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DA ARRECADAÇÃO DE BEM VAGO – LIVE CORI- MG

Síntese da Live.

Disponível em: Conexão CORI-MG - Regularização Fundiária Urbana (corimg.org)

Autora: Michely Freire Fonseca Cunha1

I – ASPECTOS MATERIAIS

Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se


a propriedade:
I - por alienação;
II - pela renúncia;
III - por abandono;
IV - por perecimento da coisa;
V - por desapropriação.

Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a


intenção de não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não
encontrar na posse de outrem, poderá ser arrecadado, como bem
vago, e passar, três anos depois, à propriedade do Município ou à do
Distrito Federal, se se achar nas respectivas circunscrições.

§ 1º O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas


circunstâncias, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três
anos depois, à propriedade da União, onde quer que ele se localize.

§ 2º Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere


este artigo, quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário
de satisfazer os ônus fiscais.

✓ Cessar atos de posse ou abandono do imóvel pelo proprietário – Independe de


formalização ou observância do art. 108 do CC/02; é ato unilateral com efeitos
previstos na lei.
✓ Intenção de não mais o conservar em seu patrimônio – a ausência de pagamento
de tributos caracterização a “intenção” de forma presumida.

II – ASPECTO PROCEDIMENTAL

1
Michely Freire Fonseca Cunha é autora do Manual de Reurb pela Juspodium e registradora de imóveis
em Virginópolis-MG.
✓ Até a publicação da lei 13.465/17 cada município definia seu procedimento;
✓ A lei 13465/17 trouxe procedimento padrão;
✓ A lei inclui a finalidade da arrecadação:
• Destinar o imóvel aos programas habitacionais,
• Destinar o imóvel à prestação de serviços públicos,
• Destinar o imóvel ao fomento da Reurb-S ou
• O imóvel será objeto de concessão de direito real de uso a entidades
civis que comprovadamente tenham fins filantrópicos, assistenciais,
educativos, esportivos ou outros, no interesse do Município ou do
Distrito Federal.

✓ As regras do procedimento administrativo serão fixadas por “ato do


Poder Executivo”.

Lei nº 13.465/17 Decreto nº 9.310/18


Art. 64. Os imóveis urbanos Art. 73. Os imóveis urbanos
privados abandonados cujos proprietários privados abandonados cujos proprietários
não possuam a intenção de conservá-los não possuam a intenção de conservá-los
em seu patrimônio ficam sujeitos à em seu patrimônio ficam sujeitos à
arrecadação pelo Município ou pelo arrecadação pelo Município ou pelo
Distrito Federal na condição de bem vago. Distrito Federal na condição de bem vago.
§ 1º A intenção referida § 1º A intenção referida no caput
no caput deste artigo será presumida será presumida quando o proprietário,
quando o proprietário, cessados os atos de cessados os atos de posse sobre o imóvel,
posse sobre o imóvel, não adimplir os não adimplir os ônus fiscais instituídos
ônus fiscais instituídos sobre a sobre a propriedade predial e territorial
propriedade predial e territorial urbana, urbana, pelo prazo de cinco anos.
por cinco anos. § 2º O procedimento de arrecadação
§ 2º O procedimento de arrecadação de imóveis urbanos abandonados
de imóveis urbanos abandonados observará o disposto em ato do Poder
obedecerá ao disposto em ato do Poder Executivo municipal ou distrital e, no
Executivo municipal ou distrital e mínimo:
observará, no mínimo: I - abertura de processo
I - abertura de processo administrativo para tratar da arrecadação;
administrativo para tratar da arrecadação; II - comprovação do tempo de
II - comprovação do tempo de abandono e de inadimplência fiscal; e
abandono e de inadimplência fiscal; III - notificação ao titular do
III - notificação ao titular do domínio domínio para, querendo, apresentar
para, querendo, apresentar impugnação no impugnação no prazo de trinta dias,
prazo de trinta dias, contado da data de contado da data de recebimento da
recebimento da notificação. notificação.
§ 3º A ausência de manifestação do § 3º A notificação do titular de
titular do domínio será interpretada como domínio será feita por via postal com
concordância com a arrecadação. aviso de recebimento, no endereço que
§ 4º Respeitado o procedimento de constar do cadastro municipal ou distrital,
arrecadação, o Município poderá realizar, e será considerada efetuada quando
diretamente ou por meio de terceiros, os comprovada a entrega nesse endereço.
investimentos necessários para que o
imóvel urbano arrecadado atinja § 4º Os titulares de domínio não
prontamente os objetivos sociais a que se localizados serão notificados por edital, do
destina. qual deverão constar, de forma resumida,
§ 5º Na hipótese de o proprietário a localização e a descrição do imóvel a ser
reivindicar a posse do imóvel declarado arrecadado, para que apresentem
abandonado, no transcorrer do triênio a impugnação no prazo de trinta dias,
que alude o art. 1.276 da Lei nº 10.406, de contado da data da notificação.
10 de janeiro de 2002 (Código Civil), fica § 5º A abertura do processo
assegurado ao Poder Executivo municipal administrativo de que trata o inciso I do §
ou distrital o direito ao ressarcimento 2º será determinada pelo Poder Público
prévio, e em valor atualizado, de todas as municipal ou distrital ou a requerimento
despesas em que eventualmente houver de terceiro interessado.
incorrido, inclusive tributárias, em razão § 6º A ausência de manifestação do
do exercício da posse provisória. titular de domínio será interpretada como
Art. 65. Os imóveis arrecadados concordância com a arrecadação.
pelos Municípios ou pelo Distrito Federal § 7º Respeitado o procedimento de
poderão ser destinados aos programas arrecadação, o Município poderá realizar,
habitacionais, à prestação de serviços diretamente ou por meio de terceiros, os
públicos, ao fomento da Reurb-S ou serão investimentos necessários para que o
objeto de concessão de direito real de uso imóvel urbano arrecadado atinja
a entidades civis que comprovadamente prontamente os objetivos sociais a que se
tenham fins filantrópicos, assistenciais, destina.
educativos, esportivos ou outros, no § 8º Na hipótese de o proprietário
interesse do Município ou do Distrito reivindicar a posse do imóvel declarado
Federal. abandonado, no transcorrer do prazo de
três anos a que se refere o art. 1.276 da Lei
nº 10.406, de 2002 - Código Civil , fica
assegurado ao Poder Público municipal ou
distrital o direito ao ressarcimento prévio
e em valor atualizado das despesas em que
houver incorrido, inclusive aquelas
tributárias, em razão do exercício da posse
provisória.
Art. 74. Os imóveis arrecadados
pelos Municípios ou pelo Distrito Federal
poderão ser destinados aos programas
habitacionais, à prestação de serviços
públicos, ao fomento da Reurb-S ou serão
objeto de concessão de direito real de uso
a entidades civis que comprovadamente
tenham fins filantrópicos, assistenciais,
educativos, esportivos ou outros, no
interesse do Município ou do Distrito
Federal.

