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Portanto, se tiver alienação onerosa, o que exclui a doação pura, certo! Pode ser uma compra
e venda, uma doação para um encargo, pode ser uma permuta. Toda vez que houver uma
alienação onerosa de um imóvel urbano, se aquela área for delimitada pelo plano diretor para
incidência desse instituto, o particular vai ter que dar primeiro o direito de preferência ao poder
público.
Então primeiro uma lei municipal, essa lei municipal é uma lei específica, baseada num plano
diretor, delimitará as áreas em que incidirá esse direito de preempção, e fixará:
Prazo de vigência não superior a cinco anos, renovável a partir de um ano após o decurso do
prazo inicial de vigência. Esse modelo de vigência até cinco anos, uma vez superado esse
prazo, não pode renovar por um ano, é um modelo do decreto expropriatório da desapropriação
comum, da desapropriação para fins de necessidade e utilidade pública.
A gente vai ver em Administrativo, baixado o decreto expropriatório ele tem um prazo de
caducidade de cinco anos.
Vencido esse prazo, caducado o decreto expropriatório, ele não pode ser renovado por um
ano. Aí depois pode ser renovado. O modelo adotado é igual ao da desapropriação comum.
Esse direito de preferência fica assegurado ao Poder Público durante esse prazo de vigência,
independentemente do número de alienações referente ao mesmo imóvel, o Poder Público não
é obrigado a exercer esse direito de preferência, mas o particular é obrigado a dar o direito de
preferência e só depois que o Poder Público não utilizar é que ele vai poder vender.
Para que o direito de preempção pode ser exercido? Art. 26. Ele vai ser exercido sempre que o
Poder Público necessitar de áreas para fazer regularização fundiária, executar programas de
habitação de interesse social, constituir reserva fundiária, fazer ordenamento e direcionamento
da expansão urbana, implantar equipamentos urbanos e comunitários, a criação de espaços
públicos de lazer e áreas verdes, a criação de unidades de conservação ou proteção de outras
áreas de interesse ambiental ou a proteção de interesse histórico, cultural ou paisagístico.
A lei específica municipal ou distrital, vai enquadrar cada área em um desses objetos, ou mais
de um. O que é possível, pois eu preciso de área de regularização fundiária e para implantar
espaços públicos de lazer e para implantar equipamentos urbanos comunitários (construir
escola, delegacia, posto de saúde).
Então é possível enquadrar em mais de um, mas quem tem que fazer isso é a lei municipal.
Então eu não posso exercer o direito de preferência para qualquer coisa, tem que estar
correlacionado aos objetos do art. 26.
Estatuto da Cidade, art. 26 O direito de
preempção será exercido sempre que o Poder Público
necessitar de áreas para:
I – regularização fundiária;
II – execução de programas e projetos habitacionais de
interesse social;
III – constituição de reserva fundiária;
IV – ordenamento e direcionamento da expansão
urbana;
V – implantação de equipamentos urbanos e
comunitários;
VI – criação de espaços públicos de lazer e áreas
verdes;
VII – criação de unidades de conservação ou proteção
de outras áreas de interesse ambiental;
VIII – proteção de áreas de interesse histórico, cultural
ou paisagístico;
IX – (VETADO)
Parágrafo único. A lei municipal prevista no § 1º do art.
25 desta Lei deverá enquadrar cada área em que incidirá
o direito de preempção em uma ou mais das finalidades
enumeradas por este artigo.
O art. 27 vai trazer o procedimento. O proprietário interessado em alienar o seu bem, deve
notificar a sua intenção para que o poder público, no prazo máximo de 30 dias para que
manifeste por escrito o seu interesse em comprar.
Essa notificação, deve ser anexada uma proposta de compra, assinada pelo terceiro que tem
interesse na aquisição do imóvel, e tem que constar preço, condições de pagamento e prazo
de validade.
Então eu vou vender o meu imóvel incide essa obrigação do direito de preferência, direito de
preempção. Eu pego uma proposta do interessado em que ele vai dizer o valor, forma de
pagamento, etc. e notifico o poder público.
O poder público recebendo isso, ele tem que publicar em órgão oficial, em pelo menos um
jornal local de grande circulação, o edital de aviso dessa notificação recebida e a intenção dele
em adquirir o imóvel nessas condições. Para que isso? Para dar transparência. Para que as
pessoas e os órgãos de controle verifiquem se aqui não está tendo conluio para que o poder
público adquira um imóvel com valor superior ao de mercado.
Se transcorreu o prazo e o poder público não falar nada, o proprietário fica autorizado a realizar
a alienação ao terceiro que assinou a proposta, nas mesmas condições.
Se isso acontecer, concretizada a venda ao terceiro, o proprietário fica obrigado a apresentar
ao poder público no prazo de mais 30 dias, cópia do instrumento público da alienação. Para
quê? Para o poder público verificar se a venda ou alienação se operou na forma da proposta
que veio anexada com a notificação, para que ele faça o controle. Se não aconteceu isso, olha
o que diz o parágrafo quinto: "A alienação processada em condições diversas da proposta
apresentada é nula de pleno direito".
E qual é a sanção? A sanção é o Poder Público poderá adquirir o imóvel pelo valor da base de
cálculo do IPTU (que é o valor venal) ou pelo valor indicado pela proposta apresentada,
depende de qual for o menor, o inferior. A sanção é, você está fazendo um conluio com o
particular e pega uma proposta bem alta notifica o poder público para ver se ele cai nessa e o
poder público não cai. Aí na hora de vender você vende pela metade do preço. A venda é nula
e o poder público vai poder com isso cobrir o valor pelo valor da venda efetiva ou pelo valor
venal do IPTU e ele ficará com o imóvel.
Estatuto da Cidade, art. 27 O proprietário
deverá notificar sua intenção de alienar o imóvel, para
que o Município, no prazo máximo de trinta dias,
manifeste por escrito seu interesse em comprá-lo.
