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Contrato de namoro

CONTRATO DE NAMORO
Dating contract
Revista de Direito Privado | vol. 93/2018 | p. 55 - 76 | Set / 2018
DTR\2018\19481

Jordana Maria Mathias Dos Reis


Mestranda pela Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP. Bacharel em Direito pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie (2016). Advogada. jordana.reis@hotmail.com

José Luiz Gavião de Almeida


Livre-Docente, Doutor e Mestre em Direito Civil pela Faculdade de Direito da USP. Professor Titular da
Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Professor Titular do Curso de Mestrado da
Universidade Metodista de Piracicaba. Professor de Direito Civil do UNASP. Desembargador do Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo. jlgalmeida@hotmail.com

Área do Direito: Família e Sucessões


Resumo: A pesquisa tem como objeto analisar a possibilidade da existência e eficácia de uma nova
modalidade de contrato atípico, o contrato de namoro. O tema é atual e mostra as mudanças dos
relacionamentos amorosos recentes, isso porque o namoro foi se modificando ao longo do tempo e se
confundindo com o instituto da união estável, o que provoca efeitos patrimoniais. O conflito é enfocado
sobre a possibilidade de a autonomia da vontade prevalecer sobre os elementos caracterizadores da
união estável, não havendo a incidência desta quando as partes não desejam que hajam efeitos
patrimoniais com o término do namoro. O método utilizado é o hipotético dedutivo, com base na
doutrina, jurisprudência e legislação.

Palavras-chave: Contrato de namoro – União estável – Namoro – Validade – Partilha de bens


Abstract: This study focusses on the possible existence of a new type of atypical contract, the dating
contract. It is a modern theme, considering the constant changes of relationship status of these days,
enabling confusion with stable unions. The conflict is focussed on the possible autonomy of will
prevailing over the elements of the stable union, making it non-incident when both parts agree to not
have patrimonial effects over the ending of the relationship. The method used is hypothetical-deductive
based in doctrines, jurisprudences and legislations.

Keywords: Dating contract – Stable union – Dating – Validity – Sharing of Goods


Sumário:

Introdução - 1 Noções contratuais - 2 Do estado atual da sociedade - 3 Da análise sobre o direito de


família - 4 Da viabilidade do contrato de namoro - 5 Conclusões - 6 Referências

Introdução
Este estudo tem como escopo problematizar uma nova modalidade contratual atípica criada por conta
de novas necessidades que surgiram na atualidade. Isso porque, atualmente, as relações afetivas
podem vir a produzir efeitos jurídicos não desejados pelas partes, especialmente no âmbito
patrimonial.
O contrato de namoro surge no sentido de evitar a constituição de uma entidade familiar, a união
estável, que prevê a partilha dos bens onerosos adquiridos na constância da relação amorosa. Isso
decorre do fato de que a expressão “namoro”, no mundo atual, foi ampliada de um relacionamento sem
compromisso para relacionamento no qual os indivíduos se comportam como se companheiros fossem.
Para este artigo, o método utilizado foi o dedutivo, porquanto partiu-se de um estudo sobre as noções
contratuais, analisando a evolução histórica dos contratos, bem como os dispositivos legais atuais e a
transformação da autonomia da vontade em face dos contratos. Em seguida, foram analisados os

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requisitos contratuais e a possibilidade da existência de contratos atípicos.


Posteriormente, foi abordado o estado atual da sociedade conforme Zygmunt Bauman, para
compreensão do contrato de namoro na sociedade atual. Analisou-se o direito de família mínimo, no
qual deve haver prevalecimento da autonomia da vontade perante a intervenção estatal.
A última parte do trabalho analisou a possibilidade da validade do contrato de namoro perante o
ordenamento jurídico brasileiro, a jurisprudência atual e o posicionamento doutrinário a respeito.
1 Noções contratuais
Para analisarmos o contrato de namoro, faz-se necessário uma breve análise dos contratos em geral,
seu conceito e seus elementos constitutivos.
Pelo conceito clássico, extraído do período liberal, contrato é o acordo de vontades para efeitos
patrimoniais, dotado de uma visão individualista, baseado no pacta sunt servanda, garantidor do
patrimônio e da segurança jurídica.
A teoria tradicional do contrato estava assentada na livre e consciente manifestação de vontade dos
figurantes, de modo mais amplo possível, com interferência mínima do legislador ou do juiz. Sua
função era meramente individual, ou seja, de regulação autônoma de interesses privados, considerados
formalmente iguais. O indivíduo contratando com outro indivíduo. Os únicos limites que admitiam a
intervenção judicial eram os bons costumes e a ordem pública.1
Entretanto, ao longo do século XX e com a transposição para um período de justiça social, é possível
notar uma modificação no conceito do contrato, que passou a ser entendido como um acordo de
vontades com a preocupação de repercussão social, ou seja, ligado à solidariedade social. Dessa forma
entende Paulo Lôbo:2
O contrato teve de sair do isolamento a que foi destinado pelo liberalismo individualista, como
instrumento de autocomposição de interesses privados formalmente iguais, para abranger outras
relações jurídicas contratuais que se desenvolveram à margem desse modelo voluntarista e marcadas
pela necessidade de regulação social ou pública, pela relevância da conduta negocial típica, pela
abstração da vontade e pela consideração do poder negocial.
Portanto, nota-se que existia um conceito tradicional de contrato e, posteriormente, em face da
necessidade de mudanças impostas, houve a criação de um conceito contemporâneo. Isso porque o
contrato passou a ter uma função social, que é, atualmente, um dos seus princípios basilares, tendo o
intuito de promover uma justiça comutativa, afastando as desigualdades substanciais das partes. Deve-
se atentar que a função social tem a finalidade de limitar a autonomia da vontade quando esta estiver
em confronto com o interesse social, ainda que impeça a própria liberdade de contratar.3
Nesse cenário, o presente Código procura inserir o contrato como mais um elemento de eficácia social,
trazendo a ideia básica de que o contrato deve ser cumprido não unicamente em prol do credor, mas
como benefício da sociedade. De fato, qualquer obrigação descumprida representa uma moléstia social
e não prejudica unicamente o credor ou contratante isolado, mas toda uma comunidade.4
Nesse sentido, conclui Paulo Lôbo:
O contrato é, pois, fenômeno cada vez mais onipresente na vida de cada um. No entanto, não é e nem
pode ser categoria abstrata e universalizante, de características inalteradas em face das vicissitudes
históricas. Seu significado e seu conteúdo conceptual modificaram-se profundamente, sempre
acompanhando as mudanças de valores da humanidade, notadamente da sociedade brasileira.5
Nesse diapasão, é possível afirmar que os contratos sofreram uma mutação conceitual, por conta da
alteração da realidade social, havendo a necessidade de uma nova compreensão do seu conceito e
conteúdo. Essa mudança encontra-se presente no art. 421 do Código Civil (LGL\2002\400), que dispõe
que sobre a limitação da liberdade de contratar e a função social do contrato, uma vez que tal
dispositivo demonstra a clara preocupação com a tutela dos interesses sociais daqueles que se veem
cotidianamente contratando. É importante ressaltar que, a função social do contrato é um desafio, não
para o juiz, mas para os operadores do Direito, em especial os advogados, que deverão demonstrar
novos caminhos, distintos dos princípios clássicos. 6

