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DIREITO PENAL
Prof. Dermeval Farias Gomes Filho
Brasília
2015
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Table of Contents
Aula 01 – 24 de junho de 2015...................................................................................7
BIBLIOGRAFIA........................................................................................................7
1. Parte Histórica....................................................................................................8
1.1. Período humanitário.....................................................................................................8
1.2. Repercussão da Ciência do Direito Penal....................................................................11
1.3. Teoria Causal Clássica.................................................................................................12
1.4. Sistema Causal Neoclássico (ou Neokantista).............................................................20
1.4.1. Teoria dos Elementos Negativos do Tipo.................................................................29
1.6. Sistema Finalista de Welzel.........................................................................................39
Aula 02 – 01 de julho de 2015...................................................................................42
1. Revisão e Finalismo..........................................................................................42
2. Crítica ao Finalismo...........................................................................................55
Aula 03 – 06 de julho de 2015...................................................................................86
1. Comentários iniciais..........................................................................................86
2. Teoria Social da Ação........................................................................................88
2.1. Crítica a essa teoria.....................................................................................................91
3. Funcionalismo:.................................................................................................91
Teoria Funcionalista ou Sistema Funcionalista ou o Normativismo...................................91
3.3. Funcionalismo Sistêmico...........................................................................................101
4. Teoria Significativa da Ação:...........................................................................109
4.1. Crítica ao ontologismo e normativismo (crítica ao funcionalismo e ao finalismo):...110
4.2. Sobre a perspectiva analítica....................................................................................111
5. Teoria Constitucionalista do Delito:................................................................112
6. Política Criminal e Criminologia......................................................................113
6.1. Criminologia..............................................................................................................114
6.2. Política Criminal........................................................................................................114
Aula 04 - 05 de agosto de 2015...............................................................................125
1. Revisão Sistemática da Aula 03.......................................................................126
2. Expansão e velocidades do direito penal.........................................................127
2.1 Primeira velocidade...................................................................................................127
2.2 Segunda velocidade...................................................................................................128
2.3 Terceira Velocidade...................................................................................................133
2.4 Direito Penal de Quarta Velocidade...........................................................................134
3. Sociedade de risco e o aumento do Direito Penal............................................136
4. Administrativização do Direito Penal..............................................................139
4.1 Leis penais acessórias das normas administrativas gerais.........................................140
4.2. Finalidades particulares ou emergenciais.................................................................140
4.3 1a Dimensão - Delitos de acumulação ou de cumulação............................................140
4.4. 2a Dimensão - proteção penal no Estado da prevenção............................................141
4.5. 3a dimensão – neutralização.....................................................................................142
4.6. 4a dimensão – mediação e negociação.....................................................................144
5. Relação do direito penal clássico e do direito penal administrativo................146
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6. Direito de intervenção....................................................................................146
7. Em busca de um direito penal moderado........................................................148
8. Proposta da doutrina minimalista...................................................................148
9. Princípios limitadores do jus puniendi............................................................149
10. A política criminal e o direito penal econômico.............................................149
11. Direito Penal subterrâneo.............................................................................150
12. Coculpabilidade............................................................................................151
13. Tipicidade conglobante – Zaffaroni...............................................................152
14. Princípios......................................................................................................155
14.1. Introdução..............................................................................................................156
15. Dignidade da pessoa humana.......................................................................158
Aula 05 – 12 de agosto 2015...................................................................................161
1. Introdução......................................................................................................161
2. Legalidade......................................................................................................163
2.1. Tratado ratificado.....................................................................................................168
2.2. Reserva legal.............................................................................................................169
2.3. Legalidade e execução penal....................................................................................170
2.4. Legalidade e medida de segurança...........................................................................171
2.5. Medida provisória e legalidade.................................................................................172
3. Anterioridade.................................................................................................176
3.1. Extra-atividade penal, lei intermediária, lei bipolar (Aníbal Bruno)..........................179
3.2. Crimes continuados, permanentes e habituais.........................................................180
3.3. Leis temporárias e excepcionais...............................................................................183
4. Princípio da culpabilidade...............................................................................184
4.1. Culpabilidade como elemento do crime...................................................................184
4.2. Culpabilidade como conceito contrário à responsabilidade penal objetiva..............185
4.3. Medida de Pena:.......................................................................................................188
5. Intervenção Mínima.......................................................................................189
6. Adequação Social............................................................................................195
7. Insignificância:................................................................................................198
7.1 Origem da insignificância:..........................................................................................198
7.2. Conceito....................................................................................................................200
Aula 06 – 21 de agosto de 2015..............................................................................203
1. Comentários Iniciais:.......................................................................................203
2. Princípio da Insignificância (continuação):......................................................204
2.1. Descaminho e o a Insignificância:.............................................................................204
2.2. Uso de drogas...........................................................................................................206
2.3. Insignificância em crimes contra a Administração Pública e Fé Pública....................207
2.4. Justiça militar e princípio da insignificância..............................................................210
2.5. Reincidência e insignificância; furto qualificado e insignificância:............................211
3. Princípio da Ofensividade...............................................................................214
4. Princípio da Lesividade...................................................................................215
5. Princípio da Materialização do fato.................................................................216
6. Princípio da alteridade ou transcendentalidade ou lesividade (sinônimo).......216
7. Princípio da Proporcionalidade.......................................................................218
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BIBLIOGRAFIA
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro: parte geral, arts. 1º a 120. 14.
ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. – O professor falou que para o
estudo da parte histórica é o melhor livro, pois é bastante esquematizado.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte geral. 21. ed. São
Paulo: Editora Saraiva, 2015. – O professor falou que este livro também é bom na
parte histórica, mas o livro do Luiza Regis Prado é ainda melhor. Ademais, esse
livro (de parte geral) é bom para quem saiu com o direito penal “cru” da
faculdade. E, deve ser lido completamente!
Leis especiais secas – O professor frisou a importância da leitura da lei seca.
MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 1. ed. São Paulo: Método/Forense, 2013.
– O professor indicou esse livro para a parte especial.
LIMA, Renato Brasileiro. Legislação Criminal Especial Comentada: volume único. 3.
ed. Salvador: Editora Jus Podivm, 2015. – O professor falou que para quem fizer
questão da leitura mais aprofundada sobre a legislação especial esse livro é bom.
O professor também citou o livro do Nucci de legislação comentada, contudo não
foi encontrado essa obra.
MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado: volume 1. 9. ed. São Paulo:
Método/Forense, 2015. – O professor falou que pode utilizar esse livro também na
parte geral.
GRECO, Rogerio. Curso de Direito Penal: parte geral, volume 1. 17. ed. São Paulo:
Editora Impetus, 2015. – O professor falou que também pode usar esse livro.
BUSATO, Paulo Cesar. Direito Penal. 1. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2013. – O
professor falou que esse livro é ótimo na parte histórica, mas “complicado” para
quem já entende muito de direito penal.
O professor falou que é necessário ler um livro de parte geral completo, visto que a
parte geral é o que mais cai em concursos (70% da prova para promotor), além da leitura
jurisprudencial e de Informativos.
1
Degravadora: Clara.
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Neste ponto, foi destacada a necessidade de se ler, pelo menos, 1h/dia do Código
seco.
1. Parte Histórica
Frise-se, inicialmente, que o professor vai começar o estudo da disciplina na parte
histórica, contudo ele pulará o período compreendido entre Antiguidade até o século XVIII.
Contudo, o professor afirma que isso deve ser visto com reservas, porque a história
do direito penal é a história da humanidade, e em diversos momentos na história da humanidade
houve avanços e retrocessos: guerras, batalhas, destruição de culturas e cidades que impediram
muitas vezes o avanço do direito penal. Na própria Antiguidade existiu pena restritiva, e hoje se
fala em pena restritiva como forma de segunda velocidade do direito penal, na classificação do
Jesus Maria da Silva Sánchez, que será vista em linhas posteriores.
Deste modo, embora a maioria da doutrina diga que tudo o que aconteceu antes do
século XVIII não serve para o direito penal hodierno, uma vez que direito penal a partir do
Estado Liberal é ancorado na legalidade, na reserva legal, em princípios de direito penal que não
existiam antes desse período; não é possível afirmar que tudo o que aconteceu antes do século
XVIII seja “lixo”.
hoje, no Brasil, o furto não pode ser negociado, pois é um crime de ação penal pública
incondicionada. Assim, caso a vítima fale na audiência que já negociou com o réu, o promotor
irá desconsiderar o acerto das partes, pois lhe interessa, unicamente, se o réu entrou na casa da
vítima e lhe subtraiu um bem ou não o fez, porque, como dito, este crime é de ação penal
pública incondicionada.
Registre-se, aqui, que no Projeto de Novo Código Penal, que tramita no Senado
Federal, o furto passa a ser um crime de ação penal condicionada à representação. Percebe-se,
portanto, que nem tudo o que existiu no passado é tão ruim como se diz! Às vezes, a resposta
penal de 4.000 (quatro mil) anos atrás para determinado fato era, naquele período, melhor do
que ela é hoje com todo o desenvolvimento, democracia, e tudo o que a humanidade adquiriu
durante esse período inteiro.
A partir do século XVIII esse cenário teve uma mudança radical (tendo Beccaria
contribuído muito nesse período): no século XVIII surge a legalidade no direito penal. Nilo
Batista diz na sua obra denominada Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro, que o
princípio da legalidade surge em 1787, no Código do Rei Dom José II da Áustria (maiores
comentários serão feitos quando do estudo dos princípios).
3
O Código Carolina previu a possibilidade da faida, que é a contratação de uma pessoa para matar outra,
pois esta pessoa matou alguém que era muito íntimo do contratante. Em suma, faida significa pistoleiro
de aluguel legitimado.
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Só que este é um período em que as ideias são lançadas, onde tem o Estado Liberal,
onde tem as Revoluções. E o que isso significou para o direito penal? Tem grandes expoentes
do direito penal: além do Beccaria, tem-se, principalmente, Feuerbach (segundo o professor este
filósofo foi genial). Juarez Tavares diz que Feuerbach é o sistematizador do direito penal liberal,
pois ele projetou o Código da Baviera de 1813 e disse que “não há crime sem lei, não há pena
sem lei4”. Então, esse período é marcado por ideias e pelo princípio da legalidade tentando
romper com o Poder Absolutista5.
Esse novo direito penal ancorado na legalidade realmente era como o é hoje? Muñoz
Conde diz que tudo isso que aconteceu (princípio da legalidade), nada mais foi do que
“fachada” formal de Estado de Direito, isto é, não passava de marketing, tendo sua
concretização demorado. No Brasil, inclusive, demorou, porque até 1830 o país era regido pelas
Ordenações Manuelinas, Afonsinas e Filipinas; o Código Criminal do Império é de 1830 (é um
bom Código para o período). Ou seja, o que Muñoz Conde disse é que, na verdade, foram ideias
que demoraram a serem concretizadas, visto que se deu aos poucos (não foi algo automático que
se espalhou em todos os países).
Essas ideias são lançadas, e o Beccaria contribuiu muito com conceitos como de
proporcionalidade da pena, pena com caráter utilitário, etc., como será visto, auxiliou na força
das ideias de prevenção da pena neste momento (porque antes a pena era vista praticamente
como função só reprimitiva). Só que a sistematização dessas ideias acontece no século XIX, isto
é, o século XVIII foi o período de lançamento das ideias, mas a concretização delas se deu
apenas no século XIX.
4
Essa célere frase, depois foi juntada com a expressão latina e criou o brocardo: não há crime sem lei
anterior que o defina, nem pena sem prévia comunicação legal, que hodiernamente está prevista na
redação do artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição da República Federativa do Brasil.
5
Esse foi o período em que Luís XIV dizia “a França sou eu” que significava que ele, como déspota,
afirmava ser o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
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Contudo, como coloca Paulo Cesar Busato, tem-se um problema sério no século
XIX, que é parte da criminologia: a Escola Clássica trabalhou com a ideia do direito penal com
o livre arbítrio, ou seja, o homem é livre para fazer o bem ou fazer o mal, mas caso faça o mal,
será apenado por isso. A Escola Positiva trabalhou a ideia da determinação, podendo-se citar
como expoentes: Enrico Ferri, Raffaele Garófalo e Cesare Lombroso (com seu estudo
antropológico6).
Registre-se, neste ponto, que Zaffaroni hoje diz que, para Lombroso, o criminoso é
o sujeito que tem “cara de prontuário”, ou seja, o criminoso é o “feio”. Ferri falou depois que
não existe apenas a figura do criminoso nato; existindo-se o criminoso social, o criminoso de
ocasião (ou seja, seguindo a célere frase de que a ocasião faz o ladrão, Ferri falava que o
criminoso de ocasião seria o sujeito que diante da oportunidade comete o crime, isto é, depende
da oportunidade para que cometa ou não o crime); e afirmava, também, que as condições sociais
e econômicas poderiam interferir na criminalidade. E, Garófalo trabalhou com criminologia (o
que será visto de forma aprofundada na disciplina de criminologia).
Isto ocorreu no século XIX que tem uma característica inesquecível: a Revolução
Industrial ocorrida no século XIX e liderada pela Inglaterra. Esta Revolução marcou o século
XIX, e a produção da época (por exemplo: Karl Marx fala sobre o sofrimento do operário). O
modelo de ciência, de pensamento, que interessava à sociedade nesse momento é o modelo de
estudo das ciências naturais (da matemática, física, química), isto é, modelos de conhecimento
que poderiam contribuir para o aumento da produção, visto que a elevação no numerário de
produção estava totalmente ligada à produção científica das Universidades, já que poderiam
surgir novas máquinas com o desenvolvimento dessas ciências naturais. As ciências do espírito
(como a sociologia e o direito que nem era tão ciência neste momento) foram deixadas de lado,
isto porque precisava-se de técnicos (pessoas com conhecimento numérico, conhecimento
matemático, físico) para incrementar a produção.
6
Lombroso trabalhou com a possibilidade de identificar que um sujeito tinha potencialidade criminógena
de acordo com suas características físicas. Por exemplo: se o cara escreve com a mão esquerda, falava-se
que teria mais tendência ao crime do que aquele que é destro.
Lombroso constatou isso com pesquisa empírica (de campo), realizada com 25 (vinte e cinco) mil
delinquentes pesquisados em sua obra O Homem Delinquente (LOMBROSO, Cesare, O Homem
Delinquente. São Paulo: Ícone, 2007). Portanto, ele conseguiu demonstrar que existem características
físicas ligadas ao criminoso de maneira empírica.
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Falar de direito nessa época (ciência do espírito) não era algo bem visto. O que o
direito teve que fazer para se afirmar como ciência diante disso? Por que se as ciências naturais
eram as valorizadas? Qual era a base de produção cientifica neste momento? A base de
produção do conhecimento era o positivismo científico no século XIX. Assim, tudo que se fosse
falar deveria ter base empírica (natural); devendo-se falar e demonstrar, apalpando-se com as
mãos ou vendo-se com os olhos. Nessa época, não havia condições para se afirmar verdades
com base em valores subjetivos, valorativos, axiológicos, pois a verdade tinha que ser formal
(empírica). Repita-se: ao afirmar a veracidade de algo, deveria mostrar ao outro para que este
pudesse tocar e ver, isto é, predominava a experiência empírica, reinando o positivismo
científico.
Anote-se, aqui, que não é só o Paulo César Busato e Castilho, que possuem um livro
de Sociologia Jurídica, em que se afirma que a Teoria de Darwin da classificação era amparada
na produção científica da época, ou seja, quando se diz que o crime é um fato típico, ilícito e
culpável, essa classificação em três partes obedece à plataforma de produção de conhecimento
do século XIX, ou seja, é o modelo de classificação do Darwin na Teoria da Evolução. Assim, é
por este motivo que no final do século XIX o crime é definido como fato típico, ilícito e
culpável. Classificou-se, portanto, o crime (fato típico, ilícito e culpável) e, após, foi tudo
explicado de maneira formal, empírica, positivista.
É assim que surge a primeira teoria: a teoria causal clássica (naturalista), que surge
com a base filosófica-positivista.
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A teoria causal naturalista (ou causal clássica) tem base filosófica positivista.
Isso é o mesmo que o positivismo de Lombroso e de Ferri? Não, é um positivismo científico,
um modelo de produção de conhecimento empírico. Registre-se, inclusive, que tem que ser
de forma empírica, pois, como dito nas linhas antecedentes, tem-se que ver com os olhos, tocar
com as mãos, não sendo comprovada por subjetivismo. Registre-se, ainda, que esse modelo
influenciou o final do século XIX e início do século XX.
Von Liszt, Beling e Radbruch diziam que a ação do direito penal (conceito de
ação totalmente positivista, newtoniano) é o movimento corporal voluntário que muda o
mundo externo. Por exemplo: se o professor Dermeval trombasse com a porta, isso seria um
movimento corporal que mudaria o mundo externo, por ter quebrado a porta; caso o professor
Dermeval matasse uma pessoa, esse movimento corporal mudaria o mundo externo já que uma
pessoa que estava viva agora está morta. Então, esse conceito de ação é um conceito totalmente
positivista, empírico, físico.
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Este conceito de ação na Teoria Causal Clássica, na Neoclássica, na Finalista, na Social da Ação e na
Funcionalista, além do critério significativo de ação, é bastante cobrada em CONCURSO.
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Contudo, o crime formal, bem como o crime de mera conduta, se consuma com
a conduta. O crime formal se destaca, porque, em certos crimes formais, é possível um
exaurimento depois da conduta, como acontece na extorsão. Por exemplo: o professor
constrange uma pessoa (com uma arma apontada para a cabeça dessa pessoa) a fornecer o cartão
e a senha dela, sendo, pois, uma extorsão consumada; após 3 (três) dias, o professor saca o
dinheiro da conta dessa pessoa, ocorrendo o exaurimento. Percebe-se, portanto, que o crime
formal se consuma antes de um resultado naturalístico, bastando o mero constrangimento (A
constrangeu B por telefone, contando uma mentira, por exemplo, falando que sequestrou o filho
de B, essa extorsão está consumada).
até hoje, não fazendo juízo de valor, nem analisando a importância do bem jurídico. Por
exemplo: A furtou um objeto de B no valor de R$ 40,00 (quarenta reais); C furtou um objeto de
D no valor de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais); E furtou de F uma dúzia de ovos; G furtou de
H 1 (um) sabonete. Todas as condutas mencionadas são furtos, pois todos subtraíram para si
coisa alheia móvel, havendo, assim, adequação formal. A tipicidade era só formal, não havia
exame material da tipicidade, não havia análise da intensidade da ofensa ao bem jurídico,
não havia análise valorativa. Em termos doutrinários, a tipicidade era formal, neutra,
avalorada, acromada, acrítica.
Ademais, a ilicitude também era formal. Contudo, tem-se que analisar isto com
muito cuidado, pois a ilicitude (essa ideia do fato típico e ilícito) foi grande contribuição de
Liszt, que bebeu na fonte do Rudolf von Ihering (do direito civil), nas ideias de ilicitude
trabalhadas por Ihering no direito civil, e transformou isso em algo penal. A ilicitude, aqui, é a
relação de contradição entre o fato e o ordenamento jurídico, contudo o próprio Liszt, depois,
defendeu a ilicitude material.
Anote-se, neste ponto, que no roteiro impresso, disponibilizado pelo professor, tem
uma questão8 de Juiz Federal da 5a Região justamente falando disso: von Liszt defendeu, num
8
14- JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO DA 5ª REGIÃO APLICAÇÃO: 21/6/2009
Considerando a parte geral do direito penal, julgue os seguintes itens.
I- Nos crimes de tendência intensificada, o tipo penal requer o ânimo de realizar a própria conduta típica
legalmente prevista, sem necessidade de transcender tal conduta, como ocorre nos delitos de intenção. Em
outras palavras, não se exige que o autor do crime deseje um resultado ulterior ao previsto no tipo penal,
mas, apenas, que confira à ação típica um sentido subjetivo não previsto expressamente no tipo, mas
deduzível da natureza do delito. Cita- se, como exemplo, o propósito de ofender, nos crimes contra a
honra.
II- Subdividem-se os crimes de perigo em crimes de perigo concreto e crimes de perigo abstrato,
diferenciando-se um do outro porque naqueles há a necessidade da demonstração da situação de risco
sofrida pelo bem jurídico penal protegido, o que somente pode ser reconhecível por uma valoração
subjetiva da probabilidade de superveniência de um dano. Por outro lado, no crime de perigo abstrato, há
uma presunção legal do perigo, que, por isso, não precisa ser provado.
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Então, o próprio Liszt primeiro defendeu a ilicitude formal e, depois, ele mesmo
defendeu a ilicitude material. Contudo, quando se trabalha a Teoria Causal Clássica (o
Sistema Naturalista, a Teoria Causal Natural, a Teoria da Ação Naturalista 9), sempre se fala que
a ilicitude era formal. A ilicitude formal traz problemas, porque ela também não permite
abertura do sistema, não permite exame com excludentes de ilicitude supralegais (as
excludentes tornam-se somente as que estão na lei, quais sejam: a legítima defesa, estado de
necessidade, estrito cumprimento do dever legal, exercício regular do direito). Não se teria
condições de examinar com excludentes supralegais, como, por exemplo, o consentimento do
ofendido.
injusto=tipicidade+ ilicitude
III- No CP, adota-se, em relação ao concurso de agentes, a teoria monística ou unitária, segundo a qual,
aquele que, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas na medida de sua
culpabilidade; no referido código, adota-se, ainda, o conceito restritivo de autor, entendido como aquele
que realiza a conduta típica descrita na lei, praticando o núcleo do tipo.
IV- Franz Von Liszt estabeleceu distinção entre ilicitude formal e material, asseverando que é
formalmente antijurídico todo comportamento humano que viola a norma penal, ao passo que é
substancialmente antijurídico o comportamento humano que fere o interesse social tutelado pela própria
norma.
V- A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, tenha
produzido o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os tenha praticado.
A quantidade de itens certos é igual a A 1. B 2. C 3.D 4. E 5.
9
Em provas podem usar essas nomenclaturas.
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Neste momento, o professor fez algumas assertivas para que a turma julgasse em
verdadeiro e falso. Confira:
Mas, anote-se que há outros elementos subjetivos, que serão objeto de análise nas
linhas subsequentes, inclusive, no estudo de erro, tendo em vista essa parte ser deveras
importante, porque o erro de tipo não incide sobre elementos subjetivos, já que não se pode
errar sobre a própria vontade. Por exemplo: não é possível errar sobre o “para si ou para
outrem” no crime de furto (artigo 155 do Código Penal); não é possível errar sobre o “com
finalidade econômica indevida”, porque se tem ou não esse fim; mas, é possível errar sobre a
“coisa alheia” no crime de furto (artigo 155 do Código Penal), tendo em vista que se pode, por
exemplo, pegar a mala de outrem acreditando ser sua; como também é possível errar sobre a
expressão “alguém” no crime de homicídio (artigo 121 do Código Penal), porque pode-se atirar
num animal crendo ser uma pessoa. Perceba-se que não é possível errar sobre a própria vontade
não havendo erro de tipo sobre o elemento subjetivo; assim, o erro de tipo essencial afasta o
dolo, mas não incide sobre o elemento subjetivo. Registre-se, ainda, que isto foi objeto de
questão do MP/PR 201311.
culpabilidade=dolo/culpa
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09- MP-MG/2008- De acordo com a teoria finalista da ação: a) o injusto penal passou a ser subjetivo. b)
a culpabilidade é composta pelos elementos subjetivos e normativos. c) a ação define-se meramente como
o comportamento humano voluntário manifestado no mundo exterior. d) a ilicitude prescinde da análise
do elemento subjetivo do agente. e) O dolo é analisado tanto em sede de tipo penal, quanto na
culpabilidade (dupla valoração do dolo).
11
Não encontra-se nas questões que o professor colacionou no espaço do aluno.
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Quais são os elementos dessa culpabilidade? Os elementos são dolo no crime doloso e
culpa do crime culposo.
Qual é o pressuposto dessa culpabilidade? O pressuposto é a imputabilidade, que é a
capacidade de culpabilidade.
Assim, os elementos são o dolo e a culpa e o pressuposto é a imputabilidade. Logo,
questiona-se: cadê a exigibilidade de conduta diversa? Não existia; não foi criada na Teoria
Causal Clássica Naturalista (Sistema Liszt-Beling). Logo, tem-se a primeira parte é chamada
parte objetiva do crime (tipicidade e ilicitude), que já foi objeto de estudo quando da
análise do injusto objetivo, e tem-se a parte subjetiva do crime (culpabilidade).
Suponha-se que o professor Dermeval queira matar uma pessoa (ele tem vontade) e
pegou uma arma municiada, que tem capacidade de efetuar o disparo. Perceba-se que ele
representou o resultado (a arma pode matar a pessoa apertando o gatilho). Assim, o professor
tem vontade, ele representou o resultado e atirou na pessoa. Veja que nada foi dito, ainda, de
consciência da ilicitude, porque o dolo do finalismo só exige vontade e representação do
resultado. Assim, o dolo do finalismo é natural, não possui consciência da ilicitude, porque
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no finalismo a consciência da ilicitude ficou na culpabilidade e o dolo foi levado para o fato
típico somente com os dois primeiros elementos.
Isso é muito importante, pois, como será estudado adiante, nessa época, o erro
poderia ser: (a) erro de fato; e (b) erro de direito. Ou seja, não era erro de tipo e erro de
proibição, que são expressões que surgem após a 2ª Guerra Mundial, em 1946/1953, nos
julgamentos do Tribunal Alemão, já no modelo finalista. Não se pode dizer que um erro de
direito é igual a um erro de proibição, como não se pode dizer que um erro de fato é um
erro de tipo, pois isto pode estar certo ou errado, a depender do caso concreto, uma vez que o
estudo do erro dentro do dolo normativo e do dolo natural são coisas distintas. Questiona-se: um
erro que atinge a consciência da ilicitude tem relação com o dolo ou não? Depende: se é dentro
do modelo de dolo normativo, sim; mas, se é dentro do modelo de dolo natural, não (dentro
desse modelo a consciência da ilicitude está na culpabilidade).
chamada de Teoria Psicológica Pura, porque é formada de dois elementos psicológicos: (a)
dolo; e (b) culpa. Assim, a terminologia Teoria Psicológica Pura da Culpabilidade
corresponde à culpabilidade formada unicamente por dolo e culpa. Anote-se, que uma parte
dessa matéria será analisada quando do estudo de erro.
Prosseguindo, importante ressaltar, que havia uma discussão entre Liszt e Beling,
em que Liszt não concordava com essa ideia do dolo normativo, tendo em vista que, para ele, a
consciência da ilicitude era presumida das pessoas. Logo, nesta época muitas pessoas erraram,
mas foram punidas. Liszt trabalhava com o dolo unicamente psicológico, contudo isso não é
abordado pelos autores12 (99% dos livros falam que o dolo no sistema causal é normativo) e a
única pessoa que adverte acerca da discussão entre o Liszt e o Beling sobre a consciência da
ilicitude é o Luiz Flavio Gomes na obra Erro de Tipo e Erro de Proibição 13, que o professor
imputa ser a melhor obra dele. Mas, por ora, basta que se entenda que o dolo no sistema causal
clássico é normativo, a culpabilidade é psicológica pura.
12
Isso é bastante cobrado em CONCURSOS.
13
GOMES, Luiz Flávio. Erro de tipo, erro de proibição e descriminantes putativas. 6. ed. São Paulo:
Editora Jus Podivm, 2014.
14
Disponível em: <http://www.grupos.com.br/group/cienciascriminais7/Messages.html?
action=download&year=09&month=7&id=1247834870167003&attach>. Acesso em: 29 ago. 2015.
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Neste ponto, o professor citou um artigo que reputa ser interessante sobre esse tema
chamado O STF e a Interpretação Neokantista do Direito Penal 15, mostrando como o Supremo
Tribunal Federal tem interpretado o direito penal nos últimos anos.
A ação continua causal, por isso o Sistema é causal; há uma mudança (apontada
pelo Juarez Tavares): a conduta humana voluntária que muda o mundo exterior. Perceba-se,
pois, que não é mais movimento, porque o movimento é físico; é a conduta humana voluntária
que muda o mundo externo, permanecendo, pois, com o conceito causal. A diferença surge da
seguinte forma: a tipicidade e a ilicitude são materiais.
O que significa tipicidade material? Que não é só adequação do fato à letra da lei,
havendo uma análise do grau de ofensa provocado ao bem jurídico. Portanto, a tipicidade
material é a adequação do fato à letra da lei que produz ofensa intolerável ao bem jurídico.
tipicidade material
¿
adequação do fato à letra da lei que produz ofensa intolerável ao bem jurídico
Neste modelo aqui, o Juiz está cheio de “asas” (ele sonhou a noite, acordou de
manhã e pode decidir conforme o sonho), pois é um modelo material, aberto, valorativo. A
tipicidade e a ilicitude continuavam sendo a parte objetiva do crime, porque o dolo e a culpa
permaneciam na culpabilidade. Então, a parte objetiva do crime era a tipicidade e a
ilicitude, já que o dolo e a culpa permaneciam na culpabilidade . Mas, se no modelo
anterior à culpabilidade era psicológica pura, aqui a culpabilidade passa a ser psicológica-
normativa, porque os elementos aqui são: dolo e culpa, imputabilidade e surge a
exigibilidade de conduta diversa.
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Existe material acerca do tema no espaço do aluno.
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Aluno: Professor, você mencionou o sentido desse termo normativo, em que sentido? E, por
que a gente fala que na Teoria Causal Naturalista o dolo é normativo?
Professor: O dolo é normativo por conta da consciência da ilicitude. É o destaque, é uma
classificação dela, porque você vai valorar se o sujeito sabia se era errado ou certo. A
característica do dolo normativo é a consciência da ilicitude, é o dolus malus que vem dos
romanos. Mas é uma expressão prévia – eles não estão inventando nada, tá? Já existia essa
concepção antes da formatação da teoria causal clássica. Já existia. Juarez Tavares vai nos
dizer isso perfeitamente na sua obra Teoria do Injusto Penal. Já existia isso, isso é obra de
muitos autores anteriores, ele vai falar que em 1500, 1600, já existia essa ideia de dolo
normativo, porque é uma expressão que foi consolidando ao longo da história (na aula de
dolo a gente vai aprender um pouco sobre isso). Alguns autores vão dizer que dolo e culpa
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Juarez Tavares, que, segundo o professor, talvez seja o maior penalista brasileiro, é quem melhor trata
desse tema, tendo, inclusive, várias obras: Variações e tendências da teoria do delito de 1980; Teoria do
Injusto Penal (é excelente, mas é uma obra pesada, que é mais para professor do que para aluno); Crime
Omissivo; e Injusto Culposo.
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são expressões que surgem no direito romano, o Luiz Regis Prado fala isso. Mas antes do
direito romano nós tivemos expressões como dolo e culpa. Os gregos falavam em dolos.
1400 A.C, na Lei Mosaica, eles trabalhavam que quem matava querendo matar tinha que ser
morto (olho por olho, dente por dente), e quem matava não querendo matar tinha que ser
colocado numa cidade refúgio, para que os parentes não vingassem. Ou seja, já era uma
interpretação diferente para quem praticava algo com dolo e algo com culpa, embora sem usar
essa terminologia. Então, dolo normativo não é uma invenção da teoria causal clássica: é algo
que já existia na época, ele foi apenas classificado (atenção, modelo empírico,
classificatório). Eles foram brilhantes, são muito criticados hoje, mas foram brilhantes, sabe
por quê? Porque é a primeira teoria que tentou sistematizar o direito penal. E era a única
forma de se fazer! Durante muito tempo o Liszt e o Beling foram apedrejados, porque fizeram
um modelo formal onde o intérprete não tem liberdade de interpretação, mas era a única
forma, diz o Paulo Cesar Busato, de o direito penal se afirmar. Porque não poderia ser
diferente se a forma de conhecimento era positivista científica – não se admitia nessa época
conhecimento valorativo, axiológico, para a produção do conhecimento19.
Portanto, o dolo continua normativo nesse Sistema. Contudo, há algo que surgiu
aqui que nos interessa: eles classificavam os crimes em crimes normais e anormais. Isso é
muito interessante, porque eles não conseguiram levar o dolo e a culpa para o fato típico e não
sabiam como explicar os elementos subjetivos dos tipos. Por exemplo: “para si ou para outrem”
no furto e no roubo; “com a finalidade de prejudicar direito ou criar obrigação” no crime de
falsidade ideológica (artigo 299 do Código Penal), “com a finalidade de obter indevida
vantagem econômica” no crime de extorsão. Esses crimes que tem um fim especial: nessa
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O Busato é o melhor nessa parte do século XIX e o direito penal – editora Atlas, Direito Penal Parte Geral (está
na 2a edição). Ele vai chamar isso aqui de gramática do direito penal. Por que gramática? Esse tema não é margem
de interesse nas academias. Esse tema ainda é de interesse para quem quer aprender o direito penal para fazer
adequação típica, sentenciar, denunciar, porque em mestrado e doutorado você discute hoje criminologia e política
criminal. Você aprende a ser um crítico, mas não aprende a ser um dogmático. E a dogmática ainda é necessária;
ela não é suficiente, ela não pode nos cegar na abertura crítica, mas ela é necessária, e a gente percebe que falta
dogmática hoje, principalmente no STF. Tanto é que na semana passada, no último Informativo, o Supremo disse
que a transação penal da Lei 9.099 tem natureza condenatória (está na Decisão do Fux). Numa prova do MP
provavelmente o examinador não vai perguntar isso, mas numa prova do CESPE vai. Vai sair assim: segundo
recente decisão do STF, a transação penal tem natureza condenatória. É uma prova ridícula quando pergunta
jurisprudência, porque a mera informação pode ser informação errada. Quem conhece erra, quem leu acerta. Porque
não tem natureza condenatória, vocês sabem que não tem, transação penal sequer tem denúncia, é um acordo entre
o MP e o autor do fato. Ele cumpre, só não vai receber o benefício em 5 anos, mas ele não é sentenciado. Não há
sentença condenatória na transação penal. Na suspensão condicional do processo também não há. É diferente da
barganha, que não existe ainda no Brasil, mas existe no direito norte-americano e está prevista no projeto do novo
Código Penal. A barganha gera condenação, mas é uma condenação onde o MP faz um acordo com a pessoa para
receber uma pena menor do que aquela prevista.
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época eles chamavam isso de dolo específico (para separar do dolo genérico que estava na
culpabilidade). Hoje, contudo, esses elementos são chamados de elemento subjetivo
especial. Alguns julgados do Superior Tribunal de Justiça ainda usam a expressão dolo
específico (como será visto mais a frente), mas é equivocado, porque não pode usar dolo
específico (o dolo é o dolo genérico). Então, crimes normais para eles eram aqueles que não
tinham elementares subjetivas nem normativas (o homicídio era normal, porque tem “matar
alguém”; o furto era anormal, porque tem “para si ou para outrem”, uma elementar subjetiva).
Então, crimes que possuíam elementar subjetiva ou normativa eram anormais.
Isto foi questão da prova oral do MPDFT, em que o examinador pediu exemplo de
elementar normativa e o candidato poderia ter citado documento20 ou funcionário público que
são exemplos de elementares normativas (aquelas que o intérprete precisa fazer um juízo de
valor). Às vezes o juízo de valor é obtido de outra lei, obtido da cultura da sociedade, de regras
de comportamento social, etc.
Então, essa classificação vem deles, mas o que é mais interessante deles aqui é o
seguinte: qual a relação entre a tipicidade e a ilicitude? É uma relação de autonomia ou de
identidade? É aí que eles trabalham Teoria dos Elementos Negativos do Tipo, Teoria da Ratio
Essendi e da Ratio Cognoscendi.
Registre-se, aqui, que ainda falta falar a críticas às duas Teorias, mas será visto
daqui a pouco.
Em, suma, o professor resumiu o que foi dado até aqui, recomendando a leitura dos
slides e dos artigos indicados, da seguinte forma:
Essa questão do panorama do século XIX e XX eu dei uma acelerada; direito anterior
ao século XVIII, falei um pouquinho disso aqui, mas tem algumas anotações que
vocês vão receber; século XVIII, essa questão das datas, dos livros, das influências
que nós falamos mais ou menos; século XIX, debate da Escola Clássica e Escola
Positiva, que é um tema que vocês vão ver muito em criminologia mas eu trouxe
algumas características da Escola Clássica que estão resumidas aqui; também essa
questão que nós falamos um pouco da plataforma de conhecimento do século XIX,
que influenciou a produção da teoria causal clássica, classificatória, está também aí;
essa questão dos estudos da época, sociológico, biológico, surgiu a escola positivista,
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Mirabete diz que documento não é qualquer escrito, em palavras, prédio, árvore, muro; tendo que ter o
significado jurídico
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o Juarez Tavares, o que eu estou falando aqui é extraído dele), que indica que a
tipicidade é um indício de ilicitude. Então, tipicidade indício de ilicitude. A relação,
portanto, não é uma relação de identidade, é uma relação de autonomia. Tipicidade é
uma coisa, ilicitude é outra coisa. Luiz Flávio Gomes chega a dizer que tipicidade é
expressão provisória da ilicitude. Então, se você encontra alguém praticando um furto
de um alimento, pode ser que ele esteja praticando um fato típico mas que não seja
ilícito, porque pode ser que ele esteja fazendo isso em estado de necessidade, que
seria um furto famélico. Então, a tipicidade não é igual à ilicitude. Você encontrou
alguém ferindo o outro ali na rua – pode ser que ele esteja praticando um fato típico
que não seja ilícito, pode ser que ele esteja reagindo em legítima defesa. Então a
tipicidade não é igual à ilicitude, tipicidade é uma plataforma valorativa autônoma e
ilicitude é outra plataforma valorativa. O Welzel aceitou no seu finalismo esse
entendimento, essa discussão que surgiu no neokantismo. Apesar dessa discussão ter
surgido no neokantismo, o Welzel incorporou isso no finalismo. Então, essa ideia de
tipicidade é um indício de ilicitude, ratio cognoscendi, foi incorporada pelo finalismo,
assim como a exigibilidade de conduta diversa, vários aspectos o finalismo
incorporou, nós vamos ver. Esse aqui é um deles. A maioria dos livros no Brasil ainda
continuam falando isso – Damásio, Bitencourt, Rogério Greco... a maioria dos livros
dos penalistas brasileiros ainda continuam falando que a tipicidade é um indício de
ilicitude, eles não trabalham com a ideia de injusto total, que é uma expressão da
teoria dos elementos negativos do tipo. Agora, o Welzel dizia sabe o quê, pra
justificar essa ideia aqui? Matar um ser humano em legítima defesa é diferente de
matar uma mosca, um inseto – expressão do Welzel. Matar um ser humano em
legítima defesa é um fato que interessa ao direito penal, só que ele é típico e não é
ilícito. Matar uma mosca é um fato atípico (a não ser que a sua visão de direito
ambiental seja bem aguçada né...). Realmente, para ele a tipicidade tem que ser
diferente de ilicitude (daqui a pouco a gente vai ver se isso tem importância prática no
processo penal).
A segunda teoria é do Mezger. O Mezger vai dizer o seguinte: ratio essendi. A ratio
cognoscendi significa razão de conhecer, a ratio essendi significa razão de ser. Para o
Mezger, a tipicidade é razão de ser da ilicitude. O Mezger defendeu a ratio essendi,
aqui significa o que? Que a ilicitude, o juízo de ilicitude contempla a tipicidade.
Entenda: tipicidade e ilicitude são uma coisa só na ratio essendi, não há autonomia, há
uma relação de identidade, só que nessa relação de identidade, o corpo mais forte é o
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Seguindo essa esteira, surgiu a Teoria dos Elementos Negativos do Tipo. Um dos
maiores expoentes dela é o Merkel, que também contribuiu para a Teoria Mista das Penas
(prevalecente hoje na Europa e na América Latina com a ideia de pena com função retributiva e
preventiva, que será visto mais a frente, embora o funcionalismo tenha inaugurado praticamente
uma visão só preventiva). Essa Teoria é importantíssima para efeito de estudo, de pesquisa e de
prova de concurso, mas para por aí, na prática não é tão importante. Pela Teoria dos Elementos
Negativos do Tipo, cujo nome diz o conteúdo da Teoria, a tipicidade abriga a ilicitude.
Então, aqui, a tipicidade que é mais forte? A tipicidade abriga a ilicitude. Há também aqui uma
relação de identidade e não de autonomia, mas só que aqui é a tipicidade que abriga a ilicitude.
A tipicidade que abriga a ilicitude é chamada de injusto total (essa expressão remete,
sempre, à Teoria dos Elementos Negativos do Tipo e só a ela).
Assim, o que se quer dizer é: aquilo que é furto famélico (que nós aprendemos que é
estado de necessidade), hoje, provavelmente, não vai passar na peneira do princípio da
insignificância, e a insignificância por sua vez afasta a tipicidade. Então, muita coisa que era
estudada como excludente de ilicitude, hoje é examinada como fato atípico, sem precisar,
muitas vezes, usar a Teoria da Tipicidade Conglobante do Zaffaroni (que será vista mais a
frente), sem precisar usar a Teoria da Imputação Objetiva, que são Teorias que realmente
proporcionam isso. Anote-se, aqui, que a da Tipicidade Conglobante afasta, praticamente, o
exercício regular do direito e o estrito cumprimento do dever legal (de excludente de ilicitude
passa a ser examinado como excludente de tipicidade); e a Teoria da Imputação Objetiva, tudo o
que é risco permitido passa a ser fato atípico, mesmo que gere dano.
Questiona-se, então: será que há ainda espaço para ficar defendendo autonomia de
tipicidade e ilicitude? Diante desse cenário onde você antecipa tudo? É essa a discussão crítica
que o professor traz, visto que é um ponto aberto para debate, não fecha. O Superior Tribunal de
Justiça diz o quê? O Supremo Tribunal Federal diz o quê? Segundo o professor, eles não dizem
nada, pois nada sabem sobre o assunto. Anote-se, aqui, que tem partes da matéria que são
críticas (abertas) e as boas perguntas de CONCURSO em prova aberta não têm resposta em
lugar nenhum, o candidato tem que construir a resposta com base em princípios que estudou.
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Avançando a matéria, necessário registrar, que hoje tem professor que fala que não é
mais tipicidade autonomia e ilicitude autonomia. Caso faça-se uma pesquisa em todos os livros
de direito penal, a maioria ainda está na Teoria da Ratio Cognoscendi (a maioria dos autores
ainda defende que a tipicidade é um indício de ilicitude). Então, numa pesquisa empírica de
quantidade de livros de direito penal parte geral no Brasil, a maioria defende tipicidade indício
de ilicitude. É por isso que o professor ainda se recusa a afirmar que a tipicidade é igual a
ilicitude no Brasil, porque partindo dessa premissa, a maioria dos autores ainda defende que a
tipicidade é indício de ilicitude. A discussão aí perdeu o sentido, porque sempre se defende com
números.
Mas, do ponto de vista crítico, um pode sustentar uma coisa ou outra coisa. Na
prática, qual a importância? Quando se diz que o fato é atípico, facilita-se a valoração para
efeito de arquivamento. Quando se diz que o fato é típico, mas não é ilícito, se tem um juízo
valorativo, por exemplo: se o promotor e o Juiz forem tradicionais, muitas vezes eles vão falar
que tem um pouquinho de indício a mais, que dá para denunciar, e discutir isso no processo.
Percebam: essas pessoas são formadas para não resolver o problema, você foi formado para não
resolver o problema, a maioria de nós. Falta aos membros do Ministério Público, do Judiciário e
aos advogados em geral capacidade de gestão. Assim, o professor afirma que tem que incluir
gestão na universidade, tem que incluir capacidade de resolver problemas, seja solucionando
fora do direito, seja o nome que se queira dar, porque as pessoas não tem capacidade e sequer
veem. Não se questiona o “por que pode”, mas apenas o “por que não pode”.
Então, o professor acha que essa questão do arquivamento é bobeira, porque você
pode promover o arquivamento por exclusão de punibilidade, por exclusão de culpabilidade, por
exclusão de ilicitude e por exclusão de tipicidade (pode-se examinar por qualquer uma dessas
categorias, então não seria tão diferente isso não, mas tem gente que pensa de outra forma). E o
Supremo, diz o quê? O Supremo tem várias posições: o Supremo entendia que arquivamento
por fato atípico já era, não pode reabrir; se o fato é atípico, não pode reabrir; se o fato é lícito
também não pode reabrir, mas permitiu a reabertura de um, que envolveu uma organização
criminosa no estado do ES, um julgamento polêmico no Supremo. Então, essa questão
jurisprudencial vai depender do momento.
Registre-se, ainda, que, nessa Teoria, Mezger foi um dos maiores expoentes. Qual é
o problema do Mezger? O neokantismo foi um Sistema que, junto com o Causalismo Clássico,
ele foi seguindo, a partir de 1914/1915. O Welzel desenvolveu o finalismo na década de 30, mas
não explodiu ali, visto que a Teoria “do momento” ainda era o neokantismo. Ocorre que, o
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neokantismo coincidiu com o momento do nazismo e, por conta disso, muita gente, a partir de
uma biografia, passou a dizer que o Mezger foi o legitimador do nazismo.
Algumas ideias dos autores do neokantismo são perigosas, podendo citar, aqui,
Mezger que falou que “quem age com cegueira jurídica merece um tratamento mais severo”.
Isso será explicado quando do estudo das Teorias do Erro (na fase do dolo normativo), quando
estivermos falando de modelo prévio. Mas, já é necessário saber que Mezger defendeu uma
culpabilidade pela conduta de vida, pelo que o sujeito é e não, necessariamente, pelo que ele faz.
Isto é um resquício de direito penal do autor que deve ser combatido por todos nós, porque o
direito penal do autor não se ancora na responsabilidade penal subjetiva (que é a
responsabilidade compatível com o princípio da culpabilidade), mas sim na responsabilidade
penal objetiva.
Então, Mezger vai defender a culpabilidade pela condução de vida: quem age com
cegueira jurídica merece pena maior quando atuar em erro. O que é cegueira jurídica para ele?
Uma pessoa que descumpre as normas de convivência em sociedade sempre (que não concorda
com a regulamentação estatal) e que um belo dia comete um erro; o erro dela tem que ser
interpretado (se for um erro de direito na época) diferente do erro seu. Isto é, você
eventualmente pode ser um criminoso; seu tratamento tem que ser diferente daquele que
habitualmente desrespeita as regras. Contudo, aí não era por conta do fato, mas sim por conta
do histórico de vida.
Mezger ficou com essa pecha de ter defendido a Teoria da Culpabilidade pela
condução de vida. Ressalte-se, que a Teoria da Cegueira Jurídica não se confunde com a Teoria
da Cegueira Deliberada (que é outro tema que será estudado na aula de dolo e culpa). Observe-
se, deste modo, que no modelo neokantista, Mezger defendeu a culpabilidade pela condução de
vida (um resquício de direito penal do autor, pois quem age com cegueira jurídica merece pena;
nessa época se chamava pena do dolo atenuado, como será visto no estudo de erro). Mas, muita
gente falou que esse modelo de Mezger de permitir uma punição maior pela conduta de vida
facilitou o tratamento dado pelos nazistas aos judeus, e aí ele ficou com essa “pecha”. Muñoz
Conde, professor na Espanha, escreveu e defendeu isso, a fim de ligar o Mezger ao sistema
nazista.
De todo modo, o aspecto positivo dessa Teoria foi permitir uma abertura
valorativa, no sentido de que o intérprete não deve ser um formalista (um “boca-da-lei”);
o intérprete tem uma liberdade de interpretação. A materialização das categorias
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Não existe nenhum livro que tem isso sistematizado que nem está aqui. O único que tem um pouco é uma tese de
mestrado e doutorado: GUARAGNI, Fábio André. As Teorias da Conduta em Direito Penal: um estudo da conduta
humana do pré-causalismo ao funcionalismo pós-finalista. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, v.12. O
professor disse que não leria esse livro se quisesse passar em concurso, mas para pesquisar o tema.
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Ontológico vem de ontos que significa do cotidiano, do dia-a-dia.
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mãos do déspota e estabelecer uma separação de Poderes. Daí o quê que acabou existindo
no neokantismo (claro, numa analogia bem menor)? O déspota agora é o julgador, porque
o julgador agora decide de maneira subjetiva (sem vinculação), considerando só o dever
ser e ignorando a realidade concreta. A isso se chamou dualismo metodológico.
Como será visto, quem não gosta do modelo funcionalista afirma que o ele é um
regresso ao neokantismo, porque o funcionalismo acaba permitindo ao intérprete também
decidir fora dos dogmas, fora da realidade (valorar fora da realidade). Registre-se que Roxin
fala isso. Neste ponto, o professor pediu para que lessem o artigo que ele passou, em que vai
está redigido justamente isso: o intérprete pode decidir fora dos dogmas, fora da lei. Quando se
fala de dogma, estar-se falando do que está aqui dentro do Código, dentro das leis, dos artigos.
Contudo, o modelo funcionalista permite decidir fora daí.
Questiona-se, aqui: qual é o modelo que se quer para o Judiciário Nacional? Para o
Ministério Público? É um modelo do ser, que se vincula ao dogma, que muitos dizem que isso é
segurança jurídica? Mas será que isso não volta à falácia naturalista, ao formalismo onde o Juiz
é a “boca da lei”, onde ele não verifica que cada caso tem uma peculiaridade, onde ele vai
causar injustiça da mesma forma? Ou um modelo aberto, valorativo, onde o Ministro Barroso
pode decidir da forma como ele quer, como, segundo o professor, ele vem fazendo?
Qual modelo se quer para o Supremo? Para o Judiciário? Para o Ministério Público?
Para o direito penal brasileiro? Quer-se um modelo onde a interpretação está toda na lei ou um
modelo que permite abertura para interpretar fora da realidade? Parece que a pergunta é mal
feita, porque não estão corretos os causalistas clássicos (que trabalharam com um formalismo
exagerado), nem estão corretos os neokantistas (que permitiam um subjetivismo exagerado). Aí
a solução está num ponto de equilíbrio, na moderação. Mas, indaga-se: como encontrar esse
ponto de equilíbrio? Roxin acha que trouxe para o direito penal o que o Copérnico trouxe para a
humanidade. Isto porque, em 1970, Roxin escreveu uma obra denominada Política Criminal23 e,
23
ROXIN, Claus. Política criminal e Sistema jurídico-penal. Traduzido por Luís Greco. Rio de Janeiro:
Renovar, 2002. Tradução de: Kriminalpolitik und Strafrechtssystem.
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por isso, todos acham que ele trouxe para o direito penal a política criminal. A política criminal
vivia distante do direito penal (porque o sistema penal tem que ser criminologia; política
criminal é dogmática); segundo Von Liszt, havia um muro que separava direito penal de política
criminal e Roxin trouxe isso para resolver o problema.
Neste ponto, o professor falou que se o professor de processo penal o ouvir falando
isso, ele irá ficar “bravo”, mas o professor é ferrenho contrário a esse tema. O professor afirmou
que está falando a verdade. Nos grupos, nas oportunidades que ele tem para debate, ele é
dogmático (pois gosta de ver o pessoal “quebrando o pau”); ele detesta propostas críticas sem
um caminho de solução.
Segundo o professor, não adianta vir com a criminologia crítica dizer que no Brasil
tem 700.000 (setecentos mil) presos, sendo que 200.000 (duzentos mil) estão no regime aberto
e, como se sabe, o aberto cumpre em casa (é domiciliar). Fizeram reajuste no Conselho
Nacional de Justiça para dizer que não são 550.000 (quinhentos e cinquenta mil), mas 700.000
(setecentos mil), porque se conta os presos em regime aberto. Mas, se é para ficar no aberto
domiciliar, o criminoso irá praticar mais crimes, pois, segundo o professor, vale a pena. O que
se quer dizer é o seguinte: não adianta criticar o Sistema e dizer que a pena privativa não serve,
ser um abolicionista radical ou um criminólogo no caminho do Alexandre Barata. O Sistema
tem que ser criticado mesmo, mas tem que ser em busca de melhoria! E deve-se trabalhar com
propostas positivas para melhorar o Sistema.
O Governo Federal investiu 26% (vinte e seis por cento) no Sistema Carcerário nos
últimos 5 (cinco) anos, da verba de 100% (cem por cento) destinada. Então, o Governo Federal
está vendo um sistema caótico e ele quer que fique pior, porque quanto pior fica mais críticos
vêm, e mais amparadas estarão as propostas de descarcerização do Ministério da Justiça.
Portanto, o Sistema é bruto mesmo, vez que assim o Governo pode fazer Decreto de Indulto no
final do ano mais amplos. Não dá para discutir direito penitenciário e pena no Brasil sem antes
cumprir a Lei de Execução Penal. Primeiro deve-se construir presídios com os espaços que a
Lei de Execuções Penais determina; proporcionar aos presos o trabalho que a Lei de Execuções
Penais determina; fornecer o estudo que a Lei de Execuções Penais determina, ou seja, primeiro
deve-se fazer tudo que está na Lei de Execuções Penais, para, só então começar a discutir o
resultado ruim. Não dá para tratar o ser humano como lixo (como está sendo tratado), mas
também não dá pra dizer que é por conta disso que o Sistema não presta. Logo, está poluído o
discurso, porque não há investimento em execução penal.
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Então, qual é a interpretação que existe no direito penal hoje? Ela é aberta
(valorativa). Mas, os autores e os Juízes sabem o que estão fazendo. O Juiz, no dia-a-dia,
trabalha com o direito penal que está no Código (é mais dogmático; é mais do ser); um ou outro
Juiz é mais radical e interpreta com o dever ser, mas o Juiz de Tribunal de Justiça também
interpreta conceito; Juiz de Corte Superior está entrando 2 (dois) mil processos por mês, então
como ele tem interpretado? Ele tem interpretado com o dever ser.
O TJDFT adota a posição do STJ, mas tem Juízes no TJDFT que não. O professor
citou sua situação, em que ele trabalha com 3 (três) Juízes: um adota a posição do Supremo (que
é a seguida pelo professor) e os outros adotam a posição do STJ e compensam. Em casos que
não vai fazer efeito o professor não recorre, mas em outros casos ele recorre e prequestiona para
a turma de 2o grau levar o caso ao Supremo. Observe: o Juiz aqui embaixo pode ter uma opinião
diferente do outro, o promotor pode, mas o último grau não pode ficar demorando em pacificar,
porque quando demora para pacificar, significa liberdade para um e prisão para outro. Ou seja,
implica na insegurança jurídica. Assim, embora ninguém queira saber dogmática, é a dogmática
que vai dar a estrutura para solucionar os casos. Mesmo no modelo do common law, existem
regras para solucionar, existe tipificação.
