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ESTRUTURAIS
a) Divisão sexual do trabalho: mulheres são tidas como mais aptas aos papéis
domésticos e os homens aos papéis públicos.
b) Nem toda mulher sofre igualmente. Há circunstâncias que agravam as opressões,
como questões de raça, classe social, orientação sexual, territoriais.
Mapa da violência:
Mulheres ocupam apenas 16% do universo total dos cargos de liderança; 5% das
grandes empresas possuem uma mulher na presidência.
Quase metade das empresas brasileiras – 45% delas – não tem sequer uma mulher
entre seus diretores. Isso em um cenário em que mulheres á são maioria a concluir
o ensino superior (60%).
52% das mulheres já sofreu assédio sexual no ambiente de trabalho.
42% das mulheres informa á ter sido assediada na rua ou no transporte público.
Cerca de 67% das estudantes informa já ter sofrido violência sexual no ambiente
acadêmico.
27% de estudantes universitários responderam que não achavam errado abusar de
uma mulher embriagada.
AULA 2 - HISTÓRICO LEGISLATIVO E JURÍDICO DA MULHER NO
BRASIL
Há muitas leis que tratam da situação da mulher na sociedade. Focaremos nos direitos
políticos e civis e na proteção penal da mulher, especialmente, sua dignidade sexual.
No que toca os direitos políticos e civis das mulheres, uma grande conquista foi o direito
ao voto em 1932. Atualmente, apenas cerca de 10% das cadeiras legislativas são ocupadas
por mulheres.
Até o começo desse século, estava em vigor o CC de 1916. Esse código colocava a mulher
em relação de submissão ao homem, que era o chefe da sociedade conjugal. A mulher
casada era considerada relativamente incapaz e precisava da autorização do parido para
pratica de atos da vida civil.
Exemplos do CC 1916.
Compete-lhe:
II. A administração dos bens comuns e dos particulares da mulher, que ao marido competir
administrar em virtude do regime matrimonial adaptado, ou do pacto antenupcial (arts. 178, § 9º,
nº I, c, 274, 289, nº I, e 311).
IV. O direito de autorizar a profissão da mulher e a sua residência fora do tecto conjugal (arts. 231,
nº II, 242, nº VII, 243 a 245, nº II, e 247, nº III).
Art. 242. A mulher não pode, sem autorização do marido (art. 251):
I. Praticar os atos que este não poderia sem o consentimento da mulher (art. 235).
II. Alienar, ou gravar de onus real, os imóveis de seu domínio particular, qualquer que seja o regime
dos bens (arts. 263, nº II, III, VIII, 269, 275 e 310).
CC 1916:
CC 2002: alguns advogados tentam significar os termos honra e boa fama para uma
interpretação próxima do art. 219, CC/1916.
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento
ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
Em 1962, foi publicado o Estatuto da Mulher casada. Essa lei trouxe alguns direitos para
a mulher, de modo que a mulher que casa deixa de ser relativamente incapaz para ter
capacidade plena; a mulher pode contestar o marido dentro da sociedade conjugal, mas o
homem continuava sendo o chefe da família.
Em 1977, foi promulgada a lei do divórcio. A mulher passou a poder separar-se e casar
novamente; não seria mais obrigada a adotar o sobrenome do marido. Com o divórcio,
criou-se a figura da culpa, ou seja, só era possível o divórcio em duas situações: quando
fosse consensual ou quando houvesse a culpa por um dos cônjuges. Esta figura era muito
pejorativa para a mulher porque o cônjuge considerado culpado sofria algumas
penalidades: a perda do direito de pensão alimentícia, a perda da guarda dos filhos e a
perda do direito de adotar o sobrenome do outro cônjuge.
A análise da culpa reproduzia estereótipos de gênero. Por exemplo, o homem que traía
estava violando o dever de fidelidade do casamento, mas esse comportamento praticado
pelo homem é considerado natural socialmente.
A EC 66/2010 facilitou o procedimento do divórcio e fez com que não se discutisse mais
a figura da culpa. Hoje, basta que qualquer uma das partes queira se divorciar. Alguns
advogados, no entanto, se valem dessa figura até hoje, impregnando o processo de
estereótipos de gênero.
Em 1988, com a CF, houve a consagração de igualdade de direitos e deveres entre homens
e mulheres, no art. 5°, I, CF.
Em relação à proteção penal da mulher, especialmente no que diz aos direitos sexuais e
reprodutivos, é importante mencionar que o nosso código penal data de 1940, de modo
que traduz toda a moralidade daquela época.
Quando tratamos da questão penal, tratamos da proteção dos bens jurídicos. Até 2009, o
capítulo do código penal que tutelava o bem jurídico da dignidade sexual não era chamado
de crimes contra a dignidade sexual, mas sim, crimes contra a moralidade e os costumes,
pois o que se tutelava realmente não era a liberdade ou dignidade sexual da mulher, mas
sim a moralidade. A proteção da mulher, portanto, dependia de a mulher fosse honesta,
virgem, solteira ou casada. Desde 2005, houve algumas alterações legislativas nesse
entendimento.
Art. 215. Ter conjunção Art. 215. Ter conjunção Art. 215. Ter conjunção
carnal com mulher carnal com mulher carnal ou praticar outro ato
honesta mediante fraude: mediante fraude: libidinoso com alguém,
mediante fraude ou outro
Pena - reclusão, de um a meio que impeça ou
três anos. dificulte a livre
manifestação de vontade
Parágrafo único. Se o
da vítima:
crime é praticado contra
mulher virgem, menor de Pena - reclusão, de 2 (dois)
18 anos e maior de 14 a 6 (seis) anos.
anos.
Parágrafo único. Se o
Pena – reclusão, de dois a crime é cometido com o
seis anos. fim de obter vantagem
econômica, aplica-se
também multa.
Sedução Revogado.