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Conforme Carlos Roberto Gonçalves, o contrato não está apenas presente no direito obrigacional, pois
também se encontra disposto em outros ramos do direito civil, como no direito das coisas, no direito de
família e no direito das sucessões.7
Dessa forma, é importante ressaltar que os contratos de direito de família são tidos como contratos
especiais, dos quais podemos citar o contrato de casamento e o contrato de união estável, nos quais as
partes podem dispor sobre os seus interesses.
1.1 Da nova dimensão da autonomia da vontade e das novas possibilidades contratuais
É possível notar que atualmente estamos diante de uma nova dimensão da autonomia da vontade. Isso
porque o princípio clássico no qual o direito faz lei entres as partes ganhou uma nova dimensão, visto
que a vontade foi posta como o centro de todas as avenças. No entanto, é certo que a liberdade nunca
foi ilimitada, porque sempre teve como limites os princípios de ordem pública. 8
Além disso, o princípio da autonomia da vontade dá ensejo aos chamados contratos atípicos, descritos
no art. 425 do Código Civil (LGL\2002\400). Para fins de conceituação, conforme Gonçalves Dias:
Contrato atípico é o que resulta de um acordo de vontades não regulado no ordenamento jurídico, mas
gerado pelas necessidades e interesses das partes. É válido, desde que estas sejam capazes e o objeto
lícito, possível, determinado ou determinável e suscetível de apreciação econômica. Ao contrário do
contrato típico, cujas características e requisitos são definidos na lei, que passam a integrá-lo, o atípico
requer muitas cláusulas minuden- ciando todos os direitos e obrigações que o compõem. Essas noções,
aceitas na doutrina, foram convertidas em preceito legal, no atual diploma civil.9
Nota-se que, a existência de contratos atípicos não é tão recente, conforme Caio Mario:
Essas noções, pacíficas em doutrina, converteu-as o Código em preceituação legal, constante do art.
425. O dispositivo, posto que consignando verdade apodítica, desdobra-se em dois incisos. O primeiro,
a autorizar a estipulação de contratos atípicos, é evidentemente ocioso, pois que, em todos os tempos,
a velocidade da vida econômica e as necessidades sociais conduziram à criação de toda uma tipologia
contratual que o legislador não pode prever, e que os Códigos absorveram após a prática corrente
havê-la delineado. O segundo, a determinar que aos novos contratos elaborados atipicamente se
apliquem as normas deste Código, poderia ser mais preciso, mencionando também as normas que
constem de leis extravagantes, normalmente adequadas a cada contrato atípico.10
Nesse sentido, estamos certos da importância da possibilidade de contratos atípicos, visto que o atual
Código Civil (LGL\2002\400) contempla apenas 23 espécies de contratos nominados (arts. 481 a 853),
não sendo possível abarcar todas as espécies contratuais existentes, uma vez que com o passar do
tempo novas modalidades podem ser criadas. Tanto isso é verdade que o Código Civil de 2002
expressamente prevê sua possibilidade.11
1.2 Sobre a validade nos contratos
Os requisitos de validade do contrato estão dispostos no art. 104 do Código Civil (LGL\2002\400), in
verbis:
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I – agente capaz;
II – objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III – forma prescrita ou não defesa em lei.
Entende Carlos Roberto Gonçalves que as condições de validade dos contratos são de duas espécies: as
de ordem geral, que é comum a todos os negócios jurídicos, previstas anteriormente, e a de ordem
especial, que seria o consentimento recíproco.
O contrato será nulo ou anulável, então, se a incapacidade, absoluta ou relativa, não for suprida pela
representação ou pela assistência.12
O entendimento do doutrinador está em consonância com os arts. 166, I e171, I, do Código Civil
(LGL\2002\400):

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Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:


I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz.
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
I – por incapacidade relativa do agente.
Nesse sentido, para que haja um contrato de namoro as partes deverão ser capazes e manifestar seu
consentimento.
O segundo requisito, que dispõe sobre a licitude do objeto, tem o intuito de impedir situações
contrárias à moral ou aos bons costumes. O objeto deverá ser possível, determinado ou determinável.
Assim, o contrato de namoro que tem por objeto o próprio namoro pode ser entendido como algo lícito,
pois inexiste proibição nesse sentido, mas, ao contrário esse relacionamento é inclusive costumeiro.
O terceiro requisito é a observância da forma prescrita ou não defesa em lei. Conforme o art. 107 do
Código Civil (LGL\2002\400): “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial,
senão quando a lei expressamente a exigir”. Portanto, a regra geral é que os contratos não dependem
de forma especial, salvo quando prevista em lei. Sendo o contrato de namoro um contrato atípico, não
se tem uma forma especial estabelecida em lei, podendo ser feito por instrumento público ou particular,
por escrito ou oralmente, de forma expressa ou tácita.
Por último, deverá ser observado como requisito especial, o consentimento reciproco. A concordância
deve ser feita de modo espontâneo, havendo possibilidade de acordo tácito, conforme o art. 111 do
Código Civil (LGL\2002\400). Entretanto, o consentimento não poderá conter vícios, como erro, dolo,
coação etc.
Portanto, conclui-se que existe a necessidade de estarem todos os requisitos presentes para que esse
contrato atípico celebrado seja válido.
2 Do estado atual da sociedade
Neste item será demonstrado o estado atual da sociedade, que serve de norte para a pesquisa
desenvolvida. Isso porque o “contrato de namoro” surge diante das mudanças ocorridas na população,
sendo, portanto, imprescindível fazer uma breve análise da sociedade contemporânea.

