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FACULDADES BATISTA DO PARANÁ


MESTRADO PROFISSIONAL EM TEOLOGIA

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E OS MÉTODOS UTILIZADOS NO


ACONSELHAMENTO PASTORAL

JEVERSON NASCIMENTO

CURITIBA
2017
2
3

JEVERSON NASCIMENTO

VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER E OS MÉTODOS UTILIZADOS NO


ACONSELHAMENTO PASTORAL

Trabalho Final de Curso de Mestrado Profissional


apresentado para obtenção do Grau de Mestre em
Teologia pelas Faculdades Batista do Paraná,
Linha de Pesquisa e Atuação: Organização e
Cuidado Pastoral.
Orientador: Prof. Dr. Edilson Soares de Souza.

CURITIBA
2017
4
5

Dedico a todas as mulheres que sofreram ou sofrem algum tipo de violência. A todos
os pastores e líderes que desenvolvem a prática do aconselhamento pastoral.
6

AGRADECIMENTOS

A Deus pelo seu grande amor demonstrado no Calvário, pelo meu chamado,
cuidado e confirmação da minha vocação.
À minha esposa, Débora Mares Lemes da Silva Nascimento, que esteve
comigo em todos os momentos, me ajudando e dando forças para vencer todas as
dificuldades que vivemos durante este período de estudos.
Aos meus filhos, Micael Nascimento e Nathan Nascimento que
demonstraram entender a ausência do pai nos momentos de estudo para um
propósito maior.
Ao Prof. Dr. Edilson Soares de Souza, que foi designado para ser meu
orientador nos estudos durante todo o processo de produção desta dissertação.
A todos meus amigos e colegas, alunos da Faculdades Batista do Paraná,
que estiveram comigo no processo de aprendizagem: juntos aprendemos muito e a
amizade adquirida no processo foi um grande avanço na construção de uma filosofia
de vida cristã equilibrada. Obrigado a todos.
A todos os professores e funcionários da Faculdades Batista do Paraná,
obrigado por tudo.
7

RESUMO

O escopo do presente trabalho consiste em apontar os métodos utilizados


pelo aconselhamento pastoral nos casos de violência contra a mulher, bem como,
analisar sua efetividade no combate a esse fenômeno global. Partindo dessa
premissa define-se o objetivo específico do trabalho. A problemática do tema
revela-se na necessidade de reconhecer o combate da violência contra a mulher,
uma responsabilidade, também, das igrejas evangélicas. Para tanto, é necessário
uma compreensão histórica da violência contra as mulheres, que é intensa desde a
antiguidade. De acordo com a evolução da sociedade, o papel da mulher sofreu
alteração. Todavia, a desigualdade de sexo ficou evidente na ideologia patriarcal. O
capítulo I trata da violência, em todas as suas formas, além da apreciação feita em
relação aos sujeitos envolvidos na violência. O capítulo II ressalta que os altos
índices de violência exigiram do governo a criação de políticas públicas que
atendessem a demanda, garantissem a preservação dos direitos das mulheres e
também a punição do agressor. Especificamente no Brasil, muitos programas e
serviços voltados para a temática foram e vem sendo desenvolvidos pelo Governo
Federal com o apoio da sociedade. Neste sentido, destaca-se a importância da
intervenção religiosa, considerando seu número de adeptos. Por fim, o capítulo III
revela alguns métodos baseados na fé, razão e ciência, desenvolvidos pelas igrejas
evangélicas para auxiliar na erradicação da violência contra a mulher. A pesquisa
realizada constatou que o movimento religioso neste sentido ainda é muito lento,
entretanto, verificou-se que o desenvolvimento de métodos de aconselhamento
pastoral, aliados a diferentes áreas da ciência vem se solidificando e ganhando
espaço nos debates religiosos. A metodologia utilizada partiu de uma abordagem
qualitativa, que permitiu ao pesquisador constatar a latente necessidade da
conscientização da humanidade em relação ao valor da mulher, e
consequentemente, o respeito e proteção dos seus direitos. Diante do exposto, o
presente trabalho pretende contribuir para o diálogo acadêmico na promoção e
desenvolvimento de mecanismos de prevenção e acolhimento das vítimas.

Palavras-chave: Mulher; Violência; Políticas Públicas; Aconselhamento


Pastoral.
8

ABSTRACT

The scope of this work is to identify the methods used by pastoral counseling in
cases of violence against women, as well as to analyze their effectiveness in
combating this global phenomenon. Starting from this premise the specific objective
of the work is defined. The problematic of the theme is revealed in the need to
recognize the fight against violence against women, a responsibility, also, of the
evangelical churches. For this, it is necessary a historical understanding of violence
against women, which has been intense since antiquity. According to the evolution of
society, the role of women has changed. However, gender inequality was evident in
patriarchal ideology. Chapter I deals with violence, in all its forms, besides the
appreciation made in relation to the subjects involved in violence. Chapter II
emphasizes that high levels of violence required the government to create public
policies that would meet demand, guarantee the preservation of women's rights, and
punish the aggressor. Specifically in Brazil, many programs and services focused on
the theme have been and are being developed by the Federal Government with the
support of society. In this sense, the importance of religious intervention is
highlighted, considering its number of adherents. Finally, chapter III reveals some
methods based on faith, reason and science, developed by evangelical churches to
assist in the eradication of violence against women. The research found that the
religious movement in this sense is still very slow, however, it was verified that the
development of methods of pastoral counseling, allied to different areas of science
has been solidifying and gaining space in religious debates. The methodology used
was based on a qualitative approach, which allowed the researcher to verify the
latent need for the awareness of humanity in relation to the value of women and,
consequently, respect and protection of their rights. In view of the above, the present
work intends to contribute to the academic dialogue in the promotion and
development of mechanisms of prevention and reception of the victims.

KEYWORDS: Woman; Violence; Public policy; Pastoral Counseling.


9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 11
1. O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER....................................... 19
1.1Definição de Violência ......................................................................................... 23
1.2 Formas de Violência contra a Mulher ................................................................. 24
1.2.1 Violência Doméstica e Familiar ....................................................................... 25
1.2.2 Violência Física ............................................................................................... 27
1.2.3 Violência Psicológica....................................................................................... 28
1.2.4 Violência Sexual .............................................................................................. 29
1.2.5 Violência Patrimonial ....................................................................................... 30
1.2.6 Violência Moral ................................................................................................ 31
1.2.7 Violência Religiosa .......................................................................................... 32
1.2.8 Violência de gênero ........................................................................................ 33
1.2.9 Violência Institucional ...................................................................................... 34
1.3 Perfil do Sujeito Ativo e Passivo ......................................................................... 35
1.3.1 Perfil da Vítima ................................................................................................ 36
1.3.2 Perfil do Agressor ............................................................................................ 39
2 POLÍTICAS PÚBLICAS E SERVIÇOS DE ATENDIMENTO AS MULHERES
VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA ........................................................................................ 43
2.1 Secretaria de Políticas para as Mulheres ........................................................... 44
2.1.1 Política Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres .............. 46
2.1.2 Plano Nacional de Políticas para as Mulheres – PNPM .................................. 48
2.1.3 Rede de Serviços para Mulheres em Situação de Violência ........................... 49
2.1.4 Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência - Ligue 180 ........ 50
2.2 Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM) ........................................... 51
2.3 Delegacias Especializadas de Atendimento Às Mulheres (Deams) .................... 52
2.4 Juizados Especiais Criminais de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher......... ............................................................................................................. 55
2.5 Lei Maria da Penha (Lei Nº 11.340/2006) ........................................................... 58
2.6 Mecanismos de Recuperação do Agressor ........................................................ 60
2.7 Igreja no Enfrentamento à Violência contra Mulheres ........................................ 63
3 ACONSELHAMENTO PASTORAL EM CASOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A
MULHER.................................................................................................................. 70
10

3.1 Definição de Aconselhamento Pastoral .............................................................. 71


3.2 Objetivos do Aconselhamento Pastoral .............................................................. 74
3.3 O Conselheiro Pastoral ...................................................................................... 75
3.4 Métodos utilizados no Aconselhamento Pastoral ............................................... 77
3.4.1 Modelo Fundamentalista ................................................................................. 78
3.4.2 Modelo Evangelical ......................................................................................... 78
3.4.3 Modelo Holístico de Libertação e Crescimento ............................................... 80
3.5 Aconselhamento Pastoral e a Teologia .............................................................. 81
3.6 Aconselhamento Pastoral e a Psicologia ........................................................... 83
3.6.1 Psicologia Pastoral .......................................................................................... 85
3.7 O Aconselhamento Pastoral frente às Mulheres Vítimas de Violência........ ........ 88
3.8 Dimensões Sociais, Políticas, Econômicas e Culturais do Aconselhamento
Pastoral......... ........................................................................................................... 92
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 96
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 101
11

INTRODUÇÃO

O presente trabalho versa sobre os métodos utilizados no aconselhamento


pastoral em caso de violência contra a mulher. Partindo dessa premissa, pretende-
se fazer uma análise contextualizada da violência contra a mulher sobre o ponto de
vista histórico, social, terminológico, legal, entre outras peculiaridades, destacando-
se a importância da discussão dessa temática por parte da sociedade.
Anualmente, milhares de mulheres morrem em decorrência de atos violentos
no mundo todo, os quais ainda deixam outras milhares com sequelas físicas e
psicológicas. A violência não leva em consideração idade, cor, raça, condição
socioeconômica: atinge a quem puder vorazmente. O quadro é agravado quando se
observa o sujeito agressor.
No Brasil, a população feminina ultrapassa 107 milhões de mulheres 1. Uma
pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo (FPA) em parceria com o Serviço
Social do Comércio (SESC) apontou que uma em cada cinco mulheres, considera já
ter sofrido alguma vez “algum tipo de violência de parte de algum homem, conhecido
ou desconhecido”2.
A maioria dos casos de agressões acontecem dentro da casa da vítima, no
ambiente familiar, e o principal agressor é o seu cônjuge, aquele que ela escolheu
para constituir um lar e formar uma família.
A análise do tema é importante e relevante por dois motivos: primeiro, pelo
sofrimento indescritível imputado às vítimas, que sofrem caladas muitas vezes; e
segundo, porque, comprovadamente, a violência impede um desenvolvimento físico,
psicológico e social adequado.
A complexidade que envolve o tema da violência contra a mulher ganhou
proporções mundiais, sendo uma realidade que não pode ser ignorada pela
sociedade como um todo. A inferiorização da mulher desde os tempos remotos
precisa ser extinta e uma ideologia pautada na igualdade deve ser inserida nas
relações.

1
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. População do Brasil. 2017. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/>. Acesso em: 28 de janeiro de 2017.
2
INSTITUTO PATRICIA GALVAO. Sobre as violências contra as mulheres. Disponível em:
<http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/sobre-as-violencias-contra-a-mulher/>. Acesso em:
28 janeiro 2017.
12

Para Cavalcanti3, o sujeito violento comete um ato de brutalidade, abuso,


constrangimento, desrespeito, discriminação, impedimento, imposição, invasão,
ofensa, proibição, sevícia, agressão física, psíquica, moral ou patrimonial contra
alguém, pautando suas relações sociais e intersubjetivas pela ofensa e intimidação,
pelo medo e terror.
Ante o exposto, conclui-se que a violência contra a mulher é reflexo da
desigualdade social, política e econômica, reforçado por ideologias sexistas, racistas
e patriarcais. A violência contra a mulher atravessou o tempo, se estabeleceu nas
sociedades e por muitos anos disseminou-se silenciosamente.
Segundo Morgado4, trata-se de um fenômeno antigo, presente em todas as
classes sociais e em todas as sociedades, das mais desenvolvidas às mais
vulneráveis economicamente, compreendendo um conjunto de relações sociais que
tornam complexa sua natureza.
De modo gradual, a questão da violência contra as mulheres vem
universalmente ganhando espaço. Devido ao grande impacto causado na família, no
Estado, na política e na economia, é imprescindível intensificar o debate sobre o
assunto. A conscientização de cada ser humano é pré-requisito para acabar com a
violência contra a mulher.
Neste sentido, a religião, independentemente do seu regimento, é uma forte
aliada na propagação de práticas de enfrentamento. A Igreja, especificamente a as
evangélicas de cunho protestantes, pentecostais e neopentecostais, trazem em seu
bojo o amor, o respeito e a compaixão pelo próximo como premissa do evangelho.
Com base nisso, compete à Igreja aprimorar seus conceitos e ampliar seus
conhecimentos no sentido de atender a sociedade, sobretudo, a mulher quando
necessário.
A partir de pesquisas bibliográficas no âmbito do aconselhamento pastoral
nos casos de violência contra a mulher, constatou-se uma deficiência tanto de
conteúdo quanto de métodos na Igreja. Essa ausência de embasamento teórico e
prático reflete-se negativamente na prática da igreja e impede que o
aconselhamento atinja o objetivo para o qual foi desenvolvido. Por conta disso

3
CAVALCANTI, Stela V. S. F. Violência doméstica contra a mulher no Brasil. Salvador: Podivm, 2ª
ed, 2008, p. 21.
4
MORGADO, Rosana. Mulheres em situação de violência doméstica: Limites e possibilidades de
enfrentamento. In: H. SIGNORINI; E. BRANDÃO (eds.), Psicologia jurídica no Brasil. Rio de Janeiro,
Nau, 2004, p. 309.
13

conclui-se que é necessário explorar, desenvolver e estudar um pouco mais o


assunto.
Rogers e Kinget5 entendem que o aconselhamento pastoral pode e deve ser
encarado como uma forma de relação de ajuda particular e específica, no qual um
ministro religioso, ou mesmo um leigo tenha competências devidamente
desenvolvidas.
A violência deve ser compreendida pela religião cristã como um problema de
ordem social e não apenas espiritual, sendo necessário observar o conhecimento
oferecido pelas demais ciências e assim, realizar um aconselhamento pastoral com
excelência, minimizando a violência contra a mulher. Outrossim, é imprescindível
ficar atento a possíveis patologias religiosas, se considerada a religião como um
fenômeno ambíguo capaz de causar sérios danos tanto ao indivíduo quanto ao
corpo da sociedade.6
Faz-se uma ressalva aqui, destacando que o enfrentamento da violência
contra as mulheres não se deve restringir apenas ao combate, mas também, às
dimensões da prevenção, assistência e garantia de direitos. Por esta razão, é de
responsabilidade do Estado e dos profissionais desenvolverem uma abordagem
intersetorial e multidimensional, capaz de provocar mudanças culturais, educativas e
sociais7.
Assim sendo, é fundamental que os serviços de proteção à mulher voltem
seu olhar para ações com abordagem mais ampla e integralizada, nas quais os
agressores sejam identificados como integrantes do contexto onde a violência se
desenvolve e, assim, também incluídos nas abordagens de enfrentamento. 8
O estudo tem como objetivo, analisar, interpretar e dar continuidade aos
diálogos já existentes relativos à violência contra a mulher, e para tanto, buscou-se
definir a violência, as formas pelas quais se manifesta, traçar o perfil dos sujeitos
envolvidos e as consequências experimentadas. Objetiva-se também contribuir com

5
ROGERS, Carl; KINGET, G. Marian. Psicoterapia & Relações Humanas. Vol. 1, Belo Horizonte:
Inter livros, 1977, p. 43.
6
BRAKEMEIER, Gottfried. Possíveis contribuições da teologia à psicologia. 2007. Disponível em: <
http://www.cppc.org.br/possiveis-contribuicoes-da-teologia-a-psicologia-e-psiquiatria-por-gottfried-
brakemeier/>. Acesso em: 28 de janeiro de 2017.
7
MADUREIRA, Alexandra B. et al. Perfil de homens autores de violência contra mulheres detidos em
flagrante: contribuições para o enfrentamento. 2014. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/ean/v18n4/1414-8145-ean-18-04-0600.pdf>. Acesso em: 28 de janeiro de
2017.
8
Idem.
14

a escassa produção científica de métodos específicos para o uso no


aconselhamento pastoral em casos de violência contra a mulher.
Em relação à metodologia empregada, foi feita uma pesquisa bibliográfica
sob uma perspectiva descritiva e exploratória, numa abordagem qualitativa.
Conforme explica Fluck9, a abordagem qualitativa permite ao pesquisador entender
a essência da realidade concreta e a compreensão dos processos sociais e
fenômenos intrínsecos à vida humana. Para o desenvolvimento desta foi necessário
pesquisar temas relacionados à violência — sua contextualização, história, tipos,
causas, consequências, perfil da vítima e agressor e leis de proteção às mulheres.
A dissertação estrutura-se em três capítulos. No primeiro, sob o título “O
Fenômeno da Violência contra a Mulher”, faz-se uma abordagem histórica sobre
este fenômeno com base em registros históricos feitos por filósofos, doutrinadores e
também pela Bíblia Sagrada como uma fonte de pesquisa para melhor compreensão
do papel desempenhado pela mulher até os dias atuais.
Perceptível é desde o início, a anulação da mulher e, consequentemente, de
seus direitos. O homem sempre foi considerado o provedor do lar, o senhor, o dono.
Essa percepção o tornava um ser superior, controlador. Neste sentido, a Bíblia era,
e ainda é, utilizada para expansão dessa concepção de superioridade, pois em
inúmeras passagens ratifica esse poder do homem.
Segundo Dias10, a desigualdade sociocultural é uma das principais razões
da discriminação feminina, e, principalmente, de sua dominação pelos homens, que
se veem como seres superiores e mais fortes. A autora prossegue afirmando, que o
homem se considera proprietário do corpo e da vontade da mulher, e também, dos
filhos. A sociedade protege a agressividade masculina, constrói a imagem da
superioridade do sexo que é respeitado por sua virilidade. Afetividade e
sensibilidade não são expressões de masculinidade. Desde o nascimento, o homem
é induzido a ser forte, não chorar, não levar desaforo para casa, não ser
“mulherzinha”. Os homens precisam ser super-homens, não lhes é permitido ser
apenas humanos. Essa errônea concepção masculina de poder é que lhes assegura
o suposto direito de fazer uso de sua força física sobre a mulher.

