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ESCOLA PAULISTA DA MAGISTRATURA

7° CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO “LATO SENSU”


ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL PENAL

Evanete Caldas Gomes Lyra


Felipe A. de Melo Proença
Darci J. Fernandes

DIGNIDADE SEXUAL

SÃO PAULO
2015
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................................4
1. TÍTULO VI – DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL.........................................8
2. CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL.........................................................................9
3. CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL......................................................................13
3.1. ESTUPRO DE VULNERÁVEL....................................................................................13
3.2. INDUÇÃO À SATISFAÇÃO DA LASCÍVIA DE OUTREM OU SATISFAÇÃO DA
LASCÍVIA NA PRESENÇA DE MENOR DE 14 ANOS.......................................................19
3.3. FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU QUALQUER FORMA DE
EXPLORAÇÃO SEXUAL DE MENOR OU VULNERÁVEL................................................20
4. ASPECTOS PROCEDIMENTAIS..........................................................................................22
4.1. DEPOIMENTO SEM DANO........................................................................................23
4.2. SEGREDO DE JUSTIÇA.............................................................................................24
5. DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU
OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL........................................................................26
6. DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR...................................................................................51
7. DISPOSIÇÕES GERAIS.........................................................................................................56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................................57

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INTRODUÇÃO

No que tange a violência simbólica do cotidiano, cito padre


Antônio Vieira “A pior coisa que têm os maus costumes é serem
costumes: ainda é pior do que serem maus”

O sistema jurídico penal brasileiro até 2005 era visivelmente apoiado em


uma sociedade de ideologia masculina e concepções sexuais ultrapassadas. A
pretexto de protege-las, a Lei apenas reafirmava uma condição de submissão
carnal e a ratificação da dominação patriarcal destes costumes. A expressão
“mulher honesta” tipificava a conduta de vários crimes.
Assim, até a edição da Lei n. 11.106/2005, para que alguém fosse
condenado pelo crime de rapto (Código Penal, artigo 219. Raptar mulher honesta,
mediante violência, grave ameaça ou fraude, para fim libidinoso: Pena - reclusão,
de dois a quatro anos), mesmo havendo violência ou grave ameaça, era preciso
demonstrar que a mulher raptada era honesta.
Obviamente que este conceito de mulher honesta era determinado por
padrões masculinos e subjetivos, pois estava atrelado à sua “honestidade sexual”.
Além disso, sempre estaria caracterizado o crime de rapto se a mulher contasse
menos de vinte e um anos de idade, ainda que houvesse o consentimento da
raptada (Código Penal, artigo 220. Se a raptada é maior de catorze anos e menor
de vinte e um e o rapto se dá com o seu consentimento: pena de detenção, de um
a três anos).
A criminalização desta conduta objetivava tão somente manter sua
sexualidade sob controle até a idade de 21 anos, impedindo ela de exercer sua
liberdade sexual e sua liberdade de decidir.
Além disso, como consagração da ideologia patriarcal no âmbito do
sistema penal brasileiro, a virgindade da mulher era considerada como um bem
ou um valor, que, na sua dimensão jurídica e social, era merecedor de proteção,
como ocorria na criminalização da sedução (Código Penal, artigo 217. Seduzir
mulher virgem, menor de dezoito anos e maior de catorze, e ter com ela
conjunção carnal, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança:

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Pena de reclusão, de dois a quatro anos). E, obviamente, a previsão desse crime
não visava à proteção das mulheres, como aparentemente era afirmado.
Todavia, apesar da extinção desses dispositivos androcêntricos, revogados
apenas em 2005, o sistema penal brasileiro continuou convivendo com a
ultrapassada concepção de que a sexualidade deveria ser controlada por uma
pauta moral de comportamento, segundo padrões ditados pela ideologia
patriarcal. Assim, os delitos contra a liberdade sexual continuaram inseridos no
capítulo dos crimes contra os costumes.
Foi somente no final da primeira década do século XXI, com a aprovação
da Lei n. 12.015, de 7 de agosto de 2009, que a sexualidade foi reconhecida
como um atributo da pessoa humana e como uma expressão de sua dignidade:
essa lei abandonou a antiga e patriarcal concepção de crimes contra os
costumes e passou a cuidar da proteção da sexualidade no âmbito da dignidade
sexual, respeitando a nossa Carta Maior, a Constituição Federal, que prevê que
homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações e que os direitos e
deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e
mulher.
Portanto: o estupro (Código Penal, artigo 213. Constranger alguém,
mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou
permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de seis a
dez anos);
- o assédio sexual (Código Penal, artigo 216-A. Constranger alguém com
o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente
da sua condição de superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de
emprego, cargo ou função: Pena - detenção, de um a dois anos);
- o estupro de vulnerável (Código Penal, artigo 217-A. Ter conjunção
carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena -
reclusão de 8 a 15 anos);
- o favorecimento da prostituição (Código Penal, artigo 228. Induzir ou
atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la,
impedir ou dificultar que alguém a abandone: pena - reclusão, de dois a cinco
anos) e outros delitos contra o exercício da sexualidade passaram a ser
considerados crimes contra a dignidade sexual.

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Embora, desde a promulgação da Constituição de 1988, a dignidade
humana já era reconhecida pela sociedade brasileira como um princípio
fundamental de todo o sistema jurídico, político e social brasileiro, foi necessária
uma pressão internacional para efetivar essa proteção, pois o Brasil, em face de
suas normas e princípios constitucionais, submete-se, também, às normas e
princípios de Direitos Humanos, ou seja, de um sistema internacional de proteção
do ser humano.
Assim, cabia ao Brasil adaptar a sua legislação e as suas políticas públicas
a esses princípios. Assim, na Conferência do Cairo (1994) ficou afirmado o
compromisso do sistema de Direitos Humanos com a necessidade do abandono
da concepção patriarcal de controle da sexualidade das mulheres. E, na
Conferência de Beijing (1995) foram expressamente reconhecidos os Direitos
Sexuais e Reprodutivos e enfatizada a necessidade da garantia da
autodeterminação, da igualdade e da segurança sexual e reprodutiva das
mulheres para a plena vivência de sua saúde sexual e reprodutiva,
estabelecendo-se que os Estados, inclusive o Brasil tem o dever de proteger
esses direitos.
Contudo, apesar desse avanço legislativo, outro desafio há de ser
enfrentado, em especial pelos juízes, responsáveis pela aplicação jurídica desses
novos e inovadores dispositivos legais, mas, também, por todos os órgãos
responsáveis pela efetivação material de políticas públicas que devem ser
construídas e implantadas para garantir a indenidade da dignidade sexual, não só
das mulheres, mas a dignidade de todo ser humano. É o que evidencia o artigo
Influência do exame médico-legal na responsabilização do autor da violência
sexual contra adolescentes.
Com efeito, como lembrado nesse estudo, a violência sexual é uma das
mais antigas expressões da violência de gênero e uma brutal violação de direitos
humanos, de direitos sexuais e de direitos reprodutivos. E, embora comprometa
pessoas de ambos os sexos e em qualquer idade, as evidências apontam que o
fenômeno declina contundentemente sobre as mulheres, particularmente as mais
jovens e vulneráveis.
Segundo artigo de Valéria Diez Scarance Fernandes, Violência Doméstica,
publicado em 02/06/2005:

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“Nos processos, é comum transformar a pessoa da vítima em “objeto” de
prova. Questiona-se sua vida pessoal, relacionamentos anteriores,
estabilidade emocional, vestes e problemas psíquicos. Raramente são
indeferidas perguntas de cunho pessoal, ainda que não tenham relação
direta com o fato. Nesse contexto, há um perene desnível entre os
direitos do réu e os direitos da vítima. Ao réu, garante-se o silêncio, sem
qualquer prejuízo. À vítima, o dever de falar, com a possibilidade de
condução coercitiva. A vingança também se modernizou. Surgiu a
denominada “vingança pornô”, divulgação de fotos reais ou montagens
como forma de destruir a imagem da ex-parceira. O efeito é devastador,
uma morte civil em plena vida, que tem levado meninas e mulheres ao
suicídio. Apesar disso, não há no ordenamento um dispositivo legal
específico. Para suprir esta lacuna, desde 2013, tramita na Câmara dos
Deputados um Projeto de Lei (PL 6630/2013), que tem como objetivo
tipificar a conduta de divulgar fotos ou vídeos com cenas de nudez ou
ato sexual, sem autorização da vítima. No grande reduto da legítima
defesa da honra – Tribunal do Júri – ainda se encena a estratégia de
defesa de transformar o feminicídio em “ato de amor” e o réu em homem
apaixonado, como o célebre processo de Doca Street. Logo a seguir, a
vítima é apontada como desregrada, insensível ao amor ou infiel. Tudo
isso para se tentar uma absolvição ou a diminuição da pena pelo crime
privilegiado.”

É imprescindível lembrar que o sistema penal não tem função promocional,


ou seja, não é eficaz para promover o valor da dignidade sexual nem para
garantir, de forma isolada, o respeito e a integridade dos direitos sexuais e
reprodutivos. Acreditar na proteção exclusiva do sistema penal é um grande
equívoco. É preciso, antes de qualquer outra coisa, adotar políticas públicas que
considerem a dimensão humana, que sejam hábeis para mudar costumes e
concepções culturais, que promovam práticas educacionais destinadas a
concretizar a igualdade de gêneros e respeito pela pessoa humana.

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1. TÍTULO VI – DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

ANTES da Alteração Legislativa:


“Dos crimes contra os COSTUMES”. Entende como moralidade sexual pública.

DEPOIS da Lei nº 12.015/09:


Dos crimes contra a DIGNIDADE SEXUAL, entende-se a dignidade sexual da
vítima e não de um costume social ou cultural.

OBS: Atenção ao disposto no art. 111, V, CP (introduzido pela lei nº 12.650/12).

“Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final,


começa a correr:
V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes,
previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a
vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver
sido proposta a ação penal”.

Dos Crimes contra a Dignidade Sexual, podemos dividir em dois blocos


principais:
1- Crime contra a dignidade sexual com violência. (artigo 213 do CP)
2- Crime contra a dignidade sexual de vulnerável. (artigo 217-A do CP)

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2. CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

ESTUPRO:

“Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a


ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique
outro ato libidinoso: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a
vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.”

A mudança da redação foi extremamente importante com o advento da Lei


nº 12.015/09.
ANTES
Art. 213 CP: estupro (constranger à conjunção carnal):
- Sujeito ativo: homem.
- Sujeito passivo: mulher.
Art. 214 CP: atentado violento ao pudor (constranger a atos libidinosos
diversos da conjunção carnal).
- Sujeito ativo: qualquer pessoa (homem ou mulher).
- Sujeito passivo: qualquer pessoa (homem ou mulher).

Com a Lei nº 12.015/09, o artigo 214 foi revogado, mas migrou seu
comportamento para o art. 213 do CP.

DEPOIS
Art. 213 CP: O estupro é constranger a vítima à conjunção carnal + Atos de
libidinagem. Não houve “abolitio criminis” do art. 214, mas princípio da
continuidade normativa-típico.
O art. 213 CP é crime HEDIONDO sempre.
Art. 1o ) São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados
no CP, consumados ou tentados:
V – estupro (art. 213, caput e §§ 1º e 2º).
O crime de Estupro no Código Penal Militar não é hediondo por falta de
previsão legal.
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Quais são os sujeitos do Crime de Estupro?

SUJEITO ATIVO: crime comum, pode ser praticado por qualquer pessoa.
SUJEITO PASSIVO: crime comum, pode ser praticado por qualquer
pessoa.
A conjunção carnal se o sujeito ativo é o homem, o passivo é mulher.
Pressupõe-se a heterossexualidade entre os agentes (define como crime próprio).
Nos atos libidinosos, o crime não é próprio, pois o sujeito ativo cabe a qualquer
pessoa.
Prostituta pode ser vítima de estupro? Sim. O tipo não exige qualquer
qualidade da vítima.
Marido pode figurar como sujeito ativo de estupro contra a esposa? Claro
que sim e sofre aumento de pena, art. 226, II, CP. E art. 7°, III, da Lei 11.340/06
(Maria da Penha).

Aumento de pena:

Art. 226 CP: A pena é aumentada: (Redação dada pela Lei nº 11.106, de
2005).
II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio,
irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador
da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;

Artigos de apoio, Art. 7º, III, Lei nº 11.340/06:

“São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre


outras:
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua
sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou
que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição,
mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou
anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;”

A CONDUTA punida no artigo 213: constrangimento + atos de


libidinagem.

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-CONSTRANGIMENTO: mediante violência ou mediante grave ameaça. A
simples ameaça não caracteriza o crime de estupro. (art. 215 do CP).
-ATOS DE LIBIDINAGEM: conjunção carnal ou atos libidinosos diversos da
conjunção carnal que pode abranger até beijo lascivo, desde que proporcional à
ofensa.
O crime de estupro exige contato físico entre os sujeitos? Prevalece que o
contato físico é dispensável: obrigar a vítima a masturbar-se ou explorar o próprio
corpo para satisfazer a própria lasciva (segundo Mirabete e TJSP).
-VOLUNTARIEDADE: dolo
Exige finalidade especial animando o agente?
1° Corrente: é punido a título de dolo sem finalidade especial (Capez).
2° Corrente: Com finalidade especial são os atos libidinosos. (Mirabete).
CONSUMAÇÃO: Consuma-se com a prática efetiva do ato de libidinagem
visado pelo agente (delito material).
TENTATIVA: é possível.
A prática da conjunção carnal seguida de atos libidinosos (ex.: sexo anal)
gera pluralidade de crimes?
1ªC: (STF, STJ / maioria da doutrina): Se praticados os atos no mesmo
contexto fático, não desnatura a unidade do crime (crime único). O juiz considera
a pluralidade de atos na fixação da pena base. Ausente a identidade de contexto
fático, haverá concurso de crimes (podendo haver continuidade delitiva).
2ªC: Ainda que praticados no mesmo contexto fático, para gerar crime
único é indispensável nexo entre os comportamentos. Faltando nexo, haverá
concurso de crimes (não pode haver continuidade delitiva, pois ausente a mesma
forma de execução).

QUALIFICADORAS: §§ 1º e 2º
1- Vítima menor de 18 ou maior de 14 anos.

ANTES
Era apenas uma circunstância judicial desfavorável para fixação da pena
base.

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DEPOIS da Lei nº 12.015/09:
Passa a ser qualificadora: Pena: 8 a 12 anos. Norma irretroativa.

QUALIFICADORAS: §§ 1º e 2º
2- Se do estupro resultar lesão corporal grave

ANTES:
Se da violência resulta lesão grave.

DEPOIS da Lei nº 12.015/09:


Se da conduta resulta lesão grave.

Sobre as QUALIFICADORAS: §§ 1º e 2º.


