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ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

CORPO DE BOMBEIROS MILITAR

APOSTILA DO ALUNO

SALVAMENTO EM ALTURA

CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS

2019/2020
SUMÁRIO

1 MATERIAIS E EQUIPAMENTOS DE SALVAMENTO EM ALTURA ........................ 1

1.1 CORDAS .......................................................................................................... 1

1.1.1. Quanto ao material de fabricação ............................................................. 1

1.1.2. Quanto ao diâmetro .................................................................................. 2

1.1.3. Quanto à elasticidade................................................................................ 2

1.1.4 Nomenclatura ............................................................................................. 3

1.2 FITAS ............................................................................................................... 3

1.3 CONECTORES METÁLICOS ........................................................................... 4

1.3.1 Malha rápida/ maillon ................................................................................. 4

1.3.2 Mosquetão ................................................................................................. 5

1.4 DESCENSORES .............................................................................................. 8

1.4.1 Freio oito de salvamento ............................................................................ 8

1.4.2 Descensor em barras (freio tipo rack) ........................................................ 8

1.4.3 Autoblocante (tipo ID industrial descender) ................................................ 9

1.5 ASCENSORES ................................................................................................. 9

1.5.1 Ascensor de punho .................................................................................. 10

1.5.2 Ascensor ventral ...................................................................................... 10

1.6 BLOQUEADORES ......................................................................................... 10

1.6.1 Blocante estrutural ................................................................................... 11


1.7 EQUIPAMENTOS PARA TRANSPORTE DE VÍTIMAS .................................. 12

1.7.1 Triângulo de resgate ou de evacuação .................................................... 12

1.7.2 Macas ...................................................................................................... 12

1.8 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL ........................................... 14

1.8.1 Cintos de segurança ................................................................................ 14

1.8.2 Capacetes ................................................................................................ 15

1.8.3 Luvas ....................................................................................................... 16

1.8.4. Outros equipamentos de proteção individual ........................................... 16

1.9 PLACAS ORGANIZADORAS OU DE ANCORAGEM ..................................... 17

1.10 POLIAS ........................................................................................................ 18

1.11 ESTRIBO ...................................................................................................... 18

1.12 TALABARTE................................................................................................. 19

1.13 PROTEÇÃO DE CORDA: CATERPILLAR .................................................... 20

1.14 CHAPELETA E PARABOLT ......................................................................... 20

1.15 TRIPÉ DE SALVAMENTO ............................................................................ 20

2 NÓS E AMARRAÇÕES......................................................................................... 22

2.1 CARACTERÍSTICAS E CONFECÇÃO DE CADA NÓ .................................... 23

2.1.1 Nós de extremidade ................................................................................. 23

2.1.2 Nós de emenda ........................................................................................ 24

2.1.3 Nós de fixação ......................................................................................... 26

2.1.4 Nós formadores de alça ........................................................................... 27


2.1.5 Nós blocantes .......................................................................................... 31

2.1.6 Cadeirinhas ou Assentos ......................................................................... 32

2.1.7 Outros nós importantes ............................................................................ 35

3 SISTEMAS DE ANCORAGENS DE SEGURANÇA (SAS) .................................... 38

3.1 REQUISITOS DE UMA ANCORAGEM .......................................................... 38

3.2 PONTOS DE ANCORAGEM .......................................................................... 38

3.2.1 Naturais ................................................................................................... 39

3.2.2 Estruturais ................................................................................................ 40

3.2.3 Artificiais................................................................................................... 40

3.3 CLASSIFICAÇÃO DAS ANCORAGENS......................................................... 44

3.3.1 Ancoragem em linha ................................................................................ 44

3.2.2 Ancoragem distribuída ............................................................................. 45

3.3.3 Ancoragem à prova de bomba ................................................................. 48

3.4 PLUG FUSÍVEL .............................................................................................. 49

4 CUIDADOS E ACONDICIONAMENTOS DE CORDAS ......................................... 52

4.1 CUIDADOS COM A CORDA .......................................................................... 52

4.1.1 Que antecedem seu uso .......................................................................... 53

4.1.2 Durante as operações de salvamento ...................................................... 53

4.1.2 Após o uso ............................................................................................... 54

4.2 INSPEÇÃO DA CORDA ................................................................................. 54

4.2.1 Como inspecionar a corda ....................................................................... 54


4.2.2 Retiradas de utilização ............................................................................. 55

4.3 HISTÓRICO DE USO (FICHA DE CONTROLE) ............................................. 55

4.4 MÉTODOS DE ACONDICIONAMENTO ......................................................... 57

4.4.1 Oito .......................................................................................................... 57

4.4.2 Coroa e Anel ............................................................................................ 57

4.4.3 Andina ou Charuto ................................................................................... 58

4.4.4 Corrente ................................................................................................... 58

4.4.5 Sacola ...................................................................................................... 59

5 RAPEL .................................................................................................................. 60

5.1 COM O USO FREIO OITO ............................................................................. 60

5.1.1 Equipagem ............................................................................................... 60

5.1.2 Blocagem ................................................................................................. 60

5.1.3 Segurança ................................................................................................ 62

5.2 RAPEL COM ID: EQUIPAGEM E POSICIONAMENTO DE DESCIDA ........... 64

5.2.1 Partes e posições do ID ........................................................................... 64

5.2.2 Equipagem do ID na corda ....................................................................... 67

6 RAPEL COM VÍTIMA ............................................................................................ 69

6.1 TÉCNICA JAPONESA .................................................................................... 69

6.2 UTILIZANDO O I`D (INDUSTRIAL DESCENSOR) ......................................... 71

7 MONTAGEM DE TIROLESA (HORIZONTAL E INCLINADA) ............................... 74

7.1 COM OITO BLOCADO ................................................................................... 75


7.2 UTILIZANDO SISTEMA INDEPENDENTE ..................................................... 79

8 ASCENSÃO .......................................................................................................... 81

8.1 UTILIZANDO CORDELETES ......................................................................... 81

8.2 UTILIZANDO BLOCANTES: ASCENSORES DE PUNHO E VENTRAL ......... 82

8.2.1 Preparando o Equipamento ..................................................................... 82

8.2.2 Montagem do sistema para operação ...................................................... 84

8.8.3 Técnica de subida .................................................................................... 85

8.3 MUDANÇA NO SENTIDO DE DESLOCAMENTO .......................................... 85

8.3.1 Usando cordeletes ................................................................................... 86

8.3.2 Usando blocantes .................................................................................... 86

9 OITO FIXO ............................................................................................................ 89

9.1 CORDA PRINCIPAL E BACKUP .................................................................... 89

9.1.1 Considerações importantes para a montagem da técnica ........................ 90

9.2 UTILIZANDO O ID NO PONTO FIXO ............................................................. 91

10 VANTAGEM MECÂNICA .................................................................................... 95

10.1 TIPOS DE SISTEMAS MULTIPLICADORES DE FORÇA ............................ 97

10.1.1 Sistemas Ímpares .................................................................................. 97

10.1.2 Sistemas Pares ...................................................................................... 98

10.2 SISTEMA DE DESVIO DE FORÇA .............................................................. 98

10.3 SISTEMA DE CAPTURA DE PROGRESSO (AUTO BLOCANTE) ............... 99

10.4 SISTEMAS SIMPLES ................................................................................... 99


10.4.1 Sistema Simples estendido .................................................................. 100

10.4.2 Sistema simples reduzido .................................................................... 102

10.4.3 Sistema Simples Independente ............................................................ 103

10.5 SISTEMA INTEGRADO DESCIDA/SUBIDA – ID ....................................... 105

11 REFERÊNCIAS................................................................................................. 107
1 MATERIAIS E EQUIPAMENTOS DE SALVAMENTO EM ALTURA

1.1 CORDAS

De maneira geral, conceitua-se ‘corda’ como sendo o conjunto de fibras


torcidas ou trançadas, dentro ou não de uma capa, que forma um feixe longitudinal e
flexível, resistente a determinada tração.

As cordas podem ser classificadas quanto a diversos aspectos. Dentre eles, os


mais relevantes são quanto ao material de fabricação, quanto ao diâmetro e quanto à
elasticidade.

1.1.1. Quanto ao material de fabricação

Fibras naturais: as cordas de fibras naturais não são mais utilizadas para
realização de salvamento em alturas, tendo em vista que se decompõem com mais
facilidade e não suportam muita carga de trabalho.

Fibras sintéticas: para elaboração deste tipo de corda são usadas


preferencialmente 3 fibras: o polipropileno, o poliéster e a poliamida.

As cordas produzidas de polipropileno não se deterioram com a umidade e são


resistentes a diversos produtos químicos, entretanto, sua capacidade de suportar
carga é baixa e se desgastam mais facilmente quando expostas ao calor e raios
solares.

As cordas produzidas de poliéster são bem resistentes à abrasão, produtos


químicos e calor, e possuem uma carga de ruptura elevada. Contudo, são pouco
elásticas e amortecem menos que as de poliamida.

As cordas fabricadas em poliamida possuem grande elasticidade, resistência à


abrasão, raios solares, produtos químicos e boa absorção de umidade. Porém,
quando molhadas, podem perder de 10 a 20% de sua resistência.

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Existem, ainda, as cordas fabricadas em ARAMIDA, um novo tipo de fibra
sintética, que pode ser comparada a fibras de aço em razão de sua grande resistência
à ruptura.

1.1.2. Quanto ao diâmetro

Podem ser classificadas em cordas simples, cordas de apoio e cordeletes.


Importante ressaltar que o diâmetro define a utilização do cabo.

As cordas simples são aquelas com diâmetro superior a 11mm e são


empregadas no serviço de salvamento em alturas.

As cordas de apoio/cordas duplas são aquelas entre 10,5mm a 8mm, que são
utilizadas sempre de maneira permeada ou dobrada para aumentar seu poder de
frenagem. Essas cordas não são muito utilizadas em atividades de bombeiro.

Os cordeletes são cabos com bitolas de 8 mm a 6 mm, chegando, em alguns


casos, a até 3 mm. Esses cordeletes, quando empregados em conjunto com cordas
de bitolas diferentes, têm como finalidade garantir a segurança individual e auxiliar
progressões verticais.

1.1.3. Quanto à elasticidade

Podem ser divididas em corda estática, semiestática e dinâmica.

As cordas estáticas são aquelas com elasticidade inferior a 2%, isto é,


absorvem pouco impacto durante uma queda. As cordas estáticas normalmente são
utilizadas em operações de bombeiro para criação de pontos de ancoragem e
sistemas complexos, sendo similares a cabos de aço.

As cordas semiestáticas possuem a elasticidade entre 2% e 5% e são


empregadas em condições similares às cordas estáticas para atividades de bombeiro.
Reduzem o “efeito ioiô” e permitem a armação de cabos de sustentação.

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As cordas dinâmicas são aquelas com elasticidade superior a 5%. São cabos
que se alongam quando sob tensão, com o objetivo de absorver choque em caso de
quedas, dissipando a tensão por toda corda. Por esse motivo é principalmente usada
para a prática de escalada.

1.1.4 Nomenclatura

Termos empregados no manuseio com cordas.

Nomenclaturas. Fonte: Manual CBMGO

1.2 FITAS

As fitas são muito utilizadas como elemento de fixação em ancoragens, nas


quais têm a função de equalização de tensão sobre os meios de fixação, além de
protegerem as cordas, substituindo-as em arestas vivas e pontos de abrasão
exagerada.

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A resistência à ruptura das fitas está relacionada à sua largura e material de
fabricação, sendo utilizadas em anéis, que podem ser obtidos através de costuras
(feitas durante o processo de fabricação) ou nós de emenda.

Os nós usados para unir as extremidades das fitas são tradicionalmente


conhecidos como “nós de fita”. Os cuidados que devemos ter com as fitas são
semelhantes aos das cordas, lembrando que a qualquer sinal de desgaste prematuro
as fitas devem ser descartadas.

Fonte: https://www.climbclean.com.br

1.3 CONECTORES METÁLICOS

Conectores metálicos são equipamentos muito utilizados para segurança


durante atividades de salvamento, escalada, montanhismo ou trabalhos em alturas.
Trata-se de um objeto fabricado em liga metálica e serve como fixação ou união de
outros equipamentos. Os principais tipos de conectores utilizados no CBMES são a
malha rápida e mosquetões.

1.3.1 Malha rápida/ maillon

Elo metálico com uma porca sextavada, possuindo roscas de conexão em


ambas as extremidades de sua base principal. Fechado, é capaz de suportar esforços
em qualquer direção, podendo ser produzido de diferentes metais. A malha rápida
pode ser encontrada em diversos formatos.

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Fonte: Manual CBMGO

1.3.2 Mosquetão

Trata-se de um anel com abertura e trava, pelo qual são conectados objetos e
cordas, podendo ter trava de segurança com molas/roscas ou não. É comumente
fabricado em aço ou alumínio e se apresenta em vários formatos, sendo mais comuns
os simétricos (oval), assimétricos (“D”) e HMS.

Cada mosquetão traz também, normalmente em sua espinha, informações


sobre cargas de trabalho e certificações. O operador deve sempre observar se o
material é certificado, pois é isso que garante a qualidade do produto, bem como sua
carga de trabalho, uma vez que essa informação indicará se o objeto é ideal para
salvamento ou apenas para uso individual, por exemplo.