PRIMEIRA TURMA
Crime tributário e prescrição
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O professor, neste momento, citou a Decisão do Ministro Barroso em que foi dito
que se alguém está preso em um presídio brasileiro que não atende às condições da LEP, essa
pessoa tem direito de remissão (cada três dias de tratamento não igual à LEP gera um dia de
remissão). Qual é a lei que fundamenta esse posicionamento? Não tem lei, foi o Ministro quem
decidiu. Mas, questiona-se: o Ministro é o Poder Legislativo? Não, ele é o Supremo. O Supremo
não está interpretando, está dizendo o direito. Enquanto ele diz o direito para liberar, o professor
critica; mas quando ele diz o direito para piorar a situação, igual disse aí na súmula vinculante,
aí deixou de existir o déspota. Com o devido respeito, o professor questionou: em que pese ter
deixado de existir o déspota Luís XIV, será que teremos o déspota STF?
Kant dizia que a razão pura deve indicar conhecimento que não venha atrás de
nossos sentidos, mas é independente de toda experiência sensorial. É o contrário do
positivismo: o positivismo exigia base de conhecimento com base na experiência sensorial (no
que se pega e se vê). Aqui não, aqui está falando: “a gente pode valorar, pode trazer
conhecimentos que não dependem de experiência sensorial”. Esse é o sistema neokantista. O
método valorativo tem um aspecto positivo, o aspecto negativo foi a culpabilidade pela
condução de vida de Mezger, o dualismo metodológico, onde o dever ser ignora o ser, e o
subjetivismo acentuado. Está-se passando por isso aqui no Brasil, em que se fala: “poxa,
estamos passando, mas tem a Constituição que é o limite”, contudo com a abertura que se tem
dos princípios constitucionais, não se sabe se ela é tão limite não! O professor afirmou que não
sabe se estamos diferentes desse modelo.
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O que o Welzel está dizendo é: o ser humano é um ser final, é um ser que age com
finalidade. Você acorda e, do amanhecer ao anoitecer, você está agindo com finalidade, o tempo
todo. Você está omitindo com finalidade, agindo com finalidade, praticando condutas dolosas
com finalidade e culposas com finalidade. O Welzel fala: “o ser humano é um ser final, a
finalidade é inerente à conduta humana, à ação humana”. Então, qualquer conceito de ação
humana não pode dispor, não pode afastar a finalidade. E o conceito causal afastava a
finalidade; não existe finalidade no conceito causal: “movimento corporal voluntário”. Não
confundam voluntariedade com finalidade! Veremos isso no estudo do fato típico: o que é
vontade, o que é voluntariedade e o que é finalidade. Mas, por ora, voluntariedade é liberdade
para agir: eu não estou sendo influenciado por nenhuma força estranha, por nenhuma coação
física irresistível, por nenhuma hipnose, por nenhum sonambulismo, eu sou livre para agir, eu
tenho voluntariedade. É diferente de vontade e de finalidade, que tem relação com o dolo.
Então, em tese, quem age de maneira culposa age com voluntariedade, mas não tem o fim
daquele resultado que causou. Por isso que na denúncia do Ministério Público diz “de forma
consciente e voluntária”, isto é, está falando ali de liberdade para agir, porque isso é um
pressuposto da conduta, quem não tem consciência, não age com conduta (são aquelas hipóteses
que a gente vai ver: coação física irresistível, atos reflexos, estado de inconsciência, etc).
Deste modo, o que o Welzel está dizendo é: finalidade inerente à ação humana.
Finalidade, que é mais do que consciência e voluntariedade, é finalidade; vem depois. E o
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Welzel é interessante, porque ele vai dizer que tem finalidade tanto na conduta dolosa como na
culposa, e aí ele vai arrumar um monte de inimigos. Então, observe: ação é o exercício de
atividade final, diz o Welzel. É a atividade humana dirigida a um fim. O Welzel diz que esse
conceito corresponde tanto à conduta dolosa quanto à culposa. Na dolosa ninguém tem dúvida –
vai matar a mãe, o fim é praticar homicídio, certo? Intenção do agente. Mas e na culposa? Você
sai daqui e vai para o hospital visitar um amigo que está doente, violou o dever objetivo de
cuidado e atropelou uma pessoa, provocou lesão corporal. Seu fim era qual? Ir ao hospital fazer
uma visita. O Welzel fala, “tá vendo? Tem fim na conduta culposa, só que o fim não está no
resultado, o fim está naquilo que o sujeito queria, um fim lícito, altruísta.” Ele fala: toda
conduta, dolosa ou culposa, tem finalidade. A finalidade na conduta dolosa é ilícita, a finalidade
na conduta culposa é lícita. O que acontece de errado na conduta culposa é que no meio para
atingir o fim lícito o sujeito viola um dever subjetivo de cuidado – não há um vínculo subjetivo
do agente com o resultado, há um vínculo normativo. O agente não quer aquele resultado, mas
normativamente ele causou, porque ele violou o dever objetivo de cuidado (por imprudência,
negligência, imperícia). Ninguém aceitou isso! Para os opositores ao finalismo, Welzel, no
crime doloso está de parabéns; merece uma estátua! Mas no crime culposo...
Tem autor que, de maneira quase poética, diz que a história do modelo finalista é a
história de tentativas e tentativas fracassadas de explicar o crime culposo. Diz que ele não
consegue explicar o crime culposo, ele só consegue explicar o crime doloso. A omissão culposa,
“nem a pau”! Eles falam que a omissão culposa ele não consegue explicar de jeito algum, não
consegue explicar. A maioria dos autores brasileiros repetem o Welzel – dizem que no crime
culposo o sujeito tem um fim, mas não é um fim ilícito (Damásio, Bitencourt...). Se o sujeito é
funcionalista, ele vai criticar. Portanto, percebam que tem uma guerra de vaidades nessas
Teorias; cada um quer emplacar o seu Sistema. Tem até autor brasileiro que quis inventar uma:
culpabilidade como pressuposto de aplicação de pena (Damásio, Mirabete, Capez, etc), como
será visto posteriormente24.
24
Caiu na última prova agora do MP-SP, adotou essa teoria do Damásio e nem perguntou se era certa ou errada.
Questão para ser anulada! E não sei se vai anular, tá gente. CNMP recusou a anular agora um monte de questão do
MPF no recurso, e tinha questão para anular. Você pega todos os livros daquela biblioteca da Alemanha, todos
dizem que A = X. A questão estava escrito que A = Y, então tinha que anular. O próprio Conselho Nacional tem
resolução que impede a cobrança de questões com doutrina contraditória – não era nem contraditória, era
inexistente! E não anulou, disse que não vai interferir no papel da banca. E o Supremo, recentemente, deu decisão
falando que não ia interferir. Sabe o que tá acontecendo agora com essas decisões? A banca é toda soberana, a
banca agora é Luís XIV. Então você tem que acertar mais do que precisa. Falta de respeito com quem estuda. Então
o caminho tá complicado. Essa prova do MP-SP perguntou que culpabilidade é pressuposto de aplicação de pena,
mas não falou assim: segundo corrente existente em São Paulo, corrente minoritária existente no Brasil...que aí
dava para o candidato que entende ir nessa linha.
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Então, o ponto principal é esse: ação é o exercício de atividade final. Não consegue
explicar o crime culposo, a maioria dos autores fala que não, que não tem jeito de explicar o
crime culposo com a ideia de finalidade. O Figueiredo Dias, maior penalista português, diz para
o Welzel: “a moderna biologia diz que até os animais agem com finalidade”. Mas ele é
funcionalista, amigão do Roxin. Então, observe que há muito apedrejamento ao finalismo. O
finalismo é o sistema que foi adotado na reforma do nosso Código Penal de 1984. O Código
Penal parte geral é todo finalista, de forma absoluta? Não. Tem pontos onde fugimos do Welzel,
mas a maioria dele adotou o finalismo do Welzel.
Agora, o Código adotou o finalismo. O projeto de Código que está no Senado está
adotando a teoria da imputação objetiva, princípio da insignificância, está quebrando bastante o
modelo finalista, mas está adotando o erro de proibição indireto do jeito que o Welzel queria e
acabando com o erro de tipo permissivo. Então não existe hoje no Brasil um sistema X ou Y. Na
Europa, o finalismo morreu. Aqui no Brasil ainda tem muito finalista, mas o sistema hoje é
mitigado, a gente vive uma fase de jurisprudencialização do direito penal e de outros ramos
também. Estamos caminhando muito até para modelos de precedentes, tem gente que acha que
estamos avançando muito para esse lado de cá, dos Estados Unidos, e não para o lado da
Europa.
1. Revisão e Finalismo
Na aula passada nós fizemos uma rápida excursão no direito penal do século XVIII
e século XIX, mostrando este cenário e depois entramos na Teoria Causal Clássica, abordando a
estrutura analítica do crime. Naquela oportunidade, falou-se sobre a tipicidade, ilicitude e a
culpabilidade na Teoria Causal Clássica. Falamos que o conceito de ação na Teoria Causal
Clássica, também chamada de Teoria Naturalista, é um conceito ancorado em uma base
25
Degravadora: Maria Luisa.
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Falamos que a tipicidade neste modelo constitui uma adequação do fato à letra da
lei, que não havia a análise da intensidade da ofensa ao bem jurídico tutelado, que não havia,
portanto, espaço para o desenvolvimento de princípios que dependem de uma tipicidade
material, que é o caso, por exemplo, do princípio da insignificância. Falamos, também, que a
ilicitude neste modelo consistia na mera contradição entre o fato e o ordenamento jurídico e,
portanto, não havia espaço para exame de excludentes supralegais já que a ilicitude também era
formal; e falamos que Liszt, que defendeu a ilicitude formal, mais tarde, defendeu a ilicitude
material. Inclusive, falamos que esse tema caiu na prova de Juiz Federal da 5ª Região
justamente abordando essa questão26 do Von Liszt que defendeu a ilicitude formal e mais tarde a
material.
26 14- JUIZ FEDERAL SUBSTITUTO DA 5ª REGIÃO APLICAÇÃO: 21/6/2009. Considerando a parte geral do direito penal, julgue os seguintes itens. I- Nos crimes de tendência
intensificada, o tipo penal requer o ânimo de realizar a própria conduta típica legalmente prevista, sem necessidade de transcender tal conduta, como ocorre nos delitos de intenção.
Em outras palavras, não se exige que o autor do crime deseje um resultado ulterior ao previsto no tipo penal, mas, apenas, que confira à ação típica um sentido subjetivo não previsto
expressamente no tipo, mas deduzível da natureza do delito. Cita- se, como exemplo, o propósito de ofender, nos crimes contra a honra. II- Subdividem-se os crimes de perigo em
crimes de perigo concreto e crimes de perigo abstrato, diferenciando-se um do outro porque naqueles há a necessidade da demonstração da situação de risco sofrida pelo bem jurídico
penal protegido, o que somente pode ser reconhecível por uma valoração subjetiva da probabilidade de superveniência de um dano. Por outro lado, no crime de perigo abstrato, há
uma presunção legal do perigo, que, por isso, não precisa ser provado. III- No CP, adota-se, em relação ao concurso de agentes, a teoria monística ou unitária, segundo a qual, aquele
que, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas na medida de sua culpabilidade; no referido código, adota-se, ainda, o conceito restritivo de autor,
entendido como aquele que realiza a conduta típica descrita na lei, praticando o núcleo do tipo. IV- Franz Von Liszt estabeleceu distinção entre ilicitude formal e material,
asseverando que é formalmente antijurídico todo comportamento humano que viola a norma penal, ao passo que é substancialmente antijurídico o comportamento humano que fere o
interesse social tutelado pela própria norma. V- A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, tenha produzido o resultado; os fatos
anteriores, entretanto, imputam-se a quem os tenha praticado. A quantidade de itens certos é igual a A 1. B 2. C 3.D 4. E 5.
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vínculo que liga o agente ao fato (um vínculo psíquico). Dolo e culpa são elementos
subjetivos, chamados de elemento psicológicos do modelo penal.
Cria-se este Sistema fechado: o Juiz é a “boca da lei” (o interprete não consegue
valorar), mas é o sistema inicial. Então, este Sistema impede a análise valorativa das categorias
penais, categorias de tipicidade, ilicitude e culpabilidade; dificuldades do conceito de ação e
etc., conforme já explicado.
Após, falamos sobre a Teoria Causal Neoclássica (ou Sistema Neokantista), em que
a tipicidade e a ilicitude são materiais. Falou-se que o injusto (tipicidade e ilicitude) continua
objetivo, porque o dolo e a culpa permanecem na culpabilidade. Contudo, a culpabilidade no
Sistema Causal Neoclássico é diferente do Sistema anterior (visto nas linhas antecedentes),
porque aqui imputabilidade deixa de ser pressuposto e passa a ser elemento, surgindo um
elemento novo, qual seja: exigibilidade de conduta diversa. A exigibilidade de conduta
diversa surge no Neokantismo e não no Finalismo (apesar de existir nele também, surge
antes). Explicou-se, também, que aqui havia uma possibilidade de o intérprete valorar.
ilicitude, visto que é natural e, como será visto adiante, o estado é típico. Neste modelo nós
discutimos, também, a relação entre tipicidade e ilicitude.
Muita gente costuma comparar o modelo Funcionalista dos dias atuais (modelo
reinante na Europa) com este modelo. QUEM NÃO GOSTA DO FUNCIONALISMO DIZ
QUE ELE É UM RETORNO AO NEOKANTISMO. QUEM NÃO GOSTA DO
FINALISMO DIZ QUE ELE É UM RETORNO AO CAUSALISMO CLÁSSICO. Qual é a
resposta dos funcionalistas para dizer que o modelo deles não é este modelo? Consiste em dizer
que o Modelo Funcionalista está vinculado a valores políticos criminais contemplados no texto
da Constituição e que o limite do intérprete é a Constituição que, portanto, é diferente deste
modelo Neokantista, já que aqui não havia limites e no Funcionalismo havia limites (a
Constituição é o limite do intérprete). Na Constituição existem os valores políticos criminais, os
princípios de direito penal e de política criminal, expressos e tácitos.
A Teoria Finalista trabalha com um modelo diferente! Hans Welzel vai trabalhar de
início, uma mudança radical no Modelo Causal que é conceito de ação. O conceito de ação no
Finalismo é um conceito de ação diferente do conceito de ação causal. Welzel faz uma análise
filosófica e histórica da humanidade e chega à conclusão de que os grandes filósofos, (os
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grandes pensadores) sempre entenderam que o ser humano é um ser final. Por exemplo: você
acorda de manhã pensando no que você vai fazer até o final do dia; portanto, o seu
comportamento é finalístico: você pensa no objetivo que quer alcançar. Assim, qualquer
conceito de ação humana tem que incorporar a finalidade; qualquer conceito de ação humana
depende da finalidade. O ser humano é um ser finalístico, é um ser final.
Welzel fala que ação é um exercício de uma atividade final, ou seja, é a atividade
humana dirigida a um fim. Então, o conceito finalístico de ação é um conceito que contempla a
finalidade (exercício e atividade final ou a atividade humana dirigida a um fim). Observe que o
conceito de ação do finalismo não tem resultado material, ele não depende de resultado
material, não fala de transformação do mundo exterior (como falam os conceitos causais).
ENTÃO, O CONCEITO NO FINALISMO É O EXERCÍCIO DE ATIVIDADE FINAL.
COM ISSO CONSEGUE EXPLICAR O CRIME FORMAL, DE MERA CONDUTA E
CRIME MATERIAL.
Contudo, Welzel discordou disso, uma vez que, para ele, seu Sistema explica
sim a finalidade, porque há finalidade na conduta dolosa e há finalidade na conduta
culposa, isto é, ambas têm finalidade. A QUESTÃO É QUE NA CONDUTA DOLOSA A
FINALIDADE É ILÍCITA E NA CONDUTA CULPOSA A FINALIDADE É LÍCITA. Na
conduta dolosa desde o início quer-se roubar, ou seja, a finalidade é esta (o roubo). Em
contrapartida, na conduta culposa isto não acontece: alguém quer limpar uma arma, quer chegar
a um local, dirigir um carro, pilotar uma moto, mas viola o meio e acaba, por inobservância do
dever objetivo de cuidado, provocando um resultado que não fazia parte da sua finalidade.
Perceba que na ação culposa a finalidade era outro resultado (lícito), mas isso não significa dizer
que o comportamento não era um comportamento com um fim. Ou seja, não se pode dizer que
uma conduta culposa não tenha um fim. Veja: se tinha uma finalidade que pode ser chegar à
escola cedo, chegar ao aeroporto, chegar ao hospital; contudo, violou-se o dever objetivo de
cuidado no meio e, por exemplo, atropelou-se uma pessoa.
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Contudo, perceba que continua sem explicação, visto que o resultado culposo
não se liga a finalidade da conduta. Não há um vínculo subjetivo entre o agente e o resultado
culposo, há um vínculo normativo de violação do dever objetivo de cuidar. Por exemplo: não
querer atropelar a pessoa é diferente de querer roubar. Não há um vínculo subjetivo entre sua
conduta e o resultado culposo; há um vínculo normativo, uma construção legal (viola-se
um dever objetivo de cuidado), p.e.: a velocidade era 60km/h e andou-se à 120km/h ou
150km/h.
disso e tentam desmerecer este aspecto, afirmando que o princípio da adequação social não
serve para nada, sendo tudo resolvido com o princípio da insignificância (que ainda será
estudado). Contudo, esta é uma briga acadêmica. No Modelo Finalista a tipicidade é material
(mas vinculada à realidade), só que a abertura de interpretação é menor que no Neokantismo e
no Funcionalismo.’
27
O professor falou que deve-se entender valores éticos e sociais como bens jurídicos.
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Observe-se que não há mais a divisão do crime em parte objetiva e subjetiva. Até o
Causalismo Neoclássico ou Teleológico (ou seja, no Causalismo Clássico e no Neokantismo),
chamado de Sistema Subjetivista, a tipicidade e a ilicitude formavam a parte objetiva do crime e
o dolo e a culpa estavam na culpabilidade formando a parte subjetiva do crime. Mas, no
Finalismo não há mais isso! No finalismo, tipicidade e ilicitude correspondem ao injusto,
entretanto não se fala mais em parte objetiva e em parte subjetiva do crime.
Aqui, o professor frisou que, com o Finalismo, esta divisão da estrutura analítica do
crime é fundamental para compreender o direito penal lá na frente. Temos que ver isso como
um encaixe. Lá na frente vamos preencher isso com carne, então, temos que saber qual o “osso
do braço”, qual é o “osso da perna”.
seja normativa psicológica, aqui é chamada de normativa pura, porque não tem o elemento
psicológico). Dolo e culpa estão no fato típico, formado por vontade e representação do
resultado (não há no dolo do Finalismo a consciência da ilicitude).
Aqui, o professor falou que é basilar saber que dolo natural (finalismo) e dolo
normativo (sistema causal) são coisas distintas. Mas, registre-se, desde logo, que hoje tem
várias outras Teorias sobre dolo (como será visto na aula de dolo e culpa). O professor falou
que há várias Teorias, vários livros excelentes 28. Tem hoje quem defenda o dolo só como
elemento intelectual. Têm pessoas que defendem o dolo hoje só como representação do
resultado, o que seria isso, toda vez que você representar o resultado tem dolo, ou seja, só como
elemento intelectual. Se esta tese for adotada não haverá diferença entre dolo eventual e culpa
consciente, porque nos dois casos o sujeito representa o resultado. Em um ele confia que não vai
acontecer e no outro tanto faz tanto fez. Então, se você defende o dolo só como elemento
intelectual todos os casos de culpa consciente passam a ser dolo, vamos ver isso em momento
oportuno.
28
Tem um livro da professora Ingeborg Puppe, uma professora da Alemanha, ela é alemã, publicado pela
editora Manole, chamado A Distinção entre Dolo e Culpa. Tem o livro do Paulo Cézar Busato, chamado
Dolo e Direito Penal: modernas tendências.
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Ele exerce três funções30: o consentimento pode ser um elementar do tipo, como?
Quando o legislador colocar no tipo o consentimento. Se o legislador colocar escrito no tipo
‘consentimento’ o consentimento vai ser um elementar do tipo, por exemplo, o artigo 124 e o
artigo 12631 (Código Penal), segundo a doutrina, são exemplos de consentimento do ofendido
29
Eu apenas estou fazendo uma observação. Porque estou dizendo isto? Para quem anota. Ás vezes pego
alguns cadernos aqui, então, misericórdia. A pessoa tem que anotar aquilo que está sendo falado na aula.
Quando o professor fala de outra coisa o que a pessoa que esta anotando aquilo deve fazer? Observação
extra. Estou apenas sendo bem redundante, porque se não, daqui a três meses quando você por estudar
isso aí virou uma salada um mexidão que você não sabe o que é. Então, é só um aviso.
30
Quem desejar fazer um artigo sobre o melhor livro é o livro do José Henrique Pierangelli, O
Consentimento do Ofendido.
31
Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um
a três anos. Aborto provocado por terceiro Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da
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elementar do tipo. Então, a gestante que consente na realização do aborto, segunda parte do
artigo 124, porque a primeira tem o autoaborto, inclusive, é um crime de mão-própria. Segunda
parte do artigo 124, gestante grávida que consente na realização do aborto. Aí, ela (gestante) vai
a uma clínica clandestina em qualquer lugar e alguém pratica o aborto criminoso, artigo 126,
fora das hipóteses previstas na lei. Quem pratica o aborto, artigo 126, praticar o aborto com o
consentimento da gestante. A gestante que consente, artigo 124, inclusive é uma exceção a
Teoria Monista, esta hipótese que acabei de mencionar, com duas pessoas é uma exceção
pluralista da Teoria Monista, é um tema que vamos ver lá na frente.
Agora, voltando aqui, gestante que consente, consentimento do ofendido está escrito
no artigo 124, então, ali ele é elementar do crime. Consentimento está escrito no artigo 126, esta
redigido, grafado, então, é um elementar do tipo. Isto é o que diz a doutrina. Agora, a parte
crítica vem agora: isto não está certo, porque não é a gestante o ofendido aí, o ofendido é o feto,
o bem jurídico é a vida humana intrauterina, a gestante é criminosa aí. Então, não é o ofendido
que consente é o sujeito ativo do crime que consente. Então, essa definição da doutrina, de que
o consentimento do ofendido no 124 e no 126 é elementar do tipo, merece crítica, porque o
ofendido é o feto. A gente não pode acreditar em verdade pronta, mas vocês que vão fazer um
monte de provas mal elaboradas Brasil a fora, é elementar do tipo, se tiver lá como opção de
resposta.
então, você cometeu violação de domicílio. Agora, se a pessoa aceita sua entrada: o
consentimento do ofendido afasta a elementar, afasta o dissenso, porque a elementar neste crime
do 150 é o dissenso, é a discordância, se a vítima concorda não há violação de domicílio, é uma
visita, não uma violação de domicilio. Então, o consentimento do ofendido afasta a tipicidade,
afasta a elementar, porque o dissenso esta exarado, porque o dissenso está escrito, a
discordância é elementar.
Onde vai existir a causa supralegal de exclusão da ilicitude? Vamos encontrar isso
em situações em que o bem jurídico é disponível e o ofendido tem capacidade para consentir.
Então, há de existir aqui dois requisitos: bem jurídico disponível e capacidade de consentimento
da vítima. Então, há alguns bens jurídicos que admitem isso, por exemplo, no crime de dano se
o ofendido consente no dano ao objeto não há crime. Então, você, por exemplo, tem um bem e
contrata alguém para destruir esse bem seu, um bem material, porque você quer ter uma sucata
de bem, um desejo seu. Você tem um carro muito caro e tal e quer ter uma sucata daquele carro
na garagem, e contrata alguém para quebrá-lo no machado e etc., aí passa alguém por lá: Não!
Vou impedir!, não pode impedir. Mas, não é legítima defesa de patrimônio de terceiro? Ou para
ser mais exato, não seria estado de necessidade de patrimônio de terceiro? Nas duas hipóteses
vai se dar mal, porque tanto a legítima defesa quanto o estado de necessidade, quando se trata de
terceiro e de bem jurídico disponível, quem vai atuar tem que ter autorização daquela pessoa
que tem o bem jurídico em perigo ou seu bem jurídico sofrendo agressão injusta ou na
eminência de sofrer.
Então, se o bem jurídico é disponível, eu posso contratar alguém para destruir o meu
bem. Aí, se eu liguei para a seguradora e falei que é um acidente, é problema meu, é estelionato
com fraude. Então, observe, o consentimento do ofendido afasta ilicitude no crime de dano, no
qual o bem jurídico é disponível, desde que o ofendido tenha capacidade de consentir.
I - hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II
do parágrafo anterior;
II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
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quando explicamos Ratio Essendi, Ratio Cognoscendi e a Teoria dos Elementos Negativos do
Tipo.
2. Crítica ao Finalismo
Com relação a crítica no Finalismo. Depois eu volto para culpabilidade, porque vou
gastar um tempão na culpabilidade. Com relação as críticas ao Finalismo. As críticas negativas
ao Finalismo: não explica o crime culposo, porque o conceito de ação exige finalidade e no
crime culposo não tem finalidade, por mais que o Welzel desse aquela interpretação, muitos
aqui brasileiros concordaram, Bitencourt, Damásio, vemos nas obras deles a explicação do
Welzel, mas boa parte das pessoas não concordaram com isto. Então, para muita gente o
Finalismo não consegue explicar o crime culposo.
33
Leiam depois este artigo: O STF e a Interpretação Neokantista do Direito Penal, que coloquei na pasta
de vocês, que vocês vão entender isso, eu explico lá como o Roxin diz que é o sistema.
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Agora, o Finalismo é criticado por ser fechado, e então, por retornar ao Modelo
Causalismo Clássico nesta parte, mas ele é o modelo de tipicidade material, é o modelo de
ilicitude material. Será que o Finalismo não é modelo mais equilibrado, então, meio termo entre
um formalismo exacerbado e um subjetivismo acentuado? Os críticos dizem que não. Os
críticos falam que é um modelo ontológico-dogmático fechado, que não é um modelo que
permite soluções com base em princípios e valores políticos criminais. Na Europa ninguém fica
navegando nisso mais, as pessoas já ficam pisando no Finalismo. Aqui no Brasil a doutrina
ainda trabalha com o Modelo Finalista, por mais que esteja mitigado a cada dia, mas essa, como
eu disse aula passada, é uma discussão que ainda cai em prova e tal, mas no mundo acadêmico
ela não é tão trabalhada mais34. Agora, a crítica é essa, o conceito de ação, não consegue
explicar o que é crime culposo, modelo ontológico-dogmático.
Então, vivemos uma fase no Brasil muito interessante: se você defende um sistema
mais atrelado à lei, mais equilibrado na valoração, você é taxado como formalista positivista; se
você defende um judiciário proativo, um ativismo do judiciário, um neoconstitucionalismo, a
corrente não-interpretativista constitucional, aí você é taxado como uma pessoa ideal para os
tempos modernos. Então, há esta pecha, esse problema. Muitas vezes as pessoas usam isso
apenas na sua mediocridade de não estudar a dogmática para solucionar do jeito que quer.
Então, a solução do direito do jeito que quer é muito mais confortável para quem está
solucionando. A solução trabalhada e construída com base na doutrina, na lei, você pode até
valorar, mas você tem que dizer na sua fundamentação tudo bonitinho, isto hoje tem sido
abandonado, deixado de lado.
34
A não ser em modelos de cursos dogmáticos, por exemplo, PUC de São Paulo, graduação, pós-
graduação stricto sensu, mestrado, doutorado, você trabalha isso. PUC do Rio grande do Sul você não
trabalha isso, trabalha criminologia e política criminal. Então, depende muito do local onde você vai
estudar esta questão.
35
O próprio Roxin elogia isto na obra Estudos de Direito Penal da editora Renovar, traduzida pelo Luís
Greco.
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Mas o Franz Von Liszt também defendeu para criminosos que não eram
ressocializados com o processo da pena, que continuavam praticando crime. Ele defendeu
medidas bem trágicas, medidas de segurança para réus de alta periculosidade sem problema
mental. O Liszt defendeu isto, o Mezger defendeu coisa grave também, e o Welzel falou de
culpabilidade e caráter, então não há muita novidade quando o Jakobs fala do direito penal do
inimigo não. A diferença é que Jakobs fala em um momento do Estado de Direito, do
constitucionalismo, etc; em outro momento histórico ganhou mais repercussão, principalmente
com o aumento do terrorismo e adoção de parte disso que ele falou nos Estados Unidos.
Então, observe, voltando aqui para nossa aula. O Finalismo com Fragoso não copiou
essa parte do Welzel. Esta parte do Welzel de culpabilidade e caráter o Fragoso não trouxe para
nós, passou despercebido. Elogio para ele. Ou seja, ele excluiu essa parte, essa fraqueza do
Welzel de defender uma culpabilidade de caráter, que permitiria punir o sujeito pelo que ele é e
não pelo que ele fez. Por isso que hoje quando se fala em culpabilidade do autor a doutrina tem
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certa dificuldade. A maioria, por exemplo, da doutrina paulista, Nucci e Dotti. René Ariel
Dotti36 vai falar que a culpabilidade é do ato e do fato, é do autor e do fato, melhor dizendo, é do
autor e do fato, do autor e do ato, do ato e do autor. Não é só a culpabilidade do autor. O
Zaffaroni fala que a expressão ‘culpabilidade do autor’ é perigosa, porque pode parecer a
possibilidade de punir o sujeito pelo que ele é e não pelo que ele faz. Então, quando você vê em
alguma prova de concurso: a culpabilidade é do autor, entenda, a culpabilidade é do autor e do
fato, porque, na verdade, a culpabilidade é um juízo que incide sobre o autor em razão do fato
que ele praticou.
36
Dotti é paranaense, mas já escreveu muito em São Paulo.
37
Toledo aqui pela UnB, foi ministro do STJ, e Jair Leonardo Lopes, UFMG.
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arbítrio é igual, as nossas opções de escolha são iguais para praticar um crime ou não, isso é
complicado para a doutrina atual.
A doutrina atual enxerga que as pessoas são diferentes e muitas vezes o meu grau de
alternativas para não praticar um crime é maior ou menor que o seu, e isso tem que ser
considerado na culpabilidade, e o Finalismo parece que dificultou isso, é o que diz o Bitencourt.
Por isso, que surgiram novas teses sobre culpabilidade, então, hoje é um campo fértil. Os dois
campos mais férteis hoje no direito penal são nexo causal e culpabilidade. Então, surgiram
novas tese, por exemplo, hoje se fala em culpabilidade penal e neurociência, hoje se fala em
culpabilidade penal e determinismo, tudo isso tem relação com o livre-arbítrio. Temos dois
livros excelentes no Brasil sobre o tema culpabilidade38.
O Sebastian trabalha a questão cultural, você sair de um país para outro, parte da
doutrina chama isso hoje de direito penal intercultural. Tem um artigo excelente de um filósofo
chamado Hoffe, interessantíssimos sobre direito penal intercultural, ele dá umas questões legais,
por exemplo, ele dá um exemplo de um senegalês que saiu de Senegal e foi morar na Alemanha,
e em Senegal é muito comum a menina nova ir morar na casa de umas pessoas para trabalhar e
ele dar toda proteção a essa menina, proteção social e econômica, e aí com o tempo ela se
oferece sexualmente, lá é algo culturalmente aceito por toda sociedade, com o consentimento
dela, mas diante do que ela recebeu socialmente e economicamente.
Na Alemanha tem regras, regras que devem ser obedecidas. E aí a pessoal com certa
idade não pode praticar sexo, aí o senegalês foi morar lá, teve uma casa e foi trabalhar uma
menina da Alemanha com ele e com o tempo essa menina da Alemanha se ofereceu para ele, e
ela fala isso, só que ela não tinha idade ainda para a conjunção carnal. Em Senegal o mesmo
fato seria atípico, na Alemanha é típico. Aí o Hoffe vai ter falar: Esta vendo? Nós temos que
interpretar melhor! Hoje, como é isso? Hoje no país que você estiver você responde pela lei do
local, dogmaticamente é isto hoje.
O que é questionado no direito penal intercultural é o quanto isto deve ser ou não
mitigado diante de uma globalização que não é só de informações, mas de pessoas transitando
para lá e pra cá, com muita mais intensidade que no passado. A bigamia é crime na Alemanha,
38
Professor da Universidade Federal de Uberlândia, Fabio Guedes, Culpabilidade no direito Penal,
excelente; outro livro, menos conhecido, ele ia publicar a segunda edição desse livro, mas é bom também,
ia publicar a segunda edição já com neurociência, a primeira não saiu, professor Sebastian Mello,
professor da federal de Salvador, o livro dele sai pela Juspodivm, O Conceito Material de Culpabilidade.
Eles trabalham bons temas nestes livros.
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aí tem um exemplo de um árabe que vive com três mulheres na Alemanha, mas como? Ele
casou com uma na Alemanha e foi no país dele e casou com duas lá, e trouxe para cá
(Alemanha), então, está com as três lá.
Dois casamentos fora e um casamento dentro, como isso se resolve?! Então, tem
umas questões de direito intercultural muito interessantes, porque hoje é o seguinte, você vai
hoje para outro país e você tem que entender as leis de lá ou no mínimo, buscar entender,
porque se você vacilar, você vai ser condenado, por mais que você esteja fazendo algo que no
seu país de origem seja aceito. O que se discute no direito penal intercultural é isto, e este é um
tema que tem ligação com a culpabilidade.
Então, se eu levo isso a ferro e fogo não tem como o Estado condenar ninguém
penalmente. Percebam! Algumas conclusões da neurociência vão neste sentido. Estas
conclusões têm interferido no dia-a-dia da nossa prática penal? Não! São conclusões discutidas
no campo acadêmico, que você tem que saber para concurso, por exemplo, se cair uma questão
de neurociência você sempre tem que pensar: segundo a neurociência, algumas conclusões
demostram que o crime praticado pelo sujeito seria praticado de qualquer forma por ele; ele não
teria como impedir o crime; ele não teria livre-arbítrio suficiente para impedir que ele mesmo
praticasse o crime. Ou seja, não é só para os loucos não, é para todo mundo. Então, leiam os
artigos que vocês vão entender isso. Então, hoje são contestações ao livre-arbítrio. O que se
entende de contestação ao livre-arbítrio não é só neurociência, não é só direito penal
intercultural que é um tema ligado a isso, mas também, algo que tem total ligação com isso
daqui que é a co-culpablidade. Co-culpabilidade tem total relação com esta disputa.
39
Eu tenho vários artigos em PDF, e vou passar para vocês, para quem desejar pesquisar. Vou colocando
aos poucos para não ficar também enchendo a pasta de vocês com coisa desnecessária. Então, assim, a
neurociências, tem vários artigos, artigos em espanhol, artigos em português, tem livros sobre isso.
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Alguns falam que nós vamos votar como os gregos, cidadãos do passado, porque
tinha os gregos não cidadãos, ou seja, tudo agora vai ser decidido por nós instantaneamente,
porque é possível isto com a era da tecnologia. Mas, entendam, você representado por aquele
Congresso que está ali, entendam, não tem jeito, dentro do nosso sistema você é, a vontade ali
aprovada é a vontade nossa, em tese é. O que isso quer dizer? Valores como moradia, educação,
saúde, que nós temos, muitos não têm, e estes muitos que não têm, co-cidadãos, se praticam um
fato pela ausência de um direito desses concretizados em suas vidas é falha de todos nós, nós
todos falhamos como Estado e temos que assumir parcela dessa falha. Em que consiste em
assumir parcela desta falha? Diminuir a pena, atenuar a pena. Hoje a doutrina diz que a co-
culpabilidade, que a co-responsabilidade social deve significar somente uma atenuante que está
prevista no artigo 66 do Código Penal. Então, a co-culpabilidade que é a co-responsabilidade,
responsabilidade social deve significar somente uma atenuante que está prevista no artigo 66 40
do Código Penal.
40
Art. 66 - A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao
crime, embora não prevista expressamente em lei.
41
SÚMULA 231: A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo
do mínimo legal.
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culpabilidade. Além do Zaffaroni, Rogério Greco defende a co-culpabilidade 42. Então, a co-
culpabilidade é a co-responsabilidade social, esta co-responsabilidade social permite partilhar a
responsabilidade penal, diluí-la entre todos nós, então, esta atenuação que está sendo dada ao
sujeito no caso concreto é porque nós todos como Estado falhamos.
Professor, mas isto é algo meio marxista, socialista, comunista e isto está acabado,
já era, professor. Agora é capitalismo selvagem ou não, individualismo ou não. Então,
professor, não dá para aceitar isto. Preste atenção! Tem algo que eles falam que é interessante.
‘A’ foi gerado no seio de uma família que não se importou com sua educação, se
quer ele foi levado à escola pública. Seus pais não se importaram, saiam cedo de casa e
voltavam tarde. Com o tempo ele foi mais ou menos para a escola, mas foi cooptado pelos
traficantes da área, aí se tornou um adolescente que vendia drogas. Seus pais vacilaram bastante
na sua educação e o Estado nada fez. Conselho Tutelar não funcionou, Ministério Público da
Infância e Juventude não funcionou, Judiciário da infância e juventude não funcionou. Todos os
mecanismos socais que tinha para impedir isto, para impedir que a famílias seja omissa, não
funcionaram. Aos 18 anos ele começou, agora não mais como ato infracional, porque hoje é ato
infracional amanhã chama-se crime. Começou a praticar ele mesmo o tráfico, foi preso e tal.
‘B’ teve a melhor educação, seus pais se importaram sempre com sua educação, fala
vários idiomas, conseguiu um bom emprego, passou em concurso, saiu e foi para a iniciativa
privada, bem remunerado, e hoje ele pratica trafica também, apesar de ele ganhar 50mil euros
por mês de salário, que ele mora no exterior e ele vem a Brasília, pois é um executivo bem
sucedido, ele resolve trazer alguma droga sintética melhorzinha da Holanda para o Brasil,
praticou tráfico também. Os dois são traficantes, os dois vão ser condenados com base na Lei n°
11343, mas para um parece que tem que existir uma dosagem diferente da pena, é isto que a co-
culpabilidade traz, co-responsabilidade social.
O primeiro teve um desamparo total do Estado, a pena dele não pode ser igual a do
segundo, mas isto não significa dizer que todo mundo que nasce ao lado de uma boca-de-fumo
se torna traficante, porque existe também uma parcela de que? Existe uma parcela de livre
arbítrio. Agora, às vezes o sujeito não tem qualquer alternativa que não seja praticar o crime. Se
chegarmos à conclusão de que ele não tinha qualquer alternativa que não fosse praticar o crime,
estamos diante de uma inexigibilidade supralegal de conduta diversa, porque tem hipótese de
42
Tem um livro excelente no qual eu pesquiso esta aula que é Do Princípio da Co-Culpabilidade no
Direito Penal, do Grégore Moura, da editora Impetus.
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inexigibilidade prevista na lei, coação moral irresistível, obediência hierárquica, que vamos ver,
e tem hipótese supralegal. Se você chega à conclusão de que não havia outra alternativa para o
sujeito se não fosse praticar o crime, você tem que absolvê-lo, não é mais atenuar, porque falta a
culpabilidade, falta um dos elementos da culpabilidade que é a exigibilidade de conduta diversa,
ele não podia agir de outro modo, você chegou a esta conclusão. O Gregório Moura coloca isto
na sua obra.
Esta foi a pergunta que caiu em provas objetivas. Dois anos atrás caiu uma
interessantíssima que já falávamos aqui na Escola, sempre falamos desde o início que
abordamos a co-culpabilidade, que é a co-culpabilidade às avessas, que é uma classificação do
Gregório Moura. Ele coloca dois momentos para a co-culpabilidade às avessas.
Primeiro momento, por volta do século XVIII, século XVII, momento que antecede
o século XVIII, põem o século XVII e ele coloca os dias atuais, hoje, atualmente. Ele fala que
por volta do século XVII, antes do século XVIII, era comum, isto durante toda a antiguidade
também, pessoas que tinham melhores condições econômicas responder com a pena menor, elas
tinham alternativas, poderiam dar o escravo para responder em seu lugar, e quem não tinha
respondia com a pena corporal, então, o tratamento do crime para quem possuía um grande
poder econômico era um tratamento muito mais benéfico que para quem não possuía, é isto que
ele está colocando. Então, o nobre respondia com dinheiro, o não nobre com a pena corporal,
este foi um modelo de co-culpabilidade às avessas, tratar melhor quem possuía poderio
econômico, o prestigio real, o título de nobreza e etc.
tratar de uma forma pior quem possui grande poder econômico. Como, professor? Onde está
isto? Primeiro ele dá exemplo do código argentino, código penal peruano, código penal
português, que na parte geral possui agravantes para quem pratica o crime e é detentor de
grande poder econômico, de situação econômica muito superior a da vítima, então, ele teria uma
pena agravada. O nosso código do consumidor tem um dispositivo, está no artigo 76 do CDC,
tem um agravante lá para quem pratica o crime com condições econômicas bem superior a da
vítima44.
44
Art. 76. São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste código:
I - serem cometidos em época de grave crise econômica ou por ocasião de calamidade;
II - ocasionarem grave dano individual ou coletivo;
III - dissimular-se a natureza ilícita do procedimento;
IV - quando cometidos:
a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à da
vítima;
b) em detrimento de operário ou rurícola; de menor de dezoito ou maior de sessenta anos ou de pessoas
portadoras de deficiência mental interditadas ou não;
V - serem praticados em operações que envolvam alimentos, medicamentos ou quaisquer outros produtos
ou serviços essenciais.
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A vontade livre não seria mais livre, uma vez que constitui o processo neurológico,
casualmente vinculado a uma variedade de processos materiais. A conclusão faz desmoronar o
alicerce do direito penal contemporâneo. Proposta extrema: abolição da culpabilidade e a
substituição da pena por medidas de proteção da sociedade, tais como, medidas de segurança,
intervenções e terapias. Então, nós não conseguimos controlar o nosso interior, ninguém.
Proposta de compatibilismo filosófico: relação entre determinismo e livre-arbítrio, apesar de o
homem estar determinado, na ausência de fatores impeditivos há uma margem de racionalidade
que permite ao homem tomar decisões livres. Então, tem duas propostas na neurociência, uma
que ninguém tem o controle interno de nada, então, tem que tratar com remédio, com medida de
segurança, terapia, e a outra que dá para compatibilizar com o determinismo e o livre-arbítrio.
Interessante isto no primeiro momento por curiosidade!
capacidade de se autodeterminar e que ele não esteja marcado por uma doença mental ou por
um desenvolvimento mental incompleto ou retardado que afete a sua capacidade de se
autodeterminar.
Então, são dois critérios, primeiro o biológico, que é não ser portador de uma
doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado, e o psicológico, que é a
capacidade de se autodeterminar. Com isso, queremos dizer o seguinte, alguém inimputável na
forma do 26, caput, ele é inimputável se preencher o primeiro e o segundo requisito, o primeiro
é, para ser inimputável, doença metal ou desenvolvimento incompleto ou retardado, e o segundo
é não ter capacidade de se autodeterminar no momento da ação ou da omissão. Não basta a
doença mental, tem que ficar demonstrado que ele não tinha capacidade de autodeterminar no
momento da ação ou da omissão. Por isso, que o critério é bio-psicológico, se fosse só doença
mental seria biológico.
Pois, bem! Agora, preste atenção, o Roxin traz algo muito importante, ele fala: está
é uma opção político criminal, não diz respeito à culpabilidade, olha que o que estou falando
foge o que diz a doutrina nacional, agora é um aparte, uma crítica, que não vai cair no seu
concurso, concurso é muito mediano para cair um negócio deste.
Então, observe, olha o que diz o Roxin: a pessoa de 18 anos, de 17 anos, de 16 anos,
de 14 anos, que alguns Estados adotam como limite de idade para responder na esfera criminal,
as pessoas que não têm esta idade não significa que elas não têm culpabilidade, o que é
culpabilidade na essência? Capacidade de compreender que o fato é errado e agir de outro
modo. Capacidade de compreender que aquela conduta é errada, errada frente ao ordenamento
jurídico e agir do mesmo jeito. Culpabilidade é isto, gente! Capacidade de compreender que o
que está fazendo é errado em frente ao ordenamento jurídico e agir mesmo assim. Todo mundo
tem isso, só não tem a criancinha mesmo. Qual é a idade ideal para isto? Não sei, 9 anos, 10
anos, 11 anos, 12 anos, 13, 14, 15, 17, 18, não sei. O que estou dizendo para vocês é o seguinte:
a pessoa de 17 ano sabe isto, a pessoa de 16, de 15, sabe, então, o problema não é com a idade, o
problema é, a questão toda é de política criminal de um Estado, de não querer tratar as pessoas
com menos de 18 anos com presídio, com pena do sistema penal, de querer dar outro
tratamento, que no nosso caso se chama, o tratamento está no Estatuto da Criança e do
Adolescente, e vamos ter medidas protetivas, medidas socioeducativas, vamos ter a
possibilidade de internação, retirada do lar em alguns casos na parte cível do ECA.
Então, tem a parte infracional do ECA e tem a parte cível do ECA. Agora, isto aí é
opção político criminal e não é questão de culpabilidade. Então quando o discurso no
Congresso: não, a pessoa de 17 sabe que está fazendo errado, o discurso não é este, todo
mundo sabe que ela está errada, a questão é: ela tem que ser tratada com o sistema penitenciário
nacional, como praticante de um crime, e ter uma etiqueta bem diferente o ato infracional ou
com outro modelo? Este outro modelo, tem que ser somente modelo de internação de 3 anos,
pode aumentar esta internação para mais tempo? Com é que se faz? Ou reduz logo para 16 anos
e vamos ver no que dá? Esta discussão tudo bem, mas a discussão de que não tem capacidade de
entender que o fato é errado é equivocado!
Então, Caio praticou um injusto, tipicidade e ilicitude, mas ele não tem capacidade
de culpabilidade, ele não é imputável, por quê? Por conta do 26, caput, que se aplica a ele.
Então, foi feito um exame de insanidade mental, os peritos responderam: É portador de doença
mental sim ou não? Sim. No momento da ação ou da omissão tinha capacidade de se
autodeterminar? Não. Tinha capacidade relativa de se autodeterminar? Não. Tinha incapacidade
absoluta, a conclusão do laudo é esta: a incapacidade absoluta de se autodeterminar. Porque é
importante, às vezes o cara é doente mental e tem capacidade relativa, e aí ele é semi-imputável,
que é o artigo 26, parágrafo único46. Mas, neste caso, cai o 26, caput, mesmo. O que se faz neste
46
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
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caso que nós aprendemos? Medida de segurança, por uma decisão absolutória imprópria. Esta
medida de segurança dura quanto tempo? Segundo o código penal, esta medida de segurança
dura por um prazo indeterminado, porque o 26, caput, tem que ser conjugado com o 97, §1º47.
Este art. 97, §1º, vai dizer assim: no prazo de 1 a 3 anos realiza exames, exame de cessação da
periculosidade, e se o exame revelar que a periculosidade continua, ele continua internado. Por
quanto tempo? Indeterminado. Se o exame de um ano revelar que ele está pronto para viver em
sociedade com todos nós, é liberado.
Então, é por isto que alguns que praticam crime grave querem levar para a
inimputabilidade, porque a medida de segurança é mais interessante para tentar maquiar e
depois demonstrar que estão curados. Os psicopatas fazem isto. Foi o que tentou fazer o
maníaco do parque em São Paulo48. Engraçado que tinha vários laudos. Tinha o laudo oficial
dizendo que ele era imputável, mas tinha vários laudos particulares dizendo que era inimputável
e tal, mas acabou que o júri decidiu que ele era imputável e ele recebeu pena. Aquele maníaco
do parque se apresentava para as mulheres como fotógrafo, as levava para o parque e lá
estuprava e matava. Interessante isto daqui pelo seguinte. Medida de segurança é aplicada se o
sujeito é inimputável, decisão absolutória imprópria. Quando for homicídio ou outro crime
doloso contra a vida. No caso de crimes dolosos contra a vida o código de processo penal, com
a alteração de 2008/2009, ele diz que na fase da pronúncia, vamos imaginar que teve a primeira
fase do procedimento do júri, com o juiz singular, denúncia, primeira instrução, no momento de
pronunciar a defesa pediu aplicação de medida de segurança, considerando o laudo juntado
demonstrado a inimputabilidade do réu. Se for a única tese da defesa, o juiz pode aplicar a
medida de segurança, mas se a defesa disser assim: meu cliente reagiu em legitima defesa.
Subsidiariamente, meu cliente é inimputável. Se a defesa apresentar outra tese que não somente
a da inimputabilidade, o juiz tem que pronunciar, porque pode ser que ele consiga no júri uma
decisão melhor que a da medida de segurança, que seria o reconhecimento que ele reagiu em
legítima defesa.
O código penal fala que o prazo é indeterminado. O STF entende que esse
prazo não pode ultrapassar 30 anos. O STJ entende que o prazo é o máximo da pena em
abstrato49. O STF no máximo 30 anos. O STJ é o máximo da pena em abstrato. Então, o
Supremo começou isto em 2005, foram duas decisões, uma do Lewandowski e uma do Marco
Aurélio. A interpretação do Supremo é; a Constituição diz que não pode existir pena de caráter
perpétuo, se não pode existir pena de caráter perpétuo também não pode existir medida de
segurança por prazo indeterminado. Então, usou a analogia e usou a seguinte argumentação
retórica: medida de segurança é espécie de sanção penal ao lado da pena. Então, disse que
medida de segurança e pena são espécies de sanção penal, isto é um contorcionismo jurídico,
porque medida de segurança não é sanção, não é pena, medida de segurança é tratamento, mas o
Supremo e o STJ50.
Agora, tem uma questão interessante aqui. Neste caso do sujeito que praticou o
injusto, mas não era culpável no momento da ação ou da omissão, não tinha capacidade de se
autodeterminar. Se durante algum exame tiver a cessação da periculosidade e ele ficar curado os
laudos em espécie indicar que ele tem que voltar, o juiz pode determinar o retorno dele ao
convívio em sociedade. Agora, temos que ter cuidado pelo seguinte: a medida de segurança
pode ser aplicada nesta hipótese e em mais duas hipóteses. Então, a medida de segurança pode
ser aplicada ali, porque ali é o 26, caput, com o 97, mas ela pode decorrer de duas outras
hipóteses, quais são as duas outras? As duas outras são as seguintes: artigo 26, parágrafo
único, combinado com o 9851. O semi-imputável do 26, parágrafo único, recebe pena. Semi-
imputável é alguém com doença mental ou com retardo mental que tinha capacidade relativa de
se autodeterminar.
Olha uma informação preciosa: ele tem doença mental, ele preenche o requisito
biológico, mas em relação ao requisito psicológico ele só preenche pela metade, certo? Porque
49
Este tema caiu em uma questão da última prova de procurador do DF, um ano atrás. O máximo da pena
em abstrato. Caiu assim, Foi até mal feita, porque não separou direitinho.
50
Você que vai fazer prova do CESPE, que é uma prova que muitas vezes não exige raciocínio, mas só
informação. Então, medida de segurança é espécie do gênero sanção penal. Verdade! O Supremo diz é
verdade! STJ diz é verdade!
51
Art. 98 - Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de
especial tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou
tratamento ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e
respectivos §§ 1º a 4º.
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ele tem capacidade relativa. Então, observem, se ele é semi-imputável ele recebe pena, tem uma
causa de redução de pena que incide na terceira fase da dosimetria, certo? Tem uma causa de
redução de pena. Então, o juiz vai aplicar uma pena reduzida a ele. Agora, se a pena não for a
melhor resposta, o juiz pode substituir esta pena por medida de segurança, então, esta medida de
segurança é diferente daquela, porque aqui não existe pena, aqui o sujeito é absolvido, chama-se
absolvição imprópria, ele não tem culpabilidade. Aqui o sujeito é condenado com a causa de
redução de pena, só que a pena não se torna a melhor resposta e o juiz substitui a pena por
medida de segurança. Esta medida de segurança tem prazo, o prazo dela é igual ao da pena. Se a
pena for de 6 anos, o máximo que ela (medida de segurança) pode durar são 6 anos. E se ele
ficou curado com um ano? Ele volta e cumpre o resto, porque ele foi condenado. Ele tem um
título e ele tem que cumprir. Ele ficou 2 anos preso preventivamente, foi condenado a 6 anos, 6
menos 2, subtração, 4 anos, o prazo máximo da medida de segurança é 4 anos, já que ele ficou 2
anos preso preventivamente. Medida de segurança substitutiva se vincula ao tempo da pena
concreta. Pena concreta é aquela da sentença. Pena abstrata é aquela que está no preceito
secundário do tipo.
Agora, existe outra medida de segurança ainda, diferente desta daqui. É igual a
medida de segurança, estou falando dos requisitos para aplicá-la que serão diferentes. Esta é do
semi-imputável cuja pena não foi a melhor resposta.52 Qual é a próxima medida de segurança?
Artigo 18353 da Lei de Execução Penal (Lei nº7.210/84). Pedro foi condenado a 13 anos de
pena, cumpriu 3 anos e foi acometido de uma doença grave, e o juiz substituiu sua pena por
medida de segurança. Esta medida de segurança pode durar o máximo de quanto tempo?
Máximo de 10 anos, porque ele foi condenado a 13 anos, cumpriu 3 anos, foi acometido de uma
doença grave, o juiz substituiu sua pena por medida de segurança, que pode durar no máximo
10 anos.
Uma informação importante: ele ficou na medida de segurança por 7 anos e aí ficou
bom, aí ele volta e cumpre mais três anos de pena. Tem gente que defende que ele está liberado,
sem noção! Porque estou falando de um título, ele foi condenado. Se fosse assim o cara que foi
condenado por latrocínio ontem a 24 anos, ficou doente por 1 ano, ficou curado por mais um
52
Foi questão de juiz do DF, que vai ter prova aí dia 19, prova objetiva, muita gente da Escola passa. É
importante ter tempo de prova, porque fazer prova é diferente de estudar. É importante fazer prova de 15
em 15 dias, saindo só para beber água e ir ao banheiro. Esta é a importância de fazer prova, pois aprende
o tempo de prova. Criar hábito de responder em pouco tempo. Sempre tem que ficar respondendo.
53
Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença mental ou
perturbação da saúde mental, o Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da Defensoria
Pública ou da autoridade administrativa, poderá determinar a substituição da pena por medida de
segurança.