Para tanto, será utilizada a teoria da modernidade líquida13 elaborada pelo sociólogo Zygmunt Bauman.
Destaca-se um treco do seu livro que demonstra a opção pelo termo líquido:
[...] Chegou a vez da liquefação dos padrões de dependência e interação. Eles são agora maleáveis a
um ponto que as gerações passadas não experimentaram e nem poderiam imaginar; mas, como todos
os fluidos, eles não mantêm a forma por muito tempo. Dar-lhes forma é mais fácil que mantê-los nela.
Os sólidos são moldados para sempre. Manter os fluidos em uma forma requer muita atenção,
vigilância constante e esforço perpétuo – e mesmo assim o sucesso do esforço é tudo menos inevitável.
14

Nota-se que a ideia de modernidade líquida é no sentido de que os líquidos não conseguem manter
uma forma fixa, adquirindo o formato do recipiente que forem inseridos, distintos dos sólidos que
conseguem manter uma forma fixa por determinado tempo. O referido doutrinador entende que
estamos vivendo em uma sociedade de consumo, que valoriza apenas a satisfação imediata,
repudiando as conquistas que exigem esforços a longo prazo. 15
Dessa forma, entende o sociólogo que os indivíduos estão vivendo uma vida líquida.
A “vida líquida” é uma forma de vida que tende a ser levada à frente numa sociedade líquido-moderna.
“Líquido-moderna” é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam
num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas
de agir. A liquidez da vida e da sociedade se alimentam e se revigoram mutuamente. A vida líquida,
assim como a sociedade líquido-moderna, não pode manter a forma ou permanecer em seu curso por
muito tempo.16
Os indivíduos estão vivendo um período de instabilidade e fragilidade que repercute nos
relacionamentos sociais.

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E assim é numa cultura consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para uso imediato, o
prazer passageiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam esforços prolongados, receitas
testadas, garantias de seguro total e devolução do dinheiro. A promessa de aprender a arte de amar é
a oferta (falsa, enganosa, mas que se deseja ardentemente que seja verdadeira) de construir a
“experiência amorosa” à semelhança de outras mercadorias, que fascinam e seduzem exibindo todas
essas características e prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultados sem esforço.17
Dessa forma, o doutrinador entende que houve uma mudança no modo de a sociedade enxergar um
relacionamento amoroso, isso porque o que antes era um princípio (até que a morte nos separe),
atualmente é entendido até quando for oportuno.
Os laços e parcerias são vistos [...] como coisas a serem consumidas, não produzidas; estão sujeitos
aos mesmos critérios de avaliação de todos os outros objetos de consumo. No mercado consumidor,
produtos ostensivamente duráveis são oferecidos por um “período de teste” e a devolução do dinheiro
é prometida se o comprador não estiver satisfeito. Se um parceiro é visto nestes termos, então não é
mais tarefa de ambos os parceiros “fazer o relacionamento funcionar” – fazê-lo funcionar nas boas e
nas más situações, ajudar um ao outro ao longo dos trechos bons e ruins, podar, se necessário, as
próprias preferências, fazer acordos e sacrifícios pelo bem da união duradoura. Em vez disso, é uma
questão de obter satisfação com um produto pronto para ser usado; se o prazer derivado dele não se
equipara ao padrão prometido e esperado ou se a novidade diminui gradualmente com a alegria, não
existe razão para ficar com o produto inferior ou mais velho, ao invés de encontrar outro, “novo e
melhorado”, na loja.18
Portanto, diante do estado atual da sociedade, é imprescindível a existência do contrato de namoro,
isso porque com a mudança do entendimento sobre o que seria um relacionamento amoroso, a própria
sociedade criou “novas possibilidade românticas”,19 que seriam relações de “comprometimento light
que minimizam a exposição a riscos".20 Demonstra Bauman como seriam esses novos relacionamentos
amorosos:
Os esforços para estabelecer e estreitar os vínculos alinham uma sequência infinita de experimentos.
Sendo experimentais, aceitos na base da tentativa e eternamente testados, sempre um provisório
"vamos esperar para ver como funcionam", não é provável que as alianças, compromissos e vínculos
humanos se solidifiquem o suficiente para serem proclamados confiáveis de maneira verdadeira e
integral. Nascidos da suspeita, geram suspeita.21
Nesse sentido, os novos relacionamentos passam por um período experimental para depois tornarem-
se sólidos. O namoro passou por uma mudança no mundo atual e ainda deve ser uma das espécies de
uniões que não geram, por si só, efeitos jurídicos.22
3 Da análise sobre o direito de família
3.1 Entidades familiares

Conforme Silvio Venosa,23 o instituto jurídico da família sofreu várias mutações ao longo do tempo. No
início os grupos familiares tinham como objetivo se abrigar do frio e de possíveis predadores. No
estado primitivo havia predominância por relações sexuais entre todos os membros de uma tribo,
gerando, assim, um desconhecimento do pai, levando a crer que a família tinha um caráter matriarcal.
Entretanto, com o passar dos anos, foi estabelecido o casamento, sendo o único reconhecido pela
sociedade como criador da entidade familiar. Entendiam os romanos que para haver o casamento era
necessário a affectio, sendo que o seu desaparecimento seria causa suficiente para a dissolução
conjugal. Na idade média havia apenas o reconhecimento do casamento religioso. 24
No ordenamento jurídico brasileiro, podemos afirmar que o instituto da família sofreu grande influência
da família romana, canônica e germânica. O país foi colonizado pelos portugueses. Apenas
recentemente, após transformações históricas, culturais e sociais, o direito da família passou a ter
novos rumos, adaptando-se à realidade brasileira, nascendo assim novas entidades familiares além do
casamento. 25
Com a Constituição Federal de 1988 surge um novo direito de família, pois encampou novas entidades
familiares, que já existiam, com fundamento no princípio da dignidade humana, com o intuito de

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proteger todos, sem preconceitos ou desigualdades.


Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado
§ 1º O casamento é civil e gratuito a celebração.
§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como
entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus
descendentes.
§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e
pela mulher.
§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.
§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o
planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e
científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições
oficiais ou privadas.
§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.
Entretanto, o atual Código Civil (LGL\2002\400) não estava conforme os moldes da Constituição, isso
porque o projeto do referido código foi elaborado entre 1969 a 1975, trazendo a mentalidade dessa
época. 26
O conceito de família mudou significativamente [...] assume concepção múltipla, plural, podendo dizer
respeito a um ou mais indivíduos, ligados por traços biológicos ou sócio-psico-afetivos, com intenção de
estabelecer, eticamente, o desenvolvimento da personalidade de cada um.27
Portanto, houve a necessidade de uma constitucionalização do direito civil, que hoje deve ser
interpretado à luz dos princípios trazidos pela Carta Magna.
3.2 União estável x namoro
Pode-se afirmar que existe uma distinção entre os institutos.
A união estável foi por um longo período nominada concubinato, sendo entendida apenas como uma
união entre homem e mulher sem a presença de casamento.28
Apenas em 1994, com o advento da Lei dos companheiros, passou-se a regulamentar o referido
instituto. Essa lei trouxe o reconhecimento do direito a alimentos e à participação na herança, com o
preenchimento de algumas condições:
Art. 1º A companheira comprovada de um homem solteiro, separado judicialmente, divorciado ou
viúvo, que com ele viva há mais de cinco anos, ou dele tenha prole, poderá valer-se do disposto na Lei
5.478, de 25 de julho de 1968 (LGL\1968\11), enquanto não constituir nova união e desde que prove a
necessidade.
Parágrafo único. Igual direito e nas mesmas condições é reconhecido ao companheiro de mulher
solteira, separada judicialmente, divorciada ou viúva.
Posteriormente, veio nova Lei dos conviventes (Lei 9.278/96 (LGL\1996\55)), trazendo o direito de
partilhar os bens adquiridos onerosamente durante a convivência e o direito real de habitação do
imóvel de residência da família, no caso de morte do companheiro, salvo se o sobrevivente constituísse
nova união estável ou se celebrasse casamento.
Atualmente não é necessário tempo mínimo para a configuração da união estável, havendo uma
preocupação do legislador com a existência do vínculo de afetividade para a sua configuração. 29
Nas palavras de Paulo Lôbo:

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O início da união estável é o início da convivência dos companheiros. A dificuldade é reduzida quando
se pode provar o começo da convivência sob o mesmo teto. São inúmeras as possibilidades de prova: a
aquisição de imóvel para a moradia, a aquisição de móveis para guarnecerem a moradia, o contrato de
aluguel do imóvel, o testemunho de vizinhos, de amigos, de colegas de trabalho, o pagamento de
contas do casal, a correspondência recebida no endereço comum. O nascimento de filho pode ser
posterior à convivência como pode ser a causa da convivência.30
Nesse sentido, é possível que os namorados nem percebam que estão em união estável, podendo ser
caracterizados como integrantes de uma entidade familiar. 31
Por outro lado, o namoro é um instituto que não foi regulado pela Constituição Federal de 1988. Isso
porque o namoro é uma relação informal da qual não se busca a constituição de uma família. Todavia,
é certo que há necessidade de diferenciação entre as entidades uma vez que, no caso da união estável:
Se os que vivem, conscientemente, nessa entidade familiar, já se sentem sufocados com a minuciosa
normatização de suas vidas, imaginem as preocupações, a aflição e o medo dos que assumem um
relacionamento afetivo de simples namoro, e têm o justo receio de que essa situação possa ser
confundida com a da união estável...32

