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DIGNIDADE SEXUAL
SÃO PAULO
2015
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................................4
1. TÍTULO VI – DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL.........................................8
2. CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL.........................................................................9
3. CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL......................................................................13
3.1. ESTUPRO DE VULNERÁVEL....................................................................................13
3.2. INDUÇÃO À SATISFAÇÃO DA LASCÍVIA DE OUTREM OU SATISFAÇÃO DA
LASCÍVIA NA PRESENÇA DE MENOR DE 14 ANOS.......................................................19
3.3. FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU QUALQUER FORMA DE
EXPLORAÇÃO SEXUAL DE MENOR OU VULNERÁVEL................................................20
4. ASPECTOS PROCEDIMENTAIS..........................................................................................22
4.1. DEPOIMENTO SEM DANO........................................................................................23
4.2. SEGREDO DE JUSTIÇA.............................................................................................24
5. DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU
OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL........................................................................26
6. DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR...................................................................................51
7. DISPOSIÇÕES GERAIS.........................................................................................................56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................................57
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INTRODUÇÃO
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Pena de reclusão, de dois a quatro anos). E, obviamente, a previsão desse crime
não visava à proteção das mulheres, como aparentemente era afirmado.
Todavia, apesar da extinção desses dispositivos androcêntricos, revogados
apenas em 2005, o sistema penal brasileiro continuou convivendo com a
ultrapassada concepção de que a sexualidade deveria ser controlada por uma
pauta moral de comportamento, segundo padrões ditados pela ideologia
patriarcal. Assim, os delitos contra a liberdade sexual continuaram inseridos no
capítulo dos crimes contra os costumes.
Foi somente no final da primeira década do século XXI, com a aprovação
da Lei n. 12.015, de 7 de agosto de 2009, que a sexualidade foi reconhecida
como um atributo da pessoa humana e como uma expressão de sua dignidade:
essa lei abandonou a antiga e patriarcal concepção de crimes contra os
costumes e passou a cuidar da proteção da sexualidade no âmbito da dignidade
sexual, respeitando a nossa Carta Maior, a Constituição Federal, que prevê que
homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações e que os direitos e
deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e
mulher.
Portanto: o estupro (Código Penal, artigo 213. Constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou
permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de seis a
dez anos);
- o assédio sexual (Código Penal, artigo 216-A. Constranger alguém com
o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente
da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de
emprego, cargo ou função: Pena - detenção, de um a dois anos);
- o estupro de vulnerável (Código Penal, artigo 217-A. Ter conjunção
carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena -
reclusão de 8 a 15 anos);
- o favorecimento da prostituição (Código Penal, artigo 228. Induzir ou
atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la,
impedir ou dificultar que alguém a abandone: pena - reclusão, de dois a cinco
anos) e outros delitos contra o exercício da sexualidade passaram a ser
considerados crimes contra a dignidade sexual.
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Embora, desde a promulgação da Constituição de 1988, a dignidade
humana já era reconhecida pela sociedade brasileira como um princípio
fundamental de todo o sistema jurídico, político e social brasileiro, foi necessária
uma pressão internacional para efetivar essa proteção, pois o Brasil, em face de
suas normas e princípios constitucionais, submete-se, também, às normas e
princípios de Direitos Humanos, ou seja, de um sistema internacional de proteção
do ser humano.
Assim, cabia ao Brasil adaptar a sua legislação e as suas políticas públicas
a esses princípios. Assim, na Conferência do Cairo (1994) ficou afirmado o
compromisso do sistema de Direitos Humanos com a necessidade do abandono
da concepção patriarcal de controle da sexualidade das mulheres. E, na
Conferência de Beijing (1995) foram expressamente reconhecidos os Direitos
Sexuais e Reprodutivos e enfatizada a necessidade da garantia da
autodeterminação, da igualdade e da segurança sexual e reprodutiva das
mulheres para a plena vivência de sua saúde sexual e reprodutiva,
estabelecendo-se que os Estados, inclusive o Brasil tem o dever de proteger
esses direitos.
Contudo, apesar desse avanço legislativo, outro desafio há de ser
enfrentado, em especial pelos juízes, responsáveis pela aplicação jurídica desses
novos e inovadores dispositivos legais, mas, também, por todos os órgãos
responsáveis pela efetivação material de políticas públicas que devem ser
construídas e implantadas para garantir a indenidade da dignidade sexual, não só
das mulheres, mas a dignidade de todo ser humano. É o que evidencia o artigo
Influência do exame médico-legal na responsabilização do autor da violência
sexual contra adolescentes.
Com efeito, como lembrado nesse estudo, a violência sexual é uma das
mais antigas expressões da violência de gênero e uma brutal violação de direitos
humanos, de direitos sexuais e de direitos reprodutivos. E, embora comprometa
pessoas de ambos os sexos e em qualquer idade, as evidências apontam que o
fenômeno declina contundentemente sobre as mulheres, particularmente as mais
jovens e vulneráveis.
Segundo artigo de Valéria Diez Scarance Fernandes, Violência Doméstica,
publicado em 02/06/2005:
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“Nos processos, é comum transformar a pessoa da vítima em “objeto” de
prova. Questiona-se sua vida pessoal, relacionamentos anteriores,
estabilidade emocional, vestes e problemas psíquicos. Raramente são
indeferidas perguntas de cunho pessoal, ainda que não tenham relação
direta com o fato. Nesse contexto, há um perene desnível entre os
direitos do réu e os direitos da vítima. Ao réu, garante-se o silêncio, sem
qualquer prejuízo. À vítima, o dever de falar, com a possibilidade de
condução coercitiva. A vingança também se modernizou. Surgiu a
denominada “vingança pornô”, divulgação de fotos reais ou montagens
como forma de destruir a imagem da ex-parceira. O efeito é devastador,
uma morte civil em plena vida, que tem levado meninas e mulheres ao
suicídio. Apesar disso, não há no ordenamento um dispositivo legal
específico. Para suprir esta lacuna, desde 2013, tramita na Câmara dos
Deputados um Projeto de Lei (PL 6630/2013), que tem como objetivo
tipificar a conduta de divulgar fotos ou vídeos com cenas de nudez ou
ato sexual, sem autorização da vítima. No grande reduto da legítima
defesa da honra – Tribunal do Júri – ainda se encena a estratégia de
defesa de transformar o feminicídio em “ato de amor” e o réu em homem
apaixonado, como o célebre processo de Doca Street. Logo a seguir, a
vítima é apontada como desregrada, insensível ao amor ou infiel. Tudo
isso para se tentar uma absolvição ou a diminuição da pena pelo crime
privilegiado.”