Diminuição de pena
Até 2005, ficaria a cargo do juiz, decidir se a mulher era honesta ou não. Com os casos
apontados de extinção de punibilidade, fia claro que não se tutelava a dignidade e
liberdade sexual das mulheres, mas sim sua moralidade, pois uma mulher violentada
“perdia seu valor de mercado” com a honra manchada, poderia ser que ninguém quisesse
se casar com ela. Se ela conseguisse se casar, ainda que com o estuprador, o mal em
questão seria remediado. Tenso!
Até 2009, apenas considerava-se crime de estupro a conjunção vaginal entre homem e
mulher. Os outros atos libidinosos (inclusive a conjunção anal) eram considerados menos
graves e enquadravam-se no crime de atentado violento ao pudor. Logo, apenas mulheres
poderiam ser vítimas do crime de estupro, pois uma mulher estuprada poderia perder seu
hímen ou iniciar uma gravidez, condições que a prejudicavam de conseguir um
casamento. A partir de 2009, o signo de violência sexual passou a abranger qualquer
forma de violência, que foram consideradas igualmente graves. Com a lei de 2009,
também houve uma mudança na ação penal (módulo 3), que passou a ser pública
condicionada à representação.
A Lei 13.718/18 traz alterações no capítulo dos crimes contra a dignidade sexual, criando
duas figuras penais novas: a de importunação sexual (que serve para proteção da
dignidade sexual em caso de assédio em espaços públicos) e o crime de divulgação sem
consentimento de imagens íntimas (pornografia de vingança). Essa lei aumentou a pena
nos casos de estupro coletivo e corretivo e também quando o crime é cometido por pessoa
que é próxima da vítima, parente ou companheiro.
Empatia é sentir junto com a pessoa com quem nos comunicamos; é vestir os sapatos da
outra pessoa; ver sua perspectiva; não julgar o sentimento alheio como algo menor,
desimportante; não diminuir o problema alheio; questionar sobre o que a pessoa está
sentindo; tentar entender o sentimento do outro para nos conectarmos.
Como advogadas, somos procuradas por pessoas que nos apresentam problemas e, de
uma forma geral, nossa intenção sempre é apresentar logo uma solução. Contudo, quando
estamos fora da situação, sem sentir exatamente como a pessoa, sem entender as
circunstâncias em que a pessoa está inserida, ou quais as implicações emocionais de
determinada decisão, para nós pode parecer fácil tomar determinado caminho 1 ou 2. Na
prática, sem o exercício da empatia, fica difícil conseguir opinar de uma maneira
qualificada.
No atendimento inicial, a pessoa não procura a advogada apenas pelos seus serviços,
mas também para alinhar emocionalmente o que está sentindo, expressar
determinada preocupação e tentar sozinha tomar uma decisão. Tudo que a pessoa
não precisa é alguém que direcione sua vida ou expresse opiniões que possam feri-la em
sua vulnerabilidade. É importante que entendamos que a empatia é uma escolha, que nos
coloca também em uma situação de vulnerabilidade, pois olhamos para a nossa própria
história que sejam similares ao que a pessoa está relatando. Assim, nem sempre
precisamos ter uma resposta pronta para a pessoa. Podemos escutar, identificar o
problema jurídico que a pessoa está nos endereçando, apontar direções e mencionar
direitos e validar o que a pessoa está sentindo. Isso pode ser um primeiro passo
importante para o estabelecimento de um vínculo de confiança.
Exemplos práticos:
1) Vítimas de violência sexual: supondo que a pessoa opte por tomar uma decisão
rápida em termos de denúncia, que consiga reconhecer a violência sofrida (o que
é um grande passo), e naquele momento de dor, tome a dianteira em procurar uma
delegacia para fazer uma denúncia, ela muito provavelmente está com os ânimos
à flor da pele, se sentindo muito vulnerável, constrangida, revivendo a violência
sofrida para entender onde foi que ela errou ou se foi uma violência mesmo (afinal
vivemos em uma sociedade em que esse tipo de questionamento é muito comum
e muitas vezes as instituições procuradas, reproduzem esses estereótipos
machistas, fazendo com que os receios da vítima falsamente se confirmem).
Se a pessoa optar por não tomar qualquer medida judicial, devemos respeitar (não
cabe a nós avaliarmos se é uma boa decisão ou não) e deixar claro que, caso mude
de ideia, pode buscar seus direitos, mesmo que não conosco e com outro
profissional. A ideia é que ela saiba que os nossos serviços, a advocacia e o poder
judiciário têm como ampará-la. A nossa função é dá um suporte jurídico, deixando
claro seus direitos, o que ela não deve fazer, que tipos de cuidados ela deve tomar.
Muitas vezes, essas funções se confundem. Em um caso de divórcio, por exemplo,
a pessoa pode estar se sentindo muito sozinha, precisando de amparo emocional,
e quando a advogada oferece um suporte e confiança, pode ser que ela entenda
que a advogada pode suprir outros papéis além da assistência jurídica.
É claro que o direito é nossa formação profissional e o que temos a oferecer, nós
não temos capacitação de psicóloga, assistente social, amigas necessariamente,
mas não precisamos fechar os ouvidos quando a pessoa efetivamente precisar de
um amparo. Por outro lado, também compete a nós estabelecer certos limites.
Qualquer pessoa que atue com profissionalmente com pessoas em situação de
vulnerabilidades e violência pode imaginar que esses limites fiquem um tanto
confusos, e a pessoa nos procure em momentos inoportunos, exija demais de nós,
queira uma atenção que sejamos incapazes de oferecer porque temos outros casos
e uma vida particular. Portanto, precisamos impor esses limites entendendo
quando é realmente necessário escutar a cliente (ex.: esse é nosso horário de
trabalho, eu estou disponível pelos seguintes meios de contato, se houver uma
emergência, nós iremos atender).