Os mosquetões possuem nomenclatura específica e são compostos por topo,


nariz, trava, base, dobradiça e espinha, conforme imagem:

Fonte: salvamentobrasil.com.br

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Os mosquetões sem trava são normalmente utilizados para elementos de
segurança temporária, para escaladas ou para movimentação de objetos em altura.
Já os mosquetões com trava são utilizados em elementos de segurança definitiva
como ancoragens, montagem de circuitos, ligação do operador a descensores ou
ascensores e ligação da vítima ao operador. Esses devem ser utilizados SEMPRE
fechados e travados.

As travas também podem ser do tipo automática, isto é, quando o operador


solta o mosquetão ela trava automaticamente sendo necessário um giro para abri-la,
ou pode ser tipo rosca, em que é necessário que o operador rosqueie a trava para
abrir e para fechar.

1.3.2.1 Mosquetão simétrico (tipo oval)

O mosquetão simétrico ou tipo oval permite o melhor manuseio do mosquetão


em razão de seu formato. Uma vez conectado a outros materiais, ele pode ser girado
com maior facilidade. Por isso, é indicado para utilização em polias, grampos,
ascensores e descensores.

Fonte: https://www.arcoeflecha.com.br

1.3.2.2 Mosquetão assimétrico (tipo “D”)

No mosquetão assimétrico, o ponto mais resistente é o ponto do maior eixo e


o ponto mais fraco é o da abertura do mosquetão. O seu formato tipo “D” foi planejado
para permitir que a carga seja sempre transferida para o eixo oposto da abertura do
mosquetão, isto é, para que a carga esteja sempre em seu ponto mais forte. Sendo

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assim, o mosquetão assimétrico é tido como mais resistente estruturalmente do que
os mosquetões simétricos.

Fonte: https://www.arcoeflecha.com.br

1.3.2.3 Mosquetão HMS

Sua sigla vem da palavra alemã Half Mastwurf Sicherung, que significa
“segurança com nó dinâmico”. Por isso, o mosquetão HMS é um mosquetão maior e
seu formato foi originalmente pensado para a utilização de nó dinâmico (também
conhecido como UIAA) para realizar o freio de uma descida na ausência de um
descensor.

Fonte: https://www.arcoeflecha.com.br

Por fim, é importante lembrar que os mosquetões, assim como qualquer


material de altura, devem ser SEMPRE inspecionados e descartados caso seja
detectado algum ponto de ferrugem ou fissura. É importante também que os
mosquetões não sofram impactos tais como quedas e batidas, devendo, nesses
casos, ser descartados.

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1.4 DESCENSORES

Os descensores são os equipamentos utilizados como freios que possibilitam


a descida em atividades verticais. Os freios funcionam através do atrito da corda com
o equipamento. Existem diversos tipos de descensores, entretanto, no CBMES são
encontrados o freio oito de salvamento, freio descensor em barras (tipo rack) e o
descensor autoblocante tipo ID – industrial descender.

1.4.1 Freio oito de salvamento

O freio oito é o descensor mais utilizado e comumente difundido para prática


de atividades de altura. Trata-se de um material de aço inoxidável ou alumínio e possui
o formato de um número oito, como o próprio nome indica. Pode ser encontrado em
diversos modelos. Para realização de salvamento em alturas existe o chamado oito
de salvamento que é diferente do oito esportivo, pois o primeiro possui abas/orelhas
na parte de cima que facilitam a realização de técnicas necessárias para salvamentos.

Fonte: https://www.climbclean.com.br

1.4.2 Descensor em barras (freio tipo rack)

O freio rack funciona pelo atrito na corda e possibilita que o operador controle
a quantidade de atrito através da retirada ou colocação das barras móveis. Tem como
benefício o fato de não torcer a corda, de permitir o uso com corda de grandes
diâmetros de ser eficiente no controle de grandes cargas.

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Fonte: www.artigosesportivosusa.com.br

1.4.3 Autoblocante (tipo ID industrial descender)

O ID’L ou descensor industrial é um dispositivo autoblocante para resgate


técnico. O operador controla a descida através do toque na alavanca e basta retirar
as mãos do equipamento para permanecer travado na corda. Também possui um
sistema antipane no qual, mesmo que o operador pressione a alavanca por inteiro
para realizar uma descida muito rápida, o sistema trava uma vez que atinja velocidade
superior a 2m/seg. O dispositivo utilizado hoje no CBMES é compatível com cabos de
11,5 a 13mm e suporta uma carga de até 280kg.

Fonte: petlz.com.br

1.5 ASCENSORES

Os ascensores são equipamentos destinados à subida dos operadores nos


planos verticais. São equipamentos compostos por uma cunha dentada que pressiona
a corda através de uma mola. Desta forma, o ascensor é acoplado à corda e corre em
apenas um sentido. Quando empurrado para cima ele desliza e quando pressionado

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no sentido contrário, ele trava. No CBMES são utilizados os ascensores de punho, os
ascensores de peito (tipo basic) e os ascensores ventrais.

1.5.1 Ascensor de punho

Fonte: https://www.arcoeflecha.com.br

1.5.2 Ascensor ventral

Fonte: https://www.arcoeflecha.com.br

1.6 BLOQUEADORES

Existem algumas diferentes maneiras de classificação de materiais. Os


bloqueadores podem ser divididos em blocantes (nesse caso se enquadram os
ascensores, por exemplo, que preferimos abordar em tópico separado) e trava-
quedas.

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Os blocantes são utilizados para içamento de cargas pesadas e segurança nos
tracionamentos. Funcionam com sistema antirretorno, isto é, correm em apenas um
dos sentidos. Possuem uma canaleta fechada, por onde a corda desliza e uma cunha
que pressiona a corda contra a canaleta, travando-a.

1.6.1 Blocante estrutural

Para a montagem do bloqueador é necessário desengatar um pino removível,


desmontando o aparelho para a passagem da corda.

Fonte: Manual CBMSC

Esses equipamentos também são denominados na literatura como


bloqueadores de came móvel e do tipo rescucender.

Rescucender: É um blocante que possui uma braçadeira de cabo que pode


ser aberta e projetada para uso em sistemas de içamento de cargas ou dispositivo de
captura de progresso.

Fonte: petzl.com.br

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1.7 EQUIPAMENTOS PARA TRANSPORTE DE VÍTIMAS

1.7.1 Triângulo de resgate ou de evacuação

Trata-se de um elemento utilizado para resgate de pessoas conscientes, sem


grandes lesões e que não estejam equipadas com algum tipo de equipamento
individual de trabalho em altura. É um material compacto, leve, altamente resistente e
de fácil aplicação, bastando apenas vestir na vítima e escolher o ajuste conforme o
tamanho mais adequado.

Fonte: http://www.salvamentobrasil.com.br

1.7.2 Macas

Existem diversos tipos de macas, porém as mais utilizadas em salvamento em


altura no CBMES são as macas tipo cesto e macas tipo envelope.

As macas tipo cesto, também conhecidas como macas rígidas, possuem uma
estrutura metálica fabricada normalmente em aço tubular, que corre por todo seu
perímetro. As partes que envolvem a estrutura metálica normalmente são fabricadas
em PVC, envolvendo a vítima como um cesto. Essas macas podem ser inteiriças ou
desmontáveis em duas partes.

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Fonte: http://www.salvamentobrasil.com.br

Existem, ainda, as macas tipo envelope, também conhecidas como macas


flexíveis, que são fabricadas em um material plástico altamente resistente, compacto
e dobrável. A maca tipo envelope, apesar de compacta e leve, não proporciona a
imobilização da coluna, justamente por não ser rígida. Por este motivo, deve ser
utilizada juntamente com a prancha longa, sempre que houver necessidade de
imobilização dorsal. Maca indicada para utilização em ocorrências envolvendo
espaços confinados, locais de difícil acesso ou onde o deslocamento é muito longo.

Fonte: http://www.salvamentobrasil.com.br

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1.8 EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

1.8.1 Cintos de segurança

Os cintos de segurança são equipamentos individuais, também conhecidos


como cadeiras de salvamento ou baudrier, altamente resistentes com fivelas em aço
carbono ou inoxidável, como pontos de ancoragem. A quantidade de pontos de
ancoragem define as classes das cadeiras de salvamento, sendo essas divididas em:

Classe I – conhecidas como “cinto de um ponto”, que se ajustam em torno da


cintura e aguentam apenas a carga de uma pessoa.

Fonte: Manual CBMPE

Classe II – também conhecidas como “cinto de dois pontos”, possuem ajuste


em torno da cintura e das coxas e são dimensionadas para suportar a carga de
salvamento. Mesmo podendo ser utilizada em salvamento, sua principal utilização é
durante a prática de escalada esportiva.

Fonte: Manual CBMPE

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Classe III – são conhecidas como “cinto de três pontos”, pois se ajustam em
torno da cintura, das coxas e do peito, através de um suspensório. Esse cinto é o mais
utilizado pelo CBMES para a realização de salvamento em alturas.

Fonte: MANUAL CBMPE

1.8.2 Capacetes

Possuem a função primordial de protegerem contra a queda de objetos que


possam incidir diretamente sobre a cabeça do bombeiro durante as atividades de
salvamento, além de protegerem contra obstáculos em locais baixos ou elementos
móveis pendentes. Devem possuir uma jugular que os prenda à cabeça e furos para
promoverem a ventilação adequada.

Fonte: Petzl

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1.8.3 Luvas

São essenciais nas atividades de salvamento em altura, devendo ser


confortáveis e adequadas ao tamanho da mão de quem a estiver usando. As luvas
devem possuir uma proteção extra na região da palma da mão e no dedo polegar, que
são os locais mais suscetíveis a queimaduras por abrasão. A proteção que a luva
proporciona durante as atividades de salvamento em alturas é imensamente superior
à falta de tato que ela produz. O bombeiro deve se adaptar à sua utilização e não a
retirar durante as operações que já estejam envolvendo carga, fato que poderia
facilmente culminar em um acidente.

Fonte: PMI

1.8.4. Outros equipamentos de proteção individual

Para a realização de salvamento em altura, além da utilização dos


equipamentos vistos acima, é essencial a utilização de outros itens básicos de
proteção individual. É indicada a utilização de ÓCULOS durante toda a operação. É
aconselhável sempre que o operador tenha um CANIVETE disponível às mãos, em
caso de necessidade, e que utilize LANTERNA DE CABEÇA, para permitir a
visualização em operações noturnas.

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Fonte: adaptado do Manual do CBMGO

1.9 PLACAS ORGANIZADORAS OU DE ANCORAGEM

Trata-se de placas metálicas ou de alumínio que têm o objetivo de facilitar e


organizar a distribuição de diversas linhas de ancoragem ao mesmo tempo. Com a
utilização da placa é possível visualizar e manipular mais facilmente os diversos
sistemas ou linhas que forem usados na operação.

Existem diversos modelos variando em tamanho, capacidade de carga e


quantidade de pontos de ancoragem.

Fonte: Petzl.com.br

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1.10 POLIAS

As polias servem para desviar o sentido de aplicação da força, para compor


sistemas de vantagem mecânica e, ainda, para proporcionar o deslize por uma corda
ou cabo de aço. Existem diversos modelos, cada qual com destinações específicas.

Normalmente são fabricadas em aço inoxidável e possuem diversos tipos de


rolamentos. Cada polia possui uma limitação quanto à espessura da corda utilizada,
sendo normalmente para cordas de até 13mm. Deve-se atentar também para o fato
de que cada polia possui seu limite de carga descrito na própria peça.

Os principais tipos encontrados no CBMES são as polias simples, que


permitem a passagem da corda apenas uma vez, e as polias duplas, que permitem a
passagem da corda duas vezes pela mesma peça.

Fonte: https://www.climbclean.com.br

1.11 ESTRIBO

Possibilita o deslocamento vertical da vítima ou do socorrista e a ascensão,


quando utilizado juntamente com os ascensores ou equipamentos de escalada.
Equipamento utilizado no conjunto socorrista-maca.

Fonte: https://www.climbclean.com.br
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1.12 TALABARTE

O talabarte possui a função de conectar o seu usuário a uma estrutura elevada.


É considerado um objeto de segurança para realização de trabalhos em altura por ter
um sistema capaz de absorver a energia da queda.

Existem diversos tipos de talabartes. No CBMES são encontrados o talabarte


tipo Y e o talabarte de posicionamento.

O talabarte tipo Y é formado por uma fita de material sintético e dois ganchos
metálicos nas pontas, ideal para subida em estruturas metálicas.

Fonte: Manual CBMGO

Já o talabarte de posicionamento é constituído por uma corda com proteção


(normalmente envolvida por fita tubular) com dois conectores nas pontas e um trava-
quedas. Possui um sistema mecânico de controle e regulagem. O talabarte de
posicionamento tem o objetivo de posicionar o operador, podendo afastar ou
aproximá-lo de seu alvo e permanecer de maneira confortável e segura.

Fonte: Manual CBMGO

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1.13 PROTEÇÃO DE CORDA: CATERPILLAR

Os materiais de proteção de corda têm o importante objetivo de impedir que as


cordas corram em quinas ou em superfícies que possibilitem sua deterioração ou
abrasão. É importante frisar que, mesmo que não se tenha o caterpillar, é
imprescindível a proteção da corda nas quinas em que ela corre, podendo ser utilizado
também mangueiras de incêndio descartadas, lonas ou algum material similar para
proteção.