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ano, estaria liberado, 2 anos. Perceberam o raciocínio que não tem lógica. O sujeito é condenado
a pena, tem um título. Ele ficou doente depois, e o Estado tem o direito de executar o título,
claro, ele tem direito a progressão de regime, tem direito a tudo, induto parcial que acontece.
Ficar preso hoje é muito difícil, nós vamos ver isso durante nossas aulas. Eu espero que vocês
aqui não decidam cometer crimes, porque quem vê fica tentado, porque é muito difícil.
Então, observe, esta é a primeira corrente que diz que a compreensão da ilicitude
importa uma compreensão de valores éticos e sociais inseridos no meio social. O André
Vinícius54, ele fala que esta é a primeira, mas ele não concorda, porque direito não se confunde
com ética, mas boa parte dos livros nacionais e dos antigos falam que a consciência da ilicitude
é adquirida como o ar que se respira. No dia-a-dia em sociedade que você encorpara os valores
éticos e sociais. A segunda corrente diz que a compreensão da ilicitude é a compreensão do fato
em frente a todo o ordenamento jurídico. Então, a sua compreensão que aquele fato é errado em
54
Que já foi examinador do concurso do MPDFT por três vezes, ele não concorda com isto, ele tem um
artigo chamado Consciência da Ilicitude.
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frente todo o ordenamento jurídico. Pode ser errado em frente ao direito penal, em frente ao
direito civil, é uma compreensão em frente todo o ordenamento jurídico.
Quando alguém alega erro de proibição, vamos ver lá na frente, ela tem que
demostrar o que? Que ela não sabia que aquilo que ela fez é errado em frente às normas de
convivência em sociedade, em frente ao ordenamento jurídico, em frente ao ordenamento
jurídico penal. Ela acreditava que fosse correto. Os autores clássicos diziam assim: alguém está
alegando o erro, vou explicar isso depois, que não se confunde com erro de proibição o dolo
também estava indo para o lugar distinto. Alguém está alegando erro de proibição, pergunte se o
que ela fez a outro ela gostaria de ser feito a ela. Então, é difícil o erro de proibição hoje, diante
da globalização de informação, etc. É difícil, mas é possível. Tem caso de pessoas que casam
pela segunda vez e não mentem, o cara não mente, casei e separei, estou na cidade grande, e
estou casando de novo, assisto novela, e aí eu vou ao cartório. Tem impedimento? Impedimento
para ele foi o cara marcou ontem no Argentino X Paraguai. Ele não sabe o que é impedimento.
Então, não tem impedimento, eu a amo e ela me ama, não tem impedimento. Então, este aí é um
exemplo de bigamia de um sujeito, que não há uma comunicação entre os cartórios, esta
comunicação boa no Brasil de informações só na Receita Federal que arrecada.
55
Art. 169 - Apropriar-se alguém de coisa alheia vinda ao seu poder por erro, caso fortuito ou força da
natureza:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
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a ignorância da lei, porque a ignorância da lei é um desconhecimento formal da lei, não exime
ninguém, está no artigo 2156 do código penal. É uma mera atenuante do código.
No projeto do novo código que está no Senado vai até sumir esta frase do artigo 21,
porque não precisa dizer que a ignorância não beneficia ninguém. A ignorância da lei é
inescusável, diz o legislador no artigo 21. Não beneficia ninguém. O cara não responde por
crime se o cara falar assim: Eu não tinha conhecimento de que estava isto no artigo 171, 180.
Inclusive, é interessante, existe uma modalidade de erro que se chama erro de subsunção, que é
o erro do cara que acha que está praticando o 180, mas está praticando o 171, que acha que está
praticando o 297, mas está praticando o 157, do sujeito que faz o erro de subsunção, de
adequação do fato dele a lei. Isto não beneficia ninguém, o importante é que ele sabe que isto
aqui é errado, que a consciência de ilicitude que ele tem. E não precisa ter consciência da
ilicitude real não, basta a possibilidade de saber que é errado. Então, este é o elemento, o que
está aqui: possibilidade de saber que é errado. O erro de proibição inevitável afasta a
consciência da ilicitude, artigo 21.
supralegal de conduta diversa e a outra prova era sobre tipicidade conglobante, isto todo
mundo sabe o que é, mas naquela época não. E naquela época inexigibilidade supralegal era
raro, raro. Então a exigibilidade é a possibilidade de agir de outro modo. Agora, existem fatores
legais previstos em lei que afastam esta exigibilidade e existem fatores supralegais que
também afastam esta exigibilidade. Quando se trata de hipóteses supralegais que não estão
previstas na lei, mas são reconhecidas pela doutrina e jurisprudência, falamos em
inexigibilidade supralegal. Quais são as hipóteses legais? Artigo 2259, do código penal, coação
moral irresistível e obediência hierárquica. São hipóteses legais que afastas a exigibilidade de
conduta diversa.
Não entendi professor? Então, vai lá agora, com linguagem de pizzaria, trailer e
cachorro-quente da Asa Sul. Vamos lá! Um gerente de um Banco do Brasil, lá no Guará, lá em
Águas Claras, Taguatinga, Asa Sul, Asa Norte, acabou de receber na sua sala dois sujeitos que
falaram assim: Acabamos de pegar a sua família, está aqui a filmagem. Eles entraram sem arma
no banco, sem nada. Aqui a filmagem. Está todo mundo lá no mato com a nossa equipe. Vamos
matar um por um se você não abrir o cofre, é simples. Ele (o gerente) abre e entrega o dinheiro.
Você faria a mesma coisa! Eu também faria, imediatamente! Então, o gerente foi alvo de uma
coação moral irresistível. Não é coação física, é coação moral irresistível. O gerente, em tese,
praticou um fato típico e ilícito, porque nós estamos falando de culpabilidade, e se estamos
falando de culpabilidade o sujeito já preencheu tudo lá atrás, tudo bem? Então, ele praticou um
fato típico e ilícito. Então, os sujeitos vão responder por todos os crimes que fazem parte desta
situação. Vão responder por tudo. Agora, o gerente não vai responder por nada e ele praticou
um fato típico e ilícito. Em tese, o gerente praticou conduta, tem tipicidade, tem dolo, tem
ilicitude, mas dele não se exige outra conduta.
59
Coação irresistível e obediência hierárquica
Art. 22 - Se o fato é cometido sob coação irresistível ou em estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico, só é punível o autor da coação ou da ordem.
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partícula às vezes não, por exemplo, abandono de um trabalho de um particular, justa causa e
vai embora, abandono da função de um funcionário público do cartório é crime, artigo 323 60.
Então, no direito penal é mais complexo.
caixa da empresa, empresa quebrada, empresa falida faticamente, e destinado este último valor
para pagar os salários dos empregados. Desde que não haja fraude, porque tem gente que
argumenta por esta linha e oculta o dinheiro. O que o Ministro fez foi reconhecer o que a justiça
federal já reconhece a um tempão, que é dizer que é uma hipótese de inexigibilidade supralegal
de conduta diversa. Casos de empresário já falidos pegaram o último dinheiro do caixa e
pagaram os salários dos empregados e não recolheu com aquele último dinheiro o valor
previdenciário, o valor da contribuição. Esta é uma hipótese supralegal, desde que não haja
fraude. Também é uma hipótese supralegal aquilo que a doutrina classifica como excesso
intensivo exculpante, também é uma hipótese supralegal.
mais conhecimento técnico. Então, excesso intensivo exculpante decorre de medo, susto,
perturbação do ânimo. Senhores jurados, tinha uma previsão no projeto de código de 1969, não
entrou, mas a doutrina reconhece, está aqui. O Ministério Público não fala, mas está aqui. Então,
excesso intensivo exculpante é uma hipótese que afasta a exigibilidade de conduta diversa.
Estou brincado, mas o exemplo da doutrina é que isto acontece dentro de uma cela
com duas pessoas. O cara fala que vai matar o outro e ele já matou muitos, e em um banho de
sol: O louco que está comigo lá na cela disse que vai me matar! Os caras olham para ele e
dizem: E vai mesmo! Ele já fez isto com cinco. Aí ele fala lá no presídio e tal, mas ele está em
uma cela com muita gente, e aí não tem prova e ninguém é impedido, investida não tem. Ele vai
para outra cela, mas não impede, o cara disse que vai matar pelo sistema e mata. O que este cara
faz? Eu na situação dele mataria o cara que ameaçou de me matar antes. Eu fiz um levantamento
de campo e todo mundo disse que ele vai me matar mesmo. Neste momento sem emoção, tem
que ser racional. Ou eu ou ele. E eu não vou esperar ele vim não, porque ele pode vim e eu
estou dormindo. Eu vou pegar quando ele estiver dormindo. Muito bem! Fez isto! Não é
legítima defesa, porque legítima defesa tem que ser quando a agressão é atual ou iminente. É
crime. Mas, não poderia ser examinada, neste caso, dentro do sistema carcerário, uma
inexigibilidade de conduta diversa? Então, esta ‘legítima defesa’, que não é, preordenada, não
poderia ser, neste caso, uma inexigibilidade de conduta diversa? O Rogério Greco disse que
sim, está na obra dele. Este é o exemplo que está na obra dele. Interessante!
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Lembra da boia de salvação? O navio afundou e só tem um aboia, e não tem jeito.
Eu posso destruir o patrimônio de uma pessoa para salvar uma vida, porque o patrimônio é um
bem jurídico de menor valor do que a vida. Agora, é claro se for contra quem causou o perigo
eu não preciso indenizar, mas se for contra quem não causou o perigo, eu preciso indenizar. Por
isso que se fala em estado de necessidade agressivo e defensivo. Defensivo contra quem causou
o perigo. Então, você foi a uma festa em uma casa aí de alguém que acabou de passar em um
concurso, e ele viu que o Congresso ontem deu um aumento lá que vai acontecer, então, ele já
está calculando tudo, e ele já está pensado no consiguinário. Então, ele deu a festa e ele colocou
fogo nos móveis em determinado momento, depois de beber, falando que era para trocar tudo.
Pensamento de funcionário público, endividado, consignado, que quer sempre gastar. Muito
bem! Mas, nada contra, desde que você gaste pelo menos para empatar. Aí, ele botou fogo, e ele
estava na janela, para lá e para cá, atrapalhando a sair a fumaça, e todo mundo tossindo. O que
você faz? Dá um empurrão nele e pula da janela. Ele criou o perigo. Ele se lesionou um pouco.
Estado de necessidade defensivo. Ele que causou o perigo. Não tem nenhuma hipótese de
reparação do dano, nada da minha parte. Agora, se for quem não causou o perigo? Aí o estado
de necessidade é agressivo, você precisa indenizar. Ás vezes você tem que jogar o carro no
muro de alguém, porque perdeu o freio, para salvar a sua vida, mas tem que construir o muro de
63
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que
não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício,
nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo. (Redação
dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a
dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
64
Isto foi questão da última prova da Defensoria Pública da União, isto tem menos de seis meses. O
pessoal aqui da escola fez inclusive. Ainda bem que foi depois da aula.
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novo né! Porque aí o estado de necessidade é agressivo, o dono do muro não tem nada a ver
com o estado de necessidade seu.
Depois vamos ver sobre isto, é a questão do bem jurídico disponível ou não, vamos
ver. Mas estou dizendo o seguinte, o patrimônio tem valor menor que a integridade física. Mas
ele não matou, ele lesionou. A lei penal fala o que neste caso? A lei penal do código. O juiz
pode no máximo reduzir a pena, §2° do artigo 24 65. O que o Bitencourt e o Regis estão falando:
olha, a hipótese de estado de necessidade exculpante, sacrifício jurídico de valor maior, que
pode ser examinado como uma inexigibilidade de conduta diversa, não pode ser examinado
65
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que
não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício,
nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
§ 1º - Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
§ 2º - Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida
de um a dois terços.
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como excludente de licitude, o código veda, mas pode ser examinado como? Inexigibilidade
supralegal de conduta diversa. Pode ser examinado aqui, como inexigibilidade. Não estou
dizendo que eu matei para salvar um patrimônio, estou dizendo que eu lesionei alguém para
salvar um grande patrimônio. Claro que aí vai ter a obrigação de reparar um patrimônio e tal,
mas tem que responder por um crime neste caso? Ou pode ser sua conduta afastada por uma
inexigibilidade de conduta diversa?
Aluna: Professor, vou te dar duas situações que tenho dúvida. Vamos supor que em um túnel a
pessoa está passando com um carro e uma pessoa para com uma arma na frente do carro dela, e
não tem como ela desviar, ela tem que passar por aquele caminho, se ela acelera e
eventualmente atropela a pessoa, é o que?
Aluna: Na minha opinião é legítima defesa, mas eu já tive um professor que não considera.
Aluna: Ele falou...ele era juiz da VEP. Aí, ele falou que acha que você não pode matar alguém
sem ter certeza que esta pessoa queria te matar, porque...
Aluna: É
Aluna: Deveria ser tipo assim, se ele virasse para o cara que estivesse do lado e falasse assim:
Atira! Aí sim você teria possibilidade de seguir em frente.
Professor: Então, tá! Eu estou fazendo ela colher o máximo de informação. Então,...continue!
Para ele tem que virar para a pessoa...tem que ter certeza que vai atirar?
Aluna: Exatamente.
Aluna: Aí outra situação que dei é que você está vindo com o carro na mesma situação e
alguém deita na frente do seu carro, para força você a parar. Não tem arma, não tem nada. A
pessoa deitou, só que estava à noite, sei lá, de madrugada, aí se você poderia também, caso não
tivesse outra solução, passar por cima.
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Professor: O seu segundo exemplo é mais complexo, vamos falar sobre ele. Só lembrando: vou
responder estas perguntas, mas estas perguntas não tem nada a ver com culpabilidade. Nem com
estado de necessidade. Estas perguntas envolvem legítima defesa, que é um tema que vamos ver
lá na frente e que não estudamos ainda os requisitos, então, vai sempre faltar alguma coisa na
cabeça de alguém ai quando eu der a resposta, porque quando você estuda os requisitos todos
você entende o que eu estou falando, mas aí é isso, isto não pode, por isto, por isto.
Primeiro, não existe legítima defesa sem ânimo justificante, no modelo brasileiro se exige isto,
que é o elemento subjetivo. Então, se alguém está batendo na porta da minha casa dizendo que é
policial, que veio me prender, que está com mandado, e eu pego uma 12, não o vejo, e querendo
matar o policial eu dou um tiro que derruba a porta, uma espingarda calibre 12, e mato a pessoa.
Prova-se depois que era o pior ladrão da comunidade querendo me matar e depois matar todo
mundo em casa. Objetivamente é legítima defesa, não é?! Mas não houve legítima defesa,
porque eu quis matar um policial, eu não quis reagir em legítima defesa.
O modelo brasileiro exige o ânimo justificante em todas as excludentes de ilicitude. Então, para
ser beneficiado pela legítima defesa você tem que querer se defender. Para ser beneficiado pelo
estado de necessidade você tem que querer agir em estado de necessidade. Para ser beneficiado
pelo estrito cumprimento do dever legal você tem que querer agir no estrito cumprimento do
dever legal. Para ser beneficiado pelo exercício regular do direito você tem que querer agir no
exercício regular do direito. Ponto um, ok?!
Ponto dois. Tem vários requisitos na legítima defesa, não vou falar disso, já vou dar a resposta
já. Assim, se tem uma pessoa apontando uma arma e eu estou com o carro, como você colocou
muito bem. Estou em um túnel e só tem uma opção, eu passo por cima dele com certeza, porque
é legítima defesa? Porque quem está com a arma apontando está na eminência de atirar. A
legítima defesa não exige agressão atual, é agressão atual ou iminente. Ponto um. Segundo. Ele
não tinha tiro coisa nenhuma, ele estava de brincadeira, era uma arma de brinquedo, eu vou ser
beneficiado por um erro de tipo permissivo escusável e inevitável, previsto no artigo 20, §1º 66,
que é o mesmo da legítima defesa putativo imaginário. Então, tranquilo, ou será legítima defesa
66
Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição
por crime culposo, se previsto em lei.
Descriminantes putativas
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato
que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é
punível como crime culposo.
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real, se for uma arma de verdade com capacidade de efetuar disparos, ou será legítima defesa
putativo. Não tem alternativa.
No segundo exemplo é mais complexo. Uma pessoa deitou na rua e eu venho com o carro, não
tem como passar, é tarde da noite, 2h. Depende. Eu estou perto de uma favela do Rio de Janeiro
onde todo mundo faz isto para poder abordar a pessoa. Eu tinha como acreditar que ele estava
ali para me roubar, aí vou ter que agir com erro de novo. Erro lá. Era verdade, ele queria me
roubar mesmo. Houve excesso então, eu passei por cima dele. Tinha alternativa? Não tinha.
Então, não houve excesso, é legítima defesa. Ponto. Ele estava só de brincadeira, mas eu tinha
como acreditar que não era brincadeiras, pelas circunstancias do local, os fatos que já tinham
acontecido no local. Erro de tipo permissivo, Teoria Limitada da Culpabilidade, itens 17 e 19 da
Exposição de Motivos, mitigou o Finalismo, artigo 20, §1º, vamos falar sobre isto.
Aluna: Não entendi porque ele está escusável no caso da arma? No exemplo.
Aluna: Concordo!
Professor: Então, tá! Agora se você falar assim: Ele queria me roubar, é ameaça. Mas, seu eu
falar assim: Ele queria me matar, não é agressão real, porque arma de brinquedo não mata,
certo?! Arma de brinquedo não mata, concorda?!
Aluna: Concordo!
Professor: Então, é agressão? Eu quero te matar com a arma de brinquedo, estou apertando ela
aqui. Eu quero te roubar com a arma de brinquedo, é grave ameaça. Aí, é legítima defesa real.
Eu quero te matar com a arma de brinquedo, não mata. Aí, é legítima defesa putativa.
Professor: Porque o erro é inevitável, sim, porque o erro é escusável, é inevitável. Tem como
exigir da pessoa outra coisa nesta situação?
Aluna: Sim! Entendi! Mas quero entender também o exemplo do cara que coloca o dedo por
dentro da camisa.
Professor: Legítima defesa putativa. Aí vai ter que analisar o caso concreto para saber se é
inevitável ou evitável, é diferente. Perfeito! Esta é uma tese usada em 99% dos júris. São dois
inimigos jurados de morte, é o exemplo clássico da doutrina. Eles têm 10 ocorrências
registradas, uma contra o outro, dizendo que vai matar. Os dois se encontram em uma rua escura
à noite, e um enfia a mão no bolso. Neste caso tem como o cara acreditar que é isto. Agora,
acaba que a tese é muito bagunçada, né?! No dia-a-dia; e acaba caindo. No dia-a-dia as pessoas
não acreditam que na verdade o cara usa este argumento para executar, por isso que o erro tem
que ser realmente inevitável. O exemplo na mão no bolso nem sempre. Este exemplo dela dá
para falar que é inevitável. Estou no túnel né?! Tem uma pessoa apontando uma arma para mim.
Eu passaria por cima sem dó. Vocês têm que ter muito cuidado com isto, sabe por quê?
Aluna: Tem gente que fala que arma de fogo é evitável. Quer dizer, a arma de brinquedo.
Professor: É o que?
Aluna: Evitável.
Aluna: Perdão! Aquelas armas de brinquedo que são muito similar a real, porque tem umas que
dizem que dar para perceber.
Professor: Nem erro foi. Não houve erro. Se a arma é parecida com a verdadeira é grave
ameaça. Um dedão debaixo da camisa é grave ameaça. Passa a carteira, rouba; dedão; arma de
brinquedo, roubo; roubo do caput. A única diferença é que a arma de brinquedo caracteriza o
roubo do caput. A arma verdadeira, com a capacidade de efetuar disparo, caracteriza o roubo do
§2°, inciso I67. Só isto. Arma verdadeira majora, arma de brinquedo, não.
67
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa.
§ 1º - Na mesma pena incorre quem, logo depois de subtraída a coisa, emprega violência contra pessoa ou
grave ameaça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
II - se há o concurso de duas ou mais pessoas;
III - se a vítima está em serviço de transporte de valores e o agente conhece tal circunstância.
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Gente, eu só permiti esta abertura para outras perguntas, porque estava no final da
aula, tá?! Mas, não tinha relação. Então, tem outras hipóteses de inexigibilidade de conduta
diversa supralegal, falamos na próxima aula. Só para encerrar aqui. Legitima defesa é um caso
que meio necessário e uso moderado envolve valoração do intérprete. Então, às vezes as
conclusões são diferentes mesmo. Querem um exemplo? Entrei no Ministério Público, 4 meses
de MP. Estava no júri do Gama, Santa Maria, e fui para o júri da Ceilândia. Olha o caso! Um
cidadão entrou no bar: Todo mundo! Passa a carteira! Passa a carteira! E tinha um polícia à
paisana. Ele estava lá bebendo, estava de folga, e tal. E aí, o 38 do policial estava dentro da
jaqueta. O ladrão colocou todo mundo para dentro do balcão: Passa, passa aqui, a jaqueta,
passa a carteira! E todo mundo foi passando. O policial não tinha achado o momento de reagir
ainda. Aí, quando ele vacilou, o policial tirou a arma e colocou debaixo, aí: Passa a carteira!
Passa a blusa! Em determinado momento o policial reagiu. Conseguiu. Deu 6 tiros no cara em
pé. O cara recebeu 6 tiros em pé, no 38. 38 não é automático não, tá?! 38 não é arma, arma é
ponto 40. Arma que você tem que dar 6 tiros para derrubar uma pessoa não é arma. Aí, ele foi
andando, caiu vivo, veio a ambulância, pegou o cara, e ele morreu no caminho do hospital. O
policial impediu que o pessoal do bar tirasse a face do cara, corta-se pedaço, linchasse depois do
tiro. Ele impediu. Ele reagiu e impediu que o pessoal do bar fizesse isto. Ele ligou e pediu
socorro. Moral da história: um colega denunciou por excesso. O juiz não, preste atenção, o juiz
não recebeu. O colega, recurso. O Tribunal recebeu e entrou no mérito, e pior que caso que o
Tribunal entra no mérito assim, dando aqueles argumentos e tal, o plenário tem mais chance de
condenar, porque foram vários desembargadores e tal. Eu peguei o processo andando, o que eu
entendi? Legítima defesa. Entendi como juiz e acabei com o processo. Ou seja, no mesmo
processo. Então, assim, meio necessário e uso moderado, é algo valorado. Agora, neste teu
exemplo do túnel, não dá. Isto aí não. Não dá. O sujeito está apontando a arma para você; você
está de carro; só tem como passar por ali; seu vidro não é blindado; você não tem como dar ré.
Não dá. Isto é legítima defesa. Então, assim, depende.
O último para irmos embora! Isto aqui é conhecimento de preso. Estes exemplos
dela é direito penal de preso. Então, aqui, ele apontou a arma para o cobrador, o adolescente:
Passa! Passa! Passa! Um policial não estava fardado dentro do ônibus e outro adolescente lá na
frente. Quando um adolescente vacilou o policial estourou os miolos dele e trocou tiros com
IV - se a subtração for de veículo automotor que venha a ser transportado para outro Estado ou para o
exterior;
V - se o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade.
§ 3º Se da violência resulta lesão corporal grave, a pena é de reclusão, de se
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outro. Fantástico. Não é fantástico, porque morreu pessoas. Agora, objetivamente, nós temos
que fugir da emoção na interpretação da lei. Dogmática é importante, porque dá segurança
jurídica. O que é para você tem que ser para mim. Este é o nosso problema de interpretação do
direito penal. Legítima defesa de terceiro. Não, não, é excesso! Ele estava com a arma apontada
para o cobrador! Tira a arma aí e joga a outra arma também no chão, viu?! Com os dois
armados! Tem chance de o policial fazer isto?! Não tem. Chegou o inquérito. O que faria muita
gente? Denunciaria para discutir isto em juízo. Aí, você etiqueta o cara com um processo penal.
Então, você tem que ter capacidade...Isto não é fugir de direitos humanos. Eu estou pronto para
qualquer debate de direitos humanos neste sentido. Defendo os direitos humanos. Defendo a
Constituição. Os direitos fundamentais todos nós temos que defender, sejamos professores,
promotores, defensores, advogados, policiais. Agora, a lei disse que é legítima defesa. A lei
disse. Ele ainda trocou tiro com outro. O problema dele pode ser um problema disciplinar,
administrativo. Qual é o problema? Vamos imaginar que aquela polícia ali tem um padrão de
conduta que nestes casos tem que esperar acontecer e atuar depois. Vamos imaginar. Tem uma
norma de conduta que diz que eu tenho que agir assim, mas esta norma não afasta a lei penal.
Neste caso é legítima defesa, porque ele poderia ter matado o cobrador. Quando mata o
cobrador fala: Por que não agiu? Quando mata o cara fala: Poderia ter esperado! A valoração
do meio necessário do uso moderado tem que ser respeitada. Eu respeito sua opinião se você
pensar diferente de mim, neste caso. No caso do túnel acho que não cabe segunda opção, mas
respeito a opinião. O uso moderado do meio necessário envolve juízo de valor. Quando envolve
juízo de valor, a opinião pode ser uma ou pode ser outra. Sabe qual é o meu receio nestes casos,
gente? Eu acho que o juízo de valor aqui tem que ser em favor de quem reage em legítima
defesa. Agora, tem caso de excessos. Dei um tiro, afastei a injusta agressão. O cara está no chão.
Posso atirar novamente? Posso, mas tarei cometendo um crime; e quando eu cometo um excesso
eu dou direito a ele de reagir em legítima defesa sucessiva. A legítima defesa sucessiva é a
reação contra o excesso. Neste caso do policial eu arquivei também. Tranquilo. Sorte dele que
caiu na minha mão.
1. Comentários iniciais
Na aula passada falamos de culpabilidade no modelo finalista e caiu na
última prova aberta do MP/SP justamente esse tema. Já tinha caído na prova oral no dia
68
Degravador(a): Marcela
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29/06 e uma das questões da prova aberta foi justamente sobre culpabilidade. A questão
foi a seguinte:
69
É um tema que cai muito em prova.
Página 87 de 380
Nós vimos aquele caso de uma legitima defesa prévia, que não se admite
como legitima defesa, mas se for dentro de uma cela, onde dois presos, um que já
matou várias pessoas e esteja ameaçando o outro e esse outro venha a matá-lo,
poderia ser uma inexigibilidade supralegal.
Seria aquele caso que está no informativo 612 do STF70. A transcrição feita
pelo Ministro Ayres Britto sobre o empresário que deixou de recolher o valor da
previdência para pagar o salário dos empregados diante de uma falência fática da
empresa.
A doutrina coloca também algumas situações de sujeito que age com crença
ou com consciência, ele professa determinada fé e em homenagem a isso ele age com
base nessa crença e em razão disso acaba cometendo um crime. Essa é uma questão
bem discutida.
Exemplo: têm pessoas que não permitem a transfusão de sangue, pois fazem
uma interpretação do Pentateuco, testemunho de jeová, por exemplo. O Pentateuco
reuni os cinco primeiros livros da bíblia e fazem a interpretação não
admitindo/fazendo a transfusão sanguínea. Então, se os pais de uma criança, que
precisa de uma transfusão de sangue, não permitem a transfusão de sangue,
poderia ser visto como inexigibilidade? Nessa condição não! Pois a vida, nesse
caso, prepondera sobre o direito a crença/fé. Ambos são valores constitucionais, mas
a vida prepondera. Dessa forma, eles têm que responder pelo crime se assumiram o
risco de impedir a transfusão de sangue e se isso gerou uma lesão ou morte a criança.
Outro exemplo é o abate de aeronaves. Temos uma lei específica hoje que
permite que a aeronáutica abata aeronaves que entrem no espaço aéreo brasileiro sem
autorização quando não aceitam a ordem para pousar no aeroporto mais próximo que
70
http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo612.htm
Página 88 de 380
tem ali. Isso é o que? Pois você está autorizando matar, ou seja, você está
autorizando que um caça da aeronáutica possa derrubar a aeronave invasora, quando
esta afirma que não vai descer (pousar) e, portanto, isso pode significar uma situação
de risco. Nesse sentido, indaga-se: isso é um estrito cumprimento do dever legal, já
que tem uma lei que permite isso ou é uma inexigibilidade de conduta diversa?
Essa é uma questão aberta ainda para discussão.
71
Conforme o Professo, o termo “dupla valoração”, será encontrado em provas de concurso. Ademais, até
agora, quem já viu o roteiro 1 (um) que o professor disponibilizou, vai perceber que o que se cobrou de
Teoria Social da Ação nos concursos do Brasil foi justamente isso, isto é, o conceito de ação como
conduta humana socialmente relevante e a dupla valoração do dolo e da culpa.
Página 89 de 380
valoração”, pois tanto o dolo como a culpa estão na culpabilidade como no fato típico. 72
Deste modo, eles interpretam o dolo e a culpa em dois momentos.
O dolo do fato típico, para vocês terem uma ideia, é igual ao dolo do
finalismo, e o dolo da culpabilidade é o ânimo interno do agente desaprovado. É o baixo
valor que o agente dá ao bem jurídico. É o desprezo do agente ao bem jurídico.
Exemplo: “x” mata “y” para praticar sexo com cadáver - a vontade de matar “y” e a
representação do meio é uma faca, ou seja, é o dolo natural do fato típico. A vontade
de “x” matar “y” para praticar sexo com o cadáver (trocar a vida de uma pessoa para
fazer sexo com o cadáver) é o menosprezo dele frente ao bem jurídico que seria o
dolo e a culpabilidade. Então, dolo da culpabilidade é esse ânimo interno do agente
desaprovado.
No Brasil, isso não é adotado, é apenas uma tática de aula. Então, no Brasil,
isso seria um homicídio doloso por motivo torpe. A motivação torpe no Brasil não é um
novo dolo, é uma finalidade que caracteriza uma qualificadora no caso do homicídio,
por exemplo. Não constitui um novo dolo.
72
O professor afirmou que vamos encontrar isso em itens de prova para misturar com o finalismo, para
dizer que o finalismo adota a teoria da conduta socialmente relevante, para dizer que o finalismo adota a
teoria da dupla valoração do dolo e da culpa. E isso é mentira! Quem adota é a Teoria Social da Ação.
Página 90 de 380
Professor: A culpa é a que nós conhecemos mesmo, só que eles falam que ela está
em dois momentos. A culpa da culpabilidade entraria naquele conceito de culpa,
porque a culpa é normativa, por exemplo, a culpa do fato típico eu tenho os elementos
da culpa do fato típico (que a gente vai ver lá na frente, aqui só estou classificando
como esqueleto, mas nós vamos ver isso melhor lá na frente). A culpa do fato típico
é conduta, nexo causal, resultado, inobservância do dever objetivo de cuidado,
tipicidade, previsibilidade objetiva. Na culpa da culpabilidade a gente vai analisar
elementos psíquicos, então, previsibilidade subjetiva. A gente vai ter que analisar as
condições do agente no caso concreto. Não vou na culpa da culpabilidade comparar o
agente com o homem médio. Para o agente ser comparado com o homem médio só na
culpa do fato típico. Na culpa da culpabilidade eu comparo o agente com ele mesmo,
ou seja, com as condições dele para evitar o resultado. Isso a gente vai ver lá na
frente. Regis Prado chega a dizer que a previsibilidade subjetiva é toda culpa da
culpabilidade, mas nós vamos ver isso lá na frente em uma aula específica.
Agora, isso aqui, foi para tentar superar o finalismo, pois o finalismo não
explica finalidade em um crime culposo. Tudo isso foi só por essa razão, isto é, para
73
Já caiu isso em prova de concurso.
Página 91 de 380
superar a finalidade no crime culposo. Isso ganhou espaço? Não! No Brasil, não
ganhou espaço, a obra de Juarez Tavares de 1980 vai tratar sobre isso aqui (obra:
Variações e Tendência na Teoria do Delito). Tem uma obra também de 1999, chamada
“Estrutura jurídica do crime” de Fernando Galvão e Rogério Greco, que do mesmo
modo trata da Teoria Social da Ação, mas não ganhou espaço.
3. Funcionalismo:
Entramos agora na parte principal de Teoria do Crime, que é a teoria
funcionalista, pois o resto vocês já tinham conhecimento. Alguns viram funcionalismo
na faculdade e outros não. Então, entraremos agora em uma parte que vai exigir um
pouco de abertura da mente, pois o importante é a interpretação do sistema penal e
menos a forma e os institutos.
como intérprete guia o direito penal com valores de Política Criminal e não com os
dogmas, código, lei seca. Desse modo, o Direito Penal vai ser guiado com os princípios
de Política Criminal, essa é a expressão de Roxin.
Esse projeto não foi aprovado e o Código Penal Alemão continua sendo o
do século XIX. Por outro lado, o referido projeto ganhou muito destaque nas obras de
doutrinadores e também nos ordenamentos do resto do mundo (Europa e América
Latina). Aliás, muitos códigos da América Latina que seguiram depois, beberam dessa
fonte do projeto alternativo que não foi aprovado.
Nesse diapasão, até esse momento, tínhamos uma distância entre política
criminal e direito penal. Portanto, Roxin que vai dizer que a Política Criminal que vai
guiar o Direito Penal. Na visão do referido autor, os valores de política criminal, nessa
obra, vão dominar a dogmática e o direito penal. A dogmática foi o que estudamos na
faculdade, quer dizer, os artigos do código penal, os institutos penais (alguns estávamos
citando desde a primeira aula).
75
Esse livro foi traduzido pela editora RENOVAR. Ademais, o professor colocou na secretaria um artigo
do Roxin para tirarmos cópias.
Página 93 de 380
Logo, a Política Criminal que vai dominar, mas dominar como? Quando
estivermos diante de um artigo do Código Penal que dá uma solução para o caso
concreto, mas não achamos interessante, usaremos os princípios de política criminal e
ignoraremos aquele artigo. Roxin está dando, portanto, ao intérprete, uma abertura na
interpretação.76
falamos isso, estamos mudando tudo que estudamos na faculdade, porque conforme
entendimento de Roxin o Código Penal não é o mais importante. Nós teríamos que
aprender na faculdade, princípios, boa filosofia, valores constitucionais, bens
constitucionais, a função do direito penal e principalmente a consequência da pena. É
um modelo de consequências, é um modelo onde a Teoria da Pena é mais importante do
que a Teoria do Fato Típico. Então, mais uma vez, Roxin trabalha a Política Criminal
como principal fator.
Com relação ao fato criminoso, ele vai afirmar que o fato criminoso é o
injusto responsável. Então, fato criminoso é o injusto mais a responsabilidade. Isto é,
aprendemos que o crime é o fato típico, antijurídico e culpável e Roxin diz que o crime
é o injusto responsável. Quando ele fala em injusto responsável ele está falando de
quê? Injusto é formado pelo quê? Tipicidade e ilicitude. Responsabilidade é
formada pelo quê? Culpabilidade mais a necessidade do bem. A culpabilidade é a
mesma que conhecemos, o que acrescenta é a necessidade de pena. Portanto, para
Roxin, o crime é o injusto responsável, mas sua maior preocupação é a interpretação do
direito penal no sentido de ser guiada pela política criminal e propõem um rompimento
com o finalismo.
Observe que esse modelo dele só tem razão de ser se não houver função
retributiva, porque se houver, sempre terá que apenar o sujeito. Então, esse modelo só
sustenta numa Teoria da Prevenção, já que nem sempre haverá necessidade de
prevenção, mas a retribuição sempre existe, é o mau com o mau.
Seria a seguinte situação: a mãe que matou culposamente o filho (não tem a
necessidade de pena, pois não trará benefício nenhum, o sofrimento já foi “muito”
para ela).
Entretanto, não é automático, tem que ficar demonstrado. 78 Desse modo, nem sempre
uma mãe que mata culposamente o filho receberá o perdão judicial conforme
entendimento do STJ que confirmou decisão do TJ/SP. Tem que ficar demonstrado o
sofrimento da mãe.
O que Roxin está falando é que em todo sistema penal teríamos que sempre
analisar a necessidade de pena. O professor contou um caso que sempre conta para
entendermos isso:
“Quando eu passei no concurso aqui, uns três anos depois, já tinha um colega meu
que tinha passado no Espírito Santo e ele foi fazer um júri interessantíssimo. Tinha 12
anos que já tinha acontecido o homicídio. O cara estava bêbado e matou o outro. O
homicídio tinha acontecido na cidade de Colatina e o cara (que cometeu o crime há
12 anos atrás) se mudou para uma cidade bem próxima e ninguém se interessou em
buscar/procurar o sujeito. Passados os 12 anos, esse cara nunca mais tinha cometido
qualquer crime, ele tinha virado comerciante e foi pedir a segunda via da identidade
em Colatina. Quando ele foi pedir a segunda via da identidade o sistema registrava
mandado de prisão. O meu colega fez o júri e condenou o acusado, com a pena alta de
12 a 30 anos por homicídio qualificado. Eu estou dando um caso muito complicado,
pois é homicídio. Não existe cálculo/regra matemático(a). O que Roxin está falando
é o seguinte: você tem que analisar tudo. Um caso como esse pode ser ilícito, típico e
culpável, mas pode ser que não houvesse necessidade alguma de pena, pois o sujeito
jamais praticou outro crime, mas a família da vítima ainda exigia isso, pois foi uma
morte. Roxin, aqui, admitiria uma redução de pena, condenação sem essa gravidade
toda ou até quem sabe uma absolvição por desnecessidade de pena”.
78
Não é automático, há um julgado interessante sobre isso no STJ, mas nós vamos ver mais para frente.
Página 96 de 380
Nesse prisma, o sistema de Roxin quebra todos os paradigmas que aprendemos, não é
fechado, permite essa abertura. Agora, não quer dizer que não haverá condenação
num caso desses, pode haver sim, mas o sistema é aberto.
O Direito Penal, existe para proteger os bens jurídicos principais. Isso está
presente no funcionalismo de Roxin, mas atenção! NÃO está presente no
funcionalismo do Jakobs. A função do Direito Penal de Roxin é a proteção dos bens
jurídicos principais.79
“Funcionalismo Teleológico - Para Roxin na sua obra que inaugura essa visão
moderna de Política Criminal atrelada ao Direito Penal, o Direito Penal deve ser
guiado pelos princípios políticos e criminais na compreensão axiológica do sistema
penal com o rompimento do modelo ontológico do finalismo. Entende o autor que o
Direito Penal é muito mais a forma através da qual a finalidade política criminais
podem ser transferidas para o modo de infringência da norma”. (Livro: Política
Criminal. Tradução: Luis Greco)
Então, o Direito Penal vai ser guiado pela Política Criminal, mas o que é
Política Criminal? É o conjunto de valores e princípios constitucionais. Então, olhem a
abertura. O conjunto de valores e princípios constitucionais que formam o alicerce do
sistema penal. Esses valores e princípios constitucionais que formam o alicerce do
Direito Penal, são eles que vão ser usados.
79
O professor disponibilizou o roteiro e questões acerca da temática. Acentuou que é importante dar uma
lida nesse material.
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Muita gente fala, críticos ao funcionalismo, como Luiz Regis Prado, que o
funcionalismo é um retorno ao Neokantismo e Roxin fala que não, que seu sistema tem
limites que são os valores constitucionais.
3.2.3. Ação
O conceito de ação para Roxin é a manifestação da personalidade que se
caracteriza quando os pensamentos em curso volitivos se põem em relação com os
acontecimentos do mundo exterior (Livro: Teorias da Conduta. Autor: Fábio
Guaragni). Para Roxin a ação é a manifestação da personalidade, mas é um conceito
muito criticado pelos doutrinadores.
3.2.4. Crítica
Manifestação de personalidade parece um conceito muito inseguro para
operacionalizar o Direito Penal no dia a dia e se o funcionalismo nos dá segurança
jurídica, pois a grande discussão em todos os ramos do direito hoje é justamente essa.
No Direito Constitucional se discute muito essa questão de Neoconstitucionalismo que
seria a interpretação com os princípios constitucionais de todos os ramos do direito, mas
se discute no Direito Constitucional também o Trasconstitucionalismo que é a
interpretação citando outras cortes do mundo afora mitigando a soberania, se isso traz
ou não insegurança jurídica.
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No Direito Penal, nós falamos no funcionalismo penal que nada mais é que
a abertura da interpretação, ou seja, a não vinculação mais a dogmas, a valores fixos.
Isso é o melhor? O professor ainda tem a suas reservas, mas também sabe que o
finalismo por si só não proporciona a segurança jurídica. O ideal é ter um ponto de
equilíbrio, mas para ter um ponto de equilíbrio a capacitação dos intérpretes tem que ser
melhor, os intérpretes têm que ser melhor preparados culturalmente, juridicamente. O
que vemos hoje nos tribunais superiores é casuísmo puro. Então, são questões
complexas que giram em torno do Direito Penal, Direitos Constitucional e outros ramos.
A ideia de ativismo constitucional é uma coisa e aqui teríamos um ativismo penal.
80
Professor tem um artigo sobre isso e já mandou para nós.
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Aqui no Brasil, quem fala de funcionalismo, fala mais nos moldes de Roxin.
Em Portugal e na Espanha também. Há alguns que gostam muito do Jakobs, mas é um
funcionalismo minoritário, não ganhou tantos adeptos, mas Roxin ganhou muitos
adeptos.81
Assim sendo, o Jakobs vai trabalhar com o método axiológico, logo, não é
dogmático. Ademais, vai trabalhar também com a questão da Teoria da Pena dando
muita importância a pena.
81
Não tem a obra de Roxin completa traduzida para o Português.
82
Teoria Funcionalista Sistêmica de Jakobs cai em prova.
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“Nós vivemos em uma sociedade onde temos papéis para cumprir. Nós cumprimos
papéis/tarefas no dia a dia na sociedade e esses papéis negativos (não fazer) e
positivos (fazer) geram expectativas nos outros. Esperamos determinados
comportamentos do próximo. Quando algum papel desse não é cumprido ou é
violado, surge uma frustração de uma expectativa. Então, se o vizinho pulou o muro
da sua casa e levou a sua TV, a sua expectativa foi frustrada, no sentido que você não
esperava que ele fizesse isso. A norma tem que incidir para reafirmar a sua
expectativa no modelo normativo. A norma tem que incidir para que você volte a
acreditar no sistema normativo”.
Em outros termos, o Direito Penal existe não para proteger a sua TV que foi
furtada, mas para fazer a sociedade acreditar novamente no sistema normativo, pois só
se acredita no sistema normativo se a norma for aplicada. É esse sistema que vai dar o
equilíbrio. É essa confiança que vai dar o equilíbrio. Então, a finalidade do Direito
Penal passa a ser uma finalidade em si mesmo.
Dessa forma, o Direito Penal existe para fazer com que nós voltemos a
acreditar no próprio Direito Penal, porque se acontece uma violação de
expectativa e a norma não é aplicada nós não acreditaremos mais no sistema. A
descrença no sistema gera um problema social, isto é, o Direito Penal tem que ser
aplicado para que nós possamos acreditar que o sistema funciona. O problema
penal é muito diferente dos outros ramos, pois se a norma penal não incide a sua
expectativa continua frustrada, ela não foi reafirmada, você não volta a acreditar no
sistema normativo, não volta a acreditar na ideia de sociedade/estado.
83
O Bruno Amaral critica Jakobs, pois afirma que o ele só pega a parte que interessa da Teoria do
Luhmann.
Página 103 de 380
“Você tem uma fazenda onde passa um rio, constrói uma casa ao lado desse rio, mas
sabe que aquele rio de vez em quando enche. De repente, vem uma chuva muito
grande e derruba a sua casa. Você pode construir a casa de novo ao lado do rio ou
não, mas você já sabe o que pode ou não acontecer. Essa é uma expectativa natural,
tem relação com a natureza, não tem relação com norma. É diferente da expectativa
construída em cima de normas. Esse exemplo do rio é um problema natural, não vai
interferir no seu papel na sociedade, mas a normativa interfere. A expectativa gerada
por normas (furto, roubo, estelionato, lavagem), se ela não incide, você não acredita
no sistema. Então, o papel do Direito Penal é reafirmar a expectativa que fora
frustrada com descumprimento do papel social por parte do cidadão
(Descumprimento = crime).
Quando Jakobs fala isso, ele está jogando por terra a ideia de bem
jurídico e não está dando importância ao conceito de ação penal. O Jakobs tem um
problema sério no sistema dele, pois ele não valoriza o bem jurídico. A importância que
os outros autores dão a bem jurídico o Jakobs não dá e muito menos a ação, por mais
que ele tenha um conceito de ação que é o comportamento humano individualmente
evitável/conduta humana individualmente evitável. Por mais que Jakobs tenha essa
visão (conceito negativo de ação) ele não dá importância ao conceito de ação. Jakobs
não dá importância ao conceito de bem jurídico que, para ele, é problema de outro ramo
de direito. O Direito Penal não existe para proteger bem jurídico, mas para reafirmar a
sua expectativa no sistema normativo. Isso que vai guiar o modelo de Jakobs.
3.3.1. Crítica
O modelo dele em países de democracia instável poderia gerar
autoritarismo. Por que poderia gerar autoritarismo? Porque, em primeiro lugar, não
tem bem jurídico. Se você tem um sistema que não tem bem jurídico, você pode
construir tipo penal para qualquer coisa. Quando você tem a ideia de bem jurídico o tipo
penal tem que estar ligado a um bem jurídico (ofensa, lesão, perigo de lesão). O modelo
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“Você está andando no parque e de repente um sujeito chega do nada e saca uma
arma”.
Página 105 de 380
Isto é, Inimigo é aquele que não oferece expectativa cognitiva sobre seu
comportamento no meio social, mas ele chega a catalogar, ou seja, coloca crimes
sexuais, crimes praticados por grupos organizados, tráfico de drogas e terrorismo (o que
é muita coisa! Quase metade do CP e legislação especial).
Em outras palavras, ele cataloga nessa época e fala que o inimigo vai
receber um tratamento diferente, pois ele não é cidadão. Para Jakobs, não há
necessidade de se importar com direitos fundamentais. Então, para o inimigo se antecipa
a punição sem devido processo, pois ele é um INDIVÍDUO/NÃO PESSOA84 (não vai se
preocupar com contraditório, ampla defesa, devido processo legal e etc.), isto é, ele
pode receber uma antecipação da pena sem um devido processo. Como é que fica os
valores constitucionais? Esses são para o cidadão.
Nessa época, como já dito, Jakobs fala que não está defendo, mas está
narrando como um arauto85, ou seja, não está tomando partido, não está entrando no
mérito disso.
Pois bem, não foi só Jakobs que falou isso ao longo da história, Franz von
Liszt, dizia que um criminoso eventual você pune e ele volta a conviver em sociedade,
por outro lado, ao criminoso que não tem jeito de ser ressocializado aplica-se medida
de segurança. O referido autor defendeu um tratamento mais rígido para réus de auto
nível de periculosidade que não tinha jeito de ressocializar, mesmo que não tivesse
problema mental. Então, Liszt, defendeu isso também, não igual a Jakobs, mas chegou a
falar nessa ideia.
Jakobs ganhou mais destaque, pois, a partir do ano 2.000, ele tomou partido,
ou seja, deixa de ser um mero narrador. Ele faz isso, principalmente, a partir de 11 de
84
Inclusive esses termos técnicos caem em prova, está no roteiro que o professor passou.
85
1. oficial das monarquias medievais encarregado de proclamações solenes, do anúncio de guerra ou paz
e de informar os principais sucessos nas batalhas. 2.aquele que, por meio de pregão, tornava pública
uma notícia
Página 106 de 380
setembro de 2001 (queda das Torres Gêmeas). Inclusive, nos escritos dele encontramos
esse episódio e fala justamente dessa questão do terrorismo.
O que estou tentando dizer aqui é que essas ideias de Jakobs acabaram
ganhando espaço, mas vocês devem ter muito cuidado com a seguinte informação,
talvez a informação mais importante até agora, pois vocês poderão entender tudo errado
lá fora. Eu posso então dizer que o modelo de direito dos EUA é de Direito Penal do
inimigo? Claro que não! O que acontece hoje é que essas ideias de Jakobs
pontualmente ganham um pequeno espaço para algumas questões em estado
democrático de direito. A gente viu isso crescendo não só com a queda das Torres
Gêmeas, mas também na Espanha, com o ETA (grupo separatista), que também se
aproveitou disso. Todavia eu posso dizer que o direito penal da Espanha é Direito
Penal do Inimigo? Não! É pontual para essa questão. Na França, com o problema do
jornal que aconteceu agora já endureceu por essas questões, pois a questão do
terrorismo vai mudando o ordenamento jurídico em alguns países e em alguns
momentos o devido processo, requisitos demasiados de interceptação telefônica para
violação de privacidade (e etc...) vão ficando de lado. O terrorismo está aí, vamos
acabar com esse negócio. O que o professor está querendo dizer é que tem muita gente
confundindo “alhos com bugalhos”.
Luis Regis Prado, escreveu naquela Carta Forense, que o Direito Penal do
Inimigo não é direito de guerra (ponto 1); o Direito Penal do Inimigo, pontualmente,
Página 107 de 380
consegue ser jogado em situações específicas. O Brasil não tem hoje nenhum pedaço
de Direito Penal do Inimigo.8687
Tenha cuidado com isso, direito penal do inimigo, essa ideia do Jakobs,
pontualmente, ganhou espaço em determinados países, mas isso não significa que o
ordenamento desse país seja de Direito Penal do Inimigo.
86
Algumas pessoas fizeram teses de mestrado sobre o Direito Penal do Inimigo e foram massacrados nas
bancas quando estavam apresentando as suas teses. Nesse tema, não dá para ficar lendo CONJUR e JUS
NAVIGANDI, tem que ir aos autores que realmente entendem, que sabem o que estão dizendo. O Luiz
Greco é um grande doutrinador, pode ler tudo dele, não precisa concordar com ele, mas nos dados você
tem que acreditar.
87
Caiu esse tema na prova MP/GO.
Página 108 de 380
Exemplo: “A” dispara arma de fogo contra “B”, não evita o evitável (O que era
evitável? Não disparar a arma de fogo contra a pessoa) mediante mera retração
muscular (não apertar o gatilho). Se “A” deixa de socorrer “B”, podendo fazê-lo, e
“B” morre, também não evita o que era evitável, mediante o trancamento do curso
causal.
88
Questão muito interessante caiu em prova do MP/MG perguntando - O direito penal do inimigo é
espécie de: primeira velocidade, segunda, terceira e etc... a resposta seria a terceira velocidade do direito
penal. A terceira velocidade do direito penal tem algumas características e uma delas é também do
direito penal do inimigo, isto é, o direito penal do inimigo não é toda a velocidade do direito penal, ele
faz parte da classificação de Jesus Maria Silva Sanches.
Página 109 de 380
3.3.5. Crítica
Não explica as hipóteses de ações com erros inevitáveis - Não
consegue explicar erros de tipo inevitável ou erro de proibição
inevitável.
Tomás Salvador Vives Antón, fala que não é bem assim, mas ele se refere
ao Funcionalismo do Roxin, pois o do Jakobs é bem desprezado. Dessa forma, o
referido autor afirma que essa ideia que o Direito Penal existe para proteger os bens
jurídicos principais não tem acontecido, pois olhem a quantidade de crimes que
aumentou no mundo. Quantas condutas eram tratadas no direito administrativo e
passaram a ser tratado pelo direito penal 90. Muitas condutas do passado como meio
ambiente, ordem econômica, relação de consumo eram tratadas apenas na esfera
administrativa e passaram agora a constituir crime também.
O Direito Penal se expande a cada dia. Então, ele fala “se o funcionalismo
não resolveu, nós temos que repensar”. O modelo de Tomás Salvador Vives Antón, é
um pouco confuso e aberto.91 Por conseguinte, para esse autor, a sociedade não possui
89
Questão da última prova do MP/GO.
90
Aquilo que a gente vai ver nas observações de política criminal como administrativização do direito
penal.
91
Tem um livro sobre isso de Paulo César Busato chamado “Ação Significativa” e essa obra é construída
em cima desse modelo. Quem estiver lendo essa obra tem que ter muito cuidado.
Página 110 de 380
mais a organização do parâmetro democrático social europeu dos anos 60/70, isto é, a
sociedade do século XXI é marcada pelo consumo e pela comunicação.
Para ele, a prevenção, que é uma ideia do funcionalismo, fez surgir uma
mitigação de garantias e agravamento de marcos penais, ou seja, está afirmando que o
funcionalismo, com ideia preventiva da pena e de bem jurídico como limite de atuação
do direito penal, não impediu a expansão do direito penal. Para esse novo modelo de
sociedade o funcionalismo não serve, é isso que ele está falando.
Segundo essa linha, deve haver a validação das normas pelo contexto
social, mas como? Base na filosofia da linguagem, uso das ideias de Habermas, Teoria
da ação comunicativa, Teoria do discurso, uma perspectiva holística de mútua
interferência e sem preponderância do ponto de vista ontológico e axiológico. Isso está
bem na onda dessa interpretação nova que se propõe hoje, que não é nem
Neopositivismo e nem Neoconstitucionalismo, mas é algo bem mais aberto. Está bem
92
Segundo o professor, talvez, fosse melhor tentar mapear o direito há 10 anos atrás, pois agora parece
que chegamos a um esgotamento do que existia, todo mundo está falando cada coisa estranha e todo
mundo está aplaudindo
Página 111 de 380
na onda das sociedades abertas dos intérpretes da Constituição, todo mundo pode
interpretar a Constituição e as normas, tem que ter legitimação da solução penal, o
direito existe e é validado na sua aplicação dinâmica e não estática.
Paulo César Busato, acha que essa ideia é que vai reinar. Por outro lado, o
professor acha que essa teoria não está com toda moral não. Está como um jogo de
palavras que defende o direito penal pelo contexto social, trabalhando com uma visão
mais democrática do direito penal, mas não parece que vai ser isso não, até porque isso
tudo é muito confuso. O poder legislativo hoje está fazendo o direito penal
igualzinho ao que a população quer? Não! Está tentando fazer, mas não conseguiu.
Por exemplo: a redução da maioridade penal. É um exemplo da distância que existe
daquilo que os juristas pensam, STF pensa, legislativo pensou, pois não conseguiu o
quórum constitucional para reduzir.
Página 112 de 380
6.1. Criminologia
93
Para quem vai fazer concurso, 90% está no Direito Penal Dogmático. Para quem quer compreender
Direito Penal, tem que compreender o todo. Quem for fazer mestrado e doutorado, boa parte estará em
criminologia e Política Criminal, salvo na PUC/SP, por exemplo. Na Espanha, é comum fazer o Direito
Dogmático no doutorado.
Página 113 de 380
94
Aqui tem várias teorias, importante ler alguns resumos e alguns artigos, pois de vez em quando nas
provas de concurso tem uma ou duas questões.
