Você está na página 1de 18

LEI MARIA DA PENHA: 11340/2006 Lei De Violência Doméstica e

Familiar Contra A Mulher. Prof. Rogério Sanches

Não é uma Lei Penal. É uma Lei Multidisciplinar

Finalidade: cria mecanismos para coibir e prevenir a violência


doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da
Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas
de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados
internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre a
criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e
estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de
violência doméstica e familiar.

Portanto estabelece um compromisso que o Brasil assume com a


comunidade internacional, assumindo esse compromisso antes mesmo da
aplicação da Lei. Busca cumprir mandamento Nacional (Constituição) e
Internacional (compromisso com os Tratados).

Nenhumas das finalidades, acima destacados, possuem finalidades


criminais, portanto é uma Lei multidisciplinar.

FINALIDADES DA LEI Nº 11.340/06

a) Coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra a MULHER.

b) Criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a


MULHER. Não confundir com os Juizados Especiais, pois a Lei proíbe a
aplicação da Lei 9.099/95. São, portanto, Juizados específicos para tratar da
Violência doméstica, portanto, uma especialização da justiça.

c) Estabelece medidas de assistência à MULHER em situação de violência


doméstica e familiar. Medidas de assistência são medidas extrapenais,
basicamente.
d) Estabelece medidas de proteção à MULHER em situação de violência
doméstica e familiar. Medidas de proteção são, basicamente, medidas
extrapenais.

Essas quatro finalidades se preocupam exclusivamente com a MULHER!

Atenção! A lei não nega que o homem possa ser vítima de violência doméstica
e familiar

Ex.: Lesão corporal dolosa qualificada por ter ocorrido no ambiente doméstico

ou familiar não diferencia homem de mulher.

CONSTITUCIONALIDADE

Portanto, se o homem é vítima, aplica-se o artigo 129, CP, §9º e 10º;

Se a mulher é vítima, além do artigo 129, a Lei Maria da Penha. A Lei Maria da
Penha serve a mulher vítima como um “agasalho a mais”. Mais isso é
Constitucional? Isso não é tratar pessoas iguais de modos diferentes,
violando a isonomia?

 Quando nasceu a Lei Maria da Penha, com ela nasceu uma corrente no
sentindo de que se tratava de Lei Inconstitucinal:
Fundamentos:

1ª Corrente

a) Viola o art. 226, § 5º CF (isonomia na sociedade conjugal);

b) Viola o art. 226, § 8º CF (proteção à família – imperativo de tutela, e não


somente a família na pessoa da mulher);
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

 § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente


pelo homem e pela mulher.

§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a


integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.

c) LMP na contramão da história: as leis têm sido alteradas para evitar


discriminações contra pessoas em geral;

(LMP reforça a discriminação contra o homem)

d) Se irmão bate em irmã: LMP (se irmã bate em irmão: não LMP???)

Essas correntes não vingaram.

2ª Corrente:

A lei é constitucional (STF)

- AÇÃO AFIRMATIVA: fornece instrumentos para garantir a um destinatário


certo a igualdade prevista em lei. A Lei Maria da Penha possui predicados

de ação afirmativa; fornece instrumentos para garantir um destinatário certo


à igualdade prevista em Lei.

A mulher é igual ao homem na Lei, como a CF afirma, mas de fato ela


consegue fazer valer essa igualdade. Portanto, na realidade, a mulher não
consegue possuir a mesma isonomia com o homem. Assim percebe-se que
esta Lei visa garantir de fato, a isonomia prevista na Lei.

 A Lei 13.431 de 2017 manda aplicar subsidiariamente a Lei Maria da


Penha para os casos de crianças e adolescente vítimas ou testemunha
de violência (não importa o sexo).
Isso não gera analogia in mallam partem? Não! Pois são medidas
extrapenais.

CONCEITO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A


MULHER

Art. 5 º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar


contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial:

I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de


convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;

II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por


indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços
naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou


tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Lei nº 11340/06: conceito de violência doméstica e familiar contra a


mulher

VIOLÊNCIA DE GÊNERO: é a violência preconceito, tendo como motivação


a opressão à mulher, fundamento de aplicação da LMP. Trata-se da
violência que se vale da hipossuficiência da vítima mulher, discriminação

quanto ao sexo feminino. SERÁ?