9
FLUCK, Marlon R. Manual de elaboração de TCC e Dissertação. Curitiba: Ed. Cia de Escritores,
2014, p. 11.
10
DIAS, Maria B. A lei Maria Da Penha Na Justiça; São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2007, p. 2.
15

Esse pensamento permaneceu por séculos, e somente há poucas décadas


essa compreensão equivocada começou a perder força. A definição do termo
“violência” e as formas pelas quais se manifesta, são feitas neste capítulo. O
conceito de violência, ao longo dos anos, foi ganhando novos sentidos:

A violência contra a mulher é referida de diversas formas desde a década


de 50. Designada como violência intrafamiliar na metade do século XX,
vinte anos depois passa a ser referida como violência contra a mulher. Nos
anos 80, é denominada como violência doméstica e, na década de 90, os
estudos passam a tratar essas relações de poder, em que a mulher em
qualquer faixa etária é submetida e subjugada, como violência de gênero. 11

O Conselho Nacional Econômico das Nações Unidas, define a violência


contra a mulher como, “qualquer ato violento baseado na diferença de gênero, que
resulte em sofrimento e danos físicos, sexuais e psicológicos da mulher, inclusive
ameaças de tais atos, coerção e privação de liberdade, seja da vida pública ou
privada”.12
Essas novas interpretações sobre a violência contra a mulher deram mais
visibilidade ao problema e encorajaram as mulheres a romper com o silêncio, e exigir
do Estado uma atitude. Em paralelo, a individualização das diversas formas de
violência, permitiu uma visão ampla dos motivos que desencadeavam a violência,
bem como, o meio para tratá-la. Neste sentido a própria lei brasileira reconhece e
tipifica algumas formas de violência, como a física, psicológica, sexual, patrimonial e
moral, entre outras formas.
Para finalizar o Capítulo I, estudar-se-á o perfil da vítima e do agressor nos
casos de violência contra a mulher, que, por regra, não é explicitado em um único
padrão que define a natureza humana em ser vítima ou agressor. Contudo, vários
estudos e pesquisas foram feitas neste sentido e, com base nos dados coletados, foi
possível criar alguns parâmetros.
Sucintamente, a violência manifesta-se de forma reiterada, constituindo-se
um padrão de conduta continuado. Os agressores geralmente foram vítimas de
maus-tratos na infância, e por isso têm predisposição a reproduzir tal conduta.

11
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações
programáticas Estratégicas. Atenção Integral para Mulheres e Adolescentes em Situação de Violência
Doméstica e Sexual: matriz pedagógica de redes. 2011, p. 10.
12
CAMPOS, Amini Haddad e CORREA, Lindalva Rodrigues. Direitos Humanos das Mulheres.
Curitiba: Juruá, 2007, p. 211.
16

Diante deste panorama histórico, cultural e social, era latente a necessidade


da mobilidade do Estado neste sentido, o qual agiu com a criação de leis, diretrizes,
políticas públicas e serviços de atendimento, que se intensificaram.
No capítulo II, intitulado como “Políticas Públicas e Serviços de Atendimento
às Mulheres Vítimas da Violência”, citar-se-ão as medidas mais relevantes que o
Estado vem adotando no combate à violência.
Além das garantias constitucionais, o Governo Federal criou um órgão
especifico para tratar de questões relativas a mulher, a Secretaria de Políticas para
as Mulheres — SPM. Considerada um Ministério, a SMP tem autonomia para em
conjunto com outros órgãos governamentais e não-governamentais, desenvolver
mecanismos de proteção, tratamento e acolhimento para a vítima.
A solidificação da referida Secretaria ampliou consideravelmente o acesso
da mulher à justiça. De certa forma trouxe um empoderamento para as vítimas que
deixaram de se sentir sozinhas, sem respaldo legal para garantir seus direitos
básicos. O ápice das políticas governamentais deu-se com a promulgação da Lei
Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), que ganhou destaque em todas as mídias
nacionais e internacionais. A lei leva esse nome em homenagem a uma mulher que
sofreu por anos violência do seu cônjuge, incluindo tentativas de homicídio e que,
por conta das agressões sofridas, ficou tetraplégica.
Além da lei supracitada foram criadas delegacias especializadas no
atendimento de mulheres em situação de violência, e também foram instituídos os
JECRIMs — Juizados Especiais Criminais voltados para a violência doméstica e
familiar contra a mulher. A lei por si só não é tão eficaz quanto todas essas
instituições juntas, por isso é importante implementar mais unidades neste sentido.
Ainda nesse capítulo, buscou-se fazer o levantamento de serviços
disponibilizados ao agressor, no intuito de reintegrá-lo ao seio da família e da
sociedade, evitando dessa forma a reiteração da violência. Atualmente a
implementação de serviços destinados aos agressores revela-se como um grande
desafio; todavia, quando atrelados às ações voltadas às mulheres, revelam-se como
uma ferramenta para a promoção da equidade de gênero e a redução da violência. 13

13
Lima, Daniel C; Buchele Fátima. Revisão crítica sobre o atendimento a homens autores de
violência doméstica e familiar contra as mulheres. Rio de Janeiro: Physis. [on line]. 2011, n. 2.
Disponível em: <http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
73312011000200020>. Acesso em: 28 de janeiro de 2017.
17

Contudo, alguns especialistas, defendem que a principal política de


prevenção à violência contra a mulher é o investimento em educação, com a
inclusão de debates sobre as desigualdades nos currículos escolares. Isso
provocaria nas próximas gerações a desconstrução dos estereótipos tão presentes
na sociedade brasileira. 14
É necessário também compreender que o contexto no qual a sociedade e,
sobretudo, a mulher está inserida, tem conexão com a religião, portanto, o alcance
de qualquer ação, projeto ou movimento da cristandade tem um valor inimaginável e
efetividade imediata. Partindo dessa premissa, pesquisas foram feitas para verificar
qual o posicionamento das Igreja Evangélicas em relação ao tema abordado. No
Brasil, principalmente, o tema ainda é pouco discutido, mas percebe-se uma
conscientização da problemática e, consequentemente, alguns passos estão sendo
dados.
O aconselhamento pastoral é um dos passos dados em direção ao
enfrentamento da violência contra a mulher e com base nisso, o capítulo III foi
redigido. A definição do “aconselhamento pastoral” e a explanação dos objetivos são
essenciais para compreender a dimensão desse método. É um tema que propõe
discussões acirradas entre religiosos, estudiosos e legisladores, uma vez que,
questiona-se a aplicabilidade da Bíblia em harmonia com outras ciências, bem
como, a competência do aconselhador em ir além das Escrituras Sagradas.
No decorrer do capítulo serão apresentados os modelos mais relevantes de
aconselhamento pastoral, bem como se fará alguns apontamentos sobre psicologia,
psicologia pastoral e teologia, ciências estas que vêm sendo reconhecidas e
adotadas pelas instituições religiosas.
É recorrente nos dias atuais encontrar barreiras em alguns grupos religiosos
quando o assunto é a associação da psicologia e o aconselhamento. A resistência
de tais grupos consiste na compreensão de que as causas emocionais do indivíduo
também estão assentadas no contexto de sua alma. Ou seja, não se pode separar
15
causas emocionais das espiritualidades.

14
ONUBR. Brasil precisa avançar na prevenção à violência contra a mulher, dizem especialistas,
2016. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/brasil-precisa-avancar-prevencao-a-violencia-contra-
a-mulher-dizem-especialistas>/. Acesso em: 28 janeiro 2017.
15
CASTRO, Edson F. Aconselhamento em Psicologia Pastoral. Disponível em:
<http://199.201.89.10/~ethnic/images/stories/document/artigo_edson01.pdf>. Acesso em: 28 janeiro
2017.
18

Entender a violência contra a mulher como uma questão de cunho, também


religioso, é a grande problemática do tema. O desenvolvimentos de métodos que
baseados na fé, na razão e na ciência são imprescindíveis para obter êxito. A
conscientização e aceitação das igrejas evangélicas é um mecanismo eficaz e de
alcance rápido nessa luta.
Neste sentido, o psicólogo clínico Samuel Costa, formado pela Universidade
Gama Filho, no Rio de Janeiro, define Psicologia Pastoral como “a aplicação dos
conhecimentos da Psicologia no campo da religião, cujo interesse principal está em
fornecer os conhecimentos da psicologia, para que o homem religioso, tendo o título
de pastor ou não, possa colocar em prática a sua fé cristã, no seu viver diário, para
amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”16.
Vislumbra-se durante a pesquisa a necessidade de promover constantes
diálogos entre o saber e a fé. Não se pode ignorar a aproximação dessas áreas
distintas ou reduzi-las a termos técnicos. Por fim, analisar-se-ão as dimensões
sociais, políticas, econômicas e culturais que o aconselhamento tem atingido.
Esta pesquisa não tem a pretensão de esgotar o assunto sobre o fenômeno
da violência contra a mulher, tampouco sobre os métodos a serem utilizados no
aconselhamento pastoral. Entretanto, pretende-se propiciar uma visão mais ampla e
clara sobre a temática.

16
COSTA, Samuel. Psicologia Pastoral. Rio de Janeiro: Editora Silva costa – Rio de Janeiro, 2005.
19

1.O FENÔMENO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

A violência, de forma geral, está diretamente ligada à forma como a


sociedade se estabelece, impõe seus valores, determina as normas de conduta, e
distribui seus bens e serviços. Ante o exposto, subentende-se que a violência,
enquanto fenômeno social, está inserida na estrutura social, econômica, cultural e
política, e é exteriorizada pelas ações dos indivíduos. Partindo dessa premissa,
analisar-se-ão os aspectos históricos da violência, especificamente contra a mulher
no decorrer deste capítulo.
A violência contra a mulher sempre foi uma constante na natureza humana.
Registros históricos comprovam que desde os primórdios da civilização as mulheres
são vítimas de violência de diferentes formas; seus direitos mais elementares —
como direito à vida, à liberdade e a disposição de seu corpo — sofreram e sofrem
graves violações. Neste sentido, Campos e Corrêa apontam que:

A primeira base de sustentação da ideologia de hierarquização masculina


em relação à mulher, e sua consequente subordinação, possui cerca de
2.500 (dois mil e quinhentos) anos, através do filósofo helenista Filon de
Alexandria, que propagou sua tese baseado nas concepções de Platão, que
defendia a ideia de que a mulher pouco possuía capacidade de raciocínio,
além de ter alma inferior à do homem. Ideias, estas, que transformaram a
mulher na figura repleta de futilidades, vaidades, relacionada tão-somente
aos aspectos carnais.17

Percebe-se na citação acima, a construção ideológica da superioridade do


homem em detrimento da mulher, nada mais que uma tentativa de justificativa
científica para impor a subordinação da mulher. Dando prosseguimento, Campos e
Corrêa citam que:

Aristóteles também explanou algumas ideias acerca desse contexto. Ele


posicionou o homem com superioridade e divindade em relação à mulher, já
que esta se compunha como um ser emocional, desviado do tipo humano.
Assim, a alma tem domínio sobre o corpo; a razão sobre a emoção; o
masculino sobre o feminino.18

A despeito disso, a Bíblia Sagrada, um dos livros mais antigos e lidos no


mundo todo, permite uma interpretação literal em diversas passagens também

17
CAMPOS, Amini H; CORRÊA, Lindalva R. Direitos Humanos das Mulheres. Curitiba: Juruá, 2007,
p. 99.
18
Ibidem, p. 60.
20

coloca a mulher numa condição secundária, e ainda, atribui-lhe a culpa pela queda
no paraíso. Salienta-se que esta interpretação literal não corresponde a verdadeira
mensagem cristã, entretanto, a partir dessa interpretação, a submissão feminina se
disseminou nas relações e no tempo.
No decorrer dos séculos esta visão deturpada foi se mantendo, prova disso
é o legado deixado pela cultura ocidental. Na civilização grega, a mulher era vista
como uma criatura desumana, sem direitos jurídicos, sem acesso à educação
formal, jamais poderia aparecer sozinha em público, considerada totalmente inferior
ao homem19. Neste sentido Vrissimtzis assinala que:

[...] o homem era polígamo e o soberano inquestionável na sociedade


patriarcal, a qual pode ser descrita como o ‘clube masculino mais
exclusivista de todos os tempos’. Não apenas gozava de todos os direitos
civis e políticos, como também tinha poder absoluto sobre a mulher.20

O patriarcalismo atribuía aos homens o direito de dominar e controlar as


mulheres, podendo em certos casos, atingir os limites da violência. Da mesma forma
aconteceu em Roma: as mulheres foram excluídas socialmente, juridicamente e
politicamente; igualadas às crianças e aos escravos. A mulher era não reconhecida
como cidadã, resumidamente, era tida como um instrumento de procriação. 21
Com o advento do Cristianismo a situação da mulher permaneceu quase a
mesma. Para Pinafi, a mulher passou a ser considerada como:

“[...] pecadora e culpada pelo desterro dos homens do paraíso, devendo por
isso seguir a trindade da obediência, da passividade e da submissão aos
homens, — seres de grande iluminação capazes de dominar os instintos
irrefreáveis das mulheres — como formas de obter sua salvação.22

Até o século XVI, a religião e a medicina reconheciam a existência de


apenas um corpo e este corpo era do sexo masculino. “Por essa visão a vagina é

19
PINAFI, Tânia. Violência contra a mulher: políticas públicas e medidas protetivas na
contemporaneidade. São Paulo: Revista Histórica, 21ª ed., 2007. Disponível em:
<http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao21/materia03/>. Acesso em:
26 de janeiro de 2017.
20
VRISSIMTZIS, Nikos A. Amor, Sexo e Casamento na Grécia Antiga. Trad. Luiz Alberto Machado
Cabral. 1. ed. São Paulo: Odysseus, 2002, p. 38.
21
PINAFI, loc. cit.
22
Idem.
21

vista como um pênis interno, os lábios como o prepúcio, o útero como o escroto e os
ovários como os testículos”, elucida Pinafi.23
Esta concepção de modelo de sexo único permaneceu até meados do
século XVII, quando a medicina passou gradualmente dispor sobre as diferenças
morfológicas entre homens e mulheres. Até mesmo Aristóteles, reconhecia essa
24
distinção entre os sexos.
A inserção da mulher na vida social, política e cultural, ocorreu de fato após
a revolução francesa, marcada com a queima de sutiãs em em 7 de setembro de
1968, onde clamavam por liberdade e igualdade. Tornando-se insustentável a
hierarquia entre homem e mulher baseado no sexo único. 25
Com a consolidação do sistema capitalista no século XIX, a trajetória das
mulheres sofreu profundas mudanças. Como bem delineou Pinafi:

Seu modo de produção afetou o trabalho feminino levando um grande


contingente de mulheres às fábricas. A mulher sai do locus que até então
lhe era reservado e permitido — o espaço privado, e vai à esfera pública.
Neste processo, contestam a visão de que são inferiores aos homens e se
articulam para provar que podem fazer as mesmas coisas que eles,
iniciando assim, a trajetória do movimento feminista.26

Ante o exposto, Gregori pontuou que o movimento das mulheres tinha como
escopo promover o fim da discriminação social, econômica, política e cultural sofrida
pela mulher. Partindo dessa premissa, definiu o movimento das mulheres como, “um
conjunto de noções que define a relação entre os sexos como uma relação de
assimetria, construída social e culturalmente, e na qual o feminismo é o lugar e o
atributo da inferioridade”. 27
A bandeira erguida pelas mulheres que lutavam por liberdade e igualdade
entre homens e mulheres, foi o pontapé inicial para que uma mobilização de nível
mundial começasse a acontecer. O ápice dessa mobilidade mundial foi a adoção da

23
Idem.
24
LAQUEUR, Thomas. Inventando o Sexo: Corpo e gênero dos gregos à Freud. Rio de Janeiro:
Relume Dumará, 2001, p. 17.
25
Idem.
26
PINAFI, loc. cit.
27
GREGORI, M. F. Cenas e queixas: um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática
feminista. 1. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; São Paulo: ANPOCS, 1993, p. 15.
22

Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a


Mulher (CEDAW) em 1979, doravante denominada Convenção da Mulher. 28
A CEDAW foi o primeiro tratado internacional que dispôs amplamente sobre
os direitos humanos da mulher mundialmente. A proposta era promover os direitos
da mulher na busca da igualdade de gênero e reprimir quaisquer discriminações
contra a mulher nos Estados-parte.29
No Brasil, o primeiro movimento a favor da mulher aconteceu em 1918,
quando a classe média brasileira reivindicou o direito da mulher ao voto. O resultado
desse movimento, foi a aprovação do Código Eleitoral em 1932, que assegurava à
mulher o direito de voto e de se eleger.30
Em 1936 foi elaborado o Estatuto da Mulher, conquista extremamente
importante, associada a consagração do princípio de igualdade entre os sexos, no
ano de 1934 pela Constituinte.31
“A década de 70 é marcada pelo surgimento dos primeiros movimentos de
mulheres, organizados e politicamente engajados em defesa dos direitos da mulher
contra o sistema social opressor — o machismo”, conforme discorreu Lira. Ele
prossegue relatando que, em 1977 foi promulgada a lei do divórcio, outro marco
relevante, uma vez que permitiu que as mulheres que sofriam algum tipo de
violência dos seus cônjuges, ou por outro motivo também, terminassem a relação e
adquirissem o direito de contrair novas núpcias. 32
Para finalizar o estudo sobre a contextualização histórica da violência contra
a mulher, em 1988 com a promulgação da Constituição Federal do Brasil, os direitos
das mulheres como cidadãs e trabalhadoras foram assegurados como uma máxima.
A partir daí outras políticas públicas e serviços foram desenvolvidas pelo governo
neste sentido e serão estudados no capítulo II. 33

28
BRASIL. Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher –
CEDAW 1979. Disponível em: <http://www.compromissoeatitude.org.br/wp-
content/uploads/2012/11/SPM2006_CEDAW_portugues.pdf>. Acesso em: 26 de janeiro de 2017.
29
Idem.
30
LIRA, Higor. Aspectos históricos da discriminação de gênero e da violência doméstica contra a
mulher. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/43397/aspectos-historicos-da-discriminacao-de-
genero-e-da-violencia-domestica-contra-a-mulher>. Acesso em: 26 de janeiro de 2017.
31
Idem.
32
Idem.
33
Idem.
23

Antes, contudo, cumpre entender o significado do termo violência, bem como


suas variadas formas, para, por fim, compreender os sujeitos que compõem essa
relação de violência.