Página 114 de 380
em quê? Do ponto de vista das universidades, nós ainda estudamos muita dogmática.
Algumas universidades têm preocupação com política criminal e criminologia, mas
outras só com a dogmática. Nos concursos cai muita dogmática e jurisprudência. Então,
hoje, vivemos no país um momento de jurisprudencialização do Direito Penal9596.
95
Isso não ocorre só no Direito Penal, mas ocorre mais no Direito Penal e no Processo Penal. Por que
isso? Pois a maioria dos informativos do STF e STJ é Direito Penal e Processo Penal. No STF menos,
mas também tem.
96
Hoje, em concurso de magistrado, ou você sabe de jurisprudência ou nem faça o concurso. Em muitos
concursos, ou você tem que saber a jurisprudência, ou você não passa. É informação de papagaio, você
não precisa saber realmente o que é, mas tem que ter a informação. Atualmente, em concurso de MP,
por exemplo, dogmática é mais importante do que jurisprudência em matéria penal.
97
Livro: Como decidem as Cortes da LGV; Livro: Jurisprudencialização do Direito Penal nos Tribunais
Superiores. Autora: Maria Ângela Magalhaes. Editora: Atlas – é um livro mais técnico e o professor
cita esse livro dela no artigo que ele publicou em 2009 (“STF e a interpretação Neokantista no Direito
Penal”). É um tema de pesquisa e não somente de aula.
98
Veremos isso em aulas posteriores.
Página 115 de 380
modelo foi muito influenciado pelo modelo dos EUA. Dessa forma, há dificuldades nos
usos dos métodos e isso é um problema sério, pois não existe método.
Método serve para alguma coisa? Paulo César Busato chama essas teorias
do crime de gramática do direito penal. Será que devemos abandonar o método e
devemos viver só com princípios? Será que somos uma sociedade preparada para
isso? Qual sociedade do mundo é assim? É uma discussão, uma questão ideológica,
mas muitas vezes a ausência de método serve para se esconder atrás da incompetência e
decidir do jeito que quer. As pessoas não conhecem mais método e isso é um
problema.99
crime tendo a opção de não praticá-lo e ele mede as consequências de dar certo e de não
dar certo. Quando não dá certo ele tem que receber uma pena exemplar, é a ideia de
prevenção geral negativa e positiva. Eles estão estudando isso, não estão muito
satisfeitos com o número de presos que possuem. Agora, em um país que tem liberdade
para comprar arma de fogo, tem que ter um Direito Penal severo e rápido mesmo,
porque imagina aquela liberdade para aquisição de armas aqui, seria o caos. Então, eles
acreditam em leis fortes e processo rápido (ex: caso do antigo presidente do FMI - onde
o ex-presidente foi preso imediatamente pelo crime de estupro e depois houve uma
reviravolta do caso em que se descobriu que foi tudo armado para incrimina-lo pelo
crime)100. No Brasil, temos mais de 200 mil presos provisórios hoje, o nosso problema é
de lentidão, mas mais de processo penal e menos de Direito Penal.
Strauss-Kahn foi detido no Aeroporto John F. Kennedy, em 14 de maio de 2011, em Nova Iorque,
100
pouco antes de embarcar para Paris, sob acusação de abuso sexual contra uma camareira que teria
ocorrido horas antes. Em 19 de maio de 2011, Strauss-Kahn renunciou ao cargo de diretor-gerente do
FMI e disse: "É com infinita tristeza que hoje me sinto obrigado a apresentar ao Conselho
Administrativo minha renúncia ao cargo de diretor-geral do FMI." Ele disse que deixa o FMI para
preservar a imagem da instituição e não comprometer seu funcionamento. Strauss-Kahn disse que,
agora, quer se dedicar exclusivamente à sua defesa no caso de abuso sexual. O ex-diretor-geral do FMI
ofereceu um milhão de dólares para a sua fiança. Pouco tempo após as denúncias feitas pela camareira,
denúncia similar foi feita contra Strauss-Kahn pela jornalista Tristane Baron, que alega ter sido vítima
de uma tentativa de abuso sexual em fevereiro de 2003 por parte deste. Strauss-Kahn começou a
cumprir prisão domiciliar, proposta por sua própria defesa, ao invés de regime fechado, e agora assiste
em TriBeCa, bairro em Nova Iorque em 25 de maio de 2011. Reviravolta no caso: No dia 1 de julho de
2011, houve uma reviravolta no caso de Strauss-Kahn. A acusação de abuso sexual voltou a ser
discutida após o questionamento sobre a credibilidade da vítima. Segundo o jornal The New York
Times, novas investigações sobre o que de fato ocorrera levaram a justiça a reavaliar a prisão de
Strauss-Kahn. O ex-diretor-geral do FMI foi liberado de sua prisão domiciliar no mesmo dia.
Página 117 de 380
para alguns espanhóis com a taxa de desemprego altíssima, imagina para os imigrantes),
ou seja, o imigrante vai “trabalhar” com pequenos crimes de início. Portanto, é uma
questão complicadíssima e algumas pessoas discutem a criminalização da inclusão
social, movimentos sociais (o pessoal da linha mais esquerdista, ideologicamente e
politicamente, vive preocupado com isso, mas é algo que se discute hoje, isto é, discute-
se essa relação de imigração e direito penal).
102
O professor colocou no slide essa expressão, pois tem em livro, não é porque ele concorda.
103
Livro: Curso livre de Abolicionismo Penal. Editora: REVAN.
Página 119 de 380
si só é capaz de resolver os seus problemas. Há solução para o ser humano que quer
sempre cometer crime ou sempre quer o mal do outro.
Observe, essa ideia não nega isso, mas apenas limita o direito penal a ser
usado quando o problema não puder ser bem resolvido em outra esfera. O STF tem feito
isso.
temos. Ela pode ajudar, mas não substitui por completo a pena privativa de liberdade.
Página 121 de 380
tiver uma punição administrativa para aquilo (suspensão, advertência), não haverá a
incidência do crime de desobediência pelo direito penal (isso é jurisprudência), salvo
se a norma administrativa fizer ressalva da sanção penal (se administração disser
assim: “punição com suspensão ou advertência, sem prejuízo da sanção penal”). Se
não houver ressalva da sanção penal, o STJ e o STF, entendem que não haverá
cumulação;
O juiz fixou a multa e o sujeito não cumpriu (obrigação de fazer), não há crime de
desobediência, conforme STJ, STF e jurisprudência. Há alguns julgados em sentido
contrário que dizem que haverá crime de desobediência se houver a cumulação (ou
seja, se o juiz colocar assim: “multa subsidiária sem prejuízo das sanções penais”).
O que se entende hoje é que não há crime de desobediência se se descumpre a
obrigação de fazer e fixou a astreinte. Alguns processualistas estão revoltados com
isso, pois essa posição da jurisprudência provocou o descumprimento dos
provimentos mandamentais, já que não há crime de desobediência, o sujeito não tem
dinheiro no bolso (ele escondeu no nome de terceiro) e ele não vai cumprir. Algumas
decisões a jurisprudência admitiu a cumulação, mas em casos específicos;
privado por decisão judicial: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa); e
em dezembro/janeiro desse ano o entendimento é que não é crime. Não é crime,
pois, segundo o STJ, o juiz pode decretar a prisão do sujeito que não cumpriu prisão
cautelar e, às vezes, tem multa que foi fixada. Isso é a subsidiariedade penal.
Algumas coisas não deveriam se criminalizados mesmo, por exemplo: o CDC considera que consertar
105
um produto com peça usada sem informar é crime. Isso poderia ser uma mera infração cível, não
precisava ser crime. Outro exemplo é a lei de crimes ambientais que considera transportar um produto
perigoso crime na forma culposa ou dolosa, mesmo que não aconteça qualquer dano. Na forma dolosa
dá até para entender, mas na forma culposa punir isso, punir um risco, não dá.
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(Lei de Drogas), onde deixou de ter crime com pena privativa e passou a ter
advertência, encaminhamento para prestação de serviço ou instituição de recuperação.
Então, o antigo art. 16 da Lei 6.368/76, foi substituído pelo art. 28 da Lei 11.343/06, o
artigo seguinte vai dizer que o prazo prescricional é de dois anos do uso que é diferente
do CP (cuidado com isso). O art. 28, portanto, não tem pena privativa. O STF, no
informativo 456, voto do ex Ministro Sepúlveda Pertence, diz que houve a
despenalização, mas não houve a descriminalização. Despenalizar é diminuir o rigor da
resposta penal, mas não significa afastar a natureza de crime. Então, o art. 28 da Lei de
Drogas continua sendo crime, porque hoje não existe mais a pena privativa que existia
no art. 16, mas continua com natureza de crime.
Importante destacar que o art. 28 não inaugurou isso não, já existia isso
antes. A pessoa jurídica recebe pena que não é privativa na lei 9.605, então já existia
isso antes. O novo direito penal admite crime sem pena privativa, já admitia por
substituição de pena privativa coercitiva nos outros casos de pessoa física, mas hoje é
possível construir um tipo penal só com pena restritiva sem a possibilidade de privativa,
o art. 28 da Lei de drogas é exemplo disso. Ademais, não é delito sui generis como
queria Luis Flávio Gomes que disse que a Lei de introdução ao Código Penal e a Lei
de Contravenções Penais afirmavam que para ser crime teria que ter no mínimo prisão
simples, ou melhor, para ser crime tem que ter no mínimo pena e para ser contravenção
tem que haver no mínimo prisão simples. Ele falava que não existia crime ou
contravenção sem a possibilidade de prisão, e o STF falou que era equívoco (tema
batido, isso é cobrado em primário, hoje em dia).
Agora eu anuncio para vocês algo interessante, o STF pode até diminuir a
prisão cautelar com descarcerização, mas eles estão debatendo nos bastidores sabe o
quê? O retorno a prisão com a confirmação da plenação do Tribunal de Justiça.
Página 124 de 380
106
Degravador: André.
Página 125 de 380
107
Antes de entrar no tema de política criminal, professor comentou que a prova do MPDFT foi marcada
para novembro de 2015. E aí o professor passa a dar diversas dicas de estudo para essa prova. (de 0:03:44
até 0:42:05) da Gravação do Davi José.
108
Esse tema já foi questão de inúmeras provas de concurso.
109
Obra publicada pela RT no Brasil.
Página 126 de 380
Ele defende a pena privativa, nós vimos isso, como substituição ao modelo
de pena do antigo regime, já que as penas anteriores eram cruéis, eram penas físicas e
corporais. Então, a pena privativa foi vista como uma forma de humanizar o direito
penal nessa fase histórica.
A pena privativa aplicada com todas as garantias. Tais garantias são uma
outra conquista, pois antes não existiam. Antes, no modelo medieval e no modulo
absolutista que antecede as reformas do século XVIII, a produção probatória era
maculada. Permitia-se o uso de tortura e o uso de meios complexos na produção
probatória que não são aceitos hoje, pois violam princípios constitucionais.
Então, a pena privativa que surge junto com o direito penal liberal, surge
atrelada a princípios e garantias, sem relativização ou mitigação. Uma pena privativa
aplicada com o devido processo legal, com a legalidade, com a irretroatividade do
direito penal, que surge aqui também. Então ele diz, essa é a primeira velocidade do
direito penal, aplicar pena privativa com as garantias, com os princípios, sem mitigação,
sem flexibilização e sem relativização.
110
Dermeval critica: É aquele negocio, o sujeito dorme de noite, sonha e vai inventando coisa de manhã.
Página 127 de 380
Há quem diga que isso ocorre na Lei 9.099. Na lei 9.099, quando a gente faz
transação penal, sem processo, dizendo para o indiciado prestar serviço à comunidade
para não ser denunciado. Alguém poderia dizer: “muitos inocentes, na transação penal,
aceitam uma transação só para não ter processos contra eles”. Para o MP oferecer uma
transação penal em um crime de menor potencial ofensivo basta que ele tenha indícios
para denunciar. Se ele tem indícios, prova da autoria, indícios de crime relacionados ao
sujeito autor do fato suficientes para a denúncia, pode o promotor ofertar uma transação
penal se o suposto autor do delito preencher os requisitos (por exemplo, não ter sido
beneficiado pelo mesmo benefício em um intervalo de cinco anos).
Página 128 de 380
Mas tem gente que é inocente, mesmo tendo indícios para denunciar. Só que
nessa fase, em tese (para ofertar a denúncia), impera o in dubio pro societate, modelo
tradicional.
O Ministro Gilmar Mendes já disse que impera nessa fase o in dubio pro
reo, mas não é verdade. Nessa fase, se existem indícios suficientes para denunciar/para
o processo penal/para uma ação penal, se apresenta a ação penal. Somente na fase de
condenação que se há dúvida, é pro reo.
Ou seja, muita gente que é inocente aceita a transação, porque não quer ficar
em ambiente de fórum, de Vara Criminal. Mas transação penal não é pena. Não se pode
dizer que a transação é uma pena restritiva que mitiga o princípio do contraditório e da
ampla defesa. Transação não é pena, transação tem um nome de medida
despenalizadora, tem um nome de medida alternativa, mas não é pena.
111
Geralmente o MP gosta de prestação de serviços. Eles não gostam muito de só pagar, pois tem um
caráter mais resocializador.
Página 129 de 380
A pessoa jurídica não tem como receber pena privativa, pois é incompatível
com a sua natureza. Então quais são as penas da pessoa jurídica? Multa e as penas
restritivas. É o que está lá nos artigos 21 e 22 da Lei 9.605, vejamos:
112
Se for aprovado o projeto de novo código penal que tramita no Congresso, a pessoa jurídica vai
responder por crimes contra a administração pública, crimes contra a fé pública, crimes de sonegação
fiscal etc. Só não vai responder por crimes contra a vida, por exemplo. Existe uma norma aberta na parte
geral do projeto de novo código penal que tramita no Senado para fazer com que a pessoa jurídica
responda por tudo. Vamos falar mais sobre isso lá na frente, no estudo sobre o fato típico.
Página 130 de 380
I - multa;
II - restritivas de direitos;
III - proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter
subsídios, subvenções ou doações.
Neste caso, pode-se dizer que é possível aplicar pena à pessoa jurídica sem
ter ela a capacidade de ação nos mesmos moldes da pessoa física. Ai sim poderíamos
falar em uma mitigação do princípio da culpabilidade, já que a pessoa jurídica não tem
pessoalidade, capacidade para entender o caráter ilícito do fato e mesmo assim recebe
pena.
Não tem pena privativa. Hoje não tem possibilidade de aplicar pena
privativa por uso de drogas. O artigo 28 da Lei de drogas substituiu o antigo artigo 16
da lei 6.368. Houve descriminalização? NÃO! (aula passada). Houve
despenalização. Atenuou a resposta penal, mas a natureza é de crime ainda, segundo
informativo 456 do STF.
Então, uma crítica que se faz a essa terceira velocidade é que o direito penal
tem deixado de ser subsidiário, tem deixado de ser fragmentário, tem deixado de ser da
intervenção mínima para ser da intervenção máxima. Porque ele passa a ser usado com
mais frequência, expande-se demais.
Não há como voltar. É impossível não falar de direito penal no cenário dos
novos riscos, mas parece que tem existido um exagero. O problema da doutrina é que
ela vai ou no todo ou no nada, ela não tem um ponto de equilíbrio, muitas vezes.
mais enxuta? Poderia ser mais enxuta, mas não significa que não deveria existir. Então,
é esse ponto de ponderação/de equilíbrio que falta na doutrina penal113.
Mas o que seria o direito penal de quarta velocidade? Seria o direito penal
praticado pelo Tribunal Penal Internacional – TPI. É sabido que o TPI julga de forma
subsidiária. No TPI temos, por exemplo, a teoria do domínio do fato 115 aplicada e
prevista no regimento interno do tribunal na sua quarta função/quarta característica (que
é o domínio do fato no domínio do aparato organizado de poder), colocada por Roxin,
teoria esta que não é aceita por todos os doutrinadores
Então, mais a frente, veremos que realmente lá (no TPI) existe uma
flexibilização daquelas características clássicas do direito penal que nós conhecemos.
113
Ou sujeito defende tudo ou defende nada. Geralmente, ele defende nada! Porque se ele fala em direito
penal máximo, ele é crucificado no campo acadêmico.
114
O professor faz uma crítica: é uma parte decoreba da matéria que muitas vezes tem um nome
inventado que não casa direito com a doutrina específica que trata do tema. De forma crítica? Não existe
isso. Mas quem vai fazer concurso vai responder perguntas que não tem nada a ver, que não deveria ter
sido colocado.
115
A teoria do domínio do fato ela é aceita no domínio da ação, no domínio da vontade e no domínio
funcional, que nós vamos ver, mas no domínio do aparato organizado de poder ela não é tão aceita. Na
nossa aula de concurso de pessoas nós vamos ver. Mas, por exemplo, no TPI tem. Então, a gente observa
uma flexibilização. No julgamento do Milosevic, por exemplo, um grande debate que surgiu no TPI é se
ele deveria ser responsabilizado (Milosevic, para quem não sabe, é um cara da Bósnia, antiga Ioguslávia)
pelo que o soldado fez lá na ponta, por que ele, como chefe do país, se deveria ser responsabilizado
somente pelo que ele falou ou se por algo que o soldado fez lá na ponta sem que ele sequer conhecesse o
soldado. Na ideia do domínio do fato no aparato organizado de poder ele foi condenado, inclusive por
isso que o soldado fez lá na ponta.
Página 134 de 380
116
Nesse ponto temos os slides/resumo disso que Dermeval acabou de falar, caracterizada pela pena de
prisão, seguida por regras rígidas de imputação. Deem uma lida nisso, principalmente para nossa primeira
prova. Está resumido, com uma linguagem mais fácil que o Dermeval colocou. A segunda velocidade
também está no material do espaço do aluno, caracterizada pela flexibilização das regras de imputação,
garantias processuais.
117
O professor afirma gostar dos nomes quando eles têm total relação, pertinência, organização
sistemática, metodológica.
118
Caiu, inclusive, na prova do MPMG essa pergunta: “direito penal do inimigo é espécie de direito penal
de terceira velocidade?”
119
E o professor afirma que os slides tem as descrições do direito penal do inimigo e alguns textos
resumindo a primeira, segunda e terceira velocidades. Tal resumo é suficiente para qualquer prova.
120
Fujimori foi julgado pelo Peru e não pelo TPI. A sentença que condenou o Fujimori aplicou a teoria do
domínio do fato no aparato organizado de poder e ela é uma das sentenças, no mundo, mais conhecidas.
Foi publicada e republicada em diversas revistas na Alemanha. Ou seja, o próprio Peru julgou o Fujimori,
não foi o TPI. O Peru teve estrutura para julgar, assim como o Chile teve estrutura para julgar o Pinochet.
Página 135 de 380
O direito penal tem crescido na tutela de bens supra-individuais 123, tais como
ordem econômica, meio ambiente e relações de consumo.
internet.
123
Isso foi questão aberta do MPGO do penúltimo concurso.
Página 137 de 380
“Seduzir mulher honesta a conjunção carnal”. Quem caracterizava mulher honesta era
o intérprete, porque não tinha no dicionário Aurélio.
Quando você usa elementar normativa, quando você faz muito uso de
elementares normativas que é o que existe muito na seara do direito penal econômico,
acaba gerando uma insegurança jurídica, porque o sujeito que não estuda direito penal
não sabe se é ou não é crime, quem sabe são os operadores.
124
Vide aula n. 07.
Página 138 de 380
125
Vide aula de princípios.
Página 139 de 380
O delito de acumulação é aquele que uma conduta isoladamente não gera uma ofensa
intensa ao bem jurídico tutelado, mas a soma dessas condutas gera. Só que a conduta
isolada também é punida. Pescar fora de época, conforme regulamentação do
IBAMA, caracteriza crime previsto na lei 9.605, mas se o sujeito pegou pequena
quantidade de peixes o impacto ambiental não é muito relevante, mas ele responde.
Porém, se muita gente fizer isso o impacto vai ser relevante. Se muita gente pescar
uma pequena quantidade de peixe, a soma é grande.
126
Vide aula de erro.
Página 140 de 380
São apenas alguns exemplos, não são todas as situações. Silva Sánches
notou isso em algumas leis de vários países que seguem esse modelo Greco-romano
alemão (países da Europa e da América latina).
Então, o que Jesús-Maria da Silva Sánchez está falando é que o Estado não
se satisfaz mais em punir só na esfera administrativa. O Estado quer punir também na
seara penal a falta de uma simples licença. Então, este Estado regulatório quer regular
tudo.
Essa ideia de tratar parte das pessoas de uma forma mais severa pela sua
periculosidade é antiga. Mesmo com penalistas que pensaram o direito penal de maneira
democrática.
Tem gente que não tem jeito e para esse tipo de gente não tem que pensar
em ressocializar, em pena para ressocializar, tem que se pensar em neutralizar, senão vai
continuar praticando. Isso contraria aquela ideia de direito penal da culpabilidade, de
direito penal do fato, que direito penal não pode ser do autor127.
Um exemplo disso ocorreu nos Estado Unidos com a lei dos três crimes
graves a partir dos anos 90. Se o sujeito praticou três crimes graves em determinados
estados dos EUA, ele tem que receber a maior pena prevista na legislação daquele
Estado, seja a pena de morte, seja a prisão perpétua, qualquer que seja a maior pena
prevista.
127
Vide aula de princípios.
Página 142 de 380
Exemplo de neutralização:
128
O professor dá o seguinte exemplo: o seguro do carro dele ficou mais caro porque o índice de roubo de
carros em Brasília subiu muito e chegou aos níveis de São Paulo e Rio de Janeiro. O carro desvalorizou e
o seguro ficou mais caro, por conta do aumento do risco.
129
Porque tem sujeito que o professor verá várias vezes durante o ano, lá na vara criminal, que ele faz
audiência. Porque ele vai ser condenado por roubo, vai cumprir 1/6, vai sair, vai praticar um furto,
durante o processo do furto, em que ele eventualmente vai estar solto, ele vai praticar outro.
Página 143 de 380
Existe isso? Existe! No Brasil mesmo e nos EUA, por exemplo. No Brasil
onde que entre o direito negocial? A gente tem uma parte de direito negocial na delação,
tem uma parte de direito negocial na transação penal, na suspensão condicional do
processo. Mas a gente não tem ainda a barganha. A barganha existe no direito norte
americano e ela está prevista no projeto de novo Código Penal que está no Senado.
Tem gente que critica isso. Acha que essa questão da negociata se afasta da
verdade. Lembra-se do caso do cara do juizado? Que o indivíduo era inocente, mas
aceitou a transação para não ter que comparecer? Nesse exemplo, foi um acordo,
mas ele não era culpado, ele não fez aquilo e aceitou. O Aury Lopes Júnior coloca isso
de forma crítica no seu livro de direito processual penal, mas é uma tendência
pragmática, pois se diminui o custo, se diminui a máquina do Estado.
130
Bruno Amaral Machado – professor de filosofia e doutor em filosofia jurídica.
131
Professor afirma que não vai surtir muito efeito. Surte no furto, no roubo do não reincidente, mas nos
crimes mais graves não vai surtir tanto efeito. Pode até surtir, ainda, no homicídio simples do não
reincidente, que a pena vai de 6 a 20 anos, mas se ele for primário, com bons antecedentes, a pena não vai
passar de 6 a 8, então daria no semiaberto. Eles tiraram a possibilidade de barganha no regime fechado.
Página 145 de 380
6. Direito de intervenção
O direito de intervenção é uma proposta do Hassemer que diz que o direito
penal tem que ficar somente com os bens jurídicos individuais – direito penal liberal –
não podendo se expandir demais para bens jurídicos supra-individuais.
O direito penal não pode ser usado nessas questões do meio ambiente,
relações de consumo, ordem econômica. Nessa seara temos que usar um direito de
intervenção, que é um meio termo entre o direito penal e o direito administrativo. É um
direito administrativo mais organizado, por um Ministério, por um órgão do governo,
como existe o CADE, por exemplo.
Então, nessa seara não devemos usar direito penal. O direito de intervenção
é um meio termo entre o direito administrativo e o direito penal. Temos que tirar o
direito penal, porque o direito penal não dá conta. Ele não dá conta dos bens jurídicos
individuais e dos bens jurídicos supra-individuais e dessa expansão exagerada. As varas
estão lotadas e o uso exagerado dele vai enfraquece-lo onde ele realmente tem que ser
utilizado.
A crítica que se faz a esse modelo é que não tem tido muitos adeptos e
consiste em retirar a importância da subsidiariedade do direito penal. O direito penal
O Figueiredo Dias falando sobre isso afirma que o Hassemer está errado,
porque a subsidiariedade resolveria esse problema, portanto não precisaria de uma nova
modalidade de direito, o direito de intervenção. O Hassemer é da Escola de Frankfurt 134.
O Hassemer foi juiz da Suprema Corte na Alemanha e filósofo e jurista conhecido.
Só que as sanções dela são tão severas que, muitas vezes, são piores que a
pena do direito penal dos crimes contra a administração pública. Sanções altas
relacionadas a multa, não poder mais se candidatar durante um período135.
A Presidenta parece que vai sancionar uma lei que diz que os presos têm que ser
separados. Quem praticou furto não poderá ser colocado com quem praticou roubo
com reincidência. A lei de 84 diz que tem que ter uma classificação, precisa estar
claro na lei (2+2=4) de algo que já foi dito em 84 e vai ser dito agora e não vai ser
feito. Então, todo dia você precisa de uma lei para dizer que consertou, mas você não
tem concretização, não tem política pública.
134
Questão oral da prova de Promotor do MPGO perguntava justamente sobre o direito de intervenção da
Escola de Frankfurt.
135
O que dói mais em um político não é cadeia nem o dinheiro, é não poder receber voto, a questão da
capacidade passiva. Então, isso que vai doer mais, muitas vezes, na pessoa que pratica o fato.
Página 147 de 380
O Ferrajoli acha que a gente pode fazer leis penais somente com a
característica de Lei Complementar, que não pode ser Lei Ordinária.
Mas o direito penal por si só não resolve. A gente tem que resolver nosso
problema de execução penal e de política pública, mas também não podemos deixar o
direito penal de lado.
Então, ele está falando que todos os órgãos de segurança pública praticam
um direito penal subterrâneo, um direito penal que não está previsto na lei, que não é o
legal. Praticam de forma oculta, esconde da investigação, esconde provas, usam táticas
que não deveriam usar, seja a polícia, seja o MP, seja o judiciário.
Cuidado! Quando você for ler um autor chileno, argentino, observe como o
direito penal para eles é trabalhado de uma forma diferente do Brasil, porque eles são
totalmente influenciados pela ideologia política, pois eles tiveram anos e anos de
ditadura, assim como nós, mas eles levam isso mais a sério.
Página 149 de 380
Mas como construir essa ideia de permissão da tortura? Roxin fala que pode
ser excludente de ilicitude, excludente de culpabilidade. Tem outros que falam que não,
que o estado não poderia jamais usar isso. O professor diz que hoje, se fosse o caso e
souberem quem é o cara, ele não teria duvida que o torturariam, depois tentariam
legitimar. Mas o que está havendo é o seguinte: o crescimento da violência,
principalmente do terrorismo, está fazendo com que fases, balizas que nós tínhamos,
princípios de direito penal e direito processual penal estão sendo bem mitigados.
12. Coculpabilidade
Falamos da corresponsabilidade penal na matéria da Teoria do Finalismo.
Coculpabilidade às avessas também foi tratado.
Tema trabalhado pelo Zaffaroni e pelo Gregori Moura 137, que muitas vezes
nós somos corresponsáveis pelos fatos que acontecem, porque o Estado não conseguiu
dar a todos as mesmas oportunidades de escolha. Certas pessoas tem um limite menor
na escolha de praticar o crime ou não e o Estado tem que considerar isso, pelo menos,
como uma atenuante genérica do art. 66, do CP.
136
Luis Greco, que é um grande penalista brasileiro e estuda na Alemanha, publicou um artigo sobre o
uso da tortura. Ver na pasta do aluno. Hoje muita gente boa está defendendo a tortura no caso de uma
ameaça terrorista, porque pode ser que você consiga salvar duas mil pessoas torturando alguém para dizer
onde está a bomba.
137
Gregori Moura em seu livro Princípio da Coculpabilidade.
Página 150 de 380
A coculpabilidade às avessas, então, pode ser usada para pesar a mão maior
em quem tem poucos recursos, como para pesar em quem tem mais recursos, porém a
culpabilidade ideal não deveria analisar a situação econômica138.
1) Questão de função do bem jurídico tem caído muito em prova. É incorreto afirmar
que opera só na fase de aplicação da pena, vocês vão perceber isso. O bem jurídico
opera em várias fases. Até na criação do tipo penal. Não é possível tipificar ofensa a
qualquer bem jurídico. Então, não é só na fase de aplicação da pena, mas também na
fase da tipificação, da interpretação.
viés positivo, que foi esquecido no Brasil, que é proteger o bem jurídico de forma
proporcional, que a pena não pode ser muito a quem, senão viola o princípio da
vedação à proteção deficiente. Garantismo positivo alia-se ao princípio da proibição
da proteção deficiente, vai ser falado sobre isso com base em um julgado que está no
slide, trazendo uma consequência da extensão da tutela penal aos bens jurídicos de
interesse coletivo.
9) Questão sobre a noção de direito penal do inimigo do Jakobs e Meliá. Não pode
servir de fundamentação para edição de lei penal que viole o princípio da dignidade
da pessoa humana, já que o Brasil o previu no artigo 1º da CF. isso é verdade, do
ponto de vista teórico isso é verdade. A noção de direito penal do inimigo não pode
ofender um princípio previsto na Constituição.
Perguntas:
Prof.: NÃO. Isso não pode ser matemático, porque a barganha no Brasil não existe.
Professor: No projeto, se for aprovado, não é restritiva. Ela não está como pena
Página 153 de 380
restritiva na classificação das penas, ela está como um instituto, assim como tem a
colaboração, a delação.
Professor: Eu acho que não. Porque depende daquilo que você está falando como
justiça restaurativa. Se você falar de uma justiça restaurativa sem direito penal, ela
entraria na diversificação do direito penal mínimo, que é aquela forma de afastar do
direito penal determinados conflitos. Ela entraria com um caráter positivo, na visão de
muitos autores, e a administrativização tem um caráter negativo, no confronto com a
intervenção mínima. Agora, tem gente que acha que dentro do direito penal dá pra
fazer justiça restaurativa. Tem outros que falam que a justiça restaurativa é
justamente tentar fazer algo fora do direito penal, que seria a tese mais interessante. A
Raquel escreve muito bem sobre isso, na obra que ela acabou de publicar (Raquel é
colega de turma de concurso do MP do professor).
Aluna: Saiu até pesquisa, professor, falando que está sendo bem puxado para o
prefeito de Nova York, porque aumentou em 10% o número de crimes do ano
passado para o atual.
Professor: Pois é. E lá eles tiveram uma experiência midiática de tolerância zero que
reduziu a criminalidade. Agora, vocês sabem que os críticos falam que quando a
tolerância zero reduziu a criminalidade em Nova York, o fenômeno da redução da
criminalidade foi detectado em todas as grandes cidades norte americanas. Então, não
teria sido, em tese, pelo modelo adotado da tolerância zero. Mas é a mídia, é como a
Coca-Cola, o que vendeu foi isso. O Rudolph Giuliani se tornou famoso, vai estar
aqui em Brasília, no UniCEUB, para dar uma palestra.
14. Princípios140.
Entramos agora no terceiro ponto.
140
Nesse ponto, consultar os livros de Rogério Greco, Cléber Masson e Bitencourt.
Página 154 de 380
14.1. Introdução
141
Livro da Editora Revan.
142
Segundo o professor, tal examinador foi muito bonzinho, ajudando quem estava fazendo a prova.
Página 155 de 380
Muitas vezes se fala em direito penal constitucional. Toda vez que alguém
fala em direito penal constitucional, ele começa com os princípios. Esses princípios que
estão expressos e implícitos na Constituição são os que estão trabalhados nos livros de
direito penal.
José Afonso da Silva para falar de normas de eficácia plena, contida, limitada,
programática. Ainda é uma classificação, mas não é muito mais utilizada. Hoje a gente
fala em princípios constitucionais e normas constitucionais concretas.
O resto da doutrina vai dizer que é um princípio penal. O Supremo usa esse
termo “dignidade da pessoa humana” como princípio penal.
Porém, atenção! O STF usa para tudo, usa na execução penal, na prisão
cautelar, no direito processual e no direito penal.
143
Conforme o Livro “Constituição Portuguesa Anotada”.
144
Livro “Princípios Penais e Processuais”.
Página 157 de 380
O Rogério Grecco fala145 que dignidade da pessoa humana serve para dizer
sim e não em situações fáticas semelhantes. É um princípio fluido, que pode ser usado
pelo intérprete de várias formas. Pode ser usado de várias formas, porque falta muita
precisão teórica no Brasil.
No Brasil pega-se uma ementa de forma geral que pode servir para um
monte de situações e aplica para todo mundo. Não fazemos o uso exato do precedente,
não analisemos as especificidades.
145
Livro “Direito Penal do Equilíbrio”.
Página 158 de 380
O Supremo vai dizer: “nesse caso, não pode ficar preso, porque não estão
presentes os requisitos da prisão preventiva 146 com base no princípio da dignidade da
pessoa humana”.
Levar uma pessoa a morte nos Estados Unidos, que é um país democrático,
ofende o princípio da dignidade da pessoa humana? Na visão do Canotilho, sim. Se
perguntarem isso para o Jakobs ele dirá: “Não. É um estado democrático, a população
quer isso pronto, está resolvido”.
146
Qualquer dos requisitos, assevera o professor.
Página 159 de 380
1. Introdução
Na aula passada nós terminamos o princípio da dignidade da pessoa
humana. Nessa aula, trataremos ainda sobre os princípios penais. Já no nosso próximo
encontro falaremos sobre teoria da norma149.
Com relação aos princípios penais, nós vimos na aula passada que eles têm
funções importantes, de orientar a atividade do legislador, do operador do direito penal.
147
Artigo “As regras por trás da exceção – reflexões sobre a tortura nos chamados casos de bomba-
relógio” de Rogério Grecco. Um sujeito foi pego em Frankfurt e armou uma bomba-relógio em algum
lugar da cidade, pode ou não torturar?
148
Degravadora: Clara.
149
Professor afirma que esta visão geral da matéria é importante para aqueles que estiverem
acompanhando pelos livros.
Página 160 de 380
Vimos também que os princípios penais são concretos, portanto não são abstratos. Eles
são utilizados pelo Supremo, pelo STJ e pelos demais tribunais na concretização do
direito penal. Eles formam hoje um arcabouço do direito penal constitucional. A política
criminal está ancorada nesses princípios constitucionais, pois são princípios que
permitem inclusive mitigar a dogmática, ou seja, afastar esse viés ontológico dogmático
do direito penal.
150
Professor afirma que demonstra isso num artigo que acha que já esta na pasta dos alunos, sobre o STF
e a interpretação neokantista do direito penal, justamente para demonstrar isso, que o Supremo demora
de pacificar e isso gera insegurança.
151
Professor afirma que depende do tipo de arma.
152
Isso caiu inclusive na última prova oral de procurador do DF.
153
Professor afirma que quem consegue chegar ao Supremo “tá bem”, quem fica no STJ fica mais difícil.
Página 161 de 380
Mas isso não está pacificado e isso é decidido todo dia. Estamos diante de
uma situação onde todo dia um juiz criminal, por exemplo do Distrito Federal,
sentencia, e no resto do Brasil também 154. O que compensa cita o STJ e o que não
compensa cita o STF.
Observem, em matéria penal, não temos como conviver com situações como
essa durante muito tempo.
154
Professor diz que trabalha com três juízes criminais, onde dois compensam e um não compensa. Deu
azar o preso que caiu naquele que não compensa. E ele está certo, o que não compensa, e o que compensa
também está certo.
155
Em sua obra “Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro”.
Página 162 de 380
Ocorre que na carta do Rei João sem terra, a legalidade como princípio ou a
possibilidade de defesa de contraditório, não era para todos, era somente para aqueles
cidadãos livres.
No Brasil, por exemplo, no período do final do século XVIII até 1830, nós
ainda continuamos aqui com as ordenações portuguesas, medievais, cruéis. Porque só
em 1830 nós fomos ter o Código Criminal do Império, embora a Constituição de 1824
já trouxesse alguns temas interessantes com relação ao direito penal. Mas o nosso
código criminal primeiro é de 1830, chamado de código criminal do Império.
A irretroatividade é fenomenal, porque ela proíbe que uma lei nova mais
gravosa vá reger um fato passado. Ela surge também nesse período. Então, nesse
período enxergamos o surgimento de princípios penais liberais.
A Carta Magna em seu artigo 5o, XXXIX e artigo 1o do Código Penal falam
que “Não há crime sem lei anterior que o defina nem pena sem prévia cominação
legal.156”
Do ponto de vista formal, não há crime sem lei, não há pena sem lei, ou seja,
o crime tem que estar definido na lei e a pena também. O preceito primário e o preceito
secundário dependem de uma lei escrita.
156
Professor afirma que em uma dissertação de um concurso que tenha princípio da legalidade penal, o
aluno tem que citar o art. 1o do Código Penal e o art. 5o, XXXIX da CF.
Página 164 de 380
Lei em sentido amplo157 envolve não somente a lei aprovada pelo poder
legislativo. Lei em sentido amplo, muitas vezes, envolve vários atos normativos ou
várias espécies de normas. Se trata de medida provisória, portaria, resolução,
recomendação, decreto.
No direito penal não se aceita lei em sentido amplo para tipificar. No direito
penal, além do princípio da legalidade, exige-se uma reserva de lei em sentido
estrito. A lei tem que ser específica, aprovada pelo poder legislativo. Em direito penal
não se aceita lei em sentido amplo para tipificar.
Com outras palavras, não se aceita medida provisória para tipificar crimes,
decretos, portarias, resoluções, recomendações ou qualquer outra subespécie. Em direito
penal fala-se em reserva legal. A reserva legal significa lei em sentido estrito e não lei
em sentido amplo. Para tipificar uma conduta/para constituir um crime, exige-se lei em
sentido estrito.
157
Quem manda é a lei, o decreto só regulamenta a lei, e depois você começa a trabalhar no serviço
público e você vai ver que isso tudo vale mais do que a lei, né? Na prática? Na prática tem um monte de
norma que teria que estar em lei e está nessas subespécies, e ninguém fica questionando, discutindo, e do
ponto de vista da peneira que nós aprendemos no direito constitucional e administrativo, não passava
quase nenhuma delas.
158
Direito penal incriminador.
Página 165 de 380
trata de tratado de direitos fundamentais, que tem natureza diferente prevista pelo
constituinte na alteração do art. 5o da CF reconhecida pelo Supremo. Trata-se de tipo
penal, um tipo penal previsto em tratado, ratificado e publicado no Brasil, é como se
fosse uma lei ordinária.
Alguns autores159 entendem que esse tratado pode trazer um tipo penal
pronto, com conduta e pena, preceito primário e preceito secundário. Não há nenhuma
ofensa ao sistema legal brasileiro, porque o tratado é incorporado como lei ordinária,
tratado ratificado e publicado, salvo se for tratado que trata de direitos fundamentais,
que tem uma natureza diferente.
159
Luiz Flávio Gomes e Demerval Farias.
160
É o caso do André Stefan, da editora Saraiva (professor do Damásio, publicou pela Saraiva). Ele
entende que o tratado só pode trazer o princípio, a orientação geral, mas não pode trazer o tipo específico.
161
O art. 304 tem preceito primário e não tem pena, ele remete a pena a outro dispositivo do CP.
162
Demorou de ser consolidado. É curioso, porque o tratado de Palermo falava de três pessoas; aí veio
uma lei no Brasil que autorizou o julgamento por órgãos coletivos, de caso de 1 o grau para evitar que o
juiz ficasse exposto. Então surgiu um problema na Paraíba, ameaça ao juiz, aí veio uma lei que autorizou
o julgamento por órgão colegiado. Então o juiz está lá no interior, recebe um caso muito complicado, com
organização criminosa, aí ele avisa o tribunal e o tribunal monta uma equipe de juízes para julgar. Nessa
lei que criou isso, o julgamento por esse órgão coletivo, o legislador foi e colocou: caracteriza
organização criminosa composta por 4 pessoas. O tratado de Palermo falava 3, aí veio essa lei e disse que
era 4, mas também ela não trouxe o tipo penal.
Página 166 de 380
Peraí, mas o tratado de Palermo não dizia que era só 3? Sim, mas nós
criamos uma lei aqui diferente. A nossa lei exige 4 com várias outras características que
estão no art. 2o da Lei 12.850163.
Professor: Falava 4. Mas não adiantou nada, só preceito primário, era abstração,
poesia, não tinha pena. Não adianta nada eu falar: crime tal, é crime praticar isso, isso
e isso. Pena: não tem. Ótimo, vou continuar praticando. O crime precisa de preceito
primário e preceito secundário.
Não tem valor nenhum, porque eles não tem delegação pra fazer isso e se
tivessem surgiria uma discussão, qual seja, se o Estado pode delegar ou não matéria
penal.
O art. 22, p. único da CF diz que a matéria que está ali pode ser delegada. O
que se discute é se a matéria penal poderia ser delegada, se haveria interesse local
específico para delegação de matéria penal diferente entre os Estados membros da
federação.
Alguns autores167 na doutrina dizem que sim. Mas prevalece que não, e na
jurisprudência nem se discute isso, é não mesmo, porque se o Supremo entendesse que
seria sim, ninguém hoje estaria condenado por tráfico nem por uso de drogas, por
exemplo. E muita gente não seria condenada por vários crimes ambientais e
econômicos, porque são searas onde tem muita tipificação com o uso de norma penal
em branco heterogênea.
166
Portaria 344 da ANVISA que regulamenta a lei de drogas.
167
Rogério Greco, Zaffaroni, Nilo Batista.
Página 168 de 380
alteração de lei com um Congresso que segura e demora de decidir, pois exige
mudanças rápidas.
Voltando ao nosso tema: legalidade e norma penal em branco não fere, mas
na doutrina tem discussão169.
Tem vários temas de execução penal que tem total relação com o direito
penal e tem inclusive tratamento duplo no código penal e na LEP.
Aluno: Professor, professor, e aquela questão que estava sendo discutida de que por
causa do princípio da legalidade, a medida de segurança deveria ter o mesmo tempo
de cumprimento do que se a pessoa fosse realmente apenada com a pena do crime,
isso ainda existe?
Professor: A gente vai ver isso aqui no princípio da humanidade das penas. Mas nós
vimos isso na primeira ou segunda aula tá? Mas a gente vai ver de novo no princípio
da humanidade das penas, que é a questão que no Supremo não pode ultrapassar 30
anos com a pena privativa e por analogia aplica à medida de segurança, e para o STJ
não pode ultrapassar o máximo da pena em abstrato que se aplica à medida de
segurança. Para o código penal o prazo pode ser indeterminado, desde que a medida
de segurança não seja substitutiva, porque se for substitutiva se vincula ao máximo da
pena. A gente vai ver isso no princípio da humanidade das penas mais à frente.
172
Que é o sursis, que é diferente de suspensão condicional do processo da lei 9099 que alguns chamam
de sursis processual.
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A Constituição ainda tem norma expressa, ela proíbe lei delegada de tratar
de direitos individuais. Portanto, há uma proibição expressa que lei delegada possa
tratar de direitos individuais (Art. 68, §1o, II CF). Alguns autores entendem que aqui
estaria também uma vedação ao direito penal incriminador. Direito penal incriminador
significa aquele que tem preceito primário e preceito secundário, possibilidade de
agravação, que é diferente de direito penal não incriminador, onde a gente tem outras
normas, como as excludentes de ilicitude, as excludentes de culpabilidade, as normas de
interpretação.
É um tema que se arrasta no Brasil por anos, desde a CF/88, e ele ainda é
cobrado. A CF/88 tratou da medida provisória no art. 62. Houve uma emenda
constitucional em 2001. Então, temos aqui em 1988 a medida provisória no art. 62, e
temos uma emenda constitucional de número, salvo engano, EC 32/2001, que trouxe
uma alteração ao art. 62 da CF174.
Direito penal não pode ser tratado por meio de medida provisória. Medida
provisória não pode tratar de matéria penal. Está escrito, portanto, em outras palavras,
que medida provisória não pode dar bom dia, boa tarde ou boa noite ao direito penal.
Não está escrito lá assim: “medida provisória não pode tratar de direito penal
incriminador”, “medida provisória não pode tipificar crimes”, não está escrito isso, está
escrito “medida provisória não pode tratar de direito penal.” Em tese, então, tudo que é
direito penal não pode ser tratado por medida provisória.
estabelecer o preceito primário e o secundário, mas pode fazer todo o resto: abolir
crime, diminuir pena, pode tratar de direito benéfico. A decisão do Sepúlveda é anterior
à emenda 32, é do ano de 2000. Em tese, então, o constituinte teria, depois de 2001,
proibido que medida provisória pudesse tratar disso tudo que o Sepúlveda autorizou lá
atrás. Mas a interpretação do STF, e do STJ de forma difusa, tem sido no sentido de que
a medida provisória continua desse jeitinho aqui que o Sepúlveda decidiu no ano de
2000: só não pode criar crime, mas pode tratar de direito penal benéfico.
Exemplo:
Possuir arma é diferente de portar arma – portar arma é carregar arma, dentro do carro, na cintura, em
177
que era crime, e depois surgia a medida provisória daqui pra frente. Então você tinha
um primeiro período que não era crime, um terceiro período que não era crime, e um
segundo no meio que era crime. Aí teve gente que foi flagrada possuindo antes do
surgimento da medida provisória nova, e o STJ falou que não haveria retroatividade,
porque norma temporária não retroage. De onde ele tirou isso? Da cabeça dele. Ou
deles, já que o STJ não é um ser humano. Disse que não retroage178.
“Então cara, você se deu mal, você tinha que ter escondido direitinho para
você ser flagrado aqui ou aqui”.
O art. 3o do CP não fala nada disso de norma temporária que não pode
retroagir, ele fala que normas temporárias maléficas ultra-agem, aquelas de situações
específicas – estado de guerra, estado de sitio, algumas situações específicas tratadas no
art. 3o do CP. Então medida provisória tratou disso.
Exemplo:
178
Caiu isso na prova de juiz do DF na época. Disse que a norma temporária, que era a medida provisória,
ela não retroagiria.
179
Na prova da AGU de 2006 caiu: segundo a jurisprudência do STF, medida provisória pode tratar de
direito penal benéfico. Verdadeiro.
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Dessa forma, a lei deve ser certa (evitar esse conceito indeterminado) e
prévia (tem relação com a retroatividade). Quando o princípio da legalidade surge,
atrelado a ele, havia a irretroatividade180.
3. Anterioridade
Lei anterior ao fato. Isso está ligado à legalidade, não há crime sem lei
anterior que o defina, não há pena sem prévia cominação legal.
Aí o povo floreou, teve gente que colocou proibição do excesso, proibição do retrocesso, proibição da
tutela penal deficiente, mas a questão não falava se era de penal, de administrativo, de constitucional.
Aparentemente era de constitucional, não falava nada de penal. Aí pesquisaram, pesquisaram, e o povo
está dizendo que tem um artigo de mestrado do IDP que um aluno na dissertação defendeu mais duas
características, características essas que parecem não estar em nenhuma dessas obras de direito
constitucional mais conhecidas, mas sim numa obra de princípio da proporcionalidade do Daniel
Sarmento que fala um pouquinho sobre isso. Ou seja, tirou de uma dissertação, e o que isso tem a ver com
a atividade do delegado do dia-a-dia? Nada, mas pra passar no concurso tem que saber isso, ou tinha que
saber. Claro que muita gente vai passar no concurso tendo errado essa questão, mas quem errou teve que
sair super bem nas demais. Quem acertou essa e foi mais ou menos nas demais, está dentro também.
182
O uso da linguagem é muito estudado, sabiam disso? O Bruno que dá aula aqui fala que o nosso
mundo é do tamanho do nosso dicionário. O uso da linguagem é terrível, porque tem examinador que não
sabe que para aquele concurso tem que selecionar gente pra trabalhar naquela área, não pode fazer
pergunta absurda, tem que ter um ponto de equilíbrio. Essa questão, por exemplo, fugiu do ponto de
equilíbrio, excelentes candidatos que darão excelentes delegados estarão fora porque não tinham a
mínima noção disso, 99.9% dos candidatos da 2a fase não sabiam, talvez 0.1% que acertou.
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Quando a gente estuda a LINDB, ela não vai tratar dessa forma. Então o
direito penal no tempo tem princípios que lhe são peculiares. A sucessão de normas
penais no tempo envolve o exame da abolitio criminis, da lex mitior, da lex tertia, da
extra-atividade da lei penal, da norma penal incriminadora, da vacatio legis 184, mas tudo
isso se submete ao artigo 5o, XL da CF: lei melhor retroage, lei pior não retroage que é
diferente do direito processual, porque o CPP diz que há uma aplicação imediata da lei
processual penal (art. 2o do CPP).
Há vários autores que são contrários a isso, que entendem que deveria
existir uma conjugação do penal com o processual, que é a mesma coisa. Ou seja, não
deveria existir essa ideia de aplicação imediata do processo penal.
E outros autores entendem que tem normas processuais materiais que devem
ser submetidas ao modelo de direito penal, e normas processuais formais que não.
que as prisões cautelares do Moro não caem? Professor conta que estava discutindo com
um juiz e um promotor e que discordou dos dois. O juiz disse “Tá vendo, não cai!” O
professor disse: “opa, a prisão dele está bem fundamentada, mas eu já vi muitas e
muitas decisões tão bem fundamentadas quanto a dele e caem”. Por que não cai?
Porque o processo penal admite aquilo, é aquilo mesmo que está lá no CPP. Mas criou-
se um raciocínio no Brasil que ninguém pode ficar preso cautelarmente. Ninguém.
Salvo se for um cara que tá matando agora com sangue ali na rua, com uma arma e
apontando: “eu vou matar mais, hein!”. Aí pode. Por isso que solta todo mundo.
Observem como a questão muitas vezes é cultural, porque com o CPP que
temos, é possível aplicar o direito. Por que a sentença está saindo rápido? Porque ele faz
a instrução da forma que tem que ser feita. Tem muito juiz aqui que faz desse jeito.
Porque falta pragmatismo, falta capacidade de gestão, muita gente tem muito
conhecimento jurídico e teórico, mas não sabe pegar um processo e decidir em uma
folha em vez de fazer trinta, não sabe fazer no prazo menor do que o legal, esgota o
máximo e ultrapassa. Tem muito excesso de trabalho? Tem, mas tem mais falta de
gestão do que excesso de trabalho. Isso vale para advogado, promotor, juiz, todo
mundo. E isso aí é difícil, ninguém é formado nisso, na faculdade de direito a gente abre
mão disso né.
Muito bem, então vamos lá. A irretroatividade penal significa que a lei pior
não retroage e que a lei melhor retroage.
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Às vezes tem situações também que esse princípio vai atuar de forma muito
interessante, chamada pelo Aníbal Bruno de lei bipolar.
Seria assim: o fato é o fato X. O período é ano de 2000, ano de 2005, ano de
2010, ano de 2015. Se nós temos para o fato X a lei 1, com pena de 8 anos185 de 2000 a
2005. Eu tenho a lei 2, que tem pena de 5 anos para esse mesmo fato, de 2005 a 2010. E
tem a lei 3, que está vigendo até agora, ela tem pena de 10 anos para esse fato. Então,
10 anos, 5 anos e 8 anos são as penas.
185
Professor usará só o máximo para ficar mais fácil a compreensão.
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O fato foi praticado entre 2000 e 2005. Não importa quando ele foi julgado,
não importa, porque existe a ideia de retroatividade benéfica e irretroatividade maléfica,
então no direito penal isso pouco importa. No direito penal, é possível, mesmo após o
trânsito em julgado, aplicar lei melhor. Revisão criminal, é possível pro reu.
Então observe: o fato foi praticado aqui e o fato foi julgado aqui, 2013,
2014, 2015, por aí. Qual lei vai ser aplicada? É uma questão muito básica, acabei de
dizer. Qual lei vai ser aplicada? A lei 2. Ora, claro que é a 2, não tem como não ser a 2,
a 2 é a melhor! O fato aconteceu aqui (entre 2000 e 2005); estava sendo julgado pela lei
1. Quando entra a lei 2, ele passa a ser julgado pela 2, mesmo não tendo sido julgado é a
2 que aplica. Quando entra a 3, ela não pode retroagir, porque ela é maléfica. Então
continua a 2. Então a 2 retroage e, em tese, ultra-age: ela é uma lei intermediária, ela
tem extra-atividade, ela é uma lei bipolar. A lei 2 vai ser sempre aplicada aqui: se o
fato for julgado na vigência da 2, é a 2; se o fato foi julgado na vigência da 1, quando
surgir a 2, se o cara está cumprindo pena, a 2 (lei melhor) vai ser aplicada. E se ele já
cumpriu toda a pena? Deu azar. Concorda? Deu azar, devia ter cumprido só um
pouquinho. Então é isso, a 2 retroage se o fato foi julgado na vigência da 1, ela é
aplicada se o fato é julgado na vigência dela, ela ultra-age se o fato é julgado na 3.
Então a súmula está dizendo que: Caio sequestrou, para trocar o sequestrado
por um resgate, o filho de um rico, em janeiro do ano de 2018. Ele vai soltar em agosto
de 2018. Só que em junho de 2018 surgiu uma lei aumentando a pena do art. 159 do CP
(extorsão mediante sequestro), e ele só soltou a criança em agosto. Significa que essa lei
mais gravosa vai ser aplicada. “Ah professor, isso aí fere, porque a irretroatividade
maléfica, como fica?” Não fica. Por que não fica? É um crime permanente que está
sendo praticado.
Todos os furtos vão receber a aplicação do 71, caput – o juiz vai condená-lo
por uma só pena, se os crimes são iguais; os crimes têm que ser iguais, vai condenar
pela pena de um deles aumentada de 1/6 a 2/3, na continuidade simples do caput (já que
a do parágrafo único é diferente), de acordo com o número de crimes186.
186
Vide aula de concurso de crimes.
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Exemplo:
Professor: Perfeito, com certeza. Vai ser aplicada a lei melhor, mesmo se ele tivesse
soltado a criança antes, porque a lei melhor retroagiria.
Essa súmula não fala, mas ela também tem aplicação aos crimes
habituais. Ela só fala de crime continuado e crime permanente, mas é a mesma razão de
ser para os crimes habituais.