§ 1º À notificação mencionada no caput será anexada
proposta de compra assinada por terceiro interessado na
aquisição do imóvel, da qual constarão preço, condições
de pagamento e prazo de validade.
§ 2º O Município fará publicar, em órgão oficial e em
pelo menos um jornal local ou regional de grande
circulação, edital de aviso da notificação recebida nos
termos do caput e da intenção de aquisição do imóvel
nas condições da proposta apresentada.
§ 3º Transcorrido o prazo mencionado no caput sem
manifestação, fica o proprietário autorizado a realizar a
alienação para terceiros, nas condições da proposta
apresentada.
§ 4º Concretizada a venda a terceiro, o proprietário fica
obrigado a apresentar ao Município, no prazo de trinta
dias, cópia do instrumento público de alienação do
imóvel.
§ 5º A alienação processada em condições diversas da
proposta apresentada é nula de pleno direito.
§ 6 Ocorrida a hipótese prevista no § 5º o Município
poderá adquirir o imóvel pelo valor da base de cálculo do
IPTU ou pelo valor indicado na proposta apresentada, se
este for inferior àquele.
Quais são as duas grandes dificuldades que esse instrumento gera para o poder público?
A primeira e mais difícil dificuldade é a questão orçamentária, porque não há despesa sem
previsão orçamentária e o poder público ele não sabe se naquele ano alguém vai se interessar
em vender o imóvel e dar o direito de preferência para o poder público. Então ele tem que
estimar o valor no orçamento, esse valor pode não ser suficiente ou pode ser exagerado, você
tem uma dificuldade de ordem orçamentária. Ah, mas você resolve isso quando você receber a
notificação. Não resolve porque o prazo é somente de trinta dias, para manifestar interesse na
compra. Trinta dias na máquina pública é muito pouco tempo para resolver problema
orçamentário. Então essa é a grande dificuldade do direito de preempção.
E a segunda coisa que eu quero salientar é que o direito de preempção surge como uma
alternativa a médio e longo prazo à desapropriação. Claro que se o poder público precisa de
maneira emergencial, a saída é desapropriar e pedir a imissão provisória na posse. Mas a
desapropriação gera custos, tem que pagar justa indenização, a desapropriação é o método
mais violento mais drástico de intervenção do estado na propriedade. Esse instrumento aqui
como uma alternativa respeita a vontade do particular, porque só vai acontecer isso quando e
se o particular quiser vender o seu bem. A segunda dificuldade além daquela orçamentária é
fazer o controle.
Vamos pegar uma área que incide isso aqui: Vicente Pires, no nosso atual PDOT em algumas
áreas de Vicente Pires incide isso aqui. Como é que o poder público vai fazer o controle? Via
registro imobiliário? Não, lá é um monte de chácaras. Você vai desconfiar que as matrículas
estão todas travadas, está em fase de regularização. E o poder público muitas vezes não sabe
exatamente quem é o verdadeiro proprietário, porque feito o levantamento, depois de alguns
meses o proprietário daquele imóvel já vendeu para outro, que já vendeu para outro.
O poder público não consegue ter o controle dessas alienações em áreas em que não há uma
regularidade registral.
Se tem regularidade registral é muito fácil, o poder público averba no registro imobiliário que
tem esse direito de preempção. Ai o terceiro que adquiriu o imóvel não pode dizer que "ô
adquiri o imóvel sem saber que tinha o direito de preempção".
Então tem um segundo problema aí, é que em áreas que tem irregularidade esse instrumento
vai ser muito útil. Porque o que é necessário para regularizar Vicente Pires, em primeiro lugar?
Abrir espaço. Abrir espaço para que os equipamentos comunitários/urbanos tenham uma
grande avenida, que se faça saneamento, para que pare de chover e inundar. Então você tem
que abrir espaço.
Para abrir espaço esse instrumento é bem interessante, porque você vai comprando aos
poucos as áreas e abre ali espaços para equipamentos comunitários, urbanos, etc. Então isso
é uma alternativa razoável e aqui no art. 163 do PDOT está dizendo quais são as áreas em que
incide, pode incidir esse instrumento.
O próximo instrumento NOVO de intervenção do estado na propriedade que nós vamos estudar
é a outorga onerosa do direito de construir (ODIR), ou outorga onerosa de alteração de uso
(CONAUT) mais conhecidos como solo criado. O solo criado significa criação de solo artificial.
As bases históricas desse solo criado estão na famosa Carta de Embu, que foi fruto de um
encontro em 1976, nessa cidade lá na Grande São Paulo, na cidade de Embu, que estabeleceu
os parâmetros para que esse instrumento fosse utilizado. E essa Carta de Embu, ela traz ali a
origem que foi desaguar no Estatuto da Cidade, basicamente a carta, vocês dão uma
olhadinha, é bem interessante, ela inclusive já fala de outro instrumento que nós vamos falar
daqui a pouco que é a transferência do direito de construir.