1.1 Definição de Violência

A palavra “violência” deriva do Latim “violentia”, que significa “veemência,


impetuosidade”. Mas na sua origem está relacionada com o termo “violação”
(violare). Objetivamente, significa “usar a agressividade de forma intencional e
excessiva para ameaçar ou cometer algum ato que resulte em acidente, morte ou
trauma psicológico”.34
No Dicionário Aurélio encontra-se a seguinte definição: “violência é qualquer
ato de violentar, ou melhor, usar a força e/ou coerção/coação que causa
constrangimento físico ou moral à determinada pessoa”35. A Organização Mundial da
Saúde (OMS), define a Violência como:

O uso da força física ou do poder real ou em ameaça, contra si próprio,


contra outra pessoa, contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou
tenha qualquer possibilidade de resultar em lesão, morte ou dano
psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação.36

Neste sentido, a OMS classifica a violência em três modalidades:


interpessoal, contra si e coletiva. A violência interpessoal pode ser física ou
psicológica e ocorrer dentro do espaço público ou privado. As vítimas geralmente
são crianças, jovens, adultos e idosos. A violência contra si mesmo, é causada pela
própria pessoa que se violenta, causando danos a si mesma. E, por fim, a violência
coletiva é aquela cometida contra outra pessoa ou um grupo. 37
Em se tratando da violência especifica contra a mulher, encontrar-se-ão
diversos significados. Segundo Almeida38, seus variados usos semânticos têm,

34
SIGNIFICADOS. O que é violência. Disponível em: <https://www.significados.com.br/violencia/>.
Acesso em: 26 de janeiro de 2017.
35
AURÉLIO, Dicionário. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
36
SOUZA, Edinilsa R. (org). Curso Impactos da Violência Sobre a Saúde. Rio de Janeiro.
ENSP/FIOCRUZ, 2007, p.15.
37
BRASIL. Ministério da Saúde. O desafio do enfrentamento da violência: Situação Atual, estratégias
e propostas. 2008, p. 5.
38
ALMEIDA, Suely S. Essa Violência mal-dita. In: ALMEIDA, Suely S. (Org.). Violência de gênero e
políticas públicas. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 2007, p. 15.
24

muitas vezes, sentidos equivalentes nas distintas denominações: violência contra a


mulher, violência doméstica, violência intrafamiliar, violência conjugal, violência
familiar e violência de gênero.
Sistematicamente a violência, é definida como “qualquer ato de violência
baseado na diferença de gênero, que resulte em sofrimento e danos físicos, sexuais
e psicológicos da mulher, inclusive ameaças de tais atos, coerção e privação de
liberdade seja na vida pública ou privada”.39
Em suma, a violência, independente de como ela se apresenta, é causada
intencionalmente por alguém que usa da força física ou da coerção para lesionar
outra pessoa. Superada a questão da definição do termo violência, a seguir citar-se-
ão algumas formas de violências praticadas contra as mulheres.

1.2 Formas de Violência contra a Mulher

A violência contra a mulher manifesta-se de variadas formas, desde um sutil


assédio, até um homicídio. O campo de atuação da violência extrapola os limites do
seu lar e se estende até instituições públicas e privadas. Para facilitar a
compreensão dessas formas, tomar-se-á como base o artigo 7º da Lei nº
11.340/2006 que determina o seguinte:

Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre


outras:
I - A violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause
danos emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e
perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas
ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça,
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância
constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização,
exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe
cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a
presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada,
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a
comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a
impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de
seus direitos sexuais e reprodutivos;

39
CAMPOS, Amini H; CORRÊA, Lindalva R. Direitos Humanos das Mulheres. Curitiba: Juruá, 2007,
p. 211.
25

IV - A violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure


retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos,
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas
necessidades;
V - A violência moral, entendida como qualquer conduta que configure
calúnia, difamação ou injúria.40

Importante ressaltar que além do rol apresentado pela referida lei, no caput
do artigo 7º, é utilizada a expressão “entre outras”, que reconhece a existência de
outras formas de violência contra a mulher. Diante disso, destacar-se-ão as mais
relevantes.

1.2.1 Violência Doméstica e Familiar

Sobre a violência doméstica, a lei supracitada, no artigo 5º dispõe o


seguinte:

Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar


contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe
cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou
patrimonial:
I - No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de
convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;
II - No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por
indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços
naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou
tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem
de orientação sexual.41

Observa-se que o artigo acima faz uma alusão ao âmbito doméstico e


familiar. É de suma importância entender a diferenciação entre eles. O primeiro
refere-se ao ambiente de trabalho, o caso das empregadas domésticas, por
exemplo, quando não se exige que a ofendida possua algum vínculo de parentesco

40
BRASIL. LEI Nº 11.340, de 7 de agosto 2006. Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e
familiar contra a mulher, nos termos do § 8 o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação
dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal,
o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 26 de janeiro
de 2017.
41
Idem.
26

com o agressor para que a violência seja configurada, bastando apenas a frequência
naquela unidade doméstica42. Neste sentido Nucci43 assinala que:

A mulher agredida no âmbito da unidade doméstica deve fazer parte dessa


relação doméstica. Não seria lógico que qualquer mulher, bastando entrar
na casa de alguém, onde há relação doméstica entre terceiros, se agredida
fosse, gerasse a aplicação da agravante trazida pela Lei Maria da Penha.

Sobre o âmbito familiar mencionado no inciso II, refere-se à violência que


acontece dentro da família, entre os membros da família, seja por vínculo natural
(pai, mãe, filhos, etc.) ou civil (marido, padrasto, sogro, etc.), afinidade (primo, tio) ou
afetividade (amigo que more na mesma casa).44
Por fim, o inciso III discorre sobre as relações íntimas de afeto, que
compreendem relacionamentos sem vínculo parental ou empregatício, neste sentido
Misaka leciona que:

Diante dessa nova realidade não há como restringir o alcance da previsão


legal. Vínculos afetivos que refogem ao conceito de família e entidade
familiar nem por isso deixam de ser marcados pela violência. Assim,
namorados e noivos, mesmo que não vivam sob o mesmo teto, mas
resultando a situação de violência no relacionamento, faz com que a mulher
mereça o abrigo da Lei Maria da Penha. Para a configuração de violência
doméstica é necessário um nexo entre a agressão e a situação que a gerou,
ou seja, a relação íntima de afeto.45

As pesquisas feitas neste sentido identificaram que a violência doméstica


contra a mulher atinge também os filhos quando presenciam cenas de agressões
entre seus pais. Identificou-se algumas mudanças no comportamento como:
distúrbio na alimentação e no sono; disfunções emocionais, depressão e carência
emocional; problemas escolares, dificuldade de aprendizado; submissão, apego
excessivo, ansiedade; atuação agressiva / ataques de fúria destrutiva;

42
MARTINI, Thiara. A Lei Maria da Penha e as medidas de proteção à mulher. 2009. Tese
(Graduação) – Universidade do Vale do Itajaí. Disponível em:
<http://siaibib01.univali.br/pdf/Thiara%20Martini.pdf>. Acesso em: 26 de janeiro de 2017.
43
NUCCI, Guilherme S. Leis penais e processuais penais comentadas. São Paulo, RT: 2006, p. 864.
44
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Formas de Violência. Disponível em:
<http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/lei-maria-da-penha/formas-de-violencia>. Acesso em: 26 de
janeiro de 2017.
45
MISAKA, Marcelo Y. Violência Doméstica e familiar contra a mulher em busca do seu conceito.
Juris Plenum. Doutrina, Jurisprudência, Legislação, n. 13. Caxias do Sul: 2007, p. 87.
27

distanciamento, isolamento, vida familiar fantasiosa; somatizacões; agitação,


ataques de tremedeira; roer unhas, gaguejar; ideias de suicídio. 46

1.2.2 Violência Física

Entende-se por violência física a “ação ou omissão que coloque em risco ou


cause danos à integridade física da mulher” 47, ou ainda, “constitui qualquer agressão
ao corpo da mulher, independentemente se as investidas deixam marcas ou não,
bastando o uso da força bruta para que seja consumada” 48. Ela se manifesta de
várias formas, como:

Tapas, empurrões, socos, mordidas, chutes, queimaduras, cortes,


estrangulamento, lesões por armas ou objetos, obrigar a tomar
medicamentos desnecessários ou inadequados, álcool, drogas ou outras
substâncias, inclusive alimentos, tirar de casa à força, amarrar, arrastar,
arrancar a roupa, abandonar em lugares desconhecidos, danos à
integridade corporal decorrentes de negligência (omissão de cuidados e
proteção contra agravos evitáveis como situações de perigo, doenças,
gravidez, alimentação, higiene, entre outros).49

Neste sentido, Barros50 afirma que a maioria das mulheres vítimas de


violência física, não registram a ocorrência por inúmeros motivos, entre eles
destaca-se, a pressão familiar, para evitar escândalos, e a pacificação do conflito
entre casais. A reiteração da violência, é considerada responsabilidade da mulher,
como se ela tivesse merecido ser agredida. A indignação parte em regra, da família
da mulher, que não aceita ver a mãe, filha ou irmã sofrendo agressões.
Em suma, a violência referenciada no inciso I, é o tipo de violência onde o
agressor ocupa uma posição de poder em relação à vítima, e, intencionalmente
usando a força física agride a mulher. É a violência mais perceptível, pois quando
cometida pode deixar marcas físicas no corpo. Normalmente, a violência física é
precedida pela violência psicológica.

46
COMUNIDADE BAHÁ`í DO BRASIL. Protegendo as Mulheres da Violência Doméstica. Secretaria
de Estado de Direitos Humanos. Brasília/DF: Ministério da Justiça/MJ, 2002.
47
CNJ, loc. cit.
48
MARTINI, loc. cit.
49
PMPF-RS. Tipo de violência cometida contra a mulher. Disponível em:
<http://www.pmpf.rs.gov.br/servicos/geral/files/portal/tipos-violencia.pdf>. Acesso em: 26 de janeiro de
2017.
50
BARROS, Nívea V. Mulher e violência: desvelando a naturalização da violência simbólica no
contexto familiar. Texto e Contexto. v. 8, n. 2, p. 266-269, 1999.
28

1.2.3 Violência Psicológica

Quanto à violência psicológica, descrita no inciso II, é “toda ação ou omissão


destinada a degradar ou controlar as ações, comportamentos, crenças e decisões
da mulher”51, ou ainda, “toda ação ou omissão que causa ou visa causar dano à
autoestima, à identidade ou ao desenvolvimento da pessoa” 52. Tal violência traz em
seu bojo:

Insultos constantes, humilhação, desvalorização, chantagem, isolamento de


amigos e familiares, ridicularização, rechaço, manipulação afetiva,
exploração, negligência (atos de omissão a cuidados e proteção contra
agravos evitáveis como situações de perigo, doenças, gravidez,
alimentação, higiene, entre outros), ameaças, privação arbitraria da
liberdade (impedimento de trabalhar, estudar, cuidar da aparência pessoal,
gerenciar o próprio dinheiro, brincar, etc.), confinamento doméstico, críticas
pelo desempenho sexual, omissão de carinho, negar atenção e
supervisão.53

A violência psicológica é uma constante na atualidade e envolta na


subjetividade, geralmente iniciam com agressões vagas e com o tempo tornam-se
frequentes e intensas. “A vítima, muitas vezes, nem se dá conta que agressões
verbais, silêncios prolongados, tensões, manipulações de atos e desejos, são
formas de violência e devem ser denunciados”, pontua Dias 54. É uma forma de
violência dificilmente percebida, portanto, dificilmente denunciada.
Concomitantemente, ocorre a violência verbal. Por razões psicológicas
decorrentes de complexos e conflitos, alguns agressores utilizam a violência verbal
para ferir sua vítima. Muitos utilizam-na para ouvir obsessivamente confissões de
coisas que não fizeram, outros, a fazem na presença de estranhos. Argumentos do
tipo, “você tem outro”, “você olhou para o fulano”, são utilizados frequentemente. 55
Outra forma de violência verbal é o silêncio do agressor, ou ainda, a
ausência de palavras no momento em que um comentário é esperado. Esse silêncio
machuca tanto quanto uma palavra verbalizada. O agressor demonstra que tem algo

51
CNJ, loc. cit.
52
CABETTE, Eduardo L. S. Violência contra a mulher – Legislação Nacional e Internacional. Jus
Brasil: 2013. Disponível em: <https://eduardocabette.jusbrasil.com.br/artigos/121937941/violencia-
contra-a-mulher-legislacao-nacional-e-internaciona>l. Acesso em: 26 de janeiro de 2017.
53
PMPF – RS, loc.cit.
54
DIAS, Maria B. A Lei Maria da Penha na Justiça. Revista dos Tribunais, São Paulo: 2007, p. 48.
55
KAPUTO, Faustina Z. Violência doméstica. Disponível em:
<http://br.monografias.com/trabalhos3/violencia-domestica/violencia-domestica.shtml>. Acesso em:
27 de janeiro de 2017.
29

a dizer, mas não diz, fica contrariado, faz “bico”, e assim por diante, agravando a
situação ainda mais, pois resulta no sentimento de culpa pela vítima.56

1.2.4 Violência Sexual

No tocante a violência sexual tipificada no inciso III, o Ministério da Saúde


considera como:

Toda ação onde uma pessoa em relação de poder e por meio de força
física, coerção ou intimidação psicológica, obriga a outra ao ato sexual
contra a sua vontade, ou que a exponha em interações sexuais que
propiciem sua vitimização, da qual o agressor tenta obter gratificação.57

Neste sentido o Conselho Nacional de Justiça, definiu como violência sexual


a ação que obriga a mulher a manter contato sexual, físico ou verbal, participar de
outras relações sexuais, ou ainda, manter relação com terceiros, através do uso da
força, intimidação, coerção, chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer
outro mecanismo que diminua ou anule sua vontade pessoal. 58
Infelizmente, essa forma de violência na maioria das vezes é cometida por
conhecidos da vítima, incluindo seu próprio parceiro. O estupro, por exemplo, pode
acontecer dentro da relação conjugal e não ser considerado uma violação pela
vítima, pois muitas mulheres o aceitam em nome do “dever conjugal” ou por medo. 59
A violência sexual, lamentavelmente, é acatada pela nossa sociedade e
muitas vezes pelas próprias mulheres. Normalmente, desponta acompanhada da
violência física e/ou psicológica. Cumpre dizer que é crescente a incidência de
violência sexual cometida contra jovens meninas menores de idade, entretanto, a
falta de preparo da polícia e dos órgãos responsáveis resulta em impunidade.
Geralmente a violência acaba sendo enterrada no silêncio das vítimas e de suas
famílias.60

56
Idem.
57
BRASIL. CONASS. O desafio do enfrentamento da violência: Situação Atual, estratégias e
propostas. 2008, p. 17-18.
58
CNJ, loc. cit.
59
PRADO, Paloma F. L. S. As diversas formas de violência contra a mulher abrangida pela Lei Maria
da Penha. OAB-SC, 2012.
60
KAPUTO, loc. cit.
30

1.2.5 Violência Patrimonial

A violência patrimonial elencada no inciso IV, envolve a destruição de


objetos pessoais, documentos, instrumentos ou outros pertences da mulher. Abarca
também, a transferência de bens para o agressor através da coação ou induzimento
ao erro. Ressalva-se que se o agressor mantem um vínculo familiar ou afetivo com a
vítima, a pena é agravada, conforme pontua Prado61. Hermann complementa que:

O inciso insere no contexto do patrimônio não apenas os bens de relevância


patrimonial e econômico financeira direta (como direitos, valores e recursos
econômicos), mas também aqueles de importância pessoal (objetos de
valor afetivo ou de uso pessoal), profissional (instrumentos de trabalho),
necessários ao pleno exercício da vida civil (documentos pessoais) e
indispensáveis à digna satisfação das necessidades vitais (rendimentos). A
violência patrimonial é uma forma de manipulação para subtração da
liberdade à mulher vitimada. Consiste na negação peremptória do agressor
em entregar à vítima seus bens, valores e pertences e documentos,
especialmente quando esta toma a iniciativa de romper a relação violenta,
como forma de vingança ou até como subterfúgio para obrigá-la a
permanecer no relacionamento da qual pretende se retirar62.