3) Como enquanto profissionais, que atuamos nesta área tão delicada, fazemos para
lidar com nossa própria saúde emocional? Essa pergunta tem a ver com o fato de
que pode ser que no exercício da empatia podemos acessar dores antigas, acessar
traumas ainda não resolvidos; pode ser que uma parte da história da cliente tenha
ressonância com a nossa própria, o que é muito positivo no sentido de construção
de vínculo, de empatia, mas pode significar um desgaste emocional. A sugestão
apresentada é formar parcerias: (1) construir redes para diálogo sobre estratégicas
jurídicas e novas teses, assim como, respeitando o sigilo profissional, conversar
sobre os casos para que a gente possa, enquanto pessoas, absorver melhor a
narrativa; (2) buscar atividades terapêuticas.
[Texto da Theresa Wiseman - pdf]
AULA 04 - INTRODUÇÃO À LEI MARIA DA PENHA1
Maria da Penha Maia Fernandes era farmacêutica, professora universitária cearense, que
foi casada por muito tempo com um professor universitário colombiano. Em 1983, ela
sofreu duas tentativas de feminicídio. Na primeira, levou um tiro na nuca enquanto dormia
em uma situação de assalto, e ficou paraplégica. Após meses de recuperação, quando
retornou ao seu lar conjugal, sofreu a segunda tentativa de feminicídio, quando ele tentou
eletrocutá-la quando estava na banheira. Ela denunciou os episódios judicialmente e
quando se aproximava o prazo de prescrição da pretensão punitiva sem uma resposta do
judiciário, em 1999, o Cladem (organismo internacional de defesa das mulheres2) entrou
com uma reclamação na Comissão Interamericana de Direitos Humanos para que o Brasil
fosse investigado e pudesse oferecer resposta ao caso da Maria da Penha.
Em 2002, o Comitê da OEA ofereceu recomendações para o Brasil, dentre elas, de que o
Brasil criasse uma legislação específica de combate à violência doméstica. Antes, a
maioria dos casos de violência doméstica resultava em transações penais por causa da lei
dos juizados especiais e as mulheres ficavam desassistidas. Também em 2002, o agressor
de Maria da Penha foi condenado e cumpriu sua pena por 2 anos. Desde 2004, está em
liberdade.
1
Lei Maria da Penha disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm>
Vide Dossiê mulher 2019. Disponível em <http://www.isp.rj.gov.br/Conteudo.asp?ident=48>.
2
O CLADEM é uma rede internacional de ONGs de organizações e ativistas de mulheres. Foi estabelecido
em 3 de julho de 1987, em San José, Costa Rica.
3. Quais tipos de crimes?
4. Tipos de violência
Obs.: Nem todas as formas de violências descritas nesta legislação são crimes.
As medidas protetivas de urgência trazidas pela lei buscam empoderar a mulher vítima
de violência doméstica para que saia desse ciclo.
Atenção aos tipos de violência que a lei prevê. Obs.: incluindo a violência digital.
Ex.: sua cliente te procura para dizer que o ex-marido, de quem ela está se
divorciando, conseguiu subtrair os bens de sua casa, inclusive os bens particulares
dela. Esse caso poderia ser resolvido dentro do próprio processo divórcio, mas a
Lei Maria da Penha, de forma clara, define que a subtração de bens é um tipo de
violência, cabendo uma medida protetiva de urgência para reaver os bens. Mesmo
que não se peça a medida protetiva, vale argumentar com base nessa legislação
no processo de divórcio para que o magistrado entenda a situação que aquela
família está vivenciando.
Ex.: prestação de alimentos. É muito comum que o homem tenha renda e bens
para satisfazer uma eventual dívida alimentar e opte por não fazê-lo para
constranger a mulher a que se humilhe pedindo a pensão, fazer com que tenha que
procurar uma advogada e tenha esse ônus tanto financeiro quanto emocional de
acionar o judiciário para satisfazer seu direito. Essa situação é um crime
(abandono material) e um caso de violência doméstica patrimonial. É comum que
o comprovante tenha escrito “mesada da folgada”, “dinheiro dessa gorda”. Quem
milita na área da família, convive comumente com casos de violência doméstica
e quanto melhor dominarmos a legislação protetiva, mais conseguiremos importar
esses conceitos. A Lei Maria da Penha é uma lei hibrida e não apenas penal.
Contem aspectos cíveis, trabalhistas, de modo que atuar de maneira mais
informada pode ajudar bastante na prática.
AULA 05 - MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA
As medidas protetivas de urgência são a principal inovação da Lei Maria da Penha e estão
listadas em seu art. 8°.
O rol, embora extenso, não é taxativo, pois apesar de mapear diversos cenários de
violência possíveis, pode ser que haja algum caso específico que não seja abarcado por
ela.
Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o Agressor: art. 22, Lei 11.340/06.
Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida: art. 23 e 24 (este último sobre sua
proteção patrimonial), Lei 11.340/06.
Ex. de solicitação de medida protetiva específica: uma cliente do Braga e Ruzzi sofria
ataques virtuais por meio de perfis falsos. A medida protetiva pedida foi para que o
agressor fosse impedido de criar perfis falsos e ficasse adicionando a vítimas
incessantemente nas redes sociais. Basta demonstrar a relevância do pedido protetivo.
Como pedir uma medida protetiva de urgência?
Embora o STJ tenha consolidado a tese de que a palavra da vítima nos casos de violência
doméstica tem especial relevância, isso não significa que apenas com a palavra da vítima
será conseguida uma medida protetiva. De modo geral, a cultura do judiciário é não
conceder tais medidas sem um mínimo probatório da ocorrência da violência.
Ex.: Testemunhas diretas (oculares) ou indiretas (apesar de não ter testemunhado, viu os
efeitos que a violência causou na vítima ou soube assim que encontrou com a vítima o
que tinha ocorrido); prints de conversas com ofensas, ameaças, ligações incessantes.
É importante que o pedido esteja bem instruído, pois, havendo negativa, pode demorar
muito para que haja a concessão posteriormente.