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1. TÍTULO VI – DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL
8
2. CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL
ESTUPRO:
Com a Lei nº 12.015/09, o artigo 214 foi revogado, mas migrou seu
comportamento para o art. 213 do CP.
DEPOIS
Art. 213 CP: O estupro é constranger a vítima à conjunção carnal + Atos de
libidinagem. Não houve “abolitio criminis” do art. 214, mas princípio da
continuidade normativa-típico.
O art. 213 CP é crime HEDIONDO sempre.
Art. 1o ) São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados
no CP, consumados ou tentados:
V – estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º).
O crime de Estupro no Código Penal Militar não é hediondo por falta de
previsão legal.
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Quais são os sujeitos do Crime de Estupro?
SUJEITO ATIVO: crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa.
SUJEITO PASSIVO: crime comum, pode ser praticado por qualquer
pessoa.
A conjunção carnal se o sujeito ativo é o homem, o passivo é mulher.
Pressupõe-se a heterossexualidade entre os agentes (define como crime próprio).
Nos atos libidinosos, o crime não é próprio, pois o sujeito ativo cabe a qualquer
pessoa.
Prostituta pode ser vítima de estupro? Sim. O tipo não exige qualquer
qualidade da vítima.
Marido pode figurar como sujeito ativo de estupro contra a esposa? Claro
que sim e sofre aumento de pena, art. 226, II, CP. E art. 7°, III, da Lei 11.340/06
(Maria da Penha).
Aumento de pena:
Art. 226 CP: A pena é aumentada: (Redação dada pela Lei nº 11.106, de
2005).
II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio,
irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador
da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;
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-CONSTRANGIMENTO: mediante violência ou mediante grave ameaça. A
simples ameaça não caracteriza o crime de estupro. (art. 215 do CP).
-ATOS DE LIBIDINAGEM: conjunção carnal ou atos libidinosos diversos da
conjunção carnal que pode abranger até beijo lascivo, desde que proporcional à
ofensa.
O crime de estupro exige contato físico entre os sujeitos? Prevalece que o
contato físico é dispensável: obrigar a vítima a masturbar-se ou explorar o próprio
corpo para satisfazer a própria lasciva (segundo Mirabete e TJSP).
-VOLUNTARIEDADE: dolo
Exige finalidade especial animando o agente?
1° Corrente: é punido a título de dolo sem finalidade especial (Capez).
2° Corrente: Com finalidade especial são os atos libidinosos. (Mirabete).
CONSUMAÇÃO: Consuma-se com a prática efetiva do ato de libidinagem
visado pelo agente (delito material).
TENTATIVA: é possível.
A prática da conjunção carnal seguida de atos libidinosos (ex.: sexo anal)
gera pluralidade de crimes?
1ªC: (STF, STJ / maioria da doutrina): Se praticados os atos no mesmo
contexto fático, não desnatura a unidade do crime (crime único). O juiz considera
a pluralidade de atos na fixação da pena base. Ausente a identidade de contexto
fático, haverá concurso de crimes (podendo haver continuidade delitiva).
2ªC: Ainda que praticados no mesmo contexto fático, para gerar crime
único é indispensável nexo entre os comportamentos. Faltando nexo, haverá
concurso de crimes (não pode haver continuidade delitiva, pois ausente a mesma
forma de execução).
QUALIFICADORAS: §§ 1º e 2º
1- Vítima menor de 18 ou maior de 14 anos.
ANTES
Era apenas uma circunstância judicial desfavorável para fixação da pena
base.
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DEPOIS da Lei nº 12.015/09:
Passa a ser qualificadora: Pena: 8 a 12 anos. Norma irretroativa.
QUALIFICADORAS: §§ 1º e 2º
2- Se do estupro resultar lesão corporal grave
ANTES:
Se da violência resulta lesão grave.
ANTES
Se do fato resulta morte. Abrange qualquer comportamento.
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3. CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL
Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com
menor de 14 (catorze) anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§1° Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput
com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer
outra causa, não pode oferecer resistência.
§2° (Vetado).
§3° Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§4° Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
a) Cópula ectópica (do grego: ec = fora de; tópos = lugar)1, são aquelas
realizadas fora do lugar natural, pois para a medicina legal a cópula
tópica é aquela que se dá entre pênis e vagina; as demais são atípicas,
como o coito anal, o coito oral, dentre outras;
1
Disponível em: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf10.php - acesso em 17.08.15.
2
MARCÃO, Renato. Crimes contra a dignidade sexual: comentários ao Título VI do código penal. 2.ed. - São Paulo: Saraiva, 2015,
p.201.
13
“Conjunção carnal é a relação sexual caracterizada pela introdução do
pênis na vagina, dispensando-se penetração ou ejaculação; ato
libidinoso é qualquer prática diversa, tendente a excitar ou satisfazer a
libido humana, podendo ser assim também entendido aquele ato,
objetivamente identificável com uma prática libidinosa mas destinado a
menosprezar ou humilhar a vítima.”
3
Disponível em http://www.lexico.pt/vulneravel/ - acesso em 28.08.2015.
4
Art. 224. “Presume-se a violência, se a vítima: a) não é maior de 14 (catorze) anos; b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia
esta circunstância; c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência”.
5
NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual. 5. Ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2014.
