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3ª série
Sociologia

Sociedade patriarcal: a violência de gênero


Em briga de marido e mulher... se mete a colher!
A seção apresentará o contexto de surgimento da Lei Maria da Penha e os avanços e limitações no que se refere
à prevenção e combate à violência contra a mulher no Brasil.
No ano de 1983, a farmacêutica Maria da Penha, na época com três filhas, sofreu uma tentativa de homicídio do
seu marido, que a deixou paraplégica após efetuar um disparo enquanto ela dormia. Após dois julgamentos, um
em 1991 e outro em 1996, o agressor permaneceu em liberdade. Diante da impunidade e da falta de ações mais
efetivas do Estado brasileiro, o caso foi levado e denunciado em 1998 na Comissão Interamericana de Direitos
Humanos, órgão da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA). Nesse período, não existia no país
qualquer meio jurídico específico para lidar com a violência contra a mulher, que era tratada em tribunais de
pequenas causas e as penas eram brandas para o agressor (pagamento de cestas básicas, por exemplo). Em 2001,
após a falta de ações e meios jurídicos para solucionar o caso, o Brasil foi advertido e responsabilizado pela OEA
por negligência e omissão em relação à violência doméstica contra as mulheres brasileiras.
Assim, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos recomendou ao Brasil uma série de ações para que o
país lide de forma adequada no que diz respeito à violência contra a mulher, além de exigir ações mais duras e
rápidas para que o caso de Maria da Penha fosse concluído e que a vítima fosse reparada simbólica e
materialmente pelas violações sofridas. A partir dessas ações, das movimentações internacionais e do próprio
debate pujante na sociedade brasileira, que a Lei Maria da Penha 11.340/2006 foi criada em 07 de agosto de 2006.
Este vídeo mostra um panorama da criação da Lei Maria da Penha em 2006, bem como a participação do
movimento de mulheres e entidades da sociedade civil nesse processo. É importante notar que o objetivo
principal da lei não era estritamente punir os agressores, mas sim adquirir um caráter educativo, preventivo, de
assistência à vítima e, inclusive, de reeducação daqueles que praticassem a violência. Desse modo, a lei se mostra
como um dos principais instrumentos de prevenção e combate à violência doméstica no Brasil.

Lei Maria da Penha: a história de uma lei revolucionária


Vídeo conta a história da Lei Maria da Penha - AZMINA/YOUTUBE
Link: https://www.youtube.com/watch?v=0KkYoKK8TMk

Observa-se como o processo de criação da Lei se deu de modo participativo e por meio de diferentes instâncias,
havendo, inclusive, realização de audiências públicas nos estados para incorporar sugestões da população. Além

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disso, destaca-se que a Lei Maria da Penha foi considerada pela Organização das Nações Unidas como uma das
três leis mais avançadas do mundo no que se refere ao combate à violência contra a mulher, tornando-se,
portanto, uma referência mundial.
Dentre as garantias da Lei Maria da Penha à vítima estão:
medida protetiva em cárater de urgência;
encaminhamento para programas de proteção e afastamento da residência;
criação de Juizados de violência doméstica e familiar.
No que diz respeito ao agressor, a lei prevê afastamento do lar e proibição de se chegar perto da vítima.
Em provas de vestibular, a Lei Maria da Penha pode estar associada aos movimentos de mulheres, por exemplo.
Com o debate sobre violência doméstica em alta na sociedade e com a necessidade cada vez maior em se criar
políticas para lidar com essa temática, os movimentos de mulheres tiveram importante papel histórico no que
diz respeito à cobrança e pressão política para que leis e medidas de proteção e combate fossem adotadas pelo
Estado. Geralmente, as questões pedem o significado geral da Lei, havendo também a possibilidade do texto da
questão ser um trecho da própria legislação.