A chamada Carta de Embu, que ainda hoje conserva grande interesse e
atualidade, é um documento, datado em 11 de dezembro de 1976, que foi subscrito por
eminentes urbanistas e juristas1, e assim se manifesta:
1
Os firmantes da Carta de Embu foram: Álvaro Villaça Azevedo, Celso Antônio Bandeira de Melo, Dalmo do Valle Nogueira Filho,
Eros Roberto Grau, Eurico de Andrade Azevedo, Fábio Fanucchi, José Afonso da Silva, Maria Lourdes Cesarino Costa, Mario
Considerando que, no território de uma cidade, certos
locais são mais favoráveis à implantação de diferentes
tipos de atividades urbanas;
Considerando que a competição por esses locais tende
a elevar o preço dos terrenos e a aumentar a densidade
das áreas construídas;
Considerando que a moderna tecnologia da construção
civil permite intensificar a utilização dos terrenos,
multiplicando o número de pavimentos pela ocupação do
espaço aéreo ou do subsolo;
Considerando que esta intensificação sobrecarrega toda
a infraestrutura urbana, a saber, a capacidade das vias,
das redes de água, esgoto e energia elétrica, bem assim
a dos equipamentos sociais, tais como, escolas, áreas
verdes etc.;
Considerando que essa tecnologia vem ao encontro dos
desejos de multiplicar a utilização dos locais de maior
demanda, e, por assim dizer, permite a criação de solo
novo, ou seja, de áreas adicionais utilizáveis, não
apoiadas diretamente sobre solo natural;
Considerando que a legislação de uso do solo procura
limitar este adensamento, diferenciadamente para cada
zona, no interesse da comunidade;
Considerando que um dos efeitos colaterais dessa
legislação é o de valorizar diferentemente os imóveis,
em consequência de sua capacidade legal de comportar
área edificada, gerando situações de injustiça;
Considerando que o direito de propriedade, assegurado
na Constituição, é condicionado pelo princípio da função
social da propriedade, não devendo, assim, exceder
determinada extensão de uso e disposição, cujo volume
é definido segundo a relevância do interesse social;
Admite-se que, assim como o loteador é obrigado a
entregar ao poder público áreas destinadas ao sistema
viário, equipamentos públicos e lazer, igualmente, o
criador de solo deverá oferecer à coletividade as
compensações necessárias ao reequilíbrio urbano
reclamado pela criação do solo adicional, e
Conclui-se que:
1. É constitucional a fixação, pelo município, de um
coeficiente único de edificação para todos os terrenos
urbanos.
1.1 A fixação desse coeficiente não interfere com a
competência municipal para estabelecer índices diversos
de utilização dos terrenos, tal como já se faz, mediante
legislação de zoneamento.
Pazzaglini Filho, Miguel Seabra Fagundes, Jorge Hori, Antônio Claudio Moreira Lima, Clementina De Ambrosis, Domingos Theodoro
de Azevedo Netto, Luiz Carlos Costa e Norberto Amorim. Vid. VV.AA., Solo Criado/Carta de Embu, CEPAM-Fundação Prefeito Faria
Lima, 1977.
1.2 Toda edificação acima do coeficiente único é
considerada solo criado, quer envolva ocupação de
espaço aéreo, quer a de subsolo.
2. É constitucional exigir, na forma da lei municipal,
como condição de criação de solo, que o interessado
entregue ao poder público áreas proporcionais ao solo
criado; quando impossível a oferta destas áreas, por
inexistentes ou por não atenderem às condições legais
para tanto requeridas, é admissível sua substituição pelo
equivalente econômico.
2.1 O proprietário de imóvel sujeito a limitações
administrativas, que impeçam a plena utilização do
coeficiente único de edificação, poderá alienar a parcela
não utilizável do direito de construir.
2.2 No caso do imóvel tombado, o proprietário poderá
alienar o direito de construir correspondente à área
edificada ou ao coeficiente único de edificação.
Para entender esse instrumento, a gente tem que conhecer dois índices urbanísticos:
a) Coeficiente de aproveitamento;
b) Taxa de ocupação.
O primeiro modelo, que já é um modelo que já caiu em desuso, mas que vigorou por muitos
séculos é aquele que diz que o direito de edificar no solo urbano é ilimitado. Ad ínferos, ad
eternus, ou seja, o proprietário (essa é uma visão muito privatista), tem direito de edificar no
seu imóvel o quanto ele quiser. Sem nenhuma limitação, o máximo que ele quiser para o céu
(ad eternus) ou para o inferno (ad ínferos).
Essa forma de conceber o direito à edificabilidade vigorou por vários séculos, sem nenhum
controle e evidentemente que hoje não há nenhum país civilizado que adote esse modelo,
porque era uma visão muito privatista, e se cada um fizer o que bem entender com seu imóvel,
ele começa a bagunçar a cidade e causar danos a imóveis vizinhos.
O segundo modelo é aquele radicalmente contrário a esse, que separa completamente o direito
à propriedade imóvel urbana do direito à edificabilidade. Esse modelo foi adotado na Itália,
adotado na Espanha.
É um modelo que diz que você proprietário de um imóvel urbano e por isso você não tem
necessariamente o direito à edificabilidade. E se o seu direito a edificabilidade não surgir, nem
por isso o domínio o seu direito à propriedade foi sacrificado, não cabe sequer indenização,
porque são dois direitos completamente distintos.
Nesses sistemas que atacam completamente os dois institutos, o direito à edificabilidade vai
surgir quando um plano urbanístico para aquela área for aprovado e ele contemplar o direito a
edificabilidade. Porque ele pode dizer que não vai ter edificabilidade no seu imóvel e você não
vai receber nada.
Esse modelo é muito apropriado para a Itália, que tem um enorme patrimônio cultural e
histórico, e o proprietário de um no centro de Roma vai botar um prédio lá e vai começar a
trincar um Coliseu da vida, uma coisa que está lá há séculos e séculos.
Então essa forma de apartar o direito de propriedade e o de edificabilidade é muito própria de
países que têm um grande patrimônio cultural, um grande museu a céu aberto como a Itália e a
Espanha.
Não foi o modelo adotado no Brasil. Qual o modelo adotado no Brasil? É um modelo
intermediário.
O modelo adotado no Brasil é que o direito à propriedade imóvel urbana implica em direito à
edificabilidade, mas até o coeficiente de aproveitamento básico.
O seu direito a edificabilidade é limitado pela lei. Significa que tem quem tem propriedade
imóvel urbana tem o direito de edificar, mas não ad ínferos ou ad eternos. Vai edificar até um
limite legal. Que limite é esse? O coeficiente de aproveitamento básico.
Explico: Isso surgiu na França, esse é o modelo francês. O coeficiente de aproveitamento,
como diz aqui o estatuto da cidade, é a relação entre a área edificável e a área do terreno.
Portanto, o coeficiente de aproveitamento, ele dá o potencial construtivo daquele imóvel.
Digo de outra forma, o coeficiente de aproveitamento é a relação, é um índice que mede a
relação do potencial na sua projeção vertical, do volume que eu posso construir no meu imóvel.