O crime habitual não se consuma com um único ato. Não tem crime habitual
com um único ato. Não existe exercício ilegal da medicina com um único ato, não existe
curandeirismo com um único ato. “Estou com uma única pessoa aqui, vou curar” – não
existe. Tenta desclassificar ou é fato atípico. Tenta encontrar algum estelionato e tal, ou
é fato atípico. A defesa vai dizer que é fato atípico, o Ministério Público vai tentar
desclassificar aquilo para alguma outra conduta, mas curandeirismo não é, exercício
ilegal da medicina não é, porque só teve um ato, ponto, acabou.
Há uma discussão com relação ao artigo 3o do CP, que trata das leis
temporárias e excepcionais, porque essas leis possuem ultra-atividade. E a ultra-
atividade delas, convenhamos, é maléfica né? É maléfica, porque são leis criadas para
situações específicas.
Observem: a lei foi criada para reger a situação desse período aqui. Aí
depois a lei deixou de existir e veio um período novo, que está existindo. Então a gente
tem um período passado e tem esse período só dessa lei. Ora, os fatos cometidos aqui e
não julgados aqui (porque às vezes é curto período, e o processo demora), para eles,
continuará sendo aplicada essa lei! A lei nova, que rege essas situações aqui, ou a lei
antiga que voltou a existir no mesmo sentido, ela será aplicada apenas aos fatos que
aconteceram antes e depois da lei excepcional e temporária. A lei excepcional ou
temporária do art. 3o do CP continuará sendo aplicada, sob pena de serem totalmente
inefetivas.
Uma informação preciosa: a lei nova pode (não é comum, mas pode, se
desejar) afastar de maneira expressa os efeitos ultra-ativos da lei temporária e
excepcional. Uma lei nova pode dizer: a lei temporária e excepcional não será aplicada.
Eu, lei nova, vou reger todos os fatos praticados sob a minha vigência e praticados
antes. Ora, elas têm a mesma natureza, de lei ordinária, ela pode dizer isso. De forma
expressa, os efeitos ultra-ativos podem ser afastados. O Capez diz isso na sua obra,
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muito interessante isso. A gente só aprende que tem ultra-atividade né? Mas esquece
que uma lei nova pode afastar esse efeito. Mas ela tem que ser benéfica, claro. Porque
essa lei é sempre maléfica.
4. Princípio da culpabilidade
Alguns doutrinadores colocam 3 funções, 3 características bem claras desse
princípio. O primeiro é: a culpabilidade é elemento do crime. O crime é um fato típico,
ilícito e culpável, então a culpabilidade é um elemento do crime.
Dolo e culpa não fazem parte da culpabilidade elemento do crime. Mas dolo
e culpa são importantes para entender a ideia de responsabilidade penal subjetiva. Num
estado democrático de direito, a responsabilidade penal é subjetiva, ancorada em uma
conduta dolosa ou culposa, com base no princípio da culpabilidade, que diz que a
responsabilidade penal não pode ser objetiva. Responsabilidade penal objetiva é
responsabilidade penal sem dolo, sem culpa, pelo mero resultado do seu
comportamento, mesmo que ele não tenha sido doloso ou culposo.
queria no momento da ação ou omissão, você não sabia o que estava fazendo no
momento da ação ou omissão, mas sabia o que estava fazendo quando bebeu.” “Mas
beber não é crime!” “Mas quando você bebe, é ação livre no início da causa, você
responde por aquilo que você faz depois.” “Poxa, mas isso é uma responsabilidade
penal objetiva.” “É mesmo, é um dos resquícios, uma das exceções, você se enquadra
nela.”.
No projeto do novo Código Penal, estão colocando algo que não existe
nesse código atual nosso: a exigência de previsibilidade. De modo que, se eu estou com
a chave do carro, chego num restaurante, no bar, e bebo, e sei que eu vou dirigir depois,
eu tenho previsibilidade, certo? Aí eu respondo. Agora, se eu não estou por exemplo
com nenhuma chave de carro nem nada, não vou dirigir, cheguei de taxi, mas bebi, bebi,
bebi... porque não sabia para onde ia depois, sem autodeterminação. Aí dirigi o carro
por acaso, porque alguém me deu a chave, etc., eu não sabia. Nesse caso vai haver
dificuldade de receber imputação no novo Código, porque vai faltar a previsibilidade,
que é a capacidade de prever o fato no momento do gole.
Hoje pouco se fala disso. Muita gente sustenta que hoje nós temos que
exigir isso, porque o art. 19 do nosso CP dá espaço para isso quando fala da necessidade
de dolo e culpa, mas são algumas discussões.
Quem está lendo o Bitencourt viu isso, ele trata desse tema de forma muito
interessante, ele tem até uma opinião particular quando fala que a actio libera in causa
só existe na embriaguez preordenada, já que a embriaguez preordenada é uma
agravante, quando você bebe para fazer. Mas na verdade gente, a actio libera in
causa é a ação livre no início da causa, é no momento do gole que ela é considerada.
Caiu na prova de juiz - DF o termo “momento da ingestão”, porque gole é uma palavra
feia né? É no momento do gole, da copada, mas caiu no momento da ingestão da
substância, quando você é livre para beber ou não. Você é livre pra beber ou não, mas
vai se dar mal se beber e fizer alguma coisa depois.
A rixa qualificada é do mesmo jeito. Vamos imaginar que todos nós aqui
estejamos em rixa – a rixa precisa de três posições contrapostas –, todos estejamos
batendo um no outro e aí alguém morreu. Todos nós vamos responder pela rixa
qualificada, mesmo que eu não tenha nada a ver com esse que morreu, foi o outro lá que
bateu no cara, a 20 metros de distância. Todos vão responder por rixa qualificada. E
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quem matou ainda vai responder por homicídio, mas todos os demais que sobreviveram
vão responder pela rixa qualificada. Mesma coisa se acontecer uma lesão grave, porque
a rixa é um crime de perigo, crime contra a paz pública. Há também um crime contra a
integridade física? Secundariamente há, mas é um crime de perigo. E aí o resultado
mais gravoso é imputado a todo mundo, isso é um resquício da responsabilidade
penal objetiva. E é interessante que se alguém sofre lesão grave, também tem rixa
qualificada, e todos respondem. Se você entrou na rixa, praticou rixa, mas não
conseguiu bater em ninguém, só apanhou, você responde.
Agora, se alguém sofreu lesão grave na rixa, perdeu um olho, ele próprio
responde por rixa qualificada. Ué, mas não é proibido punir a autolesão? Não estamos
punindo a autolesão, estamos punindo a rixa e o resultado dela, mas não a autolesão.
Quem furou o olho dele vai responder por rixa em concurso com lesão grave, e todos os
demais, inclusive ele, vão responder por rixa qualificada. É um resquício de
responsabilidade penal objetiva, a pessoa entrou e não bateu em ninguém – vai
responder. A interpretação da rixa é deslocada daquilo que a gente entende do Direito.
O paragrafo único é para aquela pessoa que se envolveu, mas não deu causa.
Então: A, B e C. Quem morreu foi B. O acidente foi entre o carro de A e B. Quem deu
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causa foi A. A responde por homicídio culposo (vamos imaginar que foi um caso de
culpa na direção de veiculo automotor com omissão de socorro); B, que não socorreu e
que não deu causa, responde pelo 304; C, que não se envolveu no acidente mas
passou pelo local e não socorreu – 135 do CP, omissão de socorro no código penal
porque ele não se envolveu no acidente187.
A que foi quem deu causa responde por homicídio culposo com a omissão,
que está no art. 302 aí do CTB e B responde pela omissão no CTB, porque ele se
envolveu, mas não deu causa. O curioso disso é a responsabilidade penal objetiva.
187
Essa questão caiu na prova do MP/MG.
188
Cadáver não é bem jurídico aí, cadáver é bem jurídico quando ele é manuseado, deixado em
determinado estado para pesquisa numa faculdade de medicina, de odontologia, e alguém vai lá e subtrai,
aí ele é objeto de furto. Mas por exemplo, quando o cadáver é subtraído numa sepultura, ele não é bem
jurídico, o bem jurídico ali é a memória do morto, a violação da sepultura, a memoria do morto que está
com quem? Com os vivos, os parentes, família.
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5. Intervenção Mínima
Este princípio nós já vimos lá atrás, quando falamos de algumas correntes
de política criminal.
189
É um tema que a gente vai ver na aula de pena.
190
No seu livro “Das penas e seus critérios de aplicação”, da livraria do advogado.
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Quando uma pessoa pratica incesto no Brasil e acredita que é crime, ela
está agindo em que tipo de erro? Erro de proibição ao avesso, porque o erro de
proibição tradicional é quando é crime e eu não tenho a consciência da ilicitude. Esse
erro de proibição aqui é interessante, porque não é crime e eu acho que é crime. O nome
que a doutrina dá é erro de proibição invertido, ao avesso.
Quando uma mulher acha que está grávida mas não está, e toma um
cytotec para matar o feto, que erro é? Invertido também, ao avesso. Porque não tem
feto, então o crime é impossível, só que ela acredita que está praticando o crime, mas
não está. Por que erro de tipo invertido? Porque no erro de tipo tradicional, essencial, a
pessoa não quer cometer o crime, e nesse aqui ela quer cometer o crime, mas não tem
como cometer o crime, é um crime impossível, é o erro de tipo invertido.
Assim, o Brasil não proíbe sexo de pai com filho, diferente da Alemanha. O
tribunal alemão disse que pode sim existir essa tipificação. Quando o tribunal alemão
falou isso, surgiu na Alemanha um enfraquecimento da ideia de direito penal para
tutelar bem jurídico. Essa tese hoje é um pouco fraca lá. Muitos autores tentam (vou
usar uma expressão apenas para compreensão) “reconceituar191” o bem jurídico para
191
O Luís Greco fala sobre isso num artigo dele publicado aqui no Brasil.
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salvá-lo, já que o tribunal alemão disse que pode punir o incesto. Qual é o bem jurídico?
Moral?
192
Número do julgado não disponibilizado. Vide roteiro de aula.
193
Número do julgado não disponibilizado. Vide roteiro de aula.
Página 191 de 380
Todo mundo pensou que agora havia sedimentado a orientação, ou seja, até
então, descumprir medida protetiva da lei Maria da penha gera o crime específico do
359 de descumprimento de ordem judicial que limita o exercício de um direito. Até o
TJDF decidiu nesse sentido. Não durou muito. Agora chegou em janeiro de 2015: não
é crime de desobediência. Fato atípico. Princípio da subsidiariedade, da intervenção
mínima tá aqui. Se o juiz fixou medida protetiva e ele não cumpriu? O juiz tem outros
mecanismos, mas isso não é outro crime. Quais são os outros mecanismos? Prisão
preventiva, se for multa pode ser executada pela parte.
Agora, se você requisitou a força policial e mesmo assim ele não cumpriu a
ordem policial, quer entrar na casa de todo jeito, então deu agora uma desobediência
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não contra a ordem do juiz, mas contra a ordem do policial. Viu como é fácil manobrar
o direito? “Peraí, eu não estou denunciando desobediência a ordem judicial, eu estou
denunciando desobediência à ordem legal do policial”.194
Perguntas:
Professor: Na lei não está, isso aí não gera desobediência, mas e se tiver numa ordem
judicial, na ordem que determinou a astreinte? Eu nunca vi isso. Porque já tem casos
antigos, referentes a outras situações de busca e apreensão de bens, que o STF
reconheceu que na ordem judicial que estava isso, que poderia existir desobediência.
Por isso que eu falei, daria um texto sobre isso. Alguns autores do direito processual
civil têm textos publicados dizendo da inefetividade dos provimentos mandamentais
após a orientação jurisprudencial de não caracterização do crime de desobediência.
Em outras palavras: muitas obrigações de fazer não tem sido cumpridas porque não
caracteriza mais crime de desobediência. Dizendo que essa orientação, de que não
caracteriza crime, prejudicou o cumprimento das ordens judiciais no âmbito cível. Se
vocês digitarem no google acadêmico vocês vão encontrar isso: inefetividade do
cumprimento de provimentos mandamentais, não caracterização de desobediência.
Professor: Presta atenção, essa pergunta nós vamos ver na teoria da norma, mas é
muito boa. Teve lei? Não. Nós vimos que lei retroage para beneficiar, não vimos nada
194
Vide julgado no roteiro de aula.
195
Isso aqui de uma hora pra outra muda. Tem umas organizações da sociedade civil, várias, formadas por
vários grupos de mulheres, que fazem uma peregrinação de vez em quando no Congresso Nacional, no
STJ, dizendo da importância dessa lei no contexto social brasileiro etc., e de vez em quando eles mudam
o entendimento. Assim como gerou a lei, já gerou mudança de entendimento. Então sempre temos que
ficar vendo o que vai acontecer.
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de jurisprudência ainda. Mas vamos ver isso na teoria da norma. Tem algumas
orientações com relação a isso. Tem súmula vinculante? Não. O juiz pode decidir
inclusive diferente do que disse o STJ? Pode. O MP ainda pode denunciar, como
denuncia em diversos casos, que é crime de desobediência? Pode. Tem muita gente
sendo condenada? Tem. O que eles vão fazer? REsp, HC, tentar chegar ao STJ. Mas a
gente vai ver isso na teoria da norma. A princípio, a mudança de jurisprudência não
muda a situação fática lá, só jurisprudência não.
Professor: Não, ele pode entender, e pode recorrer da decisão dele, por exemplo, o
tribunal pode entender diferente. Aqui no DF é muito comum o TJDFT seguir
tudinho que o STJ fala. Não é assim no TJSP, não é assim no TJMG. São Paulo
principalmente. Mas dia após dia a jurisprudência vai guiando. No passado todo
mundo precisava de revista, hoje é um clique, é mais rápido que pesquisar lei e
doutrina.
6. Adequação Social
A adequação social é um princípio criado pelo Welzel no finalismo e
significa que condutas conformadas socialmente carecem de tipicidade.
Por exemplo, venda de CDs piratas, um monte de gente compra, mas não
tem incidência da adequação social. STF e súmula recente do STJ, súmula 502. Não
tem adequação social, porque ofende a arrecadação de tributos, a concorrência leal. A
jurisprudência disse que não tem, mas na prática forense um monte de colegas aplicam a
insignificância, um monte de colegas aplicam a adequação social, segundo o professor.
Mas não tem uma súmula? Mas não é vinculante. Mas não deve seguir a súmula?
Na medida do possível, de acordo com o intérprete.
196
Semana passada Dermeval denunciou um desse, na hora que viu a polícia chegando no lugar onde ele
vende, abandonou o carro com tudo o que estava lá e saiu correndo.
197
Inaudível em 02:02:00 da Gravação do Davi José. Leitura do roteiro.
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Professor afirma que há uma decisão recente do STJ que deu discussão na
6a turma, porque o ministro Sebastião Reis queria ampliar a incidência da adequação
social e o ministro Rogerio Schietti conseguiu convencer o restante da turma e se tornou
relator para não aplicar a adequação social (uma aula de adequação social que o
professor recomenda fortemente a leitura).
O Welzel não dizia que a adequação social apenas orienta o legislador e essa
limitação não existe, ele orienta a atividade do legislador e também do operador. O STJ
acabou de afirmar isso. Portanto, estamos diante de um comportamento tipificado que
pode ser aplicado o princípio da adequação social, para afastar a incidência, para afastar
a tipicidade material. A tipicidade formal continua existindo. O Regis Prado diz que o
princípio da adequação social serve como argumento para dizer que o modelo finalista
não tem tipicidade formal, e sim material. Senão o Welzel não tinha inventado esse
princípio, que permite afastar a tipicidade material.
7. Insignificância:
O princípio da insignificância tem uma abordagem bem maior.
Outros autores falam que é um princípio que surge com o Roxin em 1964198.
198
Tudo isso que foi falado tem um artigo que está na pasta chamado de “o princípio da insignificância e
sua aplicação no crime de descaminho”,
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Por isso que esse princípio foi chamado de princípio da bagatela. Quando
alguns autores hoje falam que bagatela é diferente de princípio da insignificância é
invencionismo. Uso da linguagem, a linguagem é exercício de poder ou de mentira.
Bagatela é o objeto e o fato que provocou uma ofensa ínfima sobre o qual incide um
juízo valorativo é o princípio da insignificância, para dizer que não tem tipicidade.
7.2. Conceito
Quais são os requisitos para este princípio? É aqui que está a importância
maior para vocês. Quais são os requisitos199?
Mauricio Antônio Ribeiro Lopes contrariava a doutrina que dizia que podia aplicar no
uso de drogas (Rogerio Greco, por exemplo), ou por exemplo em lesão pequena,
lesão leve, muito próxima a uma via de fato, uma contravenção (um beliscão que
deixa vermelho, mas às vezes é tão forte que deixa uma equimose), e como é uma
ofensa à integridade física, em tese não caberia insignificância. Mas eles temperavam
isso.
Rogerio Greco dá um exemplo disso: você vai assistir um filme no cinema e tem uma
pessoa com uma cabeça muito grande na sua frente, você não consegue ver e dá um
beliscão nela, pra ela se mover.
Então observe: hoje, como é que está isso? A doutrina sempre defendeu uma
expansão. O Mauricio Antônio Ribeiro Lopes falava “olha, a expansão deste
princípio vai matá-lo, porque quando você defende um campo muito grande de
incidência, você atrai mais críticos ao próprio princípio.”
Segundo o STJ, isso aqui aplica insignificância 200. Como é que você vai
saber se aplica ou não? Tem que ler, mas é decisão que nem está no informativo. Ou
seja, uma questão mal feita, porque dependendo do valor daquilo tudo ali, o valor por si
só não é considerado, mas dependendo do valor, há dificuldade de aplicar.
Aplica para uso de drogas? Não aplica, mas tem uma decisão do Supremo
do Toffoli que aplicou. Então, há muito casuísmo.
200
Caiu uma questão na prova do Espírito Santo sobre esse julgado específico e ele não estava no
informativo. Por isso, o professor recomenda a leitura de todos os julgados.
201
Professor nos remete para cerca de 50 julgados colacionados no roteiro de aula de Princípios.
Página 201 de 380
Perguntas:
1. Comentários Iniciais:
202
http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo793.htm
Página 202 de 380
Alunos: Joaquim.
Alunos: Só.
Professor: Mas aqui é outra história, não é com base no princípio da insignificância.
Eu acredito que o Supremo não vai descriminalizar não, mas também eu não esperava
que o Gilmar votasse para descriminalizar. Então a gente não tem como prever.
Com relação a essa questão, a doutrina tem uma visão mais expansiva
para a sua incidência, a jurisprudência nem tanto. Só que percebemos na jurisprudência,
cada dia mais, uma visão de descarcerização, talvez pelo número de presos no Brasil,
pelo número de presos cautelares, principalmente, das pequenas infrações que geram
denúncia, que geram condenação. Contudo, há muito casuísmo, muitas decisões
contraditórias.
que diz o art. 20 da Lei 10.522/02203. Só que o art. 18204 diz que até R$ 100 deveriam
arquivar com baixa na distribuição, isto é, de R$ 100 a R$ 10.000 não haverá
arquivamento, deste modo, vai ficar sobrestado aguardando novas dívidas da pessoa até
satisfazer aquele valor viável do ponto de vista da execução.
Com isso, o que nós tivemos depois foi o seguinte: O STJ passou aplicar
até R$ 10.000 e o Supremo também.
203
Art. 20. Serão arquivados, sem baixa na distribuição, mediante requerimento do Procurador da
Fazenda Nacional, os autos das execuções fiscais de débitos inscritos como Dívida Ativa da União pela
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional ou por ela cobrados, de valor consolidado igual ou inferior a R$
10.000,00 (dez mil reais).
204
Art. 18. Ficam dispensados a constituição de créditos da Fazenda Nacional, a inscrição como Dívida
Ativa da União, o ajuizamento da respectiva execução fiscal, bem assim cancelados o lançamento e a
inscrição, relativamente:
205
O professor, inclusive, no ano de 2009, publicou um artigo nesse sentido. O STJ tinha a posição do
ministro Felix Fischer que era assim, mas ele se deu por vencido, inclusive citou esse artigo, que foi
publicado em 2009, falou “olha, eu sou voto vencido, reconheço que parte da doutrina fala isso”, mas o
Felix Fischer cedeu.
206
O Relator inclusive citou o artigo de 2009 que publiquei e citou também o artigo do Douglas Fischer
no mesmo sentido, membro do MPF.
207
Conforme o professor, isso pode ser questão de prova de concurso! E inclusive foi questão de prova
oral de terça feira, juiz DF.
Página 204 de 380
Essa decisão do STJ foi alvo de recurso, foi para o Supremo. Não
descarto a possibilidade do STJ ceder a esse posicionamento do Supremo Tribunal
Federal. Isso é para nós vermos como essa questão é interessante na jurisprudência.
Nós vamos analisar que existe julgados isolados, como por exemplo, no
informativo 629 do STF208, onde o ministro Marco Aurélio falou “olha, não podemos
confundir execução fiscal com processo penal. A atribuição penal é do Ministério
Público, execução fiscal da Procuradoria da Fazenda, questão de cobrança.... então
não tem analogia nesse negócio não! O Ministério Público denuncia lá por descaminho
de R$ 200,00; R$ 400,00, não tem nada a ver com cobrança de dívida!”. E realmente é
isso! Porque é totalmente desproporcional aplicar a insignificância até R$ 10.000, R$
9.000, R$ 15.000 em descaminho e não aplicar em um furto de R$ 500. Ou seja, quando
interessa a União, a Fazenda, a gente tem um tratamento diferente. O que observamos é
que a União, quando se trata de suas dívidas, objeto de crime ou não, ela usa o Direito
Penal como mecanismo de cobrança. É o que acontece no REFIS tributário: O sujeito
paga e extingue a punibilidade. Mas se o seu vizinho furtar um objeto seu e você
resolver perdoá-lo, se já tem o inquérito, se o judiciário já tomou conhecimento, se o
Ministério Público tomou conhecimento (para ser mais exato), se a polícia tomou
conhecimento do inquérito, provavelmente aquele inquérito vai para o Ministério
Público e ele vai denunciar. Isso ocorre, porque o furto é um crime de ação pública
incondicionada, por mais que o projeto do novo código penal que tramita no senado
esteja mudando para ação condicionada, isto é, você não tem como barganhar, negociar
a subtração que aconteceu com você do ponto de vista penal. E as pessoas ainda têm
essa visão, não é? “Ah, mas ele disse que não ia me interessar ir lá...” Não tem que
interessar, é ação pública incondicionada. A União, portanto, sempre busca criar
mecanismos para resolver os seus problemas de arrecadação, ignorando a questão ética
do bem jurídico, do crime, e isso é muito interessante.
208
Acessar: http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo629.htm
Página 205 de 380
militar usava maconha, estava com dois cigarros, ou três no bolso e outro na boca).
Nesse sentido, a Ex-Ministra Ellen Grace, em um caso semelhante falou: “Não, não
cabe aplicação. Hierarquia e disciplina da Constituição para os Militares. Imagine só,
o militar pode usar drogas e ele vai conduzir pessoas que estão usando droga na rua
até a delegacia, tem cabimento?” Isso gerou o pleno no Supremo, gerou o debate e
demorou para ser pacificado. Para vocês terem ideia, foi do informativo 519 até o 608,
somente no 608 ele foi pacificado. Durante esse tempo todo ficou pelo sim e pelo não,
gerou uma insegurança jurídica.
É pacífico? Não, visto que no STJ prevalece ainda a ideia de que não
cabe insignificância nos crimes contra a Administração Pública, ou seja, a moralidade
administrativa, que é o bem tutelado, não pode ser mensurada, medida como bagatela.
Nessa lógica, tanto faz uma corrupção de R$ 10 quanto uma corrupção de R$ 10
209
Há muitos julgados nesse sentido ainda, do STJ principalmente
210
Projeto do novo código penal que tramita no senado - Aqui hoje tem o quê? Desviar e apropriar. Estão
colocando usar, desviar e apropriar. Então, o uso passa a ser tipificado. Quem leu aqueles artigos que o
professor passou, já viu isso, porque tem um artigo sobre crimes contra administração no novo código.
211
Isso aqui a AGU cobrou no último concurso, agora vai ter de novo né? Concurso. Anulou a questão
porque o examinador se esqueceu que o Supremo tinha decidido recentemente pela possibilidade.
Página 206 de 380
Então, o sujeito que furta janelas (prega direito as janelas da sua casa),
aplicou, não aplicou. Em outros termos, nós temos decisões pelo sim e pelo não, que foi
evoluindo, involuindo e aí avançando.
Outros Julgados:
Não disponibilizou o slide: Esse julgado daqui é a decisão do Supremo que aplicou
até R$ 20.000, já mencionando.
Não disponibilizou o slide: crime descaminho - esse aqui era do STJ dizendo que era
até R$ 10.000, foi a decisão da 3ª sessão que eu acabei de falar, vocês vão receber.
Não disponibilizou o slide: caso que iniciou no Supremo sobre reincidência e furto e
Página 207 de 380
qualificadora de furto - Então, dois temas diferentes. Primeiro furto qualificado depois
reincidente. Começou e acabou da seguinte forma que nós vamos mostrar para vocês
no finalzinho aqui. Reincidência e furto qualificado eu vou mostrar daqui a pouco para
vocês.
Pois bem, vamos imaginar que essa pessoa doou R$ 10.100 certo? Estou falando de
doação. Ela vai ser representada por doação ilegal de campanha e terá que pagar uma
multa que é “x” vezes o valor da doação. Professor, R$ 100,00 que ela passou, e a
insignificância? O TSE entende que não cabe insignificância. Independentemente se o
valor que pagou a mais foi de 1, 2 ou 100 reais a mais. É uma forma de tentar purificar
as relações, mas imagine só os milhões que são doados aí na lava jato, tão irregular.
Não disponibilizou o slide: Muito bem. Recusou aplicar insignificância, aqui é outro
assunto, que tem crimes do código eleitoral, por exemplo, o sujeito preencheu
documento falso, tem outros crimes, assinatura falsa, aí tem outros crimes do código
Página 208 de 380
eleitoral.
Certo então que a argumentação é casuística. Ela vai andando caso a caso. Muitas
vezes não tem como você saber tudo isso porque é muita informação. Então, temos que
tentar entender o miolo das coisas e ler o máximo, mas não tem como decorar.
Na verdade, a história desse julgado é uma história, com o devido respeito, esquisita na
linguagem, discussão na solução.
O Barroso queria liberar para aplicar, ele era o relator, ele iniciou o julgamento e o
Teori “opa opa opa, ahn ahn, isso aí não cabe não meu amigo, isso é direito penal! O
sujeito pratica uma vez duas vezes três vezes e você vai aplicar a insignificância para
ele? Ele vai continuar praticando! Isso não entra na cabeça nem do maior
especialista em defesa do garantismo aberto da proibição do excesso. Não entra na
cabeça não. Ninguém acredita nisso, nem o cara que pratica acredita.” Então, aí o
Barroso falou “não! Então realmente está certo!”. Isto é, para não perder a relatoria,
com o devido respeito, ele cedeu ao argumento do Teori, mas não negou, não desfez da
relatoria e aí colocou um meio termo na relatoria. Qual é o meio termo? Caso a caso.
O “negócio” ficou mais estranho, porque quando a pessoa vai com o argumento “x” e
Página 210 de 380
ela não cede ao argumento “y”, o cara do argumento “y” que é maioria de votos, se
torna o relator. É assim. Neste caso, o Barroso continuou como relator e colocou um
meio termo (caso a caso).212
Qual o tema aqui? Reincidência e insignificância. O Supremo disse que analise tem
que ser caso a caso e o STJ, por enquanto, está dizendo não.
Agora, conversando ontem no Supremo com um servidor de uma turma assim “aqui é
não”, ou seja, parece que o Barroso vai continuar afirmando que pode ser caso a caso,
mas a maioria dos ministros vão afirmar que não.
O Supremo não pacificou, disse que a análise tem que ser feita caso a caso. Essa é a
orientação do plenário ao concluir o julgamento. O paciente fora condenado a pena de
um ano de reclusão pelo crime de furto simples de chinelo, embora o bem tenha sido
restituído à vítima. O tribunal local não substituiu a pena por restritiva de direitos em
razão da reincidência. O colegiado por decisão majoritária denegou a ordem de ofício
para fixar o regime aberto. Aí o paciente fora condenado pela prática de furto
qualificado depois outro... vários casos né, que eles queriam trabalhar aqui como
repercussão geral.
O plenário aduziu ser necessário ter presente as consequências jurídicas e sociais que
decorrem do juízo de atipicidade resultante da aplicação do princípio da
insignificância. Negar a tipicidade significaria afirmar que do ponto de vista penal, as
condutas seriam mistas. Além disso, a alternativa de reparação civil da vítima seria
possibilidade meramente formal, inviável no mundo prático. Sendo assim, a conduta
não seria apenas penalmente lícita, mas imune a qualquer espécie de repressão.
Isso estaria em descompasso com o conceito social de justiça visto que as condutas em
questão, embora pudessem ser penalmente relevantes, não seriam aceitáveis
socialmente. Ante a inação estatal, poder-se-ia chegar a lamentável consequência de
justiça privada (até argumentaram aquelas questões que estavam acontecendo no
Maranhão, Piauí, não sei qual o Estado, onde as pessoas estão linchando, o cara
subtrai, eles ligam para polícia, quando a polícia chega o cara está amarrado em um
poste, morto. Ninguém sabe quem foi, ninguém vai falar. Está acontecendo
212
Esse julgado gente, vai cair nas próximas provas também. Já caiu agora ó, na prova oral, no dia 24
Página 211 de 380
O ministro Barroso reajustou seu voto (está aí na parte final) vencidos a ministra Rosa
Weber e Celso de Mello que concediam a ordem. Fachin não conhecia do Habeas
Corpus. Marco Aurélio denegava a ordem. Quanto ao HC, ficaram vencidos os
ministros Celso de Mello e Rose Weber que não conheciam o HC, mas concediam a
ordem de ofício Fachin que não conhecia do Habeas Corpus e Marco Aurélio que
denegava a ordem.
No que se refere ao HC, ficaram vencidos os ministros Fachin e Rosa Weber que não
conheciam do HC, o ministro Celso de Mello concedia a ordem. Então ficou isso aí
que não ficou. É a história que nós temos da insignificância
Aluno: O que que se entende de gato, desvio de água, de energia elétrica, tem
aplicado?
Professor: Olha, o STJ tem umas decisões esquisitas, que é o seguinte: Isso vale para
o furto de energia (art. 155, CP), a gente vai ver isso, parte especial lá na frente, mas eu
vou dar uma resposta rápida aqui já.
No art. 155, §3º do Código Penal213 (isso é novo) eles estão usando o raciocínio do
pagamento. O sujeito subtrai energia, subtrais água. Concessionária descobriu, a conta
Página 212 de 380
3. Princípio da Ofensividade214
A conduta para ser caracterizada como crime tem que gerar um perigo
concreto ou uma lesão. Não existe, portanto, crime só com perigo abstrato. Esse seria o
sentido do princípio da ofensividade na sua máxima potência. Essa seria a máxima
exploração do princípio da ofensividade. Só há crime se a conduta causa um perigo
213
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: § 3º - Equipara-se à coisa móvel a
energia elétrica ou qualquer outra que tenha valor econômico.
214
Poderia ser só ofensividade, não precisava dos outros ou poderia ser só lesividade, não precisava dos
outros, vários livros vão falar LESIVIDADE, está certo, outros livros OFENSIVIDADE, está certo, não
precisa falar dos outros. Por que eu coloquei esse tanto de nome? Porque são nomes que a doutrina
trabalha, isso aqui não é didático do ponto de vista jurídico, mas para a aula sim, para vocês entenderem o
tanto de sinônimo que é utilizado.
Página 213 de 380
concreto ou uma lesão. Isto é, com essa afirmação estamos dizendo que não há crime de
perigo abstrato, conforme proposta de algumas doutrinas.
4. Princípio da Lesividade.
O princípio da lesividade indica que para ser crime a conduta tem que
gerar uma lesão à bem jurídico de terceiro ou um perigo a bem jurídico de terceiro. Não
existe crime de autolesão, não pode ser tipificada a autolesão. Esse é o sentido do
princípio da lesividade, isto é, a autolesão não pode ser tipificada.
O princípio da lesividade, portanto, indica que tem que haver uma lesão a
bem jurídico de terceiro. O Nilo Batista afirmou que com base no princípio da
lesividade, o uso de drogas não pode ser crime, porque se pune a autolesão. Qual é o
argumento contrário? Pune-se o crime contra a saúde pública, e não o fato de o sujeito
isoladamente estar usando. É uma questão de saúde pública do impacto que vai gerar
com o uso de muitas pessoas. É um crime cumulativo, um uso só não gera grande
ofensa à saúde pública, mas o uso de muitas pessoas gera problema de saúde, que vai
impactar a saúde pública do país.
215
Acessar: http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo554.htm
Página 214 de 380
A conduta tem que sair da esfera do sujeito para ser crime. Não se pune a
autolesão. Por exemplo: Eu posso cortar minha mão - não se puni autolesão. “ah, mas
o senhor corta sua mão e pede indenização no seguro dizendo que foi um acidente” - aí
já não é autolesão, aí é a fraude que está sendo punida para obter uma vantagem ilícita,
ou seja, é o estelionato do art. 171 § 2º.
O Luís Flávio, quando trata desse tema, fala “olha, não pode punir
mendicância, vadiagem.”, uma delas, que é a mendicância, saiu da lei de contravenções
penais, foi revogado e a outra permaneceu na lei de contravenções penais. Nós vamos
ver isso (Decreto Lei 3.688/41, art. 60, revogado em 2009 - mendicância). Vadiagem,
art. 59, permanece.
216
Já caiu na prova do MPDFT assim: Ofensividade Lesividade. O princípio da ofensividade ou da
lesividade (olha como o examinador trabalhou, está certo não está?), não permite a punição de
pensamentos, ideias - Verdade. Agora, se cair assim: O princípio da culpabilidade não permite a
punição de pensamentos e ideias - você tem que analisar bem detalhadamente.
Uma aluna errou por conta disso, porque, se só tiver essa assertiva e as outras forem falsas, você pode até
marcar, porque a culpabilidade significa também direito penal do fato e não do autor. Mas se tiverem
várias questões de princípios, esse não é o conteúdo do princípio da culpabilidade, é o conteúdo do
princípio da ofensividade ou lesividade, e é isso que o examinador queria na questão objetiva.
Página 215 de 380
Em outras palavras, se você tem renda, acertou na “mega sena”, pode ser
ócio, pode se entregar a ociosidade, pode ser ocioso.
217
Esse estilo de linguagem de livro, as vezes cai em item de prova, principalmente um livro conhecido,
que é o do Nilo sobre esse tema, no Introdução crítica ao Direito Penal, ele trata desses princípios.
Algumas expressões a saber: Proibição da inclinação de uma atitude interna, como ideias, convicções,
aspirações, desejos. Proibição de inclinação de uma conduta que não exceda o âmbito próprio autor.
Proibição de inclinação de simples estados e condições existenciais (aqui sempre cai essa expressão)
218
O livro está no DropBox da degravação
Página 216 de 380
sociais para ser mais exato (clube, igreja, escola, família, roda de amigos), mas não pelo
Direito Penal.
7. Princípio da Proporcionalidade.
219
Aqui, o professor está trabalhando com um livro da Maria Ângela - Princípio da proporcionalidade no
direito penal. Esse aqui é da Maria Ângela, estou trabalhando direito penal, não estou trabalhando direito
constitucional, porque está dando uma resenha muito grande aí, vou falar daqui a pouco, sobre a prova de
delegado né? A última que teve. Quem viu a prova aberta sabe do que eu estou falando. Perguntaram
sobre o princípio da proporcionalidade e suas cinco características, e suas duas características além dessas
(3). Ele não queria nada dessas. As outras duas que ele queria tem em uma dissertação do IDP de
mestrado e tem em um livro, salvo engano do Daniel Sarmento. Ou seja, ele perguntou temas totalmente
abstratos. Falou “olha, além da proporcionalidade como necessidade, adequação e proporcionalidade em
sentido estrito, que é usado em todos os ramos do direito, quais são as outras duas?” A pergunta é assim,
quais são as outras duas. Ele não quer isso daqui (as 3). Aí o povo inventou um monte de coisas e depois
viram que estava em uma dissertação do IDP, parece que ninguém acertou. Não sei. Tem um pessoal
querendo impugnar a prova, por conta desse tipo de pergunta...)
Página 217 de 380
Exemplos Negativos:
Lei 4898, o que é um exemplo negativo? Mostrando que o legislador errou. Qual é a
pena para o abuso de autoridade? Máxima! Direito penal! Porque a lei 4898 tem
sanção administrativa também, certo? Qual é a pena aqui? 6 meses. A pena é de 6
meses na lei 4898. Isso significa dizer que a pena é desproporcional para menos, a
pena viola o garantismo na sua medida de proibição da tutela penal deficiente. O
garantismo penal não pode ser visto só como proibição do excesso, ele tem que ser
visto como proibição da tutela penal deficiente e proibição do excesso, ou seja,
garantismo no sentido de equilíbrio, de moderação 220. Sempre a “não prisão”, a pena
menor, na aplicação pena já seria direito penal, mas é esse direito penal. Quem fala
contra isso está violando o direito penal, processual ou constitucional, ou seja, criou-se
uma ideologia, porque nós apropriamos do garantismo somente na medida de
proibição do excesso, e é verdade, mas o garantismo proíbe também a tutela penal
deficiente.
220
Tem inclusive um livro sobre garantismo penal da editora juspodivm, o autor foge a memória aqui,
procurador da república, que trabalha justamente nesse sentido. Tem um colega no MP do Rio Grande do
Sul, Doutor em Direito Processual Penal, o Mauro, professor da federal, foi colega do Bruno, do
Suxberguer, colega de estudo principalmente do Bruno Amaral, ele disse o seguinte na tese dele:
constatou que no Brasil o direito processual, na cabeça dos operadores a maioria válido, é o direito
processual que favorece sempre a libertação
Página 218 de 380
Agora, o legislador, outro dia dando uma palestra na Escola do MPU sobre lei 4898,
lei de tortura, eu critiquei um projeto que está no Senado, que estava no Congresso,
não sei em qual das casas, que trabalhava o abuso de autoridade para uma pena de 4
anos a 8. Aí seria também uma desproporcionalidade para mais. Porque se a tortura
tem pena de 2 a 8, não pode o abuso de autoridade ter pena de 4 a 8, também seria
desproporcional. É DESPROPORCIONAL o máximo de 6 meses, para menos, e é
desproporcional uma proposta de 4 a 8 anos, está na cara! Existe uma linha tênue, mas
tem situações que são fáceis de identificação da violação, de identificar, por exemplo, a
violação do princípio da proporcionalidade.
Aqui é palpite de doutrina. Rogério Greco, por exemplo, acha que o estupro não
poderia ter a mesma pena mínima do homicídio. A pena mínima do estupro simples, 6
anos, do homicídio, 6 anos. Não poderia. Para ele o homicídio tem que ter uma pena
maior, ele não está questionando 6 anos do estupro, ele está questionando a igualdade,
a semelhança entre o estupro e o homicídio na pena mínima. Isso aí é um palpite, você
pode concordar ou não.
Aluno: Mas no caso do homicídio culposo não se considera que há, para o próprio
causador, o próprio agente ele já sofre com aquilo?
Professor: Não. Aí você já está falando do homicídio culposo com perdão judicial,
que é outra situação.
Aluno: Eu não estou falando nem como perdão, mas eu estou falando que já serve...
Página 219 de 380
Professor: Nem todos. Nem todos, nem todos. Tem inclusive mãe que não sofre com
a morte do filho. Pelo menos nos autos. Eu não concordo com isso, o STJ,
examinando o perdão judicial em uma decisão de um ano atrás em São Paulo, deixou
de aplicar o perdão judicial a uma mãe porque ele diz, o STJ, não é automático, tem
que ficar demonstrado nos autos as consequências geradas para ela ou para pessoa
que praticou, que realmente a qualquer pena se tornasse desnecessária e que ela não
teria demonstrado nenhuma comoção nem nada. Mas poxa vida, o interrogatório é
rápido né? Ou melhor dizendo, a oitiva muitas vezes é rápida. Mas eu não estou com
os autos para também questionar essa decisão. De todo modo, nem sempre. Por que a
pena é pequena? Porque é culposa. Aí eu concordo contigo, é porque é culposo, a
conduta é culposa, é violação do dever objetivo de cuidado, não foi dolosa, a maioria
sofre? Sofre. Eu acho que sofre também, mas a pena é menor não por isso, é porque a
conduta foi culposa, ok? E a culpa tem que ser punida com menos intensidade do que
a conduta dolosa. Agora a gente não pode esquecer que uma vida deixou de existir,
porque se não a gente acaba dando uma abertura muito grande à violação do dever
objetivo de cuidado. E o dever objetivo de cuidado é essencial para a vida em
sociedade, se não a gente acaba gerando muitos nãos.
221
Está no DropBox da degravação, Pasta Livros Penal. Acesse:
file:///C:/Users/Usu%C3%A1rio/Downloads/re%20418376.pdf.
222
PENAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ESTUPRO. POSTERIOR CONVIVÊNCIA ENTRE
AUTOR E VÍTIMA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE COM BASE NO ART. 107, VII, DO CÓDIGO
PENAL. INOCORRÊNCIA, NO CASO CONCRETO. ABSOLUTA INCAPACIDADE DE
AUTODETERMINAÇÃO DA VÍTIMA. RECURSO DESPROVIDO. O crime foi praticado contra
criança de nove anos de idade, absolutamente incapaz de se autodeterminar e de expressar vontade livre e
autônoma. Portanto, inviável a extinção da punibilidade em razão do posterior convívio da vítima - a
menor impúbere violentada - com o autor do estupro. Convívio que não pode ser caracterizado como
união estável, nem mesmo para os fins do art. 226, § 3º, da Constituição Republicana, que não protege a
relação marital de uma criança com seu opressor, sendo clara a inexistência de um consentimento válido,
neste caso. Solução que vai ao encontro da inovação legislativa promovida pela Lei nº 11.106/2005 -
embora esta seja inaplicável ao caso por ser lei posterior aos fatos -, mas que dela prescinde, pois não
considera validamente existente a relação marital exigida pelo art. 107, VII, do Código Penal. Recurso
extraordinário conhecido, mas desprovido.
(STF - RE: 418376 MS , Relator: MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 09/02/2006, Tribunal Pleno,
Data de Publicação: DJ 23-03-2007 PP-00072 EMENT VOL-02269-04 PP-00648)
223
Isso é muito interessante viu gente? A prova aberta de concurso, quando a questão é uma questão que
todos sabem, ela muitas vezes é corrigida na subjetividade do examinador por comparação, então a grafia,
o português, a concordância e o uso da linguagem de termos jurídicos acaba pesando mais aqui em favor
de alguns.
224
55:32 do áudio penal_20150821 disponível no dropbox da degravação.
Página 221 de 380
As atenuantes, a gente vai ver isso nas aulas de pena, não podem reduzir as penas
abaixo do mínimo legal, súmula 231 do STJ (A incidência da circunstância atenuante
não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal). Parte da doutrina não
concorda com isso, mas essa súmula é aplicada pelo STJ e essa orientação é aplicada
pelo Supremo também. Eu vou explicar qual é o argumento de parte da doutrina para
não concordarem, Rogério Greco, Paganella Boschi (Livro: Das Penas e Seus
Critérios de Aplicação. Tem na livraria do advogado), o Nucci já concorda em nível de
individualização da pena, a gente vai ver isso na aula de pena. Agora, a pergunta do
colega é: pode o juiz aplicar uma pena menor do que a prevista no tipo? Por
exemplo: menor que 6, que 1, que 2, certo? Eu creio que é essa tua pergunta, é isso?
Professor: Por exemplo, art. 217-A (estupro de vulnerável) - Tanto faz o sexo com a
criança, conjunção carnal, conjunção anal, como o beijo na boca de uma criança, ou
como em um adolescente de 13 anos, porque tem que ser menor de 14, 13 anos já é
adolescente.
Então, por exemplo, se o sujeito deu um beijo na boca de uma adolescente de 13 anos,
é estrupo de vulnerável. Se ele praticou sexo anal, com violência, é estupro de
vulnerável. Mas essa valoração tem que ser de 8 para frente, pois a pena é 8 a 15 né?
Tem que ser de 8 para frente, 8 é o mínimo, mas ela ficou bem, ela não tem meio termo
certo? Ela já começa aqui, ela não tem meio termo. E aí o que acontece? Pode ser que
dessa, o cara tem 18 anos, a adolescente tem 13, eles são namorados, ele deu um beijo
na boca dela, ele está aqui. Perceberam? Tem situações e situações. O STJ está para
temperar isso daqui, mas não temperou, a situação é essa. Poderia o juiz com base na
proporcionalidade fazer isso? Ele pode fazer isso de forma supralegal, provavelmente
vai ser reformado, vai ter recurso, porque nesse aspecto a jurisprudência é tradicional e
a doutrina também.
O que nós tivemos já no Supremo foi combinação de leis, por exemplo, certa ocasião o
Celso de Mello falou que o 180 §1º seria inconstitucional e aí aplicou essa pena daqui,
com base no princípio da proporcionalidade aplicou a do caput. O caput tem pena de 1
a 4 anos, o 180 §1º tem pena de 3 a 8 anos. Com base na proporcionalidade ele aplicou
o caput, mas essa decisão dele está superada, porque o art. 180 §1º, hoje, é
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Professor: Hoje não pode combinar lei revogada com lei em vigor, mas a
jurisprudência de vez em quando faz. O que que o STJ fez agora, depois da súmula?
Quem se lembra? Isso é questão de teoria da norma, mas quem se lembra? Depois da
súmula 501, que que o STJ fez? Ele combinou.
STJ combinou um artigo do código penal com o da falsificação de remédio, mas é uma
das espécies. Não foi todo não. Ele pegou o 273 §1º-B, V
V - de procedência ignorada
Por exemplo: a garrafada que o cara está vendendo lá na feira. Qual é a pena? 10 a 15
anos e é hediondo.
O art. 273, §1-B, V, tem várias situações diferentes, por exemplo: está vendendo
“citotec”, que é um remédio que aborta, que é proibido, aí a pena vai ser de 5 a 10
mesmo. A pena, aqui, é de 5 a 10, mas vender produto de natureza ignorada às vezes
não tem nem perícia, garrafada – Natureza ignorada! Aí o cara fala que cura tudo, não
é assim? Olha o que que o STJ fez, “essa pena viola o princípio da proporcionalidade e
o sujeito vai responder pelo art. 33 da lei de drogas, nesse caso, e engraçado que para
ser droga tem que estar também na portaria da ANVISA né? E não está. Mas aí a
decisão supralegal é construída assim. Se fosse para fechar tudo não seria supralegal.
Com direito a o quê? A pena aqui no caput (drogas) ela é de 5 a 15, “Piorou
professor”, não piorou não, porque no §4º, pode ser reduzida de 1/6 a 2/3. Então 5
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b) perda de bens;
c) multa;
i. Legislador
ii. Julgador
iii. Execução da Pena
O trifásico é: pena base (1ª fase), agravantes e atenuante (2ª fase), causas
de aumento e diminuição (3ª fase). O modelo de aplicação da pena o juiz vai seguir o
artigo 59 ao 68, depois ainda tem concurso de crimes, possibilidade, e assim por diante,
de forma fundamentada, Constituição Federal, 109, IX, ou 93, IX para ser mais exato.
Conforme o art. 93, IX, a decisão tem que ser fundamentada sob pena
de haver uma nulidade. O Código de Processo Penal fala em nulidade por falta de
elemento essencial do ato, 563, IV. Nós vamos ver depois que existe uma calculística da
pena mínima que muitas vezes não tem fundamentação mas coloca no mínimo e o
Tribunal não anula, ou seja, não anula porque não tem prejuízo para o réu. E se o MP
não recorre, modificar para pior viola o princípio da reformatio in pejus, da não
reformatio in pejus.
225
Inclusive caiu na penúltima prova de juiz DF, na oral, salvo engano na penúltima, não nessa dessa
semana não. A pergunta foi: Quem é que defendia um e outro? A gente vai ver na aula de penas.
226
Comentário do professor: É interessante né, a presidente da república está aí para sancionar uma lei,
alguma coisa referente para separar os presos, mas a lei de execução penal já fala isso desde 84, temos
que parar de fazer leis e cumprir as que tem.
227
Curiosidade: o art. 59 fala em teoria mista, prevenção e reprovação, fala em prevenir e retribuir ó!
Teoria mista, eclética, Merkel, Alemanha início do século XX, vamos ver isso na aula de penas.
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Com relação a jurisprudência, é importante frisar que ela faz muito o uso
do princípio da individualização da pena para decidir (a jurisprudência, o tribunal, o
Supremo). O Supremo faz, por exemplo, faz muito o uso do princípio da
individualização da pena para fazer o controle de constitucionalidade de leis penais.
Primeiro exemplo:
Esclareceu-se, na presente assentada, que a ordem seria concedida não para assegurar
ao paciente a imediata e requerida convolação, mas para remover o obstáculo da Lei
11.343/2006, devolvendo ao juiz da execução a tarefa de auferir o preenchimento de
condições objetivas e subjetivas. Vencidos os Ministros Joaquim Barbosa, Cármen
Lúcia, Ellen Gracie e Marco Aurélio que indeferiam o habeas corpus.
Estou dando alguns exemplos, mas exemplos de decisão do plenário. E aí eu vou dar
outros exemplos aqui de decisões mais recentes. Mas isso está bem na aula de penas.
Tem decisões mais recentes de pena, sobre o quê? Sobre reincidência e art. 59, se
caracteriza ou não o bis in idem (na aula de penas nós vamos ver mais exemplos).
Recente, porque esse tema trabalhamos na aula de provas, aqui é só abertura como
princípio, decisões do supremo dizendo que não caracteriza bis in idem o uso da
reincidência em diversos momentos, que não caracteriza bis in idem, estou dando
outras informações antes de começar isso daqui ok?!
Não é bis in idem? Fazer uso das circunstancias judiciais nos diversos momentos?
Art. 59, pena base, regime inicial; art. 33, §3º, substituição de pena privativa por
restritiva; art. 44, III, dificulta também. Consideração na continuidade delitiva especial,
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chamada de qualificada que a gente vai ver. Não é bis in idem? O uso das
circunstancias judiciais na pena base, no regime inicial, na substituição da pena
privativa por restritiva, na continuidade delitiva? Não! Isso caracteriza o princípio da
individualização da pena, é a jurisprudência de hoje. Embora o Supremo tenha
submetido isso daqui a repercussão geral, mas a decisão foi essa, ou seja, a
individualização da pena como princípio, foi usada para dizer que a reincidência não
caracteriza bis in idem. O art. 59 e o art. 44, também não caracteriza bis in idem,
porque o uso da individualização da pena é justamente o uso.
O art. 29, caput, segunda parte diz que o crime é o mesmo para todo mundo, teoria
monista, mas a pena vai ser fixada na medida da sua culpabilidade, de acordo com as
circunstancias judiciais, de modo que é possível o partícipe ter pena igual ou maior ao
autor, desde que não seja um partícipe de menor importância, a gente vai ver isso, de
acordo com o art. 59. Às vezes ele é cheio de maus antecedentes e o autor não tem
nada, às vezes o partícipe já é reincidente e o autor não tem nada, percebam.
Súmula Vinculante 26
Para dizer que era daquele jeito mesmo, para evitar que alguns Tribunais estaduais não
seguissem a linha do Supremo. A Súmula Vinculante 26 foi espetacular, pois ela
obrigou os Tribunais a aplicarem a ideia de 1/6 nos crimes hediondos para progredir de
regime, retroagindo aos fatos passados.
Esse cara aqui, por exemplo, ele ia progredir com 1/6, se ele praticou o fato antes da lei
11.464, todo mundo que praticou o fato antes de 29 de março de 2007, data da entrada
em vigor da lei 11.464. Fato, que é o momento que você analisa, estamos falando de
direito penal, antes do dia 29, antes, tá? Fato antes de 29 de março de 2007, crime
hediondo equiparado, progride com o que? 1/6 + BC (bom comportamento) na forma
do art. 119 da lei de execução penal, todo mundo que praticou o crime. “Não foi
julgado ainda!” Não interessa, interessa é a data do fato. Quem praticou depois? Quem
praticou depois, aí houve a lei 11.464, depois progride com 2/5 ou 3/5 sempre BC, que
é o bom comportamento. Tem que ter o critério objetivo, que é o temporal, e o
subjetivo que é a análise do bom comportamento. O exame criminológico não é
obrigatório, o juiz decide de maneira motivada, se o Ministério Público não concorda,
recorre. Tem vários projetos do Congresso Nacional para retomar a obrigatoriedade do
exame criminológico.
Então, observe, esse é a situação. Por exemplo: o caseiro do lago sul que matou a
estudante, estuprou e etc, a progressão dele é com 1/6 + BC, porque ele praticou antes
de 29/03/2007 e foi julgado depois, certo? Só que no caso dele acaba fazendo o que?
Exame criminológico. E muitas vezes o cara até tem os dois requisitos, mas o exame
criminológico diz que ele não preenche, acaba que ele permanece no sistema.
Aluna: Por que que nesses casos eles fazem exame criminológico?
Se você fosse juiz em um caso desse, você decidiria ou não? O cara praticou estupro,
crime grave... né? É engraçado né? Porque quando saiu a obrigatoriedade do exame
criminológico, muita gente soltou esses caras sabiam? Sem análise, um monte de
gente! Lembram-se não? Gama, o estuprador do Gama, Novo Gama, vários casos no
DF, depois da lei gente! Em outros estados no Brasil... Vocês não se lembram disso
não?
Depois da lei 11.464 que falou 2/5, 3/5, antes dela, com a decisão do Supremo, o TJDF
aplicou logo. Já estava aplicando em alguns casos porque tinha HC’s isolados que já
tinham afastado o empecilho objetivo. Isso foi de 1990 até 2006, eu trabalhei na
execução penal como promotor de justiça em 2005, já tinham várias decisões do STJ
afastando e permitindo o quê? Progressão de regime. E aí? Tinha estuprador que estava
saindo numa boa! Cumpriu 10 anos, cumpriu não sei o que... e observe, o 1/6 de
cumprimento, ele progredia, se ele estava no fechado, para o semiaberto, só que o
semiaberto dá direito a trabalho externo e saída temporária. Tinha muita gente que já
tinha cumprido 12 anos de uma condenação de 24, falava “ó, agora que não é
integralmente fechado seu juiz, eu quero pular do fechado para o aberto, pode?”