É possível
a incidência da Lei
11.340/2006 (Lei
Maria da Penha) nas relações entre mãe e filha. Isso porque, de acordo com o
art. 5º, III, da Lei 11.340/2006, configura violência doméstica e familiar contra a
mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial em
qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação. Da análise do
dispositivo citado, infere-se que o objeto de tutela da Lei é a mulher em
situação de vulnerabilidade, não só em relação ao cônjuge ou companheiro,
mas também qualquer outro familiar ou pessoa que conviva com a vítima,
independentemente do gênero do agressor. Nessa mesma linha, entende a
jurisprudência do STJ que o sujeito ativo do crime pode ser tanto o homem
como a mulher, desde que esteja presente o estado de vulnerabilidade
caracterizado por uma relação de poder e submissão. HC 277.561-AL, Rel.
Min. Jorge Mussi, julgado em 6/11/2014.

Lei nº 11340/06: conceito de violência doméstica e familiar contra a


mulher

Art. 5º, I - no âmbito da UNIDADE DOMÉSTICA, compreendida como o espaço


de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;

 Abrange o espaço caseiro;

 Dispensa vínculo familiar (aplica-se na violência de gênero entre o patrão ou


patroa e a empregada doméstica);

Lei nº 11340/06: conceito de violência doméstica e familiar contra a


mulher

Art. 5º, II - no ÂMBITO DA FAMÍLIA, compreendida como a comunidade


formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por
laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;

 Dispensa coabitação;

 Exige vínculo familiar (padrastos, enteados, adoção).


Lei nº 11340/06: conceito de violência doméstica e familiar contra a
mulher

Art. 5º, III - em qualquer RELAÇÃO ÍNTIMA DE AFETO, na qual o agressor


conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

 Dispensa coabitação;

 Dispensa vínculo familiar;

 Exige relação íntima de afeto (namorados, amantes, repúblicas de


estudantes, ex-marido, ex-mulher).

“Art. 5º, parágrafo único: As relações pessoais enunciadas neste artigo


independem de orientação sexual.”. Ou seja, para o professor, aplica-se a Lei
Maria da Penha nas relações homoafetiva, apenas femininas, já que a Lei é
voltada para proteger vítimas do sexo feminino. Isso não quer dizer que não
possa ser aplicado as medidas protetivas da Lei para vítimas homoafetiva do
sexo masculino, desde que em situação de vulnerabilidade. Maria Berenice
Dias entende que o conceito de família já tinha sido ampliado por esse artigo
para proteger as relações homoafetiva muito antes de ser reconhecidas pelo
STF, as uniões homoafetiva.

FORMAS DE VIOLÊNCIA:

Quais são as formas de violência doméstica e familiar contra a mulher?

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre


outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua


integridade ou saúde corporal;

 Vias de fato (contravenção penal);

 pode também incidir nos crimes de feminicídio.


II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause
dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o
pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição
contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito
de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e
à autodeterminação.

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a


presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante
intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou
a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que
limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure


retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos
de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos
econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

 Marido que furta a mulher: A violência patrimonial impede a escusa


absolutória do art. 181 CP?

Art. 181 CP - É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste
título, em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003).

I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;

II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil


ou natural.

Art. 182 CP - Somente se procede mediante representação, se o crime previsto neste


título é cometido em prejuízo: (Vide Lei nº 10.741, de 2003)

I - do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;

II - de irmão, legítimo ou ilegítimo;

III - de tio ou sobrinho, com quem o agente coabita.


1º Corrente: Maria Berenice Dias  sendo a violência patrimonial espécie de
violência doméstica e familiar contra a mulher não se aplica qualquer das
escusas dos artigos 181 e 182 do CP.

O Professor Rogério Sanches discorda da posição, pois em nenhum momento


o CP proíbe a aplicação dessas escusas quando a vítima é mulher. Seria
analogia in mallam partem, proibido no Direito Penal.

2º Corrente: O artigo 183, CP, não proíbe a aplicação das escusas quando a
vítima é mulher, não podendo o interprete fazê-lo.

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia,


difamação ou injúria.