14
de vulnerável, não é necessária a conjunção carnal propriamente dita,
mas qualquer prática de ato libidinoso contra menor. Jurisprudência do
STJ. 3. Em relação a impossibilidade de discussão de legislação já
revogada e de aplicação da lei penal mais gravosa, verifica-se tratar de
inovação em agravo regimental, não podendo ser acolhida nesta fase
recursal. 4. Agravo regimental improvido.(STJ - AgRg no REsp: 1295596
MG 2011/0294515-7, Relator: Ministro CAMPOS MARQUES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PR), Data de Julgamento:
06/06/2013, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 11/06/2013)
Algumas situações ainda podem ser tratadas como erro de tipo, ou seja,
hipóteses em que o agente imagina que a pessoa sob a qual recai a conduta
possua idade superior a catorze anos ou que não esteja nas condições descritas
no §1° do artigo em debate.
15
que este não tinha condições de pressupor que se tratava de uma menor
de 14 (catorze) anos. Erro de tipo caracterizado, razão pela qual a sua
absolvição, por ausência de dolo, é medida que se impõe” (Ap. 0001601-
53.2011.8.26.0132, 1.ª C.C.E., rel. Airton Vieira, v.u.).
Neste ponto poderíamos dizer que não há punição pela ausência de dolo,
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elemento subjetivo necessário para a punição do crime de estupro de vulnerável.
Outra questão é se o artigo 217-A foi uma novatio legis in mellius, pois,
aplicando-se o artigo 9° da Lei dos Crimes Hediondos, antes da alteração
legislativa de 2009, alcançava-se uma pena mínima de 9 anos (somando-se a
pena base do artigo 213 ou 214, redação antiga, cc. Art. 9° da Lei 8072/90), aos
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crimes no qual envolvia menores ou vulneráveis, segundo a classificação dada
pelo antigo artigo 224 do Código Penal, ao passo que a pena mínima do atual
artigo 217-A é de 8 anos, ficando abaixo daquela. Ocorre que o referido artigo 9°
era aplicado somente em situações excepcionais, conforme entendimento
jurisprudencial, nos casos em que a conduta criminosa resultasse em lesão grave
ou morte, cujas penas mínimas foram fixadas em 10 e 12 anos respectivamente
nos parágrafos 3° e 4 do novo artigo 217-A pela Lei 12.015/09. Dessarte, a pena
hoje é mais gravosa, pois como dissemos, a jurisprudência só entendia aplicável
a majorante do artigo 9° da lei de crimes hediondos, se do crime resultasse lesão
grave ou morte. Nesse sentido:
O código penal traz nos artigos 218 e 218-A dois crimes, cujos nomen juris
são “corrupção de menores” e “satisfação de lascívia mediante presença de
criança ou adolescente”, respectivamente, in verbis:
7
MARCÃO, Renato. Op.cit., 2015, p.222.
8
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
19
O artigo 218-A, por sua vez, trata da indução do menor a que presencie ou
a prática em si, na frente do menor, de atos sexuais ou atos libidinosos, é de difícil
verificação na prática, haja vista que o tipo possui um elemento subjetivo
consistente na satisfação da lascívia própria, o que em termos de prova é quase
impossível, pois o acusado pode alegar que não percebeu a presença do menor.
Ademais, só é punido a título de dolo, existindo a possibilidade de aplicação,
ainda que remota, do dolo eventual.
Importante salientar que nesse tipo penal a lei protege o menor de 18 anos,
e não somente os menores de 14 anos, como nos tipos penais anteriormente
tratados. O menor de 18 e maior de 14 anos passa a ser considerado
relativamente vulnerável nos dizeres de NUCCI9 e MARCÃO10.
Trata-se de tipo misto alternativo, pois há diversas condutas tipificadas no
9
NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual - (livro eletrônico). 5. Ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2014.
10
MARCÃO, Renato. Op.cit., 2015, p.246.
20
tipo penal. A conduta é submeter, induzir ou atrair à prostituição, ou qualquer
outra forma de exploração sexual, e ainda, facilitá-la, constituindo-se elemento
objetivo do tipo também a conduta de dificultar ou impedir que o sujeito passivo
abandone a prostituição ou outra atividade de exploração sexual.
Renato Marcão11 assim define os verbos núcleos do tipo em questão:
O dispositivo em análise foi incluído no rol dos crimes hediondos pela Lei
12.978/14, ficando assim redigido:
Por fim, insta salientar que tal dispositivo revogou tacitamente o artigo 244-
A do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90)12.
11
Op. cit., p.247.
12
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à exploração
sexual:
Pena – reclusão de quatro a dez anos, e multa.
§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança ou
adolescente às práticas referidas no caput deste artigo.
§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.
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4. ASPECTOS PROCEDIMENTAIS
Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-
se mediante ação penal pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública
incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa
vulnerável.
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A partir do momento em que a própria lei já diz que os crimes contra a
liberdade sexual são de ação penal pública, não há qualquer razão para
se socorrer da regra da parte geral do Código Penal, contemplada no
artigo 101, o que faz prevalecer, de forma indiscutível, a redação do
artigo 225 e seu parágrafo único.[...]
Sendo já pública a ação penal pela prática de estupro, não produz, por
certo, mais qualquer impacto na matéria o artigo 101, do Código Penal,
de sorte que não ocorre mais a remessa da disciplina da matéria da ação
penal pelo crime de estupro, quando haja violência real, para o artigo
146, do Código Penal (constrangimento ilegal), o que faz desaparecer o
próprio conteúdo que dava sustentação à Súmula nº 608/STF, fazendo
com que a mesma se torne totalmente inaplicável.13
TJRS: “Ainda que não haja base científica sólida que ateste a eficácia do
denominado Depoimento sem dano (DSD), o qual ainda é objeto de
controvérsias nos meios acadêmicos da psicologia, psiquiatria e mesmo
nos meios jurídicos, não se pode desconsiderar os bons resultados
obtidos com sua prática levada a efeito no JIJ da Capital, o que
recomenda, em princípio, sua execução. Nada obstante, no caso
concreto, onde a vítima está com 12 anos de idade, maior a controvérsia
sobre a eficácia da utilização do DSD, razão pela qual deve-se deixar à
livre escolha do magistrado que conduz a instrução criminal sua
utilização ou não” (Correição Parcial 70047175625/RS, 7.ª C.C., rel. José
Conrado Kurtz de Souza, 08.03.2012).