Porque eles já tinham cumprido 1/6 + 1/6, 12 anos. Não pode, porque não existe
progressão per saltum. Regressão pode, para o aberto e para o fechado, progressão não.
Então observem, muita gente saiu. Sabe qual o problema desses crimes? O índice de
reincidência é altíssimo. Aí eles começaram a praticar os fatos aí o Congresso
“aaaaahhhhhhh num sei o que...”.
Outro momento que aconteceu isso? Quando da lei 12.015 que alterou o título dos
crimes contra os costumes para crime contra a dignidade sexual, trazendo a conduta do
atentado violento ao pudor para o estupro e eliminando a rubrica “atentado violento ao
pudor”. A conduta continua crime, mas é crime de estupro agora. Princípio da
continuidade normativa típica, não houve abolitio criminis. Mas com isso, como o
crime está em um dispositivo só, passou a admitir o quê? Passou a admitir a análise de
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Outra situação, é a lei de drogas, Lei 11.343/2006, no seu artigo 44 proibiu liberdade
provisória e substituição de pena privativa por restritiva. A lei de drogas proibiu
liberdade provisória e substituição de pena privativa por restritiva. O Supremo
eliminou esse negócio. Liberdade provisória não pode ser liberdade de maneira
abstrata, tem que ficar presentes os motivos da prisão preventiva. Para impedir
liberdade provisória tem que mostrar a necessidade da prisão preventiva, tanto é que o
flagrante é analisado pelo juiz que o converte em prisão preventiva, presentes os
motivos da preventiva, se não estiver presente tem que conceder o quê? Liberdade
provisória, ou seja, não se pode proibir liberdade provisória de maneira abstrata porque
a negativa de liberdade provisória implica exame do caso concreto para verificar se
tem ou não necessidade de prisão preventiva. Gente, eu não estou falando nenhuma
novidade não, ok? Porque se eu estiver falando novidade, se cuide! É! Pode entrar no
desespero.
Muito bem, voltando aqui para nossa aula. Algumas leis fizeram isso certo? Não foi só
essa não. Quais leis que fizeram isso no Brasil? A Lei 8.072/90 fez isso também, a lei
de crimes hediondos tinha isso. A lei de crimes hediondos de 90, tinha proibição de
liberdade provisória no crime hediondo. Sabia que durante um bom tempo o Supremo
falou “ó, certinho”, porque a Constituição diz que são inafiançáveis, se são
inafiançáveis não cabe liberdade provisória, é a regra, é verdade. O constituinte deveria
ter colocado “não cabe liberdade provisória”, pois o constituinte colocou “são
inafiançáveis”, mas antes da constituição, por conta do caso Fleury, década de 70, já
havia a previsão de liberdade provisória sem fiança! Dizer que é inafiançável é melhor,
porque o sujeito recebe liberdade provisória sem fiança. Mas qual foi a intenção do
constituinte? Em tese se está dizendo que é inafiançável é porque não cabe liberdade
provisória.
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A Carmen Lúcia durante um bom tempo decidiu assim tá?! Só que o Supremo não
pode ser assim, não pode liberdade no melhor estado, falou “ó, está errado isso,
esqueça esse dispositivo”, aí depois veio a lei 10.826, de arma, 13 anos depois, 2003, e
em um de seus dispositivos, de acordo com a arma que o sujeito estava portando, art.
16, ela disse “ó, de uso restrito e etc não cabe liberdade provisória se for preso em
flagrante”. O que que o Supremo fez em ADI? Inconstitucional. AÍ VEIO O
LEGISLADOR, 03 ANOS DEPOIS, não cabe liberdade provisória de novo! Mas
agora é no TRÁFICO de drogas. O que que o Supremo fez? Está errado, cabe
liberdade provisória. Porque o Supremo já estava mais safo com esse raciocínio. Era só
um copiar e colar! Era! O fundamento já estava ali. Porque não pode vedar liberdade
provisória de maneira abstrata, tem que se analisar. Aí, qual é a outra parte do
dispositivo? Não cabe penas restritivas no tráfico. Veio Ayres Britto, ainda ministro do
Supremo, e disse “com base no princípio da individualização da pena, é
inconstitucional”, informativo 598. Por que inconstitucional? Porque não se pode
vedar pena restritiva de maneira abstrata, tem que analisar os requisitos. Olha o que ele
diz! Isso ofende o princípio da individualização da pena. Só que ele se esqueceu,
com o devido respeito, que o art. 44 do Código Penal veda pena restritiva em crime
praticado com violência ou grave ameaça contra a pessoa, de maneira abstrata. E quais
são os outros requisitos? Pena no crime doloso não superior a 4 anos, aplicável. Não
ser reincidente, ter o art. 59 bom. O reincidente que a medida for socialmente
recomendável cabe, mas se for reincidente na prática do mesmo crime cabe... tudo está
no 44. Aí o que foi que ele disse? “O tráfico admite pena restritiva se preencher os
requisitos do art. 44 do Código Penal.
“Professor, então não cabe! Não cabe jamais professor, pena restritiva no tráfico
porque o tráfico começa com 5 anos e o 44 do Código Penal diz que não pode
ultrapassar 4 anos”, mas tem o tráfico com redução de pena, tem o tráfico tentado.
Toda vez que houver a pena (é a pena aplicada do art. 44), não é a pena abstrata, é a
pena concreta do art. 44. Então, toda vez que houver um tráfico com pena menor que 4
anos ou até 4 anos, o juiz tem que analisar se cabe substituição de pena privativa por
restritiva.
A maioria das condenações por tráfico estão onde? Art. 33, §4º, lei 11.343/06, aquele
tráfico que reduz a pena. É por isso que cabe pena restritiva. Isso mudou muito, pois
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Outra situação também que também merece discussão e que ainda não está
afinada diz respeito ao abate de aeronaves que permite abater aeronaves em espaço
aéreo brasileiro quando ela não obedeça a ordem de pousar, invadir o solo aéreo
brasileiro. Há uma discussão se isso seria inexigibilidade de conduta ou estrito
cumprimento do dever legal.
Outra questão importante: Não cabe pena cruel, segundo o art. 5º XLVII. A
pena não pode ser cruel, nós não podemos retornar ao modelo medieval de penas, ao
modelo das ordenações filipinas, monoelinas e afonsinas. Não podemos voltar ao
modelo de penas que atinjam a condição físico psicológico do ser humano, até porque a
tortura é crime.
Além disso, não cabe pena de trabalho forçado, segundo o art. 5º, XLVI. O
trabalho é obrigação do preso, porém não cabe pena de trabalho forçado. A constituição
não é incompatível com a lei de execução penal, porque a lei de execução penal prevê o
trabalho como direito e dever, mas é um trabalho compatível com a dignidade da pessoa
humana, não pode ser trabalho forçado.
Preso doente que não tem condição de trabalhar não pode ser obrigado ao
trabalho. Esse tipo de trabalho a constituição proíbe. O trabalho como fator para a
reinserção social é obrigação e dever do preso prevista na lei de execução penal,
conforme art. 30 e ss., não é incompatível com a constituição de 1988, o que a
constituição veda é trabalho forçado com corrente (bola no pé, camisa xadrez e chicote).
Isso é vedado, por mais que a imprensa de vez em quando faça ironia com essas
situações, mas isso é vedado, pois o Estado Democrático de Direito implica servidão a
diversos valores e garantias.
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O banimento não pode ser previsto como pena no modelo penal brasileiro.
Como fica essa vedação constitucional, essa limitação de pena da constituição e a
previsão no estatuto do estrangeiro de expulsão e deportação? Pois existe a previsão de
expulsão e deportação. Como fica isso? O raciocínio da resposta parte da linguagem/
estudo da linguagem.
A constituição fala que não cabe pena de prisão perpétua. A regra do código
é da década de 40, especificamente uma alteração de 84 que está no art. 75.
228
Dermeval afirma que por isso que é bom estudar um pouco o direito interdisciplinar, ou seja, direito
com outras coisas pra gente poder descontruir um pouco essas verdades absolutas, porque se não, se a
gente for só com esse raciocínio jurídico fechadinho, fica tudo perfeito.
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deixar 40 se a pena não cumpriu sua função com 30. Mas como fica o risco pra
sociedade ofertado por essa pessoa que volta229?
Foi condenado a 300, só iria cumprir 30. O exame vinha como? Não tem de
jeito nenhum! O que que o Ministério Público fazia? “Excelência então, requeiro a
conversão da prisão em medida de segurança” e acabava sendo por prazo
indeterminado.
O STJ demorou mais disse “Não pode não. Se foi convertida faltando 6
meses, só pode durar quanto? 6 meses.”
Portanto, o Supremo com isso disse que que o artigo 97 §1º do Código
Penal não pode ter prazo indeterminado. Essa medida de segurança é de quem? Do 26
caput, ou seja, aquele que praticou fato típico e ilícito, mas é inimputável por doença
mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado. Aí o Supremo falou “o prazo
não pode ser indeterminado como o Código Penal”.
O prazo para o STF não pode durar o que? 30 anos. Para o Código Penal é
indeterminado, fazendo exame de cessação de 1 a 3 anos, se ficar curado com 1 ano,
liberta pelo Código Penal, se não vai ficando preso, preso não, internado, no caso de
medida de segurança de internação ou por tratamento ambulatorial. O STJ falou “esse
Vocês se lembram do bandido da luz vermelha lá em São Paulo quando ele voltou? Da década de 60,
229
cometeu alguns crimes, ele estava com a cabeça toda louca né... e aí ele tentou algo contra alguém no
Paraná e o cara matou em legítima defesa. Mas o Estado jogou na rua sem estar preparado também.
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prazo na verdade não pode durar mais do que o máximo em abstrato previsto no tipo
penal”230.
Então essa é a orientação hoje dos tribunais, com a ideia de que a prisão não
pode ter caráter perpétuo, a medida de segurança também não. Para se chegar a esse
raciocínio qual foi o uso da linguagem? Medida de segurança é espécie de pena ao lado
da prisão. Medida de segurança é espécie? Na verdade, ela não é espécie de pena, a
medida de segurança é tratamento. Pena é pena, medida de segurança não é pena, se
fosse pena o sujeito seria condenado na primeira ali e não é.
a. Nesse exemplo que eu dei na lei de execução penal, a medida de segurança pode ser
substitutiva quando o sujeito está cumprindo pena e é acometido por uma doença
mental, conforme artigo 183 da LEP. Está cumprindo pena e é acometido de uma
doença mental, a medida de segurança vai durar somente o resta da pena. E se ele ficar
curado antes do resto da pena? Ele volta a cumprir o resto da pena. Foi condenado a 15,
no décimo ano substituiu por medida de segurança, 12 anos está recuperado, falta
cumprir quantos anos? 3 anos, pra chegar a 15, porque 15 foi a condenação. A medida
de segurança quando substitui a pena se vincula ao resto da pena. Não ficou curado
quando foi substituído a medida de segurança com 10, não ficou curado, então ele vai
ficar até quando? Até 15. Com 15 não está curado, solta. Foi acometido de doença
mental, solta, porque a sentença foi de quanto? 15. A sentença foi de 15, substituiu
quando ele tinha 10, ele ficou doido, com 15 ele continua doido, então solta, porque o
estado só tinha o título de quanto? 15.
Professor: Prazo indeterminado. 26 caput, 97 §1º. Para o Supremo, 30, para o STJ,
máximo em abstrato. Se for um roubo do caput, que vai de 4 a 10, para o STJ não
pode ultrapassar quanto? 10.
Aluno: Professor, eu não entendi, mas eu não sei se isso é aplicado na prática, por
que que quando, por exemplo, a pessoa recebe uma... vai ser como medida de
230
Questão do último concurso do Procurador do DF.
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segurança, está chegando nos 30 anos, aí o Estado vê que se aquela pessoa, se liberar,
vai ser pior pra sociedade, que aí o Ministério Público entraria com uma ação no cível
pedindo a interdição da pessoa é isso?
Professor: o miserável fica, porque acaba não tendo ninguém pra defender ele etc e
tal, mas não deve porque interdição não tem caráter de medida de segurança. Foi o
que o STJ fez, pras pessoas que faltavam 6 meses e continuavam loucona, o que que o
STJ falou? O STJ falou “opa, o Estado não pode fazer nada, compete ao Ministério
Público ingressar com a interdição cível.” Só que interdição cível tem natureza o que?
Distinta! Cível! Cível não é penal! E mais, interdição é pra que?
Aluno: Só que como ele era menor de idade, como é que ficou essa situação?
231
Inaudível em 1:45:20 do áudio.
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Aluno: Aí ele virou, alcançou 21, aí o MP interditou e ele está internado até hoje?
Professor: É complicado porque tem o risco social. Por isso que eu te falo, falta
legislação para o perigoso, tem o perigoso ali na rua, ele pode matar uma pessoa
agora, mas não matou ninguém ainda, então penalmente o que que a gente pode
fazer?
Aluno: Nada!
Professor: Em tese ele não ameaçou ninguém, não fez nenhum crime, não está na
iminência de praticar o crime, não está, você só acha. Hoje criaram essas internações
compulsórias, coloca pessoas viciadas em crack, mas tem um custo alto, essa questão
não é simples porque o custo é muito alto, dessas internações. Acaba que as famílias
que têm dinheiro acaba bancando do próprio bolso para as clínicas, mas quem não
tem o custo é muito alto.
Aluno: Tem gente que coloca na jaula, no meio da casa, uma vez passou...
Aluno: Mas com pessoas mais humildes que não tinham condições de pagar,
colocavam uma jaula no meio da sala e colocava o doido lá.
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Aluno: Tem uma mulher que foi presa porque ela amarrou o filho.
Aluno: Só que é uma situação até que, poxa, é compreensível pruma mãe, você vê a
situação....
Física tudo bem, mas psicológica não tem jeito de não ser atingido com a
segregação da liberdade. É algo que advém da segregação da liberdade. Dizer que não
vai atingir a condição psicológica é teatro, é ilusão, vamos dizer assim, ideologia
ilusória, porque não tem como não atingir a condição psicológica de alguém que foi
preso pela primeira vez, proibido de ir e vir. Aquele que já vai sempre, acaba atingindo
menos, né? Mas não tem como...
O art. 59, última parte do Código Penal fala que “o juiz, atendendo à
culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos
motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da
vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção
do crime”. Fixará um quantum de pena su-fi-ci-en-te para reprovar e prevenir, então a
última parte do 59 tem esse dispositivo, por isso que o Regis fala que é um princípio
autônomo, mas nada mais é do que o princípio da proporcionalidade, segundo a posição
do professor.
232
Posição no livro do Luiz Regis Prado, Código Penal Comentado, que ele fala do princípio da
suficiência como um princípio a parte.
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Não é mais possível a mãe cumprir pena no lugar do filho, o pai no lugar do
filho, o escravo no lugar do senhor, como existiu na antiguidade. Só quem responde
pela pena é o apenado, por isso que a morte extingue a punibilidade.
Quais são os tipos de pena que tem no Brasil? Pena privativa, pena de
multa e pena restritiva. O projeto do Código Penal está colocando a quarta modalidade
que é a perda de bens e valores. Hoje a perda de bens e valores é espécie de restritiva,
porém no projeto do Código Penal ela passa a ser uma quarta modalidade.
Então nós temos a pena privativa, restritiva e multa. Qualquer uma dessas
penas é extinta com a morte.
233
Questão de Procurador da Fazenda Nacional, porque quem executa a multa hoje é a Procuradoria da
Fazenda, só que se morreu, extingue a punibilidade, porque a multa não perde a sua natureza de pena pelo
fato de ser executada pela procuradoria da fazenda, art. 51 do código penal. A multa não perde a natureza
de pena pelo fato de ser executada pela procuradoria da fazenda.
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A lei de drogas é ainda mais clara nessas questões. Hoje na lei de drogas,
antes de terminar o processo, pode-se pegar o veículo do sujeito, helicóptero do
traficante e fazer que aquilo seja usado no próprio combate ao tráfico. A lei de drogas
permite isso.
Aluno: No caso o senhor falou que a multa tem natureza penal não é? Então ele não
poderia pagar, os herdeiros não poderiam pagar a multa com a herança porque é
natureza penal, aí morre junto, como é que é?
Aluno: É isso mesmo, é exatamente isso! Porque se fosse na cível passaria pros
herdeiros.
Professor: A pena é extinta com a morte, art. 107, I do CP, certo gente? Vocês
continuam confundindo, atenção, vocês continuam confundindo o aspecto processual
com o penal. A pena é extinta com a morte. Isso não impede a perda de bens, fanhos
com crime, instrumentos do crime, como decisão prevista dos artigos 91 e 92 do CP,
da sentença penal, do processo penal. Então o cara adquiriu com o crime Um Milhão,
as vezes a pena de multa dele é baixa, as vezes é até baixa, as vezes é até maior. Uma
coisa é o que ele adquiriu com o crime, outra coisa é a multa. A multa é eliminada
com a morte, as outras coisas podem ser alcançadas pela sentença penal. Multa é
pena, não se esqueçam disso, tá? E é alcançado, isso não tem prejuízo nenhum porque
acaba sendo alcançado. A multa é extinta com a morte por conta que o art. 107 do CP
fala que extingue a punibilidade com a morte, não tem como você negar isso, está no
art. 107 do CP. Agora... o cara lá ó, com o crime.... ele praticou o crime com vários
instrumentos, objetos tal, armas tal, tal.. vai perder tudo. E adquiriu com o proveito do
crime os bens tais tais e tais, provados... vai perder tudo.
Aluno: Não... eu entendi essa parte, a única coisa que eu fiquei confusa foi porque
como a multa tem natureza pecuniária, e ele tinha uma herança, se num... eu achei...
eu, eu, num sei.... achei que poderia ter.. mas eu entendi que não pode.
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Professor: Não... é um negócio meio estranho num é? Sabe como é que a gente
resolve isso? Sabe como é que resolve isso no direito penal? Porque no direito penal
a gente tem que esquecer o que é estranho. Tem premissas no direito penal que
existem, retroatividade benéfica, irretroatividade maléfica, previsão em lei de tipo
penal, conceito de injustiça e tal, isso cede diante de valores consagrados nos
princípios penais liberais. Esqueçam o “eu acho”, as vezes é o injusto, opa, como
dizia o senador falecido, Josafá Marinho, É o custo de se viver no Estado
Democrático de Direito, com a morte extingue a punibilidade, agora quer uma
novidade? Vou te dizer: Tem muitas multas sendo executadas ainda porque o pessoal
esqueceu de fazer isso aqui ó.... não informou, ninguém informou, não tem a certidão
de óbito lá no processo de execução. Enquanto não tem está executando o morto, tá?
Hoje é feito isso e a maioria é crime patrimonial que teve condenação com
multa e pena privativa. Furto, roubo, estelionato.
Aluno: Professor, você pode me dar um exemplo de perda de bens adquirido com o
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crime processual?
Professor: Não é processual. Na sentença, artigos 91 e 92, tem o que a gente vai ver
lá na frente, tem a previsão do que é perdido com o crime. Tem a relação de cargo
público, de tudo, tá? Então é uma consequência da condenação, esse tema é estudado
nos livros como consequência da condenação. Então as vezes o sujeito subtraiu o bem
X e transformou aquele bem X em outro, que foi adquirido com o crime. Então isso
aqui tem que ser perdido, se não foi uma vítima específica, porque se foi uma vítima
específica, tem que ser restituído a vítima, certo? Mas as vezes está contra o Estado,
então vai para o Estado. Tem que ser restituído ao Estado. As vezes você não prova
de quem é, tem que perder em favor da União. Lembrando que a multa vai pro Fundo
Penitenciário Nacional, onde tem muito dinheiro inclusive, que deve ser revestido no
sistema de execução penal e que o governo federal só reinvestiu dinheiro destinado,
não só do fundo, mas destinado a execução, 26% só, nos últimos 4 anos e depois fica
reclamando que a execução penal não funciona.
Aluno: Professor, mas aí na sentença tem que vai ser perdido os bens, aí vai ser penal
ou processual, é essa minha pergunta.
Professor: Aí é uma decisão penal, mas o que eu quero dizer é o seguinte: a sentença
é uma fase do processo penal. Essa é uma decisão penal, mas que não é pena, é o
efeito da condenação. É o efeito do reconhecimento do crime. Tem alguns efeitos que
independem da morte do agente.
Aspectos críticos propostos pelo Baratta: pra ele, a produção da lei penal
não pode ser feita de forma contingente, tem que ter discussão crítica, envolvimento da
sociedade. Não pode ser de maneira casuística com base em fatos isolados234.
desse artigo.
Página 246 de 380
ONTEM no Distrito Federal uma criança foi arrastada por 15km por dois
sujeitos, então vamos aumentar a pena do crime praticado contra criança numa situação
x e y. Não pode ser assim, senão a gente vai mudar a lei penal todo dia, tem que existir,
portanto, envolvimento da sociedade.
Esse negócio de dizer que ofende a dignidade da pessoa humana tem que ter
cuidado. Existe um núcleo mínimo de dignidade da pessoa humana? Se existe, não
poderíamos considerar fatores antropológicos para deixar de intervir em tribos indígenas
hoje, onde a mulher pari o bebê no mato e decide se ele vai filar lá ou não. Teríamos
que agir. O MPF, por exemplo, é contra agir nessa situação.
Página 247 de 380
Aluna: Esse princípio da repercussão social, o primeiro que o senhor falou, a gente
não pode mudar a lei, quando, por exemplo, tem um grande crime, aí tem uma grande
repercussão aí a gera uma resposta social, mas isso aconteceu na lei dos crimes
hediondos.
Aluna: Isso acontece frequentemente no Brasil quando a gente tem uma grande
repercussão social.
Página 248 de 380
Professor: As vezes consegue, as vezes não consegue não. Naquele caso teve a mãe,
aí ela conseguiu comover o Brasil com o abaixo assinado e tal e a inclusão não era
difícil, ela incluiu um homicídio qualificado no crime hediondo. Já deveria ser
hediondo, vocês estão vendo que não era? Então se tantos crimes eram hediondos,
com toda razão o homicídio qualifico. Ninguém discute que o homicídio qualificado
não é grave. Então não é uma tarefa árdua e ficou mais fácil com o fato cometido pelo
Guilherme de Pádua. Agora a outra mulher que participou do homicídio, eu esqueci o
nome (Paula Thomaz), não, a outra foi exemplo de comoção, essa daí mais claro
ainda a Lei Carolina Dieckmann que mudou, mas já tinha vários projetos já no
congresso, serviu pra dar um impulso, é com relação a alguns crimes cibernéticos. Aí
produziu do dia pra noite com base em um fato. Esse tipo de coisa aí ele combate
também.
Professor: É, mas a palmada acabou... o que que nós temos da palmada do ponto de
vista penal?
Aluna: Criou a lei do menino Bernardo num foi? Num é menino Bernardo, a da
palmada?
Professor: Sim, no ECA tudo bem. Mas qual é a lei? Num é proibido palmada,
moderada não. Moderada Não! O castigo moderado não. A previsão da lei em si ela
não passou no Congresso Nacional não.
Professor: Sim, mas o que o Congresso queria era capitular como crime, num é o
Congresso, alguns grupos sociais queriam capitular como crime, acabou que não
avançou no Congresso Nacional da forma como queriam não. Acabou que... não teve
avanço no Congresso Nacional. O avanço era: proíbe-se qualquer palmada! Palmada
é Crime! Hoje não é crime. Crime é lesão a integridade física. Crime do ECA é
constrangimento, é o 242 do ECA, constranger criança. E aí é uma previsão aberta,
que é mais um constrangimento de professora, escola, de outras pessoas que também
Página 249 de 380
possam constranger.
235
Questões não disponibilizadas para os alunos.
Página 250 de 380
o princípio da legalidade quando surgiu, surgiu com outros, esses outros princípios.”
Mas hoje já não é mais assim, tanto é que nós estudamos o que? Separado. O 5º
XXXIX que é ilegalidade e o 5º XL que é irretroatividade.
turmas aqui da escola, o crime de dano contra patrimônio do DF, o STJ disse que é
dano simples porque o Código Penal só fala Estado, Município e União. O STJ disse
que é dano simples, porque pensar o contrário seria analogia in mallan partem. O
André sempre defendeu que isso é o caso de interpretação extensiva, e sempre
defendeu isso no TJ. O STJ na última decisão disse que é caso de analogia e não pode
ser dano qualificado.
4) O uso de leis penais em branco em sentido estrito foi banido pelo Supremo
Tribunal Federal por caracterizar ofensa ao princípio da taxatividade. Lei penal em
branco em sentido estrito (a gente vai ver em teoria da norma, é heterogênea tá?
Aquela com complemento que advém de outra fonte). FALSO. Se não tivesse lei
penal em branco não teria crime de tráfico hoje, ninguém é condenado.
por isso que é chamado de psicológico). O critério psicológico adotado pelo código
penal para a definição de imputabilidade considera unicamente a capacidade do
agente para conhecer o caráter ilícito do fato (mas aqui ele está falando da
imputabilidade tá?) com relação a imputabilidade qual é o critério? Nós vimos isso na
aula de culpabilidade quando eu falei do finalismo, BIOPSICOLÓGICO, 26 caput.
Por que o 26 caput é biopsicológico?
Professor: não, no 26 não fala de idade. A idade é biológico, mas o 26 não fala. Mas
por que o 26 é biopisicológico? Nós vimos isso na aula lá atrás... doença mental ou
desenvolvimento mental retardado, biológico, biológico. Doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, biológico, que gera ausência de
capacidade de se autodeterminar, psicológico. Por isso que ele é chamado de
biosicológico, porque é o critério que manda. Cuidado com isso aí tá?
Questões de concurso:
11) Em razão do sistema vicariante ou pena ou medida de segurança, (não pode ser os
dois, não tem mais o sistema do duplo binário), acolhido pelo código penal brasileiro
para o semi imputável (porque o semi imputável recebe pena ou medida de segurança
também num é ? ele recebe pena reduzida, mas se essa não for a melhor medida, vai
ser substituída por medida de segurança, 26 p. único c/c 98, e essa medida de
segurança, como é substitutiva, ela se vincula ao máximo da pena num é isso?) a este
poderá ser imposta medida de segurança quando necessitar de tratamento curativo.
VERDADEIRO. O 26 p. único com 98.
Questões de concurso:
Página 254 de 380
1. Teoria da Norma
Vamos retornar os nossos encontros com o estudo da Teoria da Norma. Na
parte inicial falaremos sobre a bibliografia e artigos científicos utilizados para o estudo
e formatação da aula. Vamos entrar na parte mais dogmática da matéria (com o código
penal).
A teoria da norma, durante bom tempo, foi estudada mais para quem fazia
concurso de delegado federal, procurador da república, juiz federal (caía mais nesses
concursos). Ela é uma parte que antecede o estudo do fato típico no código penal e não
traz dificuldades, é uma parte mais informativa.
Temos que aprender a acertar coisas que nós nunca vimos. Como isso?
Desde que você aprenda o estudo da matéria compreendendo o porquê das coisas. Se
você estuda decorando nomes, você não vai muito adiante. Você tem que aprender o
porquê das coisas. Você pode até esquecer o nome, mas se você estudou
compreendendo a matéria, no dia de responder a prova você pode não saber o nome que
a pessoa colocou, mas irá conseguir acertar por eliminação (excluindo as erradas). O
porquê vai fazer a diferença na hora de responder as questões mais complexas tanto de
prova fechada quanto de prova aberta.
Quem produz a lei penal no Brasil? A União. A União produz a lei penal
através do processo legislativo. A lei é uma fonte direta de conhecimento, mas quem
produz é a União, com base no art. 22, I, da CF238, o qual determina que compete à
União legislar sobre direito penal. A União legisla sobre direito penal. O estado membro
não legisla. Não raro alguns estados membros legislam (ou tentam legislar). O estado do
RJ já o fez por duas vezes nos últimos quatro anos - primeiro tipificou uma questão que
238
Art. 22 Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do
trabalho
Página 256 de 380
envolvia escola: tentaram proibir a entrada de alunos com cabelo grande, brinco,
tatuagem em determinada instituição de ensino. Tal fato gerou problema com os pais
dos alunos (havia aqueles que apoiavam e outros que divergiam). O Estado do RJ então
tentou criar um tipo penal parecido com o racismo. Não tem valor nenhum (valor zero)!
239
Art. 22, Parágrafo único, CF/88 - Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre
questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.
Página 257 de 380
é forte pois manteve várias competências (um modelo centrípeto - diferente do nosso:
centrífugo).
O LFG fala que a União poderia delegar matéria de trânsito (sem entrar em
maiores detalhes) porque o trânsito envolve mais matéria de direito administrativo do
que de direito penal (e direito administrativo não tem problema - nós já temos isso).
O que se entende hoje é que o direito penal é único. Agora se tem ou não
algum interesse local que possibilitaria a União delegar via lei complementar, esse é um
tema aberto em debate. O Constituinte literalmente não separou. Nós não temos um
exemplo hoje, temos apenas essas doutrinas apresentados. Daí fica de acordo com o
gosto do freguês: quem concorda ou não concorda usa o argumento de um lado ou de
outro. Do ponto de vista do texto constitucional apenas diz: pode delegar a matéria.
Agora é claro que essa delegação via lei complementar, numa interpretação
sistêmica da CF teria de ser de interesse local, específico. Em tese, no mundo de Alice,
poderia a União delegar ao Distrito Federal competência para legislar sobre corrupção.
Página 258 de 380
Não só pela corrupção no DF, mas pela corrupção da União já que local do fato é a
primeira regra da competência e aqui está todo o Brasil (todo o Brasil está aqui de uma
forma ou de outra). Em tese poderia a União também delegar ao estado de SP
competência para legislar sobre latrocínio ou roubo, pelo grande número de ocorrências.
Ao estado do RJ para legislar sobre trafico de drogas, em tese. Mas isso é rebatido. Se
formos colocar em uma balança, a maioria dos autores dizem não!
Com relação à fonte, nós já falamos que a União pode legislar sobre direito
penal através de lei ordinária (a regra é a lei ordinária), mas essa legislação penal na
produção pode ser também não só a lei ordinária, pode ser também uma lei
complementar que trata.. (estou falando agora sobre legislar sobre direito penal, não
mais sobre delegação). A União pode trazer tipo penal por lei ordinária. A União pode
trazer tipo penal com lei complementar, e a União pode trazer tipo penal com a
ratificação de um tratado e a sua promulgação.
Por exemplo, o art. 304 do CP (usar documento falso). Você parou numa
blitz o guarda pediu seu documento e você apresentou CNH falsa. No art. 304 não há
pena (preceito secundário). A pena é remetida a vários outros artigos (297, 298, 299,
302). A pena é a pena correspondente ao seu falso (ao material falsificado). Se o
material falsificado apresentado é um falso público material (art. 297), se for um falso
ideológico material (art. 299). Então, quando a pena é remetida, há uma norma penal em
branco ao avesso (invertida), a qual possui pena remetida.
Professor: Está certo. Porque no tratado não tem conduta interna. O tratado só possui
orientações, princípios, como deveria ser (o tratado pode também ser usado em
termos de interpretação, mas ainda não há tipo penal). O Brasil ainda se recusa, no
final das contas, a incorporar tipologia de tratado. Os tratados geralmente não trazem
condutas e penas. Por exemplo, o Tratado de Palermo (tratou do crime organizado)
veio como preceito primário (3 pessoas, características empresariais e etc.). Mesmo
depois do tratado nós continuamos sem um tipo de organização criminosa. Nós
passamos a tê-lo só agora com a lei 12.850, antes disso não tínhamos. Aí veio a lei
que possibilitou o julgamento por órgãos colegiados, para evitar a ameaça a um juiz
só. Ela trouxe também outro preceito primário diferente do tratado de palermo (que
nós fomos signatários). Só depois tivemos a lei 12.850. Antes desse momento não
existia o crime de organização criminosa, embora tivesse na lei de lavagem de
dinheiro como crime antecedente. Nós utilizamos a antiga "quadrilha ou bando"para
enquadrar a organização criminosa. Hoje não. Hoje nós temos a lei 12.850 que em
seu art. 2º aponta o crime de organização criminosa (preceito primário e secundário).
E temos o crime de associação criminosa no art. 288 do CP, que substituiu na rubrica
o nome quadrilha ou bando e alterou o número de agentes também. Para a associação
criminosa 3 pessoas, para organização criminosa 4 pessoas. Por pressão de
organismos internacionais o Brasil tem produzidos muitas leis, não só de tráfico de
pessoas. Como é esse tipo de pressão? Retiram o país de algum grupo, dificultam
acesso a empréstimos em instituições internacionais. É uma pressão econômica, que
funciona. O Brasil tem corrido atrás de várias leis, inclusive terrorismo. Qual é o tipo
do terrorismo? O STF disse que não está na lei 7.170 e agora o Congresso Nacional
corre para tipificar o crime. Estava no projeto do novo CP (que não vai pra frente).
Isso aqui é muito importante, principalmente para quem vai fazer prova do MPF. A
parte de direito internacional do MPF é pesadíssima. É a parte que tira a galera. Cai
muito tratado, decisões das cortes internacionais por direitos humanos. O Brasil vem
sendo condenado em cortes internacionais (presídio de pedrinhas no maranhão,
presos em contêineres no Espírito Santo). Qual a repercussão disso? Quem vai fazer
provas desse tipo tem que ler direito internacional. A Juspodium e a Saraiva têm boas
obras sobre o assunto.
Página 261 de 380
A norma pré-existe à lei, ela é anterior à lei. Não matarás é norma. Matar
alguém é um tipo penal que está no art. 121. Não furtarás é a norma. Subtrair para si ou
para outrem coisa alheia móvel é o tipo penal (a lei) que está no artigo 155 do CP.
Observem que o Brasil descreve a conduta na forma positiva. O Brasil não descreve "é
proibido matar" (descreve a conduta que o sujeito pratica).
Por isso que quando se elabora a denúncia, aponta-se que fulano de tal, de
forma livre e consciente – ação pressupõe liberdade -, com vontade de matar, efetuou
disparos contra a vitima tal, no local tal. Ante ao exposto, o denunciado incorreu com
sua conduta nas sanções do art. 121. Ou seja, ele praticou o tipo (incorreu no tipo), ele
não violou o tipo. O tipo não é não matarás, o tipo é matar alguém.
STF, onde está o tipo penal para quem algemar? É constrangimento ilegal!?
É lei de abuso de autoridade!? Não está escrito isso lá. E essa construção não pode ser
jurisprudencial. A súmula exagerou na expressão "penal". Se querem fazer
corretamente, mandem uma proposta para o Congresso Nacional (para um deputado). O
projeto será apresentado, haverá uma discussão pública, o parlamento vota e etc. Isso se
chama, no direito penal, de princípio da legalidade. Eu não quero, como cidadão, ser
regido pelo direito penal do STF. Por pior que seja o parlamento, eu quero ser regido
pelo direito penal do parlamento.
O direito penal do STF pode ser bom hoje para seu cliente, mas amanhã
pode ser ruim. Não comemore hoje porque amanhã pode ser aquilo que você não quer
ouvir. O parlamento é ruim, mas é ali que quebra o pau (discussões abertas e etc). E é
pela Constituição quem tem poder para tanto.
Quando os fatos acontecem e as leis não são aplicadas, no campo penal nós
chamamos de cifra negra da criminalidade, ou seja, nós temos fatos que acontecem, mas
esses fatos não são examinados pelo Estado (não chegam ao conhecimento do
Página 264 de 380
Com relação a classificação das normas isso aqui só nos interessa por conta
da norma penal em branco.
Como já foi dito, as normas penais podem ser classificadas em dois grupos:
Norma penal incriminadora, aquela que tem conduta e pena. A norma penal
não incriminadora não tem conduta e pena. São normas que cuidam da interpretação (as
normas da parte geral, por exemplo, ou boa parte delas). Então, norma penal não
incriminadora são aquelas que cuidam da interpretação do sistema penal. São
importantíssimas.
241
Art. 121- Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
242
Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
243
Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que
sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa
244
Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, de quinhentos mil réis a dez contos de réis.
245
Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a
302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.
246
Lei n. 2.889/1956 - Art. 1º Quem, com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional,
étnico, racial ou religioso, como tal:
a) matar membros do grupo;
Será punido:
Com as penas do art. 121, § 2º, do Código Penal, no caso da letra a;
Página 266 de 380
pessoas por fazer parte de uma etnia ou de um grupo: pena do homicídio qualificado do
CP (art. 121, § 2º).
Toda vez que houver uma remessa de pena a outro dispositivo (a lei de
genocídio faz remessa tanto ao homicídio qualificado quanto à lesão grave) estaremos
diante de uma norma penal em branco ao avesso, invertida (é expressão utilizada por
alguns doutrinadores como CAPEZ). Cuidado, isso cai em prova objetiva, quando o
examinador está com preguiça. Preceito secundário incompleto se chama tipo
remetido, norma penal em branco ao avesso (invertida). Por quê? Porque não é a
norma penal em branco tradicional. A tradicional é incompleta no preceito primário e
não no preceito secundário.
A outra é homogênia. Não tem confusão. Complemento por lei (lei, lei, lei)
ninguém faz confusão.
Inclusive essa foi a linguagem que o André utilizou nos dois últimos
concursos do MPDFT. O STJ também utiliza essa linguagem. Então, heterogênia é a
norma penal em branco cujo complemento advém de fonte diversa da lei. Essa é por
excelência. É a razão de ser da norma penal em branco. O que dá mais trabalho fazer,
um complemento de fonte diversa da lei ou a lei? O que dá mais trabalho é a lei
(projeto, discussão, comissões, greve e etc.), por isso que algumas normas penais que
dependem de uma regulamentação rápida no seu sentido do seu preceito primário, não
podem ficar na dependência de lei.
Pode haver uma relação (conexão) entre a norma penal heterogênea (em
sentido estrito) e as leis temporárias e excepcionais (isso já foi objeto de questão em
diversas provas). Estou falando de possibilidade de convivência de uma norma penal em
branco com uma lei temporária excepcional. Temos que discutir essa interessante
questão.
247
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência.
Página 269 de 380
vigência), será julgado com base nessa lei temporária. O que se está dizendo é que esta
lei vai ser aplicada posteriormente, mesmo não estando em vigor (tem ultratividade),
para evitar que os fatos praticados no fim de sua vigência fiquem impunes.
(Decisão no Inf. 578 STF – 2010 – Cezar Peluso) Em 07. 12. 2000, o diretor
da ANVISA passou a borracha no cloreto de etila. Ocorre que a decisão para a retirada
de um produto da Portaria 344 é complexa (composta), depende do colegiado e da
direção da ANVISA, não poderia ser uma decisão monocrática. Quando foi no dia 15
afirmaram ser um erro, inseriram novamente o cloreto de etila.
Portanto, essa construção não está legal, mas existe. Há doutrinadores que
defendem que quando se fala "mesma lei", não seria mesma lei do código penal, mas lei
de mesma natureza. Então uma outra lei penal que complementasse essa lei penal seria
também homovitelina. Eu não vi isso na obra do Nilo. Eu entendi que outra lei,
inclusive citando direito comparado, seria sempre heterovitelina.
251
Art. 1º - Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal
252
Art. 14 - Diz-se o crime II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias
alheias à vontade do agente
253
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na
medida de sua culpabilidade
254
Art. 13, § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o
resultado. O dever de agir incumbe a quem a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância
b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado c) com seu comportamento anterior,
criou o risco da ocorrência do resultado.
255
Art. 327, CP - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente
ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
256
Art. 150, § 4º, CP - A expressão "casa" compreende:
I - qualquer compartimento habitado
II - aposento ocupado de habitação coletiva;
III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.
Página 273 de 380
preenche. Por essa linha, podemos afirmar que o concurso de crimes da parte geral é
incriminador.
O CAPEZ vai dizer que a norma permissiva são as justificantes, porque para
ele o crime é um fato típico e ilícito. Então as justificantes correspondem à espécie de
norma permissiva. A única espécie (a única!).
257
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato
I - em estado de necessidade
II - em legítima defesa
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito
258
Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que
não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício,
nas circunstâncias, não era razoável exigir-se
259
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele
injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem
260
Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
261
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando
incapaz, de seu representante legal.
Página 274 de 380
Então nós vamos ter essa discussão no conteúdo das normas permissivas.
Mas essa discussão não acaba aqui. Esse tema foi cobrado na prova aberta do MP/MG e
na prova fechada do MP/AM (CESPE). No CESPE caiu o seguinte: diferencie norma
permissiva de norma justificante (quais são as diferenças entre normas permissivas e
normas justificantes)?
sexual. Alguns interpretam isso com dignidade da pessoa humana, como excludente de
ilicitude. Outros interpretam como excludente de culpabilidade, como inexigibilidade de
conduta diversa. O examinador queria que o candidato discorresse sobre esse debate e
saber a natureza jurídica.
Outra questão que a gente discute quando chegamos nesse patamar (essa é
uma pergunta boa de prova oral): A lei penal melhor sempre retroage? R: Excelência,
existem as leis temporárias e excepcionais!
Mas isso não está no CP e retroatividade não está na CF? Pode o CP criar
essa limitação (é o que diz o Zaffaroni)? O Zaffaroni fala que essa limitação não poderia
estar no CP, que teria que estar no próprio texto da CF a idéia de lei temporária e
excepcional.
Outra questão que surge na discussão é a súmula 711 do STF (sempre cai
em prova de concurso e eu não sei porque eles gostam tanto dela). Essa súmula fala que
durante um crime permanente ou um crime continuado, se surgir uma lei mais gravosa
Página 277 de 380
esta será aplicada. Essa súmula não contraria (revoga) o art. 5º, LX, porque ela está
falando de uma lei mais gravosa que surge durante o cometimento de um crime
permanente ou durante o cometimento de um crime continuado.
Quando falamos sobre isso em sala da aula, nós demos exemplo de outro
tipo de crime que não está na súmula mas também é alcançado por esse raciocínio, qual
é? O crime habitual (curandeirismo, exercício ilegal da medicina). Se o sujeito continua
cometendo e surge uma lei mais gravosa esta será aplicada. O crime habitual é aquele
que requer uma reiteração de atos. Com relação a essa questão de lei penal no tempo, é
importante isso.
3. Tempo do crime
Agora, o tempo do crime, segundo o art. 4º do CP, é o momento da ação ou
da omissão. TEORIA DA ATIVIDADE. Não confundam tempo do crime com lugar do
crime. Lugar do crime é o art. 6º, TEORIA DA UBIQUIDADE, os crimes à distância,
que tocam o território de mais de um país (nós vamos falar sobre isso depois).
Às vezes um cara com 17 anos, 11 meses e 29 dias deu um tiro num cara
que está internado no hospital e só morre vários dias depois. Será ato infracional porque
ele praticou o fato lá atrás (não é crime).
Não confunda o tempo do crime com prescrição no CP (às vezes vem esse
tipo de questão em prova de concurso). O art. 111 do CP fala do momento inicial da
contagem do prazo prescricional. Qual é a regra na prescrição: é o momento da ação
ou momento do resultado (REGRA!)? É a CONSUMAÇÃO, momento do resultado.
Então, na prescrição a regra é o momento do resultado (para iniciar a contagem). Para
Página 278 de 380
No Brasil temos tido abolitio criminis nos últimos anos (Sedução, Rapto
Consensual, Adultério, Mendicância). Alguns poucos crimes e contravenções penais
desapareceram. Não houve ainda descriminalização do uso de drogas. Pelo legislador
ainda não e pelo STF também não. Pode acontecer, há votos pelo sim.
E a lei melhor? Quem aplica a lei melhor? Depende do momento em que ela
surge! Valem os mesmos comentários que eu acabei de fazer. Agora, durante o
processo, quem vai aplicar é o juiz, na sentença. Surgiu uma lei melhor, o juiz irá
aplicá-la no momento da sentença.
Olha como é interessante essa questão. O STJ decidiu que: antes da lei
12.015 (lei que modificou o capítulo dos crimes contra os costumes para crimes contra a
dignidade sexual no CP) nós tínhamos no Brasil uma situação curiosa com relação ao
estupro. Nós tínhamos o arts. 213, 214, 224 (a,b e c).
Então olhem que situação curiosa. Se o sujeito praticasse sexo com uma
pessoa de 13 anos (conjunção carnal - porque havia diferença entre estupro e atentado
violento ao pudor), conjunção carnal com pessoa de 13 anos com o consentimento dela
(sem violência real), qual era a pena? A pena do art. 213 é 6 a 10 anos.
Se ele praticasse, com uma pessoa de 13 anos, sexo com violência real (não
consentido - a pessoa tem 13 anos e o autor tem como conhecer que ela tem 13 anos),
qual era a pena? 6 a 10 mais metade - 9 a 15. Entenderam a diferença de violência real
para presunção de violência? Quem praticasse forçadamente, pena de 9 a 15 anos. Com
consentimento, casal de namorados, pena de 6 a 10 (porque a presunção era absoluta,
poucos julgados falavam que a presunção era relativa).
Então, para aquele sujeito que estava respondendo por 9 anos (porque
praticou com violência) essa lei foi benéfica (lex mitior), e isso já caiu em prova. Ou
seja, se o seu cliente praticou sexo com uma pessoa de 13 anos, com violência, a pena
dele de 9 tem que ser de 8 anos. Porque recebeu no mínimo e o mínimo agora é 8. Nessa
parte, a lei 12.015 é melhor. Agora, para quem praticou o crime sem violência, essa lei é
pior, porque começa com 8 anos e começava com 6.
Durante um bom tempo o STJ e o STF diziam que não cabia. No passado
havia uma discussão entre o Nelson Hungria e o Francisco Assis Toledo (que por sinal
foi questão da antepenúltima prova oral de Juiz/DF): quem era o autor antigo que
dizia que combinar leis violaria o princípio da separação de poderes? Nelson
Hungria (há vários, mais queriam ouvir Nelson Hungria). Quase ninguém acertou mas
ninguém foi prejudicado por isso.
época dessa discussão) quando nós tínhamos a Lei 6368/76 (drogas), quando surgiu a
lei de crimes hediondos (8072) o STF fez uma mágica:
O art. 14 da lei 6368/76 tinha pena de 3 a 10 anos. Daí surgiu a lei 8072, que no seu
art. 8º apontava que a quadrilha para o tráfico tinha pena de 3 a 6 anos (hoje é
associação criminosa). Então a associação de 2 pessoas para praticar tráfico - pena de
3 a 10. A associação de 4 pessoas para praticar crimes (entre eles o tráfico) - 3 a 6
anos. Parece que é uma lei melhor, né?
O STF falou não, não, não, não! Interpretação teleológica da lei 8072/90!
A finalidade da lei foi agravar. Então é o seguinte, quem praticou associação para o
tráfico, disse o STF: o preceito primário da associação continua existindo e a pena
passa a ser a da quadrilha ou bando para o tráfico (hoje associação criminosa, ou para
outros crimes equiparados a hediondos ou hediondos). O STF tirou a pena da
associação para o tráfico da lei 6368 e colocou a pena da antiga quadrilha ou bando
para o tráfico na lei de crimes hediondos. O STF falava que não podia combinar, mas
combinava.
Até que o STF em voto do ministro Eros Grau, INF. 525, combinou e o
STJ já estava combinando. Combinando o que? Combinando a 6368/76 (lei 1) - pena
para o tráfico de drogas 3 a 13 anos (art. 12). Não havia causa de diminuição.
A lei 11.343/06 (lei 2). Essa lei tem um artigo 33, caput - pena de 5 a 15
anos. E art. 33, § 4º, com redução de ⅙ a ⅔. Observem, qual é a parte boa da lei 1?
Pena mínima - 3 anos. Qual é a parte boa da lei 2? Redução de pena. Porque o
mínimo da lei 2 são 5 anos.
Pode ficar com pena de 1 ano, apenas. Esqueceu as partes ruins e começou a
combinar (combinou, combinou). E chegou no STF e o STF combinou também. E
mais
Cuidado com a extratividade da lei penal que é tratada dentro do tema da lei
intermediária. Cuidado com esse tema, pois quando se fala em lei intermediária não está
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Exemplo:
Sucessão de leis se referindo ao mesmo fato: Lei 1 – pena de 8 anos / Lei 2 – pena de
5 anos/ Lei 3 – pena de 10 anos (sucessão de leis no tempo – caiu na prova do 29°
concurso do MPDFT).
Se o fato foi praticado na lei 2 e julgado na lei 3, qual lei será aplicada? A 2, pois é
uma lei intermediária, também chamada de lei bipolar – ela é retroativa e ultrativa.
Lei melhor (lei 2) retroage e lei pior (lei 3) não retroage. Então qual lei vai regular o
fato? A lei 2. E se fosse julgado na vigência da lei 2 não seria lei 2? Se fosse julgado
na vigência da lei 3 não interessaria porque o fato foi praticado antes da sua vigência.
E se já tivesse julgado na vigência da lei 1? Não interessa. A lei 2 seria aplicada
porque o trânsito em julgado não limita a retroatividade benéfica.
após a publicação e entrada em vigor (INFO STF 056 1ª Turma; INFO STJ de 2010 –
não citou o número).
Um dos informativos recentes do STF diz que tempus regit actum é o que
está no art. 2° do CPP e é o que deve ser aplicado. A maioria aplica o art. 2° do jeito que
está no código, inclusive o STF com relação ao interrogatório que acabei de mencionar
para vocês. Assim, a sucessão das leis processuais penais ocorre em obediência ao art.
2° do CPP. Essa é regra.
Há, ainda, uma posição mais nova (Paulo Rangel, Paulo César Busato,
Paulo Queiroz) que quer acabar com a diferenciação entre normas penais e normas
processuais no sentido de interpretação. Toda interpretação tem que ser a do sistema
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penal e não há dois mundos separados. Essa é uma posição mais inovadora, mais
agressiva.
5. Lei no tempo
Essa questão da devolução da arma tem relação com lei no tempo. Essa
questão é interessante porque durante o prazo para devolver a arma de fogo, após a lei
10.826/2013, o legislador, nessa nova lei que trata da política de armas no Brasil (que
substituiu a lei de 1997), tem um prazo relativo ao art. 12 que trata da posse, enquanto o
art. 14 e o 16 tratam das outras armas também, mas principalmente o 14 trata do porte.
Contudo, muitas vezes houve um intervalo onde não surgiu outra lei para
tratar desse assunto e nem medida provisória. Aí o que foi que aconteceu? O governo
foi publicar a medida provisória. E quem foi flagrado nesse período que não tinha a
medida provisória? Não havia retroatividade. O STJ diz que norma temporária
não pode retroagir.
O CP fala alguma coisa sobre isso? Não. O código fala que norma
temporária excepcional tem ultratividade, mas não fala nada de retroatividade de norma
temporária benéfica. A CF também não fala, mas o STJ falou: essa atipia indireta,
temporária só existe neste prazo. Quem foi flagrado aqui ó deveria ter escondido,
deveria ter devolvido aqui, ou só ser flagrado aqui (anotações no quadro sobre essa
questão do prazo)264.
Tanto é que caiu na prova da AGU de 2006: medida provisória pode tratar
de direito penal – verdadeiro. Todo mundo ainda segue essa orientação do Sepúlveda, o
último penalista do Supremo. Pode tudo, só não pode criar crime.
6. Lugar do crime
Observe que eu não tratei ainda do tema principal da teoria da norma. Não
falei ainda de interpretação, que é um tema secundário, mas importante. E não falei
principalmente de conflito aparente de normas que é o início da próxima aula. É o
principal tema da teoria da norma. Quem vai fazer prova de juiz federal, procurador da
república, MP, advogado... é o tema mais confuso.
Têm partes da matéria que decoreba não dá, o ideal é entender. Essa parte
andou caindo aí numas provas decorebas de examinador preguiçoso.
Lugar do crime para Código Penal está no art. 6°: Teoria Mista ou da
Ubiquidade.
Para que serve o lugar do crime no CP? Não tem nada a ver com o ar. 70 do
CPP. As pessoas às vezes confundem. Na época do julgamento do goleiro Bruno
chegou alguém aqui: “Professor, to com uma dúvida porque o código fala em lugar da
ação/omissão ou do resultado, né? E aí o caso do goleiro Bruno foi perto de Contagem,
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mas Belo Horizonte também tá se envolvendo...como é que é isso?” Eu falei pra ele:
“Nada a ver. BH e Contagem estão em qual país? Brasil. Então o problema não é de
direito penal, é de direito processual, é de medida de jurisdição. É de competência, e
não de incidência da lei de um país”.
Agora para saber quem é competente, você vai ter que analisar qual foi a
cidade, qual foi a comarca, qual foi a circunscrição, etc.. Então observe: crimes à
distância é quando envolve território de mais de um país. O sujeito levou um tiro em
Foz do Iguaçu e morreu no Paraguai ou ao contrário, nos dois casos incide a lei penal
brasileira, porque o art. 6° diz que vale tanto o local da omissão ou ação quanto o local
do resultado.
executório o verbo. Mas a questão envolvia essas duas coisas para responder. O ideal
seria dizer que responde por tentativa, já que foi desarmada a bomba no Brasil, tocou o
território nacional. Simplificar mais um pouco, mesmo que a opinião do cara seja outra
essa posição é sustentável.
Lei penal no espaço e conflito aparente de normas são os temas que estão
faltando para a próxima aula. Nessa aula aqui eu vou falar agora de interpretação que é
menor. A nossa vai, provavelmente, de onde começamos até o início do estudo do fato
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típico (ação, responsabilidade penal da pessoa jurídica e omissão. Dolo e culpa eu creio
que não vai dar tempo até antes da prova).
não significa que um está errado e o outro está certo, mas sim que há opções
alternativas.
Desconstruir um direito não tem que ser estratégia. Você tem um objetivo,
mas o direito tem premissas sob pena de incorrermos em subjetivismo e sairmos da
esfera do direito. Toda vez que vamos desconstruir hoje o positivismo, do formalismo
do passado, nós defendemos no direito penal interpretação com princípios. A
Constituição é filtro pelo qual passaremos toda a legislação. Só que esse modelo novo
que possibilita essa abertura de decisões com princípios político-criminais, não raras
vezes tem provocado subjetivismo. O grande desafio é chegar ao equilíbrio. (... aúdio
cortado)
Analogia para uma hipótese não prevista no ordenamento a gente usa uma
regra que rege casos semelhantes. No direito penal só em favor do réu. Não se confunde
com interpretação analógica. Na interpretação, após uma sequencia casuística o
legislador usa uma hipótese genérica. Essa hipótese deve ser interpretada em
consonância com a sequência casuística.
