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UniRV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE

FACULDADE DE DIREITO

FEMINICÍDIO E MISOGINIA

RIO VERDE, GOIÁS


2022
UniRV - UNIVERSIDADE DE RIO VERDE
FACULDADE DE DIREITO

FEMINICIO E MISOGINIA

Texto apresentado à disciplina Filosofia do Direito


para composição de nota bimestral.

Prof: Dra. Bianca Simoneli de Oliveira.

Ana Caroline da Silva Marinho


Camila Lima da Silva Santos
Frederico Oliveira dos Santos
Michele Albuquerque Silva
Sergio Roberto Silva Gonçalves
Tatiene de Souza Santos
Welligton Gontijo Sousa
William Paiva Souza

RIO VERDE, GOIÁS


2022
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1. Apresentação do assunto.
1.1 Misoginia:

A Grécia antiga teve forte influência nas estruturas políticas ocidentais, inclusive nos papeis sociais
de homens e mulheres dentro da polis. Com uma sociedade pautada na desigualdade de gêneros e
na soberania masculina, a misoginia era vista com naturalidade. E até hoje ela é. O machismo e a
misoginia garantem privilégios aos homens em relação às mulheres, e também garante uma
sociedade que gire em torno das concepções, necessidades e ideais masculinos, fazendo com que
mulheres participem desse sistema. A Misoginia é a aversão ou ódio contra a mulher e valores
femininos. São falas, atos e medidas que reforçam a superioridade do homem ao menosprezar a
mulher. No Brasil casos de misoginia são constantes, principalmente na política–antes reduto
exclusivamente masculino. Comentários machistas, sexistas, cheios de ódio e até criminosos são
direcionados e bombardeados nas redes sociais daquelas mulheres cuja ação dá poder e notoriedade
às questões femininas. A misoginia além de motivar violências contra a mulher – físicas, psicológicas,
patrimonial, política entre outras-, ela também incide no aumento do feminicídio e na feminização
da pobreza. Além disso, ele também interfere no ambiente de trabalho promovendo diferença
salarial, assédio moral e sexual dentro e fora desse local e a precarização da vida.

1.2 Feminicidio

De acordo com Mereles (2019) o femincídio é o termo que define o homicidio de


mulheres como crime hediondo quando envolve discriminação e desprezo à condição de
mulher e violência doméstica e familiar. O conceito surge da decada de 1970 com o
objetivo de reconhecer e dar visibilidade à discriminação, opressão, desigualdade e
violência sistemática contra as mulheres. Esse agravante não constitui um evento isolado
e repentino, faz parte de uma série de eventos de violência cujas raizes misóginas
patriarcais caracteriam o uso de violencia extrema, incluindo abusos físicos, sexuais e
psicológicos.

2. Discussão:
2.1. Criminalização no Brasil
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No Brasil a violência doméstica é criminalizada desde 2006 de acordo com a lei 11.340,
conhecida como a lei Maria da Penha. O feminicídio é considerado um agravante do
homicídio desde 2015 de acordo com a lei 13.104. Além de ser julgado crime hediondo, ou
seja, considerado mais grave por levar à indignação da sociedade por ser um crime de ódio
contra a mulher. Portanto, tal comportamento faz parte da educação patriarcal que influencia a
estrutura da sociedade.

2.2. Lei e punições previstas:

2.2.1. Lei 11.340, de 7 agosto de 2006

Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher
qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial: (Vide Lei complementar nº 150, de
2015)

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente


de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que


são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade
expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido
com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação


sexual.

Art. 6º A violência doméstica e familiar contra a mulher constitui uma das formas de
violação dos direitos humanos

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos
desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as
seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:
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I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente,


nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de


distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;

c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica


da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de


atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

2.2.2. Lei 13.104 - Feminicídio

Altera o art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, para
prever o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1º da
Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos.

VI – contra a mulher por razões da condição do sexo feminino:

§2°-A considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve:

I – Violência doméstica e familiar;

II – menosprezo ou discriminação à condição de mulher.

A pena prevista para o homicídio qualificado é de 12 a 30 anos de reclusão. Ainda, a Lei


13.104/2015 previu a causa de aumento de pena em seu parágrafo 7°:
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§7° A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for
praticado:

I – durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;

II – contra pessoa menor de 14 (quatorze) anos, maior de 60 (sessenta) anos ou com


deficiência;

III – na presença de descendente ou ascendente a vítima

3. O ato pode ser entendido como um assunto que envolva o direito natural ou apenas
o direito positivo?

O feminicídio é um ato que envolve apenas o Direito Positivo, pois ele advém da
manifestação da vontade de nossa sociedade que anseia por uma solução para o histórico de
violência por razões de gênero, que tem caráter estrutural, e que se perpetua devido à sua
posição de subordinação na ordem sociocultural patriarcal.
Apesar de não ser uma característica natural do homem, a violência contra a mulher não é
algo novo em nossa sociedade, desde os primórdios do homem, passando pela idade média
chegando até os dias atuais, temos relatos de perseguições as mulheres. Isso se deu
primeiramente por questões biológicas, e em seguida foi se perpetuando de diversas formas
em nossa sociedade.
Com muita luta, a mulher contemporânea foi conquistando seu espaço, através de direitos e
garantias. Neste sentido, entendem os positivistas que a lei é um produto do Direito que age
como um mecanismo de organização social, firmada a partir de um "Contrato Social".
Diante disso, no intuito de combater a violência contra as mulheres a organização
internacional dos direitos humanos estabeleceu um conjunto de normas e padrões que obriga
os Estados a tomarem medidas preventivas, punitivas e eficazes na violência contra a mulher,
diante dessa arquitetura protetiva o Brasil assumiu o dever jurídico de combater a violência
contra a mulher.
A violência de gênero constitui questões, que começa a ganhar visibilidade, no
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Brasil, na década de 1970, com idas e vindas, passando pela Lei 9.099/95, que não se mostrou
instrumento hábil a enfrentar a violência doméstica e familiar contra a mulher. A partir de
agosto de 2006, o fenômeno social da violência doméstica recebe a tutela da Lei 11.340 - Lei
Maria da Penha, que propõe tutela ampla para a mulher em risco de violência doméstica
visando assegurar o direito fundamental à igualdade.
Já o feminicídio foi instituído pela Lei n°. 13.104 de 09 de março de 2015 como uma
qualificadora do homicídio e tem por finalidade inibir crimes cometidos contra as mulheres,
por razão da violência doméstica e familiar e pela condição de menosprezo do sexo feminino,
considerando que a razão do sexo feminino é quando o crime necessariamente envolve ou
existe o menosprezo ou discriminação à condição de ser mulher.
O feminicídio então não pode ser considerado como um direito natural, pois o direito natural
independe do Estado ou de leis. Por isso, é considerado autônomo. O direito positivo, por
outro lado, depende de uma manifestação de vontade, seja da sociedade ou de autoridades.
Portanto, este instituto nasceu a partir de um anseio por uma solução jurídica contra o
crescente número de homicídios das mulheres em razão da dominância imposta pelos homens.

4. Exemplos de casos reais no Brasil

4.1. Caso Geziane Buriola

No ano de 2017 a moradora de Campo Novo do Parecis, Geziane Buriola teve a vida
transformada em um pesadelo após ser atacada pelo ex-companheiro, Jair da Costa. A ex-
diarista relata que a fase do namoro foi conturbada pelo alcoolismo e agressões do operador
de máquinas. Após a última reconciliação o homem compra um facão de cerca de 80cm, sem
saber das reais intenções do ex. “Ele passou a semana amolando o facão. Eu só perguntava o
motivo e ele falava ‘um dia você vai saber’. Certo domingo a gente estava em casa, ele ‘tava’
bebendo e eu também. Ele amolou o dia inteirinho esse facão, mas não passava pela minha
mente que ele ia fazer isso.” Sabendo da agressividade dele ao ingerir bebidas alcoólicas,
Geziane resolver dormir na casa de uma amiga, mas foi agredida antes mesmo de sair de
casa.” Levou golpes 15 golpes pelo corpo, quase mil pontos. Mas a pior parte segundo
Geziane, foi ter as duas mãos decepadas. “A parte mais doída foi que ele arrancou as minhas
mãos fora. Não foi fácil, não. Essa aqui tinha caído na hora e essa aqui ficou pendurada. Ele
veio dos dois lados para cortar meu pescoço, e a minha defesa foi colocar as mãos na frente.
Foi quando ele decepou as minhas mãos.”
4.1.1. Julgamento
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A sessão de julgamento de Jair da Costa foi realizada em 12 de julho de 2019, das 8h40 às
22h35. Após quase 14 horas, o Conselho de Sentença entendeu, por maioria, que ele era
culpado pela tentativa de homicídio qualificado. A pena foi fixada em 15 anos e seis meses de
reclusão. O júri foi presidido pelo juiz Pedro Davi Benetti, titular da 1ª Vara de Campo Novo
do Parecis.