Esta forma de violência é detectada, especialmente, nos processos de


divórcio com partilha de bens e de alimentos. Entretanto, em sua maioria passam
despercebidos pelos advogados não militantes na advocacia criminal, conforme
pontua o doutor Mario Luiz Delgado. 63 Partindo dessa premissa, o legislador
entende por violência patrimonial:

Qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou


total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens,
valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a
satisfazer suas necessidades.64

61
Idem.
62
HERMANN Leda M. Maria da Penha Lei com Nome de Mulher. Campinas: Servanda, 2007, p. 114.
63
DELGADO, Mário L. Violência patrimonial contra a mulher. 2014. Disponível em:
<http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI206716,91041-Violencia+patrimonial+contra+a+mulher>.
Acesso em: 27 de janeiro de 2017.
64
Idem.
31

Os escritórios que advogam na área familiar constantemente identificam a


violência patrimonial através da destruição de bens materiais e objetos pessoais,
ou ainda, na retenção indevida, nos casos de separação de fato, no intuito de
coagir a mulher a retomar. No entanto, a violência patrimonial não se limita
apenas a essas condutas.65
A partilha dos bens é um exemplo. O cônjuge na posse dos bens
adquiridos durante o casamento por ambos, se esquiva de dar a parte do outro.
Outro exemplo percebe-se na conduta do marido ao receber integralmente o valor
dos aluguéis de imóveis pertencente a ambos os cônjuges. Essa atitude
corresponde à retenção ou apropriação de bens ou recursos econômicos, prevista
na lei 11.340/06.
Por fim, tem-se ainda o furto do pagamento de pensão alimentícia da
vítima, nesse caso, especialmente por se tratar de valor destinado a satisfação
das necessidades vitais, a pena é agravada66. Sucintamente, a violência
patrimonial implica no dano, na perda, na subtração, na destruição ou na retenção
de objetos, documentos pessoais, bens e valores.

1.2.6 Violência Moral

O artigo 5º da Lei 11.340/2006 encerra citando a violência de cunho moral,


considerada uma “ação destinada a caluniar, difamar ou injuriar a honra ou a
reputação da mulher”67. Essa forma de violência coexiste com a violência
psicológica. Tal violência quando acontece em relacionamentos familiares ou
afetivos, agravam a imputação a pena.68
Para Gonçalves, diferentemente da violência física, a violência moral tem
menor visibilidade, as consequências não são percebidas de imediato, manifestam-
se posteriormente, numa depressão, dependência química e suicídios. 69
Segundo a psicóloga Karina Dohme, este tipo de violência é alimentada por
chefes, empregadores, pai, marido, namorado, ou seja, aquele que detém o "poder"

65
Idem.0
66
Idem..
67
CNJ, loc. cit.
68
PRADO, 2012.
69
GONÇALVES, Lucia C. Violência moral e/ou psicológica. 2009. Disponível em:
<http://www.webartigos.com/artigos/violencia-moral-e-ou-psicologica/18168/>. Acesso em: 27 de
janeiro de 2017.
32

dentro de casa. O agressor utiliza o poder para constranger e persuadir a vítima na


condição de submissão, caracterizando-se o assédio moral, aliado ao domínio
psicológico do agressor e a submissão forçada da vítima. A vítima tomada pelo
cansaço, ansiedade, depressão, estresse, sofre prejuízos irreversíveis.70

1.2.7 Violência Religiosa

A abordagem da violência pelo prisma da religião é sobretudo desafiadora,


ainda mais considerando o contexto sociocultural brasileiro, marcado pela
religiosidade e pelos padrões patriarcais.
Neste sentido, a doutora em Sociologia pela Universidade Federal de São
Carlos e Pós-doutoranda em Ciências da Religião na PUC/SP, Claudirene Bandini,
alega que “se por um lado, as religiões oferecem um sentido à vida e compreensão
à própria existência, por outro, se apresentam como um guia de comportamentos e
de recursos punitivos”.71
Em outras palavras, a religião determina padrões a serem adotados pelos
fiéis, revelando dessa forma seu caráter controlador. A imposição de um estilo de
vida por exemplo, é fator determinando para gerar a violência. Neste interim,
Bourdieu cita,

O estilo de vida é um princípio unificador e gerador de todas as práticas, um


conjunto unitário de preferências distintivas que exprimem, na lógica
específica de cada um dos subespaços simbólicos (mobília, vestimentas,
linguagem, comportamento) a mesma intenção expressiva. Então, para
apreender estilos de vida específicos, é necessário examinar o modo de
organização das famílias.72

Como mencionado, o modelo adotado pela maioria das religiões é o


patriarcal, a recusa por qualquer estilo de vida e que vá de encontro com essa base
é reprimida.

70
DOHME, Karina. Violência Moral. 2010. Disponível em:
<http://relatosdanossavida.blogspot.com.br/2010/09/violencia-moral.html>. Acesso em: 27 de janeiro
de 2017.
71
BANDINI, Claudirene. Mulheres pentecostais à sombra da violência religiosa? 2º Simpósio
Nordeste de ABRH. Disponível em:
<http://www.abhr.org.br/plura/ojs/index.php/anais/article/viewFile/1285/1108>. Acesso em: 26 de
janeiro de 2017.
72
BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1999, p. 83.
33

Ao sacralizar o modelo de família patriarcal, por meio das doutrinas, da


normatização de condutas e disciplina dos corpos, sobretudo no campo da
moral sexual, o cristianismo naturaliza a violência religiosa de gênero e, por
ser a “vontade de Deus‟, inibe qualquer denúncia e resistências.73

Seguindo esta mesma linha de raciocínio, Eva Faleiros argumenta que, “a


violência surge quando os gêneros não-masculinos saem dos lugares que lhes são
determinados e se tornam subversivos – quando o poder patriarcal estruturado é
74
contestado e se acha ameaçado”.
Desta forma, a estrutura religiosa legitima a (re) produção da violência de
gênero ao permitir a dominação do homem sobre a mulher e, consequentemente,
75
originar outras formas de violência, como as físicas, psicológicas, sexual e verbal.

1.2.8 Violência de gênero

O simples fato de ser mulher, é motivo mais que suficiente para que a
violência neste caso ocorra. Independente da raça, classe social, religião, idade ou
qualquer outra condição.76
Com base nisso, pode-se definir a violência de gênero como “qualquer ação
ou conduta, baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual
ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como no privado” 77. Para Silva,

A violência baseada no gênero é aquela decorrente das relações entre


mulheres e homens, e geralmente é praticada pelo homem contra a mulher,
mas pode ser também da mulher contra mulher ou do homem contra
homem. Sua característica fundamental está nas relações de gênero onde o
masculino e o feminino, são culturalmente construídos e determinam
genericamente a violência.78

Suscintamente, esta forma de violência nada mais é que, “manifestação de


relações de poder historicamente desiguais entre homens e mulheres, em que a
subordinação não implica na ausência absoluta de poder” 79

73
BANDINI, loc. cit.
74
FALEIROS, Eva. Violência de gênero. Violência contra a mulher adolescente/jovem. (Org.)
TAQUETTE, Stella R. Edu, ERJ. Rio de Janeiro, 2007, p. 73.
75
BANDINI, loc. cit.
76
CNJ, loc. cit.
77
PMPF-RS, loc. cit.
78
SILVA, Junior E. M. A violência de gênero na Lei Maria da Penha. Disponível em:
<http://www.direitonet.com.br/artigos/x/29/26/2926>. Acesso em: 27 de janeiro de 2017.
79
Idem.
34

1.2.9 Violência Institucional

O Ministério da Saúde conceitua a violência institucional, como aquela


exercida nos próprios serviços públicos, por ação ou omissão. Se manifesta na falta
de acesso, bem como, na má qualidade dos serviços prestados. Considera os
abusos cometidos entre usuários e profissionais dentro das instituições80. Esta
violência poder ser identificada de várias formas:

Peregrinação por diversos serviços até receber atendimento, falta de escuta


e tempo para a clientela, frieza, rispidez, falta de atenção, negligência,
maus-tratos dos profissionais para com os usuários, motivados por
discriminação, abrangendo questões de raça, idade, opção sexual,
deficiência física, doença mental, violação dos direitos reprodutivos
(discrição das mulheres em processo de abortamento, aceleração do parto
para liberar leitos, preconceitos acerca dos papéis sexuais e em relação às
mulheres soropositivas [HIV], quando estão grávidas ou desejam
engravidar), e desqualificação do saber prático, da experiência de vida,
diante do saber científico.81

A violência institucional é pouco abordada nas discussões acerca da


violência contra a mulher, de acordo com Beatriz Cruz da Silva, assessora da
Secretaria Pública do Ministério da Justiça (SENASP) e mestranda em Direitos
Humanos e Cidadania pela Universidade de Brasília (UnB):

Existe uma cultura institucional, em que, as mulheres vítimas de violência


sexual passam pelo constrangimento de serem ouvidas em média seis
vezes, o que causa problemas psicológicos, a palavra da vítima é colocada
em cheque e muitas vezes, nas delegacias, policiais fazem com que a
vítima desista de denunciar.82

Dando prosseguimento ao tema, a assessora observa que os profissionais


da área de segurança classificam as vítimas em dois tipos: “a vítima ideal (mulheres
casadas, com filhos, recatadas) e a vítima duvidosa (não é casada, usa roupas
curtas, é independente, foi vítima porque mereceu) ”. 83

80
CONASS, 2008.
81
PMPF-RS, loc. cit.
82
FASUBRA. Violência institucional contra a mulher. Disponível em:
<https://www.fasubra.org.br/index.php/fasubra/1035-violencia-contra-a-mulher>. Acesso em: 26 de
janeiro de 2017.
83
Idem.
35

É desconcertante e inaceitável o tratamento dado às mulheres pelas


instituições públicas e, porque não, citar as privadas. É urgente a necessidade de se
voltar os olhos para essa forma de violência.

1.3 Perfil do Sujeito Ativo e Passivo

As pesquisas e estudos desenvolvidos até então, não reconhecem a


existência de um perfil de vítima ou agressor, nem estabelecem padrões absolutos
de comportamentos. Neste sentido a defensora pública do Estado de São Paulo,
Juliana Belloque, defende que:

Não podemos só trabalhar com padrões absolutos, temos que ir ao cerne


das relações familiares, compreendê-las. Às vezes, a gente vê alguns
padrões: por exemplo, o juiz pode olhar um caso e dizer “mulher contra
mulher raramente é violência doméstica, já homem contra a mulher sempre
é” – e na prática sabemos que pode haver muitas configurações. Esses
padrões, quando colocados como absolutos, levam a equívocos, então é
preciso analisar em que bases de discriminação de gênero aquela família
ainda trabalha ou não.84

Contudo, algumas conclusões foram extraídas das diversas pesquisas


realizadas que mostram alguns padrões comportamentais, que se manifestam
frequentemente nos casos de violência doméstica. São eles:

Violência se manifesta de maneira reiterada, sendo um padrão de conduta


continuado; os agressores são geralmente homens, maridos, ex-maridos,
companheiros ou ex-companheiros das vítimas; os indivíduos que foram
vítimas de maus-tratos na infância reproduzem estas condutas, e, por isso,
têm mais possibilidades de serem agressores, agredindo sua própria
companheira; as agressões sofridas não são conhecidas até transcorrer um
longo período de tempo; o crime doméstico se manifesta como violência
física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral; as vítimas possuem baixa
autoestima e vários problemas de saúde. Na maioria dos casos, as
mulheres são chantageadas por seus maridos e frequentemente cedem às
pressões, sentindo-se incapaz de agir; as vítimas vivem em estado de
pânico e temor. Precisam de ajuda externa para assumir seu problema e
encontrar soluções alternativas.85

84
Instituto Patrícia Galvão. Violência Doméstica e Familiar. Disponível em:
<http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/violencias/violencia-domestica-e-familiar-contra-as-
mulheres/>. Acesso em: 27 de janeiro de 2017.
85
SOUZA, Valéria P. S. Violência doméstica e familiar contra a mulher – A lei Maria da Penha: uma
análise jurídica. Geledés: Instituto da Mulher Negra, 2014. Disponível em:
<http://www.geledes.org.br/violencia-domestica-e-familiar-contra-mulher-lei-maria-da-penha-uma-
analise-juridica/#gs.Hsy=TW8. Acesso em: 27 de janeiro de 2017.
36

Todavia, a violência contra a mulher, engloba todas as idades e atinge


qualquer classe social. Ante o exposto, analisar-se-á a seguir o sujeito ativo e
passivo de um modo geral.

1.3.1 Perfil da Vítima

O termo “vítima” vem do latim victima, que significa a pessoa ou animal


sacrificado ou destinado aos sacrifícios, como pedido de perdão dos pecados
humanos. Deriva do verbo vincire, que significa atar ou amarrar, vez que o animal ou
pessoa a ser sacrificado deveria ser amarrado, conforme expõe Valéria86. O
Dicionário Aurélio, define vítima:

Homem ou animal imolado em holocausto aos deuses. Pessoa


arbitrariamente condenada à morte, ou torturada. Pessoa ferida ou
assassinada, ou que sucumbe a uma desgraça, ou morre em acidente,
epidemia. Tudo quanto sofre dano.87

Resumidamente, entende-se por vítima qualquer pessoa que tenha sofrido


dano, tais como lesões físicas, mentais, emocionais, etc. No caso específico da
mulher como vítima, independe da idade, classe social, raça, cor ou escolaridade.
Rica, pobre, branca, negra, jovem, idosa, com deficiência, lésbica, indígena, vivendo
no campo ou na cidade — não importa.88
Toda mulher é passível de sofrer violência, uma vez que, conforme
estudado, não só no Brasil, mas em outros países a base social e cultural foi
estruturada na desigualdade entre homens e mulheres e na ideologia patriarcal.
Neste sentido, Jacira Vieira de Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia
Galvão, argumenta que:

A violação dos direitos humanos das mulheres atravessa gerações e


fronteiras geográficas e ignora diferenças de níveis de desenvolvimento
socioeconômico. A violência está mais presente do que se imagina em
diversas relações e acontece cotidianamente.89

86
Idem.
87
AURÉLIO, Dicionário. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
88
Fonte: <http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/violencias/violencia-domestica-e-familiar-
contra-as-mulheres/>. Acesso em: 27 de janeiro de 2017.
89
Idem.
37

Alguns dados foram levantados dentre as várias pesquisas voltadas a


caracterização do perfil da vítima, a saber: 57% das mulheres tem uma união
consensual; 65% delas tem filhos com este parceiro; cerca de 40% são do lar e 60%
trabalham fora; a idade varia de 15 a 60 anos, mas a maioria é jovem (21 e 35 anos
– 65%); em sua maioria são brancas; 88% dos casos de agressões foram
presenciadas pelos filhos.90
Outro dado importante diz respeito à baixa renda dessas mulheres. Os
estudos apontam que as mulheres que trabalham fora de casa são mais conscientes
de sua situação, e que a atividade profissional lhes permite independência
econômica, influenciando-as a reagir e buscar o fim da violência.
Em 2009 o juiz Nelson Melo Moraes Rego de São Luiz, Maranhão, divulgou
o resultado de uma pesquisa social, realizada pela equipe da Vara Especial de
Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher, acerca das vítimas e autores da
violência. A fim de dar maior profundidade e ampliar o conhecimento sobre os atores
envolvidos com as situações de agressão, a pesquisa utilizou informações de 312
processos distribuídos na Vara até o dia 30 de junho de 2008. O juiz ressalta que
alguns dados foram surpreendentes e significativos. Esperava-se, por exemplo, que
a incidência de bebidas alcoólicas e drogas fosse maior que o percentual de 44%
entre os agressores. Outro dado verificado e que pode refletir a nova estrutura da
família ludovicense: a maioria das mulheres que denunciam possuem apenas dois
filhos. O perfil traçado com as informações apuradas destaca que a maior parte das
mulheres que sofreram violência doméstica é jovem – tem entre 21 e 35 anos de
idade. A maioria significativa (70%) é solteira, mas 36% mantinham relação estável
com o autor da violência à época da denúncia. Em mais da metade desses casos,
as mulheres apresentaram baixo grau de instrução, representado apenas pelo
ensino fundamental ou mesmo inferior a este. Ademais, a maioria depende ou
dependia financeiramente do companheiro. 91
As mulheres que são agredidas por seus companheiros esporadicamente
reagem contra seu agressor, pois se sentem impotentes diante deles. Contudo,
reproduzem essa violência dominando aqueles que possuem menos força, como as

90
Idem.
91
MARANHÃO. Tribunal de Justiça. Vara da Mulher divulga perfil de agressores e vítimas da
violência doméstica. Disponível em: <http://www.tjma.jus.br/cgj/visualiza/publicacao/14017>. Acesso
em: 27 de janeiro de 2017.
38

crianças, adolescentes, jovens do convívio familiar. Desta forma, o ciclo vicioso da


violência se estabelece. Entretanto, o número de mulheres que abusam
sexualmente e são agressoras do marido é baixíssimo. Uma pesquisa: “Violência
doméstica: questão de polícia e da sociedade”, mostra que apenas 1% das mulheres
é apontada como agressora na violência conjugal. 92
A ilustração abaixo resume um estudo coordenado pelo sociólogo Júlio
Jacobo Waiselfisz, denominado de "Mapa da Violência de 2012: Homicídios de
Mulheres no Brasil", que aponta três fases vivenciadas por mulheres que sofrem
violência e que, contribuem de certa forma para que elas permaneçam na relação
por muito tempo: é o denominado “ciclo da violência”.