1. Retrospectiva da aula 07
Tem dois pontos que nós precisamos falar para terminarmos a teoria da
norma que é: conflito aparente de normas e lei penal no espaço. Lei penal no espaço é
rápido, é mais aspectos do Código e o conflito aparente de normas nós vamos demorar
um pouquinho mais, mas também é interessante.
2. JURISPRUDÊNCIA
Antes de falarmos sobre esses dois pontos que estão pendentes sobre teria
da norma, quero trazer para vocês aqui algumas atualizações. Essas atualizações,
inclusive, podem cair na prova, tá? Então preste atenção aí. Depois a gente vai falar
rapidamente sobre algumas questões de temas que nós já abordamos aqui, e depois a
gente entra na matéria de hoje.
266
Degravador: André.
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O Supremo não pacificou essa questão, e decidiu, em linhas gerais, que deve
ser decidido caso a caso. Porém, a tendência na maior parte das decisões nos tribunais
superiores é de negar, no caso de reincidência e no caso de furto qualificado.
Então, faça a leitura, para quem estiver fazendo concurso, desse informativo
793, da ADI 5240, o que o Supremo falou sobre audiência de custódia. Ela tem sido
implementada, tá? Aos poucos. Mas a falta dela não tem gerado relaxamento de prisão
não, tá? Em São Paulo têm sido aplicada.
Aqui no DF, o Tribunal está correndo atrás para aplicar também. Correndo
atrás do que? Da logística. Então pode ser que daqui uns dias o sujeito quando for preso
em flagrante será apresentado imediatamente ao juiz.
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Merece atenção a decisão do STJ (o número dela não está aqui, mas está nas
notícias do dia 27/08/2015). O STJ decidiu que realmente não tem esse negócio de
presunção relativa ou presunção absoluta, menor de 14 anos é vulnerável, não tem
carteira, não tem passaporte e nem visto para beijar na boca e praticar sexo. Tá? Porque
beijar na boca é ato libidinoso e praticar sexo é conjunção carnal ou ato diferente da
conjunção carnal (outro ato libidinoso).
Mas no dia a dia, gente, isso vai ser visto desse jeito? Depende do intérprete,
depende na mão de quem caiu. Por exemplo, essa semana eu estava com um colega que
estava com um caso desses e ele veio conversar comigo, o garoto tinha 17 anos e
namorava uma menina de 13, pediu a mãe para namorar e a mãe não deixou, mas ele
namorava e aí ele completou 18 e continuou namorando e continuou fazendo sexo.
Depois ela completou 14, mas ele já tinha feito sexo quando ela ainda tinha 13 e ele fala
isso abertamente no interrogatório dele na delegacia. E perguntaram se ele sabia que ela
tinha menos de 14 e ele dizia que sim; perguntaram se ele sabia que era errado praticar
sexo com uma menina com menos de 14 e ele responde que claro que sabia. E ai?
Porque a lei não tem meio termo, a lei não trouxe uma causa de diminuição nas
situações tais e tais, a lei não tem meio termo. É sem violência real, a questão é que tem
13 e não tem 14, se tivesse 14 poderia.
Tem colega que não denuncia nem a pau, promove o arquivamento. Mas o
STJ não decidiu? Mas não é sumula vinculante. E tem mais, e ai a questão é
complicada, pois pela decisão do STJ o que você tem que fazer nesse caso? Denunciar.
E o juiz tem que fazer o que? Condenar. E condenar a 8 anos esse sujeito que acabou de
completar 18 anos e não tem antecedentes. Ele vai para o sistema e vai ter que ser
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isolado, pois ele vai etiquetado com o Art. 213, CP. Vai ter que ser isolado, se ele não
for isolado no sistema ele corre o risco de ser estuprado.
Agora, observem que ele fez consciente do que estava fazendo também.
Olha que situação complicada. Então, é difícil. Mas isso aí é uma parte crítica que eu
estou trazendo, que cabe em uma aula de Pós. A parte técnica o STJ decidiu que é
crime, pronto condena.
Perguntas:
PROFESSOR: é, só que olha lá, ele analisou vários recursos repetitivos que tratavam
do mesmo assunto. Isso eu até coloquei na discussão com o colega. Se tem muita
diferença acaba que faz uma valoração assim mesmo. Mas o STJ poderia ter
temperado. Todo mundo achou que o STJ ia temperar, mas ele não temperou.
ALUNO: Professor, se uma pessoa de 15 anos pratica sexo com uma pessoa de 14
anos é ato infracional?
PROFESSOR: Não!
PROFESSOR: Sim.
PROFESSOR: dois atos infracionais. Tem um autor da USP que ele escreveu um
artigo chamado estupro bilateral. Seria duas pessoas menor de 14 anos praticando
sexo. Ele deveria ter chamado de estupro recíproco, ficaria melhor. Mas isso aí é
palpite doutrinário. Tecnicamente, são dois atos infracionais. Em tese, a Polícia
Militar tem que levar os dois para a DCA. Limita a retroatividade benéfica.
Prosseguindo, pessoal, a outra decisão que vocês têm que acompanhar está
no Informativo 795, diz respeito ao uso de drogas. Tem que acompanhar o
desenvolvimento do RE 635659/SP. Tem várias decisões já, tem a do Barroso, tem a do
Faccin e tem a do Gilmar, são as três. Acho que teve mais um pedido de vista ou foi
adiado para continuar depois, suspendeu o julgamento.
E ai, alguns estão limitando a droga nas decisões, que tipo de droga pode ser
usada. A do Gilmar abriu mais um pouco, e ai a gente tem que esperar o final. Eles vão
falar que qualquer uso de qualquer droga não é crime ou só vai ser o uso da maconha?
Eles vão dar que tipo de interpretação? Então essa decisão tem que ser acompanhada.
Lembrando que, tecnicamente, para efeito de prova, a resposta tem que ser completa.
Artigo 28 da Lei de Drogas, substitui o Art. 16 da lei 6.368. O artigo 16 da lei 6.368
tinha pena privativa, o 28 da Lei 11.343 não contem pena privativa de liberdade, ele tem
multa, advertência e encaminhamento à instituição de recuperação (prestação de
serviços, né? Que depois pode ser convertida em multa se não for cumprida).
E aí, surgiu uma discussão inicial no Supremo sobre se seria crime ou não.
O Ministro Sepúlveda Pertence, no Informativo 456, disse que caracteriza crime, pois é
possível crime sem pena privativa; que não seria delito sui generis e que houve
despenalização e não descriminalização. Isso foi objeto de diversas questões de
concurso, inclusive aqui do MPDFT.
jurídica sem pena privativa, pois a pessoa jurídica não pode ser presa, ou constrangida
na sua liberdade de ir e vir, até porque ela não tem perna nem braço.
Tem outras questões importantes. Para muita gente o Supremo não deveria
fazer essa análise, teria que ter um plebiscito, essa questão deveria vir do parlamento,
mas na Argentina, a Corte Constitucional fez também. E a gente tem esse ativismo
judicial, nessa fase atual, tem gente que apoia e tem gente que é contra (como é o meu
caso. Eu sou contra completamente), mas a maioria das pessoas, que vivem nessa era do
neoconstitucionalismo, como se fosse algo novo, neopositivismo, princípios, Alexy, etc.
e tal.
Falando nisso quem for fazer o com curso do MPDFT o examinador, José
Levy, que é professor de Mestrado da USP e professor do Mestrado e Doutorado do
UniCeub ele fez recentes provas, inclusive a de Juiz do Ceará e ele é contra tudo isso,
tá? Ele é o oposto do Barroso, por exemplo. E ele é um cara muito preparado. Então,
quem fez a prova oral dele estudou pelo Manuel Gonçalves Ferreira Filho, que é contra,
totalmente, esses princípios do Alexy, fala que esse negócio de neoconstitucionalismo
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existe a 500 anos atrás e o pessoal fica achando que é algo novo, então ele é um pouco,
o José Levy, contra essas decisões ancoradas em princípios afastando totalmente as
regras legais.
Então ele é positivista? Tem gente que acha que ele é um jusnaturalista.
Então, ele é um pouco mais tradicional, mas ele é um cara muito preparado. Muito
mesmo. Se vocês lerem o lattes dele, vocês vão falar “esse cara sabe”.
Então a gente tem que acompanhar o final dessa decisão, o final vai ser
importante para vocês. O desenrolar também, mas o final também vai ser importante.
Embora, possa haver quem fique sentado em cima dela lá e não vai sair do lugar.
Perguntas:
PROFESSOR: Está discutindo tudo, a gente tem que saber o final. Por enquanto a
gente não tem como falar, porque lá eles estão discutindo uma coisa e ai eles falam de
outra coisa, isso é muito comum. Por exemplo, o objeto é tal e ai, no meio do
fundamente, ele coloca várias outras questões, as vezes questões que nem tem relação
com droga. Essa é até uma discussão de direito constitucional, se só o que vale para
fazer coisa julgada é o dispositivo final ou se o fundamento lá em cima também faz.
Isso foi objeto de discussão quando do julgamento da lesão leve na Lei Maria da
Penha, pois eles discutiam só a necessidade ou não da representação no caso da lesão
leve, por força da interpretação do artigo 16 e 41 da lei 11.340 e aí, no meio do
julgamento, o Ministro Marco Aurélio falou que também não cabe suspensão
condicional do processo. E isso não era objeto da decisão, e aí isso depois gerou um
rebuliço. Para muitos o Supremo impede a suspensão condicional do processo.
Inclusivo, caiu na prova do MPDFT e o examinador entendeu nesse sentido.
PROFESSOR: É, mas isso aí é o que a gente fala, mas vamos ver o que o Supremo
vai decidir no final. Essa parte crítica vale, todo mundo acha que ele está fazendo isso
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desde o início que ele começou a examinar essa coisa. Todo mundo não, aqueles que
tem uma visão contra essa linha do ativismo. Tem outra corrente que entende que o
Supremo tem que fazer isso, as Cortes Constitucionais, nos modernos Estados de
Direito, têm esse poder. Isso é uma discussão filosófica, ideológica de direito
constitucional.
Muito bem, a gente tem que acompanhar o final para ver como vai ficar
direitinho a delimitação. Inclusive a quantidade, porque para muitos, se o supremo
liberar, vai haver o efeito inverso. Vai aumentar a prisão por tráfico, pois muitos
casos que hoje colocam como uso, ficará naquela linha tênue e uns ficarão sem nada e
outros ficarão com o tráfico. Tem gente que acha que vai gerar esse efeito inverso.
Que essa decisão se for por quantidade, então qual é a quantidade? Eles sabem desse
risco dessa decisão. Se você não tem mais o uso, você tem dois fatos, o atípico e o
tráfico. E entre eles existe um abismo.
O que que se faz então? A pronúncia não é lida, está no CPP. Qual é o
procedimento do dia a dia? A pronúncia não é lida, o Tribunal fala que ela não vai ser
lida e ela é envelopada, joga dentro de um envelope, não pode ser lida pelo MP em
plenário. Pois é, o Supremo disse que o envelopamento da pronúncia, na qual o juiz
usou excesso de linguagem, não afasta a nulidade do ato (está na decisão do Supremo,
no Informativo 795). Ou seja, o Supremo que estava encaminhando em uma linha
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quase sempre da nulidade relativa, se não tem prejuízo não tem nulidade,
praticamente ignorando a linha da nulidade absoluta, deu essa decisão esquisita,
né? Fazendo com que nesse caso tenha que se fazer outra pronúncia, não serve, se
o juiz a realizar dessa forma eu a removo. Então, essa decisão ela contraria aquilo
que estava sendo aplicado no dia a dia. Então, se houve excesso de linguagem na
pronúncia e houver recurso da defesa, o Tribunal vai ter que vir e falar: olha, já era essa
pronúncia. Juiz, faça outra. Não vai servir o envelopamento da denúncia.
Se tem muito preso, tá pulando pela janela, igual tem no Espírito Santo (tem
gente jogando futebol com a cabeça de um indivíduo no maranhão). Então, o que vai
fazer? Vamos ter que flexibilizar essas ideias da Lei de Execução Penal. E o governo
que não investe na execução? O que o Supremo faz? Nada! Em relação ao governo que
não investe o dinheiro do Fundo Penitenciário Nacional.
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2.7. SURSIS
Isso aqui é algo que demorou no Supremo para ser decidido, pois eles
ficaram muito tempo debatendo esse negócio. No início do ano o professor deu um
curso lá e eles estavam debatendo, os servidores inclusive perguntavam qual era a
opinião dele. É um tema interessantíssimo que foi agora decidido pelo Ministro Luiz
Fux.
No artigo 89 da Lei 9.099/95 para crimes apenados com pena mínima não
superior a 1 ano, preenchidos os requisitos, o MP oferece a suspensão condicional do
processo. O sujeito cumpre os requisitos, é decretada a extinção da punibilidade como
se ele jamais tivesse sido processado.
Teve gente que quis durante esse período de soltura do sursis obter indulto.
Como indulto, professor? O indulto ele pode ser de dois tipos: pode ser um indulto total
(que elimina a pena do sujeito a ser cumprida) e o indulto pode ser parcial, que é o mais
comum (chamado de comutação de pena). Esse indulto parcial ele sai sempre no mês de
dezembro, por Decreto da Presidência da República, conforme determina a Constituição
Federal. E tem várias regras para conseguir se enquadrar, uma delas é o cumprimento de
parte da pena, as vezes vem assim: um quarto, que é o termo que eles usam lá. Cumpriu
um quarto da pena, indutável em X dias ou X anos.
Pelo contexto, o degravador presumiu que seja isso, todavia é inaudível na gravação do Davi José –
267
27min40seg.
Página 303 de 380
Aqui uma decisão que envolvia processo penal, uma decisão interessante
que faz parte até da discussão que nós fizemos da teoria da norma na aula passada. O
que nós discutimos em relação à isso? A natureza da lei penal e da lei processual penal e
a sua aplicação no tempo. Lembram-se disso? O artigo 2º, do CPP, diz que a lei
processual penal tem aplicação imediata. E o artigo 4º do Código penal diz que o tempo
do crime é o momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o momento do
resultado. Só que, em relação ao direito penal, tem o artigo 2º do CPP e tem o artigo 40
da CF que diz que a lei melhor retroage e que a pior não retroage.
Ou seja, lei melhor retroage e lei pior não retroage. A discussão aqui
nessa decisão do Supremo era o seguinte: em 2008 e 2009, duas leis alteraram o Código
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de Processo Penal, uma delas passou o interrogatório do início para o final, lembram-se
disso? O interrogatório era no início, pessoal. O cara era citado, comparecia e era
interrogado. Agora é no final no procedimento do CPP. E a discussão é se, após a
entrada da lei em vigor do interrogatório, ele tem que ser interrogado novamente. Ele
queria ser interrogado novamente, pois a lei nova diz que agora o interrogatório é no
final da instrução.
Porque ele quer ser interrogado novamente? Porque ele quer falar depois
que todo mundo falou, para poder se defender melhor. É muito melhor ser interrogado
no final, você conhece a prova que foi produzida contra você. O Supremo falou que
não! O Supremo disse que o interrogatório segue o artigo 2° do CPP. Quando o
interrogatório foi realizado ele era no início, aplicação imediata. Quando surgiu a lei
nova, dizendo que o interrogatório era no final, ele não se aplica, pois o interrogatório já
foi realizado. Ela só se aplica aos fatos ainda não realizados. Interessante essa decisão.
Perguntas:
ALUNO: Ela se aplica tanto ao processo penal comum, quanto ao militar? Porque
teve essa discussão também nesse julgado.
PROFESSOR: Olha, o que a gente tem que analisar aqui é que essa decisão é do
CPP comum. Teria que esperar uma decisão da lei especial, conforme determina a lei
especial. Mas é interessante isso aí que você colocou. Muito bom. Isso aqui, gente, é
só uma análise de julgado. É só de atualização. Então, assim, a gente não está
discutindo a doutrina em cima disso. Isso aqui é a título de informação. Aula
papagaio, ta? O Supremo falou isso, o Supremo falou aquilo. Mas a gente tem aula
ainda de doutrina, que a gente vai ver da parte penal.
ALUNA: Professor, fazendo um paralelo com o processo penal. O senhor acha que,
por exemplo, a mudança de competência é matéria penal ou processual penal?
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ALUNA: É porque dizem que é exatamente isso: que lei pior retroage. Por exemplo,
não era competência do júri e passa para o júri.
PROFESSOR: Pois é, para mim é lei processual. Aplica imediatamente, desde que o
ato já não tenha sido realizado. Se o ato já foi realizado, realizado está. É o que o
Supremo decidiu aqui. A jurisprudência é tradicional nessa questão. Quem avança
mais é a doutrina, com essa interpretação de lei processual formal e lei processual
material. Inclusive, eu falei na aula passada que tem doutrinadores que acham que
não tem diferença do sistema penal processual e material, que tudo deveria ser
interpretado da forma que o direito penal dispõe, se é melhor para o réu. Então, quer
acabar com isso de imediatidade. É o caso do Paulo César Busato, Paulo Rangel.
Agora, com relação à lei penal no espaço, lugar do crime não tem nada a ver
com processo penal. Certo? Na verdade, assim, tem a ver com processo penal quando
você decide que vai ser aplicada a lei brasileira. Lugar do crime é para saber se vai ou
não ser aplicada a lei brasileira.
Muito bem, voltando aqui para nossa aula. Esse caso aconteceu aqui no DF.
É um caso de competência. Em que a polícia agora vai ver lá na casa do fulano que está
com o IP para ver se foi ele. Se não foi ele, então quem foi? Quem ele deixou usar
aquele computador no dia tal, a tantas horas? Quem estava na casa naquele dia? Para
tentar chegar à autoria assim. E o golpe foi grande, quase 100 mil reais.
Lugar do crime nós já discutimos lá atrás, a doutrina diz que vale para os
crimes à distância, que tocam o território de mais de um pais. Foi aquilo que nós
falamos, começou na Argentina e terminou no Brasil; começou no Brasil e terminou no
Paraguai. Qualquer questão nesse sentido na prova, vocês já sabem. É o caso se aplica
ou não a lei brasileira, está perguntando isso. Inclusive, eu dei um exemplo aqui na sala,
na aula passada, de uma bomba que foi armada na argentina para explodir na Colômbia,
mas o avião fez escala no Brasil e ela foi desativada. Aí perguntava se se aplicava ou
não a lei brasileira. O professor falou que depende se era ato executório ou não. Se é ato
executório, teve início de execução e tocou o território nacional, desarmaram a bomba
aqui. Senão, era um ato preparatório, aí vai depender da teoria da tentativa que é
analisada, e a gente não viu essa parte de tentativa ainda.
Com relação à lei penal no espaço, o artigo 5º do CP diz que a lei penal
brasileira se aplica a casos que acontecem dentro do território nacional, mas ressalva
principalmente as imunidades diplomáticas. Fato que acontece dentro do território
nacional se aplica a lei penal brasileira. Então, qual é o princípio que rege a lei penal no
espaço no Brasil? É o princípio da territorialidade. Só que esse princípio da
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Brasil é signatário do tratado que trata sobre isso e foi ratificado/publicado aqui. Então,
a imunidade é para o bom desempenho da função. O conjunto de prerrogativas para o
bom desempenho da função.
A natureza dessas imunidades é interessante. Sabe por quê? Porque elas não
dizem respeito só ao direito penal, mas eu estou tratando de direito penal. É um dos
alcances da imunidade, inclusive, o direito tributário. Mas eu estou tratando do direito
penal, então, não me interessa as outras.
Muito bem, com relação à imunidade, quem é que tem imunidade? Quem é
o sujeito da imunidade? Gente, o Itamaraty que sabe, é ele que confere. É só o
diplomata? Não! Diplomata, seus familiares, as pessoas que vieram com ele para
trabalhar na embaixada. Agora, a gente tem que ter em mente o seguinte: o
diplomata tem uma imunidade mais ampla, e as pessoas que vieram com ele, as
pessoas que vieram trabalhar na embaixada, seus familiares. O Consul tem uma
imunidade mais restrita, pois a imunidade do Consul é no limite da sua função, do
exercício da sua função. O Consul tem a imunidade, desde que no exercício da sua
função, para crimes cometidos no exercício da sua função.
Agora, nós não temos como impedir que esses países, nas suas legislações
internas, façam constar que também é território deles, mas é território brasileiro. Por
exemplo: um brasileiro trabalha na Embaixada Norte Americana, vai ser julgado aonde?
Aqui! “Ah, mais a lei dos Estados Unidos...” Ele vai ser julgado aqui, porque é território
brasileiro. Agora, se for Diplomata? Aí não interessa, ele pode cometer o crime lá
dentro, fora de lá, ele tem imunidade.
gente, mas pode ser capturado. Entenderam o jogo de linguagem. Não pode ser preso,
mas pode ser capturado. Se você enxerga alguma diferença... É isso que eu estou
querendo dizer.
Agora, ele pode, tentando matar uma pessoa, ser morto em legítima
defesa. Vocês se lembram quando aconteceu um fato aqui em Brasília, onde o
diplomata do Irã, logo depois da mudança da lei (introdução da lei 12.015), que alterou
os crimes contra os costumes para os crimes contra a dignidade sexual, ele estava
flertando com uma pessoa na piscina de um clube em Brasília que não teria idade
mínima? Aí virou uma discussão, lembram-se? Isso tem alguns anos, a lei é de 2009 e
aconteceu aqui em Brasília. E, salvo engano, ele tinha imunidade diplomática. Olha que
situação curiosa, porque nesse caso você fala que quem vai julgar é o seu país, só que
no país dele mulher e homem são bem diferentes. Porque culturalmente, regionalmente,
pelo que eles seguem lá é diferente. Então, a chance de ele ser condenado lá é perto ou
abaixo de zero. Olha que coisa interessante, mas o Brasil é signatário desse tratado.
Muito bem, avançando, o artigo 5°, §1º, CP, tem algo importante, que é o
território por extensão/por equiparação. Cuidado com esse artigo 5°, §1°. Não pode
ser confundido. Estamos falando de que? Estamos falando de embarcações e
aeronaves brasileiras privadas, em alto mar; e embarcações e aeronaves brasileiras
públicas, em alto mar ou em outro país. Então, estamos falando de duas categorias.
Embarcações e aeronaves brasileiras privadas em alto mar (alto mar é onde não é
território nosso nem de outro país); e embarcações e aeronaves brasileiras públicas em
alto mar ou em território de outro país.
é crime (na questão. Viva a questão, esqueça o mundo) na Holanda, resolva o fato. Fato
atípico. “Ah, mas e a lei brasileira?” Não, porque a embarcação é privada holandesa em
alto mar, não é alcançada pelo princípio da territorialidade e nem pelo princípio da
extraterritorialidade, que a gente vai ver, nessa situação que também não é crime lá.
Agora, o que diz o artigo 5º, §2°, CP, pessoal? Leiam ai.
Olhem aqui, quanto ao §1° e §2 o, tenho uma questão para vocês. Um navio
público dos Estados Unidos, de guerra ou do governo, está ancorado no Rio de Janeiro.
Está nas 12 milhas marítimas, mas territorial. Ai, ele está lá no Rio de Janeiro, um fato
ocorre dentro desse navio, como é que fica? O navio é público, tá? Eu quero que você
me mostre no CP como resolve isso.
Perguntas:
PROFESSOR: Onde que está no Código? Este é um fato real, mencionado por Artur
Gueiros, que tem um livro de direito penal da editora Campos. Ele foi examinador de
dois concursos do MPF.
ALUNO: É interpretação a contrário senso.
PROFESSOR: Seria como? Essa interpretação a contrário senso?
ALUNO: Se nas embarcações brasileiras públicas se aplica a lei brasileira onde quer
que seja, o contrário também é verdadeiro.
PROFESSOR: É, esse que é o raciocínio do Artur Gueiros também. Ou seja, se a
embarcação ou aeronave pública brasileira tem o princípio do território por extensão.
Se tiver na Itália o avião da Dilma e um agente de segurança da Dilma, do
Exército/Polícia Federal que acompanha, matar um outro, praticar um crime contra
outro dentro do avião, vai ser julgado onde? No Brasil. Então, se o fato aconteceu
dentro de uma embarcação pública dos Estados Unidos na costa do Rio de Janeiro,
vai ser julgado pelos Estados Unidos, o mesmo princípio, a mesma razão de decidir
do artigo 5º, §1º.
Agora, olha que questão que caiu. O avião da Dilma chegou em Moscou, os
caras em algum momento tiveram (a presidente estava em outro lugar e eles não
entraram), uma parte da comitiva (uma comitiva grande que sempre vai), saiu e foram
tomar uns drinks na rua e cometeram um crime lá, e aí? Foi fora da aeronave, então
aplica-se a lei do país de lá. É claro que a gente tem que analisar se tem alguma hipótese
de extraterritorialidade, mas a gente vai ver ainda. Mas não resolve aí onde a gente viu
não.
Pessoal, então vamos lá, vamos terminar o que a gente estava falando aqui
logo. Com relação ao artigo 7° do Código Penal, o 6° a gente já viu lá em cima. Com
relação ao 7º do CP, ele trata da extraterritorialidade. Então, observem que trata da
extraterritorialidade, que são aquelas hipóteses em que a lei brasileira se aplica a fatos
que acontecem fora do Brasil. Esse artigo 7°, a gente tem que olhar direitinho, porque
ele tem duas partes, uma parte inicial que vai tratar da extraterritorialidade
incondicionada da lei brasileira, e a outra parte que vai tratar da extraterritorialidade da
lei brasileira.
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Tem que ser conjugado com o §1° e, não se esqueçam, também com o artigo
8°, CP. O artigo 8° se aplica somente no caso do inciso I.
Esse artigo 8° é chamado de bis in idem legal, porque ele permite uma
dupla condenação por um mesmo fato. O artigo 8º nos permite isso. Eu vou explicar
daqui a pouco com mais detalhes, mas por enquanto entendam isso, o artigo 8º se aplica
somente aos casos de extraterritorialidade incondicionada.
o patrimônio, apenas contra a vida e a liberdade. Não tem crime contra a dignidade
sexual, tem crime contra a vida ou a liberdade.
Questão de concurso:
Prova do MPPR – 2013. Dos crimes abaixo mencionados, qual não fica sujeito à lei
brasileira pela aplicação do princípio da extraterritorialidade incondicionada: (está
falando justamente do artigo 7º)
a) De homicídio, cometido no estrangeiro contra o presidente da
república;
(Aqui nós temos o artigo 121, CP)
b) De latrocínio, cometido no estrangeiro contra o procedente da
república;
Aqui nós temos o crime contra o patrimônio. Crimes contra o patrimônio começam
com o furto, artigo 155. E aqui nós temos o latrocínio, que é o artigo 157, §3º, parte
“b”. Então, latrocínio, olha que coisa, o mais grave não é alcançado pela
extraterritorialidade. Porque? Porque está no artigo 7º, I. Aprenda a interpretar o
direito. Artigo 7º, I, crimes contra a vida e a liberdade do presidente da república. O
legislador colocou os crimes contra o patrimônio? Não. A, mas o STJ decidiu que o
latrocínio é um crime tanto contra o patrimônio como contra a vida, que é um delito
complexo. Decidiu mesmo, mas para efeito de concurso de crimes. Para efeito de
extraterritorialidade da lei brasileira nós não temos nenhuma decisão, até porque
nenhum presidente da república morreu lá fora ainda. Latrocínio mata, correto? O
consumado).
Artigo 7º, I, “b”: a letra “b” vai tratar de crimes praticados contra interesses
nossos. Tanto na letra “a”, quanto na letra “b”, quanto na letra “c”, que diz o seguinte:
Já a alínea “d” está aqui fora desse princípio da defesa ou da proteção real.
A letra “d” trata de crime de genocídio, praticado por brasileiro, no exterior, ou por um
estrangeiro que tenha domicílio no Brasil. Sempre lá fora, pois estamos falando de
extraterritorialidade.
Então, o cara tem domicílio aqui e pratica homicídio lá fora, mas ele é da
Grécia, ele é da Itália. A lei brasileira diz que alcança. Agora, observem, aqui envolve
muitos outros aspectos. Alcança se ele não for julgado lá fora. Por exemplo, Milosevic,
que praticou genocídio na antiga Iugoslávia, ele foi julgado pelo Tribunal Penal
Internacional. Se ele tivesse domicílio no Brasil, ele poderia ser julgado no Brasil? Em
tese sim. Porque o artigo 7º propicia isso, um estrangeiro que tenha domicílio no Brasil.
Gente, não precisa de nenhuma condição vírgula, isto aqui é o que diz o
Código Penal, não tem condição mesmo. Mas, observem, para aplicar, muitas vezes,
envolve processo, envolve defesa, executar a pena as vezes você tem que achar a pessoa
para executar, ele tem que entrar aqui porque o país de lá não quer extraditar o cara.
Percebam que tem outras questões que envolvem a soberania de cada país e que não
estão todas disciplinadas aqui. Tem uma previsão abstrata aqui de incidência da lei
penal brasileira.
Voltando na questão do genocídio, por que eu falei isso? Porque o artigo 7º,
II, alínea “a”, CP, tem crimes que o Brasil se obrigou a reprimir por tratados ou
convenção.
Porque tem gente que não quer sair do Brasil? Por exemplo, ontem a
imprensa publicou que o presidente da CBF tem nove viagens já que ele não vai, o
presidente sempre acompanha a seleção brasileira. Tem coisa melhor que ser presidente
da CBF e acompanhar a seleção brasileira? Fica nos melhores hotéis, viaja para as
melhores cidades, viaja de primeira classe muitas vezes, quem vai pagar é a CBF,
entidade privada. Ai o cara não tá indo para lugar nenhum? Ele não gosta de viajar, né?
Huuuum, mas porquê? Porque o último que viajou para a Suíça, preso lá está. Porque
está preso? Porque os Estados Unidos iniciaram uma investigação que envolve lavagem
de dinheiro e corrupção, diferente de nós, os Estados Unidos têm a corrupção entre
particulares, que tem a previsão no projeto do nosso novo Código Penal que tramita no
Senado e pune a lavagem de dinheiro. E a extraterritorialidade e extraterritorialidade
dos Estados Unidos é um pouquinho diferente daqui.
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Prosseguindo, o inciso “a” eu posso ter tortura, posso ter genocídio, tráfico
de drogas. Uma questão interessante, por exemplo, vou dar dois exemplos para vocês:
atua aqui no DF. Ele recebeu, leu aquilo e resolveu dar uma fuçada. Porque hoje está
fácil resolver problema prático, você esquece a teoria e entra no site do STJ ou do
Supremo tem o julgado mais novo e faz daquele jeito.
Agora, é claro, quando você quer fazer diferente, aí você pesquisa e faz ao
contrário. Fala que a decisão está errada, é um jogo de palavras, de linguagem, teoria do
discurso, Direito.
Aí, olha o que acontece, tinha uma decisão antiga, mas envolveu uma
pesquisa, tinha tratados. Aí eu estava no núcleo de combate à tortura e sabia da
existência de vários tratados que o Brasil se obrigou a cumprir. Em vários desses
tratados tem que combater a tortura, e tinha um julgado do STJ, antigo, que dizia: “A
competência da justiça federal é assim, assim e assim. Mas se o crime for objeto de
tratado, também”. Um só julgado do ano de 2009. Na época era 2010. Aí o professor
fez essa fundamentação e falou (só que o colega tinha falado competência, ou não sei se
foi redistribuir. Só sei que o processo caiu na minha mão e acho que não tinha
competência) quando há um conflito de atribuição, porque não tem um processo, tem
um inquérito. Se eu tenho um conflito de atribuições entre membros do MPU (era um
membro do MPF e um membro do MPDFT), quem resolve? Se eu tivesse perguntando
entre um membro do MPDFT e um membro do MPMG? Um promotor de Unaí e um
Promotor do DF? Aí é o STJ, que no passado já foi o STF. Agora, entre membros do
MPU, está na LC 75, é o Procurador-Geral da República. Eu estou falando de
membros do MPU, o MPU é formado pelo MPDFT, MPM, MPF e pelo MPDFT. Então,
observem, quem resolve é o PGR, pergunta boa para o concurso do MP.
Aí o professor suscitou um conflito de atribuições e mandou para o PGR. Aí
ele não entendeu nada e mandou para o PGJ do DF e falou para ele resolver esse
negócio. Chegou lá, o PGJ (o professor trabalhava na assessoria, na área de tortura)
falou que não queria que o professor suscitasse aquilo, queria que ele suscitasse conflito
de competência. Aí o professor falou: que leu o Cesar Roberto Pinheiro Carneiro que
explica muito bem, e que estava convencido, junto com boa parte dos processualistas
que existem, que esse caso é conflito de atribuição e não conflito de competência. Não
tem decisão judicial aqui, de prisão, cautelar, que possa ter atraído a competência. Aí o
professor se recusou a fazer o conflito de competência. Se quiser, que designe outro
membro para suscitar. “Não, mas você está na assessoria”, disse o procurador. “Eu saio
da assessoria e volto para a minha promotoria, lá eu faço o que eu quero. Faço o que
eu quero dentro da lei, mas com independência funcional”. Aí ele falou: “Ah, não,
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então tá bom, outra colega vai fazer”. Aí uma colega lá fez e suscitou conflito de
competência.
Agora o conflito de competência é entre um juiz do DF e um juiz federal. É
o STJ. Muito bem, essa é a história da tortura dos brasilienses no Paraguai.
Agora, o STJ tem julgado, se tem tratado a competência é da justiça federal.
E seria alcançado pela lei brasileira? Vai porque tem vítima brasileira, além de ser crime
objeto de tratado. Brasileiro foi vítima, a gente vai ver um pouquinho mais sobre isso.
Voltando aqui, a letra “b” (do artigo 7º, II), vai dizer o seguinte:
Sobre a alínea “b”: crime praticado por brasileiro. Olha, crime praticado por
brasileiro no exterior, extraterritorialidade condicionada, salvo se for hipótese do inciso
I. Por que no inciso I é extraterritorialidade incondicionada.
Esses crimes são aqueles que não estão no inciso I. Trata-se do Princípio
da nacionalidade ativa.
ancoradas, e aconteça um crime dentro delas, e o país lá não se interesse. Elas são
brasileiras, gente, tem a bandeira do Brasil. O país lá não se interessou por julgar, quem
que julga? O Brasil julga de maneira subsidiária, por isso que fala
representação/bandeira, de forma subsidiária. Essa questãozinha sempre cai em prova de
concurso para confundir, uma coisa boba, com o artigo 5º, §1º, CP, que nós vimos hoje.
Agora, tem uma questão importante aí, que é o §2º e foi questão da última
prova de escrivão, a questão era o seguinte: “fulano de tal praticou tráfico de drogas no
exterior. A pena lá foi de 3 anos, poderá ser condenado aqui a 5 anos e terá que cumprir
2? Viram? Fulano de tal, brasileiro, praticou crime de tráfico de drogas no exterior, a
pena de lá foi de 3 anos. A questão era: poderá ser condenado a 5 no Brasil? Era mais
ou menos assim, acho que eu trouxe essa questão. Aí colocou, 5 menos 3 = 2, cumprirá
2 no Brasil”.
ALUNA: Errado!
PROFESSOR: Porque?
ALUNA: É porque o Código fala que ele só vai cumprir pena aqui se ele não for
condenado lá. Aí ele foi condenado, no caso.
Artigo 7º [...]
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do
concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a
pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não
estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
Nesse caso aqui, ele cumpriu pena lá fora. Foi condenado e cumpriu pena lá
fora268.
Tem essa hipótese aí que é muito curioso. Tem várias lacunas aí.
Perguntas:
ALUNO: Professor, eu vi uma vez uma questão absurda que falava que era um navio,
com uma bandeira de Portugal e outro navio com a bandeira da Inglaterra, eles se
268
Questão no roteiro de aula.
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chocam em alto mar. Aí tem uma briga no navio e um bate no outro e ficam
sobrevivendo duas pessoas. Elas constroem uma jangadinha com os destroços dos
dois navios e um mata o outro, de quem seria a competência.
PROFESSOR: Prevenção! Você perguntou, eu vou dar uma resposta. Tem solução
que não seja a prevenção? Se eles tiverem leis como as nossas, que permitem punir
embarcação privada em alto mar, se o crime atingiu as duas, então só teríamos que
pensar no instituto da prevenção, que é processual e não penal. Então, assim, eu acho
que poderia ser julgado tanto por um país quanto pelo outro.
ALUNO: Eu vi que a resposta era tipo do destroço do navio, ia ser julgado pela
bandeira do destroço do navio.
PROFESSOR: É, se o destroço não é misto, aí tudo bem. O que seria um destroço
misto? Metade construído com resto do navio da Inglaterra e metade construído com
restos do navio de Portugal.
ALUNO: Nessa questão que você falou do tráfico. O que impede o Brasil seria o
cumprimento da pena e não a condenação. Mas se fosse condenado no estrangeiro,
mas por algum motivo não tivesse iniciado o cumprimento, a gente também poderia
executar.
PROFESSOR: É, se não iniciasse o cumprimento. Na verdade, o que aconteceria aí
não seria nova condenação aqui não, se ele foi condenado lá. O que aconteceria seria
um rogatória para cumprir a pena aqui.
ALUNO: Mas ia cumprir pelos 3 anos ou pelos 5 anos?
PROFESSOR: Pelos 3. É caro de extraterritorialidade condicionada. E isso acontece.
Tem gente que argumenta que ele poderia ser condenado aqui também, mas os casos
que existem são de condenado lá e que cumpre a pena aqui. Condenado. Nos casos de
extraterritorialidade condicionada, se não cumpriu lá. Se cumpriu lá, não vai cumprir
nada aqui.
ALUNO: Sim, mas se não cumpriu lá, teoricamente a gente pode processar e fazer
cumprir 5 aqui.
PROFESSOR: Aí que está a questão. Se é o caso de extraterritorialidade
condicionada e ele foi julgado e condenado lá, o que o pessoal entende é que ele tem
que fazer uma carta rogatória para cumprimento da pena aqui no Brasil, e não outra
condenação no Brasil para adequar a condenação.
ALUNO: Mas aí o legislador teve falta de técnica.
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PROFESSOR: É, perfeito, foi falta de técnica. O verbo usado aí não explica tudo.
Isso que eu estou falando. Não explica. Mas o que explica? Isso aqui que eu acabei de
falar, esse aqui só se aplica à extraterritorialidade incondicionada. Concordo contigo
perfeitamente.
Lá uma lei sucede a outra, não é uma questão de fatos, é uma questão de lei
que sucede a outra no tempo, nós vimos isso na aula passada: concurso de leis no
tempo.
Agora, é diferente, porque lá são fatos. Aqui não, aqui nós temos, olha a
expressão: “um contexto fático”. Nós não temos aqui fatos isolados que mereçam penas
somadas. Olha a pergunta do André (examinador da última prova do MPDFT):
diferencie conflito aparente de normas de concurso real. Prova aberta do 27° concurso
para promotor do MPDFT. Concurso real é o material que nós veremos lá na frente,
penas somadas. Conflito aparente é quando nós temos um contexto fático e temos que
evitar a incidência de mais de uma lei, para evitar o bis in idem, aplicando a solução de
um só crime e uma só pena.
Gente, isso é um tema aberto para discussão, mas é simples. Norma especial
prevalece sobre norma geral. Então, preste atenção, o Código Penal Militar é norma
especial em relação à Lei 11.343/2006 (lei de drogas). Então, o artigo 290 do Código
Penal Militar tem o uso de drogas até com pena privativa, o artigo 28 do Código Penal
Comum não tem não (o professor se confundiu, se referia ao artigo 28 da lei de drogas).
Olha o Supremo tratando só do 28 ou do 290 também, já pensou no final como que vai
ficar isso? Porque lá no passado o Eros Grau aplicou a insignificância para militar
fardado que estava usando três cigarros de maconha dentro do quartel. Acho que eu
falei isso na aula de princípio da insignificância.
Só que hoje tem pena privativa no uso, em outras condutas, o militar está
aqui no 290 CPM, em serviço e praticando o fato. Aqui estão as demais condutas.
Agora, isso aqui é uma lei diferente de outra lei, e é um Código. Engraçado que
geralmente a lei especial é especial em relação ao Código, só que esse Código é
especial, porque ele trata dos militares.
Norma especial prevalece sobre norma geral. Isso aqui não tem grandes
dificuldades. Geralmente, a lei especial ela é especial em relação ao código. Por
exemplo, artigo 3º da Lei 8137/90 (Lei que trata da solicitação por um fiscal do INSS,
da Receita estadual ou federal, de vantagem para deixar de lançar imposto ou lançar a
menor) ele responde por esse crime do artigo 3º, que é especial em relação ao artigo 317
do Código Penal, da corrupção do CP que trata das demais hipóteses, das outras pessoas
que não estão nessa condição de fiscal da receita, do inss. Então, norma especial que
prevalece sobre norma geral
Essa subsidiariedade pode ser expressa ou tácita. Muitos não gostam desse
princípio da subsidiariedade, que é chamado pelo Hungria de soldado de reserva.
Cuidado, essa subsidiariedade aqui é diferente da subsidiariedade que nós vimos de
princípio de política criminal atrelado à intervenção mínima. Que o direito penal é
subsidiário, lembram-se disso? É muito comum isso pro direito penal.
Perguntas:
subsidiariedade.
Agora, a grande discussão não é essa que você apontou, da especialidade prevalecer
sobre a subsidiariedade. Eu entendi o que você queria dizer.
ALUNO: Sempre vai ser só um deles? Ou pode ser dois princípios?
PROFESSOR: Sempre há uma confusão entre subsidiariedade e consunção, que a
gente vai ver. Que é esse exemplo que você acabou de dar. Por exemplo, o Luís
Flávio Gomes fala que o roubo é um crime complexo, todos os autores falam,
pluriofensivo. Não é porque tem problema de cabeça não, complexo porque ofende
diversos bens jurídicos. Então ele fala, quem resolve esse problema é o princípio da
consunção.
Só quem o fato de o furto, como fato menor estar, dentro do roubo como fato menor é
subsidiariedade. Porque subsidiariedade? Porque se o Dermeval denuncia uma pessoa
por roubo em Taguatinga, se durante a instrução ficar comprovado que houve uma
subtração de uma coisa alheia para si, mas não se comprovou a violência, nem a
grave ameaça, nem a violência imprópria. A norma subsidiária é usada, ao invés de
ser condenado por roubo ele é condenado por furto a especialidade não resolveria
isso. Na especialidade (acho que o professor quis falar subsidiariedade aqui)
desclassifica sem a necessidade de mutatio. Na especialidade é outro crime, eu
precisaria de uma nova imputação, de uma mutatio¸ não seria uma mera
desclassificação ou reclassificação. O fato narrado ali contempla tanto o roubo quanto
o furto.
O Rogério Greco, por exemplo, se você desejar olhar, ele fala que a
subsidiariedade é um princípio que não serve pra nada. Ele defende, portanto, o não uso
da subsidiariedade. Só que a doutrina toda classifica, inclusive o projeto do Código está
colocando ele.
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Por exemplo, na expressa isso fica muito claro. Artigo 307, 308, “...salvo
punição por crime mais grave”. Toda vez que tiver essa expressão (salvo punição por
crime mais grave), estaremos diante do princípio da subsidiariedade expressa.
Falsa identidade, artigo 307, CP, se o sujeito se passa por outra pessoa
querendo dar o golpe de estelionato. Então tem um crime mais grave que é o
estelionato.
Então não vai ser só o 132, CP, vai ser a tentativa de homicídio que é mais
grave. Na expressa isso fica mais claro, mas eu concordo contigo que tem um campo aí
de muita confusão nesses princípios. O Rogério, por exemplo, aponta isso.
Aqui, vocês aprenderam assim: crime fim absorve crime meio. Agora, em
cima disso vocês têm que entender que tem o mesmo contexto fático. Esse mesmo
princípio é usado na Súmula 17 do STJ, esse mesmo princípio é usado na progressão
criminosa, no crime progressivo, no post factum impunível, no ante factum impunível.
Então, observem, seu amigo foi lá na feiro do Pedregal e comprou uma arma
para matar a sogra. Veio e matou a sogra. Nesse caso, o porte é absorvido pelo
homicídio.
Meu amigo achou uma folha de cheque na rua, preencheu, levou ao banco e
o banco pagou. No primeiro caso o homicídio absorve o porte e, nesse segundo caso, o
estelionato absorve o falso, porque o falso se exauriu no estelionato (súmula 17 do STJ).
Súmula 17 do STJ
Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, e
por este absorvido.
Tem doutrinador que não concorda. Quem está lendo o Cléber Masson, por
exemplo, ele não concorda. Ele entende o seguinte, o falso é um crime formal. Depois o
sujeito pratica o estelionato. O falso é crime contra a fé pública, o estelionato é crime
contra o patrimônio, concurso material de crimes. Deveria ser assim mesmo, mas esse
tem é super jurisprudencial. Muitas vezes nós vemos ali dois fatos, mas a jurisprudência
entende que é um único contexto fático.
1. Retrospectiva da aula 08
Na aula passada ficou faltando o ponto do princípio da consunção na parte final
que a gente tem que falar. Esse é o ponto mais importante da teoria da norma para quem está
fazendo concurso e até para quem está advogando também. Para quem vai trabalhar como
promotor de juiz isso é muito importante porque tem que saber a diferença entre isso aqui e
concurso de crimes. Muitas vezes a gente não consegue captar isso.
Professor: Tem mesmo, mas aí tem doutrinador que fala, inclusive, que
subsidiariedade não serve para nada (foi o que eu falei na aula passada e é o caso do Rogério
Greco). Não é bem matemática não. A gente só consegue perceber muitas vezes nos fatos
porque a subsidiariedade - como eu disse na aula passada - pode ser percebida em abstrato,
enquanto que na subsunção vamos precisar de fatos para saber. Apenas atenção.
Com relação à consunção ou absorção: crime fim absorve crime meio. A doutrina
fala aqui que há uma relação de parte e todo. Parte e todo. Fração e inteiro. Então, no mesmo
contexto fático o crime fim absorve o crime meio. No mesmo contexto fático, o crime
consumado absorve o tentado. No mesmo contexto fático, a coautoria absorve a
participação.
Então, vamos imaginar que eu atirei, querendo matar, em uma pessoa no ano
passado (ano de 2014) e ela está internada no hospital até hoje. E hoje em razão ainda dos
ferimentos do ano passado que se agravaram, ela morreu. Isso é um contexto fático que durou
um ano. O crime consumado absorveu o tentado. Agora se eu tivesse atirado nessa pessoa no
ano passado e ela estivesse internada até hoje sendo que hoje eu fosse no hospital e desse novos
tiros nelas, há dois fatos (um fato do ano passado e um fato desse ano). Não é mais um conflito
aparente de normas, mas sim um concurso de crimes (uma tentativa do ano passado e um
consumado de hoje). Perceberam a diferença? Então é importante examinar se é um contexto
fático ou mais de um contexto fático, ok?
Por exemplo, o porte de arma da Lei nº 10.826 é absorvido pelo homicídio e pelo
roubo. No roubo, se a arma for com potencialidade lesiva, ainda tem uma causa de aumento
pelo porte de arma. Então observem que é no mesmo contexto fático. Então, em quase todas as
denúncias que eu denuncio pelo roubo e não pelo porte de arma. Por que? Porque só consegue
se identificar o momento em que ele pratica o roubo com a arma. Não tem como você denunciar
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por dois crimes. Isso é um conflito aparente e não um concurso de crimes. Agora, se for
possível identificar porte de arma desconectado do homicídio, desconectado do roubo, aí sim
nós teremos dois crimes. Às vezes você consegue demonstrar que ele portou essa arma em outro
contexto, sem relação nenhuma, como dois dias antes do fato, numa festa. Ele portou essa arma
sem ter relação nenhuma com esse crime de roubo posterior. Ele ficou mostrando para todo
mundo, as filmagens e as testemunhas viram. E às vezes como aquelas mesmas testemunhas
estavam no dia do fato, às vezes eu tenho uma conexão probatória e denuncio por dois crimes.
Percebem? Mas aí eu tenho dois fatos. Esses exemplos estão fáceis porque eu estou
simplificando, mas às vezes não é tão simples. A gente precisa compreender a jurisprudência.
Tudo isso que nós falamos tem relação com a absorção ou consunção, que é o
princípio mais complexo do conflito aparente de normas. Também faz parte da consunção ou
absorção a súmula 17 do STJ. Ela é um grande exemplo desse princípio, é uma opção
jurisprudencial que aplicou esse princípio da consunção e não o concurso de crimes. Essa
súmula diz que "o falso é absorvido pelo estelionato, quando ele se exaure no estelionato". O
estelionato absorve o falso. Então aqui é uma situação de absorção. O estelionato consome o
falso. O estelionato, portanto, aqui compreende o falso.
eram contextos diferentes, o falso não se exauriu no estelionato. O falso continuou com
potencialidade lesiva. Aqui eu tenho o concurso material de crimes.
Isso é diferente do exemplo de alguém que falsifica recibo médico falso para
sonegar imposto, obter restituição. Nesse caso a sonegação absorve o falso porque o falso se
exaure na sonegação. Aqui eu tenho o conflito aparente de normas. Muito disso depende de
compreensão doutrinária e jurisprudencial, não depende de matemática e sim de valoração.
Observe que a jurisprudência fez uma opção.
Cleber Masson não concorda com isso porque o falso é crime formal. Você
falsificar cheque de uma pessoa já é crime. Se você não levasse ao banco para sacar seria crime
de falso. Aí você leva ao banco e este paga e é só estelionato. Olha que coisa meio estranha. E
mais: o falso é crime contra a fé pública (confiança depositada nos papéis que o Estado confere
valor, nos documentos, na moeda que o Estado confere valor). O estelionato é crime contra o
patrimônio e um macete: um dos fundamentos usados pela jurisprudência para concluir
pelo concurso de crimes é justamente quando fere mais de um bem jurídico. Então, a
jurisprudência optou por um só crime em uma situação em que dois bens jurídicos são
ofendidos. É uma interpretação que realmente precisava de súmula porque senão o pessoal não
ia aplicar. Na maior parte dos casos quando a jurisprudência está em dúvida, ela fala "opa, se
tem ofensa a mais de um bem jurídico é concurso de crimes". Nesses casos aqui a
jurisprudência optou por um concurso de crimes. É uma opção jurisprudencial e poderia ser
diferente.
É tão curioso isso que observem uma situação que chegou no Supremo. A defesa
estava alegando uma tese e o Ministério Público outra. A questão é muito interessante. Era o
seguinte: o sujeito falsificou e sonegou (era um caso de falsificação e sonegação). A falsificação
pode ser de vários tipos de documentos e tem que examinar se ele continua com potencialidade
lesiva ou não para saber se é um crime ou se são dois crimes. A tese chegou no Supremo e era o
seguinte: ele pagou o imposto dentro daquela previsão do Refis tributário, naquelas situações
específicas em que o pagamento durante o processo extingue a punibilidade. Ele pagou e a
grande discussão é que se ele pagou eliminou-se a sonegação. Como fica o falso? O Ministro
Gilmar disse que o falso é crime autônomo e ele pode responder pelo falso. Opa, o falso que
tinha sido absorvido pela sonegação foi ressuscitado agora (esse é o termo que eu uso). Tanto é
que dando palestra para os analistas do MP que vão trabalhar na Promotoria da Ordem
Tributária eu falei que o correto é você sempre abrir capítulos na denúncia. Você vai abrir um
capítulo do falso e outro da sonegação porque se for um caso do Refis e lá na frente o sujeito
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pagar a sonegação, o falso subsiste porque você imputou. Ele não poderá alegar a ofensa à
ampla defesa porque está amarrado o falso. O problema de consunção e conflito aparente de
normas vai ser deixado para o juiz resolver lá na frente. Você trabalha sempre com concurso de
crimes porque se você não denunciar pelo falso e somente pela sonegação, e lá na frente for
eliminada a sonegação, você terá que começar tudo de novo pelo falso e pode ser que já esteja
prescrito. Se você denuncia logo pelo falso, o recebimento da ação penal interrompe a
prescrição tanto do falso quanto da sonegação.
Têm autores que não concordam com isso e é o caso do Luis Flávio Gomes e do
Francisco Assis Toledo. Eles ensinam que pode ser um novo crime. Poderia ser furto +
estelionato para quem furtou e vendeu. O sujeito poderia responder por dois crimes: furtou de
alguém + vendeu para uma pessoa = crime de estelionato. Isso não é matemático.
Exemplo: o Dermeval furtou um objeto e chegou assim para o Davi dizendo que
furtou o objeto e quer vender para ele. Não há furto + estelionato na conduta do Dermeval (há
só furto). O Davi vai responder por receptação, mas o Dermeval só responde por furto. Agora,
se o Dermeval furtou o objeto e chegou assim "Davi eu comprei esse celular com nota fiscal,
mas não gostei muito dele". O Dermeval pergunta se o Davi quer comprar e ele diz que sim. O
Davi, portanto, foi enganado pelo Dermeval. O Dermeval ocultou que era produto de crime.
Nesse caso podemos sim pensar na possibilidade do Dermeval responder por furto + estelionato.
Na verdade, a imputação aqui pode ser clara mesmo porque uma coisa é a subtração e outra
coisa é a fraude. Ele levou a vítima ao erro. Agora sim eu tenho outro fato. Então depende,
porque furtar e vender na maior parte dos casos é fato atípico, desde que quem furtou não
engane a vítima porque se ele enganar a vítima aí é fraude e caracteriza o estelionato no ardil
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que ele usou para convencer a vítima que não era produto de crime. Então, observem que são
duas situações diferentes e a doutrina não soluciona isso. É desse jeito que se resolve. Então,
pós fato impunível é furtar e vender, mas se quem vende e engana, ele comete uma fraude que é
elementar do crime de estelionato.
• Observação: Quando a gente lê artigos, tem um artigo muito bom que o Luis
Flávio, o Luis Regis Prado e o Cleber Masson utilizam esse artigo nas suas doutrinas quando
tratam do tema "Teoria da Norma - Conflito Aparente" que é do Oscar X (não entendi o
sobrenome). E um dos materiais que eu deixo aqui na biblioteca tem ele. Mas assim: você lê,
mas não é algo que você possa explicar como 2 + 2 são 4. É algo de construção teórica. Tem
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outro artigo nesse material do Fernando Almeida Pedroso que também não ajuda muito. Quem
está estudando em livros de parte geral, eu acho que o Cleber e o Luis Regis Prado são os dois
melhores nesse tema porque eles explicam bem. Agora tem coisas que o Cleber fala que são
diferentes das que o Luis Regis Prado fala, principalmente nessa questão de pós fato impunível
e ante fato impunível.