4.2. Caso Daniela Perez

Daniela Perez, atriz, protagonista da novela “Corpo e Alma” exibida pela emissora Rede
Globo, foi brutalmente assassinada no dia 28 de dezembro de 1992, por até então seu parceiro
e par romântico na ficção. O autor do crime Guilherme de Pádua contou com a ajuda de sua
esposa, Paula de Pádua para cometer o crime e ocultar os fatos decorrentes do homicídio.
No dia do ocorrido, Guilherme e Daniela finalizaram as gravações e ambos seguiram
caminhos diferentes. De acordo com o próprio autor, ele esperou avistar o carro de Daniela
para segui-la, a vítima teve sua passagem bloqueada pelo carro de Pádua, sendo assim a atriz
desceu de seu veículo e foi surpreendida com socos, que fizeram com que ela ficasse
inconsciente. Os réus levaram o corpo da jovem para um matagal onde a mataram com golpes
de “punhal” segundo a perícia médico legal.
Portanto, com a investigação, o crime foi desvendado. Guilherme Pádua e Paula Pádua foram
acusados de homicídio qualificado pelo motivo de torpe e por terem utilizado recursos que
dificultaram a defesa da vítima.

4.2.1. Julgamento
O procedimento para o julgamento foi o Tribunal do Juri. E em 15 de janeiro de 1997
Guilherme de Pádua foi condenado a dezenove anos de reclusão, dos quais já tinha cumprido
quatro anos. O ator recorreu a sentença, porém teve seu pedido negado e sua pena foi mantida.
Já o julgamento de Paula Thomaz, aconteceu em 16 de maio de 1997, sendo condenada a
dezoito anos de reclusão, porém houve a redução de seis meses pelo fato de a autora constar
menos de 21 anos na data do ocorrido. Entretanto, em 1999, após 7 anos de cumprimento de
pena, ambos deixaram o cárcere respondendo no regime semiaberto.

5. Sobre a lei:
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Desde a sua criação a lei passou por diversas alterações, de modo que melhor se
adequassem para a necessidade da sociede. Entretanto, a lei que não apresenta a eficácia
necessária na aplicação de suas penalidades, não tem poder coativo suficiente para causar
real efeito na sociedade. A lei só “vai pegar” quando seu real valor for entendido pela
sociedade, tendo como base a reeconstrução dos valores morais dos indivíduos.

6. Âmbito social:

Na sociedade ainda há o pensamento de que não devemos nos envolver entre briga de marido
e mulher. Vizinhos, familiares e pessoas da convivência devem estar atentos aos sinais de
violência, caso não queiram se envolver pessoalmente, podem recorrer à denúncias anônimas.
Fazer o acolhimento da vítima, ajudando-a sair da situação de vulnerabilidade, buscar ajuda
em centros de apoio a mulher ou buscando orientação jurídica na defensoria pública, são
maneiras essenciais para a luta contra a violência doméstica.

Quando a mulher depende de financeiramente do seu agressor fica mais difícil para ela

romper com o ciclo da violência, se torna mais complicando para fugir da situação.

Portanto, é de suma importância políticas públicas de Estado proporcionem a capacitação


profissional dessas mulheres, que as insira no mercado de trabalho e ofereça mecanismos
para que possam garantir sua autonômica econômica, assim, rompendo o ciclo de violência.
Deve -se manter a garantia de acompanhamento psicológico para as vítimas e filhos, que
eventualmente desenvolveram traumas por conta do ambiente em que viviam.

REFERÊNCIAS

Material de internet:

MERELES, Entenda a Lei do Feminicídio e por que ela é importante.


Disponível em: <https://guiadoestudante.abril.com.br/coluna/atualidades-
vestibular/entenda-a-lei-do-feminicidio-e-por-que-e-importante/>. Acesso em: 15
nov. 2022.

TJMT. Poder judiciário do Mato Grosso. [S.l.]. TJMT, 2021. Disponível em:
http://www.tjmt.jus.br/noticias/63532#.Y3QH7XbMJEY. Acesso em: 15 nov. 2022.
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Lei:

BRASIL. Planalto. 11.340. 2006. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 15
nov. 2022.

BRASIL. Planalto. 13.104. 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-


2018/2015/lei/l13104.htm>. Acesso em: 15 nov. 2022.

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