Rito processual
Uma possibilidade! Ação civil de obrigação de não fazer com teor de medida
protetiva por tempo indeterminado sob pena de multa diária.
Audiência de justificação
Essa audiência pode ser só para oitiva da vítima, só do agressor ou de ambos. A partir
dela o juiz pode ter mais elementos para decidir sobre é o caso de conceder a medida
protetiva.
Intimação pessoal. Via oficial de justiça. A decisão só passa a valer com a devida
intimação oficial (é um risco uma ciência antecipada e não oficial, porque o
agressor pode se esquivar de receber a intimação, retardando o processo). Todos
os atos relativos ao agressor devem ser notificados a ele e à vítima por meio de
intimação pessoal, sem prejuízo de intimação do patrono.
Em 2008, a Lei 11.340 sofreu uma alteração (Lei 13.641) e tipificou criminalmente o
descumprimento da medida protetiva de urgência.
Antes dessa alteração, a menos que houvesse a prática de qualquer outro crime durante o
descumprimento, poderia haver prisão preventiva. Apesar de a pena ser baixa, a fiança só
pode ser concedida por autoridade judicial, o que faz com que o agressor tenha que passar
por uma audiência de custódia, podendo esta prisão em flagrante ser relaxada (caso seja
ilegal), convertida em preventiva ou concedida liberdade provisória. Ademais, sendo um
crime autônomo, ensejará um inquérito policial específico para apurá-lo.
AULA 06 - ATUAÇÃO PRÁTICA E ASPECTOS PENAIS: TIPOS DE
CRIMES MAIS COMUNS E SEUS RITOS
Por conta desta multidisciplinariedade, a lei previu a criação de juizados especiais que
devem tratar de maneira uniforme dessas questões, pois a violência em questão traz
impactos diversos e para que a proteção jurídica seja integral deve-se tratar os efeitos em
conjunto.
Parte penal
A lei Maria da Penha cria apenas um tipo legal: o crime de descumprimento de medida
protetiva, adicionado por uma mudança legislativa ocorrida pela lei 13.641, de 2018.
Art. 7°. São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade
ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano
emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno
desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos,
crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e
vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação; (Redação dada pela Lei nº 13.772, de 2018)
Obs.: Escusa absolutória: art. 181 e 182, CP. Estabelece que a ação se procederá
mediante representação, em desconformidade com a Lei Maria da Penha.
→ Duas posições:
1. A Lei Maria da Penha invalidou esses dispositivos por ser incompatível com a
natureza das violências patrimoniais contra a mulher (Maria Berenice Dias)
2. Permanece em vigor, pois não houve revogação expressa (posição majoritária e
do STF)
3. Ação penal privada: o titular da ação é a pessoa ofendida, que deve apresentar a
petição inicial chamada queixa-crime assistida por advogada no prazo decadencial
de 6 meses a partir da data do fato ou descoberta da autoria.
a. Ação penal privada subsidiária da pública: cabível em caso de inércia
do MP.
3. O registro de ocorrência
Nós vamos nos dirigir a uma delegacia de polícia, de preferência uma delegacia
especializada de atendimento à mulher e buscaremos a lavratura de um registro
de ocorrência. Nessa oportunidade, poderemos requerer uma medida protetiva de
urgência, se for o caso. Para esse momento é importante termos em mente os arts.
10 – 12 da Lei Maria da Penha, artigos que tratam do tratamento humanizado. Se
as autoridades se recusarem a atender esses direitos, é possível fazer uma denúncia
na corregedoria da Polícia Civil.
Atenção! Não confundir o inquérito policial com o processo cautelar de medida protetiva
de urgência. Essa confusão é bem comum, de modo que advogados tentem produzir
provas no processo cautelar, quando apenas é necessário provar a necessidade das
medidas protetivas (da integridade psicológica, moral, patrimonial, física e sexual da
mulher). A cautelar só precisa de indícios (fumus boni iuris) e o inquérito busca
materialidade. O processo cautelar das medidas protetivas pode estar em apenso ao
inquérito, pois podem tramitar juntos.
Parte cível
Medidas protetivas
Direito de família
Proteção patrimonial
Por outro lado, há situações que não se adequam à via da medida cautelar para regularizar
um caso cível ou de direito de família, como no caso de divórcio e pedido de guarda de
filhos. São necessárias ações próprias.
Deve-se, como na parte penal, fazer um exercício de adequação do fato à norma. Qual a
situação? Qual ação cabível? Qual o rito?
Essa previsão visa assegurar o acesso à justiça das mulheres vítimas de violência
doméstica, pois a regra processual seu direito pode ser inviabilizado. Por exemplo, uma
ação de indenização, segundo o CPC, deve ter como foro o local do fato ou do dano (e se
esse local for distante de sua residência?).
Exemplo de ações:
Como a violência doméstica ocorre em torno do ambiente familiar, é natural que haja
muitas consequências jurídicas no âmbito da família. É muito comum que as clientes que
nos procurem por causa de violência doméstica também busquem regularizar a separação,
a partilha de bens, a situação dos filhos menores, ou pode ser que busquem por causa de
um tema de direito de família e percebamos, pela narrativa, um caso de violência
doméstica.
Importante mencionar que nem sempre as varas de família se comunicam com as varas
de violência doméstica. É sempre bom, portanto, trazer esses elementos do processo
criminal para o processo que tramita na vara de família para justificar os pedidos feitos.
Ação de alimentos
Nas ações de alimentos, utilizaremos o código civil, o código de processo civil e a lei de
alimentos (Lei n° 5.478/68) como fundamento.
Pelo CPC, há o prazo de 30 dias para emendar a separação de corpos para torná-la uma
ação de divórcio, que envolverá discussão sobre o estado civil, a partilha de bens, eventual
uso de nome de solteira. Quando houver partilha de bens, Braga sugere que prestemos
muita atenção se há violência patrimonial. O mesmo para ações de alimentos.