Muito bem, dois pontos ainda do princípio da consunção e absorção que foram
objeto de prova do Ministério Público do Rio de Janeiro são: crime progressivo e progressão
criminosa.
Muitas vezes isso só serve para cair na prova de concurso, não serve nada para o
seu trabalho. Aliás muita coisa que a gente vê aqui é só para compreender a matéria. Alguns
pontos a gente vê que serve, como por exemplo, o conflito aparente. Ontem mesmo eu tive que
analisar o que era conflito aparente e o que era concurso de crimes.
substituo um dolo por outro. Onde é que eu substituo um dolo por outro? Na progressão
criminosa, quando eu quero lesionar e resolvo matar. Eu cortei a perna do sujeito e depois eu
resolvo matá-lo. Eu penso que o sujeito vai se recuperar e pode querer se vingar, então eu
substituo um dolo por outro. Nos dois casos há um único crime porque eu estou no mesmo
contexto fático.
Outro ponto muito jurisprudencial que está em várias decisões que eu menciono
mais a frente no concurso de crimes. Concurso de crimes e de penas é bem jurisprudencial.
Agora um tema que tem relação com isso aqui é que às vezes teremos situação onde a
resistência fará parte do roubo e, portanto, será princípio da consunção ou absorção. E em
outros casos veremos situações onde a resistência não fará parte do roubo e aí teremos concurso
de crimes. Então observem que há situações em que a resistência integra o roubo no mesmo
contexto. Exemplo: o cara está te roubando Davi e a polícia chega aqui agora. Ele tenta levar de
você e ainda lutar contra o policial para levar o objeto. Aqui é roubo só. Agora se ele rouba você
aqui na porta da FESMPDFT e lá no Pátio Brasil fugindo ele resiste à prisão da polícia, aí eu
tenho roubo + resistência. A jurisprudência do STJ vai usar assim "cisão temporal". Se há cisão
temporal entre as condutas podemos ter concurso de crimes entre roubo e resistência. Agora é
claro que há situações mais difíceis que vão envolver juízo de valor onde um intérprete decide
de um jeito e outro intérprete de outro. Exemplo: existem várias situações no Juízo Criminal que
o juiz entende que é conflito aparente e outro juiz entende que é concurso de crimes. Têm
situações claras como o exemplo que eu acabei de dar e quem valorar de um jeito é erro. Agora
têm situações que têm opção, então por isso que a gente tem que entender a jurisprudência e a
gente vai ver isso em cada momento.
Perguntas:
Professor: É porque o art. 180, caput, exige que para ser receptação quem está
comprando na primeira parte.
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Aluna: E no § 1º?
Aluna: Então, se eu furto e vendo e estou enganando a pessoa vai ser estelionato?
Professor: Agora quem furta o objeto e vende jamais é receptador. Certo? Quem
furta e vende jamais é receptador. Tudo bem pessoal?
Alunos: Sim.
Professor: Quem furta e vende JAMAIS é receptador. Não existe "se". Esqueça
esse "se". Apaga isso da sua memória porque sempre você estará errado. Tudo bem?
Só para terminar aqui o raciocínio: quem furta e vende SEMPRE só responde por
furto e excepcionalmente por estelionato porque no exemplo que eu dei a venda
caracterizou a conduta de estelionato.
Certo?
Exemplo:
rápido porque ele ira precisar. Muita gente respondeu que era favorecimento real.
Isso está errado porque o Davi é partícipe do furto. Antes de furtar o Davi me
auxiliou. Como? Ele me garantiu um lugar para guardar a coisa sabendo antes do
furto. Quem furta um objeto não pode responder por receptação porque furtou o
objeto. Agora ele é um sujeito que explora a atividade comercial de produtos
roubados e furtados. Vamos ter que analisar o seguinte: para esse produto ele furtou
e vendeu, então é furto. Para os outros produtos que ele recebeu de pessoas que
praticaram o crime e venderam, ele é receptador.
Perguntas:
Aluno: nessa mesma linha vamos supor que tenha um furto e estelionato, o
adquirente responde pela receptação?
Exemplo:
O sujeito quer dar um golpe de estelionato e o outro também quer dar um golpe. Os
dois se encontram. A doutrina chama isso de torpeza bilateral (foi questão da prova
oral do MPMG elaborada pelo Rogério Greco). O que é uma torpeza bilateral? É
quando tem um dolo recíproco de estelionato. Um teve o art. 171 mais forte do que
o outro e o que se discute é que um acabou levando prejuízo. Há crime? Nelson
Hungria dizia que o Direito Penal não pode proteger a torpeza porque se o Direito
Civil não beneficia quem age com torpeza, muito menos o Direito Penal (Luis Regis
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Prado e Rogério Greco seguem essa linha dizendo que não pode ter crime). A
doutrina paulista em grande parte diz que não existe compensação de
responsabilidade penal, não existe compensação de culpa. Cada um responde por
sua conduta de modo que é possível encontrar a autoria e vítima nesse caso. É uma
questão doutrinária polêmica.
Aluna: Quando, por exemplo, o agente substitui o dolo (exemplo: ele estava
torturando a vítima, mas ela a reconhece e ele vai lá e a mata), nesse caso há
concurso de crimes ou progressão criminosa?
Aluno: Professor eu tenho uma dúvida. Digamos que o crime meio seja punido com
uma pena mais grave.
Professor: Acabamos de ver. Há situações de falso onde a pena é muito mais grave
do que a pena do estelionato e existe a súmula 17.
Professor: É, mas aí está fugindo da jurisprudência. Quem defendia isso era Nelson
Hungria. Ele falava que em uma situação dessa tem que responder pelo falso porque
a pena é maior. Era o argumento dele, mas aí é igualzinho ao argumento do Cleber
Masson. Bem jurídico diferente tem que responder por dois crimes. Nelson Hungria
dizia que respondia só pelo falso. Tah? É a súmula 17. Mas tem que ver se não foi
uma situação peculiar, específica. Eu estou dando aqui os exemplos específicos da
jurisprudência do STJ, mas tem que ver o caso para analisar se encaixa aquilo. Não
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importa não. Inclusive na especialidade também não importa - eu falei isso na aula.
Norma especial prevalece sobre norma geral independente do quanto da pena. Na
norma geral e especial dá até para entender, mas na consunção como eu preciso de
fatos parece meio estranho isso de o sujeito responder pela pena menor. É a súmula
17. Por isso que se o cara falsificou e viu que vai descobrir é melhor ele esgotar o
falso no estelionato. Têm várias situações assim.
Aluna: Seria o caso da explosão de caixa eletrônico porque a explosão tem a pena
mais alta do que o furto.
Professor: Tem gente que coloca os dois crimes nesse caso, né? Mas nada mais é
do que o furto com rompimento de obstáculo. Tecnicamente é furto com
rompimento de obstáculo. É igual o crime de incêndio que às vezes acontece isso. É
muito comum isso, o princípio da consunção ou absorção. Para entender que tem
dois crimes nesses casos é impossível. Em outras situações em que formos ver
quando formos explicar concurso de crimes há situações em que como uma só
conduta o sujeito responde por dois crimes (concurso formal próprio e concurso
formal impróprio). No impróprio vamos precisar de desígnios autônomos, mas aí a
gente vai ver mais na frente. Algumas perguntas de vocês são bem interessantes,
mas elas dependem de pontos lá na frente e aí gente vai devagar.
Exemplo:
Perguntas:
Aluno: nessa mesma linha vamos supor que tenha um furto e estelionato, o
adquirente responde pela receptação?
Exemplo:
O sujeito quer dar um golpe de estelionato e o outro também quer dar um golpe. Os
dois se encontram. A doutrina chama isso de torpeza bilateral (foi questão da prova
oral do MPMG elaborada pelo Rogério Greco). O que é uma torpeza bilateral? É
quando tem um dolo recíproco de estelionato. Um teve o art. 171 mais forte do que
o outro e o que se discute é que um acabou levando prejuízo. Há crime? Nelson
Hungria dizia que o Direito Penal não pode proteger a torpeza porque se o Direito
Civil não beneficia quem age com torpeza, muito menos o Direito Penal (Luis Regis
Prado e Rogério Greco seguem essa linha dizendo que não pode ter crime). A
doutrina paulista em grande parte diz que não existe compensação de
responsabilidade penal, não existe compensação de culpa. Cada um responde por
sua conduta de modo que é possível encontrar a autoria e vítima nesse caso. É uma
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Aluna: Quando, por exemplo, o agente substitui o dolo (exemplo: ele estava
torturando a vítima, mas ela a reconhece e ele vai lá e a mata), nesse caso há
concurso de crimes ou progressão criminosa?
Aluno: Professor eu tenho uma dúvida. Digamos que o crime meio seja punido com
uma pena mais grave.
Professor: Acabamos de ver. Há situações de falso onde a pena é muito mais grave
do que a pena do estelionato e existe a súmula 17.
Professor: É, mas aí está fugindo da jurisprudência. Quem defendia isso era Nelson
Hungria. Ele falava que em uma situação dessa tem que responder pelo falso porque
a pena é maior. Era o argumento dele, mas aí é igualzinho ao argumento do Cleber
Masson. Bem jurídico diferente tem que responder por dois crimes. Nelson Hungria
dizia que respondia só pelo falso. Tah? É a súmula 17. Mas tem que ver se não foi
uma situação peculiar, específica. Eu estou dando aqui os exemplos específicos da
jurisprudência do STJ, mas tem que ver o caso para analisar se encaixa aquilo. Não
importa não. Inclusive na especialidade também não importa - eu falei isso na aula.
Norma especial prevalece sobre norma geral independente do quanto da pena. Na
norma geral e especial dá até para entender, mas na consunção como eu preciso de
fatos parece meio estranho isso de o sujeito responder pela pena menor. É a súmula
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17. Por isso que se o cara falsificou e viu que vai descobrir é melhor ele esgotar o
falso no estelionato. Têm várias situações assim.
Aluna: Seria o caso da explosão de caixa eletrônico porque a explosão tem a pena
mais alta do que o furto.
Professor: Tem gente que coloca os dois crimes nesse caso, né? Mas nada mais é
do que o furto com rompimento de obstáculo. Tecnicamente é furto com
rompimento de obstáculo. É igual o crime de incêndio que às vezes acontece isso. É
muito comum isso, o princípio da consunção ou absorção. Para entender que tem
dois crimes nesses casos é impossível. Em outras situações em que formos ver
quando formos explicar concurso de crimes há situações em que como uma só
conduta o sujeito responde por dois crimes (concurso formal próprio e concurso
formal impróprio). No impróprio vamos precisar de desígnios autônomos, mas aí a
gente vai ver mais na frente. Algumas perguntas de vocês são bem interessantes,
mas elas dependem de pontos lá na frente e aí gente vai devagar.
sujeito praticar mais de um verbo no mesmo contexto fático tem um único crime. Então,
estamos diante de um tipo misto alternativo.
O que o juiz faz diante de um "cara" que cometeu mais de um verbo? Como é que
diferencia esse sujeito daquele que praticou um só? Na pena base. O juiz exaspera a pena base
da primeira fase da dosimetria para aquele que incorreu em mais de um verbo. É assim que
procede. No cumulativo soma as penas. Por exemplo, o art. 180, caput na primeira parte + a
segunda tem cumulação porque na primeira parte você adquire um produto que sabe ser produto
de crime e na segunda você induz terceiro de boa-fé a comprar. São condutas que não têm
alternatividade. Observe. São diferentes. Elas não têm lógica entre elas e poderia ser até outro
tipo, um outro parágrafo. O Bittencourt diz que tem que ter cumulação, mas isso não é certo na
doutrina. Rogério Greco e Capez quando interpretam isso aqui falam "ah, é um tipo misto
alternativo" como se fosse todo alternativo. O Bittencourt vai dizer que não porque a primeira
parte com a segunda tem que ter cumulação (eu concordo com ele).
Voltando aqui gente para essa discussão. Valem aqui algumas observações em
relação ao art. 213.
Pegando aqui a carona com o art. 213. No art. 213 hoje, só a título de curiosidade
porque a gente ainda vai estudar parte especial, podemos ter três situações. Como professor?
Três situações como? Muito bem, vamos lá. Podemos ter três situações da seguinte forma.
Podemos estar diante de um crime único. Essa expressão "crime único" se refere
ao conflito aparente de normas. Se eu falo de crime único eu estou falando de conflito aparente
de normas que nós vimos na aula passada. É feito lá o bis in idem no ordenamento. Conflito
aparente de normas, tah? Então se estamos diante de um crime único estamos diante de um
conflito aparente de normas. Um único crime. Professor, eu já vi a expressão "crime único"
sendo usada lá na continuidade delitiva. É um trabalho com a perspectiva errada. Agora eu
aviso que tem até julgado do STJ e do STF (julgado e não jurisprudência) mencionando
equivocadamente a expressão "crime único" se referindo a continuidade. Isso está errado,
redondamente errado, mas a maioria dos julgados são técnicos, principalmente os do STJ (do
Supremo é outra história).
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Voltando aqui. Quando será crime único? João, no mesmo contexto fático,
praticou contra Ana sexo anal e sexo vaginal. Antes da Lei nº 12.015, ele seria condenado por
estupro + atentado violento ao pudor. Dois crimes e penas somadas. Hoje, no mesmo contexto
fático, um só crime, crime único. Teve, inclusive, muita gente que recebeu retroatividade
benéfica nesse sentido. Agora o juiz considera a segunda conduta para exasperar a pena-base de
forma fundamentada e o quanto faz parte da discricionariedade vinculada. Tem decisão do
TJDFT que era 6 + 6 = 12 e colocou 6 + 3. Teve gente que falou que 3 era exagerado porque
não era 1/8 do art. 159. No 1/8 era interpretação doutrinária e não jurisprudência. Na
jurisprudência aceita 1/8, mas aceita mais do que 1/8 também, basta que o juiz fundamente. O
quanto faz parte da discricionariedade vinculada de forma suficiente para reprovar e punir.
Muito bem, agora houve abolitio criminis do atentado violento ao pudor? Não
houve não. Houve apenas o transporte da conduta do art. 214 antigo para o art. 213. Esse
transporte de pegar a conduta que está em um e colocar em outro não caracteriza abolitio
criminis. Esse transporte a doutrina dá o nome de princípio da continuidade normativa típica.
Quando você transporta a conduta de um tipo para outro é princípio da continuidade normativa
típica. Ok?
Agora têm situações onde nós teremos o crime continuado. Continuidade delitiva.
O que eu preciso para a continuidade delitiva? O primeiro ponto é contextos fáticos diferentes
porque eu preciso sair do conflito aparente de normas. E para sair do conflito aparente de
normas e entrar no concurso de crimes eu preciso de contextos fáticos diferentes. Muitas vezes
isso é uma valoração como fez o STJ lá na súmula 17, mas aqui dá para entender. Por exemplo,
ele praticou sexo anal contra a vítima na segunda e sexo vaginal na terça quando ela voltava da
escola, contra a sua vontade. Estuprou duas vezes. Se ele preenche os requisitos do art. 71 eu
estarei de diante de uma continuidade delitiva. Quais os requisitos? A gente vai ver isso lá na
frente porque não está na hora de estudar concurso de crimes. Então, a gente vai ver lá na frente.
Crimes da mesma espécie estão no mesmo tipo penal, é o que prevalece; embora tenha uma
decisão do STJ na sonegação previdenciária do art. 684 com o art. 339 do Código Penal que são
crimes diferentes, mas aí é exceção. A gente vai ver isso na aula de concurso de crimes.
Prevalece crimes de mesma espécie que estão no mesmo tipo penal, mesmas condições de
tempo, intervalo que não ultrapassa 30 dias, orientação jurisprudencial que não é taxativa,
mesma forma de execução (isso é muito importante porque se em um dia ele estuprou a vítima
sozinho e no outro ele teve ajuda de um comparsa, a forma de execução foi alterada e será
concurso material e não continuidade delitiva). E também tem o elemento subjetivo. Que
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elemento subjetivo? O sujeito tem que praticar esses crimes como um todo. Ele tinha um
planejamento prévio, uma proposta única. A doutrina chama isso de unidade de desígnios que
não se confunde com desígnios autônomos do concurso formal impróprio. A gente vai ver isso
lá na frente. Então, tem que preencher isso tudo para ser crime continuado. E mais: requisito
jurisprudencial que não está no art. 71 é que não pode ser criminoso habitual, criminoso
profissional que vive do crime. O criminoso habitual ou profissional não recebe continuidade
delitiva que é aquele que vive do crime. Exemplo: ele tem 5 condenações transitadas em
julgadas pelo crime de estupro. Adeus. Não tem continuidade delitiva para ele. Vai ser concurso
material porque o instituto foi criado para o criminoso eventual pelos práticos italianos do
século XV/XVI para o ladrão que furtava diversas vezes e tinha a mão cortada e foi repetido nos
ordenamentos, tah?
Agora, olha que curioso como a questão é de interpretação. No ano de 2010, antes
do STJ pacificar essa história, a 5ª Turma do STJ decidiu em duas vezes que seria tipo misto
cumulativo porque senão a tutela penal ficava bem aquém do necessário, violaria a proteção.
Para esses exemplos que eu dei de continuidade de crime único a 5ª Turma em duas julgados
disse que era tipo misto cumulativo e depois ela pacificou. O problema é do legislador que
errou, não é nosso. Não vamos esquentar. É tipo misto alternativo mesmo, mas teve dois
julgados que ela cumulou em 2010. No final de 2010 (a lei é de 2009) em dezembro na prova do
MPBA já perguntou esse tema, mas não perguntou isso aqui não. Muita gente errou porque
tinham esses dois julgados de 2010, mas a 6ª Turma já estava decidindo que era tipo misto
alternativo e tinham mais decisões nesse sentido. Não anularam a questão. Ficou tipo misto
alternativo. É a orientação que tem prevalecido. Teve muita gente que escreveu dizendo que não
podia, que tinha que ser tipo misto cumulativo, que os verbos "conjunção carnal" e "ato
libidinoso" não têm uma relação de alternatividade, que são diferentes, não tem uma lógica, é
cumulação e era orientação passada, mas não prevaleceu gente. A gente vive também em um
momento de jurisprudência de descarcerização, né? Embora em matéria de estupro a
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jurisprudência sempre teve um viés mais gravoso na interpretação. Por exemplo, depoimento da
vítima - já que o crime muitas vezes não deixa testemunha - tem um valor maior. Ainda quando
não estava previsto expressamente na lei de crimes hediondos, a jurisprudência do Supremo
entendia que o estupro era crime hediondo, mesmo não estando na Lei nº 8.072/1990. Agora
não. A Lei nº 12.015 inseriu de forma expressa lá, mas mesmo antes disso era hediondo e nós
aprendemos que hediondo é só o que está na lei, não é uma interpretação judicial nem
doutrinária, o critério era legal; mas o Supremo já entendia que era hediondo mesmo não
estando na lei. A orientação jurisprudencial sempre foi mais gravosa. Olha a orientação
jurisprudencial do STJ agora do mês passado de que menor de 14 anos é vulnerável mesmo e
não tem esse negócio de presunção relativa ou absoluta. Nesse caso, eles optaram pelo tipo
misto alternativo.
Perguntas:
Aluna: no concurso formal vai ser considerada a conduta (não entendi direito a pergunta)?
Professor: Não. A gente vai ver isso lá na frente. Até porque no concurso formal sempre
responde por mais de um crime. Agora só que na pena o juiz em vez de somar no concurso
formal próprio ele exaspera. Ele aplica a pena de um crime só e exaspera de 1/6 à metade de
acordo com o número de crimes e no impróprio ele soma as penas.
3. Jurisprudências
Pessoal só por curiosidade só para passar isso aqui. Lei processual retroação aquilo
que eu falei, tah? Então, o "cara" discutia a possibilidade de ser interrogado novamente e
quando ele foi interrogado não tinha a lei de 2008/2009 e o Supremo falou que a mudança do
interrogatório do início para o final tem regência conforme o artigo 2º, do Código de Processo
Penal e a aplicação é imediata. Então se você foi interrogado quando o interrogatório era no
início, você não faz jus a ser interrogado novamente porque a lei alterou para o final. É
aplicação imediata da Lei Processual Penal.
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3.2. STF INFO 791 Segunda Turma lei de drogas e princípio da consunção
Então observe que o Ministério Público queria só o seguinte: condenação pelo porte
de arma. O Tribunal falou que legítima defesa putativa absorve o porte de arma. Aí danou-se
tudo porque quase todo mundo que é flagrado com uma arma sem estar fazendo nada fala que é
para se defender de um inimigo, de alguém. Ora, se a legítima defesa putativa de alguém que
comprou uma arma para uma eventual situação futura absorve o porte, como é que condena
essas pessoas agora que estão portando a arma e alegando para se defender? Então torce logo
para o "cara" vir te matar porque aí você acerta logo e livra dois crimes, né? Livra o homicídio e
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livra o porte. Decisão descabida. Agora tem uma decisão monocrática do Fux no Supremo nessa
linha também dizendo que a legítima defesa putativa absorve o porte (não tenho o número aqui).
3.4. STF INFO 796 Crime de dirigir sem habilitação e lesão corporal culposa na
direção de veículo
Então, o art. 309 diz assim "dirigir veículo automotor em via pública sem a devida
permissão para dirigir ou habilitação ou ainda se cassado o direito de dirigir gerando perigo de
dano" e o art. 303 diz "praticar lesão culposa na direção de veículo automotor". O problema é
que o art. 303, parágrafo único, remete ao art. 302 e uma das causas de aumento de pena do art.
302 remete ao art. 302 no tocante às causas de aumento de pena. Então, o art. 303, parágrafo
único, quando trata das causas de aumento remete ao parágrafo primeiro do art. 302 cujo inciso
I diz que é causa de aumento de pena praticar homicídio culposo na direção de veículo
automotor sem habilitação, sem permissão para dirigir ou carteira de habilitação. Então tem uma
causa de aumento, mas é só o fato de não ter habilitação. O art. 309 é diferente e fala "dirigir
sem habilitação gerando perigo de dano". O problema é que o art. 309 foi feito ainda no ano de
2007 e esse § 1º foi reformulado e renumerado também.
AgRg nº x
RHC 35.626/PR
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Uso de documento falso quando utilizado para facilitar declaração falsa com vista a
efetivação de sonegação fiscal é por esse absorvido. E tem sonegação. Aí talvez tenha que ver
esses julgados do TRF que você falou porque tem crime de sonegação com pena menor que
determinados falsos, tah? Interessantes essas decisões que você falou aí.
Esse último ponto aqui gente só para ficar anotado para vocês antes de partir para o
estudo do fato típico é um caso interessante. O resto ali a gente já viu e esse ponto aqui que é
interessante que é o seguinte: há uma discussão doutrinária com relação a jurisprudência.
Quando eu comecei a falar sobre isso na escola a jurisprudência é uma coisa penal e hoje ela é
outra. Então, há uma discussão doutrinária sobre se a jurisprudência pode ser interpretada como
a lei penal na forma do art. 5º, XL, da CF/88 quando esse se refere à lei penal. O problema
jurídico é esse. O art. 5º, XL diz que lei melhor retroage e lei pior não retroage. O art. 5º, XL
trata da retroatividade benéfica e a irretroatividade maléfica.
A jurisprudência pode ser interpretada como a lei penal, ou seja, quando ela for ruim
só vale daqui para frente e quando ela for boa vale para "pratrásmente"? Enquanto quando ela
for melhor vale para atrás e para frente? Esse tema é muito interessante. Um dos primeiros
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autores que falou sobre esse tema no Brasil foi o Andrey Schmit da Livraria do Advogado
quando ele falou do princípio da igualdade no Direito Penal e aí ele trabalhou essa questão de a
jurisprudência não poder retroagir para prejudicar. O Alberto Silva Franco em sua obra sustenta
isso e também tem um pouco disso na obra do Tavares, do Juarez Cirino, do Buzato.
Discorda disso essa galera aqui abaixo (entendem que a jurisprudência não pode
retroagir). O Alberto Silva Franco é o mais taxativo deles. A jurisprudência pior não pode
retroagir. Agora esse é o cenário doutrinário.
Qual é o senário do Supremo hoje? O cenário do Supremo hoje é de foguete que vai
para lua, então tudo pode acontecer. É engraçado como você acha que está indo em uma linha e
depois você se depara com uma situação e você quer saber de uma coisa, vou fazer profecia
mais não. Pode acontecer de tudo. Nós não temos nesse momento nenhuma teoria do crime
regendo orientação do Supremo. Nós temos o Supremo hoje que decide com base em princípios
abertos e que fala em Direito Penal Constitucional. Temos um Supremo neoconstitucionalista,
ativista, que acha que pode tudo, pode legislar e pode fazer o que o Executivo faz também. Vai
chegar um momento que nós teremos saudade do legislador. Vai chegar um momento que nós
vamos capitular o Supremo como déspota esclarecido que antecede as revoluções do século
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XVIII. Não estou falando isso no sentido pejorativo não. Pode estar qualquer um de nós lá. Nós
aprendemos que existe separação de poderes, mas para muitos os poderes não estão separados e
há na verdade uma competição entre eles e eles vão se ajustando. São teorias modernas, novas.
Ninguém concorda mais com o passado. Em tudo o passado é ruim e aí a gente tem que falar
uma coisa diferente mesmo que seja besteira.
O que eu posso dizer do HC 82.959/SP que, por exemplo, nós já comentamos aqui
na aula de princípios? Ora, o Supremo decide isso em 2006 em fevereiro e diz que o regime
integralmente fechado é inconstitucional. Valeu para "atrásmente". Como se eu não tinha
critério? Eles aplicaram o art. 112 da LEP (1/6 + bom comportamento para crime hediondo ou
equiparado, progride). Para "frentemente" até 29 de março de 2007 que é a data que entrou em
vigor a Lei 11.464 quando essa lei falou que era 2/5 ou 3/5 dependendo se é reincidente ou não,
também valeu. Essa decisão era de controle difuso e depois muita confusão. O TJSP disse
atenção porque essa decisão do Supremo é de controle difuso, logo no nosso Estado hediondo é
fechadão e não vai ter progressão. Não só tribunal de estado mais importante. O Tribunal do
Acre também foi nesse sentido. Aí o que fez o Supremo? Essas pessoas que estavam nessa
situação apresentaram Reclamação no Supremo Tribunal Federal, mas não era caso de
reclamação no difuso. O Supremo disse que era mutação constitucional (disse o Ministro
Gilmar Mendes). Essa questão da Resolução do Senado não é bem assim, mas não é caso de
Reclamação só que eu concedo de ofício. Ou seja, você faz um pedido que não é cabível
naquele primeiro modelo de petição, não cabe, mas você converte ele em HC e que não era caso
de HC também. Hoje na advocacia criminal a pessoa não precisa fazer direito. Você pode ser
excelente porque hoje pode tudo e aliás você fica menos limitado porque quando você faz
direito você pensa "não pode assim porque eu aprendi assim" (ou seja, você fica mais limitado).
Então, observem. O que eu estou querendo dizer aqui é que o Supremo disse que essa decisão
dele teria esse efeito benéfico. Depois o Supremo acabou com essa bagunça com a súmula
vinculante nº 26 e aí depois veio a lei que revogou a lei de crimes hediondos, sendo que não foi
ela que foi aplicada para "atrásmente". Para "atrásmente" foi aplicada a decisão do Supremo. A
decisão do Supremo foi aplicada para "atrásmente" e para "frentemente", como se fosse uma lei
intermediária, até 29 de março de 2007. Ou seja, uma força terrível da jurisprudência. Aí você
fala "o Supremo hoje com súmula vinculante eu consigo fazer jurisprudência retroagir".
Só que o Supremo tem hora que decide e ninguém está vendo isso aqui. Por
exemplo, súmula vinculante nº 24 (decisão recente do Supremo). Em um caso de prescrição o
Supremo disse que o crime tributário do art. 1º de 1 a 4 (está na súmula vinculante da Lei nº
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Questões de concurso:
Com relação às questões eu as respondi? Não. Mas rapidinho aqui. Eu só vou nas
partes corretas ou erradas da questão só para a gente ver o que está caindo.
Questão 01:
( V ) De acordo com o entendimento doutrinário a lei excepcional ou
temporária aplica-se ao fato praticado durante a sua vigência, ainda que no momento
da condenação do réu não mais vija ou ainda que tenham cessado as condições que
tenham determinado a sua aplicação.
Ninguém erraria uma questão dessa. O que está errado nas demais?
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1.1. Elementos
• Conduta;
• Nexo causal;
• Resultado;
• Tipicidade.
Quando a gente fala do estudo do fato típico têm vários assuntos que dizem
respeito ao nexo causal, ao resultado. Aqui é apenas para pontuar alguns aspectos do que a
gente vai ver no início. A gente fala em requisito da tipicidade formal, da material. A gente já
falou disso lá atrás e as coisas vão se encaixando e vão se encaixar um pouco mais agora.
A tipicidade material têm várias ideias, mas eu entendo que é adequação do fato à
lei que gera a lesão intolerável ao bem jurídico. A tipicidade material é a única que combina
com o Direito Penal Constitucional que já caiu isso na prova de concurso e está no roteiro 1. É a
única que combina com o Direito Penal Constitucional porque é a forma que você tem de
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valorar, com princípios limitar o alcance de punir do Estado (princípio da insignificância, por
exemplo).
Agora, a doutrina não se limita a isso de adequação do fato à lei que gera lesão
intolerável ao bem jurídico, conceito de tipicidade material. A doutrina hoje, parte da doutrina,
trabalha com alguns termos dentro da tipicidade material e eu chamo aqui a atenção de vocês.
Aí é opção do legislador. Quando se fala em tipicidade material hoje além de ter esse
conceito que a gente já conhece (adequação do fato à lei que gera lesão intolerável ao bem
jurídico que permite exame com o princípio da insignificância, com adequação social),
parte da doutrina hoje fala em tipicidade conglobante. Então quer colocar que nós já vimos
lá atrás a tipicidade conglobante aqui como parte integrante desse exame da tipicidade material
de modo que se a conduta for conformada ou tolerada ou determinada por algum ramo do
ordenamento jurídico ela também não é típica. Então, se o Direito Civil permite, Direito
Administrativo permite, ela também não é típica. Então com isso aquilo que nós entendemos
hoje no Código Penal como estrito cumprimento do dever legal e exercício regular do direito
que afastam a ilicitude vai afastar a tipicidade. Sobraria só o estado de necessidade e a legítima
defesa que são naturais.
Mas não é só isso. Tem gente que acrescenta também, como Rogério Sanchés e
Luiz Flávio Gomes, a imputação objetiva que auxilia na interpretação da tipicidade material.
Quando eu falo da tipicidade material também e principalmente para afastá-la. Então aquilo que
é risco permitido não é tipo e dentro da valoração do que é risco permitido a gente tem um
monte de situações, inclusive essas que eu acabei de mencionar. Então tudo aquilo que é risco
permitido não configuram o injusto, não configura sequer a tipicidade e aí ele analisa temas
que a gente vai ver lá frente como diminuição do risco, não incremento do risco, finalidade
protetiva da norma, princípio da confiança, autocolocação em perigo, heterocolocação em
perigo (são temas que veremos lá na frente quando falaremos de imputação objetiva).
Quando a gente fala de conduta no Direito Penal tem um princípio que diz que não
há crime sem conduta e dentro disso nós já vimos lá atrás um pouco sobre lesividade,
ofensividade. Não há crime sem conduta. Não há crime pelo pensamento. Não se pune a fase
cognitiva do iter criminis, portanto vamos dizer que não se pune os meros pensamentos. Não se
pune as meras ideias, então não é possível tipificar pensamentos e ideias. Eu preciso de iniciar,
externar o ato. Eu preciso, portanto, gerar um perigo a bem de terceiro ou uma lesão a bem de
terceiro. Não há crime sem conduta está dentro dessa ideia total.
Agora de forma específica qual é a ideia principal? Não há crime sem conduta e a
conduta requer consciência e vontade. A doutrina vai falar em consciência e vontade e se cair
em um prova de concurso, a ação requer consciência e vontade. Lembrando sempre que conduta
é gênero e ação e omissão são espécies, mas muitos autores trabalham quando se fala em teoria
da conduta em teoria da ação penal, parece que deixa de lado a omissão. É porque a ação
consegue ser vista como ontológica, consegue ser mostrada, é empírica. A omissão é axiológica,
normativa. Então, eles não gostam de misturar ação e omissão como espécies de conduta. Aí
fala tem Teoria da Ação Penal como se conduta se resumisse a ação. Tem que ter cuidado nessa
linguagem terminológica.
- Requisitos:
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a) Consciência;
b) Vontade.
- Termos
Isso aqui o Zaffaroni coloca no livro dele e eu achei interessante trazer para a sala
de aula. Não é a primeira vez que eu falo isso na escola. Conduta, ação, ato, voluntariedade,
vontade e finalidade mostrando os termos. Linguagem. Essa questão da linguagem, da
semântica da nossa língua, às vezes a gente traduz muita coisa lá de fora e provoca muita
confusão. Os autores de Direito Penal usam a linguagem e muitas vezes provocam confusão.
Conduta seria gênero que abriga ação e omissão, mas nós vamos encontrar no
Código Penal uma recusa ao uso de conduta sabiam? Aqui é uma parte crítica da matéria. Olha
para vocês observarem: art. 79 fala do concurso material de crimes (mediante mais de uma ação
ou mais de uma omissão), art. 70 (mediante uma única ação ou omissão - concurso formal). Por
que o legislador não colocou "mediante uma única conduta, formal"? Vejam. Uma ação e
omissão têm dificuldade de andar juntas porque uma é ontológica. É mais fácil explicar embora
hoje tenham muitos conceitos de ação negativos. O Jakobs conceitua a ação como um conceito
negativo (conduta ou comportamento humano individualmente evitável). Mas observem. Lá no
art. 213, §§ 1º e 2º diz "se da conduta de estuprar resulta lesão grave", "se da conduta de
estuprar resulta morte". Observem. Conduta foi usado lá (não foi usado ação ou omissão). Lá na
extorsão mediante sequestro diz "se do fato resulta lesão grave", "se do fato resulta morte";
usou-se fato e não conduta. No estupro usou conduta. No concurso material falou de ação ou
omissão. Não há muita precisão.
atos de subtração e uma conduta de roubar. Mas concurso formal próprio não é mais de um
crime? Uma ação dividida em diversos atos. Gente, isso é uso da linguagem para justificar a
decisão que nem sempre tem um amparo na lei. Entendam que em uma ação podem ser opostos
diversos atos.
Eu quero matar uma pessoa. Eu corto a perna dela é uma ação. Eu corto a mão
dela é uma ação. Eu dou um tiro na cabeça dela é uma ação. Então em uma conduta de matar eu
posso praticar diversos atos.
Voluntariedade eu já falei e é liberdade para agir. Não está sendo influenciado por
nenhuma força externa que te controla. Tem relação com o livre arbítrio. Vontade e
voluntariedade tem relação com o dolo. Agora lembrem-se que nós falamos em sala de aula que
o Welzel dizia que no crime culposo tem ação também, mas vontade para alcançar algo lícito e
o que acontece de errado é o meio (viola-se dever objetivo).
- Conduta cibernética:
O Zaffaroni vai dizer que quando o legislador valora uma conduta - entendam,
analisa uma conduta - e, portanto, a considera má, ele não altera a conduta como considera
Zaffaroni. Ele está dizendo que a conduta está lá, ela não é alterada, é o fato. É ontológico. Você
analisa. Quando o legislador decide que a conduta de matar é má, evidenciando-se a decisão de
uma condenação penal, a conduta de matar fica inalterada (meio sociológico). Ele não pretende
mudar o seu ser, o ontológico, o dia a dia, o cotidiano, nem tampouco criá-la, mas apenas
desvalorá-la. É isso aqui é bem finalista, essa parte, tah? É interpretação deontológica. A
conduta não é alterada e o ser tem que ser considerado não só o dever-ser como querem os
neokantistas. E aí ele fala de conduta cibernética nesse cenário quando ele vai falar disso. Ele
conclui nesse sentido, tah? Contêm esses vários aspectos inerentes à conduta quando ele fala de
cibernético.
A primeira é coação física irresistível. Essa é uma parte da matéria que eu disse
que vocês já viram algum dia. Só vamos aqui organizar as ideias.
Agora, se eu coloco a arma na sua cabeça, por trás, e falo "atira em fulano senão
eu te mato" isso não é coação física, mas sim coação moral porque você que está atirando está
apertando o gatilho e sabe que está matando outra pessoa. A coação moral irresistível afasta a
culpabilidade. A coação física irresistível afasta a tipicidade. Em um e no outro caso o coautor
(aquele que coage) é autor mediato (tanto no caso de coação física irresistível quanto no caso de
coação moral). Certo?
Se eu pego a sua mão e você não tem força e bato com a sua mão na cara do Davi,
você é alvo de uma força física irresistível e eu posso até dizer nesse caso que eu estou
praticando contra você um crime de constrangimento ilegal. Posso até dizer, forçar a barra.
Aliás você está sendo objeto - sendo constrangido a fazer algo que a lei não permite (a fazer ou
não fazer). O Davi está sendo vítima de uma lesão.
b) Atos reflexos:
A foi picado por uma abelha, B foi algo de uma força física irresistível. Foi fato
atípico para A e B. A responsabilidade do paramédico e do motorista vamos ver. Envolve
omissão, envolve crime culposo em direção de veículo automotor. A omissão em relação a C foi
erro culposo em relação ao pedestre. O motorista vai responder pelo art. 302, do CTB. O
paramédico é coautor porque no Brasil não se admite participação em crime culposo (fala-se só
em coautoria) e ele perguntava esse item na prova.
E para as outras situações a gente tem que examinar porque a gente não viu ainda.
Perguntava da responsabilidade. Não é exigibilidade de conduta porque do motorista exige-se
mais. O motorista de uma ambulância não pode passar dentro de um shopping dirigindo – como
em filme americano – e ninguém morre. Não é bem assim.
Uma observação. Ataque epilético. Essa observação não tem nos livros de Direito
Penal. É uma observação que decorre daquilo que os livros falam e daquilo que a jurisprudência
apresenta. Eu tenho vários julgados que pesquisei. TJDFT e outros tribunais quase sempre
trabalham a epilepsia como uma situação de inimputabilidade, ou seja, não há que se falar em
atipicidade, em ilicitude. Examina na culpabilidade. Então é fato típico e ilícito e você só
examina na culpabilidade. Quase todos os casos de epilepsia. E por que esses autores colocam
como ato reflexo? Eu já parei para pensar nisso, para meditar. Foi uma questão interessante.
Outro dia teve um neurologista falando sobre epilepsia e eu verifiquei que pode ter uma situação
que a gente poderia interpretar, mas teria que separar dos livros porque ele dizia o seguinte
“qualquer um de nós que não é epilético, que não tem epilepsia, que não tem a doença epilepsia
– porque quem tem é tratado e vive tranquilo (toma alguns medicamentos e vive tranquilo) –
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pode em algum momento da vida sofrer um ataque que ele chamou de ataque epiléptico. Ele
classificou assim. Pode ter um curto circuito no sistema nervoso e você pode desmaiar e
dependendo da posição que você esteja você pode causar dano com isso. Agora ele disse que
isso é muito raro, mas pode acontecer. Essa pessoa pode desenvolver a partir daí uma epilepsia
ou jamais pode vir a novamente se enquadrar nessa situação. Então a gente poderia falar em
ataque epiléptico que afasta a relevância da conduta talvez nesses casos esporádicos, mas
naqueles casos em que já se está identificado que a pessoa é portadora da epilepsia, a gente teria
que falar talvez em uma situação em que ela pratica uma conduta e um fato típico, ilícito que
não é culpável se afastou por completo a sua capacidade de se autodeterminar e talvez a gente
teria que examinar no art. 26, caput, do CP.
Têm várias decisões mais a frente. Olha só: “isento o réu de pena”. Ele está falando
da culpabilidade o STJ. Tem comentário meu embaixo. Tem outras mais à frente do TJDFT.
Muito bem. Os atos reflexos, alguns chamam também de crimes em curto circuito,
tah? Tem gente que diferencia. O Regis Prado vai dizer que não é qualquer curto circuito. Não é
um ato rotulado qualquer, mas pode ser tido como um ato rotulado. Então, observem gente. Isso
é uso da linguagem. O mais certo é chamar de atos reflexos, tah? Mas a gente vai encontrar esse
uso da linguagem confuso.
- Estados de inconsciência:
Muito bem. Hipnose. Alguém hipnotizou você sem você perceber e você matou uma
pessoa. Se ficar provado não tem conduta. Tem pessoas que conseguem hipnotizar mesmo, têm
técnicas. Eu acho que nunca fui hipnotizado. Então a doutrina coloca isso. Agora e se a pessoa
fala assim “eu quero matar a minha sogra, mas como eu não tenho coragem você me hipnotiza
para eu matar”? Aí é o que? Ação preordenada (actio libera in causae). Ação preordenada ele
responde. Agora quem hipnotiza aqui é autor mediato sem que o outro saiba. Se é em uma
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situação que o outro quer hipnotizado é caso de coautoria porque eu tenho o liame que é
diferente de autoria mediata (a gente vai ver isso lá na frente).
O Regis e o Zaffaroni colocam alguns outros pontos. Gente observem que a aula é
assim: você vai tentando distribuir como se fosse matemática, agora chega em um momento que
você diz que o professor não me explicou isso. É porque têm momentos críticos que não tem
como explicar. Aí eu estou entrando agora nisso, geralmente eu deixo para o final de cada tema.
O Regis Prado e o Zaffaroni colocam algumas situações que a gente tem que pensar, refletir.
Gente tem uma terceira espécie de coação que não está aqui que é a coação
resistível. Já caiu na prova de Juiz do DF. A coação resistível é atenuante quem age sobre
coação resistível. Está aí no seu Código (art. 65, III, c, do CP – cometido o crime sob coação ao
que podia resistir).
Então, a pergunta sobre coação pode ser de uma coação física irresistível que afasta
a tipicidade, coação resistível que é atenuante e coação moral irresistível que afasta a
culpabilidade. Agora a coação resistível pode ser física ou moral. Essa do Código Penal que é a
coação resistível (atenuante) pode ser física ou moral. A doutrina dá uns exemplos que não
entram na minha cabeça. Exemplo: se você não furtar o objeto comigo eu vou contar para a sua
mulher que você a está traindo. Seria uma coação resistível.
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Muito bem. Avançando aqui na nossa aula. Olha o que a jurisprudência diz. Olha o
erro. Eu até faço a observação aqui embaixo. “A coação física ou moral para ser aceita como
excludente de culpabilidade há de ser irresistível”. Pera aí, pera aí, pera aí. Isso está errado. A
física afasta o fato típico e a moral irresistível que afasta a culpabilidade porque a moral
irresistível afasta a exigibilidade de conduta diversa. É assim. Às vezes você lê no julgado e
acha que é diferente, mas não é. O julgado está errado aqui.
Muito bem. Aqui olha. “Os crimes cometidos sob coação irresistível isentam o réu
de pena”. Têm várias do TJDFT dessas. Essa aqui é do STJ antiga, mas têm várias novas do
TJDFT.
Com relação aos sujeitos da ação isso é um tema interessante hoje. Sempre foi e
hoje está mais ainda, principalmente com esse alcance maior do Direito Penal, essa expansão do
Direito Penal. O Direito Penal clássico trabalha com sujeito ativo e sujeito passivo. Sujeito ativo
é o ser humano e na maior parte dos casos é o sujeito passivo também.
Histórico:
- Direito Romano
- Feubarch:
Teorias
Agora, como é que se deu isso? Isso tem uma grande discussão. Primeiro a
discussão do Savigny que a pessoa jurídica é uma ficção. Para outros a pessoa jurídica é uma
realidade. É uma ficção ou uma realidade? O primeiro debate foi esse. Essa foi uma discussão
que permeou o século XIX. A grande questão é: pessoa jurídica tem consciência? Não. Tem
vontade? Não. Então, ela não tem capacidade de ação. Pessoas jurídicas sabem o que é certo ou
errado? Não, então ela não tem capacidade de culpabilidade.
” Coautoria como? Como é o liame subjetivo da pessoa jurídica com a pessoa física? Como tem
o liame subjetivo que exige na coautoria?
Então a gente fica importando institutos de ser humano para a pessoa jurídica. Tem
que construir uma estrutura própria do crime para ela, jurídica. Várias discussões que a doutrina
vai colocar, isso é mais antigo ainda, século XIX, estou falando da época do Estado Liberal para
cá, mas essa discussão é mais antiga ainda com o Direito Romano, os pós-glosadores.
A teoria da ficção de Savigny caracteriza por uma fictícia, real, pura abstração, é um
ser abstrato cujas decisões derivam de representantes, os delitos são praticados por seus
membros ou diretores.
Teoria da personalidade ou pessoalidade real orgânica que diz que a pessoa jurídica
é um ente vivo, real, com personalidade real, vontade própria, capacidade de praticar ilícitos
penais.
Teoria da realidade análoga diz que pessoa jurídica é uma realidade acidental e
somente não possui substancialidade da personalidade.
E temos a corrente majoritária que diz que a pessoa jurídica possui finalidade
própria. Não é uma ficção, mas também é uma realidade diversa das pessoas físicas.
E há uma corrente que nega a responsabilidade penal. Por que? Ela não tem
capacidade de ação e nem de culpabilidade. A ausência de capacidade e ação e ausência de
capacidade de culpabilidade. Os autores brasileiros na sua maioria negam responsabilidade, tah?
E aí? Por que a pessoa jurídica tem que responder gente? Eu extrai isso aqui de
algumas obras como a “Responsabilidade Penal da Pessoa Jurídica” do Fernando X (não entendi
o sobrenome). Por que tem que responder? Por que? Porque há uma necessidade político-
criminal de caráter pragmático. A sociedade mudou. Hoje as pessoas jurídicas são usadas como
escudo para a prática de crimes, então não tem como ela ficar fora disso. Mas isso não poderia
ser resolvido na seara administrativa punindo como crime só a pessoa física? Utilitarismo
combatido por difundir a responsabilidade penal objetiva e por ignorar a existência de valores
de um mundo diferenciado.
Todavia, há dois anos atrás o Ministro Tóffole disse assim “pessoa jurídica pode ser
condenada e pessoa física absolvida”. Só que quando ele falou isso ele disse no momento da
condenação e não no momento da imputação. No ano passado a Rosa Weber falou que “a
Constituição não limitou a necessidade de individualizar a conduta da pessoa física; a
responsabilidade penal da pessoa jurídica não depende disso”. Quebrou a dupla imputação
dizendo que o Ministério Público pode denunciar só a pessoa jurídica, independentemente de
denunciar ou não a pessoa física. É uma decisão de responsabilidade penal objetiva no tocante
às pessoas jurídicas porque ela não tem dolo ou culpa, quem age com isso é a pessoa física,
tanto que o STJ disse que quem age com elemento subjetivo próprio é a pessoa física. Só que aí
veio o STJ agora e confirmou a decisão do STF. Ou seja, o STJ confirmou falando assim “o
Supremo decidiu nesse sentido, então a gente tem que decidir assim”.
ricochete, por empréstimo; Holanda adota; Espanha adota desde 1995 (CP reformado em 2010)
e o Brasil adota.
E aí aqui está a decisão da Rosa Weber que é muito interessante e que explica isso
tudo que eu falei para vocês da Constituição e etc. E vai dizer “dá esclarecimento relevante para
fins de determinação no delito da pessoa jurídica que não se confunde, todavia, com subordinar
responsabilidade da pessoa jurídica com responsabilização conjunta e cumulativa de pessoas
físicas”. E têm as responsabilidades aqui. As responsabilidades internas do fato estarão diluídas
de tal modo que não permitirão a imputação à pessoa individual. Entenderam o que significa
isso gente? Eu sou promotor do meio ambiente e, por exemplo, recebo um inquérito. Na época
da dupla imputação o fato aconteceu (o produto químico tóxico foi lançado no rio e saiu da
pessoa jurídica), mas eu não tenho ainda a conduta individualizada. O que eu faço? Baixo o
inquérito na delegacia para novas diligências para identificar a pessoa física ou como se deu
aquilo. Hoje como se pode fazer? Hoje você pode denunciar a pessoa jurídica, desmembrar e
prosseguir a investigação somente em relação à pessoa física. E aí olha aqui o STJ agora: “é
possível responsabilização penal da pessoa jurídica por delitos ambientais independente da
responsabilização concomitante da pessoa física que agiu em seu nome” (jogando por terra a
teoria da dupla imputação). Essa decisão é da quinta turma e eu quero ver a da sexta também.
Olha aí oh “conforme a decisão da primeira turma do STF que foi a decisão da Rosa Weber”.
Antes disso era o que? Antes disso a gente só tinha dupla imputação. Nesses
julgados todos aqui só tem dupla imputação (não se permite responsabilizar pessoa jurídica
dissociada da pessoa física). Essa do Tóffole começou a abrir a porteira no momento da
condenação e aí essa é a orientação hoje em relação à responsabilidade penal da pessoa jurídica.
Não responde por nenhum outro crime. Não responde por crime tributário. Não
responde por nenhum outro CRIME. Isso não significa que ela não possa ser sancionada
administrativamente por tais fatos. Crime é só ambiental. No Projeto do Novo Código Penal que
tramita no Senado na Parte Geral tem um dispositivo ampliando a responsabilidade penal da
pessoa jurídica para todos esses crimes que eu falei e para outros ainda. Vai praticar crimes
contra a Administração Pública, crimes contra a ordem econômica, vai praticar tudo. Está
ampliando a responsabilidade penal da pessoa jurídica que é uma tendência dos países de
modelo civil law (não somente de países que seguem o modelo anglo saxão). Então é uma
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tendência que estamos enxergando com relação à responsabilidade penal da pessoa jurídica. Isso
tem recebido muita crítica, mas acho que com isso se conseguirá fazer um Direito Penal mais
eficaz, se é que ele é eficaz.
Aluno: Professor, eu tenho muita dificuldade de entender essa questão das pessoas
jurídicas porque eu não consigo encontrar diferença entre as sanções penais e as sanções das
esferas administrativas (não consegui entender a pergunta do Andrey porque tocou o sinal e
tinha muita gente conversando).
Professor: Perfeito. Aí não é nem resposta. A colocação que você fez é perfeito. Não
é nem pergunta. Vários autores falam sobre isso. O Hassemer, alemão, propôs direito de
intervenção. Ele fala que a gente pode chegar ah...não só para a pessoa jurídica, ele propõe
nessa seara de expansão do direito penal econômico, ambiental e relação de consumo, um
direito da retenção (não sei se é exatamente essa palavra – muito barulho no áudio) que seria
como um direito administrativo sancionador. Ele fala em sancionador, ele fala como um meio
termo entre o Direito Administrativo e o Direito Penal justamente para tirar essa etiqueta penal
não serve para nada. Outros falam que você está confundindo Direito Penal com pena de prisão.
Tem crime que não tem pena de prisão como é o caso do uso de drogas e como é a pena do
crime cometido pela pessoa jurídica. Mas é perfeita essa crítica.
Aluna: E com relação à decisão que o STJ deu dizendo que no caso ele estava
adotando o entendimento do Supremo, né? É porque assim: eu não vejo uma diferença clara
entre essa dupla imputação e da denúncia no segundo momento do início da ação penal e entre
a responsabilidade pelo ricochete. Se ele (... inaudível) porque ela vai ser condenada se física
tivesse sido na época. Então...
Professor: Eu acho que a do Tóffole não fugiu muito tanto é que quando o Tóffole
deu eu falei “gente, ele está decidindo na condenação porque os requisitos para condenar a
pessoa jurídica são diferentes dos requisitos para condenar a pessoa física”. Só que aumenta a
ação agora nesses dois julgados e que eu posso esquecer a pessoa física. Eu só preciso de quê?
Do resultado para imputar à pessoa jurídica. De algo que liga a pessoa jurídica. Saiu do tubo que
liga a empresa tal ao rio tal, causou prejuízo e dano ambiental com relação aos peixes e
pescadores que estavam ali. Eu só preciso disso, ou seja, agora eu não preciso examinar se a
decisão foi da direção da empresa ou se foi de um raio que caiu lá que é uma hipótese que
poderia afastar a responsabilidade da pessoa jurídica. Ou seja, se eu não consigo falar isso, se eu
não consigo dizer que saiu dela e não tem nenhuma anormalidade, ela pode ser condenada sem a
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pessoa física. Isso é uma novidade. A decisão da Rosa Weber diz que tem casos em que não é
possível demonstrar a responsabilidade da pessoa individual e nem por isso impede a imputação
à pessoa jurídica que antes não podia, sob pena de inépcia.
Professor: Certo.
Aluna: Essa responsabilização ... eu não sei ... posso estar errada ... mas eu
entendo que ela já seria considerada responsabilizada por ricochete e não (inaudível). Duas
pessoas falando ao mesmo tempo.
Professor: Quando surgiu com o Tóffole a discussão é claro que a gente está
trabalhando e no Supremo a decisão da Rosa não deixa dúvida, ela é bem explicativa. Essa do
STJ a gente tem que trabalhar com o início talvez de uma mudança. A gente vai ter que esperar
mais decisão. Eu acho que o STJ, inclusive, não vai nessa linha. Se você me perguntasse antes
dessa decisão eu diria que o STJ iria continuar com a dupla imputação. A gente não tem uma
decisão do STJ que acompanhe, né? Mas vamos esperar. Vamos esperar. Eu acho, inclusive,
que a sexta turma não vai nessa, mas eu não tenho como professar porque o pessoal que está lá
entende de direito penal. Ao mesmo tempo tem o projeto de Código Penal que está ampliando.
Ao mesmo tempo em que é uma crítica, há por outro lado uma expansão do legislador. No
nosso país a jurisprudência vem cortando.
Ação e Omissão.
- Omissão simples;
- Classificação quanto a previsão legal – tipologia própria – casa própria – tipo próprio;
- Nexo naturalístico.
- Omissão qualificada;
- Não possuem tipologia própria – decorrem de art. 13, paragrafo 2o, alíneas a, b e c;
- Dever de agir + dever de evitar o resultado – punição por dupla via, subordinação mediata,
adequação típica indireta; (Ex. 157 + 13, parágrafo 2o, A = construção de tipo penal);
- Na forma dolosa, podemos falar em tentativa. Teoria das Fontes formais = aqui se fala em
critério das fontes formais (só é garante quem está nas alíneas). Ninguém é garante por uma
relação de amizade (teoria das funções).
- Art. 319. Quanto a previsão legal, é próprio; quanto ao sujeito, é omissivo impróprio.
1.5.4. Dolo