Então vamos dizer que o coeficiente de aproveitamento é igual a 1. Isso significa que dentro do
meu lote que tem 200m2, eu posso construir um volume de 200m2.
Só que em geral eu não posso ocupar a minha construção usando todo o meu terreno, porque
em geral eu tenho que obedecer a recuos e afastamentos, por uma questão de aeração, de
insolação. Então a área edificável é essa e isso dá-se o nome de taxa de ocupação.
A taxa de ocupação estabelece o limite dentro do total do meu lote onde eu posso edificar e o
coeficiente de aproveitamento o volume que eu posso edificar na projeção vertical. Se ele é
igual a 1, significa que eu posso edificar 100% do tamanho do meu lote. Mas aonde? Nos
limites demarcados pelos recuos e afastamentos que é algo chamado de taxa de ocupação.
Se o coeficiente de aproveitamento, que quem vai dizer isso é o PDOT, e ele é variável em
determinadas áreas da cidade. Se o coeficiente de aproveitamento for igual a 8, qual é o no
meu exemplo o volume que eu tenho para edificar? Oito vezes o valor do meu terreno.
8x200=1.600m2 de construção. Nesse caso, o meu imóvel vai ficar bastante volumoso e
obviamente que é provável que você vai ter direito de construir vários pavimentos. Você não vai
construir uma casa com o um pé direito de 1.600m 2, senão vai ficar parecendo aquelas igrejas
de Barcelona que o Galdi fez, a Sagrada Família.
Obviamente nesse caso que a legislação te dê vários gabaritos, que vão ser os pavimentos,
você vai construir um prédio de oito, nove, dez pavimentos.
1
Qual que é o coeficiente de aproveitamento normal? O normal é de 1, 1 . Mas pode acontecer
2
de ter coeficiente de aproveitamento 8, 10, 12? Pode. Águas Claras, que pode ter prédios
altíssimos. E acima disso? Acima disso é solo criado. Acima disso é outorga onerosa do direito
de construir. Acima disso, se é onde o plano diretor autorizar, você pode comprar potencial
construtivo. Solo criado, solo artificial.
Então vamos dizer que para essa área aqui, o coeficiente de aproveitamento básico é de 1 e o
coeficiente de aproveitamento máximo, essas são as duas espécies, é de 4. Qual o potencial
construtivo que eu tenho aqui? 3. O normal é eu construir 100% do volume total do meu lote.
Isso é o normal, isso já está dentro do meu direito de propriedade. Eu entro lá com o pedido de
licença, pago a taxa e já posso construir.
Acima disso, o PDOT, sempre o PDOT vai dizer se incide ou não esse instrumento. Acima
disso, eu tenho que verificar se o plano diretor autoriza. Se autorizar eu vou ao poder público e
compro esse potencial construtivo e pago a mais. Isso é outorga onerosa do direito de
construir. Isso é uma forma de densificar mais a área.
Por isso que não pode ser para o município inteiro. Qual é o grande risco aqui? É alguém
chegar para o prefeito em épocas de crise e falar assim: "Sr. prefeito descobrir um novo IPTU".
Entre aspas, porque isso não tem natureza tributária. Como assim? "É o seguinte, vamos jogar
no plano diretor aqui um coeficiente de aproveitamento baixo para todo município, e a gente
coloca um coeficiente de aproveitamento máximo bem alto para todo o município e sai
vendendo potencial construtivo".
Isso não é planejamento sério. Isso é forma de utilizar o instrumento para fins arrecadatórios. O
cara vai fazer o quê? Ele vai verticalizar a cidade inteira, vai causar um baita problema, um
problema irremediável para aquela cidade. Porque você tem cidades que começam a se
verticalizar sem a estrutura adequada. Vamos ver o que o diz o estatuto da cidade:
Muito bem, esse é o solo criado. O art. 29 traz um outro instrumento parecido com esse: "O
plano diretor poderá fixar áreas nas quais poderá ser permitida alteração de uso do solo,
mediante contrapartida a ser prestada pelo beneficiário".
Na outorga onerosa do direito de construir eu vou vender potencial construtivo entre o básico e
o máximo, aonde o plano diretor autorizar, nos limites traçados pela lei municipal específica
baseada no plano diretor.
Na alteração onerosa de uso do solo, eu vou montar o zoneamento e esse instrumento é muito
criticado pela doutrina. É nesse instrumento, a maioria dos autores crítica ao ponto de dizer que
deveria não utilizar e que isso não deveria ter entrado no estatuto das cidades. Por que?
Porque ao mudar o zoneamento você começa a misturar os usos que não são compatíveis e
começa a bagunçar com toda a cidade, tirando a qualidade de vida das pessoas.
Imagina o seguinte: você juntou a vida inteira dinheiro, trabalhou 20, 30 anos, e comprou
aquela casa no Lago Norte que era o sonho da sua vida. Beleza! Seis meses depois o seu
vizinho foi lá, porque o plano diretor autoriza, pagou uma outorga onerosa de alteração de uso
e transformou o uso residencial em uso misto. O que ele colocou lá do lado da sua casa?
Vamos colocar uma coisa bem pior, na boate vai ter isolamento acústico. Ele colocou um buffet
infantil, é só Show da Xuxa de quinta-feira a domingo, naquela altura. Aquela quadra que era
sossegada agora é aquele monte de gente, o cara para na frente da sua garagem e virou
aquele inferno. Olha o resultado. Era um uso eminentemente residencial, passou a uso misto e
acabou com a qualidade de vida de todos os moradores daquela quadra.
O perigo desse instrumento é ele ser utilizado de maneira desenfreada e destruir com o
zoneamento. O zoneamento é um instrumento poderoso de planificação. Porque no
zoneamento eu falo aqui é só residencial, aqui é uso misto, mas não pode ter essas e essas
atividades, aqui é uso só industrial, aqui é só serviços, aqui é só área de comércio. Eu
organizo, eu ordeno a cidade. E quando você mexe com isso por causa de dinheiro, o poder
público na ânsia de querer arrecadar em época de baixo orçamento como agora, sai vendendo
isso e sai causando um monte de problema na planificação da cidade.