3- Se do estupro resultar morte

ANTES
Se do fato resulta morte. Abrange qualquer comportamento.

DEPOIS da Lei nº 12.015/09.


Se da conduta resulta morte. Reduziu a abrangência da violência e
aumenta abrangência da violência física e moral. Porém, os resultados devem ser
culpáveis ou preter dolosos, caso contrário o crime é de homicídio.

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3. CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL

3.1. ESTUPRO DE VULNERÁVEL

O código penal assim define o crime, cujo nomen juris é estupro de


vulnerável:

Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com
menor de 14 (catorze) anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§1° Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput
com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer
outra causa, não pode oferecer resistência.
§2° (Vetado).
§3° Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§4° Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

O tipo penal descreve duas condutas que é a conjunção carnal e a prática


de ato libidinoso. Conjunção carnal é tão somente a cópula peniano-vagínica,
enquanto ato libidinoso pode ser a cópula ectópica, o beijo lascivo, as sucções
lascivas ou os toques impudicos.

a) Cópula ectópica (do grego: ec = fora de; tópos = lugar)1, são aquelas
realizadas fora do lugar natural, pois para a medicina legal a cópula
tópica é aquela que se dá entre pênis e vagina; as demais são atípicas,
como o coito anal, o coito oral, dentre outras;

b) Beijo lascivo, no qual a intenção é a satisfação da lascívia,


diversamente dos beijos não lascivos como entre pai e filho, mãe e filho,
e semelhantes;

c) Sucções lascivas realizadas para satisfação da libido;

d) Toques impudicos, tais como a hetero masturbação, introdução de


objetos dentro da genitália, dentre outros.

Nos dizeres de Renato Marcão2:

1
Disponível em: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf10.php - acesso em 17.08.15.
2
MARCÃO, Renato. Crimes contra a dignidade sexual: comentários ao Título VI do código penal. 2.ed. - São Paulo: Saraiva, 2015,
p.201.
13
“Conjunção carnal é a relação sexual caracterizada pela introdução do
pênis na vagina, dispensando-se penetração ou ejaculação; ato
libidinoso é qualquer prática diversa, tendente a excitar ou satisfazer a
libido humana, podendo ser assim também entendido aquele ato,
objetivamente identificável com uma prática libidinosa mas destinado a
menosprezar ou humilhar a vítima.”

O tipo penal em análise tem como sujeito ativo qualquer pessoa,


independentemente do sexo, pois a mulher pode ser autora do crime na
modalidade prática de ato libidinoso.

O sujeito passivo é o vulnerável, do latim vulnerabilis, ou, o que é fraco,


ausente de defesa, suscetível3. Vulnerável é o indivíduo menor de 14 anos, ou
aquele que, por enfermidade ou doença mental não possua o necessário
discernimento para a prática do ato sexual, ou que por qualquer motivo não possa
oferecer resistência.

Após a alteração legislativa, a antiga discussão acerca da relatividade x


absolutividade da presunção de violência, anteriormente prevista no artigo 224 4,
agora restou superada, todavia, parcela minoritária da doutrina 5 ainda entende
que em alguns casos, deve ser analisada a condição da vítima, para se aferir a
real situação de vulnerabilidade da vítima.

Colacionamos alguns julgados atuais acerca do tema:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. PRINCÍPIO DA


COLEGIALIDADE. VIOLAÇÃO. INEXISTÊNCIA. ESTUPRO DE
VULNERÁVEL. PRÁTICA DE CONJUNÇÃO CARNAL OU DE ATO
LIBIDINOSO DIVERSO CONTRA MENOR. PRESUNÇÃO DE
VIOLÊNCIA. NATUREZA ABSOLUTA. ART. 217-A DO CP. INOVAÇÃO
RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL
IMPROVIDO. 1. Não viola o Princípio da Colegialidade a apreciação
unipessoal pelo Relator do mérito do recurso especial, quando
obedecidos todos os requisitos para a sua admissibilidade, nos termos
do art. 557, caput, do Código de Processo Civil, bem como do
Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça, observada a
jurisprudência dominante desta Corte Superior e do Supremo Tribunal
Federal. Com a interposição do agravo regimental, fica superada
eventual violação ao referido princípio, em razão da reapreciação da
matéria pelo órgão colegiado. 2. Para a consumação do crime de estupro

3
Disponível em http://www.lexico.pt/vulneravel/ - acesso em 28.08.2015.
4
Art. 224. “Presume-se a violência, se a vítima: a) não é maior de 14 (catorze) anos; b) é alienada ou débil mental, e o agente conhecia
esta circunstância; c) não pode, por qualquer outra causa, oferecer resistência”.
5
NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual. 5. Ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2014.
14
de vulnerável, não é necessária a conjunção carnal propriamente dita,
mas qualquer prática de ato libidinoso contra menor. Jurisprudência do
STJ. 3. Em relação a impossibilidade de discussão de legislação já
revogada e de aplicação da lei penal mais gravosa, verifica-se tratar de
inovação em agravo regimental, não podendo ser acolhida nesta fase
recursal. 4. Agravo regimental improvido.(STJ - AgRg no REsp: 1295596
MG 2011/0294515-7, Relator: Ministro CAMPOS MARQUES
(DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PR), Data de Julgamento:
06/06/2013, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 11/06/2013)

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DOS


CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL. ESTUPRO DE
VULNERÁVEL. VÍTIMA MENOR DE QUATORZE ANOS. PRESUNÇÃO
ABSOLUTA DE VIOLÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.
1. A presunção de violência prevista no art. 224, a, do CP é absoluta,
sendo irrelevante, penalmente, o consentimento da vítima ou sua
experiência em relação ao sexo. Precedente do EREsp nº. 762.044/SP,
Terceira Seção. 2. Agravo regimental não provido.(STJ - AgRg no
AREsp: 483793 MG 2014/0052111-7, Relator: Ministro MOURA
RIBEIRO, Data de Julgamento: 06/05/2014, T5 - QUINTA TURMA, Data
de Publicação: DJe 13/05/2014)

EMENTA HABEAS CORPUS. ESTUPRO. VÍTIMA MENOR DE


QUATORZE ANOS. CONSENTIMENTO E EXPERIÊNCIA ANTERIOR.
IRRELEVÂNCIA. PRESUNÇÃO DE VIOLÊNCIA. CARÁTER
ABSOLUTO. ORDEM DENEGADA. 1. Para a configuração do estupro
ou do atentado violento ao pudor com violência presumida (previstos,
respectivamente, nos arts. 213 e 214, c/c o art. 224, a, do Código Penal,
na redação anterior à Lei 12.015/2009), é irrelevante o consentimento da
ofendida menor de quatorze anos ou, mesmo, a sua eventual
experiência anterior, já que a presunção de violência a que se refere a
redação anterior da alínea a do art. 224 do Código Penal é de caráter
absoluto. Precedentes (HC 94.818, rel. Min. Ellen Gracie, DJe de
15/8/08). 2. Ordem denegada. (STF - HC: 97052 PR , Relator: Min. DIAS
TOFFOLI, Data de Julgamento: 16/08/2011, Primeira Turma, Data de
Publicação: DJe-176 DIVULG 13-09-2011 PUBLIC 14-09-2011 EMENT
VOL-02586-01 PP-00012)

Algumas situações ainda podem ser tratadas como erro de tipo, ou seja,
hipóteses em que o agente imagina que a pessoa sob a qual recai a conduta
possua idade superior a catorze anos ou que não esteja nas condições descritas
no §1° do artigo em debate.

Jurisprudência acerca da hipótese de erro de tipo:

TJSP: “Insuficiência de provas quanto ao crime de estupro de vulnerável.


A prova oral judicial não foi apta a confirmar, categoricamente, que o réu
tinha conhecimento que uma das vítimas era menor de 14 (catorze)
anos. A presunção desta última, embora exista jurisprudência em sentido
contrário, é relativa, devendo ser analisada pormenorizadamente em
cada caso concreto. Existência de prova, nos autos, que a menor de 14
(catorze) anos se dedicava à prostituição, usava drogas e ingeria
bebidas alcoólicas de modo excessivo, circunstâncias estas que, aliadas
ao fato da vítima ter mentido sobre a sua idade para o réu, levam a crer

15
que este não tinha condições de pressupor que se tratava de uma menor
de 14 (catorze) anos. Erro de tipo caracterizado, razão pela qual a sua
absolvição, por ausência de dolo, é medida que se impõe” (Ap. 0001601-
53.2011.8.26.0132, 1.ª C.C.E., rel. Airton Vieira, v.u.).

TJRJ: “Entendimento pacífico no STF e predominante no STJ no sentido


de que efetivamente é absoluta a presunção de vulnerabilidade da
pessoa menor de quatorze anos. No entanto, a tese acerca do erro de
tipo prosperará, à falta de contraprovas que deveriam ser produzidas
pelo Ministério Público. Por via de consequência, procede a perquirição
acerca da violência empregada no evento, que não restou estreme de
dúvidas. Ausência de comprovação suficiente e bastante acerca das
circunstâncias do delito. Absolvição que deverá ser mantida.
Desprovimento do recurso” (Ap. 00035011020098190044, 1.ª C.C., rel.
Antonio Jayme Boente, 25.03.2014, v.u.).

TJGO: “Para o reconhecimento de erro de tipo essencial, respeitante à


idade da vítima, indispensável que o agente, ao dar início à prática do
fato delituoso, desconheça, efetivamente, a elementar do crime de
estupro com violência presumida, sendo insubsistente a assertiva
quando, do caderno processual, é possível extrair-se a certeza de que o
apelante tinha ciência da menoridade da ofendida, especialmente pelas
suas declarações em juízo. Redução da reprimenda. Reconhecimento da
menoridade. Inviabilidade. Súmula 231 do STJ” (Ap. 168008-
19.2007.8.09.0017/GO, 1.ª C.C., rel. Avelirdes Almeida Pinheiro de
Lemos, 31.01.2012, v.u.).

TJMG: “No crime de estupro, comumente praticado às escondidas, longe


dos olhos de possíveis testemunhas, a palavra da vítima tem relevante
valor probatório, notadamente quando corroborada pelos demais
elementos de prova, inclusive em exame de corpo de delito, atestada a
ocorrência da conjunção carnal. A ausência de comprovação do álibi de
que a relação sexual foi consentida, somada ao fato de que a vítima é
menor de 14 (quatorze) anos – sendo irrelevante eventual consentimento
de sua parte – impedem a absolvição do acusado condenado pela
prática de estupro. A mera alegação, sem provas, de que o acusado teve
dúvida quanto ao fato de a vítima ser menor de 14 (quatorze) anos, não
é suficiente para excluir o delito de estupro, até porque quem age na
dúvida, age por sua conta e risco, subsistindo o dolo eventual,
notadamente quando as provas dos autos indicam que, na verdade, o
agente empregou violência real para manter a relação sexual, sequer se
importando com a idade de sua vítima” (Ap. Crim. 1.0027.08.167250-
6/001(1)/MG, 2.ª C.C., rel. Renato Martins Jacob, 15.10.2009, v.u.).

TJMG: “Não havendo provas de que o agente efetivamente sabia da


idade da vítima, mormente quando ela aparentava ter mais de 14 anos,
ele não pode ser condenado pelo delito previsto no art. 213 do CP, face
às grandes chances de ter incorrido em erro de tipo. A presunção de
violência prevista no art. 224, ‘a’, do Código Penal [revogado pela Lei
12.015/2009] é relativa, admitindo prova em contrário. Inexistentes
evidências, que não a tenra idade da vítima, que comprovem ter o
agente a coagido, de alguma forma, a com ele manter relações sexuais,
imperioso se faz a manutenção da sentença absolutória” (Ap. Crim.
1.0514.08.038142-9/MG, 1.ª C.C., rel. Alberto Deodato Neto,
16.03.2010).

Neste ponto poderíamos dizer que não há punição pela ausência de dolo,

16
elemento subjetivo necessário para a punição do crime de estupro de vulnerável.

Outro ponto de grande polêmica é se o disposto no artigo 9° da Lei


8072/90, que trata dos crimes hediondos, está vigorando ou foi revogado
tacitamente pela Lei 12.015/09.

O dispositivo legal em questão assim dispõe:

“Art. 9. As penas fixadas no art. 6º para os crimes capitulados nos arts.


157, § 3º, 158, § 2º, 159, caput e seus §§ 1º, 2º e 3º, 213, caput e sua
combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, 214 e sua
combinação com o art. 223, caput e parágrafo único, todos do Código
Penal, são acrescidas de metade, respeitado o limite superior de trinta
anos de reclusão, estando a vítima em qualquer das hipóteses referidas
no art. 224 também do Código Penal.”

Ocorre que o referido artigo 224 do CP, que tratava da presunção de


violência nos casos de vítimas hoje ditas vulneráveis, foi revogado, e o artigo 217-
A abarca as hipóteses anteriormente previstas naquele artigo, de modo que não
se aplica mais o aumento de pena previsto na Lei dos crimes hediondos no que
tange aos delitos contra a dignidade sexual.
Nesse sentido é o posicionamento da jurisprudência:

STJ: “Com a edição e entrada em vigor da Lei 12.015/2009, o estupro e


o atentado violento ao pudor cometidos contra menor de 14 anos
passaram a ter nova denominação, chamando-se o tipo de ‘estupro de
vulnerável’, agora estabelecido no art. 217-A do CP, não sendo mais
admissível a aplicação do art. 9.º da Lei dos Crimes Hediondos aos fatos
posteriores a sua vigência” (HC 122381/SC, 5.ª T., rel. Jorge Mussi,
01.06.2010, v.u.).

STJ: “Com a superveniência da Lei 12.015/2009 restou revogada a


majorante prevista no art. 9.º da Lei dos Crimes Hediondos, não sendo
mais admissível a sua aplicação para fatos posteriores à sua edição.
Não obstante, remanesce a maior reprovabilidade da conduta, pois a
matéria passou a ser regulada no art. 217-A do CP, que trata do estupro
de vulnerável, no qual a reprimenda prevista revela-se mais rigorosa do
que a do crime de estupro (art. 213 do CP)” (HC 131987/RJ, 5.ª T., rel.
Felix Fischer, 19.11.2009, v.u.).

Outra questão é se o artigo 217-A foi uma novatio legis in mellius, pois,
aplicando-se o artigo 9° da Lei dos Crimes Hediondos, antes da alteração
legislativa de 2009, alcançava-se uma pena mínima de 9 anos (somando-se a
pena base do artigo 213 ou 214, redação antiga, cc. Art. 9° da Lei 8072/90), aos

17
crimes no qual envolvia menores ou vulneráveis, segundo a classificação dada
pelo antigo artigo 224 do Código Penal, ao passo que a pena mínima do atual
artigo 217-A é de 8 anos, ficando abaixo daquela. Ocorre que o referido artigo 9°
era aplicado somente em situações excepcionais, conforme entendimento
jurisprudencial, nos casos em que a conduta criminosa resultasse em lesão grave
ou morte, cujas penas mínimas foram fixadas em 10 e 12 anos respectivamente
nos parágrafos 3° e 4 do novo artigo 217-A pela Lei 12.015/09. Dessarte, a pena
hoje é mais gravosa, pois como dissemos, a jurisprudência só entendia aplicável
a majorante do artigo 9° da lei de crimes hediondos, se do crime resultasse lesão
grave ou morte. Nesse sentido:

REsp 803927/RS – Recurso Especial: 2005/0207411-8


Ementa:
(...) 2. É firme o entendimento desta Corte no sentido de que apenas
incide a causa de aumento prevista no artigo 9° da Lei 8.072/90 nos
casos em que do crime resulta lesão corporal grave ou morte.(...)

O parágrafo 2° do novo artigo 217-A, que foi vetado, referia-se a uma


causa de aumento de pena imposta aquele que tem o dever de cuidado, proteção
ou vigilância sobre a vítima, porém, tal situação já vem prevista no capítulo IV
acerca das disposições gerais no título dos crimes contra a dignidade sexual, ou
seja, causaria confusão na aplicação da lei, o que levou ao veto do referido
parágrafo.

Razões dos vetos


“As hipóteses de aumento de pena previstas nos dispositivos que se
busca acrescer ao diploma penal já figuram nas disposições gerais do
Título VI. Dessa forma, o acréscimo dos novos dispositivos pouco
contribuirá para a regulamentação da matéria e dará ensejo ao
surgimento de controvérsias em torno da aplicabilidade do texto
atualmente em vigor.”6

Por fim, necessário anotar que o crime em análise é considerado hediondo,


assim dispondo a Lei 8.072/90 com a redação dada pela Lei 12.015/09:

Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos


tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
6
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Msg/VEP-640-09.htm Acesso em 10.08.2015
18
Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela Lei nº 8.930, de
1994) (Vide Lei nº 7.210, de 1984)
[...]
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e
4o); (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

3.2. INDUÇÃO À SATISFAÇÃO DA LASCÍVIA DE OUTREM OU SATISFAÇÃO


DA LASCÍVIA NA PRESENÇA DE MENOR DE 14 ANOS

O código penal traz nos artigos 218 e 218-A dois crimes, cujos nomen juris
são “corrupção de menores” e “satisfação de lascívia mediante presença de
criança ou adolescente”, respectivamente, in verbis:

Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a


lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
Parágrafo único. (VETADO).

Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze)


anos, ou induzi-lo a presenciar, conjunção carnal ou outro ato libidinoso,
a fim de satisfazer lascívia própria ou de outrem:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.”

Lascívia é o desejo sexual, a libido e, no seu extremo, a luxúria 7, o primeiro


tipo em questão trata-se de exceção pluralística da teoria monista, pois quem
induz à prática de qualquer ato de cunho sexual menor de 14 anos, não
responderá pelo crime do artigo 217-A, cuja pena é mais grave que a pena
prevista no artigo 218 do Código Penal.
Ainda, não obstante o legislador falar apenas em indução, necessário
ponderar que há quem entenda que a participação se dá tanto pela indução,
quanto pela instigação ou auxílio. A indução é incutir pela primeira vez a ideia na
mente do agente, enquanto instigar a ideia já é preexistente, vindo o partícipe a
reforça-la. Por fim o auxílio se dá por meio de uma ação do partícipe.
Importante destacar que se a indução, instigação ou auxílio é para o maior
que vai praticar o ato contra o vulnerável, sujeito passivo do delito do artigo 217-
A, esse indivíduo responderá como partícipe daquele crime e não do previsto no
artigo 218, na forma estabelecida no artigo 29 do Código Penal.8

7
MARCÃO, Renato. Op.cit., 2015, p.222.
8
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
19
O artigo 218-A, por sua vez, trata da indução do menor a que presencie ou
a prática em si, na frente do menor, de atos sexuais ou atos libidinosos, é de difícil
verificação na prática, haja vista que o tipo possui um elemento subjetivo
consistente na satisfação da lascívia própria, o que em termos de prova é quase
impossível, pois o acusado pode alegar que não percebeu a presença do menor.
Ademais, só é punido a título de dolo, existindo a possibilidade de aplicação,
ainda que remota, do dolo eventual.

3.3. FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU QUALQUER FORMA DE


EXPLORAÇÃO SEXUAL DE MENOR OU VULNERÁVEL

Encerra o capítulo II do título referente ao crimes sexuais no código penal o


tipo penal descrito no artigo 218-B, também incluído pela Lei 12.015/09, cujo
nomen juris é “favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração
sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável”, in verbis:

Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de


exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento
para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica,
aplica-se também multa.
§ 2o Incorre nas mesmas penas:
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém
menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita
no caput deste artigo;
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se
verifiquem as práticas referidas no caput deste artigo.
§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2 o, constitui efeito obrigatório da
condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento
do estabelecimento.

Importante salientar que nesse tipo penal a lei protege o menor de 18 anos,
e não somente os menores de 14 anos, como nos tipos penais anteriormente
tratados. O menor de 18 e maior de 14 anos passa a ser considerado
relativamente vulnerável nos dizeres de NUCCI9 e MARCÃO10.
Trata-se de tipo misto alternativo, pois há diversas condutas tipificadas no

9
NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual - (livro eletrônico). 5. Ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2014.
10
MARCÃO, Renato. Op.cit., 2015, p.246.
20
tipo penal. A conduta é submeter, induzir ou atrair à prostituição, ou qualquer
outra forma de exploração sexual, e ainda, facilitá-la, constituindo-se elemento
objetivo do tipo também a conduta de dificultar ou impedir que o sujeito passivo
abandone a prostituição ou outra atividade de exploração sexual.
Renato Marcão11 assim define os verbos núcleos do tipo em questão:

Submeter é impor, dirigindo, sem coação nem violência real, mas


também sem deixar espaço razoável para alternativas por parte da
vítima. Induzir, sendo menos do que impor, significa incutir no ofendido
a ideia, antes inexistente, de prostituir-se. É preciso que a vítima possua
discernimento suficiente para poder deliberar por sua própria vontade,
caso contrário tratar-se-á de coação. Atrair, que significa ainda menos
do que induzir, é fazer manobras que seduzam ou aliciem o menor,
mostrando-lhe vantagens na situação proposta. As condutas de instigar
ou auxiliar podem estar compreendidas na ação de atrair. (destacamos)

O dispositivo em análise foi incluído no rol dos crimes hediondos pela Lei
12.978/14, ficando assim redigido:

Art. 1o São considerados hediondos os seguintes crimes, todos


tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código
Penal, consumados ou tentados: (Redação dada pela Lei nº 8.930, de
1994) (Vide Lei nº 7.210, de 1984)
[...]
VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração
sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e
§§ 1º e 2º). (Incluído pela Lei nº 12.978, de 2014)

Por fim, insta salientar que tal dispositivo revogou tacitamente o artigo 244-
A do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/90)12.

11
Op. cit., p.247.
12
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à exploração
sexual:
Pena – reclusão de quatro a dez anos, e multa.
§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de criança ou
adolescente às práticas referidas no caput deste artigo.
§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.

21
4. ASPECTOS PROCEDIMENTAIS

No que tange à iniciativa da ação penal houve alteração no procedimento,


conforme se afere da análise da nova redação dada ao artigo 225 do Código
Penal.

Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-
se mediante ação penal pública condicionada à representação.
Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública
incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa
vulnerável.

Uma questão suscitada pela doutrina é se a súmula 608 do STF ainda


subsiste após a alteração do artigo 225, referida súmula tem a seguinte redação:
“No crime de estupro, praticado mediante violência real, a ação é pública
incondicionada”. A resposta deve ser negativa, pois a súmula surgiu para dar uma
melhor interpretação ao então vigente artigo 101 do Código Penal (anterior art.
103), o qual trata do crime complexo. Colacionamos trecho de excelente artigo
acerca do tema:

A questão pontual em relação aos crimes contra a liberdade sexual é


que a disciplina então existente em torno da ação penal a tornava
privada, salvo se os pais não pudessem prover as despesas do processo
ou o crime fosse cometido com abuso do pátrio poder ou da qualidade
de padrasto, tutor ou curador.
O que observou o pretório Excelso, quando da edição da Súmula nº 608,
é que o estupro praticado com violência real seria crime complexo, tendo
entre os seus elementos de formação o crime de constrangimento ilegal
(CP, art. 146), de ação penal pública incondicionada, o que faria, por
incidência da regra do artigo 101, ser necessariamente pública
incondicionada a ação penal em relação ao estupro com violência real.
Evidente que em seu momento a Súmula nº 608/STF teve importância
para permitir a persecução criminal em hipóteses em que dificilmente ela
ocorreria, pois a ação penal privada depende de forte impulso da própria
vítima, o que por muitas vezes, por variadas questões, inclusive
econômicas, não se consegue obter no Brasil.
Diferente é a ação penal pública, mesmo que condicionada, pois a
simples manifestação inicial da vítima, de seu desejo de que os fatos
sejam apurados, faz com que a persecução criminal se desenvolva
independente de qualquer necessidade de participação mais ativa sua.
Pois bem, quando a lei é alterada e a ação penal para os crimes contra a
liberdade sexual passa a ser necessariamente pública, a Súmula nº 608,
do STF, passa a carecer de base de sustentação lógica, pois o seu
referencial é o artigo 101, do Código Penal, que disciplina
especificamente a hipótese do crime complexo, para estabelecer que se
um dos delitos que o forma é de ação penal pública o crime complexo
também o será, ainda que contenha regra específica relacionada a ele,
dizendo que ação penal é privada.

22
A partir do momento em que a própria lei já diz que os crimes contra a
liberdade sexual são de ação penal pública, não há qualquer razão para
se socorrer da regra da parte geral do Código Penal, contemplada no
artigo 101, o que faz prevalecer, de forma indiscutível, a redação do
artigo 225 e seu parágrafo único.[...]
Sendo já pública a ação penal pela prática de estupro, não produz, por
certo, mais qualquer impacto na matéria o artigo 101, do Código Penal,
de sorte que não ocorre mais a remessa da disciplina da matéria da ação
penal pelo crime de estupro, quando haja violência real, para o artigo
146, do Código Penal (constrangimento ilegal), o que faz desaparecer o
próprio conteúdo que dava sustentação à Súmula nº 608/STF, fazendo
com que a mesma se torne totalmente inaplicável.13

4.1. DEPOIMENTO SEM DANO

O chamado Depoimento sem Dano (DSD) consiste na oitiva de crianças e


adolescentes em situação de violência. A oitiva da criança ou adolescente é
realizada por uma psicóloga ou assistente social em sala reservada, estando
conectada à sala de audiência por meio de equipamento de áudio e vídeo em
tempo real, possibilitando às partes e ao juiz elaborar questionamentos que serão
feitos por intermédio da psicóloga ou assistente social à criança ou adolescente.
Alguns tribunais já vêm adotando esse procedimento em processos que
envolvem crianças e adolescentes vitimizados, objetivando reduzir o desgaste
provocado pela necessidade de relatar as chagas sofridas.
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul é o pioneiro na utilização do
depoimento sem dano, de modo que colacionamos alguns julgados:

TJRS: “A sistemática do chamado ‘depoimento sem dano, com a ouvida


das vítimas através de profissionais da área social e psicológica, tem
fundamento e empresta concretude à proteção integral da criança e do
adolescente ditada pela Constituição Federal e pelo ECA. Prevalência do
direito fundamental das crianças e adolescentes à proteção, em
detrimento do direito fundamental a um processo mais célere. Princípio
da ponderação dos direitos fundamentais em conflito. Entendimento que
aceita temperamentos, devendo a necessidade da ouvida pela
sistemática do ‘depoimento sem dano ser aferida no caso concreto” (Ap.
70043626472/RS, 8.ª C.C., rel. Fabianne Breton Baisch, 07.12.2011,
m.v.).

TJRS: “No caso concreto, há elementos de prova suficientes a


fundamentar um juízo condenatório no que tange ao crime de estupro de
vulnerável. A vítima, que contava com apenas 3 anos de idade à época
dos fatos, relatou, através do método do depoimento sem dano, que o
acusado fez ‘cocô e xixi’ em sua boca. O depoimento da vítima foi
corroborado pelo testemunho de sua genitora, para quem ele contou
detalhes acerca dos fatos, bem como pelo depoimento de seu genitor,
13
Disponível em: http://jus.com.br/artigos/26759/a-equivocada-aplicacao-da-sumula-n-608-do-stf-apos-a-lei-n-12-015-2009 acesso
em 17.08.15.
23
restando claro que o acusado colocava o pênis na boca da vítima, vindo
a ejacular. Soma-se a isso que a vítima apresentou sintomas e indícios
compatíveis com a hipótese de abusos sexuais, situação que foi
confirmada na avaliação psíquica realizada, bem como no parecer
psicológico. Ademais, tratando-se de crime que, por sua própria
natureza, é praticado fora das vistas de testemunhas, a palavra da vítima
é de vital importância para a determinação da materialidade e da autoria
do delito. Sentença absolutória reformada. Recurso provido” (Ap.
70058901505, 5.ª C.C., rel. Lizete Andreis Sebben, 14.05.2014).

TJRS: “Ainda que não haja base científica sólida que ateste a eficácia do
denominado Depoimento sem dano (DSD), o qual ainda é objeto de
controvérsias nos meios acadêmicos da psicologia, psiquiatria e mesmo
nos meios jurídicos, não se pode desconsiderar os bons resultados
obtidos com sua prática levada a efeito no JIJ da Capital, o que
recomenda, em princípio, sua execução. Nada obstante, no caso
concreto, onde a vítima está com 12 anos de idade, maior a controvérsia
sobre a eficácia da utilização do DSD, razão pela qual deve-se deixar à
livre escolha do magistrado que conduz a instrução criminal sua
utilização ou não” (Correição Parcial 70047175625/RS, 7.ª C.C., rel. José
Conrado Kurtz de Souza, 08.03.2012).

Por outro lado, há aqueles que são contrários à utilização do depoimento


sem dano, asseverando que não cabe aos psicólogos exercer a função de
inquiridores.

O Conselho Federal e a Comissão Nacional de Direitos Humanos


sugerem que a Justiça construa outros meios de montar um processo
penal e punir o culpado pelo abuso sexual de uma criança ou
adolescente, pois não será pelo uso de modernas tecnologias de
extração de informações, mesmo com a presença de psicólogos
supostamente treinados, fora de seu verdadeiro papel, que iremos
proteger a criança ou o adolescente abusado sexualmente e garantir
seus direitos.14

Certamente é um tema que despertará muitos debates no futuro e com


certeza há pontos positivos, mas também há aspectos negativos, tal como o
suscitado pelo autor supracitado. De qualquer forma, já há projeto de lei n°
4126/2004, tratando do tema, que foi remetido ao Senado Federal para
deliberação.