Atenção: Na denúncia deve capitular a infração na Lei criminal, CP


basicamente. A Lei Maria da Penha somente tipifica um crime. Só será usado o
artigos da LMP (artigo 7º) caso queira requerer medidas preventivas de
assistência ou proteção.

Em regra essas várias formas de violência configuram também crime, não


necessariamente, podendo configurar contravenção penal. Excepcionalmente
pode se ter violência doméstica e familiar contra a mulher que não seja crime
ou contravenção penal e sim um fato atípico, e nem por isso deixa de ser
violência doméstica. Ex.: adultério: violência psicológica; porém fato atípico 
a vítima tem direito as medidas protetivas e aplicação da LMP, mesmo que não
haja consequências penais ao agressor. Os fatos não precisam estar atrelados
a uma infração penal, ou contravenção, basta que estes fatos estejam
configurando violência doméstica ou familiar.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO

DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO

Art. 8º A política pública que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher far-se-á por meio de um conjunto articulado de ações da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e de ações não-governamentais,
tendo por diretrizes:

Formas De Prevenção

PERSONAGENS que vão trabalhar para inibir a violência doméstica e familiar


contra a mulher:

1. União  A LMP é aplicada basicamente pela justiça Estadual, apesar de


a União compor organizando os Juizados no DF. A União participa de
ações de prevenção;
2. Estados e DF;
3. Municípios;
4. Ações não governamentais.

DAS MEDIDAS INTEGRADAS DE PREVENÇÃO (análises de alguns incisos


do artigo 8º)

Diretrizes:

III - o respeito, nos meios de comunicação social, dos valores éticos e sociais
da pessoa e da família, de forma a coibir os papéis estereotipados que
legitimem ou exacerbem a violência doméstica e familiar, de acordo com o
estabelecido no inciso III do art. 1o, no inciso IV do art. 3o e no inciso IV do art.
221 da Constituição Federal;

IV - a implementação de atendimento policial especializado para as mulheres,


em particular nas Delegacias de Atendimento à Mulher;
IX - o destaque, nos currículos escolares de todos os níveis de ensino, para os
conteúdos relativos aos direitos humanos, à equidade de gênero e de raça ou
etnia e ao problema da violência doméstica e familiar contra a mulher.

MEDIDAS DE ASSISTÊNCIA

CAPÍTULO II

DA ASSISTÊNCIA À MULHER EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E


FAMILIAR

Art. 9º A assistência à mulher em situação de violência doméstica e familiar


será prestada de forma articulada e conforme os princípios e as diretrizes
previstos na Lei Orgânica da Assistência Social, no Sistema Único de Saúde,
no Sistema Único de Segurança Pública, entre outras normas e políticas
públicas de proteção, e emergencialmente quando for o caso.

Art. 9º: Tríplice assistência (Social Saúde e Segurança - polícia civil art. 11 e
12).

Atenção!! para o art. 9º, § 2º:

O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para


preservar sua integridade física e psicológica:

I - acesso prioritário à remoção quando servidora pública, integrante da


administração direta ou indireta;

- Vítima servidora da administração direta ou indireta: garante remoção


prioritária, passando por cima de critérios como antiguidade e merecimento.

II - manutenção do vínculo trabalhista, quando necessário o afastamento do


local de trabalho, por até seis meses.

- Vítima trabalhadora não servidora pública. Prevê o afastamento da vítima por


até 6 meses com manutenção do vínculo. Com ou sem remuneração? Esse
afastamento e do tipo suspensão sem remuneração.
- Tem prevalecido que esse afastamento deve ser pleiteado e determinado pelo
juiz do trabalho.

MEDIDAS PROTETIVAS

Seção II

Das Medidas Protetivas de Urgência que Obrigam o Agressor

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher,


nos termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em
conjunto ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência,
entre outras.

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao


órgão competente, nos termos da Lei no 10.826, de 22 de dezembro de 2003;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o


limite mínimo de distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de


comunicação;

c) frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física


e psicológica da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a


equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

Seção III

Das Medidas Protetivas de Urgência à Ofendida

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:
I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou
comunitário de proteção ou de atendimento;

II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao


respectivo domicílio, após afastamento do agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos


relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;

IV - determinar a separação de corpos.