Ademais, para Farias e Rosenvald33 a distinção entre a união estável e o namoro, atualmente, é uma
linha muito tênue, já que “namorados viajam juntos, dormem juntos e, eventualmente compram bens”.
Sob um olhar jurisprudencial, pode-se afirmar que o instituto do namoro é reconhecido como um
relacionamento no qual não existe a intenção de constituir uma família. Este pode ter os requisitos para
a instituição de união estável (relacionamento público, continuo e duradouro), porém o que os
diferencia é a intenção de ser uma família.
Apelação cível. Reconhecimento de união estável. Namoro que precedeu ao casamento das partes.
Ausente objetivo de constituir família à época. Inexistência de prova da comunhão de vidas.
Improcedência. – A união estável se caracteriza pela convivência pública, contínua e duradoura entre
um casal com o objetivo de constituir uma família. Ao contrário do que ocorre no namoro, os
conviventes se apresentam perante a sociedade como se casados fossem, e assumem para si ânimo
próprio dos casados, de se constituírem enquanto entidade familiar. – A relação mantida entre o casal,
antes do casamento, embora duradoura e pública, tanto que culminou com o matrimônio, se
caracteriza como namoro, não uniãoestável, sob pena de desvirtuamento do instituto. – Recurso
improvido.34
Apelação. Direito civil. Família. Ação de reconhecimento e dissolução de união estável. Prova. Ausência.
Mero namoro. 1. Não se reconhece a união estável quando ausentes os requisitos da união contínua,
fidelidade, estabilidade, mútua assistência e ânimo de constituir família. Alegada união que não se
reveste dos requisitos estatuídos no art. 1.723 do Código Civil (LGL\2002\400). 2. Comprovado que a
publicidade do relacionamento era de namoro, ainda que com intimidade, mas ausente prova cabal da
residência sob o mesmo teto e da intenção de constituir família, a improcedência da ação se impõe.
RECURSO DESPROVIDO. 35
Administrativo e civil. Pensão estatutária por morte. Companheiro. Condição não ostentada. União
estável. Inexistência. Namoro qualificado. Requisitos objetivos. Publicidade, continuidade e durabilidade
preenchimento. Elemento subjetivo (affectio maritalis). Ausência. Formação da família. Projeção para o
futuro. Concessão do benefício. Impossibilidade. Sentença de procedência reformada. I. Tanto a união
estável quanto o namoro qualificado são relações públicas, contínuas e duradouras (requisitos
objetivos). O requisito subjetivo (affectio maritalis: ânimo de constituir família) é o elemento
diferenciador substancial entre ambas. II. Na união estável, a família já está constituída e afigura um
casamento durante toda a convivência, porquanto, nela, a projeção do propósito de constituir uma
entidade familiar é para o presente (a família efetivamente existe). No namoro qualificado, não se
denota a posse do estado de casado: se há uma intenção de constituição de família, é projetada para o
futuro, através de um planejamento de formação de um núcleo familiar, que poderá ou não se
concretizar. Precedente do STJ. III. Verificado, no caso concreto, que o Autor mantinha com a falecida
um namoro qualificado, não faz jus à pensão estatutária por ela instituída. Embora a relação fosse
pública, contínua e duradoura, não possuía o elemento subjetivo característico da união estável. O
casal planejava formar um núcleo familiar, mas não houve comunhão plena de vida. IV. Remessa

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necessária provida. Apelação do Autor prejudicada.36


Portanto, é inegável que a distinção entre os dois institutos não é simples, sendo difícil a comprovação
da configuração da união estável e do namoro porque existem namoros que configuram a convivência
pública, contínua e duradoura entre os parceiros, porém, para ambos não há intenção da constituição
da união estável, porque não têm os parceiros o intuito de criar uma família.
Aliás, o próprio instituto da união estável carece de regulamento no Código civil, conforme Rodrigo
Toscano de Brito:
É interessante observar que, a par dessa constatação da pluralidade familiar, do número aberto, não se
veem, por outro lado, regras bem definidas sobre as suas inúmeras repercussões patrimoniais. A
família fundada no casamento é, ainda, do ponto de vista patrimonial, a que tem regramento mais
detalhado. O Título II do Código Civil (LGL\2002\400) brasileiro é praticamente todo dedicado ao
direito patrimonial de família no casamento. Mas, quando se caminha, por exemplo, para a união
estável, que já é um instituto que se pode dizer consolidado entre nós, no Brasil, vislumbra-se um
menor grau de detalhamento de normas do ponto de vista patrimonial, nomeadamente às que se
referem à sucessão do companheiro. Quanto aos demais arranjos familiares, a normatização é ainda
mais rara. Na seara patrimonial, a legislação brasileira apresenta lacunas em face desses novos
arranjos familiares, motivo pelo qual, embora se deva reconhecer os vários tipos de famílias, há
necessidade ainda de buscar em outras áreas do direito civil e em outras áreas do direito o apoio
necessário para o preenchimento das lacunas.37
Tudo mostra a dificuldade da diferenciação dos institutos, decorrentes, principalmente, das lacunas do
ordenamento jurídico brasileiro, sendo possível afirmar que apenas a intenção de constituição de uma
família os diferencia.
3.3 Da judicialização dos conflitos familiares
Pela dificuldade da distinção dos institutos supra, a via correta para a solução estaria numa solução
legislativa e uma não na judicialização excessiva dos conflitos no âmbito familiar.
Conforme o relatório do índice de confiança no Poder Judiciário, de 2016, o direito de família representa
87% das causas que levariam os entrevistados à busca de uma solução pelo Poder Judiciário,38
demonstrando, assim, que reside em nosso país uma cultura de submeter os conflitos familiares ao
crivo do Poder Judiciário. No entanto, essa não parece a melhor via. Leciona Maria Berenice Dias:
A sentença raramente produz o efeito apaziguador desejado pela justiça. Principalmente nos processos
que envolvem vínculos afetivos, em que as partes estão repletas de temores, queixas e mágoas,
sentimentos de amor e ódio se confundem. A resposta judicial jamais responde aos anseios de quem
busca muito mais resgatar prejuízos emocionais pelo sofrimento de sonhos acabados do que
reparações patrimoniais ou compensações de ordem econômica. Independentemente do término do
processo judicial, subsiste o sentimento de impotência dos componentes do litígio familiar além dos
limites jurídicos. O confortante sentido de justiça e de missão cumprida dos profissionais quando
alcançam um acordo dá lugar à sensação de insatisfação diante dos desdobramentos das relações
conflituosas.39
As sentenças nem sempre cumprem a função esperada pelas partes que estão emocionalmente
envolvidas, trazendo, em vez de uma paz social, um conflito ainda maior. Entende Paulo Lôbo que:
O processo judicial invasivo da privacidade contribuía para o acirramento das diferenças, colocando-se
as partes como contendores de uma disputa, segundo o código binário de tudo ou nada, de certo ou
errado, de inocente ou culpado.40
Dessa forma, os conflitos familiares devem ser resolvidos por uma forma que traga um maior diálogo
entre as partes. Nesse sentido, a Lei 13.140/2015 (LGL\2015\4771) poderá ser um instrumento para a
solução de conflitos familiares. Isso porque a referida lei trouxe a possibilidade de utilização da
mediação para a solução de controvérsias, inclusive no âmbito do direito de família.
É importante ressaltar que com a mediação utiliza-se uma terceira pessoa neutra que conduz as partes
a solucionar o conflito existente ou até mesmo prevenir um possível conflito.41 Por outro lado, podemos
citar como dificuldades “os limites emocionais dos envolvidos, a privacidade que impede compensações