Fonte: http://www.sossul.com.br

1.14 CHAPELETA E PARABOLT

Chapeleta é um objeto de aço inoxidável utilizado para criação de ancoragens


em paredes e vias de escalada ou onde não houver ponto de ancoragem. O parabolt
é o parafuso que prende a chapeleta na superfície desejada.

Fonte: https://blogdescalada.com

1.15 TRIPÉ DE SALVAMENTO

Equipamento destinado a dar suporte adequado em locais onde a ancoragem


se torna difícil ou durante o salvamento de vítimas em poços. Esse equipamento é
essencial nos salvamentos em vias negativas, em rapéis com saída do mesmo nível

20
e, principalmente, no resgate de vítimas em ambientes confinados. Podem ser do tipo
monopé, bipé, tripé ou quadripé.

Fonte: http://www.sossul.com.br

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2 NÓS E AMARRAÇÕES

Nas operações de Salvamento em Alturas os nós aparecem como um mal


necessário, uma vez que eles danificam as cordas consideravelmente, em especial
quando submetidos a carga. A escolha do nó para um salvamento dependerá das
qualidades dele e da operação a ser realizada.

Neste contexto, é preferível que o operador de salvamento em alturas conheça


poucos nós, mas domine sua confecção e aplicabilidade, do que conheça uma gama
muito grande de nós, mas não tenha domínio deles e acabe por não os utilizar.

Sendo assim, a prática de nós por parte de um operador do Corpo de


Bombeiros Militar do Espírito Santo (CBMES) deve ser constante, para que na hora
da ocorrência sua confecção possa fluir naturalmente sob quaisquer circunstâncias.

QUALIDADES DE UM BOM NÓ: Para escolher um nó que deve ser empregado


em uma operação de salvamento algumas qualidades devem ser levadas em
consideração. São elas:

 Ser seguro, isto é, não se desfazer quando tensionado;


 Ter estabilidade, quando submetido a cargas anormais;
 Ser forte, ou seja, perder pouca resistência (lembrando que a resistência
perdida é no chicote da corda após o nó);
 Ser fácil, de aprender e de confeccionar;
 Ter um desenho, que seja fácil de visualizar se o nó está correto;
 Ser fácil de desfazer, após sua utilização.

Nesta unidade aprenderemos alguns nós, os quais serão utilizados na


disciplina de Salvamento em Alturas e no decorrer da vida profissional dos Bombeiros
Militares. Dividiremos esses nós em 7 (sete) classes para facilitar o aprendizado (vale
salientar que os percentuais de perdas que aparecerão nas descrições têm por
referência os manuais encontrados nos referenciais bibliográficos, por exemplo, no
Manual Operacional de Bombeiros Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (CBMGO)
Salvamento em Altura). São elas:

22
1-Nós de Extremidades: Alemão ou Volta-do-Fiador, Simples ou Pescador Simples.

2- Nós de Emenda: Direito com arremate, Escota Simples com arremate, Escota
Dupla com arremate, Nó de Fita ou Nó D’água, Pescador-Duplo.

3- Nós de Fixação: Boca-de-Lobo com arremate, Volta-do-Fiel com arremate, Voltas-


sem-Tensão.

4- Nós Formadores de Alça: Azelha Simples, Azelha em Sete, Azelha em Oito,


Azelha em Oito- Duplo Alçado, Borboleta, Balso-do-Calafate, Balso pelo Seio, Lais-
de-Guia com arremate.

5- Nós Blocantes: Marchard, Prussik ou Prússico.

6- Cadeirinhas ou Assentos: Americano, Bombeiro, Japonesa.

7- Outros nós Importantes: Catau, Cote, Nó-de-Tração ou Paulista, UIAA ou Meio


Fiel, Voltas da Ribeira.

2.1 CARACTERÍSTICAS E CONFECÇÃO DE CADA NÓ

2.1.1 Nós de extremidade

Nó Alemão ou Volta-do-Fiador: Pode ser utilizado como arremate, mas tem


como principal função servir de base para confecção de outros nós como por exemplo,
o Azelha-em-Oito pelo chicote. Perda de resistência de aproximadamente 20%.

Confecção do nó volta do fiador. (Fonte: CBMGO)

23
Simples ou Pescador Simples: Nó comumente utilizado para arrematar
outros nós, confeccionado pelo chicote da corda com a finalidade de impedir que o nó
principal se desfaça, pode ainda ser utilizado como base para confeccionar outros
nós, como o Nó-de-Fita, por exemplo. Perda de resistência de aproximadamente 30%.

Confecção do nó Simples ou Pescador-Simples. (Fonte: CBMGO)

2.1.2 Nós de emenda

Direito: Nó utilizado para emenda de cabos de mesma bitola não


escorregadios. Perda de resistência de, aproximadamente, 15 a 20%.

Confecção do nó direito. (Fonte: CBMGO)

Escota: Nó para união de cabos de bitolas diferentes, rápido e fácil de


confeccionar, porém não é considerado um nó com boa estabilidade. Perda de
resistência de 35%.

Confecção do nó escota simples. (Fonte: CBMGO)

24
Escota duplo: Nó bastante similar ao escota simples, porém, executado com
a adoção de uma volta a mais.

Confecção do nó escota duplo. (Fonte: CBMGO)

Nó-de-Fita: Utilizado para emendar fitas, pois é o único em que a estrutura da


fita se encaixa. Pode deslizar quando submetido a cargas cíclicas, perda de
resistência de 36%.

Confecção Nó de Fita. (Fonte: CBMGO)

Pescador Duplo: Nó comumente utilizado para emenda de cabos de mesma


bitola, podendo ser utilizado em cabos de bitolas diferentes, porém com o prejuízo de

25
dificultar muito a soltura após ser tensionado, tal nó gera uma perda de resistência de
21% na corda.

Confecção do nó Pescador Duplo. (Fonte: CBMGO)

2.1.3 Nós de fixação

Boca-de-Lobo: Nó utilizado para ancoragem rápida ou para prender material


no cinto de segurança, perda de resistência de 55%.

Confecção do nó Boca de Lobo. (Fonte: CBMGO)

Volta-do-Fiel: Nó utilizado para ancoragens rápidas e amarrações, perda de


resistência de 45%.

PELO SEIO

Confecção do nó Volta do Fiel Pelo Seio. (Fonte: CBMGO)

26
PELO CHICOTE

Confecção do nó Volta do Fiel Pelo Chicote. (Fonte: CBMGO)

Voltas-sem-Tensão: Sem dúvidas o nó mais confiável para uma ancoragem


rápida, desde que o ponto de ancoragem seja liso e sem grandes ângulos
(preferencialmente circular), mínimo de três voltas no ponto de ancoragem. Perda de
resistência 1%.

ou

Confecção do nó Voltas-sem-Tensão. (Fonte: CBMGO)

2.1.4 Nós formadores de alça

Azelha-Simples: Provavelmente o mais fácil de confeccionar, porém, trata-se


de um nó fraco e que tende a acochar muito, perda de resistência de 36%.

Confecção do nó Azelha Simples. (Fonte: CBMGO)

27
Azelha-em-Sete: é utilizado quando se precisa exercer uma carga no meio de
uma corda que será tensionada, sempre atuando de forma paralela à corda principal.
Pode ser confeccionado nos dois sentidos, perda de resistência de 27%.

Confecção de Nó Azelha em sete. (Fonte: Pinterest)

Azelha-em-Oito: Preferido como nó de alça pelos operadores do CBMES e por


diversos grupos de resgate, pela segurança (fácil de analisar seu desenho pela
equipe) e estabilidade, perda de resistência de 23%.

Confecção do nó Azelha em oito. (Fonte: CBMGO)

28
Azelha-em-Oito-Duplo-Alçado: Bom nó quando se precisa de duas alças,
utilizado também para confeccionar uma ancoragem equalizada ou equalizável, na
ausência de fitas, perda de resistência de 23%.

Confecção do nó Oito em Duplo Alçado. (Fonte: CBMGO)

Borboleta: extremamente confiável quando na necessidade de três tensões


partindo do nó, podendo também ser utilizado para isolar um puído em um
determinado ponto de uma corda numa situação extrema, além de ser recomendado
para substituir a função do nó 7 (sete), quando a carga for aplicada
perpendicularmente à corda principal. Perda de resistência de 23%.

ou

29
Confecção do Nó de Borboleta. (Fonte: CBMGO)

Balso-do-Calafate: Nó confeccionado para formação de duas alças,


comumente utilizado para resgate de vítima que necessita de uma cadeirinha,
podendo também ser utilizado para uma ancoragem equalizada, perda de resistência
de 55%.

Confecção do nó Balso do Calafate. (Fonte: CBMGO)

Balso pelo seio: Nó formador de alça, cuja finalidade específica está no


resgate de vítimas de modo geral. Também empregado no salvamento aquático pelos
socorristas.

Confecção do nó Balso Pelo Seio. (Fonte: CBMGO)

30
Lais-de-Guia: Nó tradicional muito utilizado devido a facilidade de confecção,
e de soltura após o uso, perda de resistência de 33%.

Confecção do nó Lais de Guia. (Fonte: CBMGO)

2.1.5 Nós blocantes

Marchard: Um nó rápido e fácil inventado em 1961 por um alpinista francês,


Serge Machard. Indicado para uso individual, este nó desliza entre 5 a 10 KN.

Confecção do nó Marchard com uma alça. (Fonte: CBMGO)

Prussik ou Prússico: inventado pelo montanhista austríaco, Dr.Karl Prusik, é


o mais tradicional e também mais indicado para resgate desde que com as três voltas
padrão , garantindo assim maior segurança. Este nó desliza entre 8 a 12 KN.

PELO SEIO:

Confecção do nó Prussik pelo Seio. (Fonte: CBMGO)

PELO CHICOTE:

31
Confecção do nó Prussik pelo Chicote. (Fonte: CBMGO)

2.1.6 Cadeirinhas ou Assentos

Entraremos agora em um tema à parte dentro de nós e amarrações que é a


confecção de cadeirinhas ou assentos de corda, pois, apesar da existência de cintos
de segurança e triângulos de evacuação para vítimas, a confecção manual delas é
algo que nenhum bombeiro pode se dar ao luxo de deixar de aprender e de realmente
saber confeccioná-las de forma rápida e segura. Para tal, necessita-se de uma corda
de aproximadamente 5 metros (cabo solteiro).

Assento Americano: parte-se da lateral esquerda do quadril onde se apoia o


seio do cabo solteiro permeado, dá-se uma volta em torno da cintura trançando a
corda duas vezes por dentro do seu eixo à frente do corpo; em seguida, passam-se
os chicotes entre as pernas subindo na parte posterior do copo dando um cote na
corda que está envolvendo a cintura; passa-se o chicote da direita acompanhado as
voltas que se formaram à frente do corpo, unindo-o junto ao outro chicote na lateral
esquerda do corpo com um nó direito; arremate dos dois lados do nó com um cote
envolvendo as duas cordas que estão juntas à cintura do Bombeiro.

32
Confecção do Assento Americano. (Fonte: CBMGO)

Cadeirinha Japonesa: Tem esse nome por ter origem nos corpos de
bombeiros japoneses. Inicia-se a cadeirinha passando a corda pela cintura,
lembrando-se de partir com ela permeada da lateral esquerda do corpo, em seguida
se faz um nó direito bem no centro da cintura; passe ambos os chicotes por baixo das
pernas realizando um cote na corda que esta envolvendo a cintura, isso na parte das
costas; passe pela frente novamente apenas o chicote que vem da direita, entrando
por dentro do seio formado logo abaixo do nó direito; junte os dois chicotes na lateral
esquerda finalizando com um nó direito e o arremate com dois cotes envolvendo as
duas cordas que estão junto ao corpo do bombeiro.

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Confecção da Cadeirinha Japonesa. (Fonte: CBMGO)

Cadeirinha Bombeiro: Essa é a mais rápida e fácil de ser confeccionada.


Pegue o seio da corda, prenda-o na cintura de forma que os dois chicotes fiquem
caindo em direção ao chão, passe-os entre as pernas e retorne para frente passando
entre o seio que estava preso a sua cintura, cruze a corda atrás das costas e retorne
entrando com o chicote direito dentro do seio, em seguida junte os dois chicotes na
lateral esquerda finalizando com um nó direito e o arremate com dois cotes
envolvendo as duas cordas que estão junto ao corpo do bombeiro.

34
Confecção da Cadeirinha Bombeiro. (Fonte: CBMGO)

2.1.7 Outros nós importantes

Catau: Nó que serve para encurtar um cabo ou para isolar um puído de uma
corda danificada em caso de necessidade de continuar a operação sem possibilidade
de substituir a corda avariada.

Confecção do nó Catau. (Fonte: CBMGO)

Cote: Nó que é uma variação do nó simples, não sendo seguro por si só,
contudo, é um valioso componente de uma vasta variedade de engates, dobras e nós
úteis e confiáveis.

Confecção Nó cote. (Fonte: Pinterest)

Nó-de-Tração ou Paulista: Nó utilizado para tração quando não se tem outros


meios a não ser a própria corda, a desvantagem é o atrito entre as cordas, o que pode
gerar danos.

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Confecção Nó Paulista. (Fonte: Pinterest)

Nó-UIAA ou Meio-Fiel: Nó descensor feito direto no mosquetão, utilizado nas


técnicas verticais em substituição aos aparelhos descensores. Funciona criando atrito
e reduzindo a velocidade de descida.