Quando tratamos da questão patrimonial, é comum que essa violência esteja presente.
A violência doméstica pode ter acontecido tanto contra a mãe como contra os filhos.
Quando as crianças são vítimas de alguma violência, é claro que a protetiva deve ser
aplicada. Mas quando a violência é só contra a mulher, encontramos barreiras no
judiciário para aplicação desta protetiva. Há dois entendimentos: um deles de que um
homem pode ser um péssimo marido, mas um ótimo pai e que o direito de conviver com
os filhos não lhe deve retirado por ser um direito subjetivo. Por outro lado, alguns juristas
entendem que não há como dissociar tais situações, e que se uma criança cresce em um
lar violento, é claro que isso irá afetá-la.
Recentemente, foi aprovada a Lei 13.715/19, que prevê a perda do poder familiar para
quem cometer crime doloso contra o outro genitor.
Nos casos de violência doméstica, pode ser que haja medida protetiva proibindo um
contato entre pai e mãe e mesmo que não haja, muito provavelmente, a relação de ambos
pode estar muito desgastada. Para o exercício de uma guarda compartilhada, sem
prejudicar as crianças, é fundamental que os pais tenham algum diálogo. Esse tipo de
situação nem sempre é observada pelo judiciário. Muitas vezes, mesmo em casos de
violência doméstica, já juízes que não se sensibilizam e impõem a guarda compartilhada.
Logo, é preciso fundamentar bem porque a guarda deve ser unilateral quando houver uma
situação que impeça que os pais exerçam conjuntamente esse poder-dever.
Direito de visita
Existe a proteção de suspensão do direito de visita do pai aos filhos menores, que costuma
ser concedida quando a criança também é vítima da violência doméstica. Mas uma
segunda hipótese de aplicação dessa protetiva é quando o momento de entrega da criança
ao pai pode gerar uma nova violência e colocar a mulher em risco. Nesse caso, até que
ocorra uma situação de equilíbrio da convivência, pode ser necessária essa protetiva.
Na análise do caso concreto, pode ser que seja adequada uma visita assistida, caso
entenda-se que se entenda que há risco à criança quando ela se encontra com o pai, seja
porque ela também sofria agressões ou porque ela estava em um ambiente de violência e
isso lhe traga insegurança emocional. Na visita assistida um terceiro acompanha o
momento de convivência, que pode ser um familiar, um parente, um assistente social.
Para evitar o encontro entre mãe e pai na entrega dos filhos é que o pai pegue as crianças
na escola ou na casa dos avós ou de terceiros. É preciso analisar como viabilizar as
convivências mantendo a cliente a salvo.
Alienação parental
Pode ser entendida como uma disputa ou desavença entre os genitores que utiliza
a criança para atingir o outro.
É a principal defesa dos agressores em disputa de guarda. Eles apontam que a
denúncia de violência doméstica visa afastar o convívio do pai com os filhos.
Fundamento: Lei da Alienação Parental (Lei n° 12.318/10)
Em primeiro, deve-se conhecer o que deseja a cliente e o quanto ela se sente segura.
Muitas vezes, as mulheres só querem resolver a situação o mais rápido possível e com
menos conflito, pois já foi muito difícil pra ela denunciar a violência, sair do
relacionamento abusivo, que ela não quer mais litigar. Ela só quer resolver e seguir a vida.
Se assim for, é preciso garantir que ela se sentirá segura tanto física, quando
psicologicamente porque esses diálogos costumam ser bem desgastantes. Se houver
medida protetiva, é importante comunicar a realização da audiência ao juízo que concedeu
essas medidas, para que o agressor não alegue descumprimento da medida protetiva pela
vítima, sob pena de ter suas medidas protetivas canceladas. A audiência deve ser
informada ao juízo como uma situação excepcional, de busca de conciliação, e que
não há renúncia das medidas protetivas. (obs.: quem advoga pelo agressor também
deve comunicar para evitar pena de prisão para o cliente).
Se a cliente não tem interesse na conciliação, pensa que isso seria uma revitimização, é
importante demonstrar a situação de existência de violência contra a mulher, da existência
de medida protetiva para o juízo de família/civil e peça que essa audiência seja
dispensada. Alguns juízes não aceitam esse pedido, porque a regra é que se uma das partes
insiste a audiência de conciliação irá acontecer. Nesse caso, se a audiência não for
desmarcada é possível requerer aplicação do art. 334, II, §10, CPC:
Nós próprias poderemos desempenhar essa função, se a procuração tiver poderes para
negociar e transigir. Assim, evita-se a aplicação de multa por ato atentatório à dignidade
da justiça devido ao não comparecimento e garante que a cliente ficará bem.
AULA 08 - FEMINICÍDIO CONCEITO E EVOLUÇÃO JURÍDICA
Dados
Quando a gente analisa os dados frios, vemos que morrem mais homens por assassinato
do que mulheres. Mas as motivações são significativas. Os homens morrem, em sua
maioria, por violência urbana (assalto, briga de trânsito, de bar). Os homicídios de
mulheres, em sua maioria, são cometidos por pessoas próximas à vítima. Mais da metade
são cometidos por familiares do sexo masculino, dentre eles, o companheiro ou ex-
companheiro praticam 1/3 dos assassinatos. 27% dos homicídios de mulheres
aconteceram dentro de casa. Ou seja, são mortes que possuem uma característica
particular, decorrente do machismo.
Característica
As violências no âmbito doméstico vão ficando mais intensas e menos espaçadas, e vêm
justificadas como se a mulher tivesse feito algo para provocar, “ela mereceu”. Uma das
razões mais comuns é quando a mulher decide terminar um relacionamento ou quando é
descoberta uma traição. Por conta da desigualdade, ela é vista como um objeto masculino
e não com um ser humano autônomo.