25
5. DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO
OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
26
cerceamento de liberdade, nos casos de casamento com estrangeiros;
prostituição forçada; trabalho doméstico forçado; casamento servil.
O tráfico de pessoas é, ao mesmo tempo, causa e consequência de
violações de direitos humanos. É consequência de violações de direitos humanos
porque se origina na desigualdade social-econômica, na falta de perspectivas
para profissionalização, e na falta de possibilidades para a realização de sonhos
pessoais. Por outro lado, o tráfico de pessoas é causa de violação de direitos
humanos, porque a sua finalidade é a exploração da pessoa, pois degrada a sua
dignidade e limita o seu direito de ir e vir. Por isso, o tráfico de pessoas é
comumente entendido pelos estudiosos do assunto como uma das formas mais
explícitas de escravidão moderna ligada ao fenômeno da globalização.
Legislação
O primeiro instrumento internacional ratificado pelo Brasil que diz respeito
ao tráfico de pessoas foi a Convenção Interamericana Para Prevenir, Punir E
Erradicar A Violência Contra A Mulher, “Convenção de Belém do Pará”, aprovada
pelo Decreto n.° 1.973, de 1º de outubro de 1996, que definiu as formas de
violência contra a Mulher, elencando o tráfico de mulheres como sendo uma
delas.
Em 30 de julho de 2002, o Brasil incorpora à legislação pátria o Protocolo
Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Contra a Mulher através do Decreto nº 4.136. Já em 13 de
setembro do mesmo ano, o Decreto nº 4.377 aprova a própria Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (1979).
Finalmente, em 15 de novembro de 2000, foi adotado pela Assembleia
Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) o Protocolo Adicional à
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional
Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em especial
Mulheres e Crianças, denominado Protocolo Anti-Tráfico de Pessoas da ONU,
também conhecido como “Protocolo de Palermo”. Pela primeira vez na história, o
tráfico de pessoas (seja interno ou internacional) é definido universalmente. O
Protocolo é promulgado no Brasil em 12 de março de 2004, através do Decreto nº
5.017, passando a ter vigência interna.
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O Código Penal Brasileiro, com as mudanças trazidas pela Lei nº 11.106,
de 28 de Março de 2005 e pela Lei nº 12.015, de 7 de Agosto de 2009, criminaliza
o tráfico internacional (artigo 231) e interno (artigo 231-A) de pessoas (homens e
mulheres) para fins de prostituição ou outra forma de exploração sexual. Os
novos artigos podem ser encontrados na Parte Especial, Título VI, “Dos Crimes
Contra a Dignidade Sexual” e assim não mais tutelam a moral pública sexual.
Como se vê, os artigos 231 e 231-A do Código Penal não tipificam
nenhuma das outras finalidades de exploração, para além da sexual e da
prostituição, mencionadas no Protocolo AntiTráfico de Pessoas, como por
exemplo o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à
escravatura, à servidão ou à remoção de órgãos, casamento servil, trabalho
doméstico forçado. Porém, algumas destas práticas são, parcialmente ou
integralmente, consideradas crimes em outros artigos do Código Penal ou em leis
especiais.
Tráfico de mulheres não pode ser igualado à prostituição. Primeiramente
cumpre diferenciar a prostituição forçada da prostituição voluntária. A prostituição
voluntária é aquela exercida com consentimento válido, supondo escolha real,
informada e aceitável, podendo ser autônoma ou não. A prostituição autônoma no
Brasil é lícita e consta na Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério de
Trabalho e Emprego (MTE), como item 5198: Profissionais de Sexo. No entanto,
existe a prostituição autônoma exercida por falta de outras opções profissionais,
em que se considera que a mulher que a exerce encontra-se em situação de
vulnerabilidade e por isso sem opção de escolha real, e poderá estar em situação
de exploração através do abuso de sua vulnerabilidade.
A prostituição voluntária não autônoma, que ocorre quando há a figura do
empregador da profissional de sexo, constitui crime e é ato ilícito no Brasil para
quem a emprega, sendo considerado cafetinagem. Já a prostituição forçada é
aquela exercida sem o consentimento ou com o consentimento inválido, ou seja,
com o consentimento viciado ou induzido, e se dá através da exploração da
prostituição de outrem. No Brasil a prostituição forçada é condenada sob a figura
do rufianismo, sendo considerada violação de direitos humanos e deve ser
enfrentada.
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Assim, sempre que a prostituição for forçada haverá crime, que poderá ser
o tráfico de pessoas quando houver trânsito dessa mulher de um local a outro
para o exercício da exploração dessa prostituição. No entanto, não
necessariamente quem se prostitui encontra-se numa situação de exploração ou
tráfico de pessoas nem tampouco toda mulher traficada é prostituta.
As maiores dificuldades em se enfrentar o tráfico de pessoas estão
relacionadas com a dificuldade anterior de lidar com a prostituição. Os principais
obstáculos são: os países encaram a prostituição de forma muito diversa, sendo
crime em alguns e regulamentada como profissão em outros, dando espaço ao
desconhecimento de direitos; tratamentos diferenciados e por vezes inadequados
(no Brasil, como se viu, a prostituição não é crime, porém não está
regulamentada); a legislação criminal brasileira continua a tipificar o Tráfico de
pessoas atrelando à prostituição em contraste com a normativa internacional que
se refere também à outras finalidades do tráfico de pessoas, ressaltando que o
Protocolo Anti-Tráfico de Pessoas exclui do seu escopo de aplicação a situação
de prostituição voluntária; o consentimento da vítima que já teve contato com o
mercado do sexo é visto com muito preconceito e dificulta a correta identificação
de possíveis casos de tráfico de pessoas.
