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Desapropriação

Conceito
A desapropriação pode ser entendida como o procedimento regido pelo direito público por
meio do qual o poder público transfere para si a propriedade que até então pertencia a terceiros,
sejam eles particulares ou até mesmo entes federativos.
Celso Antônio Bandeira de Mello
É o procedimento através do qual o Poder Público, fundado em
necessidade pública, utilidade pública ou interesse social,
compulsoriamente despoja alguém de um bem certo, normalmente
adquirindo-o para si, em caráter originário, mediante indenização
prévia, justa e pagável em dinheiro, salvo no caso de certos imóveis
urbanos ou rurais, em que, por estarem em desacordo com a função
social legalmente caracterizada para eles, a indenização far-se-á em
títulos da dívida pública, resgatáveis em parcelas anuais e sucessivas,
preservado seu valor real.
Com a desapropriação (ao contrário do que ocorre com as
demais formas de intervenção que se limitam a
condicionar a propriedade), o Poder Público adquire o bem
particular para si. Importante salientar que se trata de
uma forma de aquisição originária, uma vez que não é
proveniente de nenhum título anterior e que todos os
ônus ficam sub-rogados no preço pago pelo bem.
Competência

Legislativa Declaratória Executória


Conforme previsão do artigo 22, II, Opera-se no âmbito do procedimento de Pode ser entendida como a que possibilita que
da Constituição Federal, é privativa desapropriação. Nessa fase, o Poder Público, o ente federativo adote todas as medidas
da União, de forma que apenas este por meio de decreto, declara o bem a ser necessárias à efetivação da desapropriação. Tal
ente federativo, como regra, poderá desapropriado como de utilidade pública ou competência (a de executar atos com a
editar normas traçando as diretrizes de interesse social. Trata-se, assim, de uma finalidade de desapropriar) pode ser exercida,
a serem observadas quando da fase preliminar ao próprio ato de além dos entes federativos, pelas entidades da

realização do procedimento. desapropriação. Administração Indireta e pelas delegatárias de


Considerações
Entes Federativos
No que se refere aos entes federativos, a
competência executória é tida como
incondicionada, ou seja, sem a
necessidade de qualquer tipo de
autorização para o seu exercício.

Demais Entidades
Deve haver autorização para o exercício
da competência executória, que poderá
ocorrer mediante lei ou por meio de
contrato.
Hipóteses

As hipóteses de desapropriação estão previstas na Constituição


Federal, podendo ser divididas em cinco grandes categorias.

1. Necessidade ou Utilidade Pública


2. Interesse Social
3. Reforma Agrária
4. Reforma Urbana
5. Confiscatória
Desapropriação por Interesse Social, por
Necessidade Pública e por Utilidade Pública
Estabelece a Constituição Federal, em seu artigo 5º, XXIV, a
possibilidade de desapropriação por necessidade ou utilidade pública,
ou, ainda, por interesse social: “A lei estabelecerá o procedimento para
desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse
social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os
casos previstos nesta Constituição;”
Desapropriação

Necessidade Pública Utilidade Pública Interesse Social


Revela uma situação de urgência, Apresenta situações em que a transferência São situações em que se busca melhorar a vida
onde a melhor alternativa, por isso do bem revela-se conveniente para o poder da coletividade mediante a redução das
mesmo, é a transferência da público. Em tal situação, não temos o caráter desigualdades sociais, estando previstas na Lei
propriedade para o poder público. de urgência, tal como ocorre com a 4.132, de 1962, que apresenta, logo em seu
necessidade pública. artigo 2º, uma série de situações que são
consideradas como de interesse social.
Considera-se de interesse social:

I – o aproveitamento de todo bem improdutivo ou explorado sem correspondência com as necessidades de habitação, trabalho e
consumo dos centros de população a que deve ou possa suprir por seu destino econômico;

II – a instalação ou a intensificação das culturas nas áreas em cuja exploração não se obedeça a plano de zoneamento agrícola;

III – o estabelecimento e a manutenção de colônias ou cooperativas de povoamento e trabalho agrícola;

IV – a manutenção de posseiros em terrenos urbanos onde, com a tolerância expressa ou tácita do proprietário, tenham construído
sua habilitação, formando núcleos residenciais de mais de 10 (dez) famílias;

V – a construção de casa populares;

VI – as terras e águas suscetíveis de valorização extraordinária, pela conclusão de obras e serviços públicos, notadamente de
saneamento, portos, transporte, eletrificação armazenamento de água e irrigação, no caso em que não sejam ditas áreas
socialmente aproveitadas;

VII – a proteção do solo e a preservação de cursos e mananciais de água e de reservas florestais.