FONTE: APAV, 2012.

Schraiber93 entende que o ciclo é denominado assim, justamente por não


haver uma ruptura nas ações dos sujeitos envolvidos, tanto a mulher agredida
quanto o homem que perpetra a ação violenta, continuam os mesmos. Sendo assim,
pouco tempo depois o ciclo recomeça.
Na primeira fase, tem-se o “acúmulo de tensão”, através de brigas e
desentendimentos constantes e a criação de um ambiente de insegurança. Em
seguida vem a fase da “explosão”, onde agressor comete a violência contra a mulher
(psicológica, física, patrimonial, etc.). Após o ataque violento, adentra-se na terceira

92
PACHECO, Luíza F. Violência doméstica contra a mulher. 2010. Tese (Graduação) - UNIJUÍ –
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí, RS. Disponível em:
<http://bibliodigital.unijui.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/651/luiza%20tcc.pdf?sequen
ce=1>. Acesso em: 27 de janeiro de 2017.
93
SCHRAIBER, Lilia B. et al. Violência dói e não é direito: a violência contra a mulher, a saúde e os
direitos humanos. São Paulo: Editora UNESP, 2005.
39

e última fase, a “lua-de-mel”, quando agressor demonstra arrependimento, pede


desculpas, se redime e afirma que o episódio não se repetirá.
Por fim, as pesquisas concluem que tanto nas cidades grandes quanto no
interior, as estatísticas de violência contra a mulher são semelhantes. Isso se
estende aos países desenvolvidos, subdesenvolvidos e em desenvolvimento, o que
prova que a violência de fato é um fenômeno global. No Brasil, especificamente, o
perfil da vítima está correlacionado à pobreza, baixa escolaridade e dependência
econômica.

1.3.2 Perfil do Agressor

O agressor é, majoritariamente, o homem; existem, sim, mulheres


agressoras, mas na maioria esmagadora dos casos, o homem é o agressor. A
característica predominante do agressor, consiste no fato dele manter ou ter mantido
relação afetiva íntima com a vítima 94. Os agressores apresentam comportamentos
semelhantes.

Eles se acham donos das mulheres porque a escolheram, seduziram-na e


elas têm que fazer o que eles querem. A mulher é encarada como um
objeto de desejo, um objeto de posse. Depois da violência, vem a ―
“chantagem emocional”. Ao ― “não sei viver sem ti” ou ― “ninguém te
amará tanto como eu”, segue-se a ameaça do ― “se não és para mim não
és para mais ninguém”.95

O agressor como visto anteriormente, pode ser qualquer homem, desde o


mais culto até o menos favorecido. Porém, o grau de severidade se caracteriza no
agressor mais culto, uma vez que, aparentam ser um homem acima de qualquer
suspeita.96

Aparenta ser um cavalheiro, de reputação ilibada e idônea, tanto no seu


ambiente social e de trabalho, não demonstrando nenhuma atitude violenta,
esta que, só aparece dentro de casa. Geralmente quando a mulher que foi
vítima da violência pede algum tipo de ajuda, alguns vizinhos não acreditam

94 SOUZA, loc. cit.


95
SOARES, Ana C. B. S. A violência contra a mulher e os mecanismos de proteção legal. 2014. Tese
(Graduação) - Faculdade de Ensino Superior da Paraíba, João Pessoa, p. 11. Disponível em:
<http://www.fespfaculdades.com.br/painel/uploads/arquivos/TCC%20_A%20VIOL%CANCIA%20CON
TRA%20A%20MULHER....%20%20-%20Ana%20Catarina.pdf>. Acesso em: 27 de janeiro de 2017.
96
Idem.
40

que este “homem cavalheiro”, tenha sido capaz de tal atitude, pois é difícil
associar a imagem pública do homem respeitável à do espancador.97

A psicóloga Ruth Gheler descreve do ponto de vista psicológico, que esses


homens em questão, sofrem de insegurança em relação à própria virilidade. São
possessivos e ciumentos, e veem as mulheres como propriedade e não suportam a
ideia de perder o controle sobre elas. 98
Neste sentido, importante mencionar que de acordo com o relatório final da
Comissão Parlamentar de Inquérito que investigou a questão da violência contra a
mulher no país, os agressores são filhos de pais excessivamente autoritários e eles
próprios foram vítimas de violência física na infância. 99
É perceptível a inexistência de um perfil característico de um homem
agressor, no entanto, apesar da dificuldade em determinar as razões ou motivações
que podem desencadear este tipo de violência, destaca-se que:

A maioria dos homens têm necessidade de controle ou dominação sobre a


mulher; possuem sentimento de poder frente a mulher; têm receio da
independência da mulher; a maioria deles libera a raiva em reposta à
percepção de que estaria perdendo a posição de chefe da família.100

Os levantamentos feitos até então, apontam que não existe coincidência


significativa em relação à idade, nível social e educação; não obstante, as diferentes
investigações constataram que o maior índice de agressores é da classe média –
baixa.101
Outro aspecto relevante dos agressores é a tendência à minimização da
agressão e negação do comportamento agressivo, isto é, muitos homens que batem
em suas companheiras, por exemplo, afirmam que não o fazem. Outro aspecto é
culpar a vítima por ter agido de tal forma. 102
Uma pesquisa realizada por J. Madina, Garrido Stangeland e Redondo
constataram que a taxa de alcoolismo no grupo de agressores estudados era de

97
Souza, loc. cit.
98
Idem.
99
Idem.
100
Idem.
101
Idem.
102
Idem.
41

60%. Portanto, o consumo de álcool é também uma das caraterísticas do


agressor.103

Os maus tratos habituais aparecem quando o agressor abusa ou tem uma


dependência muito forte ou absoluta com o álcool, devido aos efeitos
violentos que podem desencadear nessa pessoa. Aquela pessoa que abusa
do consumo do álcool ainda tem alguma capacidade de controle e de
abstinência. Já o dependente absoluto, perdeu essa capacidade. Passar de
uma situação de controle, para a dependência não é percebida pelo sujeito
que está embriagado, achando que é sempre capaz de controlar a
situação.104

Segundo a pesquisa realizada pelo juiz Nelson Melo Moraes Rego, o perfil
do agressor compreende homens entre 26 e 40 anos de idade, sendo 71% solteiros.
Destes, 36% eram companheiros das denunciantes, com tempo de convivência
variável entre 5 e 12 anos. As profissões mais citadas foram as de motorista,
pedreiro e vigilante, em ordem de ocorrência. Em grande parte dos casos, a
agressão foi praticada por ex-companheiros. Pelo constatado, mesmo após o
término do relacionamento, a mulher não está livre da violência, pois o homem
geralmente não reconhece o rompimento do vínculo conjugal e continua alimentando
o sentimento de posse sobre a ex-companheira. 105
Faz-se uma ressalva importante, pois, até então, não foram publicadas
pesquisas científicas significativas sobre as patologias psiquiátricas dos agressores.
Todavia, é fato que eles se dividem entre portadores de diversos tipos de
transtornos como, por exemplo, transtorno explosivo da personalidade, dependência
química e alcoolismo. 106
Para finalizar o estudo sobre o perfil do agressor, é mister mencionar o
entendimento quanto ao tema sob a ótica da Lei Maria da Penha.

[...] a violência pode partir de maridos, companheiros, namorados – ex ou


atuais e que morem ou não na mesma casa que a mulher; por outros
membros da família, como pai, mãe, irmão, irmã, padrasto, madrasta, filho,
filha, sogro, sogra – desde que a vítima seja uma mulher, em qualquer faixa
etária; e por fim, por pessoas que moram juntas ou frequentam a casa,
mesmo sem ser parentes, como um cunhado ou cunhada.107

103
Idem.
104
Idem.
105
TJMA, loc. cit.
106
SOUZA, loc. cit.
107
AGENCIA PATRICIA GALVÃO. Disponível em:
http://www.agenciapatriciagalvao.org.br/dossie/violencias/violencia-domestica-e-familiar-contra-as-
mulheres/>. Acesso em: 18 de janeiro de 2017.
42

Conclui-se que o agressor pode ser qualquer pessoa que tenha ou teve
relação íntima e de afeto com a vítima, independentemente do sexo dessa pessoa.
No capítulo a seguir, será pontuado o engajamento do Brasil no combate da
violência contra as mulheres, os avanços e retrocessos, institucionais e
governamentais, bem como discorrer sobre os serviços de proteção criados para
auxiliar na erradicação deste fenômeno. Partindo da premissa de que a violência
contra a mulher é produto de uma construção histórica, ela é passível de
desconstrução.
43

2. POLÍTICAS PÚBLICAS E SERVIÇOS DE ATENDIMENTO AS MULHERES


VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA

Como visto no capítulo anterior, a violência contra as mulheres em todas as


suas formas (física, psicológica, sexual, patrimonial, moral, verbal, religiosa e etc.)
tornou-se um fenômeno social que atinge mulheres, independentemente da sua
classe social, estado civil, raça ou orientação sexual. Ante o exposto, é
imprescindível a adoção de políticas públicas acessíveis a todas as mulheres, bem
como a garantia da proteção dos seus direitos e a punição ao agressor por parte do
Estado.
No decorrer do presente capítulo, citar-se-ão as políticas públicas mais
relevantes na atualidade, também como os serviços disponibilizados pelo governo
para atender as mulheres vítimas de violência. Objetiva-se compreender como são
feitos os atendimentos, por quem são feitos, os desdobramentos jurídicos e a
efetividade dos resultados em relação a prevenção, punição e combate à violência.
Segundo Breus, as políticas públicas:

Podem ser entendidas como os projetos e ações governamentais


endereçados para áreas específicas da sociedade, como aquelas que se
referem a ações que determinam o padrão de proteção social implementado
pelo Estado, voltadas, em princípio, para a redistribuição dos benefícios
sociais visando à diminuição das desigualdades estruturais produzidas pelo
desenvolvimento socioeconômico.108

Ancorada neste pensamento, Bucci considera as políticas públicas,


“programas de ação governamental visando a coordenar os meios à disposição do
Estado e as atividades privadas, para a realização de objetivos socialmente
relevantes e politicamente determinados”.109
Importante salientar que a política não é norma, nem ato jurídico; entretanto,
as normas e atos jurídicos compõe a mesma, uma vez que esta pode ser entendida

108
BREUS, Thiago. Lima. Políticas Públicas no Estado Constitucional. Belo Horizonte: Fórum, 2007,
p. 204.
109
BUCI, Maria Paula Dallari. Direito Administrativo e Políticas Públicas. São Paulo: Saraiva 2002, p.
241.
44

como “um conjunto organizado de normas e atos tendentes à realização de um


objetivo determinado”, segundo entendimento de Comparato 110.
A obrigatoriedade do desenvolvimento de políticas públicas para atender
mulheres vítimas de violência pelo Estado está prevista na redação do art. 226,
parágrafo 8º, da Constituição Federal de 1988, a saber: “O Estado assegurará a
assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações. 111
O Estado tem se empenhado e desenvolvido ações que visam coibir
qualquer tipo de violência, seja ela praticada contra homens ou mulheres, adultos ou
crianças. Entretanto, o objeto de estudo do presente trabalho detém-se
especificamente, nas ações que envolvem apenas violências cometidas contra as
mulheres. No fluxograma abaixo tem-se uma visão mais ampla das ações do
governo nessa luta.

Superada a questão das políticas públicas e os serviços oferecidos pelo


Governo no decorrer deste capítulo, tratar-se-á, ainda que de forma sucinta sobre, a
recuperação do agressor e sua inserção no ambiente familiar e social. Para finalizar,
serão feitas algumas considerações em relação ao papel que a igreja tem
desempenhado no enfrentamento da violência sofrida pelas mulheres.

2.1 Secretaria de Políticas para as Mulheres

110
COMPARATO, Fábio Konder. Ensaio sobre o juízo de constitucionalidade de políticas públicas.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1997, p.18.
111
BRASIL. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 18 de janeiro de
2017.
45

Em 2003, o Governo Federal realizou diversas mudanças nas políticas


públicas, entre elas a transferência da Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher,
vinculada ao Ministério da Justiça, para a Presidência da República, surgindo assim
a Secretaria de Políticas para as Mulheres — SPM.112
Legalizada através da Medida Provisória 103, a SPM nasceu para eliminar
as desigualdades de gênero e com os demais Ministérios e Secretarias Especiais,
desenvolver ações que incorporem as especificidades das mulheres nas políticas
públicas, além de estabelecer condições necessárias para o gozo pleno de sua
cidadania.113
Em suma, o objetivo principal da SPM é “promover a igualdade entre
homens e mulheres e combater todas as formas de preconceito e discriminação
herdadas de uma sociedade patriarcal e excludente”. 114
É notório que, para existir um país justo, igualitário e democrático, é
primordial a valorização da mulher, bem como, é indispensável sua inclusão no
processo de desenvolvimento social, econômico, político e cultural do País. 115
Assim como o governo tem se mobilizado para garantir a igualdade entre os
gêneros, a sociedade civil também tem manifestado interesse na busca pelo
equilíbrio na relação homem\mulher. Tais mudanças se devem à contínua
cooperação entre a SPM e os demais Ministérios, a sociedade civil e a comunidade
internacional.116
Em relação a estrutura básica da SPM e suas atribuições, o site do governo
participa.br dispõe o seguinte:

É composta pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (órgão


colegiado), o Gabinete da Ministra de Estado Chefe, a Secretaria-Executiva
e de três outras Secretarias. A SPM assessora diretamente a Presidente da
República, em articulação com os demais Ministérios, na formulação e no
desenvolvimento de políticas para as mulheres. Paralelamente, desenvolve
campanhas educativas de caráter nacional, assim como projetos e
programas de cooperação com organizações nacionais e internacionais,
públicas e privadas. A atuação da SPM respeita todas as formas de

112
BRASIL. Portal Brasil. Secretaria de Políticas para as Mulheres consolida avanços. Disponível em:
<http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/05/secretaria-de-politicas-para-as-mulheres-
completa-12-anos-de-conquistas-para-a-mulher-brasileira>. Acesso em: 18 de janeiro de 2017.
113
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sobre a Secretaria. Disponível em:
<https://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/pdf/spm.pdf>. Acesso em: 18 de janeiro de 2017.
114
BRASIL. Participa.br. Conselho Nacional dos Direitos da Mulher – CNDM. Disponível em:
<http://www.participa.br/profile/spm-pr>. Acesso em: 18 de janeiro de 2017.
115
Idem.
116
Idem
46

diversidade: racial, geracional e de orientação sexual; mulheres negras,


indígenas, do campo, da floresta e/ou com deficiência. 117

Neste sentido, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) afirma


que a SPM “estabelece políticas públicas que contribuem para a melhoria da vida de
todas as brasileiras e que reafirmam o compromisso do Governo Federal com as
mulheres do país”.118
Paralelamente, a SPM firmou parcerias em diversas instâncias
governamentais, fortalecendo assim a luta contra as desigualdades e diferenças
sociais, raciais, sexuais, étnicas, sem esquecer das mulheres deficientes. 119
A SPM é considerada um ministério, só que com uma estrutura menor. A
amplitude do seu campo de atuação na defesa dos direitos das mulheres,
conquistou respeito, engajamento e acolhimento de suas propostas pelos demais
órgãos governamentais e, inclusive, os não-governamentais. Resumidamente, a
SPM trabalha com as mulheres, para as mulheres e pelas mulheres. 120
Parafraseando, compete a SPM planejar e criar políticas públicas voltadas
para as mulheres, além de implementar serviços de atendimento e desenvolver
mecanismos de enfrentamento da violência. Dada a sua relevância no contexto
político e social do país. A seguir estudar-se-ão algumas das ações desenvolvidas
em parceria com o Governo Federal.