Formas de feminicídio
Digressão histórica:
Outra tese de defesa dos homens que matavam por feminicídio é a do homicídio
passional. A própria mídia noticia os crimes como um episódio em que o homem
“perdeu a cabeça”, “matou por amor”, “matou por ciúmes”. Essas justificativas
naturalizam a morte dessas mulheres, desumanizam a vítima e humanizam o
agressor. Muitas vezes a defesa tenta desmoralizar a vítima, colocando ela própria
em julgamento, de forma degradante.
Uma qualificadora que torna o crime mais grave faz afastar esses tipos de tese,
que acaba naturalizando a morte de mulheres. A lei do feminicídio, mais do que
agravar uma conduta, reconhece a gravidade do crime.
Na prática, não houve uma diminuição das taxas de feminicídio. Por outro lado,
há o reconhecimento estatal da gravidade.
Esse assunto é bem delicado não só por conta da temática que envolve, mas porque é
difícil de lidar na prática também, seja pelo envolvimento emocional que podemos ter
com o caso, seja porque é muito difícil reconhecer a violência na prática.
Cultura do estupro
De acordo com a ONU Mulheres, podemos conceituar como o termo usado para abordar
as maneiras como a sociedade culpa as vítimas de violência sexual e normaliza o
comportamento sexual violento dos homens. Ou seja: quando, em uma sociedade, a
violência sexual é normalizada por meio da culpabilização da vítima, isso significa que
existe uma cultura do estupro.
Em 90% dos casos, os agressores são do sexo masculino e 88% das vítimas são
do sexo feminino.
27% dos homens entrevistados acreditam que não é violência abusar de uma
mulher caso ela esteja alcoolizada.
1/3 dos brasileiros concordavam com a frase “mulheres que usam roupas que
mostram o corpo merecem ser atacadas”.
1 mulher é estuprada a cada 11 minutos.
Características
Estrupo íntimo
Às vezes a mulher demora muito tempo pra reconhecer que sofreu uma violência.
O agressor muitas vezes é um conhecido da vítima, a quem ela encontra com
alguma frequência.
A vítima pode ter medo de alguma retaliação ou represália.
Pode ser que tenha sido ameaçada.
Pode ser que se sinta constrangida a expor que passou pela violência, já que a
sociedade a culpabiliza.
Pode ser que simplesmente tenha vontade de esquecer. Levando um processo
penal em diante, ela vai ter que ir algumas vezes à delegacia, em audiência, repetir
o ocorrido. O descrédito na justiça leva a essa situação. Isso costuma acontecer
porque casos de violência sexual não costumam deixar provas ou tem provas
muito difíceis. Na maioria das vezes é palavra contra palavra.
A culpa nunca é da vítima!
AULA 10 – TIPOS PENAIS PRINCIPAIS
Estupro
CP. Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção
carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: (Redação
dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Elementos do crime:
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14
(catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§1°. Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que,
por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência.
(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Violação sexual mediante fraude (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante
fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima:
(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos. (Incluído pela Lei nº 10.224, de 15 de 2001)
Figuras que tínhamos à disposição para tratar desse assédio nos espaços públicos
antes da criação do tipo da importunação sexual (art. 215-A, CP criado pela Lei
13.718/18).
Ato obsceno (art. 233, CP). Ex.: indivíduo que se masturba no ônibus.não há
interação.
Importunação ofensiva ao pudor (art. 61 da Lei de Contravenções penais,
revogado pela Lei 13.718/18): pena de multa.
Estupro (o mais grave), envolve violência ou grave ameaça.
Importunação sexual
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo
de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro: (Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.
(Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Elementos:
Dispensa a violência ou grave ameaça, basta que não haja anuência e seja
cometido contra a vítima.
Nesse tipo de crime também se enquadram as violências sexuais que falamos no
início, que não tinham consentimento, mas não se valem de violência e grave
ameaça.
Como essa lei é muito recente, ainda não temos muito elementos para dizer como
funciona na prática.
Problema: a lei revogou a importunação ofensiva ao pudor, que incluíam casos de
cantadas ofensivas e invasivas. Logo, precisamos aguardar como as cortes
enquadrarão esses casos. Braga acredita que não se enquadra em importunação
sexual por ter uma pena relativamente alta e não ser considerado ato libidinoso, e
que deve ser visto como injúria.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave.
(Incluído pela Lei nº 13.718, de 2018)
Antes da criação dessa lei, esses casos se enquadravam em difamação, cuja pena
é muito baixa e a natureza da ação é privada (depende da contratação de
advogado). Atualmente, basta o registro de ocorrência, pois a ação é pública.
Lei Carolina Dieckman: só protege quando as imagens são obtidas por invasão do
dispositivo informático.
Essa lei cria um aumento de pena para o estupro coletivo e corretivo (geralmente
acontece contra pessoas LGBT’ e profissionais do sexo); e para quando os crimes
são cometidos por familiares da vítima (principais agressores, comumente) ou
quando do ato resulta gravidez ou contágio de DST.
Todos os crimes contra a dignidade sexual se tornaram de ação penal pública
incondicionada. Logo, o prazo não é mais de 6 meses para denúncia, que passa a
seguir o prazo prescricional (109 e ss, CP).
AULA 11 – ASPECTOS PROCESSUAIS (REPRESENTAÇÃO, AÇÕES
PENAIS PÚBLICAS, PRIVADAS, ETC.)
Porque houve sucessivas alterações legislativas sobre o tema. Até 2009, todas as ações de
crimes contra a dignidade sexual eram de ação penal privada, com algumas exceções:
Súmula 608, STF - no crime de estupro, praticado mediante violência real (cabe
ao judiciário identificar, mas geralmente envolvia agressões), a ação penal é
pública incondicionada.
Crime cometido com abuso do pátrio poder: art. 225, §1°, II, CP.
Vítima pobre: ação penal pública condicionada à representação (art. 225, §1°, I e
§2°, CP). O MP faria essa ação pela vítima.