Confecção do Nó UIAA. (Fonte: Pinterest)

Volta-da-Ribeira: Esse nó é muito utilizado por Corpos de Bombeiros no


serviço de corte de árvore por ser um nó muito útil para se fazer segurança individual,
além de ser rápido e fácil de confeccionar e de desfazer após o uso. É muito utilizado
para prender um chicote a um mastro, árvore ou barra, ficando mais apertado e firme
à medida que sofre tensão por carga. Como é feito por um dos chicotes, não é possível
utilizá-lo como safa-cabo.

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Confecção do nó Volta da Ribeira. (Fonte: CBMGO)

37
3 SISTEMAS DE ANCORAGENS DE SEGURANÇA (SAS)

Os sistemas de ancoragem são meios de prender uma pessoa, uma corda ou


uma carga em um ponto fixo, seja para fins permanentes ou temporários.

A montagem do sistema de ancoragem é o início de qualquer trabalho vertical,


sendo de suma importância a identificação da melhor técnica a ser empregada pelo
resgatista, desde a escolha do material e a forma como ele será utilizado. Nas
palavras de Eduardo José Slomp Aguiar, autor do livro Resgate Vertical, “a ancoragem
é, para o resgate, o que uma coluna é para a construção, um pilar fundamental”
(AGUIAR, 2013, p. 105).

Para a realização de uma ancoragem, o bombeiro deve atentar para alguns


requisitos básicos de segurança, a fim de se evitar acidentes no decorrer da operação,
no tocante às características e requisitos das ancoragens.

3.1 REQUISITOS DE UMA ANCORAGEM

 Deve-se sempre utilizar mosquetões superdimensionados (capacidade


acima de 42KN);
 Evitar fazer os braços de alavanca. Sempre procurar fazer a amarração
da sua ancoragem em um ponto próximo à base da estrutura, pois quando ancoramos
em um ponto mais distante da base estrutural a força sobre esta aumenta muito,
colocando em risco a operação.
 Fazer o SAS sempre em, no mínimo, 02 (dois) pontos de ancoragem, o
Principal e o Secundário, quando não se trata de um ponto à prova de bomba;
 Procurar se ancorar diretamente sobre o local de descida, evitando
assim grandes pêndulos e trabalho excessivo para o bombeiro.

3.2 PONTOS DE ANCORAGEM

Os pontos de ancoragem são as bases empregadas para realização das


amarrações. Esses pontos devem apresentar características que garantam sua

38
eficiência na execução de uma manobra pelo profissional, principalmente, no que diz
respeito à segurança.

Para escolher um ponto de ancoragem devemos observar:

 Resistência

Esse é o critério mais importante na escolha do ponto de fixação. O ideal é que


se escolham pontos de fixação extremamente confiáveis, conhecidos como “pontos à
prova de bomba”, para então se construir a ancoragem. Nesse sentido, colunas de
concreto, ferro e aço são, em princípio, bastante confiáveis.

 Localização

A localização deve procurar facilitar as manobras no platô ou parede, bem como


a confecção das ancoragens principal e secundária.

Na verdade, são variados os meios para servirem de base para as diversas


amarrações. Esses pontos podem ser encontrados no local da ocorrência, tanto em
condições ideais como também de forma não ideal, podendo ser qualificados de
formas variadas, como naturais, estruturais e artificiais.

3.2.1 Naturais

São aqueles advindos da própria natureza, podendo ser encontrados tanto no meio
urbano quanto no meio rural. Exemplos de ancoragens desse tipo: árvores, pedras e
raízes, etc.

39
Pontos naturais de ancoragens.

3.2.2 Estruturais

São aqueles classificados como arquitetados, construídos e/ou habitados pelo


homem. Encontramos essas estruturas geralmente no meio urbano, fazendo parte das
edificações.

Olhais de ancoragem predial

Ancoragem em colunas de prédio

3.2.3 Artificiais

São aqueles que implantamos no local da atividade. Chamamos de ancoragens


artificiais todos aqueles elementos que fixamos, em uma parede ou em uma rocha,
com a finalidade exclusiva de servirem como pontos para ancoragens para
assegurarmos e/ou ancorarmos uma corda. Eles podem ser classificados em fixos ou
móveis.

FIXOS: CHAPELETAS E GRAMPOS P (CBMSC)

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Chapeletas: A chapeleta é uma chapa de aço dobrada, muito parecida com
uma orelha humana, de aproximadamente 10 mm de espessura, geralmente
acompanhada de um parafuso rosca, uma arruela e uma luva de expansão.

Funciona como um gancho capaz de suportar significativas massas, desde que


esteja devidamente fixada sobre a rocha a ser escalada. É um equipamento de
proteção utilizado em larga escala em todo o mundo, sendo considerado o mais
adequado para a abertura de vias de escalada.

O padrão mínimo de resistência da chapeleta deve ser de 22 KN, o que


equivale a dizer que o material deve suportar uma força de 2.200 KgF
(aproximadamente, pois 1KgF = 9,81N).

Tipos de chapeleta

A fixação da chapeleta é realizada com chumbadores, sendo que os mais


indicados para a escalada são os modelos “Parabolt ou do tipo “UR”.

chapeleta e parabolt

41
Ao utilizar um chumbador, esse deverá suportar uma carga ou força de
cisalhamento igual ou superior à resistência do material da chapeleta (22KN), a fim de
garantir as condições mínimas de segurança do sistema de proteção.

Grampos P: Grampos “P”: O grampo tipo “P” trata-se de um vergalhão de


aço, normalmente com um diâmetro de 1⁄2”, com um olhal do mesmo material (e
normalmente com um diâmetro de 3/8”), formando um “P”.

Grampo P

MÓVEIS: NUTS E FRIENDS

São as ancoragens que são fixadas por um dos escaladores e retiradas pelo
outro. A seguir serão apresentados alguns equipamentos utilizados na ancoragem
móvel.

Nuts: O Nuts (também conhecido como chocks) é um equipamento de proteção


que consiste num pequeno cabo de aço em forma de “looping”, ligado em uma
“cabeça” metálica na sua ponta. São excelentes entaladores e são muito utilizados
em pequenas fendas e fissuras.

42
Nuts/ Nuts entalado na fissura da pedra

Friends: É constituído geralmente por quatro peças móveis (Cams), unidas


entre si por um eixo e um cabo (rígido ou maleável). A extremidade do cabo destina-
se à união de uma fita ou mosquetão.

Esse equipamento pode ser facilmente adaptado a várias larguras de fendas,


através de Cams que são movidas por controle de molas acionadas pelo escalador.

É considerado um entalador, pois sempre que é solicitada a sua extração da


fenda, ele tende a expandir-se e fixar-se ainda mais na fenda. Em linhas gerais, são
pequenas placas metálicas com aresta curva que se ajustam ao se expandir.

Friends

43
3.3 CLASSIFICAÇÃO DAS ANCORAGENS

PONTO PRINCIPAL: é o ponto escolhido para a realização da ancoragem


devido à sua resistência e que deverá ser capaz de suportar todo o peso do sistema
montado e do trabalho que será realizado.

PONTO SECUNDÁRIO: diz respeito a uma segunda segurança, que deve ser
utilizada para um ponto de ancoragem ou um equipamento. Sua função é garantir a
segurança de todo o sistema.

Para a confecção dos pontos de ancoragem devemos observar:

- Os pontos devem estar preferencialmente alinhados;

- O ponto secundário de ancoragem não deve receber carga e somente será utilizado
em caso de falência do ponto principal;

- Não deverá haver folga entre os dois pontos de ancoragem, para evitar o aumento
da força de choque em caso de rompimento do ponto principal;

- O ponto secundário sempre deverá ser mais forte e resistente do que o principal.

De acordo com a quantidade e o posicionamento das ancoragens, Principal e


Secundária, em relação ao objetivo da operação, podemos classificar uma ancoragem
da seguinte forma:

3.3.1 Ancoragem em linha

As ancoragens em linha são aquelas em que o ponto Principal e o Ponto


Secundário estão dispostos verticalmente, ou seja, um sobre o outro. Esse tipo de
ancoragem pode ser dividido ainda em:

3.3.1.1 Tradicional

No qual o Ponto Principal está mais próximo do objetivo do que o Ponto


Secundário.
44
Ancoragem tradicional em linha

3.3.1.2 Contraposta

Neste caso, o Ponto Secundário se encontra mais perto do Objetivo em relação


ao Ponto Principal.

Ancoragem contraposta

3.2.2 Ancoragem distribuída

As ancoragens distribuídas são aquelas em que fazemos uma divisão de forças


sobre os pontos de ancoragens, quer seja no Ponto Principal, quer seja no
45
Secundário. Nessas ancoragens, normalmente os pontos de fixação estarão dispostos
horizontalmente, facilitando dessa forma a equalização da ancoragem. Essa técnica
consiste em dividir, em partes iguais, a carga sustentada pelo sistema entre os pontos
de ancoragem. As ancoragens distribuídas podem ser de dois tipos: Equalizada e
Equalizável.

3.2.2.1. Equalizada

É o tipo de ancoragem feita quando estamos com o ponto de descida já


definido, ou seja, não precisamos mudar a posição da ancoragem para realizar a
atividade de salvamento. Normalmente esse tipo de ancoragem é realizado utilizando-
se apenas a corda de descida, confeccionando-se um nó para a fixação da mesma ao
SAS, independente do uso de materiais acessórios como fitas tubulares.

Ancoragem equalizada

3.2.2.2 Equalizável

Pode-se dizer que é o mais prático tipo de ancoragem existente, pois permite
variar o ponto de descida de acordo com a necessidade da operação. Uma vez que
essas ancoragens são realizadas, normalmente com o emprego de fitas tubulares,
tem-se uma grande mobilidade da ancoragem, sem perder a segurança, bem como
agilidade na sua confecção.
46
Ancoragem Equalizável em três pontos utilizando a própria corda

Atenção: Em qualquer sistema de equalização (divisão), os ângulos que


formam os seguimentos do cabo que unem as diferentes ancoragens terão de estar
os mais próximos possíveis e inferiores a 60º. Quanto maior o ângulo formado, maior
a possibilidade de a ancoragem entrar em colapso, pois aumentará exponencialmente
a sobrecarga nos pontos de fixação, tendendo ao infinito.

Esforço na ancoragem de acordo com os ângulos

RECOMENDAÇÕES GERAIS

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- Os mosquetões, quando em contato direto com paredes, devem ter sua abertura
(rosca) voltada para o lado oposto à parede;

- É preferencial o uso de fitas tubulares para fazer a união dos mosquetões nos SAS;

- Deve-se proteger os pontos de abrasão, quinas vivas, arestas com material


resistente para não danificar a corda e assim não colocar em risco a operação de
salvamento;

- Reforçar a segurança dos SAS, quando for verificado que a integridade estrutural é
duvidosa.

3.3.3 Ancoragem à prova de bomba

O ponto “à Prova de Bomba” (PAB) é aquele escolhido para a realização de


uma ancoragem que, devido a sua grande resistência, dispensa qualquer outro tipo
de sistema secundário de ancoragem de segurança. Sendo assim, ao utilizarmos um
“Ponto-Bomba”, qualquer reforço, ancoragem de segurança ou back-up se tornará
obsoleto, pois a resistência do ponto de ancoragem é superior à resistência de
qualquer outro componente do sistema de ancoragem e, a seu respeito, não paira
qualquer dúvida sobre sua resistência. Ao encontrarmos um “ponto-bomba”,
partiremos para a confecção de uma ancoragem simples utilizando fitas tubulares,
mosquetão, cordeletes e cordas.

48
Ancoragem em ponto à prova de bomba.

3.4 PLUG FUSÍVEL

Ancoragem padrão/ Plug fusível

Montagem utilizando-se de mosquetão, cordelete e fita tubular:

49
Montagem Final de Ancoragem Simples

Posicionar o maior Cordelete a


frente Prussique a corda com três voltas Posicione o cordelete menor

Efetue o segundo prússico Clipe o mosquetão aos cordeletes Mantenha ambos tensionados

Faça um oito duplo com a corda Clipe o mosquetão à corda Trave o mosquetão

Figura: Passo a passo do plug fusível

50
Essa montagem apresenta características importantes:

 Tira a carga da azelha em oito da corda;


 Evidencia sobrecarga no sistema (quando o prússico “corre”).

51
4 CUIDADOS E ACONDICIONAMENTOS DE CORDAS

As cordas apresentam uma longa vida útil, se bem manutenidas e


acondicionadas, quer seja no seu armazenamento ou transporte. Para tanto, devemos
nos ater aos seguintes parâmetros:

 Não pisar ou permitir que grandes pesos sejam postos sobre as cordas;
 Evitar que a corda tenha contato prolongado com areia ou terra, uma vez que
os grãos se incrustam entre as fibras da corda e podem causar o cisalhamento
da mesma;
 Não deixar a corda sob o sol por intervalos de tempo prolongados;
 Não permanecer a corda sob tensão desnecessariamente. Após o
encerramento das atividades com as cordas, os sistemas de ancoragens
devem ser desmontados ou afrouxados;
 Não sobrecarregar os nós e as amarrações;
 Não trabalhar, dentro do possível, com as cordas molhadas;
 Evitar o aquecimento da capa da corda, com uma descida rápida de rapel, por
exemplo, pois tal aquecimento pode cristalizar as fibras da capa e diminuir sua
resistência (lembrar que 15 a 20% da resistência de uma corda se concentra
em sua capa);
 Não permitir que as cordas entrem em contato com produtos químicos,
incluindo os derivados de petróleo, como querosene, gasolina ou diesel;
 Se as cordas estiverem sujas, lavá-las com detergente neutro, e secá-las
estendidas sob a sombra, sem tensão;
 E, principalmente, evitar a abrasão das cordas com arestas vivas, o que pode
causar inesperadamente a sua ruptura. As cordas são mais vulneráveis ao
corte sob tensão do que as fitas.

