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DIREITO ANTIDISCRIMINATÓRIO

CONSIDERAÇÕES JURÍDICAS SOBRE


O ENFRENTAMENTO DAS DISCRIMINAÇÕES
NO BRASIL

Luana Pereira da Costa


Luana Pereira da Costa é advogada no Petri &
Machado da Rosa Advocacia. Graduada em Ciências
Jurídicas e Sociais e Mestre em Sociologia, ambos pela
UFRGS. Pesquisadora nas áreas de relações raciais e de
gênero, direito e sociologia.

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CONCEITOS INICIAIS
Preconceito: “percepções mentais negativas em face de indivíduos e
de grupos socialmente inferiorizados, bem como as representações
sociais conectadas a tais percepções” (RIOS, 2008, p. 15).
Discriminação: “designa a materialização, no plano concreto das
relações sociais, de atitudes arbitrárias, comissivas ou omissivas,
relacionadas ao preconceito, que produzem violação de direitos dos
indivíduos e dos grupos” (RIOS, 2008, p. 15).
Conceito jurídico de discriminação: “qualquer distinção, exclusão,
restrição ou preferência que tenha o propósito ou o efeito de anular ou
prejudicar o reconhecimento, gozo ou em pé de igualdade de direitos
humanos e liberdades fundamentais nos campos econômico, social,
cultural ou em qualquer campo da vida pública” (RIOS, 2008, p. 20).

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Discriminação Direta (disparate treatment): “repúdio ostensivo a
indivíduos ou grupos, motivado pela condição racial”, que “requer a
existência da intenção de discriminar” (ALMEIDA, 2018, p. 25 e p. 26).
discriminação explícita (facial discrimination): aquela em que a referência
discriminatória é expressa na medida ou na lei, ainda que o atributo de
diferenciação não seja literalmente manifesto.

discriminação na aplicação da legislação ou da medida (discriminatory


application): é caracterizada por uma execução discriminatória, na prática, da
medida ou lei que, originalmente, não foi concebida com a intenção de
discriminar.

discriminação na elaboração da legislação ou da medida (discrimination by


design): legislações ou medidas que, em seu texto, adotam atributos
aparentemente neutros, mas que concretizam a sua intenção real de
discriminar ao causar prejuízos desproporcionais a determinados indivíduos ou
grupos. (RIOS, 2008).

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Discriminação indireta (disparate impact): Não demanda a
comprovação de motivação discriminatória. Uma medida ou lei
aparentemente neutra será discriminatória quando o seu impacto
for desproporcional sobre determinados indivíduos ou grupos,
ainda que não exista a intenção de discriminar (RIOS, 2008).

Discriminação positiva: “possibilidade de atribuição de


tratamento diferenciado a grupos historicamente discriminados
com o objetivo de corrigir desvantagens causadas pela
discriminação negativa” (ALMEIDA, 2018, p. 26).

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O conceito de
interseccionalidade
Chamar atenção às diferenças
intragrupos, sob pena de que as análises
restem distorcidas, bem como as
soluções delas decorrentes;

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CONTEXTO HISTÓRICO E
JURÍDICO BRASILEIRO
Constituição Federal de 1934
Art 138 - Incumbe à União, aos Estados e aos Municípios, nos
termos das leis respectivas:
b) estimular a educação eugênica;

DECRETO-LEI Nº 7.967 DE 18 DE SETEMBRO DE 1945.


Dispõe sôbre a Imigração e Colonização, e dá outras
providências
Art. 2º Atender-se-á, na admissão dos imigrantes, à
necessidade de preservar e desenvolver, na composição
étnica da população, as características mais convenientes da
sua ascendência européia, assim como a defesa do
trabalhador nacional.

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Código Civil de 1916
Art. 178. Prescreve:
§ 1º Em dez dias, contados do casamento, a ação do marido
para anular o matrimônio contraído com mulher já
deflorada (arts. 218, 219, n. IV, e 220).

Art. 219. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro


cônjuge:
IV. O defloramento da mulher, ignorado pelo marido.

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Segundo um levantamento do historiador Jerry Dávila,
meras 23 pessoas acusadas de transgredir a Lei Afonso
Arinos se sentaram no banco dos réus entre 1951 e 1989.
Dessas, só seis foram condenadas, por atos como
recusar a matrícula em colégio e barrar a entrada em
baile por causa da pele negra. Houve ainda um sétimo
indivíduo sentenciado, mas por preconceito racial contra
um descendente de japonês.
Fonte: Agência Senado

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Trecho de sentença
(ano 1985) -
Dissertação “Direito
e Relações Raciais”
de Dora Bertúlio,
Procuradora da
Universidade
Federal do Paraná
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Evolução das ferramentas jurídicas
em uma perspetiva crítica

Mulheres casadas não


necessitam mais da
autorização de seu marido
para trabalhar
Mulheres podem votar 1951 1977