1. Como demonstrar o abandono ou a ausência de atos de posse?


✓ ausência de ocupantes/posseiros
✓ ausência de manutenção do muro, portões, reformas internas ou
externas do prédio;
✓ presença de sujeira e entulhos acumulados.
2. Como demonstrar a intenção do proprietário de não mais conservar a coisa
em seu poder?

✓ ausência de pagamento do IPTU pelo prazo mínimo de 05 (cinco) anos.

3. Município deverá evidenciar a forma como pretende utilizar o imóvel para


dar uso social ao bem ou realizar a função social do imóvel. O imóvel não
cumpre função social e o município irá arrecadar para não dar função social?

III – Arrecadação em Reurb: registrar a CRF, abrir a matrícula em nome do


ocupante conhecido e após iniciar o procedimento de arrecadação. Se a unidade estiver
ocupada não é caso de arrecadação, mas de titular o atual ocupante.

4. Fases do procedimento

✓ Requerimento do interessado ou ato de ofício;


✓ Formalizar a abertura de processo administrativo para tratar da arrecadação
– é o ato que torna pública a intenção da arrecadação, narra os fatos que indicam
os requisitos materiais da arrecadação, individualiza o imóvel, indica a autoridade
competente para o processamento e o sujeito que perderá a propriedade pela
arrecadação.
✓ Formalizar a comprovação do tempo de abandono e de inadimplência fiscal
(5 anos): Aberto o procedimento, faz-se a juntada de documentos comprobatórios
do “tempo de abandono” da coisa e a “intenção” de não mais a conservar em seu
poder.
✓ fase de notificação ao titular do domínio – O ato que regulamenta o
procedimento administrativo deve prever a fase de notificação do proprietário.
✓ Fase de declaração formal da arrecadação + 3 anos sem impugnação.
✓ Expede termo administrativo para registro.
✓ Registro: Se já tem matrícula, faz-se a transferência para o proprietário atual.
(Entendo que é aquisição originária). Se não tem matrícula, faz-se o rito do art.
195-A. Tem cobrança de emolumentos.

As explicações abaixo são apenas para contextualizar as fases citadas acima.

As formas de comprovação do tempo de abandono não são elencadas pela lei, por
isso, o ato que regulamenta o procedimento no Município pode estabelecer rol
exemplificativo dos documentos, podendo ser utilizado, por exemplo, termos de vistoria
do agente administrativo da Prefeitura ou ata notarial (art. 384, CPC/2015).
A intenção de não mais conservar o patrimônio em seu poder é presumida pela
inadimplência fiscal (ausência de pagamento do IPTU) pelo prazo mínimo de 05 (cinco)
anos provado por meio da juntada ao procedimento do termo de inscrição da dívida
ativa, o qual tem efeito de prova pré-constituída, nos termos do art. 202 e 204 da Lei nº
5.172/66.