4.1 CUIDADOS COM A CORDA

As cordas, como qualquer outro equipamento, necessitam de cuidados e


controle durante e após sua utilização, tratamento que garantirá à mesma um maior
tempo de uso.

52
4.1.1 Que antecedem seu uso

 Seguir o que prevê o fabricante antes da primeira utilização. Geralmente as


cordas necessitam de uma imersão em água, ficando nessa situação por um
período de 24 horas, em seguida, passar por processo de secagem, à sombra
e com ventilação, por um período de 72horas;
 Aferir o comprimento da corda após a primeira lavagem, pois a mesma pode
perder até 5% de seu tamanho após a secagem;
 Realizar falcaças nos chicotes das cordas;
 Identificar o comprimento da corda nos chicotes;
 Verificar se existem coças nas cordas, sempre antes do uso;
 Verificar o que prevê o fabricante sobre a vida útil da corda. Geralmente a vida
útil é de 05 anos podendo se estender a igual período, dependendo do uso ou
armazenamento.

4.1.2 Durante as operações de salvamento

 Proteger as cordas contra fricção em quinas vivas ou com outras cordas;


 Proteger contra exposição às condições atmosféricas por longos períodos;
 Evitar pisar na corda ou arrastá-la;
 Evitar contato com areia, terra e produtos químicos;
 Evitar contato com água suja;
 Evitar tencionar a corda por muito tempo, desnecessariamente;
 Evitar choques violentos;
 Respeitar sempre sua carga de trabalho;
 Transportar de forma adequada dando preferência ao uso de mochilas de
transporte;
 Utilizar nós adequados à atividade.

53
4.1.2 Após o uso

 Evitar o armazenamento da corda quando a mesma estiver molhada ou úmida;


 Evitar o armazenamento com cocas;
 Acondicionar em locais com sombra, secos e ventilados (a temperatura de uso
e de armazenagem jamais poderá ultrapassar a 80ºC);
 Secar sempre à sombra e sem tração;
 Cortar a corda na altura de uma avaria e remarcar o seu comprimento;
 Lavar a corda em água fresca e limpa e, se necessário, adicionar sabão neutro
e usar escova de fibras sintéticas (lavador de cordas).

4.2 INSPEÇÃO DA CORDA

A vida útil de uma corda não pode ser definida pelo tempo de uso. Ela depende
de vários fatores como o grau de cuidado e manutenção, frequência de uso, tipo de
equipamentos com que foi empregada, velocidade de descida, tipo e intensidade da
carga, abrasão física, degradação química, exposição a raios ultravioletas, entre
outros.

A avaliação das condições de uma corda depende da observação visual e tátil


de sua integridade, bem como de seu histórico de uso.

4.2.1 Como inspecionar a corda

Cheque a corda em todo seu comprimento e observe:

 Qualquer irregularidade, caroço, encurtamento ou inconsistência;


 Sinais de corte e abrasão, queimadura, traços de produtos químicos ou em que
os fios da capa estejam desfiados (felpudos);
 O ângulo formado pela corda realizando um semicírculo com as mãos, devendo
haver uma certa resistência e um raio constante em toda sua extensão; e
 Se há falcaça, se a capa se encontra acumulada em algum dos chicotes ou se
a alma saiu da capa.
54
Fonte: Coletânea de Manuais Técnicos de Bombeiros-CBPMSP

4.2.2 Retiradas de utilização

Situações em que as cordas deverão ser retiradas das atividades de


treinamentos e operações de salvamento:

 Quando forem expostas a uma carga ou impacto violento;


 Quando a alma apresentar dano, nesse caso, providenciar o corte da acorda;
 Quando a capa apresentar grande desgaste;
 Quando entrar em contato com reagentes químicos.

4.3 HISTÓRICO DE USO (FICHA DE CONTROLE)

Rejeite cordas para salvamento em altura que:

 Tenham sido utilizadas para fins para os quais não tenham sido destinadas
(salvamento de vidas humanas) como rebocar veículos, movimentação de
cargas, progressão em ambientes confinados, etc
 Tenham sido submetidas a grandes forças de choque, como em balancinhos
de cortes de árvores.

Esta avaliação deve ser feita periódica e sistematicamente, preenchendo-se a


ficha de inspeção e uso da corda.

55
Anote todos os usos, lavagens, cortes, abrações, etc., pelos quais a corda
tenha passado. A identificação de cada corda é primordial.

A ficha de controle de cordas do CBMES possui muitas informações, conforme


pode ser visto.

Ficha de controle de corda

A ficha de corda disponibilizada pelo CBMES possui um informativo


ensinando o preenchimento e o que precisa ser verificado na inspeção.

Ficha de controle de corda. Informativo de inspeção

56
4.4 MÉTODOS DE ACONDICIONAMENTO

As cordas devem ser acondicionadas em um local seco e limpo, longe da


umidade e da luz solar, podendo ser utilizados os seguintes métodos:

4.4.1 Oito

Método para cordas estáticas com comprimento acima de 50 metros;

Acondicionamento em oito

4.4.2 Coroa e Anel

Para cordas dinâmicas ou para cordas estáticas com comprimento inferior a 50


metros. Acondicionamento em coroa é utilizado para rapel de resgate de suicida e em
descidas onde a corda não é lançada, ou seja, fica junto com o socorrista, a fim de
evitar que ela se enrole em alguma raiz ou gravatá.

Acondicionamento em coroa e em anel


57
4.4.3 Andina ou Charuto

Utilizado principalmente em operações em montanha, em que a corda deve


estar firmemente atada ao corpo do bombeiro que a estiver transportando. O
acondicionamento tipo andina também é conhecido como cabeleira.

Acondicionamento em charuto e andino

4.4.4 Corrente

Utilizada para diminuir o comprimento das cordas. Bastante utilizado para


acondicionamentos rápidos e em operações de corte de árvores.

Acondicionamento em corrente

58
4.4.5 Sacola

Método empregado para acomodar cabos para as atividades com o emprego


em aeronaves e em tentativas de suicídio.

Fonte: http://bombeiroswaldo.blogspot.com

59
5 RAPEL

O rapel consiste em uma descida controlada por uma corda. É utilizado o atrito
da corda com o corpo ou aparelho de frenagem.

5.1 COM O USO FREIO OITO

5.1.1 Equipagem

Com o freio oito clipado ao mosquetão pelo olhal maior, faça uma alça na corda,
deixando o chicote da corda para a direita (socorrista destro) ou com o chicote para a
esquerda (socorrista canhoto). Passe a alça, de cima para baixo, pelo olhal maior e
envolva o olhal menor com alça formada. Retire o oito do mosquetão e clipe o olhal
menor ao mosquetão para então travá-lo.

Equipagem do oito

5.1.2 Blocagem

É muito importante o resgatista saber blocar (travar e destravar) o freio oito na


descida, pois essa técnica fixa o resgatista na corda e a possibilita retirar a mão da

60
corda para realizar uma tarefa como, por exemplo, pegar equipamento para mudar o
sentido do deslocamento ou fazer uma ancoragem em um salvamento.

Trava do oito

Eleve a mão de comando, mantendo a corda tesada, fazendo uma trajetória


circular imaginária. Segure então a corda com a mão de apoio para completar a
trajetória, posicionando o chicote entre a corda tesada e a peça oito, puxando-o para
baixo com as duas mãos, para realizar a primeira trava. Em seguida, faça uma alça
passando-a por dentro do mosquetão, repetindo a sequência anterior, a fim de realizar
uma segunda trava, finalizando o procedimento. Para desfazer a trava, repita as ações
em ordem contrária, prestando especial atenção no momento de desfazer a última
trava com segurança.

Sequência de blocagem

61
5.1.3 Segurança

5.1.3.1 Segurança por terceiro

É uma técnica de segurança muito empregada em treinamentos, sendo


necessário que haja um bombeiro no solo, para fornecer segurança à descida de
rapel.

Caso ocorra algum imprevisto na descida, o segurança deverá tesar o cabo de


descida. O ato de dar tensão à corda fará com que ocorra o travamento do socorrista.

Nesse tipo de segurança deve haver comunicação entre o socorrista e o


segurança antes da descida. Os comandos de “atenção segurança” e a resposta
“segurança pronta” devem ser claros.

Militar realizando segurança no rapel

5.1.3.2 Autosseguro

Empregado em situações em que não haja um bombeiro no solo, caso seja o


primeiro a descer e se a descida não permitir segurança por baixo (uma descida em
montanha ou quando a corda não toca o solo, por exemplo).

Uso do nó prússico (prussik) como backup:

É a utilização do nó prussik para bloquear o rapel e pode ser feita de duas


maneiras: com o nó prussik logo acima do descensor, trazido pela mão fraca, e com

62
o nó abaixo do aparelho (oito), com o cuidado de não o deixar longo com a
possibilidade de entrar na peça e travá-la.

Rapel autosseguro com prússico acima do freio oito e na perna (abaixo)

Uso do nó marchard como backup:

Nó autoblocante que também é usado no CBMES para autossegurança de


rapel.

Rapel autosseguro com o marchard unidirecional acima do oito

Rapel autosseguro com o marchard bidirecional abaixo do oito

63
O marchard unidirecional realizado acima do descensor uma vez acionado
(travando o sistema) proporciona ao socorrista uma soltura mais fácil que o prússico,
bastando o socorrista atuar com a mão fraca no nó no sentido da descida.

O nó blocante abaixo do descensor é mais cômodo, pois deixa a mão fraca livre
para realizar outros procedimentos (proteger a vítima, por exemplo) e ao ser acionado
é de fácil soltura. Contudo, vale ressaltar que a utilização do nó abaixo do descensor
não necessariamente precisa ser montado na perna. Conhecer os pontos estruturais
do cinto de segurança e saber os limites de ruptura é importante para escolher em
quais pontos podemos montar o autosseguro.

5.2 RAPEL COM ID: EQUIPAGEM E POSICIONAMENTO DE DESCIDA

O I´D L é um aparelho descensor autoblocante adquirido recentemente pelo


CBMES. É um equipamento descensor prático e eficiente para realizar rapel. A prática
do rapel utilizando o I´D é bastante simples: basta puxar a alavanca, mantendo a
pressão sobre a corda e controlar a velocidade de deslizamento sobre a mesma
através do chicote. Quando a alavanca for solta, o aparelho se travará
automaticamente. O equipamento ainda possui uma função antipânico: ele trava
automaticamente quando sua alavanca é puxada fortemente.

5.2.1 Partes e posições do ID

O I´D é composto das seguintes partes:

64
Posições da alavanca:

A (store): Transporte ou armazenamento: nessa posição a alavanca ficará


totalmente fechada, para transportar ou armazenar o I’D. Jamais deixe assim com
corda instalada, pois forçará o mecanismo da came e poderá danificar a corda;

B (block): Mãos livres (bloqueio da corda): o I’D trava automaticamente quando


as duas mãos ficam livres, mas somente quando a alavanca estiver na posição “B”
será considerado bloqueio correto, pois do contrário (posição “C” ou “E”) o
acionamento poderá ocorrer sem querer, caso alguma coisa encoste na alavanca
(movimentação do socorrista). CUIDADO para não bloquear demasiadamente
deixando na posição “A”;

65
Trabalhador com as mãos livre. Posição de block correta. Posicionamento errado (A) para block

C (descent): Posição de descida: Segure a alavanca com a mão esquerda e


segure a corda com a mão direita bem à frente do I’D para que ela corra sobre a guia
arredondada. Ao acionar a alavanca você deverá ficar imóvel. A descida ocorrerá
quando a mão direita aliviar o atrito com a corda. Se precisar ficar com as mãos livres
volte para a posição “B”. A velocidade máxima de descida não poderá ultrapassar dois
metros por segundo (sistema anti-pânico);

Posicionamento de descida

D (Bloqueio antipânico da came): quando a descida ocorrer em velocidade


superior a dois metros por segundo, o sistema anti-pânico efetuará o bloqueio
automático da corda evitando acidentes resultantes de descidas descontroladas. A
alavanca ficará solta e perderá todas as funções; para retomar o controle da descida
66
ela deverá retornar para a posição “C” até que se ouça um “click” – isso indica que o
mecanismo foi reativado. IMPORTANTE: quando a liberação rápida da corda for algo
necessário para a realização do resgate (ex.: rapel de impacto com suicida em sacada
de prédio, evacuação de emergência, etc...) o uso do I’D não é indicado. Recomenda-
se nesses casos outros freios sem sistema anti-pânico, como o Oito de Resgate;

E (belay): Dar segurança a outra pessoa (assegurar): opção utilizada quando


se deseja realizar a segurança de alguém que estiver escalando uma torre ou se
deslocando por um telhado, por exemplo. O I’D deverá ser posicionado lateralmente
com o dedo polegar da mão direita entre a corda e a came dentada. Caso ocorra
queda, o bloqueio ocorrerá automaticamente, bastando soltar as mãos.

posicionamento de belay

5.2.2 Equipagem do ID na corda

Nas imagens a seguir é possível observar o modo de equipagem no I´D, bem


como suas posições de trabalho.

