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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

-EMERJ-

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PARA A


CARREIRA DA MAGISTRATURA

PROGRAMA DO CURSO

CPI B 2 2022 – TÉCNICA DE SENTENÇA

As aulas do módulo serão ministradas nas seguintes datas: 08/11, 09/11 e


10/11.

SESSÃO III: Dia 09/11/2022 - 8h às 9h 50min

Prof. Dr. Ricardo Coimbra da Silva Starling Barcellos

TEMA: Direito Administrativo. Alegação de desapropriação indireta.

CASO CONCRETO:

Richard Wagner ajuizou ação de desapropriação indireta em face do


município de Rio Límpido. Alega o autor que, após muitos meses de pesquisas,
decidiu realizar a compra de terreno com 60 hectares, pois tinha planos de
construir um hotel-fazenda e um haras, além de intermediar negociações de
cavalos raros, para garantir um futuro tranquilo para toda a sua família.
Entretanto, no dia 9 de junho de 2018, quando o autor buscou
autorização do mencionado município para começar as obras, foi informado de
que não seria possível realizar as construções pretendidas, uma vez que a maior
parte de seu terreno estava localizado em Zona de Conservação da Vida
Silvestre da Área de Proteção Ambiental da Lagoa do Camurí, que havia sido
criada em abril de 2018, por meio do Decreto do Poder Executivo n. 123.
Dessa forma, alega, viu-se perante panorama de frustração, já que, na
época em que o terreno foi adquirido, em dezembro de 2017, não havia nenhum
ato legislativo que impusesse restrições ao direito de construir, motivo pelo qual o
autor foi totalmente surpreendido. Assim, não pode ser olvidado o prejuízo, já
que, apesar de ter investido R$ 850.000,00 no ato da compra, a propriedade
perdeu todo o valor, de modo que, na verdade, o caso diz respeito à
desapropriação indireta.
Em razão disso, Richard Wagner requer o reconhecimento da
desapropriação em face do município, com a consequente indenização do imóvel,
com a observância do atual valor de mercado. Requer, ainda, no que tange a
tributos, a devolução dos valores quitados e o cancelamento de todo débito,
tendo em vista a data da publicação do Decreto do Poder Executivo n. 123.
Em Contestação, o município de Rio Límpido sustenta que o caso está
prescrito, uma vez que, entre a data da compra e a data do ajuizamento da
presente ação, que ocorreu em 23 de fevereiro de 2021, foi ultrapassado o prazo
de 3 anos, previsto no art. 206, §3º, V do Código Civil. Além disso, inexiste
interesse do autor, uma vez que a área onde o terreno está localizado sempre foi
bastante conhecida pela riqueza de sua fauna e flora, sendo, pois, um local
constantemente retratado em inúmeros jornais de diferentes países. Por isso, o
autor deveria prever que em determinado momento haveria algum ato legislativo
impondo restrições.
No mérito, o demandado entende que a limitação imposta no terreno
vai ao encontro do dever de proteger o meio ambiente e do cumprimento da
função social da propriedade, nos termos do art. 5º, XXIII da Constituição
Federal, de modo que o município não pode ser punido por ter agido de maneira
lícita, em justa observância ao que o ordenamento jurídico fomenta. Sustenta que
não houve apossamento do bem, já que o Decreto do Poder Executivo n. 123
não enseja tal desiderato, mas apenas uma limitação administrativa. Além disso,
existe uma casa de três andares, de aproximadamente 500m², em parte do
terreno em que não há restrição, onde o autor pode morar com sua família.
A contestação estabelece que, em se tratando de uma possível
indenização, é preciso considerar que tal demanda deve se fundamentar em ação
de direito pessoal, porque o caso não diz respeito à ação de direito real, como
quer o autor, haja vista que não há perda dos direitosdecorrentes de propriedade.
Assim, quanto aos pedidos de devolução e cancelamento de tributos, reitera que
as cobranças são legítimas, pois têm como fato gerador a efetiva propriedade.
Elabore a sentença. Supere as questões prévias suscitadas. Não há
necessidade de relatório.

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