1962
1933
Lei Afonso Arinos - É aprovada a
estabelece a prática de Lei do Divórcio
discriminação racial como
contravenção penal

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Evolução das ferramentas jurídicas
em uma perspetiva crítica

Lei Caó - crimes de racismo


Pessoas Analfabetas
podem votar 1988 2002

1989
1985
Homens e mulheres são Novo Código Civil -
iguais perante a lei deixa de ser causa de
Voto universal e secreto nulidade do
Racismo é crime casamento o cônjuge
imprescritível e inafiançável descobrir que a
mulher não era
virgem 15
Evolução das ferramentas jurídicas
em uma perspetiva crítica

Lei 10.639 - Ensino da


história e cultura
Lei Maria da Penha
afrobrasileira
2005 2007

2003 2006
Não é mais causa de Estatuto da
extinção da punibilidade o Igualdade Racial
casamento da vítima com o
autor de estupro

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Evolução das ferramentas jurídicas
em uma perspetiva crítica

A expressão “mulher
honesta” é retirada do
Código Penal

Mulheres devem ser 30%


das candidaturas dos Lei de Cotas no Serviço
partidos Público Federal
2012 2015

2009 2014
Lei de Cotas nas Lei do Feminicídio
Universidades Públicas

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LEGISLAÇÃO
ANTIDISCRIMINATÓRIA
BRASILEIRA
Fontes do Direito Antidiscriminatório

Tratados internacionais, textos constitucionais, legislação


especial, decisões dos tribunais nacionais e internacionais e
doutrina.

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Parte do Arcabouço Jurídico Brasileiro Antidiscriminatório

● Carta Internacional de Direitos Humanos;


● Declaração da Organização Internacional do Trabalho
sobre os Princípios e Direitos Fundamentais no Trabalho
● Constituição Federal;
● Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação Racial (ONU -1966);
● Convenção Interamericana contra o Racismo, a
Discriminação Racial e Formas Correlatas de Intolerância
(OEA - 2013).
● Convenção sobre a Eliminação Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher - CEDAW 1979;
● Convenção do Belém do Pará - 1994;
● Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas
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com Deficiência
Parte do Arcabouço Jurídico Brasileiro Antidiscriminatório

● ADO n. 26 - STF (Homofobia e Transfobia equiparada a


racismo);
● ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO
FUNDAMENTAL n. 186 – Supremo Tribunal Federal –
Reconheceu a constitucionalidade do sistema de cotas
raciais em universidades;
● AÇÃO DIRETA DE CONSTITUCIONALIDADE n. 41 –
Supremo Tribunal Federal – Reconheceu a
constitucionalidade da reserva de vagas para pessoas
negras em concursos públicos;
● Casamento e União Estável entre pessoas homossexuais
(ADPF 132/RJ e ADI 4277/DF);
● Caso Simone Diniz - CIDH;
● Caso Maria da Penha - Corte Interamericana de DH. 21
Parte do Arcabouço Jurídico Brasileiro Antidiscriminatório

● Lei 7.716/89 - Define os crimes resultantes de preconceito de


raça ou de cor;
● Lei 9.459/97 - Injúria Racial;
● Lei 10.639/2003 - inclui no currículo oficial da Rede de Ensino
a obrigatoriedade da temática "História e Cultura
Afro-Brasileira", e dá outras providências;
● Estatuto da Igualdade Racial (2010);
● Lei de Cotas (2012);
● Lei de Cotas no serviço público (2014).
● Lei Maria da Penha;
● Lei 9.029/1995 - Proibição da exigência de atestado de
gravidez e esterilização;
● Nome social e retificação de registro civil;
● Estatuto da Pessoa com Deficiência e Cotas previstas na Lei
8.213/91. 22
Protocolo do CNJ
para julgamentos
com perspectiva de
gênero

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ESG - Environmental, Social and Governance
em português, Ambiental, Social e Governança – ASG

Pacto Global da ONU e a Agenda 2030 e seus 17 Objetivos de


Desenvolvimento Sustentável;
“Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos.

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Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Silvio. O QUE É RACISMO ESTRUTURAL? Belo Horizonte:


Letramento, 2018. (Feminismos Plurais). 203 p.

CRENSHAW, Kimberle Williams. Demarginalizing the Intersection of Race


and Sex: A Black Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist
Theory and Antiracist Politics. University Of Chicago Legal Forum, Chicago, v.
1989, n. 1, p.139-167, 1989. Disponível em:
<https://chicagounbound.uchicago.edu/uclf/vol1989/iss1/8>. Acesso em:
16/7/2019.

RIOS, Roger Raupp. Direito da Antidiscriminação: discriminação direta,


indireta e ações afirmativas. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. 295 p.

MOREIRA, Adilson José. Tratado de Direito Antidiscriminatório. São Paulo:


Editora Contracorrente, 2020. 783 p.
Obrigada!
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