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Noções Gerais:
A coibição da violência doméstica e familiar contra a mulher atende
ao comando constitucional positivado no art. 226, § 8° da Constituição
Federal.
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. §
8°. O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos
que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de
suas relações.
Apesar de a norma constitucional ser genérica e tratar de violência
no âmbito de suas relações familiares de forma ampla, a presente lei
especificou o seu objeto de incidência relacionado à violência doméstica
contra a mulher.
Embora previsto no art. 226, § 8° e em diversos Tratados
Internacionais ratificados pelo Brasil, a Lei n° 11.340/06, veio também para
atender às recomendações internacionais da condenação imposta ao Brasil
no caso que ficou conhecido como “Maria da Penha”.
Quem foi Maria da Penha?
Em 1983, a farmacêutica Maria da Penha sofria constantes
agressões por parte de seu marido que, em uma ocasião, efetuou disparos
de espingarda que a deixou paraplégica. Posteriormente tentou eletrocutá-
la, o agressor conseguia prorrogar a sua condenação, em razão da lentidão
da justiça brasileira. O caso Maria da Penha só foi solucionado em 2002
quando o Estado brasileiro foi condenado por OMISSÃO e NEGLIGÊNCIA pela
Corte Interamericana de Direitos Humanos. Desta forma, o Brasil teve que
se comprometer em reformular suas leis e políticas em relação à violência
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doméstica, ocasião que alguns anos depois foi editada a lei 11.340/2006 que
ficou conhecida como Maria da Penha.
Requisitos:
A Lei Maria da Penha cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, conferindo proteção diferenciada ao
gênero feminino, tido como vulnerável quando inserido em situações legais
específicas elencadas pelo art. 5°: a) ambiente doméstico; b) ambiente
familiar; ou c) relação íntima de afeto.
Isso não significa, contudo, que sempre que houver uma agressão
contra uma mulher deverá ser aplicada a Lei Maria da Penha.
A violência deve ser cometida em uma das situações descritas no art.
5° da Lei Maria da Penha e
O delito deve ser motivado por questões de gênero ou que a vítima
estava em situação de vulnerabilidade por ser do sexo feminino.
A aplicação da norma pressupõe uma vítima mulher, diante de
violência baseada no gênero, desde que seja praticada em uma das situações
do art. 5° da referida lei.
Jurisprudência:
Presunção legal da hipossuficiência da mulher vítima de violência
doméstica. Apesar de haver decisões em sentido contrário, prevalece o
entendimento de que a hipossuficiência e a vulnerabilidade, necessárias à
caracterização da violência doméstica e familiar contra a mulher, são
presumidas pela Lei n° 11. 340/06. A mulher possui na Lei Maria da Penha uma
proteção decorrente de direito convencional de proteção ao gênero
(tratados internacionais), que o Brasil incorporou em seu ordenamento,
proteção essa que não depende da demonstração de concreta fragilidade,
física, emocional ou financeira. Ex: agressão feita por um homem contra a
sua namorada, uma procuradora da AGU, que possuía autonomia financeira e
ganhava mais que ele. STJ 5ª Turma. STJ 6ª Turma.
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reprodutivos;
IV – a VIOLÊNCIA PATRIMONIAL, entendida como qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos,
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades;
V – a VIOLÊNCIA MORAL, entendida como qualquer conduta que configure
calúnia, difamação ou injúria.
Medidas Protetivas:
As medidas protetivas de urgência não têm natureza de sanção
penal e têm a finalidade de proteção da vítima. São providências previstas
nos arts. 22 a 24 da Lei n° 11. 340/06 e que possuem a natureza jurídica de
medidas cautelares. Para a concessão das medidas protetivas de urgência,
é necessária a comprovação do:
FUMUS COMMISSI DELICTI : demonstração da existência de indícios de que
houve violência doméstica contra a mulher.
PERICULUM LIBERTATIS: existência de um risco à vítima ou a terceiros caso
a medida protetiva não seja imediatamente concedida.