Uma coisa é o seu vizinho pagou outorga onerosa de alteração de uso e colocou lá um
escritório de advocacia, que funciona de segunda a sexta-feira em horário comercial, que não
faz barulho. Entra e sai um carro e tal, nada mais. Diferente de transformar aquilo em um
comércio, em um buffet infantil, uma boate, alguma coisa que faz barulho que gera muito
problema, porque tem muita situação de pessoas, isso não é apropriado em uma área
eminentemente residencial.
Esse instrumento é um instrumento bem perigoso e bem complicado. E também, ele vai ser
disciplinado pela lei municipal específica e os recursos também têm que ser utilizados na foram
do art. 26.
No PDOT nós temos as áreas em que pode ser aplicada a outorga onerosa de direito de
construir (o solo criado), a zona urbana do conjunto tombado, áreas de dinamização, áreas
objeto das operações consorciadas, áreas viabilização de interesse específico e temos áreas
onde pode ser utilizada. E temos as áreas onde pode ser utilizada a CONALT também. Eu
quero chamar a atenção para esse julgado, esse recurso extraordinário, julgado lá no Supremo
em 2008, pelo Min. Eros Roberto Grau em que foi definido, é um caso lá de Santa Catarina,
qual é a natureza jurídica da outorga onerosa do direito de construir, do solo criado? Não se
trata de tributo. Por que que alegavam isso? Porque as pessoas que foram atingidas, elas
diziam que tinha sido feito por ato não aprovado por lei, e para vetar ou criar tributo, só por lei.
E aí o Supremo bateu o martelo e disse que não é tributo, não é imposto. É um ônus, é uma
faculdade que é atribuível ao proprietário do imóvel. E, portanto, não segue o regime jurídico
tributário.
Aluno: Você falou que na outorga você altera o coeficiente de construção. Essa outorga de
alteração onerosa de alteração do valor do coeficiente de construção, você não altera a
destinação do zoneamento urbano?
Professor: Não, o zoneamento é o ONALT.
Aluno: Onde está previsto o ONALT?
Professor: O ONALT está no art. 29 do Estatuto da Cidade.
Aluno: Não está no art. 4º?
Professor: Está arrolado, mas ele é disciplinado pelo art. 29 e lá só está arrolado. No art. 4º
também está arrolado, junto com o solo artificial.
Aluno: Eu poderia construir primeiro e depois em uma situação de mal planejamento e o poder
público poder vir depois cobrar a outorga?
Professor: Se constrói sem planejamento, então estou pressupondo que ele construiu de
maneira ilegal. Se ele construiu de maneira ilegal sem licenciamento, aí está sujeito a tudo isso.
Claro! Porque se lá dizia que não podia construir e ele construiu, se lá dizia que só podia
construir o potencial de 1 e ele construiu 8, ele construiu ilegal. O correto seria uma ação
demolitória, embargar a obra, ação demolitória, o código de edificações do DF trata disso. É
possível que depois para regularizar a situação venha o plano diretor e diga: "então está, nessa
área já que muita gente construiu assim, vai ser cobrada a título de ODIR, é possível? Sim e a
pessoa vai ser obrigada a pagar.
2
Texto revogado: § 4º Havendo legislação urbanística que estabeleça coeficiente de aproveitamento máximo superior ao fixado
neste Plano Diretor, os interessados terão prazo máximo de dois anos para utilizar o índice em vigor, após o que será aplicado o
índice definido nesta Lei Complementar. (Parágrafo declarado inconstitucional: ADI nº 2009 00 2 017552-9 – TJDFT, Diário de
Justiça de 31/5/2010.)
Lei Orgânica do Distrito Federal, com a redação da
Emenda nº 49, de 2007, ficam assim definidos:
I – na Zona Urbana do Conjunto Tombado, o limite
máximo a ser atingido pelos coeficientes de
aproveitamento será definido no Plano de Preservação
do Conjunto Urbanístico de Brasília, observado o
disposto no art. 40, § 5º;
II – na Zona Urbana de Uso Controlado I, o limite
máximo a ser atingido pelos coeficientes de
aproveitamento é 4,5 (quatro inteiros e cinco décimos);
III – na Zona Urbana de Uso Controlado II, o limite
máximo a ser atingido pelos coeficientes de
aproveitamento é 4 (quatro);
IV – na Zona Urbana Consolidada, o limite máximo a ser
atingido pelos coeficientes de aproveitamento é 9 (nove);
V – na Zona Urbana de Expansão e Qualificação, o
limite máximo a ser atingido pelos coeficientes de
aproveitamento é 6 (seis);
VI – na Zona de Contenção Urbana, o limite máximo a
ser atingido pelos coeficientes de aproveitamento é 1
(um), aplicado sobre o percentual de área passível de
ocupação, conforme disposto no art. 78. (Inciso com a
redação da Lei Complementar nº 854, de 2012.) 3
3
Texto original: VI – na Zona de Contenção Urbana, o limite máximo a ser atingido pelos coeficientes de
aproveitamento é 1 (um), aplicado sobre a área das unidades autônomas, conforme disposto no art. 78.
estabelecidos no caput. (Parágrafo acrescido pela Lei
Complementar nº 854, de 2012.)
Seção V
Da Transferência do Direito de Construir
O plano diretor vai dizer exatamente o que é cada uma das áreas, agora a gente não tem
tempo. Só para você ter uma ideia de onde que é possível tirar potencial e de onde que é
possível levar. Isso pode acontecer com dois imóveis do mesmo particular. Isso pode acontecer
fazendo permuta de imóvel com o poder público, tem várias possibilidades. De novo, qual o
risco disso aqui? Resolver o problema dessa área que está muito densificada e não tem
infraestrutura e transferir o programa para outra área. Porque eu retiro potencial construtivo
daqui e eu vou resolver o problema. Mas aí eu aumento demais a densidade em outra área e
vou transferir o problema para lá. E tomo cuidado ao fazer isso. Por isso que tudo passa pelo
principal instrumento de planejamento, que é o Plano Diretor. Vocês viram que todos os
instrumentos que a gente descobriu, passa sempre pelo Plano Diretor que vai fazer um
planejamento global.