Equipagem do ID na corda

67
Podemos observar, na figura anterior, a posição de equipagem do descensor
I´D. O lado esquerdo do cabo se considera que seja de onde parte a ancoragem e o
lado direito é onde sempre estará posicionado o chicote do cabo para a equipagem
do I´D.

Posição de descida ou também denominada posição de trabalho

Na figura anterior podemos observar o militar posicionado para a descida no


rapel utilizando o I´D. Observa-se também que o posicionamento da mão direita do
militar é semelhante ao rapel com a peça oito, já a mão esquerda segura a alavanca
controlando a descida.

68
6 RAPEL COM VÍTIMA

Descidas com vítima são técnicas de salvamento em altura em que o socorrista


ou equipe realiza a descida de uma vítima, de certa altura, que pode necessitar de
socorro, devido a alguma adversidade. A vítima pode estar inconsciente ou
consciente. Estando consciente, pode, inclusive, contribuir para o salvamento.

6.1 TÉCNICA JAPONESA

Chamamos de ‘Japonesa’ ou ‘vítima-bombeiro’ a técnica em que a vítima desce


junto ao bombeiro, entre suas pernas, o que requer procedimentos específicos para a
segurança da operação e para que o bombeiro tenha controle suficiente da descida.
Essa técnica é utilizada nos casos em que a vítima está consciente e não possui
lesões graves.

Para controle do rapel do socorrista com a vítima, necessitamos de maior atrito


da corda ao freio oito, pois, além do peso do bombeiro, há o peso da vítima a ser
suportado. Para tanto, podemos utilizar a passagem meio blocada da corda (conforme
figura) e, neste caso, a passagem da corda no freio oito deverá ser feita para a mão
“fraca” do socorrista, já que, ao executar a meia blocagem, a mão utilizada para
controle de frenagem da vítima e do próprio socorrista se inverterá para a mão “forte”.

Meia blocagem na técnica japonesa

69
PROCEDIMENTOS DA TÉNICA:
1- No patamar superior, executar o rapel com a mão “fraca”, garantindo sua
segurança por terceiros (solicitando “Atenção Segurança”) ou autossegurado;

2- Ao acessar o patamar da vítima, deixe o freio oito meio blocado (ajudará a não
se atrapalhar na saída com a vítima);

3- Clipe o longe maior em algum ponto de segurança do patamar para


providenciar a própria segurança;

4- Use 2 mosquetões para unir o olhal menor da peça oito do socorrista à


cadeirinha (ou triângulo de salvamento) da vítima (se necessário, equipe-a);

5- Clipe o outro longe do socorrista na vítima para aumentar a segurança durante


a operação;

6- Garanta sua segurança e da vítima (por terceiros ou autossegurado);

7- Desclipe o longe da segurança do patamar;

8- Posicione a vítima entre as pernas e deixe o peso “cair” no sistema;

Posicionamento rapel com vítima na técnica japonesa

70
9- Realize o rapel com o freio oito meio blocado, controlando a frenagem com a
mão “forte”;

10- Durante a descida, atentar-se em proteger a vítima de obstáculos e também de


abrasões no descensor e mosquetões de seu cinto, que aumentam a
temperatura durante a descida. Para proteção da vítima o socorrista deve
utilizar a mão de posicionamento e as pernas.

6.2 UTILIZANDO O I`D (INDUSTRIAL DESCENSOR)

O bombeiro realiza o resgate da vítima utilizando essa técnica quando houver


a possibilidade de acessar a vítima através de um cabo independente utilizando o ID.

PROCEDIMENTOS DA TÉCNICA:
1. Montar o aparelho ID na corda e acessar a vítima no patamar;

Rapel com ID para acessar a vítima

2. Realizar a blocagem. O aparelho ID permite que o socorrista se mantenha


blocado colocando sua manopla na posição de block (B);

3. Vestir a vítima com o triângulo de salvamento – “fraldão”;

71
Rapel com vítima utilizando o ID

4. Ligar-se à vítima utilizando 2 mosquetões do fraldão ao ID. Utiliza-se um longe


de segurança do bombeiro na vítima para aumentar a segurança durante a
operação;

Socorrista protegendo a vítima

5. A vítima é posicionada abaixo do socorrista. Para cargas maiores de 150-200kg


utiliza-se um mosquetão de reenvio de carga. Agora, se a carga for superior a
isso e próximo ao limite de carga do ID, que é próximo de 280 kg, deve-se
realizar um nó dinâmico.

72
Rapel com vítima utilizando o mosquetão de reenvio após o ID

6. Com a vítima no sistema do socorrista, esse deve desfazer o block, trazendo a


manopla do ID novamente para a posição “descent”, e então realizar a descida.

Descida controlada da vítima

73
7 MONTAGEM DE TIROLESA (HORIZONTAL E INCLINADA)

Tirolesa é um sistema de travessia em vãos livres por meio de cabos de


salvamento, sendo esses ancorados em dois pontos, utilizando-se para o
deslizamento polias, descensores ou conectores metálicos. A tirolesa pode ser
montada no plano horizontal ou inclinado, sendo a forma horizontal (denominada cabo
aéreo) para travessias entre planos do mesmo nível; já no plano inclinado, pode ser
utilizada em travessia entre planos de alturas diferentes.

A tirolesa pode ser empregada para o resgate em diversos locais, tais como:
prédios, pontes, vales, cachoeiras, rios, ribanceiras, pedreiras, dentre outros.

É necessário observar alguns procedimentos antes da montagem da tirolesa,


tais como, a escolha dos pontos de ancoragem, o ângulo de montagem no plano
inclinado, a tensão dos cabos, etc. Para o tracionamento dos cabos de salvamento
não se deve utilizar equipamentos mecânicos, tais como: tifor, talhas ou veículos,
sendo assim, a tração deve ser realizada utilizando-se apenas de força humana.

Vale ressaltar que, mais do que qualquer outra técnica de salvamento em


altura, a tirolesa tem o potencial de sobrecarregar a corda, equipamentos e
ancoragens, podendo causar falha do sistema.

Dessa forma, deve-se levar em consideração alguns procedimentos durante a


montagem:

Verifique o grau de inclinação (deve variar entre 25º a 30º), o qual também
poderá atingir uma inclinação bem maior, às vezes, atingindo 45º, porém, o cuidado
deverá ser extremo, pois vários são os fatores que influenciarão no sistema: distância,
altura entre um ponto e outro, preparação dos materiais e dos pontos de fixação e as
técnicas que serão empregadas.

É importante saber identificar, por meio de uma inspeção prévia, que a distância
a ser percorrida em um sistema no plano inclinado não poderá ser superior a 70
(setenta) metros para uma altura média de 30 (trinta) metros, razão pela qual teremos
que observar: velocidade, atrito e desgaste do material empregado e sistema de freio
ineficiente em função do ângulo de visão.
74
Todo sistema inclinado deverá ter um sistema de segurança partindo sempre
do ponto superior, para impedir a velocidade excessiva, pois se deve manter sempre
uma velocidade lenta e constante e, principalmente, isenta de trancos durante todo o
percurso.

Esteja sempre atento aos mosquetões para que não permaneçam destravados
durante a operação, pois, em decorrência do atrito deles com o cabo de sustentação,
podem destravar por si só. Observar também a saída das vítimas, para que não ralem
em cantos ou quinas vivas e venham a sofrer escoriações.
Vantagens

Possibilitar o transporte de vítimas por trechos impercorríveis por via terrestre.


Maior eficiência e velocidade no transporte de vítimas de um ponto a outro se
comparadas com o transporte terrestre. Ex. evacuação de vitimas em prédios.
Desvantagens

Criar cargas altíssimas nas ancoragens, a lentidão da montagem e o fato de


normalmente apresentar funcionamento incerto e difícil de ser remediado. Assim,
deve-se optar por essa técnica somente quando não haja outras alternativas mais
simples, seguras e exista tempo suficiente, além de pessoal habilitado para executá-
la.

7.1 COM OITO BLOCADO

Técnica já não tão utilizada em virtude do desgaste da corda, contudo vale a


pena conhecer.

MONTAGEM DA TIROLESA

Dividimos a montagem da tirolesa em quatro partes, a saber:


 Ponto de ancoragem;
 Cabo aéreo (linha de sustentação);
 Ponto fixo do sistema de forças;

75
 Ponto móvel do sistema de forças.

Ponto de ancoragem

Primeiramente, deverá ser escolhido o ponto de fixação da ancoragem de


forma estratégica, sabendo-se que no outro ponto será realizado o tracionamento do
cabo. Além disso, caso a tirolesa seja inclinada, a fixação da ancoragem deve ser
realizada no ponto mais alto possível. Deve ser levada em consideração as condições
de relevo, segurança e espaço.

Escolhido o local da ancoragem, o bombeiro deve realizar um nó (sugestão é


o nó sem tensão no local pretendido, arrematando com azelha e mosquetão). O cabo
de salvamento é muito exigido nos nós da ancoragem, os quais devem ser bem feitos
em razão dessa exigência. Prioriza-se, portanto, o uso de nós sem tensão, pois se
preserva integralmente a resistência do cabo, uma vez que a tensão é dissipada em
cada volta.

É importante ressaltar que, caso haja a necessidade pode-se empregar um


cabo-guia no sistema, seja para controlar a descida, seja para permitir o içamento de
uma carga pelo sistema.

Ponto de ancoragem, utilizando voltas sem tensão

Cabo aéreo (linha de sustentação)


A linha de sustentação delimita-se entre o ponto de ancoragem e o ponto móvel
do sistema de forças, consistindo no trecho percorrido pela vítima e/ou resgatista.
Essa linha deve ser formada por um cabo duplo, estático e com tensionamento
moderado para evitar fadiga do sistema.
76
Militar utilizando a tirolesa para o resgate de uma vítima na maca rígida

Ponto fixo do sistema de forças


Terminada a ancoragem principal, faz-se necessário escolher um ponto
adequado para o ponto fixo do sistema de forças, que será um ponto de sustentação
para o tracionamento do cabo duplo proveniente da ancoragem. Tem-se a opção de
utilizar fitas dobradas, evitando nó boca de lobo, ou cabo solteiro, com nó direito e
dois cotes em cada lado, ou nó pescador duplo, por exemplo.
Outra alternativa é o uso de uma placa de ancoragem que facilita a distribuição
de várias linhas de ancoragem, distribuindo os esforços e facilitando a visualização,
organização e manipulação dos equipamentos empregados.

Figura 1 - Exemplo de ancoragem

Ponto móvel do sistema de forças


Depois de montado o ponto fixo, será estabelecido o ponto móvel do sistema
77
de forças, onde será realizada a tração dos cabos provenientes do ponto de
ancoragem. Para isso, é realizado o sistema de tracionamento com a peça oito com
meia blocagem.
Mantendo os cabos paralelos, passar o seio do cabo duplo pelo freio oito e
realizar a meia blocagem. Clipar um mosquetão no olhal menor do freio oito. Passar o
cabo duplo por dentro do mosquetão no ponto fixo, mantendo ainda os cabos
paralelos. Passar o cabo duplo por dentro do mosquetão no freio oito, prendendo-o
no mosquetão do ponto fixo, a fim de evitar o retorno do cabo que será tracionado.
Obtém-se um sistema de vantagem mecânica de 3:1.
Ressaltamos que, em serviços de salvamento, recomenda-se tão somente
sistemas de vantagem mecânica movidos por força humana, jamais utilize aparatos
mecânicos como viaturas, talhas ou tifor para tensionar o cabo e utilize no máximo a
força de quatro homens.
Feito o tracionamento do cabo, deve ser realizado o arremate com o cabo
sobressalente, através da confecção de dois cotes e um pescador simples.
As imagens a seguir mostram, de maneira elucidativa, a montagem da tirolesa
com o oito blocado, essa técnica é comumente utilizada pela equipe de salvamento
em altura durante a montagem da tirolesa horizontal. Vale ressaltar que para o
tracionamento dos cabos é necessária uma quantidade maior de militares, haja vista
que o atrito nas peças metálicas é maior do que o atrito quando utilizamos o sistema
independente.

Montagem dos sistema de tracionamento com o freio oito

78
7.2 UTILIZANDO SISTEMA INDEPENDENTE

A utilização do sistema independente é fundamental para o auxiliar no


tracionamento dos cabos da tirolesa. Nesse sentido, pode-se utilizar um sistema 3:1
independente, que pode ser composto, por exemplo, por 2 roldanas simples ou uma
roldana dupla e uma simples, um rescucender e um cordelete para captura de
progresso. Como já fora dito, no tensionamento dos cabos não se pode utilizar
equipamentos mecânicos, logo, deve-se utilizar, observando a regra dos 12, quatro
militares, a fim de que a tensão dos cabos seja ideal para se realizar o resgate.

Nas imagens a seguir, optamos por fazer a tração dos cabos utilizando o
sistema 3:1 independente, mas pode-se utilizar outros sistemas independentes, tais
como: 4:1, 5:1, 6:1, porém, deve-se lembrar que quanto mais aumentamos a
passagem da corda pelas roldanas, aumentamos também o atrito e,
consequentemente, temos mais dificuldade em tracionar os cabos.