4.2. SEGREDO DE JUSTIÇA

O artigo 234-B do Código Penal dispõe expressamente que haverá


segredo de justiça em todos os processos relativos a crimes definidos no Título
VI.
14
Disponível em: http://era.org.br/2012/08/depoimento-sem-dano-algumas-consideracoes/ acesso em 17.08.2015.
24
Apesar de lei citar “processo”, entende-se que o sigilo deve se aplicar à
fase extrajudicial, sob pena de tornar sem sentido a norma. De nada adiantaria
impedir sua divulgação na fase processual quando durante o inquérito já houve
publicidade do caso.
Acrescente-se, ainda, que a disposição deverá se aplicar a todo processo,
quando este se referir a crimes contra a dignidade sexual e conexos, a fim de se
dar máxima proteção à intimidade das pessoas envolvidas na apuração do fato.
De observar-se, ainda, que a norma se aplica inclusive a investigações e ações
penais já iniciadas, por se tratar de norma de natureza processual (CPP, art. 2º).

25
5. DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO
OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

Segundo o principal instrumento internacional de enfrentamento ao tráfico


de pessoas, o Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico
de Pessoas (também conhecido como Protocolo de Palermo), da ONU, no seu
artigo 3º, alínea “a”, Tráfico de Pessoas é definido como:

“o recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o


acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso da força ou a
outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de
autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de
pagamentos ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa
que tenha autoridade sobre outra para fins de exploração. A exploração
incluirá, no mínimo, a exploração da prostituição de outrem ou outras
formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços forçados,
escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção
de órgãos.”

Nas notas aos trabalhos preparatórios dos negociadores do Protocolo de


Palermo, encontra-se a seguinte definição: “abuso de situação de vulnerabilidade
é entendida como significando qualquer situação em que a pessoa em causa não
tem outra alternativa real e aceitável senão submeter-se ao abuso em questão”.
Portanto, uma mulher pode consentir em migrar para trabalhar como
doméstica ou prostituta ou para trabalhar irregularmente em outro lugar, mas isso
não significa que ela tenha consentido em trabalhar de forma forçada ou em
condições similares à escravidão, bem como em ser explorada, e se isso
acontecer fica caracterizado o tráfico de mulheres. Daí deduz-se que o
consentimento é irrelevante para a caracterização do tráfico de pessoas.
A compreensão do tráfico de pessoas não se limita à sua relação com a
exploração sexual, pois ele não se destina apenas a este fim, mas também a
outros tipos de exploração baseadas no do papel feminino de submissão
construído socialmente. Há várias modalidades de exploração de mulheres em
situação de tráfico de pessoas, quais sejam: exercício forçado de trabalhos que
não correspondem às expectativas e se revelam desumanos; a promessa não
concretizada de permissão de residência e trabalho regular no exterior; vida sob
constante ameaça, sem possibilidade de desligar-se do trabalho assumido;

26
cerceamento de liberdade, nos casos de casamento com estrangeiros;
prostituição forçada; trabalho doméstico forçado; casamento servil.
O tráfico de pessoas é, ao mesmo tempo, causa e consequência de
violações de direitos humanos. É consequência de violações de direitos humanos
porque se origina na desigualdade social-econômica, na falta de perspectivas
para profissionalização, e na falta de possibilidades para a realização de sonhos
pessoais. Por outro lado, o tráfico de pessoas é causa de violação de direitos
humanos, porque a sua finalidade é a exploração da pessoa, pois degrada a sua
dignidade e limita o seu direito de ir e vir. Por isso, o tráfico de pessoas é
comumente entendido pelos estudiosos do assunto como uma das formas mais
explícitas de escravidão moderna ligada ao fenômeno da globalização.
Legislação
O primeiro instrumento internacional ratificado pelo Brasil que diz respeito
ao tráfico de pessoas foi a Convenção Interamericana Para Prevenir, Punir E
Erradicar A Violência Contra A Mulher, “Convenção de Belém do Pará”, aprovada
pelo Decreto n.° 1.973, de 1º de outubro de 1996, que definiu as formas de
violência contra a Mulher, elencando o tráfico de mulheres como sendo uma
delas.
Em 30 de julho de 2002, o Brasil incorpora à legislação pátria o Protocolo
Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Contra a Mulher através do Decreto nº 4.136. Já em 13 de
setembro do mesmo ano, o Decreto nº 4.377 aprova a própria Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Mulheres (1979).
Finalmente, em 15 de novembro de 2000, foi adotado pela Assembleia
Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) o Protocolo Adicional à
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional
Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em especial
Mulheres e Crianças, denominado Protocolo Anti-Tráfico de Pessoas da ONU,
também conhecido como “Protocolo de Palermo”. Pela primeira vez na história, o
tráfico de pessoas (seja interno ou internacional) é definido universalmente. O
Protocolo é promulgado no Brasil em 12 de março de 2004, através do Decreto nº
5.017, passando a ter vigência interna.

27
O Código Penal Brasileiro, com as mudanças trazidas pela Lei nº 11.106,
de 28 de Março de 2005 e pela Lei nº 12.015, de 7 de Agosto de 2009, criminaliza
o tráfico internacional (artigo 231) e interno (artigo 231-A) de pessoas (homens e
mulheres) para fins de prostituição ou outra forma de exploração sexual. Os
novos artigos podem ser encontrados na Parte Especial, Título VI, “Dos Crimes
Contra a Dignidade Sexual” e assim não mais tutelam a moral pública sexual.
Como se vê, os artigos 231 e 231-A do Código Penal não tipificam
nenhuma das outras finalidades de exploração, para além da sexual e da
prostituição, mencionadas no Protocolo AntiTráfico de Pessoas, como por
exemplo o trabalho ou serviços forçados, escravatura ou práticas similares à
escravatura, à servidão ou à remoção de órgãos, casamento servil, trabalho
doméstico forçado. Porém, algumas destas práticas são, parcialmente ou
integralmente, consideradas crimes em outros artigos do Código Penal ou em leis
especiais.
Tráfico de mulheres não pode ser igualado à prostituição. Primeiramente
cumpre diferenciar a prostituição forçada da prostituição voluntária. A prostituição
voluntária é aquela exercida com consentimento válido, supondo escolha real,
informada e aceitável, podendo ser autônoma ou não. A prostituição autônoma no
Brasil é lícita e consta na Classificação Brasileira de Ocupações do Ministério de
Trabalho e Emprego (MTE), como item 5198: Profissionais de Sexo. No entanto,
existe a prostituição autônoma exercida por falta de outras opções profissionais,
em que se considera que a mulher que a exerce encontra-se em situação de
vulnerabilidade e por isso sem opção de escolha real, e poderá estar em situação
de exploração através do abuso de sua vulnerabilidade.
A prostituição voluntária não autônoma, que ocorre quando há a figura do
empregador da profissional de sexo, constitui crime e é ato ilícito no Brasil para
quem a emprega, sendo considerado cafetinagem. Já a prostituição forçada é
aquela exercida sem o consentimento ou com o consentimento inválido, ou seja,
com o consentimento viciado ou induzido, e se dá através da exploração da
prostituição de outrem. No Brasil a prostituição forçada é condenada sob a figura
do rufianismo, sendo considerada violação de direitos humanos e deve ser
enfrentada.

28
Assim, sempre que a prostituição for forçada haverá crime, que poderá ser
o tráfico de pessoas quando houver trânsito dessa mulher de um local a outro
para o exercício da exploração dessa prostituição. No entanto, não
necessariamente quem se prostitui encontra-se numa situação de exploração ou
tráfico de pessoas nem tampouco toda mulher traficada é prostituta.
As maiores dificuldades em se enfrentar o tráfico de pessoas estão
relacionadas com a dificuldade anterior de lidar com a prostituição. Os principais
obstáculos são: os países encaram a prostituição de forma muito diversa, sendo
crime em alguns e regulamentada como profissão em outros, dando espaço ao
desconhecimento de direitos; tratamentos diferenciados e por vezes inadequados
(no Brasil, como se viu, a prostituição não é crime, porém não está
regulamentada); a legislação criminal brasileira continua a tipificar o Tráfico de
pessoas atrelando à prostituição em contraste com a normativa internacional que
se refere também à outras finalidades do tráfico de pessoas, ressaltando que o
Protocolo Anti-Tráfico de Pessoas exclui do seu escopo de aplicação a situação
de prostituição voluntária; o consentimento da vítima que já teve contato com o
mercado do sexo é visto com muito preconceito e dificulta a correta identificação
de possíveis casos de tráfico de pessoas.
O que se pretende não é impedir o livre exercício da prostituição, mas sim
garantir que em momento algum ocorra qualquer tipo de exploração e desrespeito
aos direitos fundamentais e à dignidade dessas mulheres, nem tampouco de
qualquer pessoa se beneficie da exploração da prostituição de outrem.
O capítulo V do título VI do Código Penal abrange o lenocínio e o tráfico de
seres humanos para fim de exploração sexual. Segundo Luiz Régis Prado, o
escopo da lei consubstancia-se na defesa da “liberdade sexual das pessoas,
inclusive sua integridade e autonomia sexual, como o interesse precípuo de evitar
o fomento e a proliferação da prostituição, bem como a corrupção moral que
gravita em torno dela”. Adiante-se que um setor considerável da doutrina
considera incompatíveis com a Constituição Federal algumas das infrações
descritas neste capítulo, notadamente nos crimes dos artigos 227 a 230, em que
somente se verificaria a tutela de valores morais, ligados a uma concepção de
sociedade patriarcal e machista (nesse sentido, Alberto Silva Franco, Tadeu Dix
Silva, Guilherme Nucci e Renato de Mello Jorge Silveira).

29
Sob tal aspecto, prostituição é uma prática tão antiga quanto a história da
humanidade. Relatos históricos referem-se à ela como algo que sempre esteve
presente em todas as sociedades.
No Brasil, a prostituição sempre foi vista como uma prática desonrosa e
marginalizada. Hodiernamente se tem a noção de que as pessoas que vivem do
comércio do sexo sofrem uma degradação moral com nítida ofensa aos direitos
humanos, em um processo de “coisificação” do ser humano, ainda que tal prática
se de com sua anuência.
Embora seja considerada imoral, a prostituição não é crime em nosso
território. Outras nações optaram por legalizar a profissão, enquanto o Brasil
ainda não tem uma política direcionada à questão, deixando à margem do Direito
as pessoas que escolheram a profissão ou, à míngua de alternativas, foram
“obrigadas” a se prostituir. Sob tal contexto, a pessoa que “vende” favores sexuais
não comete crime, podendo ser feito um paralelo com o suicídio e a autolesão.
No entanto, algumas condutas que orbitam a prostituição foram tipificadas
e tornadas ilícitas, frisando-se que, prostituir-se não é crime, mas “facilitar”,
“transportar pessoas com esse fim”, “agenciar”, “manter casa de prostituição”,
entre outras, foram alçadas a condutas criminosas.
A Lei nº 12.015/09, que teve sua gênese na instalação da CPMI da
Exploração Sexual, preocupou-se especialmente com a exploração da
prostituição infantil, culminando com importantes mudanças no Código Penal.
Anteriormente à mudança legislativa operada no ano de 2005, a
denominação do Capítulo V era “Do lenocínio e do tráfico de mulheres”,
ocorrendo importante mudança conceitual para incluir no escopo de proteção
estatal outras formas de expressão da orientação sexual.
AÇÃO PENAL
Os crimes previstos nos artigos 213 a 218-B tornaram-se delitos de ação
penal pública condicionada à representação (artigo 225, caput). Quando a vítima
for menor de 18 anos ou pessoa vulnerável, entretanto, a ação será pública
incondicionada (parágrafo único).
A Lei nº 12.015/09, destarte, alterou o regime jurídico da ação penal
nesses crimes, pois antes de sua edição procediam-se, via de regra, mediante
queixa-crime.

30
Crimes em espécie:

Mediação para servir à lascívia de outrem


Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos,
ou se o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou
companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja confiada
para fins de educação, de tratamento ou de guarda:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça
ou fraude:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena correspondente à
violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

Objeto jurídico: A dignidade e a liberdade sexual.


Sujeito ativo: Qualquer pessoa, sem diferença de sexo, maior de 14 anos.
Sujeito Passivo: Qualquer pessoa, também sem distinção de sexo.
Tipo objetivo: O núcleo é induzir (= persuadir, levar, mover).
Tipo subjetivo: O dolo e o elemento subjetivo do tipo, constituído pelo
especial fim de satisfazer a luxúria alheia. Inexiste modalidade culposa.
Consumação: Com a efetiva satisfação da luxúria de outrem,
independentemente, porém, deste alcançar o “gozo genésico”.
Tentativa: Admite-se, mas de difícil ocorrência na prática.
Figuras qualificadas:
1) Vítima maior de 14 e menor de 18 anos, tendo o agente
conhecimento do fato;
2) Se o agente é parente ou detém autoridade sobre a vítima; e
3) Emprego de violência, grave ameaça ou fraude.
Se houver finalidade lucrativa, aplica-se também a pena de multa.
O tipo penal cuida da conduta daquele que induz a vítima a satisfazer a
lascívia de terceiro, havendo quem entenda que esse crime seria um
“prenúncio” da prostituição. Os doutrinadores pátrios fazem severas críticas a
esse tipo penal, acreditando que ele não deveria mais constar de nosso Código
Penal, entendendo ser tal conduta apenas “imoral”, mas nunca criminosa, desde,
é claro, que não haja violência ou fraude.
O núcleo do tipo básico está no verbo induzir, que significa, conforme
Guilherme de Souza Nucci (2006, p. 846), dar a ideia ou inspirar alguém a fazer

31
alguma coisa, que no caso é satisfazer a lascívia de outrem; ou melhor, "O núcleo
induzir é utilizado no sentido não somente de incutir a ideia na vítima, como
também de convencê-la à prática do comportamento previsto no tipo penal. A
vítima, aqui, é convencida pelo proxeneta a satisfazer a lascívia de
outrem" (GRECO, v. III, 2009, p. 563). Segundo Capez (2009, v. 3, p. 87):

"Não se trata de crime habitual. Consuma-se com a prática de qualquer


ato pela vítima destinado a satisfazer à lascívia de outrem. Não se exige
efetiva satisfação sexual desse terceiro. A tentativa é perfeitamente
possível. Dessa forma, haverá a tentativa se houver o emprego de meios
idôneos a induzir a vítima a satisfazer o desejo sexual de terceiro e,
quando esta está prestes a praticar qualquer ato de cunho libidinoso, é
impedida por terceiros".