A lei federal estabeleceu que a notificação será por carta com aviso de recebimento
dirigida ao endereço que constar no cadastro municipal, considerando-se completa
quando comprovada a entrega nesse endereço (anexação do aviso de recebimento ao
procedimento). É dispensável que o notificado seja quem efetivamente assine o aviso
de recebimento.
Caso o endereço para notificação não seja conhecido ou os titulares de domínio não
sejam localizados, deve-se publicar edital com informação resumida da localização e a
descrição do imóvel a ser arrecadado, para que apresentem impugnação no prazo de
trinta dias, contado da data da notificação.
O prazo de impugnação é de 30 (trinta) dias, contados da data de recebimento da
notificação, ou seja, aquela data que consta no aviso de recebimento ou da publicação
do edital.
O transcurso do prazo sem manifestação do proprietário é considerado
concordância com a arrecadação, fato que deve ser certificado no procedimento pela
autoridade processante e autoriza a lavratura da declaração da arrecadação do bem,
data em que se inicia a contagem do prazo de três anos para a transferência do imóvel
ao Poder Público.
Da data da declaração de arrecadação até a efetiva transferência do imóvel ao Poder
Público pelo transcurso do prazo de três anos, o Município poderá exercer, diretamente
ou por meio de terceiros, atos de posse sobre o imóvel, por meio de investimentos
necessários para que o imóvel urbano arrecadado atinja prontamente os objetivos
sociais a que se destina.
Caso o proprietário reivindique a posse do imóvel declarado abandonado no
transcorrer do triênio fica assegurado ao Poder Público municipal o direito ao
ressarcimento prévio e em valor atualizado das despesas em que houver incorrido,
inclusive aquelas tributárias, em razão do exercício da posse provisória.
A reivindicação ou a impugnação ofertada pelo proprietário deve ilidir os requisitos
materiais da arrecadação, ou seja, o abandono e a intenção presumida de não mais
conservar o imóvel em seu poder por meio da indenização prévia e do pagamento dos
tributos.
Neste caso, o Município encerrará o procedimento de arrecadação, mas poderá
utilizar outros instrumentos para obter a função social do imóvel: 1) notificação para
parcelamento, edificação ou utilização devidamente averbada na matrícula do imóvel;
2) aplicação do IPTU progressivo no tempo; 3) desapropriação.
Após o transcurso do prazo de 3 (três) anos sem reivindicação do proprietário
transfere-se o imóvel para o Poder Público Municipal (art. 1.276, caput, CC/02) e essa
transferência deve ser aperfeiçoada no procedimento, no mínimo, por meio de
certificação simples realizada pela autoridade competente.
O procedimento de arrecadação de bem vago pode ser feito na via administrativa
ou na via judicial.
Para efetivar a transferência de propriedade, o Município deverá encaminhar ao
Cartório de Imóveis os documentos necessários ao registro a depender da situação a
seguir:

1) Se o imóvel possui matrícula própria decorrente de registro de


loteamento ou de regularização fundiária:
✓ Requerimento acompanhado de cópia da declaração de arrecadação do bem vago
autenticada pelo agente administrativo ou pelo Tabelião de Notas que evidencie o
transcurso do prazo de três anos;
✓ Declaração municipal ou outro documento que evidencie não ter havido
impugnação ou pedido de reivindicação ofertado pelo proprietário; OU
✓ Se o procedimento foi realizado na via judicial, apresentação de carta de sentença;
✓ Atribuição de valor ao imóvel.

Neste caso, o Oficial procederá ao registro da aquisição por meio da arrecadação do


bem obtido na via administrativa ou judicial independente de escritura pública (art. 108,
CC/02).

2) Se o imóvel não possui matrícula própria e esteja contido (ou não) em


uma matrícula ou transcrição de origem:

✓ Requerimento acompanhado de cópia da declaração de arrecadação do bem vago


autenticada pelo agente administrativo ou pelo Tabelião de Notas para que seja
possível averiguar o transcurso do prazo de três anos;
✓ Declaração municipal ou outro documento que evidencie não ter havido
impugnação ou pedido de reivindicação ofertado pelo proprietário;
✓ Se o procedimento foi realizado na via judicial, apresentação de carta de sentença;
✓ Atribuição de valor ao imóvel;
✓ planta e memorial descritivo do imóvel público a ser matriculado, dos quais
constem a sua descrição, com medidas perimetrais, área total, localização,
confrontantes e coordenadas preferencialmente georreferenciadas dos vértices
definidores de seus limites; (art. 195-A, §7º da Lei nº 6.015/73)
✓ comprovação de intimação dos confrontantes da unidade para que informem, no
prazo de 15 (quinze) dias, se os limites definidos na planta e no memorial
descritivo do imóvel público a ser matriculado se sobrepõem às suas respectivas
áreas, se for o caso; (art. 195-A, §7º da Lei nº 6.015/73)
✓ as respostas à intimação prevista acima; (art. 195-A, §7º da Lei nº 6.015/73)

Nesta hipótese, o Oficial abrirá matrícula nos termos do art. 195-A, §7º da Lei nº
6.015/73 em favor do município.
Em ambos os casos, por não se tratar de REURB propriamente dita, o processo
de registro tem cobrança de emolumentos.

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