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RESUMO: Lei 10.

257/10

O Estatuto da Cidade visa estabelecer diretrizes gerais da Política Urbana e especialmente


regulamentar o artigo 182 da Constituição Federal, fixando os princípios, objetivos, diretrizes, e
instrumentos de gestão urbana.

No que tange especificamente ao parcelamento de solo, estabelece nas diretrizes gerais:


1) o ordenamento e controle do uso do solo, de forma a evitar o parcelamento do solo, a edificação ou
o uso excessivos ou inadequados em relação à infra-estrutura urbana;

2) o planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das


atividades econômicas do Município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar e
corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente;

3) a simplificação da legislação de parcelamento, uso e ocupação do solo e das normas editalícias, com
vistas a permitir a redução de custos e o aumento da oferta dos lotes e unidades habitacionais.
Determina a utilização de instrumentos para atingir os objetivos da lei: a) planos nacionais, regionais e
estaduais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; b) planejamento das
regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões; c) o planejamento municipal, em
especial, o Plano Diretor, a disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo, o zoneamento
ambiental, plano plurianual; d) institutos tributários e financeiros; e e) institutos jurídicos e políticos.

Permite que lei municipal específica determine o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios
para os imóveis subutilizados – entendendo-se como tal aqueles que não atinjam o aproveitamento
mínimo definido no Plano Diretor ou em legislação dele decorrente. Neste caso, a Municipalidade
poderá determinar as condições e os prazos para que sejam implementadas essas novas condições.

Pelo Projeto de Lei, considerava-se também imóvel subutilizado aquele que estivesse sendo utilizado
em desacordo com a legislação urbanística ou ambiental. Essa previsão legal – ou melhor, o inciso II do
art. 5º- foi vetada pelo Presidente da República por restringir o direito fundamental de propriedade,
assegurado pela Constituição Federal. Cumpre esclarecer que a CBIC, representando as entidades da
construção civil, dentre elas o Secovi-SP e o SindusCon-SP, solicitou ao Presidente da República que
esse dispositivo legal fosse vetado.

Será o Plano Diretor quem delimitará as áreas nas quais deve ser aplicado o parcelamento, edificação
ou utilização compulsórios, considerando-se a existência de infra-estrutura e de demanda para
utilização.

Inicialmente, o proprietário será notificado para cumprir essa determinação municipal. Estabelece o
Estatuto os prazos máximos de: a) um ano para que o proprietário protocolizar no órgão municipal
competente o projeto do empreendimento; e b) de dois anos para que o proprietário do imóvel inicie
as obras do empreendimento. Ressalte-se que essa notificação deverá ser averbada no Cartório de
Registro de Imóveis e será procedida por um funcionário público municipal ou por edital, se frustrada a
tentativa de notificação.

Caso não sejam realizados o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios, poderá a Prefeitura
aplicar alíquotas progressivas para o IPTU pelo prazo de 05 anos. Depois desse prazo, o Município
poderá desapropriar o imóvel, com pagamento em títulos da dívida pública.

A alíquota do IPTU não poderá exceder a duas vezes o valor cobrado no ano anterior e não poderá ser
superior a 15% (quinze por cento). Nesse caso, não se permite ao município conceder isenção ou
anistia para os valores cobrados do proprietário
Cumpre esclarecer que, não obstante a CBIC, juntamente com o SindusCon-SP e o Secovi-SP, tenha
solicitado o veto presidencial ao dispositivo legal que fixa a progressividade de até 15% para a alíquota
do IPTU, por entender que viola o princípio constitucional da capacidade contributiva, o Presidente não
apôs seu veto a este artigo.

Como já dito, decorridos cinco anos de cobrança de IPTU progressivo, poderá a Municipalidade
proceder à desapropriação do imóvel, com pagamento em títulos da dívida ativa, que serão, por sua
vez, resgatados no prazo de até dez anos, assegurados o valor real da indenização e os juros legais de
seis por cento ao ano.

O valor real da indenização deverá refletir o valor da base de cálculo do IPTU, descontado o montante
incorporado em função de obras realizadas pelo Poder Público na área onde o mesmo se localiza após
a notificação; não computará expectativas de ganhos, lucros cessantes e juros compensatórios.

Na hipótese de desapropriação, o Município deverá, no prazo máximo de 05 anos, proceder ao


adequado aproveitamento do imóvel. O aproveitamento do imóvel poderá ser efetivado diretamente
pelo Poder Público ou por meio de alienação ou concessão a terceiros, mediante procedimento
licitatório.

É criado o usucapião especial de imóvel urbano. Aqui, o possuidor de imóvel de até 250 m², que o
possuir pelo período de cinco anos, poderá adquirir seu domínio, desde que não seja proprietário de
outro imóvel. Cria também o usucapião coletivo, para a hipótese em que não for possível identificar os
terrenos ocupados (nesse caso, para áreas urbanas superiores a 250m² e para ocupantes de baixa
renda), desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.

Na hipótese de usucapião especial coletivo de imóvel urbano, este será declarado pelo Juiz, mediante
sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis, devendo o juiz, na
sentença, atribuir igual fração ideal de terreno a cada possuidor, independentemente da dimensão do
terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo
frações ideais diferenciadas.