2.1.1 Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres

Desde a criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres, as políticas


públicas de enfrentamento à violência contra as mulheres se solidificaram através da
elaboração de conceitos, diretrizes, normas, definições das ações e estratégias de
gestão e monitoramento relativos ao tema.121
A ampliação das políticas públicas para o enfrentamento da violência contra
as mulheres se intensificaram a partir de 2003. Esta ampliação é retratada em
diferentes documentos e leis publicados neste período. 122

117
IBGE Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/pdf/spm.pdf>. Acesso
em: 18 de janeiro de 2017.
118
Idem.
119
Idem.
120
PORTAL BRASIL, 2015.
121
Ibidem, p.7.
122
Ibidem, p.7.
47

A criação de normas e padrões de atendimento, aprimoramento das leis,


incentivo à concepção de redes de serviços, apoio a projetos educativos e culturais
de prevenção à violência e ampliação do acesso das mulheres à justiça e aos
serviços de segurança pública, passaram a fazer parte de suas ações. 123
A Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, norteia
a formulação e execução das políticas públicas implementadas pela SPM. Tendo
como base instrumentos internacionais de direitos humanos e normas nacionais,
ainda, orienta as políticas em relação à assistência e garantia de direitos às
mulheres em situação de violência. 124
O conceito de enfrentamento, adotado pela Política Nacional de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, refere-se à implementação de
políticas mais amplas e melhor articuladas, que compreendam a complexidade que
envolve a violência contra as mulheres em todas as formas. 125

O enfrentamento requer a ação conjunta dos diversos setores envolvidos


com a questão (saúde, segurança pública, justiça, educação, assistência
social, entre outros), no sentido de propor ações que: desconstruam as
desigualdades e combatam as discriminações de gênero e a violência
contra as mulheres; interfiram nos padrões sexistas/machistas ainda
presentes na sociedade brasileira; promovam o empoderamento das
mulheres; e garantam um atendimento qualificado e humanizado àquelas
em situação de violência. 126

Em suma, a percepção de enfrentamento não se limita à questão do


combate à violência, mas compreende também, as medidas de prevenção,
assistência e a garantia dos direitos das mulheres.127
A Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres foi
estruturada a partir do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM),
elaborado com base na I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres,
realizada em 2004 pela SPM e pelo Conselho Nacional dos Direitos da Mulher
(CNDM).128
Além disso, a PNPM opera de acordo com a Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria
da Penha) e convenções e tratados internacionais ratificados pelo Brasil, tais como:

123
Ibidem, p.7.
124
Ibidem, p.9.
125
Ibidem, p.25.
126
Ibidem, p. 25.
127
Ibidem, p. 25.
128
Ibidem, p. 9.
48

A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), a Convenção


Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
(Convenção de Belém do Pará, 1994), a Convenção sobre a Eliminação de
Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW, 1981) e a
Convenção Internacional contra o Crime Organizado Transnacional Relativo
à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas (Convenção de
Palermo, 2000).129

A composição da Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as


Mulheres pela SPM tem como finalidade expor os fundamentos conceituais e
políticos relativos ao enfrentamento da violência.

2.1.2 Plano Nacional de Políticas para as Mulheres – PNPM

O Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM) é resultado da


conversação frequente entre o governo e a sociedade civil. Este mecanismo reforça
a noção de que, em um Estado democrático, a participação social, das mulheres, é
essencial em todas as etapas das políticas públicas. 130
O processo de construção do PNPM contou com a participação além da
sociedade civil supracitada, com o movimento de mulheres rurais e urbanas,
feministas e organismos estaduais e municipais de políticas para as mulheres,
através das Conferências de Mulheres municipais, estaduais e nacional. Tudo isso
sempre sob a ótica do diálogo, mérito indiscutível da SPM que influenciou também
neste sentido131. O PNPM é orientado pelos seguintes princípios:

A autonomia das mulheres como princípio gerador de políticas e ações do


poder público e que são propostas para a sociedade; A busca da igualdade
efetiva entre mulheres e homens, incidindo sobre as desigualdades sociais
em todos os âmbitos; O respeito à diversidade e combate as formas de
discriminação com medidas efetivas para tratar as desigualdades em suas
especificidades; O caráter laico do Estado como um princípio rigoroso de
que as políticas públicas não podem se mover por definições religiosas; A
universalidade dos serviços e benefícios ofertados pelo Estado, o que exige
justiça e transparência; A participação ativa das mulheres no diagnóstico da
realidade social, formulação das políticas implementação, controle social. 132

129
Ibidem, p. 10.
130
Ibidem, p. 9.
131
Ibidem, p. 7.
132
Ibidem, p. 7.
49

O PNPM intervém diretamente na vida das mulheres e traz consigo a


convicção de que é possível, mediante implementação de ações e o constante
monitoramento, a construção de um país mais justo, desenvolvido, igualitário e mais
participativo.

2.1.3 Rede de Serviços para Mulheres em Situação de Violência

A ideia de atendimento em rede surgiu no intuito de superar as


desarticulações e fragmentações dos serviços oferecidos pelo Estado, através de
uma ação coordenada de todos os órgãos envolvidos. 133

O conceito de Rede de atendimento refere-se à atuação articulada entre as


instituições/serviços governamentais, não-governamentais e a comunidade,
visando à ampliação e melhoria da qualidade do atendimento; à
identificação e encaminhamento adequado das mulheres em situação de
violência; e ao desenvolvimento de estratégias efetivas de prevenção.134

Outro ponto importante que justifica a necessidade de criação da rede é a


rota crítica que a vítima percorre. A rota crítica nada mais é que o caminho
percorrido pela mulher na busca de acolhimento do Estado frente à violência sofrida.
Essa rota possui diversas portas de acesso (serviços de emergência na saúde,
delegacias, serviços da assistência social), que devem trabalhar em harmonia e
conformidade. Caso contrário, levará a vítima ao desgaste emocional e à
revitimização.135
A Rede de Atendimento é composta por serviços especializados, como os
Centros de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM) e os Centros de
Referência Especializados de Assistência Social (CREAS), e não-especializados,
como os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS)136. Entre as
instituições e serviços cadastrados estão:

As Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs); Centros


de Referência de Atendimento à Mulher (CRAMs); Casas Abrigo; Centros

133
Idem.
134
Ibidem, p. 29.
135
Ibidem, p. 30.
136
BRASIL. Portal Brasil. Rede de atendimento. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-
justica/2012/02/rede-de-atendimento>. Acesso em: 18 de janeiro de 2017.
50

de Referência da Assistência Social (CRAS); Juizados de Violência


Doméstica e Familiar contra a Mulher; Órgãos da Defensoria Pública;
Serviços de Saúde Especializados para o Atendimento dos Casos de
Violência Contra a Mulher.137

Esses são apenas alguns dos serviços e instituições que compõem a Rede
de Atendimento. A lista completa com endereços e contatos pode ser acessada no
site da Secretaria de Políticas para as Mulheres.138
2.1.4 Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (Ligue 180)

Outro serviço disponibilizado pela Secretaria de Políticas para as Mulheres


Vítimas de Violência é a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência
- Ligue 180, “um serviço de utilidade pública gratuito e confidencial (preserva o
anonimato), oferecido pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência
da República, desde 2005”. (BRASIL, 2013).
O objetivo do programa ‘Ligue 180” é receber denúncias de violência,
informações sobre os serviços especializados, auxiliar no monitoramento da rede de
atendimento à mulher e de orientar as mulheres sobre seus direitos e sobre a
legislação vigente, encaminhando-as para outros serviços quando necessário.139
A central de telefonia funciona 24 horas, inclusive nos feriados e finais de
semana, ocasião em que o número de ocorrências de violência contra a mulher
aumenta e conta com 80 atendentes. As atendentes da Central recebem
treinamentos sobre as questões de gênero, legislações, políticas governamentais
para as mulheres e são instruídas a prestar informações sobre os serviços
disponíveis no país para o enfrentamento à violência contra a mulher. 140
Uma ligação pode ser um marco inicial na vida de uma mulher, e a
possibilidade concreta de se romper com o ciclo de violência a que está submetida.
Munida de informações sobre seus direitos legais e conhecendo os locais onde
podem ser atendidas, garantem a efetivação das políticas públicas disponíveis. 141
A central pode ainda ser acionada de qualquer lugar do Brasil e de mais 16
países (Argentina, Bélgica, Espanha, EUA (São Francisco), França, Guiana

137
Idem.
138
Idem.
139
BRASIL. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Central de atendimento à Mulher.
Disponível em: <http://www.spm.gov.br/assuntos/violencia/ligue-180-central-de-atendimento-a-
mulher>. Acesso em: 18 de janeiro de 2017.
140
Idem.
141
Idem.
51

Francesa, Holanda, Inglaterra, Itália, Luxemburgo, Noruega, Paraguai, Portugal,


Suíça, Uruguai e Venezuela). 142
O programa passou a atuar como disque-denúncia, desde março de 2014.
Destaca-se a capacidade de enviar as denúncias para a Segurança Pública com
cópia para o Ministério Público de cada Estado. Isso tornou-se possível graças ao
apoio financeiro do Programa Mulher, Viver sem Violência.143
O Ligue 180 é o meio principal de acesso aos serviços que integram a Rede
Nacional de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, amparado pela Lei Maria da
Penha, e contando com uma base de dados privilegiada para a criação de políticas
governamentais nessa área.144

2.2 Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM)

Como uma das principais políticas públicas direcionadas às mulheres


destaca-se o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher - CNDM, criado em 1985,
com o objetivo de promover políticas visando eliminar a discriminação contra a
mulher e garantir sua participação na política, economia e cultura do país. O referido
conselho está vinculado ao Ministério da Justiça145. De acordo com Oliveira:

Cabe ao Conselho Nacional dos Direitos da Mulher assegurar que a


Constituição se faça cumprir sem que nenhum retrocesso fira as garantias
que um sólido movimento de mulheres conquistou. Cabe também ao CNDM
lutar para que ganhem forma e visibilidade os direitos das mulheres não
reconhecidos, em suma, a tarefa de, em permanência, assegurar que o
Estado Brasileiro chame a si a luta contra a discriminação das mulheres sob
a forma que ela se manifeste, explicita ou implicitamente, confessa ou
dissimulada. É função do CNDM catalisar a formidável energia de
regeneração do pensamento e ação que vem sendo desperdiçada pela
marginalização das mulheres dos processos de tomada de decisão, onde
quer que eles se deem, no aparelho do Estado ou nos esforços da
sociedade civil.146

Desde a sua criação (1985), suas funções e atribuições foram modificadas


diversas vezes. Na última alteração feita em 2003, o CNDM passou a fazer parte da

142
Idem.
143
Idem.
144
Idem.
145
BRASIL. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Conselho Nacional dos Direitos da
Mulher – CNDM. Disponível em: <http://www.spm.gov.br/assuntos/conselho>. Acesso em: 18 de
janeiro de 2017.
146
OLIVEIRA, Rosiska Darcy de. Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Acervo: Revista do
Arquivo Nacional, v. 9, n. 1-2, p. 225, 1996.
52

Secretaria Especial de Políticas para as mulheres — SPM, ou seja, a Lei 8.028/1990


perdeu sua autonomia e passou a vigorar a Lei 10.683 que integra o Conselho à
Secretaria.147
Essa integração ampliou substancialmente o campo de atuação sobre as
políticas públicas voltadas às mulheres. “O CNDM tem como uma de suas
importantes atribuições, apoiar a SPM em suas articulações com diversas
instituições da Administração Pública Federal e com a sociedade civil”.148

2.3 Delegacias Especializadas de Atendimento Às Mulheres (Deams)

A criação das Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAMs)


é considerada pioneira na implementação de políticas públicas de combate à
violência contra as mulheres no Brasil.149
De acordo com o site da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
— SPM, vinculado ao Ministério da Justiça e Cidadania:

As DEAMs são unidades especializadas da Polícia Civil, que realizam ações


de prevenção, proteção e investigação dos crimes de violência doméstica e
violência sexual contra as mulheres, entre outros. Entre as ações, cabe
citar: registro de Boletim de Ocorrência, solicitação ao juiz das medidas
protetivas de urgência nos casos de violência doméstica e familiar contra as
mulheres, realização da investigação dos crimes. 150.

A instalação da primeira delegacia ocorreu em 1985, em São Paulo (onde


são denominadas como Delegacias de Defesa da Mulher – DDM) e desde então
vem atuando com muita competência, crescendo em número e elevando sua
importância na política de enfrentamento. Importante mencionar que alguns países
da América Latina e África adotaram as DEAMs como modelo151. De acordo com
Sacramento e Rezende:

147
CDNM, op. cit., loc. cit.
148
CDNM, op. cit., loc. cit.
149
BRASIL. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Norma Técnica de Padronização das
Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres – DEAMs. Disponível em:
<http://www.spm.gov.br/lei-maria-da-penha/lei-maria-da-penha/norma-tecnica-de-padronizacao-das-
deams-.pdf>. Acesso em: 18 de janeiro de 2017.
150
BRASIL. Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. O que é Delegacia Especializada no
Atendimento à Mulher (DEAM)? Disponível em: <http://www.spm.gov.br/arquivos-diversos/acesso-a-
informacao/perguntas-frequentes/violencia/o-que-e-delegacia-especializada-no-atendimento-a-
mulher-deam>. Acesso em: 18 de janeiro de 2017.
151
DEAMs, op. cit., loc. cit.
53

A Delegacia de Defesa da Mulher foi o primeiro e grande recurso no


combate público à violência contra a mulher e especialmente à violência
conjugal no país. Seu caráter é basicamente policial: detectar transgressões
à lei, averiguar sua procedência e criminalizar a violência doméstica. Desta
maneira, a violência doméstica é tida como um desvio da norma e como tal
é considerado um crime passível de responsabilização e punição.152

Um dos fatores determinantes para implementação das delegacias foram os


intensos movimentos feministas na década de 1970 que lutavam, especialmente,
contra a violência doméstica. Elas buscavam o reconhecimento da violação dos
seus direitos, e através de denúncias conseguiram dar visibilidade à violência que
vinham sofrendo, tornando-a pública. Em paralelo exigiram do Estado uma ação
mais severa.153

Os movimentos sociais de mulheres criticavam o descaso e/ou a tolerância


com que o sistema de justiça criminal lidava com os crimes cometidos
contra as mulheres, particularmente os homicídios ditos “passionais” e a
violência doméstica e sexual.154

As atribuições concebidas às delegacias são de caráter preventivo e


repressivo. Em suma, devem realizar ações de prevenção, apuração, investigação e
enquadramento legal, respeitando sempre os direitos humanos e considerando os
princípios do Estado Democrático de Direito.
Antes da criação das DEAMs as mulheres recorriam às Delegacias em geral,
no entanto, o cenário era de incompreensão, ameaças, machismo e muitas
tornavam-se ainda, vítimas de violência sexual. 155
Mesmo após a implementação das DEAMs o cenário inicial permaneceu o
mesmo. O fato do serviço ser prestado por mulheres não foi suficiente para grandes
mudanças, considerando que boa parte das mulheres foram socializadas numa
cultura machista e consequentemente agiam de acordo com tais padrões. Diante
deste contexto, se fez necessário aplicar diversos treinamentos que buscavam
principalmente, a conscientização dos profissionais (mulheres e homens), que

152
SACRAMENTO, Lívia de Tartari e; REZENDE, Manuel Morgado. Violências: lembrando alguns
conceitos. Aletheia: Canoas, n. 24, p. 95-104, 2006.
153
CAMPOS, Carmen Hein de. Juizados Especiais Criminais e seu déficit teórico. Estudos
Feministas, Florianópolis, v. 11, n. 1, p. 155-170, 2003.
154
DEAMs, op. cit., loc. cit.
155
BLAY, Eva Alterman. Violência contra a mulher e políticas públicas. São Paulo, v. 17, n. 49, p. 87-
98, Dec. 2003.
54

meninas e mulheres tinham o direito de rejeitar qualquer violência cometida por pais,
padrastos, maridos, companheiros e outros.156
Percebe-se que a complexidade que envolve a natureza dos crimes contra a
mulher deve ser considerada uma máxima para os profissionais que trabalham nas
delegacias. As características de habitualidade, relação conjugal e hierarquia de
gênero, as diferenciam totalmente dos crimes comuns e exigem uma qualificação
específica para o entendimento desse tipo de violência, além da qualificação geral
para a investigação criminal157. Segundo Blay, “esta tarefa de reciclagem deve ser
permanente, pois os quadros funcionais mudam e também os problemas” 158.
Para as vítimas, as DEAMs representam a garantia de direitos e do acesso à
justiça. São nas delegacias que são registradas suas queixas e denúncias, e onde
ocorre o acolhimento inicial. 159
Neste sentido, Sacramento e Rezende 160 consideram que os crimes
referidos devem ser tratados de formas diferentes, pois quando praticado por um
estranho causa um impacto profundo, entretanto, não tão profundo quanto o
praticado pelo cônjuge. Salientam ainda que um ambiente violento reproduz
violência; inconscientemente os membros da família passam a reproduzir condutas
violentas e consequentemente levam essas condutas aos ambientes dos quais
participam.
Para finalizar, em 2006 a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres
(SPM), a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da
Justiça, as Secretarias de Segurança Pública e as Polícias Civis das Unidades
Federadas, bem como especialistas na temática da violência de gênero e de
diferentes organizações não-governamentais, juntaram-se para elaborar, em
consonância com a legislação vigente, a Norma Técnica de Padronização das
Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher. 161
Desde então, ações como a Pesquisa Anual do Perfil Organizacional das
DEAMs, que permitem avaliar as condições físicas e os recursos humanos