O que se pretende não é impedir o livre exercício da prostituição, mas sim
garantir que em momento algum ocorra qualquer tipo de exploração e desrespeito
aos direitos fundamentais e à dignidade dessas mulheres, nem tampouco de
qualquer pessoa se beneficie da exploração da prostituição de outrem.
O capítulo V do título VI do Código Penal abrange o lenocínio e o tráfico de
seres humanos para fim de exploração sexual. Segundo Luiz Régis Prado, o
escopo da lei consubstancia-se na defesa da “liberdade sexual das pessoas,
inclusive sua integridade e autonomia sexual, como o interesse precípuo de evitar
o fomento e a proliferação da prostituição, bem como a corrupção moral que
gravita em torno dela”. Adiante-se que um setor considerável da doutrina
considera incompatíveis com a Constituição Federal algumas das infrações
descritas neste capítulo, notadamente nos crimes dos artigos 227 a 230, em que
somente se verificaria a tutela de valores morais, ligados a uma concepção de
sociedade patriarcal e machista (nesse sentido, Alberto Silva Franco, Tadeu Dix
Silva, Guilherme Nucci e Renato de Mello Jorge Silveira).
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Sob tal aspecto, prostituição é uma prática tão antiga quanto a história da
humanidade. Relatos históricos referem-se à ela como algo que sempre esteve
presente em todas as sociedades.
No Brasil, a prostituição sempre foi vista como uma prática desonrosa e
marginalizada. Hodiernamente se tem a noção de que as pessoas que vivem do
comércio do sexo sofrem uma degradação moral com nítida ofensa aos direitos
humanos, em um processo de “coisificação” do ser humano, ainda que tal prática
se de com sua anuência.
Embora seja considerada imoral, a prostituição não é crime em nosso
território. Outras nações optaram por legalizar a profissão, enquanto o Brasil
ainda não tem uma política direcionada à questão, deixando à margem do Direito
as pessoas que escolheram a profissão ou, à míngua de alternativas, foram
“obrigadas” a se prostituir. Sob tal contexto, a pessoa que “vende” favores sexuais
não comete crime, podendo ser feito um paralelo com o suicídio e a autolesão.
No entanto, algumas condutas que orbitam a prostituição foram tipificadas
e tornadas ilícitas, frisando-se que, prostituir-se não é crime, mas “facilitar”,
“transportar pessoas com esse fim”, “agenciar”, “manter casa de prostituição”,
entre outras, foram alçadas a condutas criminosas.
A Lei nº 12.015/09, que teve sua gênese na instalação da CPMI da
Exploração Sexual, preocupou-se especialmente com a exploração da
prostituição infantil, culminando com importantes mudanças no Código Penal.
Anteriormente à mudança legislativa operada no ano de 2005, a
denominação do Capítulo V era “Do lenocínio e do tráfico de mulheres”,
ocorrendo importante mudança conceitual para incluir no escopo de proteção
estatal outras formas de expressão da orientação sexual.
AÇÃO PENAL
Os crimes previstos nos artigos 213 a 218-B tornaram-se delitos de ação
penal pública condicionada à representação (artigo 225, caput). Quando a vítima
for menor de 18 anos ou pessoa vulnerável, entretanto, a ação será pública
incondicionada (parágrafo único).
A Lei nº 12.015/09, destarte, alterou o regime jurídico da ação penal
nesses crimes, pois antes de sua edição procediam-se, via de regra, mediante
queixa-crime.
30
Crimes em espécie:
31
alguma coisa, que no caso é satisfazer a lascívia de outrem; ou melhor, "O núcleo
induzir é utilizado no sentido não somente de incutir a ideia na vítima, como
também de convencê-la à prática do comportamento previsto no tipo penal. A
vítima, aqui, é convencida pelo proxeneta a satisfazer a lascívia de
outrem" (GRECO, v. III, 2009, p. 563). Segundo Capez (2009, v. 3, p. 87):
33
O art. 228 visa repelir o fomento à prostituição e a qualquer outra forma de
exploração sexual (tanto no tocante ao incentivo do ingresso da vítima na
atividade quanto no que concerne a criar barreiras à sua saída).
Prostituição é a atividade habitual através da qual alguém é remunerado
para que pratique ou permita que se pratique consigo qualquer tipo de ato
libidinoso. Ao referir "outra forma de exploração sexual" quis o legislador dar
maior amplitude ao conceito de exploração sexual, nele incluindo a prostituição,
mas não o limitando apenas a esse aspecto. O problema é que a doutrina ainda
não sedimentou um conceito seguro de exploração sexual. Parece-nos que
exploração sexual equivale a tirar proveito da atividade sexual; e esse proveito
pode ser, inclusive, apenas auferido pela vítima ou unicamente pelo agente. Esse
proveito, segundo pensamos, pode ser de ordem econômica ou não. Se for de
ordem econômica, fala-se em exploração sexual comercial. Resta, ainda, definir
se em todo favorecimento à exploração sexual exige-se que haja intenção do
agente de submeter a vítima a uma atividade habitual como é a prostituição. A
resposta a tal assertiva nos parece que seja negativa, sob de pena de
confundirmos o conceito amplo de exploração sexual com o conceito de
prostituição. Desse modo, entendemos que, por exemplo, o pai que, almejando
ser promovido, induz sua filha maior de idade a satisfazer a lascívia dos seus
superiores para que estes lhe concedam uma promoção, incorre no crime do art.
228, § 1º, do CP, por estar submetendo-a a exploração sexual. Do mesmo modo
o advogado, também a título de exemplo, que induz sua assistente a prestar
favores sexuais a autoridades em troca de posicionamentos favoráveis nas
demandas que patrocina, pela linha de raciocínio ora defendida, está
submetendo-a a exploração sexual.
Por outro lado, Guilherme de Souza Nucci ressalta a impossibilidade de ser
sujeito passivo a pessoa já prostituída nas modalidades de induzir e atrair por
atipicidade material.