E por fim a gente chega no instrumento de renovação urbana por excelência. Operação urbana
consorciada é o primeiro instrumento, a grande aposta, e talvez a forma de intervenção do
Estado na propriedade mais sofisticada que tem na legislação brasileira. Essas operações
urbanas consorciadas, elas não surgiram com o estatuto da cidade. Legislações dos grandes
municípios já tinham com outros nomes instrumentos similares, em SP chamavam-se
operações interligadas, no Recife existiam essas operações, em BH, em Porto Alegre, em
Curitiba, no RJ. Todas as legislações dos grandes municípios anteriores ao estatuto da cidade
tinham algum instrumento na legislação local que fazia as vezes dessas operações urbanas
consorciadas. Agora com o estatuto da cidade nós temos uma norma geral para qualquer
município utilizar isso aqui. O que é a Operação no estatuto da cidade?
O que é que então vai poder fazer em uma operação consorciada? Eu vou dar um tratamento
diferenciado para aquela área, que precisa de uma regulação urbana. Eu vou mexer nos
índices, de modo a facilitar a regularização de construções feitas em desacordo com a
legislação. Eu vou dar incentivo para as pessoas que utilizam de tecnologias que reduzam a
construção e o uso de recursos naturais, então, reaproveitamento de água de chuva, energia
solar, entre outras tecnologias que reduzem ou economizam recursos naturais. E com isso eu
vou melhorar a infraestrutura daquela área, recuperar aquela área, desde recuperação de
calçamento, recuperação do asfalto, inversão de vias de rua para melhorar o trânsito, retirada
de pessoas que utilizam sem autorização do espaço público, então tem invasão de praça,
camelô sem autorização na calçada. Eu vou reorganizar toda essa área. O que vai constar da
operação urbana consorciada? Vai constar o plano de operação urbana consorciada. Nós já
vimos que o planejamento não se confunde com o plano. A operação urbana consorciada exige
um planejamento. E para fazer esse planejamento ele tem que ser participativo. Eu tenho que
chamar todo mundo para dialogar. Por isso que aqui em cima, quando fala o que é uma
operação urbana consorciada, tem que ter a participação de todos. Os proprietários daquela
área, os moradores que não são necessariamente proprietários, são inquilinos, os usuários
permanentes e investidores. Muitas áreas durante o dia nas grandes cidades, têm uma grande
circulação de pessoas. Na região da 25 de março em SP, por dia circulam quase um milhão de
pessoas, fora o final de semana, feriado, fim de ano. E à noite fica um breu, não fica ninguém,
porque à noite é uma região perigosa. Óbvio que eu preciso chamar também os usuários
permanentes, que não são moradores e nem proprietários, porque eles estão todo dia
trabalhando naquela região, por isso precisam ser ouvidos. E investidores, que foi um
mecanismo que a lei criou para captar recurso privado e melhorar a infraestrutura pública, a lei
criou um mecanismo de parceria pública privado lato sensu. Isso é uma operação urbana
consorciada. Então eu vou chamar todo mundo para dialogar, em cima disso eu vou fazer um
planejamento (fazer audiências públicas, etc.…), e ao final desse planejamento eu retiro um
plano, que é o plano de ação, um plano que consubstancia o processo de planejamento. O que
vai constar desse plano de operação urbana consorciada? Ele vai ter no mínimo, como
conteúdo mínimo, definir a área, então eu vou delimitar uma determinada área, p.ex.: a região
da Cracolândia e definir o quadrilátero que eu vou atingir.
Um programa básico de ocupação da área, um programa de atendimento socioeconômico da
população afetada. Então lá na Cracolândia você tem a população de usuários de crack de
drogas, você tem a população dos moradores de rua, você tem a população de prostitutas, de
ambulantes, ou seja, você tem uma série de pessoas que vão ser atingidas e eu tenho que ter
um programa de atendimento especial para essas pessoas.
Finalidades da operação: aquelas três transformações urbanísticas estruturais, melhorias
sociais e a valorização ambiental.
Estudo prévio de impacto de vizinhança (EIVI), que está disciplinado no próprio estatuto da
cidade, e que vai servir dentro do processo de licenciamento, que ele é prévio, não é a
posteriori, como diz a legislação do DF, ele é prévio para num processo de licenciamento
estabelecer quais são as externalidades positivas e negativas. É como ela potencializa essas
externalidades positivas, ou seja, as coisas boas que vão levar, a consequência da edificação
da edificação e quais as potencialidades negativas. Vai impactar o trânsito? Vai impactar as
pessoas que circulam por lá? E como eu minimizo isso dentro de um processo de
licenciamento? O EIVI é que vai pautar. Então pode ser por uma compensação urbanística,
ambiental.
A contrapartida a ser exigida dos proprietários, usuários permanentes e investidores privados
previstos no art. 32.
Aluno: Professor deixa eu te fazer uma pergunta sobre essa questão das licenças. Como é que
fica a segurança jurídica nisso? Porque entra governo e sai governo, você tem uma licença
para construir e daqui a pouco você não pode mais....
Professor: A segurança jurídica fica um pouco afetada, mas não é assim do dia para a noite,
vamos fazer uma alteração urbana e impõe. Tem que ter participação de todo mundo, tem que
ser dialogado, tem que ser discutido com o legislador, não só quando ele estabelece qual a
área que vai ter alteração urbana consorciada no plano diretor, que é a primeira lei, que tem
audiências públicas, mas depois da aprovação da lei específica que aprova o plano diretor.