As imagens acima representam o tracionamento da tirolesa no plano inclinado, utilizando para a


tração dos cabos o sitema 3:1 independente.

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Deve-se lembrar também que, como procedimento de segurança, um nó
azelha, simples ou em oito, deve ser feito no chicote do cabo que os militares
empunharão para realizar a tração, pois, caso o cabo venha a se desprender das
mãos deles, o nó não permitirá que a corda corra livre nas roldanas, com esse
procedimento é possível impedir um possível acidente.

80
8 ASCENSÃO

8.1 UTILIZANDO CORDELETES

De maneira geral e, prezando pela segurança, as ascensões devem ser


realizadas com uso de aparelhos específicos (blocantes de punho, ventral e estribo),
pois o bombeiro terá maior agilidade, segurança e eficiência. Contudo, quando não se
dispõe dos ascensores, os nós que bloqueiam a corda são uma boa alternativa
técnica, como o prussik ou marchard. Neste manual, será apresentada a ascensão
utilizando o nó prussik com três voltas.

Montagem do sistema

O tamanho dos cordeletes, usados para o estribo e para a parte superior,


deverá ser ajustado de acordo com a estatura do bombeiro. O comprimento do
cordelete superior, após feito o nó prussik na corda de subida e ser conectado à alça
no mosquetão do cinto de segurança, deve permitir que o bombeiro, quando sentado,
tenha o nó prussik ao alcance das mãos com os braços esticados. O estribo, após
aplicado à corda, deverá permitir que o bombeiro possa posicionar os pés para apoio.

Execução

1. O cordelete superior deve ser colocado na corda aplicando-se o nó prussik e


sua alça presa a um mosquetão no olhal central do cinto.

2. Abaixo do cordelete superior, aplique o segundo nó prussik (estribo) na corda


e à sua alça conecte o longe maior do cinto de segurança para que o bombeiro
fique preso a dois pontos de ancoragem.

3. Progressão. Em pé e com o peso sobre o cordelete inferior (estribo), deslize o


prussik superior o máximo possível para cima. Após feito isso, sente no cinto
deixando o peso sobre o cordelete superior e deslize o prussik inferior para
cima.

81
8.2 UTILIZANDO BLOCANTES: ASCENSORES DE PUNHO E VENTRAL

São dispositivos que, quando engatados em uma corda, permitem que ela
deslize livremente através deles apenas em uma direção, podendo também deslizar
no sentido oposto, quando o equipamento for liberado manualmente. Servem para o
deslocamento vertical em corda fixa e para autossegurança. Os ascensores são
destinados ao uso para chegar até a vítima quando não há outro acesso fácil.

Nessa técnica o Bombeiro deve ascender, realizar o procedimento de resgate


e descender trazendo a vítima consigo, liberando os ascensores para que não
atrapalhem a descida.

8.2.1 Preparando o Equipamento


● Ascensor de Punho

Estando de posse do ascensor de punho já equipado com o mailon e cordelete


de aproximadamente 3 metros, iremos preparar o que chamamos de estribo. Em um
dos chicotes do cordelete, pode-se utilizar o nó UIAA para unir o ascensor de punho
ao cordelete; na outra extremidade do cordelete irá ser confeccionado o nó lais de
guia com arremate, conforme pode ser visto nas figuras a seguir.

Figura - Ascensor de Punho

Montagem do estribo no ascensor de punho

82
Quanto à regulagem do estribo: com o ascensor de punho em uma das mãos
e com os pés dentro da alça, regule o ascensor de punho de forma que o antebraço e
o braço formem um ângulo de aproximadamente 90°; após feito o ajuste, devemos
finalizar o nó UIAA com arremate. Essa altura depende muito da elasticidade do
socorrista, pois essa mesma medida de altura pode ser feita com apenas um dos pés
na alça, por exemplo.

Medida do estribo no ascensor de punho

● Ascensor Ventral

O ascensor ventral é fixado com o mesmo mosquetão que une a parte inferior
e superior do cinto tipo paraquedista; no olhal superior do blocante ventral iremos usar
uma fita ou corda bem fina (pode ser utilizado também um mosquetão) para prender
no ponto de ancoragem do cinto localizado na altura do tórax para não atrapalhar no
decorrer do trabalho/atividade, melhorando o desempenho na ascensão.

Ascensor ventral na posição junto ao corpo

83
8.2.2 Montagem do sistema para operação

1. Colocar o ascensor de punho no cabo de salvamento, com um dos “longes” do


cinto no olhal inferior (segurança).

Colocação do ascensor de punho na corda

2. Colocar o ascensor ventral no cabo de salvamento, abaixo do ascensor de


punho.

Ascensor ventral na corda

Figura

84
8.8.3 Técnica de subida

1. Equipar o ascensor de punho na via e logo abaixo o blocante ventral;


2. Elevar o ascensor de punho o mais alto possível e em seguida passar o peso
do corpo para o blocante ventral;
3. Colocar os pés na alça do estribo, em seguida ficar em pé e recuperar o
blocante ventral, passando novamente o peso do corpo para o blocante ventral;
4. Devem-se repetir os 2° e 3° passos até a conclusão da atividade/trabalho.

Execução da ascensão com blocantes

8.3 MUDANÇA NO SENTIDO DE DESLOCAMENTO

Este é o último subitem do capítulo que trata da ascensão, até agora você
aprendeu a subir por um cabo utilizando cordeletes e equipamentos blocantes. Mas,
como mudar o sentido de deslocamento, uma vez que você chegou à altura desejada
e realizou seu trabalho ou salvamento?

O objetivo geral desse item é assimilar a importância dessa ferramenta para a


comunidade montanhista, trabalhadores em altura e profissionais de segurança
pública.

85
8.3.1 Usando cordeletes

Objetivo: Realizar descida no cabo em que se está subindo,


usando cordeletes, sem ter que chegar ao ponto de ancoragem para descer na corda.

Sequência procedimental:

Você está fazendo a ascensão em cabo e chegou à altura desejada. Você está
ancorado à corda pelos nós inferior (com uma alça para estribo e apoio dos pés) e
outro superior (preso à sua cadeirinha, com espaço para correr para cima e para
baixo). A partir daí, para iniciar sua descida, faça:

1. Com o peso no prusik inferior (estribo), fique com o corpo na posição ereta,
esticando as pernas para alcançar o prusik superior (cadeirinha);
2. Enquanto uma mão segura no cabo logo acima do nó (superior), com o objetivo
de se equilibrar, a outra afrouxa o nó prusik superior (cadeirinha), para que esse
possa correr livremente para baixo;
3. Descer o prusik superior até o aproximar do prusik inferior (estribo)
(aproximadamente 15 cm de distância);
4. Soltar o peso do corpo no prusik superior, liberando totalmente a tensão do
prusik inferior;
5. Afrouxar o prusik inferior, para que possa correr livremente para baixo e,
posteriormente, correr o nó para baixo;
6. Deslocar o peso para o prusik inferior novamente, para que possa repetir os
passos anteriores.

Caso queira mudar para subida basta seguir os procedimentos inversos, conforme
já visto no item ascensão com cordeletes.

8.3.2 Usando blocantes

- Mudando de subida para descida

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Objetivo: Realizar descida no cabo em que se está subindo, utilizando
blocantes, sem precisar chegar ao ponto de ancoragem para equipar o freio oito e
fazer o rapel.

Sequência procedimental:

Você está fazendo a ascensão em cabo e chegou à altura desejada. Com os


equipamentos blocantes, a ordem dos aparelhos é diferente de quando usamos
cordeletes, o blocante de punho (estribo) fica acima do blocante ventral (cadeirinha).
Ancorado a esses dois pontos e com a peça oito (freio) a postos em sua cadeirinha,
faça:

1. Equipar a peça oito e fazer a blocagem logo abaixo do blocante ventral;


2. Subir no estribo do punho e soltar o blocante ventral da corda. O blocante de
punho não deve ficar muito alto (longe), para que você possa alcançá-lo com
facilidade
3. Apoiar na peça oito blocada e retirar o blocante de punho;
4. Desbloque a peça oito e realize seu rapel até a altura desejada.

Lembre-se de comandar “atenção segurança” antes de realizar essa manobra


ou faça o rapel autossegurado.

- Mudança de descida para subida

Objetivo: Realizar subida no cabo em que se está descendo, utilizando o freio


oito (rapel), sem precisar chegar ao solo para equipar os equipamentos blocantes e
subir na corda.

Sequência procedimental:

Enquanto fazia seu rapel, você precisou voltar a subir pelo cabo. Com seus
equipamentos de blocagem a postos na cadeirinha, siga a sequência:

1. Fazer a blocagem da peça oito;


2. Colocar o blocante de punho com o estribo dois palmos acima da peça oito;

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3. Apoiar-se no estribo e colocar o blocante ventral, que deverá estar aberto, entre
a peça oito e o blocante de punho;
4. Descer do estribo e ficar apoiado no blocante ventral;
5. Retirar a blocagem do oito e iniciar a subida.

88
9 OITO FIXO

9.1 CORDA PRINCIPAL E BACKUP

Sistema de “Oito Fixo” com backup

Trata-se de uma técnica de descensão realizada na atividade de salvamento


em altura. Técnica bastante utilizada para uso de macas ou triângulos de evacuação.
A escolha desses equipamentos, macas ou triângulos de evacuação, deve ser
realizada considerando-se as lesões que a vítima tenha sofrido. Para grandes lesões,
utilizam-se macas e para lesões leves, triângulo de evacuação.

Vale ressaltar que o padrão utilizado pelo CBMES para salvamento em alturas
envolve uma operação com duas cordas (principal e backup). Só abrimos mão da
segunda corda se por algum motivo mais uma linha pode atrapalhar o resgate e em
um resgate técnico individual.

Entende-se como resgate técnico individual aquele onde temos o controle total
da ancoragem, das quinas, da vítima e do ambiente. O fato de não termos contato
visual com o socorrista ou termos uma vítima com lesões graves, por exemplo, faz
com que a equipe utilize o backup.

89
9.1.1 Considerações importantes para a montagem da técnica

A técnica do “oito fixo”, apesar de ser relativamente simples, requer muita


atenção no que tange à segurança, assim como toda e qualquer atividade de
salvamento em alturas. Portanto, é essencialmente importante considerar que para
confecção da montagem desta técnica, sobretudo dentro dos princípios e doutrinas
preconizados no CBMES, faz-se necessário a utilização de dois cabos:
a) Um cabo principal - (primário) - cabo de salvamento usado para realizar a
descida da vítima, portanto, é o que recebe a tensão do peso no sistema.
b) Um cabo backup - (secundário) - cabo de salvamento que garante a segurança
do sistema em uma eventual falha.

Vale destacar que o termo “BACKUP” – é um termo em inglês que significa


voltar atrás, ter uma segunda chance. E, na atividade de altura, utiliza-se esse termo
em referência ao sistema secundário utilizado para substituir o primário, caso este
venha a se romper ou falhar.

A corda de backup passa numa polia chata e assegurado por um CONJUNTO


DUPLO DE PRUSSIK, feitos com três voltas (PRUSSIK TANDEM), por meio de dois
cordeletes de tamanhos diferentes, objetivando distribuir melhor o peso da carga no
backup, no caso de falha do sistema principal.

Através dessa técnica, o freio oito permanece fixo e a descida da vítima é


controlada de cima por integrantes da equipe de salvamento em altura, havendo tão
somente uma alça em cada um dos cabos, que serão ambas conectadas ao
equipamento (triângulo de evacuação, ou maca) no qual se encontra vítima. Vale
ressaltar que a vítima durante a descida poderá ou não estar acompanhada por um
bombeiro, entretanto, descendo isolada, deverá ser conectada uma corda guia para
liberá-la de eventuais obstáculos, durante o trajeto até o solo.

Vale destacar que a técnica do oito fixo pode ser utilizada usando outros
descensores como o rack ou mesmo o ID na corda primária.

90
Técnica de oito fico com o Rack

Será preferível a utilização do descensor de barras à peça oito, em razão da


formação de cocas por este tipo de freio, bem como da praticidade e maior segurança
que o descensor de barras permite no aumentar ou diminuir do atrito, necessitando
apenas adicionar ou diminuir o número de barras no qual a corda está equipada. Vale
ainda ressaltar a maior capacidade de carga de trabalho do rack quando comparado
à peça oito.

9.2 UTILIZANDO O ID NO PONTO FIXO

Para uso na ancoragem (I’D ancorado em estruturas):

ID em ponto fixo e equipado com o mosquetão de reenvio

O I’D nesses casos de oito fixo é utilizado de ponta-cabeça. É aplicado um


mosquetão auxiliar de reenvio para auxiliar no controle da descida.

Obrigatoriamente após instalar a corda efetue o teste de funcionamento,


puxando o lado da corda onde está a ancoragem (uso pessoal) ou onde está a vítima

91
(uso na ancoragem). Faça esse procedimento conectado a uma segunda ancoragem,
transferindo-se ao I’D somente após o teste. Se a corda estiver instalada
incorretamente não ocorrerá esse travamento.

Teste de funcionamento do I’D

O equipamento ID deverá ser fixado em um ponto que ofereça condições


suficientes de segurança.

Para a fixação do ID, normalmente, deve-se empregar mosquetões de aço (42


KN), a placa de ancoragem e utilizar backup.