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante
ação penal pública incondicionada. (Redação dada pela Lei nº 13.718, de 2018)
Princípios pertinentes:
É possível demandar na esfera civil ação por danos morais. Todo ilícito penal é um ilícito
cível. Ato ilícito cível que causa dano gera o dever de indenizar.
Prescrição cível:
§ 3o Em três anos:
Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não
correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.
AULA 12 – ATUAÇÃO PRÁTICA: ATENDIMENTO À VÍTIMA,
ATUAÇÃO NA ESFERA POLICIAL E JUDICIAL
Segundo Braga, infelizmente, acontece com frequência, que a vítima chegue para fazer o
registro de ocorrência e tenha que passar por vários profissionais que vão ficar
perguntando o que aconteceu. Relata que assistiu um caso numa delegacia, em que uma
vítima, que tinha acabado de sofrer uma violência, não tinha passado por um atendimento
médico ainda porque não tinha sido orientada a respeito e foi colocada no final da fila
porque os policiais estavam achando engraçada aquela situação. É função da advogada
proteger a cliente com os instrumentos jurídicos disponíveis para não deixar que ela
seja revitimizada. Quando Braga foi conversar com ela, a primeira coisa que o escrivão
que ficava na recepção fez foi a gritar para todos que “a vítima estava doida, que estava
dizendo que foi estuprada, mas não acreditem nela não”.
Perguntas que não são pertinentes não devem ser feitas, como qual a roupa que a
vítima vestia, como é a sexualidade da vítima (Braga disse que já ouviu a pergunta de se
a mulher costumava fazer sexo grupal).
O próximo passo é pegar a guia do IML e ir fazer o corpo de delito para
garantir a guarda da prova.
Situações possíveis:
o A vítima pode ter ido sozinha à delegacia, mas teve algum óbice e não
conseguiu registrar a ocorrência.
o Ou pode ter conseguido, mas busca orientação jurídica porque foi
maltratada, ou não conseguiu registrar satisfatoriamente a ocorrência.
Nesse caso, é preciso verificar se os requisitos legais estão devidamente
preenchidos, como se foi um caso que ocorreu antes da alteração
legislativa da lei 13.718/18 (que tornou os crimes sexuais de ação penal
pública incondicionada). Se a representação não foi feita, é preciso fazer
indo à delegacia e pedindo a lavratura de um termo ou por meio de petição
de representação e instauração de inquérito policial.
Produção de provas
1. Nesse tema, temos que ter em mente um importante paradigma que é a segurança
no trabalho das mulheres. Quando o direito trabalho surge, no final do século
XVIII e início do século XIX, e no Brasil, mais especificamente, no começo do
século XX, para frear certos abusos que ocorriam dentro das relações de trabalho,
especialmente o feminino e o infantil. Esse foi um movimento mundial. A
Organização Mundial do Trabalho, em suas primeiras convenções que buscavam
vincular a produção legislativa dos Estados-nação, visavam resguardar direitos
desses grupos muito mais exploradas, em um contexto fabril e rural.
Conceito de discriminação:
Assédio moral
O assédio moral não se caracteriza por uma conduta pontual. Então, uma eventual
desavença entre trabalhador e superior hierárquico (que haja tom de violência e
ofensas), de modo geral, não se classifica como assédio moral, que, em regra, é
uma conduta reiterada.
Muitos assédios morais sucedem tentativas de assédio sexual que não foram
correspondidas, visando retaliar a vítima. Importante questionar as clientes, nos
casos de assédio moral, se houve tentativa de assédio sexual antes ou
concomitantemente.
Assédio sexual
Na esfera trabalhista:
o Definição: o assédio no ambiente de trabalho consiste em constranger a
trabalhadora por meio de insinuações e cantadas constantes, com objetivo
de obter vantagem ou favorecimento sexual.
o Pode ser explícita ou não. Pode se dar por gestos, comportamentos,
palavras, e até mesmo na promessa de favorecimento ou chantagem,
colocando a dignidade sexual da mulher em cheque.
o Normalmente ocorre por intimidação ou chantagem.
Na esfera penal:
CP. Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-
se mediante ação penal pública incondicionada. (Redação dada pela Lei nº
13.718, de 2018)
Ruzzi recomenda que se invista em um inquérito policial, pois pode ser que seja
vantajoso para a reclamação trabalhista, por suas eventuais provas.
Obs.: Para os crimes praticados antes de março de 2018, se ainda não houve
representação, não é mais cabível a instauração de inquérito, porque antes a ação
era condicionada à representação e tinha prazo de 6 meses para sua instauração.
o Muitas provas pertinentes à reclamação trabalhista podem ser
obtidas pelo inquérito policial, como depoimentos, mensagens, prints,
laudo de psicológico.
o Atenção! A iniciativa do inquérito é importante também porque em 90%
dos casos, segundo Ruzzi, uma das formas de defesa da reclamada é alegar
que a vítima não buscou a justiça criminal, o que poderia ser um indicativo
de que os fatos não ocorreram conforme seu depoimento. Para evitar
revitimizar a trabalhadora é importante fortalecer o inquérito (inclusive,
pode ser que valha a pena esperar um pouco sua conclusão para que instrua
a reclamação trabalhista).
Pedido de segredo de justiça: não esquecer de jeito nenhum! Pois é uma ação
que envolve a intimidade da cliente e pode expô-la (ex.: a matérias jornalísticas,
como no caso de uma empresa grande).
o Fundamento:
CF. Art. 5°, X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a
honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
CPP. Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam
em segredo de justiça os processos: III - em que constem dados
protegidos pelo direito constitucional à intimidade;
Danos Morais
Muitas vezes, respaldados nessa garantia de que mesmo se perdesse não teria que pagar
custas e honorários sucumbenciais para o advogado da outra parte e seu cliente não seria
prejudicado, alguns advogados agiam de forma irresponsável, atribuindo à causa valores
mais elevados do que o razoável conforme parâmetros jurisprudenciais. Com essa
mudança, é preciso ter critérios.