Então não é do dia para noite, você tem duas leis sendo discutidas com o legislador e
necessariamente com a sociedade, para dizer que aqui vai ter operação urbana consorciada,
porque essa área está degradada e em que medida vai ter operação urbana consorciada. Ex.:
vamos fazer uma operação urbana consorciada no começo da W3 Norte. Todas as licenças de
funcionamento daquelas oficinas, que estão inclusive em desacordo com o plano diretor atual
são nulas. Então como vai ficar a segurança jurídica? Segurança jurídica é nenhuma, pois o
plano diretor já diz que lá não pode ter oficina. Ali é área residencial e o comércio não admite o
uso de oficina. Mas está cheio de oficina lá. Por quê? Porque o cara pela a licença e entra com
uma ação na justiça e consegue uma liminar para continuar funcionando lá. E é uma área
residencial. O comércio ali deveria ser local, de farmácia, algum serviço, lojinhas e não oficina,
que é uma coisa densa que faz barulho, resíduo e que deve ir para o SOF Norte ou SOF Sul
numa cidade planejada. Então isso vai ficar mitigado, evidentemente, mas não é assim do dia
para a noite, é uma forte instabilidade das relações jurídicas.
Esse potencial adicional de construção são títulos que podem ser previstos, em geral são
previstos, o poder público calcula o futuro potencial construtivo que ele pode ofertar, vende isso
ao mercado, investidores privados compram isso e esse dinheiro só pode ser utilizado na
própria operação urbana consorciada. Para quê? Para fazer todas as obras de reestruturação
da área. E ao final eu vou ter uma área renovada com potencial construtivo, e quem investiu
pode ter um bom retorno. Porque eu comprei o potencial construtivo quando ele valia X e
sendo um sucesso a operação urbana consorciada meu potencial construtivo vai valer X + Y.
Ex.: Qual operação urbana consorciada que está em curso hoje mais famosa? Do Porto
Maravilha do RJ. Foi adotado um modelo de renovação do porto do RJ, em cima do que
Barcelona fez na Olimpíada de 92 na região de Barceloneta, que é uma das regiões mais
valorizadas, que é tipo um porto, mais valorizadas de Barcelona.
Então nós vamos renovar essa área, que era extremamente desgastada, extremamente
desqualificada. Foi montado um plano de operação urbana consorciada em cima do
planejamento que foi dialogado, aprovado por lei, pelas Câmara de Vereadores, emitiu-se
esses títulos e pouca gente se interessou em comprar.
À época a Dilma era presidente e era coligada com o Prefeito e com o Governador do RJ.
Interessada que isso fosse um legado para a Copa do Mundo, ela determinou que os bancos
federais entrassem nessa história. Resultado: o BB, CEF e BNDES adquiriram quase todos os
CEPACs do Porto Maravilha. Entrou uma dinheirama. E tem notícia de corrupção e está sendo
apurado na Lava Jato. Mas ter corrupção ou não, o fato é que as obras começaram a andar e
começou a mudar a cara daquela região. Investidores privados disseram “opa, ali vai dar um
bom hotel, um bom prédio de serviços, vai ser uma região valorizada. Como eu faço para
construir lá? ” Procura quem tem CEPACs. Aí a CEF vai vender pelo mesmo preço que ela
adquiriu? Não, ela vai colocar um ágio. Eu comprei por X e você quer comprar agora? Então
vamos negociar e vou vender por X+Y.
Resultado, os bacos estatais que tiveram um uso político nessa história, acabaram lucrando
uma grana com isso, porque eles eram detentores do potencial construtivo e a iniciativa
privada, as construtoras, o mercado imobiliário ficou doido quando viu o resultado disso aqui.
Então é uma forma de trazer investimento privado para recuperar a infraestrutura pública por
meio desse CEPAC.
Seção VII
Da Operação Urbana Consorciada
Art. 181. A operação urbana consorciada é o conjunto
de intervenções e medidas coordenadas pelo Distrito
Federal, com a participação dos proprietários,
moradores, usuários permanentes e investidores
privados, com o objetivo de alcançar, em uma área,
transformações urbanísticas estruturais, melhorias
sociais e valorização ambiental.
§ 1º Cada operação urbana consorciada será criada por
lei específica, de acordo com as disposições dos arts. 32
a 34 da Lei federal nº 10.257, de 10 de julho de 2001 –
Estatuto da Cidade e o previsto neste Plano Diretor.
§ 2º Caberá ao órgão gestor do desenvolvimento
territorial e urbano do Distrito Federal a iniciativa, a
coordenação, o acompanhamento e o monitoramento de
todo o projeto da operação urbana consorciada.
São áreas de comércio intenso, próximo dos terminais, que vão ter vários serviços, para retirar
camelôs das ruas, são as feiras organizadas, que até agora não deu muito certo. Seriam áreas
objeto de operação urbana consorciada. Verifique que é uma quantidade grande. Não significa
que tudo vai ser feito, ao contrário, tem pouca coisa que está sendo feita, mas aqui há uma
autorização para que seja feito.
Ex.: Operações urbanas consorciadas nas grandes cidades. Na cidade São Paulo, temos três,
a da Água Branca, Água Espraiada e a da Faria Lima. A da Faria Lima é de longe a mais
famosa. Ela começou antes do Estatuto da Cidade e hoje é uma região empresarial toda
reformulada, por conta de uma operação urbana consorciada. A do Rio é a mais famosa, que
seria o legado das Olimpíadas, do Porto Maravilha. Na cidade de Belo Horizonte, nós temos a
Estação Barreiro. E em Porto Alegre a Lomba do Pinheiro, que também está relativamente
avançada. Ah! Em Curitiba temos a Linha Verde, no mesmo modelo que Belo Horizonte fez
aquela linha verde que vai para o aeroporto. Isso aqui são exemplos, apenas para você saber
onde estão sendo desenvolvidos.
Continuando a matéria, vamos falar de parcelamento de solo urbano. Por que nós vamos falar
de Lei de Parcelamento de Solo Urbano? Porque essa matéria é indispensável para estudar a
regularização fundiária urbana.