Descida de vítima pela ancoragem

A descida é com velocidade máxima de dois metros por segundo e uso do


mosquetão de reenvio. A descida deve ser controlada pela mão que segura a corda,
e não pela mão que controla a alavanca; isso resultará em controle melhor do atrito.

Para descer cargas de até 150-200 kg, basta utilizar o mosquetão auxiliar. Para
cargas maiores deverá ser realizado um nó dinâmico (ou Nó UIAA) no mosquetão

92
auxiliar e o I’D deverá ser operado por duas pessoas, sendo que uma controlará a
liberação da alavanca e a outra controlará o atrito com o nó, conforme figura a seguir:

Descida de vítima pela ancoragem com carga máxima.

Progressão em torres com I’D

Técnica semelhante à da escalada em rocha clássica: o primeiro progride e o


segundo (ou segurança) libera a corda gradativamente, não deixando totalmente
tesada, nem totalmente solta; a corda deve estar levemente solta. Para deixar a
corda livre, mantenha a alavanca na posição “E”, deixe o lado da mão direita com folga
e puxe o lado da mão esquerda (lado do escalador), ou ainda, posicione o I’D
lateralmente com o polegar da mão direita entre a corda e a came dentada (ilustração
acima). Caso ocorra queda, basta o segurança soltar as mãos e o bloqueio ocorrerá
93
automaticamente. Após a queda controlada o segurança poderá descer o escalador
de forma segura até o chão.

94
10 VANTAGEM MECÂNICA

Nas atividades de Salvamento cotidianamente se faz necessário utilizar


sistemas de multiplicação de força para realizar a movimentação de cargas que estão
ACIMA DA CAPACIDADE FÍSICA E FUNCIONAL DO BOMBEIRO.

Os locais mais comuns em que se empregam tais métodos geralmente são


ocorrências envolvendo vítimas em poços, cavernas, depressões, túneis, silos,
declives, espaços confinados, dentre outros.

Esses sistemas são formados em sua maioria por um conjunto de roldanas,


fixas ou móveis, transpassadas por uma corda fixada na carga que se pretende
movimentar.

Os principais materiais operacionais utilizados na confecção dos sistemas de


multiplicação de força são: polias, cordas, mosquetões, placas de ancoragem,
blocantes estruturais, tripé de salvamento, etc.

A combinação desses materiais proporcionará ao Bombeiro uma condição de


vantagem mecânica que o permitirá executar o resgate, seja de uma vítima ou de
carga qualquer, de maneira mais fácil e eficiente.

A vantagem mecânica é a relação estabelecida entre o peso da carga a ser


vencida e a força necessária para movimentá-la. De forma prática, essa vantagem é
traduzida em uma redução na força da puxada que o bombeiro deverá exercer no
sistema para que ele execute o salvamento.

𝑉𝑀=𝐹𝑂𝑅Ç𝐴 𝐸𝑋𝐸𝑅𝐶𝐼𝐷𝐴 𝑃𝐸𝐿𝐴 𝐶𝐴𝑅𝐺𝐴÷𝐹𝑂𝑅Ç𝐴 𝐸𝑋𝐸𝑅𝐶𝐼𝐷𝐴 𝑃𝐸𝐿𝑂 𝑂𝑃𝐸𝑅𝐴𝐷𝑂𝑅

Dessa forma, a vantagem mecânica (Vm) exprime a existência ou não da


redução de esforço, ou seja:
Vm = 1: não há nem vantagem nem desvantagem mecânica, isto é, não há redução
nem acréscimo de esforço para deslocar a carga.
Vm > 1: existe uma vantagem mecânica e uma redução do esforço a ser empregado
pelo bombeiro.

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Vm < 1: temos uma desvantagem mecânica. Nesse caso não haverá interesse em se
utilizar ou empregar o sistema.

Na montagem de um sistema de multiplicação de força as polias são


empregadas principalmente na busca de duas situações: redirecionamento e divisão
de forças.

Quando as polias estão fixas ao sistema elas não acompanham a carga,


apenas desviam a força.

Sistemas 1:1 e 2:1

Quando as polias estão móveis no sistema elas dividem as forças e


acompanham a movimentação da carga.

É importante ressaltar que, em um sistema de vantagem mecânica, quanto


maior o número de polias MÓVEIS empregadas, MENOR será a força aplicada
pelo operador e MAIS LENTA será a movimentação da carga.
Por outro lado, quanto menor for o número de polias móveis utilizadas, maior será a
força a ser aplicada e mais rápida será a movimentação da carga.

Comparativo de força x velocidade da carga


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Outro fator importante a ser observado na confecção do sistema de
Multiplicação de força é o ângulo formado entre as cordas. Quanto mais se retirar a
corda do contato com a polia, aumentando o ângulo que se forma entre a posição
original da corda e a posição que o operador do sistema está utilizando a mesma,
maior será a força necessária para movimentar a carga. Quanto menor o ângulo, maior
será o ganho do operador no momento de tracionar a carga. O ÂNGULO IDEAL É 0º.

10.1 TIPOS DE SISTEMAS MULTIPLICADORES DE FORÇA

É costume na atividade de Salvamento Terrestre o uso de sistemas


multiplicadores de força (2:1, 3:1, 4:1, 5:1, 9:1) como sistemas que permitem
movimentar uma carga fazendo um esforço de 2, 3, 4, 5, 9 vezes menor ao que deveria
ser feito em um sistema comum de proporção de 1:1, ou seja, em um sistema sem
vantagem mecânica.

Os sistemas são classificados em DOIS TIPOS: ÍMPARES E PARES.

10.1.1 Sistemas Ímpares

Os sistemas ímpares são caracterizados por terem a amarração de


ancoragem fixados à carga ou em um bloqueador mecânico de arraste (rope grab ou
grip...) fixo na parte do cabo responsável por rebocar diretamente a carga, seja um
sistema confeccionado para deslocamento de carga na horizontal ou na vertical.

Sistema 1:1
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10.1.2 Sistemas Pares

Os sistemas pares se assemelham à confecção dos sistemas ímpares, porém


destacamos que sua principal diferença é o fato que a amarração de ancoragem
permanece fixa em lado oposto à carga, ou seja, a amarração ficará no ponto fixo, não
se movimentando com o deslocamento da carga. Verifiquemos o sistema 2:1 na
vertical.

Sistema 2:1 sem polia de desvio de força

10.2 SISTEMA DE DESVIO DE FORÇA

Nesse caso a polia será empregada somente como desvio de força,


permanecendo fixa na ancoragem do sistema. O operador deverá utilizar-se desse
artifício de forma que sua puxada fique mais cômoda à realização do Salvamento.

Sistema 2:1 com desvio de força

98
10.3 SISTEMA DE CAPTURA DE PROGRESSO (AUTO BLOCANTE)

Utilizam-se bloqueadores estruturais ou cordeletes com nós autoblocantes para


dar maior segurança ao sistema, tanto para a vítima quanto para o operador.
Preconiza-se que o dispositivo autoblocante seja colocado na corda de tensão (mais
fácil a análise e diminuiu o erro do operador).

Sistemas de captura de progresso

Os sistemas são classificados quanto a forma em:


 Sistemas Multiplicadores de Força Simples;

 Sistemas Multiplicadores de Força Compostos (não serão abordados nesse


material);
 Sistemas Multiplicadores de Força Complexos (não serão abordados nesse
material).

10.4 SISTEMAS SIMPLES

Todas as polias móveis empregadas no sistema se movem com a mesma


velocidade;

A força de tração incide diretamente sobre a carga ou a corda em que a carga


se encontra ancorada;

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Os sistemas simples dividem-se em estendidos, reduzidos, independentes
ou dependentes;

Para se chegar ao quociente da vantagem mecânica atingida, basta somar o


número de ramais de corda que saem da carga ou do bloqueador.

10.4.1 Sistema Simples estendido

Neste sistema a corda percorre todo o espaço entre o ponto fixo e o ponto
móvel (carga);

Quanto maior a vantagem mecânica, maior será o comprimento de corda


empregada.

Sistemas 1:1 (sem desvio) e (1:1 com desvio)

Sistemas 2:1 (sem desvio) e 2:1 (com desvio)

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Sistemas 3:1 (sem desvio) e 3:1 (com desvio)
Observação: Os dois sistemas possuem captura de progresso

Sistema 4:1 com desvio de força e captura de progresso

Sistema Simples estendido (5:1)

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10.4.2 Sistema simples reduzido

Utilizam-se bloqueadores estruturais ancorados à corda;

A força de tração é exercida sobre a corda, e não diretamente sobre a carga;

Possibilita empregar uma extensão menor de corda;

Para efetuar a tração deve-se avançar o bloqueador em direção à carga;

A manobra de avançar o bloqueador quando as polias móveis e fixas encostam


é denominada reset.

Sistema 3:1 Simples Reduzido Horizontal. 3:1 Z

Sistemas 3:1 Simples Reduzido na vertical com roldana de desvio. Nó Prússico


como bloqueador estrutural e captura de progresso

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Sistema 3:1 Simples Reduzido Vertical. Nó Prússico como bloqueador
estrutural (vermelho) e captura de progresso (verde)

10.4.3 Sistema Simples Independente

Neste caso se tem dois ou mais sistemas que trabalham juntos de forma
independente.

Sistema Simples Independente 2:1, vertical com captura de


progresso com prússico

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Sistema Simples Independente 5:1, Vertical com captura de progresso na
corda principal

Exemplo para a montagem do sistema 3:1 independente: utilizaremos uma


roldana dupla, uma roldana simples, dois mosquetões HMS, dois cordeletes e um
cabo de 15 metros.

As figuras acima apresentam a montagem do sistema 3:1 independente passo a passo.

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10.5 SISTEMA INTEGRADO DESCIDA/SUBIDA – ID

Antigamente, num passado não tão distante, equipes de salvamento e resgate


vertical sentiam a falta de um equipamento multifunção, que servisse tanto para
descer quanto para ascender cordas, compor sistemas de vantagem mecânica,
assegurar sistemas de subida e descida de maca, etc. O bom e velho freio oito serviu
bastante, e até serve bem ainda para alguns casos específicos, mas a falta de
bloqueio automático, a formação de torções na corda e a possibilidade de ocorrência
de acidentes devido a descidas rápidas demais fez com que alguns fabricantes
fervessem os neurônios para atender essa necessidade. Foi aí que surgiram os
descensores de bloqueio automático, tais como o MPD, Stop, Grigri, Quadra, Indy,
Spider, entre outros. Mas temos um que se destacou não só pelo fato de possuir o
bloqueio automático, mas também pelo sistema antipânico, velocidade de descida
controlada, etc. Estamos falando do I’D da marca francesa Petzl.

O I’D (sigla de “Industrial Descensor”) acabou tornando-se o “queridinho”


de especialistas, pois reúne tudo isso em um equipamento compacto, de fácil
manuseio e operação (evidente que você deverá ser treinado e experiente para isso),
facilitando a execução de muitas técnicas – o que resulta em menos tempo empregado
nas missões, menos possibilidade de ocorrência de erros e multifuncionalidade.

Sistema 4:1 estendido com ID

Na imagem anterior temos um sistema 4:1 estendido onde o ID permite uma


captura de progresso na subida e um descida controlada, caso necessário.

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11 REFERÊNCIAS

Aguiar, Eduardo José Slomp. Resgate Vertical. Editora: AVM - ASSOCIAÇÃO DA


VILA MILITAR - Departamento Cultural - Publicações Técnicas; Edição: 2 (17 de junho
de 2019).

Budworth, Geoffrey. The Ultimate Encyclopedia of Knots e Ropework. London,


Ed. Lorenz Books, 1999. 122p. Disponível em:
<https://www.cs.hmc.edu/~geoff/prusik_knot.html>. Acesso em: 01 jan. 2020.

Catálogo da Petzl 2019.

Delgado, Delfin. Rescate urbano en altura. 4. ed. Madrid: Desnível, 2009.

Espírito Santo, Corpo de Bombeiros Militar do (CBMES). Apostila de Resgate


Técnico I.

Espírito Santo, Corpo de Bombeiros Militar do (CBMES). Curso de Formação de


Brigadista Profissional – Salvamento em Altura, 2016.

Goiás, Corpo de Bombeiros Militar do (CBMGO). Manual Operacional de


Bombeiros. Salvamento em Altura, 2017.

Matochi, Geison. Dicas macetosas: Descensor I’D Petzl. Disponível em:


<www.salvamentobrasil.com.br/dicas-macetosas-descensor-id-petzl/>. Acesso em:
13 jan. 2020.

Pendley, Tom. The Essential Technical Rescue. Edition 5, 2017.

Santa Catarina, Corpo de Bombeiros Militar do (CBMSC)., Curso De Capacitação


Em Salvamento Em Altura, 1ª ed., Florianópolis – SC, 2017.

São Paulo, Corpo de Bombeiros da Polícia Militar (CBPMSP). Manual Técnico de


Bombeiro 26 – Salvamento em Altura, 2006.

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Unidade Especial de Resgate e Emergência (UERE). Manual de Técnicas Verticais.
Belo Horizonte, 2001.

Outros sites consultados para utilização de imagens:


http://www.salvamentobrasil.com.br
https://www.arcoeflecha.com.br
https://www.climbclean.com.br
http://artigosesportivosusa.com
http://www.petzl.com.br
http://www.sossul.com.br
https://blogdescalada.com
https://www.pinterest.com

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