O art. 223-G, CLT prevê a forma como se deve atribuir a mensuração do dano moral.
Mas além disso, devemos nos atentar para os parâmetros jurisprudenciais (como as cortes
têm julgado casos semelhantes?).
→ Pode ser que a empregadora tente reparar ou minimizar a ofensa. Ex.: uma
resposta da ouvidoria, após a abertura de um processo administrativo, com
ofensa do assediador.
III - ofensa de natureza grave, até vinte vezes o último salário contratual do
ofendido; (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
IV - ofensa de natureza gravíssima, até cinquenta vezes o último salário
contratual do ofendido. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017)
Por fim, pode ser que o assédio moral também incorra em algum tipo de crime.
Se houve ofensa verbal, dano à honra, podemos estar diante de um crime de
injúria; se houve confronto físico, pode ter havido lesão corporal.
AULA 15 – PRÁTICAS DISCRIMINATÓRIAS LEI N. 9.029/95 E
OUTRAS PRÁTICAS COMUNS
Estabilidade do emprego: pela CF, fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa
causa (ou seja, há estabilidade no emprego) da empregada gestante, desde a
confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. Vale mencionar que esse
mesmo dispositivo se aplica em caso de mulher adotante.
o Quando seria a confirmação da gravidez? Já se encontra pacificado no STF
que a confirmação de que trata a lei é a confirmação no corpo da mulher,
ou seja, desde o momento da concepção. Independe do momento em que
a gestante comunica a gravidez à sua empregadora. A lógica desse
dispositivo é proteger a infância.
Art. 393 - Durante o período a que se refere o art. 392, a mulher terá direito ao
salário integral e, quando variável, calculado de acordo com a média dos 6
(seis) últimos meses de trabalho, bem como os direitos e vantagens adquiridos,
sendo-lhe ainda facultado reverter à função que anteriormente ocupava.
(Redação dada pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)
Dois descansos diários de 30 minutos para amamentação, até a criança completar
6 meses de vida.
o Supondo que a trabalhadora voltou a trabalhar após 4 meses de licença-
maternidade, ela terá dois meses de descanso diário.
o A reforma trabalhista prevê que o horário dos descansos fica a cargo de
acordo individual formal.
Art. 396. Para amamentar seu filho, inclusive se advindo de adoção, até que
este complete 6 (seis) meses de idade, a mulher terá direito, durante a jornada
de trabalho, a 2 (dois) descansos especiais de meia hora cada um. (Redação
dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
Dias Toffoli.
- Plenário 29.05.2019.
Mudar de função ou setor de acordo com seu estado de saúde e ter assegurada a
retomada da antiga posição.
Art. 395 - Em caso de aborto não criminoso, comprovado por atestado médico
oficial, a mulher terá um repouso remunerado de 2 (duas) semanas, ficando-
lhe assegurado o direito de retornar à função que ocupava antes de seu
afastamento.
Reclamação trabalhista:
o Ex.: requerendo, conforme o caso, a reintegração ao posto de trabalho.
Caso haja impossibilidade de reintegração (o setor foi fechado, p. ex.),
indenização pelo tempo em que teria estabilidade (cálculo até o 5° mês
após o nascimento – período da estabilidade), o que inclui todas as verbas
acessórias.
o De modo geral, a mulher demitida nesse estado dificilmente quer retornar
ao seu antigo posto de trabalho. Se for uma empresa muito grande, ela
pode ficar em outro posto e sentir como se estivesse em uma empresa
nova. Mas se a empresa for pequena ou média, de modo geral, as mulheres
se sentem constrangidas. Contudo, geralmente, a justiça determina a
reintegração, pois a jurisprudência é pacifica no sentido de que sempre
deve haver a tentativa de reintegração da trabalhadora e a indenização é
uma hipótese subsidiária.
Súmula nº 244 do TST
Danos morais
Denúncia ao Ministério Público do Trabalho: se os descumprimentos forem uma
prática recorrente da empresa. O MPT tem competência de fiscalizar
empregadoras; tem poder de firmar Termo de Ajustamento de Conduta.
Tipos de discriminação
Podem estar nos anúncios de empregou, nos requisitos para promoção da empregada, na
consideração de elementos discriminatórios para estabelecer a remuneração, nos motivos
de dispensa, no momento da entrevista ou durante a relação de emprego.
CLT.
Lei 9.029/95
Parágrafo único. São sujeitos ativos dos crimes a que se refere este artigo:
Art. 3°. Sem prejuízo do prescrito no art. 2o desta Lei e nos dispositivos legais
que tipificam os crimes resultantes de preconceito de etnia, raça, cor ou
deficiência, as infrações ao disposto nesta Lei são passíveis das seguintes
cominações: (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
Exigir que a pessoa alise o cabelo, emagreça, utilize vestimentas que não sejam o
uniforme, pergunta sobre a pretensão de ser mãe.
Empresa que coloque no anúncio a preferência por boa aparência, jovem, solteira.
Lei 9.029/95
Caso emblemático3: uma professora trans de SP foi afastada de metade de sua carga
horária, perdendo parte significativa de seus rendimentos quando passou pelo
3
Vídeo de 2018: Escola deve recontratar professora transexual demitida por discriminação:
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2018/09/12/justica-de-sp-condena-escola-a-recontratar-
professora-transexual-demitida-por-discriminacao.ghtml
procedimento transição de gênero e, posteriormente, foi demitida. Essa professora
ingressou com reclamação trabalhista e o Tribunal deferiu o pedido de danos morais no
montante de 30 mil e sua reintegração.
Juíza ainda determinou que Anglo pague indenização de R$ 30 mil por dano moral
a Luiza Coppieters. Colégio nega demissão por preconceito, mas diz que irá
cumprir decisão judicial.