156
Idem.
157
DEAMs, op. cit., loc. cit.
158
BLAY, 2003, p. 87-98.
159
DEAMs, op. cit., loc. cit.
160
SACRAMENTO; REZENDE, 2006.
161
DEAMs, op. cit., loc. cit.
55

disponíveis nas delegacias, dão orientações aos projetos que serão custeados pelo
Fundo Nacional de Segurança Pública.162
Outra ação importante foi a criação de cursos educativos para os
profissionais de segurança pública que atuam no atendimento a mulheres vítimas de
violência doméstica e de gênero. Entre outras ações, destacam-se as voltadas à
prevenção da violência praticada contra mulheres, através da sensibilização de
grupos vulneráveis, bem como a aplicação da punição prevista a este tipo de
crime.163
Em 7 de agosto de 2006, logo após a elaboração da Norma Técnica, foi
promulgada a Lei nº 11.340, Lei Maria da Penha. A referida lei modificou a política
criminal e os procedimentos utilizados nas ocorrências. Estabeleceu ainda uma
política integral para o tratamento dessa violência, além de criar novas atribuições
para os poderes públicos, especialmente, para as DEAMs. 164

2.4.Juizados Especiais Criminais de Violência Doméstica e Familiar contra a


Mulher

A eficiência das Delegacias Especializadas de Atendimento Às Mulheres


culminou na criação dos Juizados Especiais Criminais — JECrim — no ano de 1995.
O Congresso Nacional sancionou a Lei nº 9.099, no dia 26 de setembro de 1995,
que dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras
providências.165
Norteado pelo princípio da busca de conciliação, os JECrim foram criados
com a finalidade de ampliar o acesso da população à Justiça, promover o rápido
ressarcimento da vítima e acelerar as decisões penais, aliviando assim, o
Judiciário.166
A busca pela conciliação permite que o agressor e a vítima, com o auxílio de
mediadores, “encontrem” a solução mais adequada para seus problemas. Para

162
Idem.
163
Idem.
164
Idem.
165
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm>. Acesso em: 18 de janeiro de 2017.
166
DEBERT, Guita Grin; OLIVEIRA, Marcella Beraldo de. Os modelos conciliatórios de solução de
conflitos e a "violência doméstica". Campinas, n. 29, p. 305-337, 2007.
56

Saliba167 “a conversa entre as partes é sem dúvida alguma o único e eficaz caminho
para se combater a violência, não se apresentando a punição mais severa como
forma de resolução de conflitos”.
Outra finalidade que merece ser destacada é a despenalização, que
favorece o autor do delito ao permitir que o mesmo não seja processado
criminalmente168.Em decorrência da proposta despenalizante, esse juizado tem sido
considerado um grande avanço da legislação brasileira que trouxe profundas
mudanças no âmbito criminal, através da imputação de penas não privativas de
liberdade a delitos, considerados de menor potencial ofensivo169. Para Saffioti:

Esta nova legislação alterou o rito processual, para os crimes apenados


com até um ano, com extinção da figura do réu, da perda da primariedade,
das penas de privação de liberdade, em benefício da oralidade, da
agilidade, conciliação.170

Antes da criação do JECrim, os crimes de violência doméstica, eram


julgados pela justiça comum. A mulher registrava a ocorrência em uma Delegacia de
Polícia e abria-se o inquérito policial. Nos crimes com lesão corporal, a vítima fazia o
exame de corpo de delito, posteriormente o agressor era chamado, os depoimentos
eram colhidos, as testemunhas ouvidas e o processo era encaminhado ao Ministério
Público para o oferecimento da denúncia.171

A nova lei alterou, esse procedimento. O inquérito foi substituído pelo Termo
Circunstanciado (TC), não há oitiva de testemunhas e nem do autor do fato.
O TC é formado somente pela declaração da ocorrência feita pela vítima e
encaminhado imediatamente ao Poder Judiciário. (CAMPOS, 2003).

A violência contra a mulher não é, e nunca foi, um episódio isolado na


história, todavia é fruto de um processo cultural da sociedade. Infelizmente
processos culturais não se findam simplesmente com leis.

167
SALIBA, Maurício Gonçalves. Violência doméstica e familiar. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano
11, n. 1146, 21 ago. 2006.
168
DEBERT; OLIVEIRA, 2007, p. 305-37.
169
CAMPOS, 2003, p.155-170.
170
SAFFIOTI, Heleiet. Iara. Já se mete a colher em briga de marido e mulher. Scielo, 1999, v. 13, n.
4-8, p.90.
171
CAMPOS, 2003, 155-170.
57

Segundo Saliba172, é preciso considerar na estrutura cultural brasileira, “a


síndrome do pequeno poder”, que para a autora “é um problema social e não
individual”. As relações neste caso se estabelecem pela superioridade de quem
detém o poder e a submissão dos inferiores.
Esta síndrome é percebida, nas relações familiares, entre o homem e a
mulher (patriarcalismo) e entre o pai e os filhos (adultocentrismo). Partindo desse
pressuposto, é possível compreender as razões que levam a subordinação da
mulher ao homem173. Neste sentido Campos observa que:

O paradigma masculino que norteou sua elaboração acarreta um déficit


teórico por não ter aceito o paradigma da criminologia feminista ancorado
no conceito de gênero. As conseqüências desse déficit se manifestam na
operacionalidade da Lei cujos resultados são a banalização da violência
doméstica, o arquivamento massivo dos processos e a insatisfação das
vítimas, todas mulheres.174

Diante do exposto, percebe-se que a lei em questão, é incapaz de dar uma


solução satisfatória para as mulheres em situação de violência doméstica. A
recepção do Juizado Especial Criminal para tratar da violência contra a mulher não
foi unânime entre os operadores de direito.
Saffioti afirma que a medida “funciona bem para dirimir quer elas entre
vizinhos, mas tem-se revelado uma lástima na resolução de conflitos domésticos, na
opinião da maioria das delegadas de DDMs e outros profissionais do ramo”. 175
Debert e Oliveira, alegam que “os profissionais do direito se referem à Lei
como sendo “um benefício” concedido ao acusado 176. Seguindo esta mesma linha
de raciocínio Hermann, afirma que esse sistema veio apenas para “duplicar as dores
da vítima, expondo-a a um ritual indiferente e formal, que desconsiderou a
diversidade inerente à condição humana e reproduziu os valores patriarcais que a
conduziram até ele”177.
Como era esperado, os movimentos de mulheres também se manifestaram
de forma contrária aos JECrims. Segundo esses movimentos, os crimes de violência

172
SALIBA, 2006.
173
Idem.
174
CAMPOS, 2003, 155-170.
175
SAFFIOTI, 1999, p. 90.
176
DEBERT; OLIVEIRA, 2007, p. 305-37.
177
HERMANN, L. M. Violência doméstica e os juizados especiais criminais: a dor que a lei esqueceu.
Campinas: Servanda, 2004.
58

doméstica foram vulgarizados, ignorou-se a potencialidade lesiva destes conflitos 178.


Sucintamente, essa lei representou um retrocesso jurídico e social, sobretudo na
área criminal, fazendo-se necessário e urgente a tomada de novas diretrizes.

2.5 Lei Maria da Penha (Lei Nº 11.340/2006)

O crescente e alarmante número de casos de violência doméstica contra a


mulher e a impunidade dos seus agressores, despertou a atenção do poder
judiciário que percebeu a ineficácia da aplicabilidade da Lei nº 9.099/95.
Diante deste cenário de impunidade, no dia 07 de agosto de 2006, foi
sancionada a Lei nº 11.340 que criou mecanismos para coibir a violência doméstica
e familiar contra a mulher. Determina que todo o caso de violência doméstica e
familiar é crime, e deve ser averiguado através de inquérito policial e encaminhado
ao Ministério Público.179
Esses crimes serão julgados nos Juizados Especializados de Violência
Doméstica contra a Mulher, e nas cidades em que tais ainda não existam, nas Varas
Criminais. A lei também caracteriza as situações de violência doméstica, proíbe a
aplicação de penas pecuniárias aos agressores, amplia a pena de prisão e
determina o encaminhamento das mulheres e seus dependentes, aos programas e
180
serviços de proteção e de assistência social disponibilizados pelo governo.

A Lei dá cumprimento à Convenção para Prevenir, Punir, e Erradicar a


Violência contra a Mulher, a Convenção de Belém do Pará, da Organização
dos Estados Americanos (OEA), ratificada pelo Brasil em 1994, e à
Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher (Cedaw), da Organização das Nações Unidas (ONU). 181

178
BRASIL. Compromisso e atitude pela Lei Maria da Penha. Lei Maria da Penha e demanda
punitiva, por Luanna Tomaz de Souza. Disponível em: <http://www.compromissoeatitude.org.br/lei-
maria-da-penha-e-demanda-punitiva-por-luanna-tomaz-de-souza/>. Acesso em: 18 de janeiro de
2017.
179
BRASIL. Lei Nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Cria mecanismos para coibir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8 o do art. 226 da Constituição Federal, da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre
a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de
Processo Penal, o Código Penal e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em: 18 de janeiro
de 2017.
180
Idem.
181
BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Sobre a Lei Maria da Penha. Disponível em:
<http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/lei-maria-da-penha/sobre-a-lei-maria-da-penha>. Acesso
em: 18 de janeiro de 2017.
59

Neste sentido, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) trabalha na divulgação


e disseminação da legislação entre a população, bem como, facilita o acesso da
mulher à Justiça. Realiza também, campanha contra a violência doméstica, voltada
à mudança cultural para a erradicação da violência contra as mulheres. 182
Entre outras iniciativas criadas para garantir a efetividade da Lei, o CNJ em
parceria com outros órgãos e entidades, criaram o manual de rotinas e estruturação
dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, as Jornadas da Lei
Maria da Penha e o Fórum Nacional de Juízes de Violência Doméstica e Familiar
contra a Mulher (Fonavid). 183
A lei em questão ganhou o nome de Lei Maria da Penha em homenagem a
farmacêutica bioquímica Maria da Penha Maia Fernandes, que foi vítima de violência
durante 23 anos pelo seu marido, que tentou inclusive, matá-la duas vezes. Na
primeira vez, com um tiro de arma de fogo, deixando Maria da Penha paraplégica.
Na segunda, ele tentou matá-la por eletrocussão e afogamento. 184
Após essa tentativa de homicídio, a farmacêutica tomou coragem e o
denunciou. O marido de Maria da Penha foi punido somente após 19 anos. Desde,
então, ela se dedica à causa do combate à violência contra as mulheres. 185
O alcance da lei Maria da Penha vai além dá violência física, apesar da
maioria das pessoas reconhecerem a lei pelos casos de agressão física, ela
identifica também como casos de violência doméstica:

Sofrimento psicológico, como o isolamento da mulher, o constrangimento,


a vigilância constante e o insulto;
Violência sexual, como manter uma relação sexual não desejada por meio
da força, forçar o casamento ou impedir que a mulher use de métodos
contraceptivos;
Violência patrimonial, entendido como a destruição ou subtração dos seus
bens, recursos econômicos ou documentos pessoais.186

182
Idem.
183
Idem.
184
BRASIL. Portal Brasil. 9 fatos que você precisa saber sobre a Lei Maria da Penha. Disponível em:
<http://www.brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/10/9-fatos-que-voce-precisa-saber-sobre-a-lei-
maria-da-penha>. Acesso em: 18 de janeiro de 2017.
185
Idem.
186
Idem.
60

Outro fator importante é em relação ao agressor, que pode ser o


padrasto/madrasta, sogro/sogra, cunhado/cunhada ou agregados, não
exclusivamente o marido, desde que a vítima seja mulher. 187

2.6 Mecanismos de Recuperação do Agressor

Como visto anteriormente a violência contra as mulheres tornou-se um


fenômeno social global e todas as atenções estão voltadas para as mulheres. No
entanto, é necessário desenvolver mecanismos que ajudem o agressor encerrar o
ciclo de violência por ele perpetrado.
Geralmente o agressor já foi vítima de violência em algum momento de sua
vida e tende a reproduzir essa cultura. Inclusive este fato serve como justificativa
para legitimar a violência cometida pelo agressor.
Entender a dificuldade de este assumir-se como pessoa violenta, ou que
reconheça que tem um problema e precisa de ajuda de profissionais, é crucial para
vê-lo sob outro ângulo que não seja o de réu.
A ressocialização do agressor é fator determinante para erradicar de vez a
violência nas relações familiares. É importante investir em políticas repressivas, mas
também, em políticas preventivas com a finalidade de evitar a reincidência.
As políticas públicas e serviços de atendimento direcionado à recuperação
dos homens autores de violência contra a mulher são escassos no Brasil. Centros
de educação e reabilitação de agressores estão previstos na Lei Maria da Penha,
nos artigos 30, 35 e 45, a saber:

Art. 30° Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre outras


atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer
subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Público e à Defensoria Pública,
mediante laudos ou verbalmente em audiência, e desenvolver trabalhos de
orientação, encaminhamento, prevenção e outras medidas, voltados para a
ofendida, o agressor e os familiares, com especial atenção às crianças e
aos adolescentes. […].
Art. 35° A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão
criar e promover, no limite das respectivas competências: […]
V – centros de educação e de reabilitação para os agressores. […]
Art. 45° O art. 152 da Lei no7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução
Penal), passa a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 152.
Parágrafo único. Nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz
poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor a programas
de recuperação e reeducação.188

187
Idem.
61

Medrado assevera, “que a lei, de certo modo reconhece que para intervir
no contexto da violência doméstica e familiar contra as mulheres, a partir da
perspectiva de gênero, é preciso implementar ações que possam também incluir os
homens”189. Atualmente existem algumas iniciativas focadas na educação e
reabilitação do agressor. Timidamente e em conformidade com a lei, elas vêm se
desenvolvendo pelo país.
Em 2012 no Ceará, foi lançado o primeiro Núcleo de Atendimento ao
Homem Autor de Violência contra a Mulher – NUAH, o objetivo é desenvolver
atividades relacionadas à reeducação dos agressores. O núcleo é um projeto que
integra o Programa de Fomento às Penas e Medidas Alternativas do Ministério da
Justiça em parceria com a Secretaria da Justiça e Cidadania do Estado do Ceara
(SEJUS).190
A proposta é levar o homem a fazer reflexões e se reeducar. O serviço
contará com atendimentos psicossociais e jurídicos, grupos de sensibilização e
reflexão, atendimento aos presos pela Lei Maria da Penha e encaminhamento à
rede socioassistencial do Ceará. 191
Um dos primeiros grupos de reflexão destinados a homens agressores se
iniciou nos espaços do Centro Especial de Orientação à Mulher Zuzu Angel
(CEOM), uma ONG parceira da Prefeitura Municipal de São Gonçalo/RJ. Criado
em 1999, o grupo é considerado uma referência. O Judiciário propõe a participação
em grupos como alternativa para suspensão do processo ou mesmo do
cumprimento da pena.192
Em São Paulo também foi criado um grupo (ONG) para ajudar na
reeducação de homens agressores. O grupo recebe lições sobre “noções de
direitos humanos e da Lei Maria da Penha”, com o intuito de minar o sentimento de

188
Fonte: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>.
189
MEDRADO, Benedito; MELLO, Ricardo P. Posicionamentos críticos e éticos sobre a violência
contra as mulheres. Psicologia & Sociedade. Porto Alegre: Scielo, p. 83, 2008.
190
ALMEIDA, Mozarly. Núcleo busca reeducar o homem agressor. Diário do Nordeste: 10 set. 2012.
Disponível em: <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/nucleo-busca-reeducar-
o-homem-agressor-1.624835>. Acesso em: 18 de janeiro de 2017.
191
Idem.
192
BIANCHINI, Alice. Campanha AD - não violência contra a mulher: centros de educação e
reabilitação de agressores. JusBrasil, 2013. Disponível em:
<http://professoraalice.jusbrasil.com.br/artigos/121814292/campanha-ad-nao-violencia-contra-a-
mulher-centros-de-educacao-e-reabilitacao-de-agressores. Acesso em: 18 de janeiro de 2017.
62

impunidade. A Vara Central da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher de


São Paulo encaminha agressores para participar do grupo. 193
Além dessas iniciativas, foram desenvolvidas mais algumas ações com
maior alcance, considerando sua estrutura e parcerias firmadas. A Rede Brasileira
de Pesquisas sobre Violência, Saúde, Gênero e Masculinidades (VISAGEM) tem
como escopo desenvolver estudos e pesquisas voltados à Psicologia, em conjunto
com pesquisadores de diversas regiões do país, vinculados a Núcleos de Pesquisa,
que atuam na interação entre a produção acadêmica e os movimentos sociais, em
torno de temas relativos a saúde, gênero, violência e masculinidades. 194
Paralelamente, o Instituto Noos, fundado em 1994, é uma organização da
sociedade civil, sem fins lucrativos, e reconhecida como de Utilidade Pública
Federal. É composta por profissionais das ciências humanas, sociais e da saúde. O
objetivo do instituto é o desenvolvimento e a difusão de práticas sociais sistêmicas
voltadas à saúde dos relacionamentos familiares e nas comunidades. Sobretudo,
busca métodos para a dissolução pacífica de conflitos familiares e comunitários e os
divulga através dos cursos oferecidos por sua Escola de Práticas Sociais Sistêmicas
e das publicações de sua editora. 195
O Noos tem se dedicado prioritariamente à prevenção e à interrupção da
violência intrafamiliar e de gênero. Dedica-se também à articulação de redes sociais
e comunitárias e à promoção dos Direitos Humanos.196
Menciona-se aqui também o Núcleo de Atenção à Violência (NAV), uma
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que deu início as
suas atividades em 1996, no Rio de Janeiro, com o objetivo de intervir em situações
de violência doméstica e risco social, por meio do atendimento clínico orientado pela
psicanálise a crianças, adolescentes e autores de agressão envolvidos em situações
de violência doméstica e risco social; inserção social e orientação e/ou