No projeto de Lei, havia o instituto da concessão de uso especial para fins de moradia: aquele que
possuísse como sua área ou edificação urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados situada
em imóvel público, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia
ou de sua família, teria o direito à concessão de uso especial para fins de moradia em relação à referida
área ou edificação, desde que não fosse proprietário ou concessionário de outro imóvel urbano ou
rural.

Especificamente com relação à concessão de uso especial para fins de moradia, esclarecemos que o
Presidente vetou todos os dispositivos legais que regiam o assunto, por entender que a redação dada
aos artigos contraria o interesse público. Ressaltamos que a CBIC solicitou o veto presidencial aos arts.
15, 16, 17, 18, 19 e 20.

Permite a Lei 10.257 que Lei Municipal, baseada no Plano Diretor, delimite as áreas em que incidirá o
direito de preempção e o prazo de vigência (preempção: é quando o Município tiver preferência na
aquisição de imóvel urbano objeto de alienação onerosa entre particulares).

A preempção somente poderá ser utilizada quando o Poder Público precisar de áreas para, entre
outras hipóteses: execução de programas e projetos habitacionais e de interesse social; b)
ordenamento e direcionamento da expansão urbana; c) implantação de equipamentos urbanos e
comunitários; d) criação de espaços públicos de lazer e áreas verdes.

Nesse caso, o proprietário que tiver imóvel em que incide a preempção deverá notificar o Município
quanto à sua intenção de aliená-lo. Nesta hipótese, o proprietário do imóvel anexa à notificação as
condições que se dará o negócio; caso venha a realizar em condições diferentes, a venda será
considerada nula para todos os efeitos legais.

Se a venda a terceiros for considerada nula, o Município poderá adquirir o imóvel pelo valor da base de
cálculo do IPTU ou pelo valor indicado na proposta apresentada, se este for inferior àquele.

É criada a outorga onerosa do direito de construir que deverá ser definida pelo Plano Diretor. Ele
poderá fixar as áreas nas quais o direito de construir poderá ser exercido acima do coeficiente de
aproveitamento básico adotado – definida como a relação entre área edificável e a área do terreno-,
mediante contrapartida a ser prestada pelo beneficiário.

Também será o Plano Diretor quem definirá os limites máximos a serem atingidos pelos coeficientes e
aproveitamento como fixar as áreas em que poderá ser utilizada a outorga onerosa.

Institui a operação urbana consorciada. Conceitua operação urbana consorciada como o conjunto de
intervenções e medidas coordenadas pelo Poder Público municipal, com a participação de
proprietários, usuários permanentes e investidores privados, com o objetivo de alcançar em uma área
transformações urbanísticas estruturais, melhorias sociais e a valorização ambiental. Poderá ser
prevista na operação urbana consorciada: a modificação de índices e características de parcelamento,
uso e ocupação do solo e subsolo, bem como alterações das normas edilícias, considerado o impacto
dela decorrente.

Será lei específica que aprovará a operação urbana consorciada, devendo prever como deverá ser
operacionalizado o plano da operação urbana consorciada.

Permite o Estatuto da Cidade que Lei Municipal autorize proprietário de imóvel urbano a exercer, em
outro local, o seu direito de construir previsto no Plano Diretor, desde que o imóvel venha a ser
considerado necessário para fins de: preservação ou para programas de regularização fundiária.

Determina ainda que o Município poderá definir por lei os empreendimentos e as atividades privados
ou públicos em área urbana que dependerão de elaboração de estudo prévio de impacto de vizinhança
(EIV) para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação ou funcionamento a cargo do
Poder Público Municipal.

Com relação ao Plano Diretor, determina o Estatuto que será ele o instrumento básico da política de
desenvolvimento e expansão urbana e deverá englobar o território do Município como um todo.

O processo de elaboração do Plano Diretor observará a realização de audiências públicas, ampla


participação da população, publicidade aos documentos produzidos e o acesso de qualquer
interessado aos documentos e informações produzidos. A inobservância e qualquer um dos requisitos
acima citados, ensejará a anulação da lei que instituir o Plano Diretor.

O Plano Diretor será obrigatório: a) para cidades com mais de 20 mil habitantes; b) integrantes de
regiões metropolitanas e aglomerações urbanas; áreas de especial interesse turístico; inseridas nas
áreas de influência de empreendimentos ou atividades com significativo impacto ambiental de âmbito
regional ou nacional.

O plano Diretor deverá conter, no mínimo: a delimitação das áreas urbanas onde poderá ser aplicado:
a)o parcelamento, edificação ou utilização compulsórios; b) o direito de preempção; c) a outorga
onerosa do direito de construir; d) as operações urbanas consorciadas; e) a transferência do direito de
construir.

Define, por último, os instrumentos que deverão ser utilizados visando a gestão democrática da cidade.
São eles: os órgãos colegiados de política urbana, nos níveis nacional, estadual e municipal; b) debates,
audiências e consultas públicas; c) conferências sobre assuntos de interesse urbano; d) iniciativa
popular. Pelo projeto de lei, poderia ser utilizado o referendo popular e plebiscito, mas este dispositivo
legal foi vetado pelo fato de já estar disciplinado pela Lei nº9.709/98.

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