Art. 22 constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a
mulher, nos termos desta Lei, o juiz poderá APLICAR, de IMEDIATO, ao agressor,
EM CONJUNTO OU SEPARADAMENTE, as seguintes medidas protetivas de
urgência, entre outras:
I – suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação
ao órgão competente, nos termos da Lei n° 10. 826, de 22 de dezembro de
2003;
II – afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III – proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando
o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
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Retratação da Representação:
Art. 16. Nas AÇÕES PENAIS PÚBLICAS CONDICIONADAS À REPRESENTAÇÃO da
ofendida de que trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação
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Súmulas:
Súmula 600, STJ . Para a configuração da violência doméstica e
familiar prevista no art. 5° da Lei n° 11. 340/2006 (Lei Maria da Penha) não
se exige a coabitação entre autor e vítima.
Súmula 589, STJ. É inaplicável o princípio da insignificância nos crimes
ou contravenções penais praticados contra a mulher no âmbito das relações
domésticas.
Súmula 588, STJ. A prática de crime ou contravenção penal contra
a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita
a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
Súmula 536, STJ. A suspensão condicional do processo e a
transação penal não se aplicam na hipótese de delitos sujeitos ao rito da Lei
Maria da Penha.
Súmula 542, STJ. A ação penal relativa ao crime de lesão corporal
resultante de violência doméstica contra a mulher é pública incondicionada.
Jurisprudência:
A reconciliação entre a vítima e o agressor, no âmbito da violência
doméstica e familiar contra a mulher, não é fundamento suficiente para
afastar a necessidade de fixação do valor mínimo para reparação dos
danos causados pela infração penal. A posterior reconciliação entre a vítima
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Fixação do valor mínimo para reparação dos danos prevista no art. 387,
IV, do CPP. Nos casos de violência contra a mulher praticadas no âmbito
doméstico e familiar, é possível a fixação de valor mínimo indenizatório a
título de dano moral, desde que haja pedido expresso da acusação ou da
parte ofendida, ainda que não especificada a quantia, e independentemente
de instrução probatória. CPP/Art. 387. O juiz, ao proferir sentença
condenatória: IV – fixará valor mínimo para reparação dos danos causados
pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido. (Info 621,
STJ).
n° 11. 340/ 2006 (Lei Maria da Penha) não se exige a coabitação entre autor
e vítima.
Violência praticada por filha contra a mãe . Aplica-se a Lei Maria da Penha.
O agressor também pode ser mulher. STJ. 5ª Turma.
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Violência praticada por filho contra pai idoso . Não se aplica a Lei Maria da
Penha. O sujeito passivo (vítima) não pode ser do sexo masculino. STJ. 5 ª
Turma.
Violência praticada por genro contra sogra . Aplica-se a Lei Maria da Penha.
STJ. 5ª Turma.
Violência praticada por filho contra a mãe . Aplica-se a Lei Maria da Penha.
STJ. 5ª Turma.
Atriz famosa que é agredida pelo namorado é protegida pela Lei Maria da
Penha. O fato de a vítima ser figura pública renomada não afasta a
competência do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher
para processar e julgar o delito. Isso porque a situação de vulnerabilidade e
de hipossuficiência da mulher, envolvida em relacionamento íntimo de afeto,
revela-se ipso-facto, sendo irrelevante a sua condição pessoal para a
aplicação da Lei Maria da Penha. Trata-se de uma presunção da Lei. (Info
539 STJ).
Violência praticada por tia contra sobrinha . Aplica-se a Lei Maria da Penha.
A tia possuía, inclusive, a guarda da criança (do sexo feminino), que tinha 4
anos. STJ. 5ª Turma.
Violência praticada por nora contra sogra . Aplica-se a Lei Maria da Penha.
Desde que estejam presentes os requisitos de relação íntima de afeto,
motivação de gênero e situação de vulnerabilidade. Ausentes, não se aplica.
STJ. 5ª Turma.