VIII – a utilização de áreas, locais ou bens que, por suas características, sejam apropriados ao desenvolvimento de atividades
turísticas.
Desapropriação por Necessidade Pública e por
Utilidade Pública
Está regulamentada no Decreto 3.365/1941, que divide o procedimento em duas
fases: declaratória e executória. A norma, ainda que afirme tratar-se dos casos
de utilidade pública, fundiu as duas possibilidades.

Na Fase Declaratória, ocorre a declaração de utilidade pública do bem a ser expropriado. Tal procedimento é formalizado por
meio de decreto ou Lei expedida pelo Chefe do Poder Executivo competente. Destaca-se que esta declaração, por si só, não
possui o condão de transferir a posse do bem ao Poder Público. A transferência só ocorre quando é paga a competente
indenização. De igual forma, a declaração, por si só, não priva o proprietário de seu direito de uso, gozo e disposição do
bem.


Na Fase Executória, ocorrem os procedimentos necessários para transferir o bem para o patrimônio do Poder Público. Tais
procedimentos poderão ser feitos em caráter administrativo (quando houver acordo entre as partes quanto ao valor da
Indenização) ou judicial (quando não houver acordo entre as partes). Em caso de urgência, poderá ainda o Poder Público
solicitar a imissão provisória na posse. Para tal, deverá depositar, previamente, uma quantia estabelecida de acordo com o
artigo 15 do Decreto 3365.
Desapropriação para fins de
Reforma Urbana
A possibilidade de desapropriação para fins de reforma urbana está prevista no artigo 183, § 2º
a 4º, da Constituição Federal. Trata-se de uma situação onde o imóvel urbano não atende as
exigências expressas no plano diretor do município. Neste caso, o Poder Público possui a
faculdade de promover a desapropriação. Antes disso, no entanto, deverá tomar uma série de
providências, de forma que a desapropriação apenas será utilizada quando todas as demais
possibilidades não alcançarem o objetivo proposto.

Inicialmente, o Poder Público promove o parcelamento ou edificação compulsórios. Não


havendo êxito, parte-se para a cobrança do imposto sobre a propriedade predial e territorial
urbana (IPTU) progressivo no tempo. Quando as duas medidas se revelarem insuficientes, parte-
se, aí sim, para a desapropriação.

Nesta hipótese, o proprietário será indenizado com títulos da dívida pública de competência
municipal, resgatáveis no prazo de 10 anos.
Desapropriação para fins de
Reforma Agrária
Encontra-se fundamentada no artigo 184 da Constituição Federal. Neste caso, estamos diante
de uma desapropriação de competência da União, que, sempre que verificar que o imóvel rural
não está atendendo a sua função social, promove a desapropriação mediante a indenização de
títulos da dívida agrária, com prazo de resgate de até 20 anos.

Como trata-se de um procedimento que apenas será feito quando a propriedade não atender
sua função social, cuidou a Constituição Federal no artigo 186 de estabelecer os critérios que
devem ser observados pela propriedade, simultaneamente, para que a função social seja
considerada cumprida.

No entanto, nem todas as propriedades rurais são desapropriáveis, ainda que não obedeçam
aos requisitos previstos na Constituição. Isso porque o artigo 185 da CF estabelece duas
situações onde os imóveis são insuscetíveis de desapropriação: a pequena e média propriedade
rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; e a propriedade
produtiva.
Desapropriação com efeito de
Confisco
Ao contrário do que ocorre com as demais modalidades de desapropriação, na desapropriação
com efeito de confisco (ou desapropriação confiscatória), dada a relevância e gravidade da
conduta praticada pelo particular, não teremos a indenização paga pelo Poder Público.

Com a entrada em vigor da Emenda Constitucional n. 81, ocorrida em 2014, passamos a contar
com duas situações que dão ensejo à aplicação da desapropriação confiscatória, as quais estão
previstas no artigo 243 e respectivo parágrafo único da Constituição Federal:

As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas
psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma
agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras
sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º.

Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica,
na forma da lei.

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