A satisfação da lascívia deve ser de um número determinado de pessoas e


não deve haver a cobrança de um preço correspondente pela vítima, afastando-
se assim as hipóteses de prostituição ou de outra forma de exploração sexual,
que se presentes levam à caracterização do crime previsto no art. 228 do CP.
Para Guilherme de Souza Nucci, a pessoa que já se encontra prostituída
não poderia ser sujeito passivo do delito, uma vez que não haveria mais objeto
jurídico a ser protegido, qual seja, o regramento e a moralidade na vida sexual.
Sendo a vítima menor de 18 e maior de 14 anos de idade, ou se o agente é
seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador
ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, tratamento ou guarda, o
crime torna-se qualificado, com pena de dois a cinco anos de reclusão.
Igualmente, se for praticado com violência, grave ameaça ou fraude, a
pena passa a ser de dois a oito anos de reclusão, além daquela cominada à
violência. Se houver intuito de lucro aplica-se também a pena de multa.
O crime em estudo difere daquele tipificado no artigo 218 do Código Penal
na medida em que este último envolve pessoa menor de quatorze anos.

Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual


Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de
exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a
abandone:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado,
cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da
vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
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§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça
ou fraude:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspondente à
violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

Objeto Jurídico: A dignidade e a liberdade sexual.


Sujeito Ativo: Qualquer pessoa, homem ou mulher.
Sujeito Passivo: Qualquer pessoa maior de 18 anos, sem distinção de
sexo. Nas figuras de induzir ou atrair, o sujeito passivo não poderá ser pessoa já
prostituída ou explorada sexualmente. Nas condutas de facilitar, impedir ou
dificultar, o sujeito passivo haverá de ser pessoa já prostituída ou sexualmente
explorada.
Tipo objetivo: São três as condutas: induzir ou atrair; facilitar ou impedir ou
dificultar.
Tipo subjetivo: O dolo. Não há forma culposa.
Consumação: Com o início da vítima na prostituição ou exploração sexual
(nas condutas de induzir, atrair ou facilitar); ou com o prosseguimento na
prostituição ou exploração sexual (impedir, dificultar), em que a infração é de
caráter permanente.
Tentativa: Admissível nas condutas impedir ou dificultar.
Figuras qualificadas:
1) Autoridade ou parentesco;
2) Emprego de violência, grave ameaça ou fraude;
3) Finalidade lucrativa.
Esse crime se assemelha ao do artigo 218-B, que cuida da mesma conduta
quando perpetrada contra menor de dezoito anos.
A conduta daquele que favorece de qualquer forma a prostituição de menor
de 18 e maior de 14 anos de idade é, por óbvio, mais grave que aquela dirigida a
maior de 18.
Havendo intuito de lucro, aplica-se também a pena de multa.
As condutas típicas são: induzir (inspirar ou dar a ideia) ou facilitar (dar
acesso mais fácil ou colocar à disposição) a entrada de alguém na prostituição e
impedir (colocar obstáculo ou estorvar) ou dificultar (tornar mais difícil) a saída de
alguém da prostituição.

33
O art. 228 visa repelir o fomento à prostituição e a qualquer outra forma de
exploração sexual (tanto no tocante ao incentivo do ingresso da vítima na
atividade quanto no que concerne a criar barreiras à sua saída).
Prostituição é a atividade habitual através da qual alguém é remunerado
para que pratique ou permita que se pratique consigo qualquer tipo de ato
libidinoso. Ao referir "outra forma de exploração sexual" quis o legislador dar
maior amplitude ao conceito de exploração sexual, nele incluindo a prostituição,
mas não o limitando apenas a esse aspecto. O problema é que a doutrina ainda
não sedimentou um conceito seguro de exploração sexual. Parece-nos que
exploração sexual equivale a tirar proveito da atividade sexual; e esse proveito
pode ser, inclusive, apenas auferido pela vítima ou unicamente pelo agente. Esse
proveito, segundo pensamos, pode ser de ordem econômica ou não. Se for de
ordem econômica, fala-se em exploração sexual comercial. Resta, ainda, definir
se em todo favorecimento à exploração sexual exige-se que haja intenção do
agente de submeter a vítima a uma atividade habitual como é a prostituição. A
resposta a tal assertiva nos parece que seja negativa, sob de pena de
confundirmos o conceito amplo de exploração sexual com o conceito de
prostituição. Desse modo, entendemos que, por exemplo, o pai que, almejando
ser promovido, induz sua filha maior de idade a satisfazer a lascívia dos seus
superiores para que estes lhe concedam uma promoção, incorre no crime do art.
228, § 1º, do CP, por estar submetendo-a a exploração sexual. Do mesmo modo
o advogado, também a título de exemplo, que induz sua assistente a prestar
favores sexuais a autoridades em troca de posicionamentos favoráveis nas
demandas que patrocina, pela linha de raciocínio ora defendida, está
submetendo-a a exploração sexual.
Por outro lado, Guilherme de Souza Nucci ressalta a impossibilidade de ser
sujeito passivo a pessoa já prostituída nas modalidades de induzir e atrair por
atipicidade material.
Luiz Regis Prado (2008, v. 2, p. 708) nos traz o seguinte conceito de
exploração sexual, formulado por J. L. De La Cuesta Arzamendi: "utilização de
uma pessoa para fins sexuais, com ânimo de lucro, atentando direta ou
indiretamente contra sua dignidade e liberdade sexual, e afetando potencialmente
seu equilíbrio psicosocial". Referido conceito diferencia-se do posicionamento

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defendido no item anterior por exigir a finalidade de lucro (vantagem econômica),
que, para nós, não é elemento imprescindível para caracterização da exploração
sexual, considerando que algumas vezes identificamos o ânimo de obtenção de
proveito não diretamente econômico, segundo exemplificado no item anterior.
Observe-se, ainda, que as condutas de induzir, atrair, facilitar, impedir e
dificultar não são condutas caracterizadas pela habitualidade, mas a prostituição
em si tem essa característica. Portanto, para configuração do crime, depende-se
da habitualidade da conduta da vítima, i.e., o fato de uma pessoa praticar sexo
uma vez, sendo remunerada para tanto, não caracteriza prostituição, afastando,
dessa forma, a conduta do agente que a induziu à prática do ato. Contudo, vale
ressaltar que atualmente o art. 228 não se prende apenas ao conceito de
“prostituição”.
A expressão “exploração sexual”, cujo significado constava do artigo 234-
C, vetado pelo Poder Executivo sob o argumento de que: “Ao prever que ocorrerá
exploração sexual sempre que alguém for vítima dos crimes contra os costumes,
o dispositivo confunde os conceitos de ‘violência sexual’ e de ‘exploração sexual’,
uma vez que pode haver violência sem a exploração. Diante disso, o dispositivo
estabelece modalidade de punição que se aplica independentemente de
verificada a efetiva prática de atos de exploração sexual.”, passou a ser
considerado elemento normativo do tipo, a depender de valoração pelo aplicador
do direito.
Para Guilherme de Souza Nucci, explora-se sexualmente outra pessoa a
partir do momento em que este é ludibriado para qualquer relação sexual ou
quando o ofendido propicia lucro a terceiro, em virtude de sua atividade sexual
O crime se consuma quando houver a efetiva prática da prostituição ou
outra forma de exploração sexual, isso nas modalidades de induzir e atrair. E
imediatamente, com o impedimento, facilitação ou dificultação, atos
configuradores de obstáculos ao abandono da prostituição ou outro forma de
exploração sexual (Delmanto).
Diferentemente, há corrente doutrinária sustentado que o crime do art. 228
se consuma no momento em que a vítima se coloca, após a ação do agente de
induzir ou atrair à exploração sexual, concretamente à disposição para ser
explorada (Ex.: quando já está no prostíbulo à espera dos clientes, mesmo que

35
não chegue a praticar nenhum ato libidinoso já se tem como consumado o crime -
Damásio). No tocante à facilitação da exploração sexual, consuma-se o delito
apenas com a prática, pelo agente, de ato que colabore para que a vítima passe a
ser explorada sexualmente (segundo exemplifica Damásio – 2009, v. 3, p.
155: "se o agente, visando facilitar a prostituição da vítima, arranja-lhe um cliente,
o crime está consumado com a prática deste ato"). Quanto aos núcleos impedir
ou dificultar o abandono da atividade de exploração sexual a que está submetida,
o crime se consuma quando a vítima, já decidida a abandonar a atividade, é
impossibilitada pelo agente ou o mesmo age no sentido de tornar mais difícil esse
abandono.
Também aqui, se houver intuito de lucro, aplica-se a pena de multa.

Favorecimento da exploração sexual (ou Manutenção de


estabelecimento em que ocorre exploração sexual)
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em
que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação
direta do proprietário ou gerente:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

Objeto jurídico: A moralidade pública sexual.


Sujeito ativo: Qualquer pessoa, exceto a prostituta que mantém, própria e
sozinha, local para a prática do sexo pago.
Tipo objetivo: O núcleo é o verbo manter, por isso exige-se habitualidade,
não bastando o comportamento ocasional.
Tipo subjetivo: O dolo. Inexiste figura culposa.
Consumação: Com a manutenção, exigindo-se habitualidade; é crime
permanente.
É uma das formas de facilitação da prostituição, tal como agenciar, induzir,
facilitar materialmente, etc., mas optou o legislador em manter destacada essa
conduta daquelas constantes do artigo 228, criando uma “figura autônoma”.
Até o ano de 2015, o nomem iuris do tipo penal era “casa de prostituição”,
o qual continha a expressão “Manter local para a prostituição ou para a prática de
atos libidinosos”, criando intensa discussão a respeito, inclusive se o
estabelecimento denominado “Motel” poderia ser enquadrado nesse crime.
Atualmente, nada justifica criminalizar a conduta do empresário que explora essa
atividade. Atento às mudanças na sociedade, o legislador retirou aquelas

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expressões anacrônicas, passando a constar do preceito sancionador a
expressão “estabelecimento em que ocorra exploração sexual”.
Trata-se de crime habitual, não admitindo tentativa ou a prisão em flagrante
do agente.
Para Guilherme de Souza Nucci, a alteração dos termos “casa de
prostituição” e “lugar destinado a encontros para fim libidinoso”, para a expressão
“exploração sexual”, não traduz modificação significativa. A exploração sexual é
gênero, enquanto prostituição é espécie. Por outro lado, lembra que a prostituição
não é crime, podendo haver um local em que seja praticada sem qualquer
obstáculo, criticando o fato de que nosso legislador, embora não criminalize a
prostituição, continua a querer punir quem a favorece de alguma forma. Tal
situação, desde que não envolva violência, grave ameaça, fraude ou ardil, nem
tenha a participação de menores de idade, nenhum mal faz à sociedade, muito
pelo contrário, acaba por proteger a pessoa que se prostitui, já que vive às
margens da sociedade.
Também adotam tal pensamento os doutrinadores Paulo José da Costa
Júnior e Delmanto.
Questão: Motel é casa de prostituição?
R: Na legislação anterior existia essa dúvida, mas com a alteração
introduzida pela Lei nº 12.015/09, que retirou a expressão “local para encontros
libidinosos”, não mais existe dúvida, porquanto a “exploração sexual” é uma
expressão mais abrangente do que o termo “prostituição”. Agora, fica claro que
um motel, local para onde certamente as pessoas se dirigem para encontros
libidinosos, não é um estabelecimento ilícito, conforme já aceito pelos costumes,
apesar da vetusta legislação penal, agora já atualizada neste aspecto. Da mesma
forma, não são “casa de prostituição” estabelecimentos comerciais como bares,
boates, casa de shows etc.
Para Guilherme de Souza Nucci, a doutrina majoritária entendia que não
configuravam o tipo penal as "casas de massagem, relax for men, boates para
encontros, motéis, drive in, saunas mistas e hotéis de alta rotatividade", sendo
que ainda permanece válida a explicação para tal entendimento. Segundo o
doutrinador, esses lugares não são destinados especificamente para prostituição,
nem para encontros libidinosos, tendo outras finalidades, tal como a hospedagem,

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o serviço de massagem ou relaxamento, a sauna, o serviço de bar etc. Logo, não
são destinados à exploração sexual, carecendo o tipo incriminador, mesmo após
a reforma, de aplicabilidade.
Outra questão importante diz respeito à possibilidade da prisão em
flagrante, entendendo o renomado professor ser inviável a prisão do agente
porque o crime habitual é aquele que somente é punido em face do 'estilo de
vida’, espelhado pelo comportamento reiterado, do agente, compondo um quadro,
em tese, pernicioso à vida social. Assim, não é típica a conduta de quem, vez ou
outra, mantém lugar destinado à exploração sexual, mas sim o comportamento
reiterado nessa prática. A infração penal habitual deve ser analisada como um
todo. Logo, não cabe prisão em flagrante.
Da mesma forma, descabe falar-se em tentativa, haja vista a
impossibilidade de fracionar-se o iter criminis, é dizer, não se pode considerar um
fato isolado, que é atípico, como fase de execução de um todo ainda não
verificado.

Jurisprudências

APELAÇÃO - MANUTENÇÃO DE CASA DE LENOCÍNIO -


FACILITAÇÃO DA PROSTITUIÇÃO – PROVA - SUFICIÊNCIA - Versões
de inocência inverossímeis e contraditórias entre si - Adolescente que
confirmou ter sido contratada para exercer a prostituição no
estabelecimento mantido pelos acusados - Testemunhas narrando a
manutenção de casa de meretrício no interior do imóvel locado pelo
casal de réus - Embora diretamente administrado por Alexandre, a casa
de prostituição contava com a participação de Demaris, encarregada do
recrutamento de prostitutas - Prova documental que evidencia a
habitualidade do delito Condenação mantida. ATIPICIDADE MATERIAL -
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA – APLICAÇÃO - DESCABIMENTO -
A tolerância social e a inércia das Autoridades no combate da
prostituição não afastam a tipicidade da conduta imputada aos agentes -
Ineficácia relativa da norma que não caracteriza excludente da ilicitude
ou da culpabilidade - Delito que contou com significativa restrição da
liberdade sexual das vítimas, impedidas de realizarem programas
sexuais fora do prostíbulo - Casa de lenocínio que envolvia a exploração
sexual de adolescentes - Elevado grau de reprovabilidade da conduta -
Condenação mantida. PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO - APLICAÇÃO -
CRIME DO ARTIGO 228 DO CP - ABSOLVIÇÃO - NECESSIDADE -
Imputação pelo delito de favorecimento da prostituição, na modalidade
facilitar, que deve ser absorvida pelo crime de manutenção de casa de
lenocínio. Por óbvio, aquele que mantém casa de meretrício está, de
alguma forma, facilitando a prostituição. Na hipótese em apreço, o
recrutamento de mulheres para trabalhar no prostíbulo não representou
forma mais contundente e específica de induzimento à prostituição.
Condenação pelo delito do artigo 228, § 1º e 3º que deve ser afastada.

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Apelação da ré Damaris - PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA
– RECONHECIMENTO – INADMISSIBILIDADE - Demonstrada a adesão
de vontades e o papel efetivo da ré na manutenção da casa de
prostituição, não se há falar em participação de menor importância.
PENA - DOSIMETRIA - "QUANTUM" ADEQUAÇÃO. Pena-base
exasperada em virtude das circunstâncias judiciais desfavoráveis, a
indicar a personalidade desvirtuada dos agentes, voltada à exploração
sexual de mulheres e adolescentes. Garotas que estavam impedidas de
realizarem programas fora do estabelecimento mantido pelos acusados.
Imposição de multas e atraso nos pagamentos, como forma de dificultar
a saída das prostitutas. REGIME PRISIONAL INICIAL SEMIABERTO –
IMPOSIÇÃO – NECESSIDADE. Circunstâncias judiciais desfavoráveis
que impedem a fixação do regime aberto. Imposição de regime fechado
que se afigurou exagerada, em razão do "quantum" da pena e da
primariedade dos acusados. Necessária a fixação do regime
intermediário, o mais adequado à reprovação da conduta em apreço.
Sentença reformada neste ponto. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE
RESTRITIVA DE DIREITOS - SUBSTIUIÇÃO OU SURSIS –
IMPOSSIBILIDADE. Circunstâncias judiciais desfavoráveis a indicar a
inadequação da medida à reprovação do delito. RECURSOS DE
APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDOS.(TJ-SP - APL:
00146092020038260604 SP 0014609-20.2003.8.26.0604, Relator:
Amado de Faria, Data de Julgamento: 23/04/2013, 3ª Câmara de Direito
Criminal, Data de Publicação: 26/04/2013).

APELAÇÃO – MANUTENÇÃO DE CASA DE PROSTITUIÇÃO e


FACILITAÇÃO DA PROSTITUIÇÃO – CONDENAÇÃO – Comprovadas
materialidade e autoria delitivas – Firmes depoimentos da vítima e
funcionárias da casa – Fotografias revelando que o local era utilizado
para encontros – Negativa não comprovada e contrariada pelas demais
provas – PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO – APLICAÇÃO – Absorção do
crime do artigo 228 do Código Penal – O delito de favorecimento da
prostituição, praticado no mesmo contexto da manutenção de casa de
lenocínio é absorvido por este último por se tratar de crime-meio – Delito
de favorecimento à prostituição fica absorvido – Absolvição que se impõe
– RECURSO DE APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDO PARA
ABSOLVER O RÉU CARLOS ALBERTO DAMÁSIO DO CRIME
PREVISTO NO ARTIGO 228 DO CÓDIGO PENAL. (Andrade de Castro,
Relator, 4ª Câmara Criminal Extraordinária).(TJ-SP - APL:
00107827720038260417 SP 0010782-77.2003.8.26.0417, Relator: Cesar
Augusto Andrade de Castro, Data de Julgamento: 27/02/2014, 4ª
Câmara Criminal Extraordinária, Data de Publicação: 28/02/2014)

APELAÇÃO CRIMINAL. RÉU CONDENADO POR CRIME DO ARTIGO


229 DO CÓDIGO PENAL. PLEITO ABSOLUTÓRIO. Réu que mantém
estabelecimento destinado a encontros para fins libidinosos, com intuito
de lucro. Apelante recebe percentual pelas práticas sexuais realizadas
pelas mulheres em seu estabelecimento. Caracterizado o lenocínio.
Autoria e materialidade devidamente comprovadas pelos autos do
inquérito civil nº 034/09 e pelos depoimentos das testemunhas que
trabalham no local e dos policiais que constataram o fato delituoso.
Dosimetria mantida. Pena aplicada em patamar mínimo, desnecessária
qualquer alteração. Recurso desprovido. Unânime.(TJ-RJ - APL:
03454108320128190001 RJ 0345410-83.2012.8.19.0001, Relator: DES.
ANTONIO CARLOS NASCIMENTO AMADO, Data de Julgamento:
07/07/2015, TERCEIRA CAMARA CRIMINAL, Data de Publicação:
21/07/2015)

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MANUTENÇÃO DE CASA DE PROSTITUIÇÃO E FACILITAÇÃO DA
PROSTITUIÇÃO - RECURSO DEFENSIVO - ATIPICIDADE DA
CONDUTA - NÃO ACOLHIMENTO. Não se nega haver certa tolerância
social e até mesmo inércia das autoridades no combate da prostituição,
o que, no entanto, não afasta a tipicidade da conduta imputada ao réu.
ALEGAÇÃO DE INSUFICIENCIA DE PROVAS - NÃO ACOLHIMENTO.
Negativa apresentada pelo réu contrariada pelos demais elementos de
prova trazidos aos autos, uníssonos em demonstrar a prática do delito.
PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO - APLICAÇÃO CRIME DO ARTIGO 228
DO CÓDIGO PENAL. O delito de favorecimento da prostituição,
praticado no mesmo contexto fático do crime de manutenção de casa de
lenocínio, é absorvido por este, por constituir "crime-meio" para alcançar
o "crime-fim". Recurso parcialmente provido para reconhecer que o delito
de favorecimento à prostituição ficou absorvido pelo crime do artigo 229
do Código Penal, condenando o réu, exclusivamente, por esse último.
(TJ-SP - APL: 01580290820108260000 SP 0158029-08.2010.8.26.0000,
Relator: Luis Augusto de Sampaio Arruda, Data de Julgamento:
09/08/2013, 1ª Câmara Criminal Extraordinária, Data de Publicação:
20/08/2013).

CASA DE PROSTITUIÇÃO - MATERIALIDADE DELITIVA -


ESTABELECIMENTO COMERCIAL QUE EXPLORAVA ATIVIDADES
DE BAR - DELITO NÃO CARACTERIZADO. PRECEDENTES.
ABSOLVIÇÃO MANTIDA - CORRUPÇÃO DE MENORES -
ENTENDIMENTO DO STJ DE QUE TRATA-SE DE CRIME FORMAL -
OFERECIMENTO DE BEBIDA ALCOÓLICA A MENOR -
CONDENAÇÃO - PRESCRIÇÃO PELAS PENAS "IN CONCRETO" E "IN
ABSTRACTO" - EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE DOS RÉUS. - Se o
estabelecimento comercial das rés explorava outras atividades
comerciais, além de oferecer quartos para prática de encontros sexuais,
não se caracteriza o tipo do art. 229 do Código Penal, que exige a
exclusividade e a habitualidade da destinação do imóvel ao lenocínio. -
Diante do entendimento pacificado do Superior Tribunal de Justiça de
que o crime de corrupção de menores é de natureza formal, impõe-se a
condenação da ré e, em razão da pena concretizada, julga-se extinta a
punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva.(TJ-MG - APR:
10431060321970001 MG , Relator: Delmival de Almeida Campos, Data
de Julgamento: 29/05/2013, Câmaras Criminais / 4ª CÂMARA
CRIMINAL, Data de Publicação: 05/06/2013).

PENAL. LENOCÍNIO. DESUSO DA NORMA. NÃO HÁ FALAR EM


CRIME PREVISTO NO ARTIGO 229 DO CP, QUANDO A PRÓPRIA
SOCIEDADE TOLERA A EXISTÊNCIA DE CASA DE PROSTITUIÇÃO.
O DESUSO DA NORMA DO ARTIGO 229 DO CP, POR SER
HABITUALMENTE INAPLICADA, FAZ LETRA MORTA O DISPOSITIVO.
PRECEDENTE DESTA CORTE. RECURSO PROVIDO.(TJ-DF - APR:
1880598 DF , Relator: RIBEIRO DE SOUSA, Data de Julgamento:
24/09/1998, 2ª Turma Criminal, Data de Publicação: DJU 26/05/1999
Pág. : 92).

Rufianismo
Art. 230 - Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente
de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a
exerça:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1o Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos
ou se o crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão,
enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou

40
empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma,
obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
§ 2o Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou
outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da
vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena
correspondente à violência.

Objeto jurídico: No caput, a moralidade pública sexual. Na hipótese dos §§


1º e 2º, também a dignidade das pessoas nele indicadas.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, sem distinção de sexo.
Sujeito passivo: Só a meretriz ou o homem que exerça a prostituição.
Tipo objetivo: A conduta prevista é tirar proveito da prostituição alheia.
Tipo subjetivo: É o dolo. Inexiste forma culposa.
Consumação: Com a repetição que torna a conduta habitual.
Tentativa: É inadmissível.
Figuras qualificadas:
1) Vítima menor de 18 e maior de 14 anos, conhecendo o agente essa
condição;
2) Ter o agente parentesco com a vítima, relação de autoridade ou
condição de garantidor;
3) Mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça a
livre manifestação da vítima.
Conforme explica Luiz Regis Prado:

"O rufianismo pode ser descrito como a atividade do agente que explora
economicamente uma ou mais pessoas que praticam a prostituição,
tirando proveito total ou parcial de tal atividade. Divide-se em ativo e
passivo. No primeiro caso, o rufião (ou cáften) se julga sócio da prostituta
e, num simulacro de indústria, esta ingressa com a penosa atividade
carnal enquanto aquele aufere os lucros, em troca de proteção. No
entanto, não é incomum a obtenção de vantagem mediante coação (art.
230, §2º). O rufião passivo, por sua vez, é a figura do gigolô, que recebe
vantagem econômica da pessoa prostituída porque lhe cobre de afetos
ou lhe faz juras de amor".

Este crime difere da facilitação – artigo 228 (não é realizado pelo


“empresário”), porquanto o rufião tira proveito da prostituição alheia, fazendo-se
sustentar pela pessoa prostituída ou participa dos lucros de sua atividade. O
“empresário”, assim entendido como aquele que agencia e promove os encontros

41
sexuais, não só se aproveita, mas também acaba induzindo à prática da
prostituição, de modo a praticar a conduta descrita no artigo 228 do Código Penal.
O rufião pratica um crime “mais leve”, não induz, facilita etc., apenas se
aproveita.
Para Guilherme de Souza Nucci a prática do crime em estudo “é questão
puramente moral”, não devendo receber proteção na esfera penal, de modo a não
interferir na vida em sociedade, respeitando-se o princípio da intervenção mínima
na esfera penal. Contrariamente, havendo invasão no campo da violência ou
grave ameaça justifica-se a intervenção do Direito Penal. Em suas palavras seria
"uma prestação de serviços a quem presta serviços", tal como a figura do
agenciamento de modelos para desfilar.
André Estefam, citando Renato de Mello Jorge Silveira, traz interessante
reflexão sobre a questão: “Por fim, e derradeiramente, parece pouco aceitável a
manutenção de uma construção tipológica como a contida no art. 230 do Código,
a saber, o rufianismo. Por mais reprovável que possa ser (desde um ponto de
vista patriarcal e machista), fazer-se sustentar pelo comércio do corpo e do sexo
de outrem, isso só o é desde um ponto de vista moral. Espetáculos pornográficos
e mesmo a feitura de filmes televisivos ou cinematográficos de sexo explícito,
ainda que não formas de prostituição clássica, envolvem a figura sexual mediante
paga e não se imagina uma reprovação de quem venha a se sustentar por tais
afazeres. Se existe uma censura moral por tais fatos, não pode haver uma
reprovação penal”.
Questão: Prostituta sustenta os pais idosos ou filho menor. Os
dependentes praticam o crime de rufianismo?
R: Formalmente cometem crime. Contudo, a doutrina e a jurisprudência
sempre foram bastante benevolentes, entendendo que nesse caso a conduta
estaria acobertada pela excludente do estado de necessidade.
Rufianismo X Favorecimento da prostituição
R: O empresário ou agenciador tem uma postura mais ativa (v.g. book
rosa). Já o rufião é alguém que se aproveita de forma mais passiva. Havendo
conflito aparente de normas a questão se soluciona pelo princípio da consunção,
prevalecendo o crime mais grave (favorecimento da prostituição). A figura típica

42
do cafetão, aquela tida como “cinematográfica” pode ser considerada como
favorecimento da prostituição.

Jurisprudência

Revisão Criminal. Acórdão confirmatório de sentença condenatória.


Favorecimento à prostituição e rufianismo. Dupla condenação pelos
mesmos fatos. Absolvição quanto ao segundo delito, porque qualificado
o primeiro pelo fato de objetivar lucro. Revisão deferida para tanto,
reduzida ainda a pena pelo deli o do artigo 228 do Código Penal.
(Revisão Criminal nº 9022128-80.2008.8.26.0000 , Rel. Ivan Marques, 1º
Grupo de Câmaras, j. em 18/03/08).

Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual


Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de
alguém que nele venha a exercer a prostituição ou outra forma de
exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no
estrangeiro.
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a
pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa condição,
transportá-la, transferi-la ou alojá-la.
§ 2o A pena é aumentada da metade se:
I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;
II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato;
III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado,
cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da
vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância; ou
IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.
§ 3o Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica,
aplica-se também multa.

Até o ano de 2005 o delito chamava-se Tráfico internacional de mulheres,


anotando-se importante alteração no nomem iuris para incluir pessoas de
qualquer sexo ou orientação sexual. O Direito Penal, atento às mudanças na
sociedade, tipifica agora não apenas o tráfico de mulheres, mas também qualquer
pessoa que seja enviada para o exterior para fins de prostituição, ou que venha a
ingressar no território nacional para este mesmo fim.
A conduta criminalizada consiste em promover ou facilitar a entrada no
território nacional de alguém que venha a exercer a prostituição, ou a saída de
alguém para se prostituir no estrangeiro.
Bem Jurídico: A liberdade pessoal e sexual, bem como a dignidade da
pessoa humana, ameaçada ou atingida pela exploração sexual.
Sujeitos do crime:
43
Ativo: Qualquer pessoa, cuidando-se de crime comum.
Passivo: Vítima direta é a pessoa que é encaminhada para a prostituição
ou exploração sexual, que poderá ser homem ou mulher, ao contrário do que se
dava na antiga redação, segundo a qual somente as mulheres poderiam ser
vítimas do delito. É irrelevante, para a configuração do delito, que a pessoa já se
dedique à prostituição antes do fato, o que poderá ser levado em conta, porém,
na quantificação da pena. Indiretamente, também a sociedade é vítima. Se a
vítima for maior de 14 e menor de 18, dá-se a forma qualificada do § 1º.
Tipo objetivo: Se subdivide em:
Forma básica: As condutas consistem em promover, facilitar. Na atual
redação foi suprimida a conduta de intermediar, contudo a atividade do
intermediário (que propicia o contato entre as vítimas e os interessados em levá-
las ao exercício da prostituição ou exploração sexual), poderá constituir-se em
formas de facilitação, previstas no caput ou de uma das formas do § 1º.
A lei nº 12.015/09 modificou a redação do tipo para incluir, além da
prostituição, outras formas de exploração sexual, como v.g., a exibição em
espetáculos de sexo explícito.
Forma derivada (§ 1º): Prevê pena idêntica à do caput para o agente que
agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento
dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la.
Formas majoradas: O texto atual não prevê qualificadoras, ao contrário do
anterior, mas apenas causas de aumento de pena, em quantitativo fixo, de
metade.
Hipóteses: vítima menor de 18 anos ou não tem, por enfermidade ou
doença mental, discernimento para a prática do ato, sendo esse segundo caso a
novidade introduzida pela Lei nº 12.015/09. A terceira hipótese diz respeito ao
agente que é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge,
companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima. Por fim, foi
mantida a intensificação do apenamento quando há violência, fraude ou grave
ameaça. Aplicam-se ainda, as causas de aumento de pena gerais do artigo 234-A
do CP.