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emocionais, a exigência da boa-fé́ de todos e os desequilíbrios de poder”.42


3.4 Direito de família mínimo
Conforme Leonardo Barreto Moreira Alves:
A expressão direito de família mínimo é colhida do direito penal, seara na qual se presencia fenômeno
semelhante, propugnando-se um direito penal mínimo, uma vez que o Estado somente deve utilizar o
direito penal para tutelar os bens mais caros à sociedade (fragmentaridade) e como extrema ou última
ratio (intervenção mínima propriamente dita), quando insuficiente a tutela promovida por outros
instrumentos sociais, como a família, a coletividade, o direito administrativo, o direito civil etc.43
Portanto, a expressão direito de família mínimo advém do direito penal mínimo, no qual o Estado deve
intervir da menor forma possível no âmbito penal. Nesse sentido, o direito de família tem a mesma
finalidade que seria dar aos indivíduos uma maior autonomia com uma menor intervenção estatal.
O princípio da não intervenção no âmbito do direito de família está previsto no art. 1.513 do Código
Civil (LGL\2002\400), in verbis “"é defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na
comunhão de vida instituída pela família”. É a mesma a orientação trazida pela Declaração Universal
dos Direitos do Homem.44
É importante ressaltar que o próprio planejamento familiar, disposto no art. 226 § 7º da Constituição
Federal (LGL\1988\3) e o art. 1565 do Código Civil (LGL\2002\400) dispõem sobre a liberdade de
escolha do casal sendo vedada a interferência estatal.
Ademais, o princípio da não intervenção estatal está intimamente ligado ao princípio da autonomia da
vontade. Isso porque, ao efetivar o primeiro estaria, por conseguinte, afastando a intervenção. Nesse
sentido, entende Leonardo Barreto Moreira Alves:
Em verdade, o Estado somente deve interferir no âmbito familiar para efetivar a promoção dos direitos
fundamentais dos seus membros – como a dignidade, a igualdade, a liberdade, a solidariedade, etc. –,
e, contornando determinadas distorções, permitir o próprio exercício da autonomia privada dos
mesmos, o desenvolvimento de sua personalidade e o alcance da felicidade pessoal de cada um deles,
bem como a manutenção do núcleo afetivo. Em outras palavras, o Estado apenas deve utilizar-se do
Direito de Família quando essa atividade implicar uma autêntica melhora na situação dos componentes
da família45
É inegável a importância da não intervenção estatal diante de todos os conflitos e relações familiares.
Isso porque com a não interferência pode-se concretizar uma maior autonomia de vontades dos
indivíduos que poderão se relacionar e solucionar conflitos de forma livre.
4 Da viabilidade do contrato de namoro
Neste item será analisado o contrato de namoro, seu conceito e sua possível validade no ordenamento
jurídico brasileiro.
4.1 Análise doutrinária sobre a temática
Entende Silvo Venosa que o contrato de namoro tem o intuito de invalidar a presunção legal da União
Estável.46 Para ele esse tipo de contrato é a proteção do patrimônio de uma das partes, com a nítida
ofensa aos princípios da dignidade da pessoa humana e do direito de família47
É importante ressaltar que não existe uma violação legal na celebração dessa espécie contratual.
Todavia, existem vários doutrinadores que discordam da sua validade, conforme Paulo Lôbo:
Em virtude da dificuldade para identificação do trânsito da relação fática (namoro) para a relação
jurídica (união estável), alguns profissionais da advocacia, instigados por seus constituintes, que
desejam prevenir-se de consequências jurídicas, adotaram o que se tem denominado “contrato de
namoro”. Se a intenção de constituir união estável fosse requisito para sua existência, então
semelhante contrato produziria os efeitos desejados. Todavia, considerando que a relação jurídica de
união estável é ato-fato jurídico, cujos efeitos independem da vontade das pessoas envolvidas, esse
contrato é de eficácia limitada, apenas servindo como elemento de prova, que pode ser desmentida por
outras provas.48