Proteção Patrimonial

Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou


daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar,
liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;

II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra,


venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização
judicial;

III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;

IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e


danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra
a ofendida.

Parágrafo único. Deverá o juiz oficiar ao cartório competente para os fins


previstos nos incisos II e III deste artigo.

As medidas elencadas nos arts. 22, 23 e 24 da Lei nº 11.340/06 são


adjetivadas pelo legislador como de urgência  tutela cautelar de urgência:

Pode ser uma tutela antecedente ou concomitante à ação. Como todo cautelar
deve obedecer ao binômio perigo da demora (periculum in mora) e a aparência
do bom direito (fummus bon iures).
 E se no relato da vítima, não é possível identificar o binômio, é possível
designação de Audiência De Justificação (art. 300, § 2º do CPC).

 Se não houver o ajuizamento da ação principal, a medida protetiva decai


após 30 dias? De acordo com os artigos 308 3 309 do CPC, deve-se ajuizar a
ação principal no prazo legal, sob pena de perder a eficácia, salvo se
demonstrada a necessidade da medida por permanecer a situação que
justificou sua concessão.

MEDIDAS PROTETIVAS: consequências do descumprimento

Art. 20, Lei nº 11.340/06: Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução


criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício,
a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade
policial.

Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do


processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo
decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

Ou seja, o descumprimento da medida protetiva pode gerar prisão preventiva.

O CPP foi alterado por conta disso:

Art. 313, CPP: Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a
decretação da prisão preventiva:

III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,


adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a
execução das medidas protetivas de urgência; (Redação dada pela Lei nº
12.403, de 2011).

PRISÃO PREVENTIVA x CONSTITUCIONALIDADE

1ª corrente: temos doutrina julgando a prisão preventiva para a garantia de


medida protetiva inconstitucional. A prisão preventiva é acessória do processo
penal. Na LMP ela é instrumento para garantir a execução de medida cível, e
não como acessaria do Proc. Penal. Trata-se, na verdade, de prisão civil
travestida de prisão preventiva, sem amparo constitucional.

2ª corrente: Outros, no entanto, entendem que a prisão preventiva para garantir


medida protetiva, só é admitida, quando o descumprimento estiver atrelado à
prática de nova infração penal.

3º corrente:  O STJ reconhece a constitucionalidade da prisão preventiva


para garantir a medida protetiva.

A Sexta Turma do STJ, no Resp 1.374.653-MG (14/4/2014), decidiu que o


descumprimento de medida protetiva de urgência não configura crime de
desobediência.

Para os Ministros, “as determinações cujo cumprimento seja assegurado por


sanções de natureza civil, processual civil ou administrativa retiram a tipicidade
do delito de desobediência, salvo se houver ressalva expressa da lei quanto à
possibilidade de aplicação cumulativa do art. 330 do CP”.

O art. 22, § 4º, da Lei 11.340/06, prevê que aplica-se às medidas protetivas, no
que couber, o disposto no caput e nos §§ 5º e 6º do art. 461 do CPC, isto é,
caso ocorra o descumprimento de medida protetiva o juiz poderá tomar as
providências previstas no mencionado dispositivo para alcançar a tutela
específica da obrigação, afastando-se, com isso, o crime de desobediência.

Obs: não ocorrerá crime de desobediência ainda que a penalidade prevista


seja processual penal, por exemplo, prisão preventiva.
Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011  Art. 311 CPP - Em qualquer fase
da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva
decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do
Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da
autoridade policial  veio proibir a prisão preventiva na fase de Inquérito
policial:

Art. 20, lei nº 11.340/06: Em qualquer fase do inquérito policial ou da instrução


criminal, caberá a prisão preventiva do agressor, decretada pelo juiz, de ofício,
a requerimento do Ministério Público ou mediante representação da autoridade
policial  Não foi reformulada com a nova redação dada ao art. 311 com a Lei
12. 403

Parágrafo único. O juiz poderá revogar a prisão preventiva se, no curso do


processo, verificar a falta de motivo para que subsista, bem como de novo
decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

PRISÃO PREVENTIVA: PODERES DO JUIZ

Com o advento da Lei 12.403/11, pode o juiz, na LMP, decretar a


preventiva de ofício na fase de IP?