44
Tipo Subjetivo: É do dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente
de praticar as condutas descritas, incluindo a ciência de que a vítima está sendo
encaminhada para fins de prostituição ou exploração sexual.
Consumação: É crime instantâneo e formal, consumando-se com o
ingresso ou a saída da vítima do território nacional, não se exigindo, para a
consumação, o efetivo exercício da prostituição pela vítima.
Tentativa: Há tentativa se as vítimas não chegam a alcançar o território de
destino.
Para José Paulo Baltazar Júnior (Crimes Federais, 2009), o aliciamento
constitui tentativa, segundo autoriza a alínea a do artigo 3º do Tratado Adicional
das Nações Unidas contra o Crime Organizado e Tráfico de Pessoas.
Vítima Criança ou Adolescente: Se a vítima for criança ou adolescente
levada para o exterior ou trazida para o Brasil sem observância das formalidades
legais ou com fins lucrativos e para fins de prostituição, há que se determinar a
incidência do artigo em questão ou o artigo 239 ECA. Se o fim é prostituição ou
exploração sexual, e a vítima tem menos de 18 anos, o crime será o do artigo 231
do CP, ainda que se trate de criança ou adolescente, tenham sido ou não
observadas as formalidades legais para a saída da pessoa para o exterior, ou
seja, prevalece a conduta descrita no Código Penal (princípio da especialidade).
Ação Penal: É da competência da Justiça Federal, por cuidar-se de crime
transnacional que o Brasil se comprometeu a reprimir (artigo 109, V, da CF) e,
segundo Capez (2009): "Tratando-se de crime internacional, a competência é da
Justiça Federal (CF-88, art. 109, V). De acordo com a doutrina, com base no art.
5º do CP (teoria da ubiquidade), ainda que a pessoa não tenha como destino o
Brasil, se ela passar pelo território nacional para atingir outro Estado (p. ex., lenão
que sai do Paraguai com a mulher, passa pelo Brasil, e se dirige para a Guiana
Francesa), será competente a Justiça Federal brasileira, pois, de certa forma, ela
saiu do nosso território para exercer a prostituição".
Segredo de Justiça; Sim, artigo 234-B, do CP.
Questão: Se a prostituta quiser ir para o exterior por vontade própria, ainda
assim existiria o crime do artigo 231 do CP?
R: A anuência ou vontade de ir para o exterior é irrelevante como forma de
excluir a tipicidade. No entanto, na maioria dos casos a vítima é enganada (fraude

45
ou coação), com falsas promessas de trabalho, sendo submetida a regime de
escravidão. Mas mesmo que nada disso aconteça, o crime ainda assim existiria.
Tal entendimento decorre do processo de “coisificação” a que são submetidas as
vítimas, violando a dignidade da pessoa humana.
Quando ocorre a consumação?
R: A doutrina majoritária entende que o crime se consuma quando a vítima
cruza as fronteiras do país, havendo ou não a prática da prostituição.

Jurisprudência

TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS PARA PROSTITUIÇÃO


RECURSO ESPECIAL Nº 1.472.015 - CE (2014/0194353-6) RELATOR:
MINISTRO LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/PE) RECORRENTE: S S ADVOGADO:
DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO RECORRIDO: MINISTÉRIO
PÚBLICO FEDERAL DECISÃO Cuida-se de recurso especial interposto
por S S, com base no art. 105, III, a, contra acórdão proferido pelo
Tribunal Regional Federal da 5ª Região, que se encontra assim
ementado: PENAL. PROCESSUAL PENAL. APELAÇÃO CRIMINAL.
CRIMES CONTRA OS COSTUMES PRATICADOS NO BRASIL.
FAVORECIMENTO À PROSTITUIÇÃO, RUFIANISMO, TRÁFICO DE
MULHERES E FORMAÇÃO DE QUADRILHA. ARTS. 228, 230, 231 § 3º
E 288, DO CÓDIGO PENAL. AGENTES QUE ALICIAVAM E ENVIAVAM
MULHERES PARA EXERCEREM A PROSTITUIÇÃO NA EUROPA
ATRAVÉS DE SÍTIO NA INTERNET DE BOATE QUE MANTINHAM NO
BRASIL. USO DE FOTOGRAFIAS DE MULHERES EM POSES
ERÓTICAS PARA COLOCAR NO SÍTIO DA BOATE. AUTORIA E
MATERIALIDADE COMPROVADAS. INEXISTÊNCIA DE ERRO DE
PROIBIÇÃO. REDUÇÃO DA PENA. IMPOSSIBILIDADE. REQUISITOS
DO ART. 59 DO CÓDIGO PENAL QUE PERMITEM A FIXAÇÃO DA
PENA ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. PENA APLICADA SUPERIOR A
NOVE ANOS DE RECLUSÃO. REGIME FECHADO COMO INICIAL DO
CUMPRIMENTO DA PENA. APELAÇÃO IMPROVIDA. 1. Agente que, da
Alemanha, comandava, no Brasil, uma casa noturna e um sitio mantido
na rede mundial de computadores destinada à prostituição e
participavam de quadrilha internacional destinada a aliciar mulheres para
se prostituir para os nacionais e também para os estrangeiros vindos da
Europa, remetendo-as, por média de três meses ao ano, também ao
Exterior (Alemanha) para também exercerem a prostituição mediante o
pagamento de uma comissão por programa realizado pelas mulheres; 2.
Prova de que o Apelante era o chefe da quadrilha, mantendo contato
direto com o gerente da boate, enviando os estrangeiros para a
exploração sexual no Brasil e recepcionando-as quando chegavam à
Alemanha para exercerem a prostituição, mediante o pagamento de
dinheiro e retenção de uma comissão por cliente atendido. 3. Crime de
quadrilha configurado. Apelante que, junto com outros Corréus e várias
pessoas não identificadas a nível internacional se reuniram para cometer
crimes, em especial aqueles contra os costumes, havendo sim o
elemento subjetivo entre eles, fato comprovado através dos e-mails e
das relações, inclusive pessoais, que todos mantinham entre si, focados
na manutenção da boate onde se concentravam as atividades de
prostituição. 4. Autoria e materialidade do crime comprovadas com o
46
conjunto probatório dos autos. Ausência de erro de proibição.
Conhecimento, por parte do acusado, de todos os elementos do tipo e
mesmo das imposições da norma. 5. A valoração desfavorável das
circunstâncias judiciais, por parte do julgador, permite a aplicação da
pena-base acima do mínimo legal. Apelante que granjeou conceito
desfavorável quanto à culpabilidade e as circunstâncias dos delitos,
tendo, ainda, as penas agravadas em face do disposto no art. 62, I, do
CP, posto que era o responsável principal pela manutenção das boates
no Brasil e na Alemanha onde ocorria a atividade de prostituição. 6.
Manutenção das penas de 15 (quinze) anos de reclusão e 270 (duzentos
e setenta) dias-multa, cada um no valor de 1/10 (um décimo) do salário
mínimo vigente à época dos fatos, pelos crimes previstos nos arts 228, §
3º, 230, 231 e 288, do Código Penal (favorecimento à prostituição,
rufianismo, tráfico internacional de pessoas e formação de quadrilha). 7.
Cumprimento da pena em regime inicialmente fechado, em face das
penas terem sido arbitradas em patamar superior a 09 (nove) anos de
reclusão, nos termos do art. 33, § 2º, a, do Código Penal. 8. Apelação
improvida.(STJ - REsp: 1472015 CE 2014/0194353-6, Relator: Ministro
LEOPOLDO DE ARRUDA RAPOSO (DESEMBARGADOR
CONVOCADO DO TJ/PE), Data de Publicação: DJ 19/05/2015).

PENAL. TRÁFICO INTERNACIONAL DE PESSOAS. ART. 231, § 2º, DO


CP. AUTORIA. MATERIALIDADE. COMPROVADAS. CONFISSÃO
JUDICIAL. DOLO. FAVORECIMENTO À PROSTITUIÇÃO. ART. 228 DO
CP. PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO. PÓS-FATO IMPUNÍVEL.
ABSOLVIÇÃO MANTIDA. CRIME CONTINUADO. CONFIGURAÇÃO.
CRITÉRIO TEMPORAL. RELATIVIZAÇÃO. HABITUALIDADE
CRIMINOSA. 1. Noticiado e comprovado o falecimento de um dos
acusados, mediante juntada da respectiva certidão de óbito, deve ser
declarada a extinção de sua punibilidade, nos termos do artigo 107,
inciso I, do Código Penal. 2. O agente que, utilizando-se de meio
fraudulento, consistente na promessa de emprego lícito e rentável,
promove a saída de pessoas (mulheres) do território brasileiro, para que
estas exerçam a prostituição do exterior, sujeita-se às sanções do art.
231, § 2º, do Código Penal. Para a perfectibilização do crime, basta a
entrada ou a saída de uma só mulher do território nacional, não se
exigindo o efetivo exercício da prostituição (crime de perigo). 3. A
confissão judicial, quando em sintonia com os demais elementos de
convicção trazidos ao processo, é válida e deve ser levada em conta
pelo julgador tanto como fundamento para uma decisão condenatória
como para fins de aplicação da atenuante do art. 65, inciso III, alínea d,
do Código Penal. 4. O dolo, indispensável para configurar o tráfico
internacional de pessoas, consiste na vontade livre e consciente do
agente de promover ou facilitar a entrada ou saída da mulher para o
exercício da prostituição (dolo genérico). Não se exige o dolo específico.
5. A facilitação à prostituição, no estrangeiro, da mulher cuja saída do
país o próprio réu promoveu é um mero exaurimento do delito de tráfico
internacional de pessoas e, por isso, constitui pós-fato impunível. 6. O
lapso temporal de 30 dias fixado, via de regra, pela jurisprudência para o
reconhecimento da continuidade delitiva não consiste em um critério
matemático peremptório, admitindo elastério. Precedente do STF. Se os
delitos praticados pelo réu são da mesma espécie e, pelas condições de
tempo, espaço e modus operandi (CP, art. 71), é possível inferir que o
fato subseqüente é um simples desdobramento ou ampliação da conduta
inicial do agente, deve ser rechaçada a tese da habitualidade criminosa,
porquanto configurada a fictio juris do crime continuado.(TRF-4 - ACR:
7169 PR 2004.70.02.007169-0, Relator: Revisor, Data de Julgamento:
19/08/2009, OITAVA TURMA, Data de Publicação: D.E. 26/08/2009).

47
Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual
Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do
território nacional para o exercício da prostituição ou outra forma de
exploração sexual:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
§ 1o Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou
comprar a pessoa traficada, assim como, tendo conhecimento dessa
condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la.
§ 2o A pena é aumentada da metade se:
I - a vítima é menor de 18 (dezoito) anos;
II - a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato;
III - se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado,
cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da
vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado,
proteção ou vigilância; ou
IV - há emprego de violência, grave ameaça ou fraude.
§ 3o Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica,
aplica-se também multa.

Aqui a conduta consiste no deslocamento dentro do território nacional de


pessoa que vai exercer a prostituição.
A lei nº 12.015/09 alterou o antigo nomem iuris deste art. 231-A (Tráfico
interno de pessoas) para “Tráfico interno de pessoa para fim de exploração
sexual”. A finalidade do tráfico interno proscrito pelo artigo em desate agora não é
somente a prostituição, mas sim qualquer forma de exploração sexual.
Promover significa propiciar, fomentar, provocar, executar. Facilitar
equivale a colaborar para que ocorra algo. Observe-se que o caput, apesar da
redação enxuta, procura abarcar praticamente toda conduta que determine ou
ajude a movimentação de pessoa, dentro do território nacional, para fins de
exercer a prostituição ou ser submetida a outra forma de exploração sexual. O
crime consuma-se, segundo a doutrina majoritária, com a execução de um dos
núcleos do tipo dirigida à finalidade de que a vítima venha a exercer a prostituição
ou outra forma de exploração sexual, mesmo que o exercício da atividade não
venha a ocorrer. Tal posição, contudo, não é pacífica, havendo quem entenda que
a consumação somente ocorre com o efetivo exercício da prostituição ou outra
forma de exploração sexual. Nesse aspecto, salienta Luiz Regis Prado
(2008): "Consuma-se o delito com o exercício efetivo da prostituição, em regime
de habitualidade. Trata-se de delito de resultado e de lesão. A tentativa é
admissível".
Objeto jurídico: A moralidade pública sexual. Nas hipóteses do § 2º,
também a proteção da dignidade sexual e sua liberdade sexual.
48
Sujeitos ativo e passivo: Qualquer pessoa.
Tipo objetivo: São duas as condutas puníveis: a) Promover e facilitar o
deslocamento dentro do território nacional para o exercício da prostituição ou
outra forma de exploração sexual do próprio corpo.
Tipo subjetivo: É o dolo. Há a necessidade de o agente conhecer a
intenção do ofendido em prostituir-se. Inexiste forma culposa.
Consumação: Com o efetivo deslocamento da pessoa dentro do território
nacional.
Tentativa: Admissível.

Jurisprudência

Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual. Artigo 231-A,


do C Penal. Prova evidenciando que a ré promoveu e facilitou o
recrutamento de mulheres - uma delas menor de idade - para o exercício
da prostituição na boate em que exercia a gerência, fornecendo
transporte e alojamento às vítimas. Prova oral hábil. Negativa da
acusada isolada nos autos. Condenação de rigor. Penas bem fixadas,
justificado o aumento de metade na base pela causa de aumento de
pena prevista no artigo 231-A, § 2º, inciso I, do C Penal. Continuidade
delitiva bem reconhecida. Substituição que atende à finalidade da lei
penal e é socialmente recomendável. Regime aberto, para o caso de
descumprimento, adequado. Apelo improvido. (Apelação nº
990.09.359097-2, Rel.: PINHEIRO FRANCO, 5ª Câmara de Direito
Criminal, j. em 24/6/2010).

EMENTA - Crime de Tráfico Interno de Pessoas - Comerciante que, além


de alojamento, fornece refeições às prostitutas, que fazem "ponto" no
seu estabelecimento comercial. Crime caracterizado. (Apelação nº
993.07.1101179-6, Rel.: LOPES DA SILVA, 13" Câmara de Direito
Criminal, j. em 26/11/2009).