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Para Maria Berenice Dias, o contrato de namoro, além de não ser válido, pode ser uma fonte de
enriquecimento sem causa:
Não há como previamente afirmar a incomunicabilidade quando, por exemplo, segue-se longo período
de vida em comum, no qual são amealhados bens pelo esforço comum. Nessa circunstância, emprestar
eficácia a contrato firmado no início do relacionamento pode ser fonte de enriquecimento ilícito. Não se
pode olvidar que, mesmo no regime da separação convencional de bens, vem a jurisprudência
reconhecendo a comunicabilidade do patrimônio adquirido durante o período de vida em comum. O
regime é relativizado para evitar enriquecimento injustificado de um dos consortes em detrimento do
outro. Para prevenir o mesmo mal, cabe idêntico raciocínio no caso de namoro seguido de união
estável. Mister negar eficácia ao contrato prejudicial a um do par. Repita-se: o contrato de namoro é
algo inexistente e desprovido de eficácia no seio do ordenamento jurídico.49
Entende Flávio Tartuce que o contrato de namoro deverá ser considerado nulo por violação da função
social do contrato:
Problema dos mais relevantes é o relacionado à elaboração de um contrato de namoro ou de um
contrato de intenções recíprocas entre as partes, justamente para afastar a existência de uma união
estável entre elas. Existindo entre os envolvidos uma união estável, conforme outrora manifestado,
posiciono-me pela nulidade do contrato de namoro, por afrontar às normas existenciais e de ordem
pública relativas à união estável, notadamente por desrespeito ao art. 226, § 3º da Constituição
Federal (LGL\1988\3). Como fundamento legal ainda pode ser citado o art. 166, inciso VI do Código
Civil (LGL\2002\400), pelo qual é nulo o negócio jurídico quando houver intuito das partes fraude à lei
imperativa. In casu, a lei imperativa é aquela que aponta os requisitos para a existência de uma união
estável, categoria que tem especial proteção do Estado. Subsidiariamente, serve como argumento a
função social do contrato que, em sua eficácia interna, deve ser utilizada para a proteção da dignidade
humana nas relações contratuais (art. 421 do CC/2002 (LGL\2002\400)).50
Outros doutrinadores defendem a sua possibilidade, como Zeno Veloso:
Tenho defendido a possibilidade de ser celebrado entre os interessados um “contrato de namoro”, ou
seja, um documento escrito em que o homem e a mulher atestam que estão tendo um envolvimento
amoroso, um relacionamento afetivo, mas que se esgota nisso, não havendo interesse ou vontade de
constituir uma entidade familiar, com as graves consequências pessoais e patrimoniais desta51
Regina Beatriz Tavares da Silva ensina:
Há quem diga que a celebração do equivocadamente chamado “contrato de namoro” configura ato
ilícito. Porém, quem faz esse tipo de afirmação esquece de que a declaração de namoro serve para
provar o que efetivamente existe, ou seja, relação de afeto sem consequências jurídicas. Essa
declaração somente pode ser tida como ilícita se falsear a verdadeira relação que existe entre aquelas
duas pessoas, ou seja, declararem que há namoro quando, na verdade, o que existe é união estável.52
Nesse sentido, para os que afirmam a validade dos contratos de namoro, ele é uma espécie de contrato
atípico com o intuito de demonstrar a vontade de não constituir família, mas apenas um
relacionamento amoroso. Há os que entendem a possibilidade de o documento ser realizado por
escritura pública.53
4.2 Análise jurisprudencial sobre a temática
Existem, ainda, poucos julgados sobre a validade do contrato de namoro, dos quais este negócio
jurídico foi considerado válido, resultando no afastamento da união estável.
O primeiro julgado ocorreu em 16 de junho de 2004 no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, tendo
como relator o desembargador Luiz Felipe Brasil Santos. Em sua decisão afirmou que a configuração do
instituto da união estável deve ser de forma clara, não podendo ser entendida para situações que
trazem dúvidas, e o contrato de namoro é um “aborto jurídico”. Critica a necessidade da existência de
um contrato para que um namoro espontâneo e singelo não seja considerado uma união estável com
todas as suas consequências patrimoniais.54
Outro julgado importante ocorreu no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em 15 de setembro de 2009,
no qual o Desembargador Marcos Alcino A. Torres reconheceu a existência de um contrato particular

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55
que vedada a partilha de bens.
Por fim, também já foi reconhecida a existência do contrato de namoro em um processo no Tribunal de
Justiça de São Paulo em 2008. Nas palavras do Desembargador Grava Brazil, “Verifica-se que os
litigantes convencionaram um verdadeiro contrato de namoro, celebrado em janeiro de 2005, cujo
objeto e cláusulas não revelam ânimo de constituir família”.56
Portanto, ao analisar as decisões jurisprudenciais acerca do tema, é possível notar que ainda são
poucas as decisões que entendem a existência do contrato de namoro, não sendo este ainda um meio
hábil para afastar os efeitos da união estável.
5 Conclusões
Existe uma nítida diferença entre a união estável e o namoro, porém, a comprovação dela é
extremamente dificultosa diante da regulamentação do instituto da união estável, especialmente sem a
necessidade de um prazo determinado para a sua configuração e com a falta de leis que determinem
sobre o namoro.
Diante de tais dificuldades, é inegável que o contrato de namoro pode ser usado como meio de afastar
o reconhecimento de uma entidade familiar, não podendo ser considerado um contrato nulo conforme
grande parte da doutrina pretende.
Este estudo analisou as consequências do amor líquido vivenciado pela sociedade atual, que faz com
que os relacionamentos amorosos contemporâneos sejam baseados na insegurança e em interesses
individuais, constituindo laços frouxos e facilmente revogáveis.
É certo que o namoro contemporâneo comporta experiências que antigamente só eram realizadas após
o casamento e, além disso, não é mais entendido como um período experimental anterior ao
casamento, podendo ser um mero relacionamento sem compromisso em constituir uma família. Dessa
forma, o namoro tem um significado atual que destoa da visão clássica de anos atrás, sendo
confundido inúmeras vezes com o instituto da união estável, trazendo as suas consequências jurídicas.
Portanto, este estudo buscou demonstrar que, apesar de a doutrina majoritária e a jurisprudência
dominante entenderem que o contrato de namoro deve ser considerado nulo, por meio dele é possível
identificar a existência ou não da intenção de constituir família, sendo o que diferencia a união estável
do namoro. Ademais, é de notório conhecimento que não basta apenas o contrato, havendo a
necessidade de se espelhar a realidade vivida pelo casal, que deverá ser analisada pelo Magistrado no
caso concreto.
6 Referências
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incidência da autonomia privada no direito de família. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010.
BAUMAN, Zygmunt. A arte da vida. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.
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BRITO, Rodrigo Toscano de. Conceito atual de família e suas repercussões patrimoniais. In: DIAS, Maria
Berenice (org.). Direito das famílias. São Paulo: Ed. RT, 2009.
CHAVES, Jaqueline Cavalcanti. "Ficar com": um estudo sobre um código de relacionamento no Brasil. 3.
ed. Rio de Janeiro: Revan, 2001.
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 7.ed. rev., atual e amp. São Paulo: Ed. RT, 2010.
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Salvador: JusPodivn, 2012.


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GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro 3 – Contratos e atos unilaterais. 13. ed. São Paulo:
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GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. v. 6 – Direito de família. 14. ed. São Paulo:
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SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Contrato de namoro. Estadão Política. Disponível em: [http://
politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/contrato-de-namoro/]. Acesso em: 23.11.2017.

1 LÔBO, Paulo. Direito Civil: contratos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 21

2 Ibidem, p. 16

3 GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro 3 – Contratos e atos unilaterais. 13. ed. São Paulo:
Saraiva, 2015. p. 24-25.

4 VENOSA, Sílvio Salvo. Direito civil – v. 3 – Contratos. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 7.

5 LÔBO, Paulo. Direito Civil: contratos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 25.

6 VENOSA, Sílvio Salvo. Direito civil – v. 3 – Contratos. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 7.

7 GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro 3 – Contratos e atos unilaterais. 13. ed. São Paulo:
Saraiva, 2015. p. 22.