Luiz Regis Prado (2008, v. 2, p. 708) nos traz o seguinte conceito de
exploração sexual, formulado por J. L. De La Cuesta Arzamendi: "utilização de
uma pessoa para fins sexuais, com ânimo de lucro, atentando direta ou
indiretamente contra sua dignidade e liberdade sexual, e afetando potencialmente
seu equilíbrio psicosocial". Referido conceito diferencia-se do posicionamento
34
defendido no item anterior por exigir a finalidade de lucro (vantagem econômica),
que, para nós, não é elemento imprescindível para caracterização da exploração
sexual, considerando que algumas vezes identificamos o ânimo de obtenção de
proveito não diretamente econômico, segundo exemplificado no item anterior.
Observe-se, ainda, que as condutas de induzir, atrair, facilitar, impedir e
dificultar não são condutas caracterizadas pela habitualidade, mas a prostituição
em si tem essa característica. Portanto, para configuração do crime, depende-se
da habitualidade da conduta da vítima, i.e., o fato de uma pessoa praticar sexo
uma vez, sendo remunerada para tanto, não caracteriza prostituição, afastando,
dessa forma, a conduta do agente que a induziu à prática do ato. Contudo, vale
ressaltar que atualmente o art. 228 não se prende apenas ao conceito de
“prostituição”.
A expressão “exploração sexual”, cujo significado constava do artigo 234-
C, vetado pelo Poder Executivo sob o argumento de que: “Ao prever que ocorrerá
exploração sexual sempre que alguém for vítima dos crimes contra os costumes,
o dispositivo confunde os conceitos de ‘violência sexual’ e de ‘exploração sexual’,
uma vez que pode haver violência sem a exploração. Diante disso, o dispositivo
estabelece modalidade de punição que se aplica independentemente de
verificada a efetiva prática de atos de exploração sexual.”, passou a ser
considerado elemento normativo do tipo, a depender de valoração pelo aplicador
do direito.
Para Guilherme de Souza Nucci, explora-se sexualmente outra pessoa a
partir do momento em que este é ludibriado para qualquer relação sexual ou
quando o ofendido propicia lucro a terceiro, em virtude de sua atividade sexual
O crime se consuma quando houver a efetiva prática da prostituição ou
outra forma de exploração sexual, isso nas modalidades de induzir e atrair. E
imediatamente, com o impedimento, facilitação ou dificultação, atos
configuradores de obstáculos ao abandono da prostituição ou outro forma de
exploração sexual (Delmanto).
Diferentemente, há corrente doutrinária sustentado que o crime do art. 228
se consuma no momento em que a vítima se coloca, após a ação do agente de
induzir ou atrair à exploração sexual, concretamente à disposição para ser
explorada (Ex.: quando já está no prostíbulo à espera dos clientes, mesmo que
35
não chegue a praticar nenhum ato libidinoso já se tem como consumado o crime -
Damásio). No tocante à facilitação da exploração sexual, consuma-se o delito
apenas com a prática, pelo agente, de ato que colabore para que a vítima passe a
ser explorada sexualmente (segundo exemplifica Damásio – 2009, v. 3, p.
155: "se o agente, visando facilitar a prostituição da vítima, arranja-lhe um cliente,
o crime está consumado com a prática deste ato"). Quanto aos núcleos impedir
ou dificultar o abandono da atividade de exploração sexual a que está submetida,
o crime se consuma quando a vítima, já decidida a abandonar a atividade, é
impossibilitada pelo agente ou o mesmo age no sentido de tornar mais difícil esse
abandono.
Também aqui, se houver intuito de lucro, aplica-se a pena de multa.
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expressões anacrônicas, passando a constar do preceito sancionador a
expressão “estabelecimento em que ocorra exploração sexual”.
Trata-se de crime habitual, não admitindo tentativa ou a prisão em flagrante
do agente.
Para Guilherme de Souza Nucci, a alteração dos termos “casa de
prostituição” e “lugar destinado a encontros para fim libidinoso”, para a expressão
“exploração sexual”, não traduz modificação significativa. A exploração sexual é
gênero, enquanto prostituição é espécie. Por outro lado, lembra que a prostituição
não é crime, podendo haver um local em que seja praticada sem qualquer
obstáculo, criticando o fato de que nosso legislador, embora não criminalize a
prostituição, continua a querer punir quem a favorece de alguma forma. Tal
situação, desde que não envolva violência, grave ameaça, fraude ou ardil, nem
tenha a participação de menores de idade, nenhum mal faz à sociedade, muito
pelo contrário, acaba por proteger a pessoa que se prostitui, já que vive às
margens da sociedade.
Também adotam tal pensamento os doutrinadores Paulo José da Costa
Júnior e Delmanto.
Questão: Motel é casa de prostituição?
R: Na legislação anterior existia essa dúvida, mas com a alteração
introduzida pela Lei nº 12.015/09, que retirou a expressão “local para encontros
libidinosos”, não mais existe dúvida, porquanto a “exploração sexual” é uma
expressão mais abrangente do que o termo “prostituição”. Agora, fica claro que
um motel, local para onde certamente as pessoas se dirigem para encontros
libidinosos, não é um estabelecimento ilícito, conforme já aceito pelos costumes,
apesar da vetusta legislação penal, agora já atualizada neste aspecto. Da mesma
forma, não são “casa de prostituição” estabelecimentos comerciais como bares,
boates, casa de shows etc.
Para Guilherme de Souza Nucci, a doutrina majoritária entendia que não
configuravam o tipo penal as "casas de massagem, relax for men, boates para
encontros, motéis, drive in, saunas mistas e hotéis de alta rotatividade", sendo
que ainda permanece válida a explicação para tal entendimento. Segundo o
doutrinador, esses lugares não são destinados especificamente para prostituição,
nem para encontros libidinosos, tendo outras finalidades, tal como a hospedagem,
37
o serviço de massagem ou relaxamento, a sauna, o serviço de bar etc. Logo, não
são destinados à exploração sexual, carecendo o tipo incriminador, mesmo após
a reforma, de aplicabilidade.