"Te bateu porque te ama": as diferentes formas de violência


Apesar das conquistas e avanços no que se refere às questões de gênero, como a criação de leis que dão
visibilidade e que tratam a violência contra a mulher, os dados estatísticos são alarmantes quando se trata da
ocorrência de casos como feminicídio, agressões, estupros e assédios. De acordo com o Fórum de Segurança
Pública (2021), só em 2020, ano marcado pela pandemia de COVID-19, foram mais de 200.00 mil denúncias de
casos de violência doméstica, com 1.350 feminicídios registrados (61,8 % eram mulheres negras) e mais de 60 mil
casos de violência sexual, sendo a maior parte desse número registros de estupro de vulnerável — quando a
vítima possui menos de 14 anos e ou é considerada incapaz de consentir e discernir sobre o ato.
Muitas dessas violências são cometidas em espaços públicos, no ambiente de trabalho ou estudo da vítima e até
dentro de sua própria casa. Por ser uma prática tão arraigada na sociedade brasileira, a violência contra a mulher
por vezes é naturalizada, e formas menos explícitas de agressões como a violência psicológica ou moral são
entendidas como mais leves ou menos alarmantes. No entanto, qualquer forma de violência causa grande
impacto na vida da vítima. Assim, os tipos de violência reconhecidas e punidas pela Lei Maria da Penha são:
violência psicológica, violência sexual, violência patrimonial e violência moral.
Veja a imagem que destaca cada uma dessas violências e seus significados.

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Infográfico apresenta as definições dos tipos de violência punidos pela Lei Maria da Penha -
CLOE

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Observa-se que a destruição de objetos da vítima, algo visto com naturalidade quando se trata de discussões
entre casais, constitui uma violência patrimonial. É importante ressaltar que mesmo em relacionamentos
estáveis e em casamentos, podem ocorrer casos de violência sexual. A ideia de posse sobre o corpo da mulher,
princípio da sociedade patriarcal, faz com que os próprios maridos pratiquem um ato sexual mesmo sem o
consentimento da sua esposa, o que configura estupro. Portanto, difamações, calúnias, humilhações e
diminuição da autoestima, embora difíceis de serem detectadas, são violências reconhecidas pela legislação
brasileira.
É importante, por fim, destacar que a dependência financeira e emocional são alguns dos fatores que fazem com
que a vítima ainda resida com o agressor ou mantenha algum tipo de contato, havendo dificuldade em se
realizar a denúncia e romper o ciclo de violência.
Os conteúdos apresentados podem ser abordados a partir da origem da violência contra a mulher, ou seja, quais
elementos são responsáveis para a produção e a persistência da violência de gênero na sociedade. Cabe,
portanto, ter conhecimento do histórico de lutas e movimentos de mulheres que, desde os séculos XVIII e XIX,
exigiam direitos e igualdade de gênero. É importante compreender que o próprio modo de organização social é
patriarcal, e que as relações de poder estabelecidas são construídas socialmente. As questões também podem
abordar quais leis e políticas foram adotadas pelo Brasil para combater a violência doméstica; nesse sentido, se
faz necessário ter conhecimento de termos das Leis Maria da Penha (11.30/2006) e do Feminicídio (13.104/2015).

Exercício resolvido
1. (ENEM 2014) Maria da Penha
Você não vai ter sossego na vida, seu moço
Se me der um tapa
Da dona “Maria da Penha”
Você não escapa
O bicho pegou, não tem mais a banca
De dar cesta básica, amor

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Vacilou, tá na tranca
Respeito, afinal, é bom e eu gosto
[...]
Não vem que eu não sou
Mulher de ficar escutando esculacho
Aqui o buraco é mais embaixo
A nossa paixão já foi tarde
[...]
Se quer um conselho, não venha
Com essa arrogância ferrenha
Vai dar com a cara
Bem na mão da “Maria da Penha”
ALCIONE. De tudo o que eu gosto. Rio de Janeiro: Indie; Warner, 2007.
A letra da canção faz referência a uma iniciativa destinada a combater um tipo de desrespeito e exclusão social
associado, principalmente, à(s)
a) mudanças decorrentes da entrada da mulher no mercado de trabalho.
b) formas de ameaça doméstica que se restringem à violência física.
c) relações de gênero socialmente construídas ao longo da história.
d) violência doméstica contra a mulher relacionada à pobreza.
e) ingestão excessiva de álcool pelos homens.
A alternativa A não corresponde, pois demarca a entrada da mulher no mercado de trabalho como início da
violência de gênero, sendo que essa violência é praticada desde muito antes da mulher ganhar espaços
profissionais. A alternativa B está incorreta, pois afirma que a ameaça se restringe à violência física, o que não
corresponde, já que existem diversos tipos de violência que são reconhecidas pela lei. As letras D e E não
correspondem, pois a violência contra a mulher não se restringe à pobreza, ou ao uso de drogas por parte dos
agressores. Assim, a alternativa C é a correta, pois se refere às relações de gênero como construções socio-
históricas.
Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021. São Paulo, ano 15, 2021. ISSN 1983-7364. Disponível em:
https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2021/07/6-a-violencia-contra-meninas-e-mulheres-no-ano-
pandemico.pdf. Acesso em: 10/12/2021.

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