8 VENOSA, Sílvio Salvo. Direito Civil – v. 3 – Contratos. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 14.

9 GONÇALVES, Carlos R. Direito Civil brasileiro 3 – Contratos e atos unilaterais. 13. ed. São Paulo:
Saraiva, 2015. p. 42.

10 PEREIRA, Caio Mário Silva. Instituições de direito civil – v. III – Contratos. 21. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2017. p. 186.

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11 “Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste
Código.”

12 GONÇALVES, Carlos R. Direito civil brasileiro 3 – Contratos e atos unilaterais. 13. ed. São Paulo:
Saraiva, 2015. p. 33-34.

13 BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Zahar, 2001. p. 13.

14 Idem.

15 BAUMAN, Zygmunt. Vida a crédito: conversas com Citali Rovirosa-Madrazo. Trad. Alexandre
Werneck. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. p. 217.

16 BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 7.

17 BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido. Sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar,
2004-06-21. p. 14.

18 BAUMAN, Zygmunt. A sociedade individualizada: vidas contadas e histórias vividas. Trad. José
Gradel. Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 199.

19 BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. Carlos Alberto
Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2004. p. 27.

20 BAUMAN, Zygmunt. A arte da vida. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. p.
25-26.

21 BAUMAN, Zygmunt. Vidas desperdiçadas. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar,
2005. p. 115.

22 CHAVES, Jaqueline Cavalcanti. "Ficar com": um estudo sobre um código de relacionamento no


Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2001. p. 83.

23 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. v.5: Família. 17. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 4.

24 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. v. 6 – Direito de família. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017. p. 32.

25 Idem.

26 PINHEIRO, Luiz Claudio. História do novo Código Civil. Disponível em: [http://www2.camara.leg.br/
camaranoticias/noticias/25690.html]. Acesso em: 05.11.2017.

27 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSEENVALD, Nelson. Curso de direito civil – Direito das famílias.
Salvador: Jus Podivn, 2012. p. 49.

28 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. v. 6 – Direito de família. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017. p. 604.

29 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 7. ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Ed. RT,
2010. p. 169.

30 LÔBO, Paulo. Direito Civil: contratos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 167.

31 Ibidem, p. 165.

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32 VELOSO, Zeno. É namoro ou União Estável?. Disponível em: [http://www.notariado.org.br/


index.php?pG=X19leGliZV9ub3RpY2lhcw==&in=ODAwMA]. Acesso em: 26.11.2017.

33 FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil – Direito das famílias.
Salvador: JusPodivn, 2012. p. 382.

34 TJMG, AC 10024112852348001 MG, Relator Heloisa Combat, j. 05.09.2013, Câmaras Cíveis/4ª


Câmara Cível, publ. 12.09.2013.

35 TJRS, Apelação Cível 70065287575, 7ª Câmara Cível, Relator Liselena Schifino Robles Ribeiro, j.
29.07.2015.

36 TRF-2 00047793820144025101 0004779-38.2014.4.02.5101, Relator Sergio Schwaitzer, j.


04.03.2016, 7ª Turma Especializada.

37 BRITO, Rodrigo Toscano de. Conceito atual de família e suas repercussões patrimoniais. In: DIAS,
Maria Berenice (org.). Direito das famílias. São Paulo: Ed. RT, 2009. p. 80.

38 FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS. Relatório índice de Confiança na Justiça no Brasil – ICJBrasil. 1º


semestre de 2016. Disponível em: [http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/
17204/Relatorio-ICJBrasil_1_sem_2016.pdf?sequence=1&isAllowed=y]. Acesso em: 20.11.2017.

39 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 5. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Ed. RT,
2009. p. 83-84.

40 LÔBO, Paulo. Direito civil: contratos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 47.

41 BARBOSA, Arruda Àguida. Apud LÔBO, Paulo. Direito Civil: contratos. 2. ed. São Paulo: Saraiva,
2014. p. 48.

42 SERPA. apud LÔBO, Paulo. Direito civil: contratos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 19.

43 ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Direito de família mínimo: a possibilidade de aplicação e o campo
de incidência da autonomia privada no direito de família. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. p. 144.

44 Artigo XII: “Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou
na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção
da lei contra tais interferências ou ataques”.

45 ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Direito de família mínimo: a possibilidade de aplicação e o campo
de incidência da autonomia privada no direito de família. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. p. 145.

46 VENOSA, Silvio de Salvo. Contratos afetivos: o temor do amor. Notas e Comentários. Revista
Magister de Direito Civil e Processual Civil, n. 44, p. 83, set.-out. 2011.

47 Ibidem, p. 183-184.

48 LOBO, Paulo. Direito civil – Famílias. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 166.

49 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. São Paulo: Ed. RT, 2010. p. 186.

50 TARTUCE, Flávio. Direito de família: Namoro – Efeitos Jurídicos. São Paulo: Atlas, 2011. p. 256.

51 VELOSO, Zeno. Contrato de namoro. Disponível em: [http://www.soleis.adv.br/


artigocontratodenamorozeno.htm]. Acesso em: 26.11.2017.

52 SILVA, Regina Beatriz Tavares da. Contrato de namoro. Estadão Política. Disponível em: [http://

https://revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/offload/get?_=1633036528693 Página 14 de 15
30/09/2021 18)16

politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/contrato-de-namoro/]. Acesso em: 23.11.2017.

53 Idem.

54 TJRS, 7ª Câmara Cível, Apelação Cível 70006235287, rel. Des. Luiz Felipe Brasil Santos, j.
16.06.2004.

55 TJRJ, 19ª Câmara Cível, Apelação Cível 0000305-63.2006.8.19.00003 (2009.001.13617), rel. Des.
Marcos Alcino A. Torres, j. 15.09.2009.

56 TJSP, 9ª Câmara de Direito Privado, Apelação Cível 554.280-417-00, rel. Des. Grava Brazil, j.
12.07.2008.

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