Outra questão importante diz respeito à possibilidade da prisão em
flagrante, entendendo o renomado professor ser inviável a prisão do agente
porque o crime habitual é aquele que somente é punido em face do 'estilo de
vida’, espelhado pelo comportamento reiterado, do agente, compondo um quadro,
em tese, pernicioso à vida social. Assim, não é típica a conduta de quem, vez ou
outra, mantém lugar destinado à exploração sexual, mas sim o comportamento
reiterado nessa prática. A infração penal habitual deve ser analisada como um
todo. Logo, não cabe prisão em flagrante.
Da mesma forma, descabe falar-se em tentativa, haja vista a
impossibilidade de fracionar-se o iter criminis, é dizer, não se pode considerar um
fato isolado, que é atípico, como fase de execução de um todo ainda não
verificado.
Jurisprudências
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Apelação da ré Damaris - PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA
– RECONHECIMENTO – INADMISSIBILIDADE - Demonstrada a adesão
de vontades e o papel efetivo da ré na manutenção da casa de
prostituição, não se há falar em participação de menor importância.
PENA - DOSIMETRIA - "QUANTUM" ADEQUAÇÃO. Pena-base
exasperada em virtude das circunstâncias judiciais desfavoráveis, a
indicar a personalidade desvirtuada dos agentes, voltada à exploração
sexual de mulheres e adolescentes. Garotas que estavam impedidas de
realizarem programas fora do estabelecimento mantido pelos acusados.
Imposição de multas e atraso nos pagamentos, como forma de dificultar
a saída das prostitutas. REGIME PRISIONAL INICIAL SEMIABERTO –
IMPOSIÇÃO – NECESSIDADE. Circunstâncias judiciais desfavoráveis
que impedem a fixação do regime aberto. Imposição de regime fechado
que se afigurou exagerada, em razão do "quantum" da pena e da
primariedade dos acusados. Necessária a fixação do regime
intermediário, o mais adequado à reprovação da conduta em apreço.
Sentença reformada neste ponto. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
RESTRITIVA DE DIREITOS - SUBSTIUIÇÃO OU SURSIS –
IMPOSSIBILIDADE. Circunstâncias judiciais desfavoráveis a indicar a
inadequação da medida à reprovação do delito. RECURSOS DE
APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDOS.(TJ-SP - APL:
00146092020038260604 SP 0014609-20.2003.8.26.0604, Relator:
Amado de Faria, Data de Julgamento: 23/04/2013, 3ª Câmara de Direito
Criminal, Data de Publicação: 26/04/2013).
39
MANUTENÇÃO DE CASA DE PROSTITUIÇÃO E FACILITAÇÃO DA
PROSTITUIÇÃO - RECURSO DEFENSIVO - ATIPICIDADE DA
CONDUTA - NÃO ACOLHIMENTO. Não se nega haver certa tolerância
social e até mesmo inércia das autoridades no combate da prostituição,
o que, no entanto, não afasta a tipicidade da conduta imputada ao réu.
ALEGAÇÃO DE INSUFICIENCIA DE PROVAS - NÃO ACOLHIMENTO.
Negativa apresentada pelo réu contrariada pelos demais elementos de
prova trazidos aos autos, uníssonos em demonstrar a prática do delito.
PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO - APLICAÇÃO CRIME DO ARTIGO 228
DO CÓDIGO PENAL. O delito de favorecimento da prostituição,
praticado no mesmo contexto fático do crime de manutenção de casa de
lenocínio, é absorvido por este, por constituir "crime-meio" para alcançar
o "crime-fim". Recurso parcialmente provido para reconhecer que o delito
de favorecimento à prostituição ficou absorvido pelo crime do artigo 229
do Código Penal, condenando o réu, exclusivamente, por esse último.
(TJ-SP - APL: 01580290820108260000 SP 0158029-08.2010.8.26.0000,
Relator: Luis Augusto de Sampaio Arruda, Data de Julgamento:
09/08/2013, 1ª Câmara Criminal Extraordinária, Data de Publicação:
20/08/2013).
Rufianismo
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente
de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a
exerça:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1o Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos
ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão,
enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou
40
empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma,
obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 2o Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou
outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da
vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena
correspondente à violência.
"O rufianismo pode ser descrito como a atividade do agente que explora
economicamente uma ou mais pessoas que praticam a prostituição,
tirando proveito total ou parcial de tal atividade. Divide-se em ativo e
passivo. No primeiro caso, o rufião (ou cáften) se julga sócio da prostituta
e, num simulacro de indústria, esta ingressa com a penosa atividade
carnal enquanto aquele aufere os lucros, em troca de proteção. No
entanto, não é incomum a obtenção de vantagem mediante coação (art.
230, §2º). O rufião passivo, por sua vez, é a figura do gigolô, que recebe
vantagem econômica da pessoa prostituída porque lhe cobre de afetos
ou lhe faz juras de amor".
41
sexuais, não só se aproveita, mas também acaba induzindo à prática da
prostituição, de modo a praticar a conduta descrita no artigo 228 do Código Penal.
O rufião pratica um crime “mais leve”, não induz, facilita etc., apenas se
aproveita.
Para Guilherme de Souza Nucci a prática do crime em estudo “é questão
puramente moral”, não devendo receber proteção na esfera penal, de modo a não
interferir na vida em sociedade, respeitando-se o princípio da intervenção mínima
na esfera penal. Contrariamente, havendo invasão no campo da violência ou
grave ameaça justifica-se a intervenção do Direito Penal. Em suas palavras seria
"uma prestação de serviços a quem presta serviços", tal como a figura do
agenciamento de modelos para desfilar.