A regularização fundiária urbana de assentamentos informais, surge exatamente porque
alguém descumpriu a lei de parcelamento do solo. A ideia de parcelamento do solo é uma das,
e, talvez a principal atividade urbanística voltada à expansão das cidades. Como eu faço a
cidade crescer? Eu vou fracionando a terra rural para fins urbanos. Eu vou transformando a
gleba que é sinônimo de área rural em área para fins urbanos com o nascimento das ruas e as
unidades, que são os lotes. Quando eu fraciono a terra, a gleba, vão surgindo lotes, que são
edificações, que são unidades vocacionadas à edificação para fins urbanos.
4.1.1 - INTRODUÇÃO
→ é uma das atividades urbanísticas voltadas ao ordenamento territorial e à expansão da
cidade
→ Lei n° 6.766/79 (Lei do Parcelamento do Solo – LPS), conhecida como Lei Lehmann
Hoje o parcelamento do solo está regido por uma lei muito antiga, Lei nº 6.766/79, que é
conhecida como a Lei Lehmann.
Lehmann era o sobrenome alemão do então deputado federal, salvo engano por Santa
Catarina ou Paraná, que foi o autor do anteprojeto. Então essa lei ficou conhecida com o
sobrenome dele. Existem vários projetos no Congresso Nacional em tramitação para substituir
a lei de parcelamento do solo. Um deles, que está em fase mais adiantada, vai transformar a
ideia de parcelamento do solo em uma lei de renovação do solo urbano. Uma outra visão. Mas
enquanto não aprovado, a gente vai usar a velha lei de parcelamento do solo urbano mesmo.
Com o projeto eu vou ter o arruamento, calçamento, abertura de ruas, lotes, e tudo mais.
Estando tudo correto, de acordo com a legislação, as licenças sendo expedidas, aí eu vou para
o registro imobiliário, chamada civil ou registraria.
Eu dou entrada no registro imobiliário, do projeto e do contrato padrão. E lá, o registrador vai
analisar se está tudo correto e vai começar a abrir as matrículas dos imóveis, identificando as
nulidades. Interessante que essa lei é de 1979, mas ela já tinha uma preocupação bastante
precoce com o Direito do Consumidor. Em 79 nem se falava em consumidor em fornecedor,
pois o CDC é de 1990. Mas a Lei traz uma série de cláusulas de ordem pública para proteger o
consumidor adquirente das futuras nulidades, que vão ser dadas em promessa de venda.
Então tem um projeto que uma empreiteira está lançando, ela faz uma grande propaganda,
você é chamado para ir lá para o stand conhecer, vai ser um prédio, vai ser um condomínio e
você se interessa e você firma uma promessa de compra e venda. Que garantia você vai
receber?
A LPS traz lá uma série de garantias para evitar que você tome um calote de algo que você
tem uma promessa de venda ainda, nem está implantado.
Se estiver tudo correto, na fase registral estiver tudo certo, abre as matrículas tudo bonitinho,
faz o memorial descritivo, faz a incorporação, paga tudo (o pagamento disso é bem caro) aí eu
vou para a fase final que é a fase urbanística. A fase urbanística consiste na realização das
obras de infraestrutura. Aí sim eu vou fazer a abertura das ruas, piqueteamento, aí é a fase
material propriamente dita. Aí é que está autorizado a começar a edificar, fazer o arruamento,
estabelecer onde serão os lotes, demarcar, se é um prédio, vai se começar a construir o prédio,
fazer a fundação, etc. É nesse momento que há o repasse da parcela da área para o poder
público ou DF. É chamado de concurso voluntário e eu vou tratar daqui a pouco.
Em regra, o lote tem 125m 2 de área mínima e 5m de frente. Esse é o tamanho normal de lote.
O detalhe é que a Constituição lá no art. 183, diz que a usucapião especial para fins urbanos é
no máximo de 250m2, que é exatamente o dobro do tamanho mínimo do lote da LPS. Não é à
toa que a CF fala de 250m2. Essa é a regra. Mas existem exceções
Art. 4º, II - os lotes terão área mínima de 125m² (cento e
vinte e cinco metros quadrados) e frente mínima de 5
(cinco) metros, salvo quando o loteamento se destinar a
urbanização específica ou edificação de conjuntos
habitacionais de interesse social, previamente aprovados
pelos órgãos públicos competentes;
Como o lote é a unidade dotada de infraestrutura básica, a lei teve que tratar o que era
a infraestrutura básica. Então o mínimo nos parcelamentos normais é constituir um lote
de equipamentos urbanos: constituída pelos equipamentos urbanos de escoamento
das águas pluviais, iluminação pública, esgotamento sanitário, abastecimento de água
potável, energia elétrica pública e domiciliar e vias de circulação (§ 5º, art. 2º, LPS com
redação dada pela Lei nº 11.445, de 2007)
Veja que não exige calçamento, asfaltamento, isso é o mínimo. O mínimo para poder
falar que aquilo é um parcelamento lícito do solo.
Consistirá, no mínimo, de: (§ 6º, art. 2º, LPS incluído pela Lei nº 9.785, 29.1.99):
I - vias de circulação; (Incluído pela Lei nº 9.785, 29.1.99)
II - escoamento das águas pluviais; (Incluído pela Lei nº 9.785, 29.1.99)
III - rede para o abastecimento de água potável; e (Incluído pela Lei nº 9.785, 29.1.99)
IV - soluções para o esgotamento sanitário e para a energia elétrica domiciliar.
(Incluído pela Lei nº 9.785, 29.1.99)
Eu nem preciso ter sistema de esgotamento, pode ser fossas e nem ter energia elétrica
já instalada. Para parcelamento para população de baixa renda, a lei em 99 flexibilizou
o que é infraestrutura.
Para quê? Para facilitar a regularização fundiária dos parcelamentos voltada para a
população de baixa renda.
Veja que a infraestrutura básica dos parcelamentos em geral é bem melhor do que a lei
exige para a população de baixa renda, mas isso é para uma flexibilização para poder
regularizar mais facilmente essas áreas.
INTERVALO.