“0 agente que promove o deslocamento de alguém (homem ou mulher)


dentro do território nacional para o exercício da prostituição não pode ser
punido imediatamente. É necessário verificar se efetivamente passou a
se prostituir, por se tratar de crime material, fato que não ocorreu, na
espécie. Pelo exposto, dá-se provimento ao apelo defensivo a fim de
absolver a apelante Sandra Ferreira da Silva, com base no art. 386, inc.
VII do Código de Processo Penal, prejudicado o apelo ministerial.”
(Apelação nº 9215808-30.2008.8.26.0000 , Rel.: SAN JUAN FRANÇA,
13a Câmara de Direito Criminal, j. em 05/11/2009).

CASA DE PROSTITUIÇÃO e TRÁFICO INTERNO DE PESSOAS. Sem


comprovação das elementares específicas do crime de tráfico interno de
pessoas, a imputação se revela indevido "bis in idem". Apelo de
absolvição provido apenas em relação ao delito de tráfico interno de
pessoas. (Apelação nº 0004098-53.2006.8.26.0637 , Rel.: JOSÉ LUIZ
DE JESUS VIEIRA, 5a Câmara de Direito Criminal D, j. em 28/11/2008).
TRÁFICO INTERNO DE PESSOAS (ARTIGO 231- A CP): Facilitar o
alojamento de mulheres que exercem a prostituição. Conduta
descriminalizada pela Lei nº 12.015/09. Inteligência do crime previsto no
49
artigo 231-A do CP, à luz das alterações determinadas pela Lei nº
12.015/09 - Aplicação do novo diploma legal, mais favorável aos agentes
(artigo 2º, parágrafo único, do CP e 5º, XL, CF) Absolvição decretada
Recursos providos. (Apelação nº 0006016-11.2007.8.26.0297, Rel.:
Renê Ricupero, 13ª Câmara de Direito Criminal, j. em 9/8/1012).

TRÁFICO INTERNO DE PESSOA PARA FIM DE EXPLORAÇÃO


SEXUAL. Pretendida absolvição. Admissibilidade. Conjunto probatório
que não é apto a demonstrar, de forma clara e segura, o dolo da ré em
promover ou facilitar o deslocamento da vítima para o exercício da
prostituição. Indícios de que F.F.E. é adolescente já envolvida com a
prostituição e que empreendia diversas viagens a fim de realizar
programas sexuais. Negativa da acusada que se mostra verossímil.
Declarações de F.F.E., em Juízo, que buscam inocentar a acusada.
Necessidade de aplicação do princípio in dubio pro reu. Absolvição
decretada. Recurso defensivo provido. (Apelação nº 0001113-
11.2006.8.26.0638, Rel. Otávio de Almeida Toledo, 16ª Câmara de
Direito Criminal, j. em 16/10/2012).

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6. DO ULTRAJE PÚBLICO AO PUDOR

A objetividade jurídica neste capítulo é o pudor público. Percebe-se nesse


setor, da mesma forma que no anterior, forte conotação moralista, havendo
severa crítica doutrinária quanto à subsistência do delito descrito no artigo 234.

Crimes em espécie:

Ato obsceno
Art. 233 - Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou exposto ao
público:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

Objeto jurídico: O pudor público.


Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: A coletividade.
Tipo objetivo: A conduta é praticar ato obsceno.
Tipo subjetivo: O dolo, consistente na vontade livre e consciente de praticar
ato de conotação sexual, sabendo-o público e potencialmente ofensivo ao pudor.
Consumação: Com a efetiva prática do ato, independente de que alguém
se sinta ofendido (delito formal).
Tentativa: Não se admite.
Ensina-nos Damásio de Jesus (2009) que: “Ato obsceno é a manifestação
corpórea, de cunho sexual, que ofende o pudor público. As palavras obscenas
não caracterizam o delito, embora possam configurar a contravenção penal de
importunação ofensiva ao pudor (LCP, art. 61).”.
O ato obsceno pode ser real (servindo ao desafogo da luxúria do agente)
ou simulado (praticado com espírito de emulação, por gracejo). Exemplo de ato
obsceno real: a cópula praticada em jardim público. Exemplo de ato obsceno
simulado: urinar em logradouro público, exibindo aos passantes o órgão sexual.
Para Guilherme de Souza Nucci, é indispensável à tipificação do delito a
publicidade do ato. Logo, deve o agente praticar o ato em lugar público. Se no
momento de sua prática não houver terceiro a presenciar o ato, haverá crime
impossível, por absoluta impropriedade do objeto (artigo 17 do CP). De modo
contrário, a doutrina e a jurisprudência adotam entendimento pelo qual é
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desnecessária a presença de um terceiro, bastando seja o ato praticado em local
público, aberto ou exposto ao público.
Atualmente a doutrina majoritária entende não configurar ato obsceno as
condutas de topless (em qualquer praia) ou mesmo o nudismo em praias pré-
determinadas.

Jurisprudência

ATO OBSCENO e DANO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO. Recurso que


espera a absolvição por insuficiência probatória. Impossibilidade. Autoria
e materialidade bem demonstradas. Alegação de ausência de dolo de
dano. Evidenciado pela destruição da parte interna da viatura.
Desclassificação para importunação ofensiva ao pudor. Impossível.
Exibição pública de órgão genital. Afastamento da reincidência.
Necessário. Inexistência de condenação definitiva por crime anterior.
Apelo provido em parte para afastar a reincidência e reduzir as penas a 6
meses de detenção, mais 10 dias-multa pelo dano e 3 meses de
detenção pelo ato obsceno, substituídas as privativas de liberdade por
serviços comunitários. (APELAÇÃO CRIMINAL nº 0002301-
63.2012.8.26.0562, Rel.: OTÁVIO DE ALMEIDA TOLEDO,5ª Câmara
Criminal Extraordinária, j. em 17 de julho de 2015.)

APELAÇÃO CRIMINAL ATO OBSCENO. ARTIGO 233, CP.


ABSOLVIÇÃO POR AUSÊNCIA DE PROVA. INVIABILIDADE. AUTORIA
E MATERIALIDADE COMPROVADAS. CONJUNTO PROBATÓRIO
HARMÔNICO. Réu que expõe e manuseia a sua genitália, em local
exposto ao público e no claro intuito de chocar e ofender o pudor alheio,
pratica ato obsceno, merecendo a reprimenda penal. Prova testemunhal
que se mostra suficiente para embasar o decreto condenatório, até
mesmo em virtude da natureza do delito. Recurso improvido. (Apelação
nº 0011519-08.2013.8.26.0554, 12ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL,
Rel: PAULO ANTONIO ROSSI, j. em 10 de junho de 2015).

APELAÇÃO CRIMINAL Ato obsceno Artigo 233, caput, do Código Penal


- Sentença absolutória - Recurso Ministerial - Fragilidade probatória
caracterizada - Divergências nas palavras da vítima - Não comprovação
de conduta atentatória à moralidade pública - Provas insuficientes para
trazer a certeza quanto à autoria delitiva - Manutenção da decisão -
RECURSO NÃO PROVIDO. (Apelação nº 0002160-24.2010.8.26.0462,
3ª Câmara Criminal Extraordinária, Rel. SILMAR FERNANDES, j. em 14
de agosto de 2014).

Apelação. Ato obsceno e importunação ofensiva ao pudor (art. 233 do


Código Penal e art. 61 da LCP). Condenação. Recurso defensivo.
Inépcia da denúncia. Absolvição pretendida. Descabimento.
Materialidade e autoria delitiva devidamente comprovadas. Acusado que
tira das vestes o órgão genital e passa nas costas de vítima menor de 14
anos. Fatos notados. Testemunhas que presenciaram o ocorrido.
Recorrente detido ainda com o órgão genital exposto. Versão
exculpatória pueril e pouco crível. Alegação de crime impossível
rechaçada. A ofensa ao pudor da vítima é nítida, ainda que ela nada
tivesse visto ou percebido. Condenação de rigor. Reprimenda que não
se modifica, bem como o regime aberto e a substituição penal. Sentença

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mantida. Recurso improvido. (Apelação nº 0002698-53.2011.8.26.0564,
11ª CÂMARA DE DIREITO CRIMINAL, Rel.: Salles Abreu, j. em 12 de
março de 2014.).

APELAÇÃO CRIMINAL. Estupro de vulnerável em continuidade delitiva.


PLEITO DE ABSOLVIÇÃO. Impossibilidade. Declarações das vítimas, às
quais se confere relevante força probatória. Crime que nem sempre
deixa vestígios. DESCLASSIFICAÇÃO PARA ATO OBSCENO OU
IMPORTUNAÇÃO OFENSIVA AO PUDOR. Descabimento. Toques nas
pernas, nádegas e região genital, por diversas vezes, praticados com o
intuito de satisfazer a própria concupiscência. Pena criteriosamente
aplicada. Recurso não provido. (Apelação Criminal nº 0002729-
23.2009.8.26.0474, 8ª Câmara de Direito Criminal, Rel.: CAMILO
LÉLLIS, j. em 30 de janeiro de 2014).

APELAÇÃO. DESACATO E ATO OBSCENO. SUJEITO QUE XINGA


POLICIAIS E EXIBE, EM VIA PÚBLICA, SUA GENITÁLIA. FIRME
PALAVRA DOS OFENDIDOS - ABSOLVIÇÃO POR INSUFICIÊNCIA DE
PROVAS. Descabimento: Portador de péssimos antecedentes e já tendo
sido condenado por outro desacato, não trouxe aos autos o réu qualquer
elemento que pudesse, nem de longe, macular a firme e segura palavra
dos policiais que, por isso, devem prevalecer. Recurso não provido.
(Apelação nº 0000922-79.2011.8.26.0382, 15ª Câmara de Direito
Criminal, Rel.: J. Martins, j. em 28 de novembro de 2013.)

Apelação Criminal. Recurso da defesa - Ato obsceno, maus tratos,


constrangimento a criança (art 232 do ECA). Manifestação ministerial
pugnando pela absolvição dos recorrentes do crime de ato obsceno e
pela redução de penas dos demais delitos com relação a apelante
Zilmara. Crime de ato obsceno. Absolvição. Possibilidade - Ausente a
publicidade do ato obsceno exigida pela lei, inexiste justa causa para
ação penal pelo delito do artigo 233 do Código Penal. Ocorrência da
prescrição quanto aos demais delitos, visto que a manifestação do
Procurador de Justiça diz respeito a redução de pena - DÁ-SE PARCIAL
PROVIMENTO a manifestação do Procurador de Justiça para absolver
ZILMARA AQUINO MENEZES e MÁRCIO ROBERTO DA SILVA da
prática do delito tipificado no artigo 233 do Código Penal, com fulcro no
artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal, e, DE OFÍCIO
JULGA-SE EXTINTA A PUNIBILIDADE da apelante ZILMARA AQUINO
MENEZES, pela prescrição da pretensão punitiva, prejudicado o exame
de mérito do recurso. Expeçam-se alvarás de soltura clausulados.
(Apelação nº 0011694-64.2007.8.26.0084, 16ª Câmara de Direito
Criminal, Rel.: Borges Pereira, j. em 16 de julho de 2013).

Escrito ou objeto obsceno


Art. 234 - Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua guarda, para
fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito,
desenho, pintura, estampa ou qualquer objeto obsceno:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem:
I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos
referidos neste artigo;
II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação
teatral, ou exibição cinematográfica de caráter obsceno, ou qualquer
outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter;
III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio,
audição ou recitação de caráter obsceno.

Objeto jurídico: O pudor público.


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Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito Passivo: A coletividade.
Tipo objetivo: São várias as condutas incriminadas, tratando-se de tipo
misto alternativo.
Tipo subjetivo: É o dolo (específico).
Consumação: Com a prática das ações, sendo dispensável a efetiva
ofensa ao pudor público (crime de perigo).
Tentativa: É admitida.
Figuras equiparadas:
1) Venda, distribuição ou exposição à venda ou público;
2) Representação teatral, exibição cinematográfica ou qualquer outro
espetáculo em local público ou acessível a este;
3) Audição ou recitação nas mesmas condições antes citadas ou pelo
rádio.
Cumpre destacar que o art. 234 está em franco desuso. É claro que os
costumes não revogam lei, contudo em um sistema interno de persecução penal
que, diante da pouca estrutura estatal, tem-se que eleger crimes prioritários para
reprimir, fica evidente que quase nunca haverá qualquer ação voltada a combater
a prática das condutas estipuladas na norma em evidência, até mesmo porque já
contam com certa adequação social. Em verdade, se fosse revogado o art. 234,
ninguém sentira sua falta. Nesse andar explica Rogério Greco (2009):

“Como se percebe sem muito esforço, esse é mais um dos artigos


constantes no nosso diploma repressivo que precisa, com urgência, ser
retirado do nosso ordenamento jurídico-penal, uma vez que a sua
existência desprestigia a Justiça Penal, principalmente os órgãos
encarregados da repressão direta (polícia), bem como o Ministério
Público, que tem a missão de levar a efeito a ‘persecutio criminis in
judicio’.”

Vale lembrar, igualmente, que ao facilitar ou induzir o acesso de material


obsceno a criança (pessoa menor de 12 anos de idade), com o fim de com ela
praticar ato libidinoso, o agente comete crime específico, previsto no artigo 241 do
ECA (Lei nº 8.069-90).
Guilherme de Souza Nucci entende ser inconstitucional o disposto neste
artigo, primeiro por ofender o princípio da legalidade, na vertente da taxatividade,
diante da falta de clara definição acerca do que vem a ser algo obsceno, e
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segundo, por ofender princípios como o da liberdade de expressão e
comunicação social sem censura (artigos 5º, IV, IX, e 220 da CF/88).

7. DISPOSIÇÕES GERAIS

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O artigo 226 prevê as causas de aumento de pena, in verbis:

Art. 226. A pena é aumentada:


I – de quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou
mais pessoas;
II – de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio,
irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador
da vítima ou por qualquer outro título tem autoridade sobre ela;
III – (Revogado pela Lei n° 11.106, de 2005)

O artigo 234-A trata das causas de aumento de pena nos crimes do Título
VI quando, da prática dos crimes ali previstos, resultar gravidez (aumento em
metade); ou se há transmissão, doloso ou culposa, à vítima de doença
sexualmente transmissível (aumento de um sexto até a metade).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Livraria do Advogado, 2010.
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atualizada e ampliada. Brasília: Ministério da Saúde; 2010.

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- DELMANTO C, DELMANTO R, DELMANTO-JR R, DELMANTO FMA, editors.


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Abreu LC. Influência do exame médico-legal na responsabilização do autor da
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- FERREIRA, Gecivaldo Vasconcelos, Breves considerações sobre os artigos 227
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- NUCCI, Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual - (livro
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- _______. Código de processo penal comentado. 13. ed. rev. e ampl. Rio de
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- _______. Código penal comentado. 10. ed., São Paulo: RT, 2011.

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