André Estefam, citando Renato de Mello Jorge Silveira, traz interessante
reflexão sobre a questão: “Por fim, e derradeiramente, parece pouco aceitável a
manutenção de uma construção tipológica como a contida no art. 230 do Código,
a saber, o rufianismo. Por mais reprovável que possa ser (desde um ponto de
vista patriarcal e machista), fazer-se sustentar pelo comércio do corpo e do sexo
de outrem, isso só o é desde um ponto de vista moral. Espetáculos pornográficos
e mesmo a feitura de filmes televisivos ou cinematográficos de sexo explícito,
ainda que não formas de prostituição clássica, envolvem a figura sexual mediante
paga e não se imagina uma reprovação de quem venha a se sustentar por tais
afazeres. Se existe uma censura moral por tais fatos, não pode haver uma
reprovação penal”.
Questão: Prostituta sustenta os pais idosos ou filho menor. Os
dependentes praticam o crime de rufianismo?
R: Formalmente cometem crime. Contudo, a doutrina e a jurisprudência
sempre foram bastante benevolentes, entendendo que nesse caso a conduta
estaria acobertada pela excludente do estado de necessidade.
Rufianismo X Favorecimento da prostituição
R: O empresário ou agenciador tem uma postura mais ativa (v.g. book
rosa). Já o rufião é alguém que se aproveita de forma mais passiva. Havendo
conflito aparente de normas a questão se soluciona pelo princípio da consunção,
prevalecendo o crime mais grave (favorecimento da prostituição). A figura típica
42
do cafetão, aquela tida como “cinematográfica” pode ser considerada como
favorecimento da prostituição.
Jurisprudência
44
Tipo Subjetivo: É do dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente
de praticar as condutas descritas, incluindo a ciência de que a vítima está sendo
encaminhada para fins de prostituição ou exploração sexual.
Consumação: É crime instantâneo e formal, consumando-se com o
ingresso ou a saída da vítima do território nacional, não se exigindo, para a
consumação, o efetivo exercício da prostituição pela vítima.
Tentativa: Há tentativa se as vítimas não chegam a alcançar o território de
destino.
Para José Paulo Baltazar Júnior (Crimes Federais, 2009), o aliciamento
constitui tentativa, segundo autoriza a alínea a do artigo 3º do Tratado Adicional
das Nações Unidas contra o Crime Organizado e Tráfico de Pessoas.
Vítima Criança ou Adolescente: Se a vítima for criança ou adolescente
levada para o exterior ou trazida para o Brasil sem observância das formalidades
legais ou com fins lucrativos e para fins de prostituição, há que se determinar a
incidência do artigo em questão ou o artigo 239 ECA. Se o fim é prostituição ou
exploração sexual, e a vítima tem menos de 18 anos, o crime será o do artigo 231
do CP, ainda que se trate de criança ou adolescente, tenham sido ou não
observadas as formalidades legais para a saída da pessoa para o exterior, ou
seja, prevalece a conduta descrita no Código Penal (princípio da especialidade).
Ação Penal: É da competência da Justiça Federal, por cuidar-se de crime
transnacional que o Brasil se comprometeu a reprimir (artigo 109, V, da CF) e,
segundo Capez (2009): "Tratando-se de crime internacional, a competência é da
Justiça Federal (CF-88, art. 109, V). De acordo com a doutrina, com base no art.
5º do CP (teoria da ubiquidade), ainda que a pessoa não tenha como destino o
Brasil, se ela passar pelo território nacional para atingir outro Estado (p. ex., lenão
que sai do Paraguai com a mulher, passa pelo Brasil, e se dirige para a Guiana
Francesa), será competente a Justiça Federal brasileira, pois, de certa forma, ela
saiu do nosso território para exercer a prostituição".
Segredo de Justiça; Sim, artigo 234-B, do CP.
Questão: Se a prostituta quiser ir para o exterior por vontade própria, ainda
assim existiria o crime do artigo 231 do CP?
R: A anuência ou vontade de ir para o exterior é irrelevante como forma de
excluir a tipicidade. No entanto, na maioria dos casos a vítima é enganada (fraude
45
ou coação), com falsas promessas de trabalho, sendo submetida a regime de
escravidão. Mas mesmo que nada disso aconteça, o crime ainda assim existiria.
Tal entendimento decorre do processo de “coisificação” a que são submetidas as
vítimas, violando a dignidade da pessoa humana.
Quando ocorre a consumação?
R: A doutrina majoritária entende que o crime se consuma quando a vítima
cruza as fronteiras do país, havendo ou não a prática da prostituição.
Jurisprudência
47
Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual
Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do
território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de
exploração sexual:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou
comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa
condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la.
§ 2o A pena é aumentada da metade se:
I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;
II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato;
III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado,
cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da
vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância; ou
IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.
§ 3o Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica,
aplica-se também multa.
Jurisprudência
50
6. DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR
Crimes em espécie:
Ato obsceno
Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao
público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
Jurisprudência
52
mantida. Recurso improvido. (Apelação nº 0002698-53.2011.8.26.0564,
11ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL, Rel.: Salles Abreu, j. em 12 de
março de 2014.).
7. DISPOSIÇÕES GERAIS
55
O artigo 226 prevê as causas de aumento de pena, in verbis:
O artigo 234-A trata das causas de aumento de pena nos crimes do Título
VI quando, da prática dos crimes ali previstos, resultar gravidez (aumento em
metade); ou se há transmissão, doloso ou culposa, à vítima de doença
sexualmente transmissível (aumento de um sexto até a metade).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Crimes Federais, 5ª Ed., Porto Alegre, Ed.
Livraria do Advogado, 2010.
56
- BRASIL. Ministério da Saúde. Aspectos jurídicos do atendimento às vítimas de
violência sexual: perguntas e respostas para profissionais de saúde. Brasília:
Ministério da Saúde; 2010.
- CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. 15. ed., São Paulo: Saraiva, 2015.
- GOMES, Luiz Flávio; CUNHA, Rogério Sanches. Direito Penal Especial, v.3. São
Paulo: RT, 2010.
57
- NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual - (livro
eletrônico). 5. Ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2014.
- _______. Código de processo penal comentado. 13. ed. rev. e ampl. Rio de
Janeiro: Forense, 2014.
- _______. Código penal comentado. 10. ed., São Paulo: RT, 2011.
58