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Imperioso se revela que o dispositivo legal não traz à lume qual o regramento
para aferimento da localização como sendo urbano ou rural, sendo aceito, “por
sintonia com o instituto da usucapião (art. 191 da CF) e da tributação (IPTU ou
ITR), parece-nos ser a localização do imóvel o fato distintivo para determinar a
competência da União ou do Município para o procedimento da
arrecadação”[21]. Assim, guardando congruência com o entalhado,
imprescindível será a análise do Plano Diretor Urbano, a fim de se constatar a
localização do imóvel abandonado, considerando, por exclusão, sua localização
na zona rural, quando então a arrecadação será da União.
Outra questão que merece ser espancada está adstrita à premissa de que, em
razão do decurso do tempo por si só não transferir o imóvel abandonado ao
domínio, sendo necessário, como visto acima, a arrecadação, não há qualquer
óbice que particular possa completar tempo hábil de posse que autorize à
usucapião, utilizando-se da desídia conjunta do abandonante e do Ente Estatal.
A prescrição aquisitiva só será interrompida, após iniciado o procedimento de
arrecadação. “Ou seja, sendo a coisa ainda registrada em nome do particular,
contra ele e os demais litisconsortes a ação será direcionada, eis que ainda não
está a propriedade submetida à regra da imprescritibilidade dos bens
públicos”[24], cuja disposição encontra-se inserta na redação do art. 102 do
Código Civil. Segundo Venosa, “o Estado deve intervir para arrecadar bem
abandonado, se ninguém exerce a posse. Embora em curso o processo de
arrecadação do Estado, pode ocorrer a prescrição aquisitiva pelo
particular”[25].
Ademais, impõe destacar que o caput do art. 1.276 do Estatuto de 2002 alberga
em sua redação, em ressonância aos dispositivos constitucionais,
notadamente a dignidade da pessoa humana e a função social da propriedade,
a premissa que o imóvel abandonado só será alvo de arrecadação se não
estiver em posse de outrem. Logo, por tal previsão, constata-se não basta tão
somente a demonstração de que o abandonante não mais deseja o bem para
si, porquanto “a posse de terceiros sobre o bem é fator suficiente para
conceder função social à propriedade e determinar a exclusão da pretensão à
titularidade pelo Poder Público”[26]. Neste sentido, já se decidiu: