas
surpreendentes e da crescente utilização das novas tecnologias. Assim como na
vida real, na vida digital possuem-se bens ou objetos com valor. No entanto são
bens em formato digital e que são propriedades digitais de cada um.

O debate sobre a temática da Herança Digital chegou ao Congresso Nacional,


os deputados federais Marçal Filho e Jorginho Mello apresentaram projetos de lei
objetivando a normatização do procedimento que deverá ser realizado nos casos em
que bens digitais do de cujus estiverem disponíveis, devendo estes, na falta de
expressa manifestação do autor da herança, serem transmitidos a seus herdeiros
legais, seguindo o raciocínio sucessório já existente no Código Civil de 2002. (Lima,
2016, p. 42).

O projeto de lei 4.099/2012

Mesmo que vagamente, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania


aprovou uma proposta que garante aos herdeiros o acesso a contas e arquivos
digitais de pessoas falecidas, denominada Projeto de Lei n.0 4.099/2012 alterando o
Código Civil.

Segundo Bernardo Junior (2014, p. 94):

A proposta prevê que como não há regra específica para esses casos, os
herdeiros acabam tendo que entrar na Justiça para ter acesso a e-mails e
contas em redes sociais de falecidos. Na falta de uma norma geral, os juízes
passaram a ter decisões de formas diferentes para cada família.

Esta lei propôs a inclusão de um parágrafo único no artigo 1.788 do atual


Código Civil, sobre as regras de transmissão de heranças, que determinam que
devam ser transmitidos aos herdeiros todos os conteúdos de contas ou arquivos
digitais de titularidade do autor da herança. (COELHO, 2014, p. 102).

Ainda, esclarece que em casos de morte do titular da conta, seus familiares e


herdeiros que desejem encerrar essa conta, e diante dos diversos casos de
transtornos que a situação gera a este, têm recorrido ao judiciário para obter seus
direitos. Sendo assim, o entendimento dos juízes têm levado à maneiras de
decisões, gerando controvérsias sobre a questão. Esta lei, portanto, supre a falta de
normativas legislativas, especificando expressamente um direito para facilitar essa
transferência do domínio.
Desta forma, o texto abaixo transcreve o mérito do Projeto de Lei 4.099/2012,
in verbis:

O Congresso Nacional decreta:


Art. 1.º. Esta lei altera o art. 1.788 da Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de
2002, que “institui o Código Civil”, a fim de dispor sobre a sucessão dos
bens e contas digitais do autor da herança.
Art. 2.º. O art. 1.788 da Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002, passa a
vigorar acrescido do seguinte parágrafo único:
Parágrafo único. Serão transmitidos aos herdeiros todos os conteúdos de
contas ou arquivos digitais de titularidade do autor da herança.

O projeto de lei 4.847/2012

Ainda na discussão deste assunto, uma segunda lei que altera a


legislação foi aprovada pelo Congresso Nacional, sendo esta a Lei 4.847/2012, o
qual visa inserir o Capítulo II-A e os artigos 1.797-A a 1.797-C ao Código Civil
Brasileiro. Neste sentido, destaca-se o texto do Projeto de Lei 4.847/2012, in verbis:

O Congresso Nacional decreta:


Art. 1º. Esta Lei estabelece normas a respeito da herança digital.
Art. 2º Fica acrescido o Capítulo II-A e os arts. 1.797-A a 1.797- C à Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002, com a seguinte redação:
Capítulo II-A Da Herança Digital
“Art. 1.797-A. A herança digital defere-se como o conteúdo intangível do
falecido, tudo o que é possível guardar ou acumular em espaço virtual, nas
condições seguintes:
I – senhas;
II – redes sociais;
III – contas da Internet;
IV – qualquer bem e serviço virtual e digital de titularidade do falecido.
Art. 1.797-B. Se o falecido, tendo capacidade para testar, não o tiver feito,
a herança será transmitida aos herdeiros legítimos.
Art. 1.797-C. Cabe ao herdeiro:
I - definir o destino das contas do falecido;
a) - transformá-las em memorial, deixando o acesso restrito a amigos
confirmados e mantendo apenas o conteúdo principal ou;
b) - apagar todos os dados do usuário ou;
c) - remover a conta do antigo usuário.”
Art. 3°- Esta lei entrará em vigor na data da sua publicação

Fábio Ulhoa Coelho (2014, v. 5, p. 228) entende que a alteração mais


abrangente em comparação com o Projeto de Lei 4.099/2012, propõe a criação de
um capítulo específico, com artigos detalhados para tratar do assunto. Importante
destacar que o Projeto de Lei 4.847/2012, conceitua o que é herança digital. Elenca,
ainda, vários tipos de arquivos que são abrangidos pela mesma, deixando que na
ausência de testamento, tais bens se transferem aos sucessores do falecido e que
seus sucessores determinariam o destino do acervo digital.

Conclusão

Aos herdeiros restam apenas contestar confinante ao Poder Judiciário a


aclaração e a aplicabilidade do assunto, empregando os estatutos do Direito
Sucessório em vigência diante da supressão do próprio Legislativo. A solução
acenada, através das leis citadas neste estudo, só poderá ser justaposta nas
desordens em juízo, não implicando em uma réplica precedente à atividade
jurisdicional proporcionada pelo Estado. Considera-se que esta temática aqui tratada
de reconhecida e carente de minudência jurídica, minuciosamente discutida e
revisada pelos tribunais do país.

A sucessão incide primeiramente em prosseguimento dos direitos, dos


deveres e das obrigações do finado. A herança digital é um assunto de essencial
importância para todo habitante desta era de modernidade.

As evidências, os meios e os elementos de indício alcançados por este


estudo levaram a conclusão de que os arquivos de conteúdos digitais deixados no
momento de falecimento não devem ser transferidos aos sucessores sem a
determinação por escrito expressando o destino do acervo digital adquirido e
incorporado como patrimônio digital, o que permite desta forma o entendimento da
problemática que originou este estudo.

Sugere-se que novos estudos sejam feitos a fim de propor a resolução deste
problema, discutindo a legalidade jurídica da inclusão de cláusulas nos termos de
uso, que indiquem os legatários legais de determinados conteúdos.

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