Se tem duas correntes como argumento a essa questão:


1º Corrente: Aplicando-se o princípio da especialidade, o juiz na LMP, continua
decretando a preventiva de ofício na fase do inquérito policial. Para o professor
Rogério Sanches, o art. 20 da LMP não tem nada de especial, pois ela só
repete redação do art. 311. Logo, não se pode trabalhar com o princípio da
especialidade. Se o art. 20 reproduziu a norma geral, mudando a norma geral,
tacitamente será alterado também o art. 20 da LMP.

2º Corrente: o art. 20 da LMP repetiu à época a norma geral do art. 311 do


CPP, alterando a norma geral, implicitamente se altera a norma do art. 20 da
LMP, não mais permitindo preventiva de ofício na fase do inquérito.

LEI Nº 11.340/06: ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA

Art. 14, lei nº 11.340/06: Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra


a Mulher, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal,
poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territórios, e pelos
Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes
da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Parágrafo único. Os atos processuais poderão realizar-se em horário noturno,


conforme dispuserem as normas de organização judiciária.

JUIZADO ESPECIAL DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A


MULHER:

OBS 1 – é órgão da Justiça comum dos Estados ou do DF

OBS 3 – no Juizado corre o processo de conhecimento e execução. Na prática,


a execução penal vai para vara de execuções e não está ficando no Juizado.

OBS 4 – Juizado possui competência cumulativa: cível e criminal. Por exemplo:


no mesmo juizado será julgado o crime e o divórcio. Na prática, a ação
principal de natureza cível tem que ser ajuizado na vara da família, se houver
essa vara no local. Portanto, o juiz acaba acumulando a ação criminal e a ação
civil de urgência, a ação civil principal acaba tendo que ser ajuizadas na vara
de família. Não é o espírito da LMP.
ATENÇÃO:

#Comarcas que não têm juizados especial de violência doméstica e familiar


contra a mulher?

 “Art. 33. Enquanto não estruturados os Juizados de Violência Doméstica


e Familiar contra a Mulher, as varas criminais acumularão as
competências cível e criminal para conhecer e julgar as causas
decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher,
observadas as previsões do Título IV desta Lei, subsidiada pela
legislação processual pertinente.
Parágrafo único. Será garantido o direito de preferência, nas varas criminais,
para o processo e o julgamento das causas referidas no caput.”

Em caso de recurso de decisão proferida no juizado especial de violência


doméstica e familiar contra a mulher, em qual câmara ele é julgado: cível ou
criminal?

A doutrina tem prevalecido na seguinte ideia: se for decisão em procedimento


criminal  câmara criminal. Se for decisão em procedimento cível  câmara
cível.

Lei nº 11.340/06: art. 41 traz uma proibição à aplicação da Lei dos


Juizados especiais e criminais.

“Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de
26 de setembro de 1995.”

O art. 41 impede a aplicação da lei no 9.099/95.

CONCLUSÕES:

1. não se instaura termo circunstanciado para apurar o crime ou


contravenção, mas inquérito policial;
2. não se admite conciliação instintiva da punibilidade;
3. não cabe transação penal;
4. não cabe suspensão do processo;
5. no caso doloso leve, dispensa representação da vítima.

SÚMULA 536 STJ

A suspensão condicional do processo e a transação penal não se aplicam na


hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei Maria da Penha.

SÚMULA 542 STJ:

A ação penal relativa ao crime de lesão corporal resultante de violência


doméstica contra a mulher é pública incondicionada.

“Art. 41. Aos CRIMES praticados com violência doméstica e familiar contra a
mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de
26 de setembro de 1995.”

# E se ocorrer CONTRAVENÇÃO PENAL praticada no ambiente doméstico e


familiar contra a mulher, cabe a lei no 9.099/95?

 Por exemplo, vias de fato. A lei fala em crimes.


1º corrente: a expressão “crime” abrange contravenção penal, diante uma
interpretação teleológica. Inclusive é o posicionamento do STJ.

2º corrente: A expressão “crime” não abrange contravenção sob pena de


analogia in malan parte. Ou seja, é perfeitamente possível aplicar a Lei 9.099
nos casos de contravenções. E quem vai aplicar as medidas despenalizadoras
da Lei? O juiz do Juizado da violência doméstica e familiar contra a mulher.

Você também pode gostar