193
Idem.
194
PAPAI. Rede Brasileira de Pesquisas sobre Violência, Saúde, Gênero e Masculinidades
(VISAGEM). Instituto Papai, [2010?]>. Disponível em:
<http://www.papai.org.br/antigo/conteudo/view?ID_CONTEUDO=597>. Acesso em: 18 de janeiro de
2017.
195
NOOS. Instituto Noos. Disponível em: http://noos.org.br/portal/sobre/quem-somos/>. Acesso em:
18 de janeiro de 2017.
196
Idem.
63

acompanhamento a pais ou responsáveis e a capacitação dos profissionais das


redes de saúde, educação, assistência social e Justiça, e de conselhos tutelares. 197
As iniciativas citadas acima, quando vistas sob a ótica numérica, são
inexpressivas, mas são medidas eficazes, além de serem, obviamente, muito
menos onerosas (custo social e econômico) do que as de caráter penal. 198

2.7 Igreja no Enfrentamento à Violência contra Mulheres

Segundo uma pesquisa divulgada pela revista Exame 199, 85% da população
brasileira declara-se cristã. Esse fator é determinante para que a Igreja se mobilize e
tome iniciativas envolvendo a temática, considerando o alcance que teria qualquer
iniciativa tomada.
John Wesley um dos pioneiros do Movimento Metodista, já dizia que o
"evangelho de Cristo não conhece religião, que não seja religião social; não conhece
santidade, que não seja santidade social”.200
Necessariamente, a Igreja como um todo, precisa reconhecer que, desde a
violência psicológica até a violência física contra as mulheres, existe um facilitador,
como mencionado outras vezes no decorrer do trabalho, “a cultura patriarcal” e, por
vezes, reproduzida em aconselhamentos pastorais, pregações e, sobretudo, nos
lares cristãos.

Partimos do pressuposto básico que a violência doméstica sempre é gerada


numa relação de desigualdade hierarquizada, que confere ao homem a
condição de mando e à mulher a de submissão. Condição social,
historicamente naturalizada. Alguns pressupostos religiosos são, por assim
dizer, intocáveis e resistentes à moderna secularização, impondo políticas e
manipulando poderes.201

Valéria Cristina Vilhena, Mestre em Ciências da Religião pela Universidade


Metodista de São Paulo, entrevistou algumas mulheres evangélicas que sofreram

197
NAV. Núcleo de Atenção à Violência. Revista NAV, 2012. Disponível em: <http://nav.org.br/wp-
content/uploads/Revista-NAV_com-capa.pdf. Acesso em: 18 de janeiro de 2017.
198
BIANCHINI, 2013.
199
SOUZA, Beatriz. Um perfil dos cristãos do Brasil em 11 números. Revista: Exame, 05 abr. 2015.
Disponível em: <http://exame.abril.com.br/brasil/um-perfil-dos-cristaos-do-brasil-em-11-numeros/>.
Acesso em: 20 de janeiro de 2017.
200
MARQUES, Natanael G. John Wesley e o Movimento Metodista. Portal Metodista. Disponível em:
http://portal.metodista.br/pastoral/reflexoes-da-pastoral/john-wesley-e-o-movimento-metodista>.
Acesso em: 20 de janeiro de 2017.
201
METODISTA. Violência contra a mulher, um problema da igreja. Expositor Cristão: Jornal Mensal
da Igreja Metodista, ano 127, n.11, nov. 2013.
64

violências doméstica, e percebeu que as agressões são corriqueiras e muitas,


passam despercebidas. As humilhações, por exemplo, em sua grande maioria, não
são reconhecidas como atos de violência, resultando não apenas em danos físicos,
mas psicológicos também. 202
Para Vilhena, “fomos criados (as) em uma cultura violenta, mas, violência
não é natural, é aprendida”. As relações sociais estabelecem-se também pelo
aspecto cultural de um país; partindo deste pressuposto, a religião está inclusa,
portanto tem obrigações perante a sociedade. 203
Alegar que a violência contra a mulher é “coisa do demônio” e tentar
combatê-la espiritualmente só alimenta o círculo vicioso da violência. Neste caso,
além da violência sofrida pelo seu cônjuge, a mulher sofre ainda a violência
religiosa, em nome de Deus. Portanto, não se pode espiritualizar o comportamento
violento do agressor justificando-o como “investida do demônio”. Assim como as
mulheres não devem ser responsabilizadas pelas agressões, e também a denúncia,
jamais deve ser encarada como ausência de fé nas ‘promessas de Deus’204. Neste
sentido Vilhena afirma que:

Um púlpito que despreza tais índices torna-se incompetente, raso, e, ouso


dizer, que muitas igrejas se fossem implodidas, nem os vizinhos sentiriam
sua falta, tamanha inoperância. Muitas mulheres passam suas vidas
assegurando um matrimônio e sacrificando-se pelos filhos/as. Maridos e
companheiros que não dividem responsabilidades na educação, cuidado e
serviço, formam um lar desigual, mesmo sendo religiosos e ativos na
igreja.205

Infelizmente muitos religiosos associam a autoridade dada por Deus à


autoridade concebida pela cultura social. Deus é considerado forte, poderoso,
ciumento, controlador, entre outros adjetivos, e tal comparação pode ser perigosa a
medida que as relações familiares, sobretudo as conjugais, são baseadas na
desigualdade de direitos e deveres.
“Uma religião masculinizada, que reproduz tal organização social entre
homens e mulheres é sim perigosa à toda família” Sob esta perspectiva, pode-se

202
Idem.
203
Idem.
204
Idem
205
Idem.
65

afirmar que o discurso religioso tem conexão direta com à violência contra as
206
mulheres, uma vez que, as mulheres são ensinadas à submissão total ao marido.
Desta forma, “um aconselhamento pastoral que sugere tratar dessa situação
em segredo, pelo poder da oração ou com uma nova campanha de jejum”, e que,
desconsidera os sentimentos da mulher agredida, é um aconselhamento
irresponsável. A impunidade do agressor, deixará a mulher mais vulnerável e
correndo risco de vida.207
Neste sentido, a teologia é uma ferramenta poderosa na construção de
relações saudáveis. Conjuntamente, homens, mulheres e as instituições religiosas
devem unir-se na luta para erradicar a violência. O maior desafio da igreja
atualmente é, “repelir toda estrutura autoritária, inclusive a religiosa, que venha
tolerar a presença de violências, especialmente contra as mulheres” 208. Assim, abre-
se um parêntese para explicar sucintamente o significado da teologia:

É uma ciência que estuda as religiões, seus textos sagrados, rituais,


dogmas e doutrinas. Estuda o contexto histórico em que cada uma está
inserida e as tradições religiosas de diferentes grupos sociais. Mais do que
compreender as diferentes práticas religiosas, a Teologia se preocupa com
os efeitos destas crenças nos indivíduos e na sociedade. Para entender a
influência que a religião causa na vida das pessoas, o teólogo procura fazer
a ligação entre a religião e outras áreas do conhecimento, principalmente na
área das ciências humanas, como a Sociologia, Antropologia e
Psicologia.209

Segundo a teologia são necessárias três ações neste. A primeira, consiste


em educar os fiéis para que identifiquem seus sentimentos e concepções a respeito
da violência. Em outras palavras, cada um deve “examinar-se a si mesmo”210.
Examinar-se a si mesmo, traz em seu âmago a consciência de que se pode fazer
mais, de que se pode ser melhor. Novos ideais e conceitos são desenvolvidos
interiormente e exteriorizado nas atitudes transformadoras do indivíduo, seja ele
homem ou mulher.
Com a segunda ação, busca-se a reconciliação através do encontro. Muitas
vezes a violência não foi cometida pelo cônjuge e sim por um parente ou familiar que

206
Idem.
207
Idem
208
Idem
209
Guia da Carreira. Teologia. Disponível em: <http://www.guiadacarreira.com.br/profissao/teologia/>.
Acesso em: 20 de janeiro de 2017.
210
METODISTA, 2013.
66

faz parte da mesma instituição. Essa situação acaba afastando os envolvidos


emocionalmente e fisicamente, no entanto, os aproxima, “espiritualmente”. Promover
o encontro entre as partes, quebra o ciclo da violência na sua totalidade. 211
Nesse processo não necessariamente utiliza-se de um mediador, mas caso
necessário, ele deve ser conduzido por alguém capacitado e habilitado. A meta é
“curar a ferida que ficou como sintoma da violência invisível que não aparece nas
estatísticas”.212
A terceira e última ação, resume-se na motivação das igrejas como um todo,
independente da placa, unir-se com grupos e associações comunitárias, para
desenvolver novos mecanismos na defesa da mulher, bem como, meios de
prevenção e reeducação do agressor e por fim, pela melhoria das condições sociais
da população213. Em concordância com o exposto, o Pr. Ronaldo Sathler-Rosa,
Doutor em Teologia e Teorias das personalidades, afirma que:

A ação das igrejas assume, assim, o modo de ação profético-pastoral


visando ao campo político. As metas dessas ações podem ser diversas:
exigir legislação que corrija distorções e que combata a corrupção;
instalação de creches; construção de escolas ou melhoria das existentes;
maior atenção ao risco de desastres naturais, como enchentes e outros;
políticas de geração de empregos, especialmente para a juventude e muito
mais. A melhoria das condições da existência humana favorece o convívio
mais pacífico entre os humanos. Ademais, fortalecem a identidade e
colaboram para que as pessoas se sintam “em casa” no jardim onde Deus
nos convida a viver em paz com Ele e uns com os/as outros/as.214

Algumas denominações em conjunto ou separadamente têm promovido


debates, encontros, campanhas, entre outras iniciativas, visando contribuir para o
enfrentamento da violência contra a mulher que ocorre, inclusive, como visto, dentro
das igrejas.
A Igreja Metodista destaca-se pelo lançamento da campanha "Quinta-feira
uso Preto”, que consiste na mobilização de pessoas a se vestirem de preto em
protesto contra a violência sofrida por mulheres ao redor do mundo. A iniciativa tem
origem na campanha mundial "Thurdays In Black", iniciada na África do Sul, que

211
Idem.
212
Idem.
213
Idem.
214
Idem.
67

tomou proporções internacionais com o apoio do Concílio Mundial de Igrejas


(CMI).215
"Pode parecer simples, mas a intenção é chamar a atenção das pessoas
para que se unam a nós nessa luta contra toda forma de preconceito e violência,
especialmente contra a mulher", disse Suely Freire, SD da Federação de Mulheres
no Dne8.216
Outra igreja que se destaca é a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, que
desenvolveu a Cartilha de Prevenção e Enfrentamento à Violência Doméstica contra
Mulheres. O Serviço Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento (SADD) lançou a
Cartilha em três versões (português, inglês e espanhol), com o intuito de firmar
novas parcerias na luta de enfrentamento da violência contra mulheres. Segundo
seus dogmas, “a igreja precisa compreender que pode ser considerada o lugar de
segurança para as vítimas de violência e quebrar o silêncio, anunciando em alto som
que ao cuidarmos das mulheres estamos cuidando da nação como um todo”.217
Existe uma entidade sem fins lucrativos denominada Koinonia Presença
Ecumênica e Serviço, fundada em 1994, e sediada no Rio de Janeiro (RJ), seu
campo de atuação é nacional e internacional. É uma organização ecumênica de
serviço estruturada por pessoas de diferentes religiões, que buscam integrar o
218
movimento ecumênico a serviços sociais.
A Koinonia é uma das principais articuladoras da Rede Religiosa de
Proteção à Mulher Vítima de Violência, apostando no potencial das comunidades
religiosas para o acolhimento, buscando transformá-las em espaços de informação e
prevenção da violência contra mulheres de diferentes faixas etárias. 219
A iniciativa surgiu diante da necessidade de se trabalhar o tema da violência
de gênero dentro das comunidades religiosas que, legitimavam tradicionalmente
violência através da cultura de fé patriarcal.

215
PAULA, Sara de. Quinta-feira de preto: uma campanha de enfrentamento à violência contra a
mulher. Metodista: Portal Nacional, 01 jan. 2016. Disponível em: <http://www.metodista.org.br/quinta-
feira-de-preto-uma-campanha-de-enfrentamento-a-violencia-contra-a-mulher>. Acesso em: 20 de
janeiro de 2017.
216
Idem.
217
IEAB. Cartilha de Prevenção e Enfrentamento a Violência Doméstica contra Mulheres. Serviço
Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento, 30 abr. 2015. Disponível em:
<http://www.ieab.org.br/sad/biblioteca/cartilha-de-preven%C3%A7%C3%A3o-e-enfrentamento-
viol%C3%AAncia-dom%C3%A9stica-contra-mulheres>. Acesso em: 20 de janeiro de 2017.
218
KOINONIA. Koinonia Presença Ecumênica e Serviço. Disponível em: <http://koinonia.org.br/>.
Acesso em: 20 de janeiro de 2017.
219
Idem.
68

Os sermões machistas e patriarcais ministrados pelos líderes religiosos,


contribuem para que a mulher se omita em relação a agressão sofrida por receio da
igreja as culpá-la ou por não se sentirem à vontade para desabafar.
A participação mútua e ativa de religiosos e suas comunidades na rede de
proteção às mulheres em situação de violência, além de promover maior incidência
nas políticas públicas previstas na legislação brasileira, também se estabelece como
um meio de apoio, acolhida e orientação. A Rede Religiosa de Proteção à Mulher
Vítima de Violência desenvolve:

• Ações interculturais e inter-religiosas para promover incidência pública e


propor políticas públicas específicas para as mulheres com outras redes
governamentais e não governamentais para o enfrentamento à violência
contra as mulheres;
• Proteção, articulação, mobilização e proposição de políticas públicas
específicas para as mulheres, atuando junto à rede de enfrentamento à
violência contra as mulheres;
• Debates com homens e mulheres sobre enfrentamento a violência contra
as mulheres nas comunidades religiosas, com diferentes parceiros da
sociedade civil e órgãos públicos;
• Ações de incidência pública em agendas governamentais e da sociedade
civil de mobilização para enfrentamento da violência contra as mulheres;
• Grupos de apoio a homens agressores, com foco na Lei Maria da Penha,
como preconiza a Secretaria de Políticas para Mulheres.220

Destaca-se as rodas de conversa realizadas em igrejas evangélicas


diferentes, marcadas pela presença majoritária de mulheres que discutem a
importância de enfrentar a violência justamente nas igrejas que dão diretrizes de
práticas e papéis familiares. Ester Lisboa, uma das assessoras da Koinonia, alega
que:

A roda de conversa torna um ambiente relativamente seguro para que as


mulheres falem dessas situações de violência. Nesses momentos,
independentemente da denominação religiosa, sempre, sempre surgem
relatos. E só falando identificam essas agressões que, por exemplo, não se
dão de forma direta contra o corpo delas, como é o caso das violências
psicológica e patrimonial. Muitas dessas são legitimadas por passagens
bíblicas para subordinar a mulher e, de certa forma, preservar o seu
silêncio.221

Neste sentido, Lisboa define como maior obstáculo para o sucesso da rede,
“a falta de preparo teológico de lideranças religiosas que ainda entendem o lar como

220
Idem.
221
Idem.
69

um local descolado da sociedade não precisando, portanto, estar submetido à


universalidade das leis”. 222
Existem ainda interpretações e posturas religiosas que ignoram o estudo da
teologia, o que agrava ainda mais a situação dessas mulheres, sem mencionar que
dificulta o primeiro passo da rede diante de um caso de violência, que é, conversar
com a liderança da igreja. 223
Em regra, essas igrejas preocupam-se mais em “mostrar uma estrutura
perfeita, rígida em seus princípios, mas pecam em relacionamento”. São igrejas que
pregam religiosidade ao invés do evangelho de Cristo. “Talvez por medo que os
casos de abuso comecem a aparecer dentro da própria Igreja, sujando a imagem,
podendo até quem sabe colocar em risco a coleta de dízimos e ofertas”, explica
Lisboa. 224
A rede conta com a participação do público masculino esporadicamente,
Fabio Mendes, da Igreja Metodista de Itaberaba, em São Paulo, é um dos
participantes da rede. Ele alega que os homens tendem a justificar a desigualdade
de gênero utilizando passagens bíblicas225. “Mas ainda não é majoritário na igreja
evangélica em geral a compreensão de que o serviço a Deus se concretiza no
serviço ao próximo. E esta tem sido uma luta que todas as pessoas que estão
trabalhando com este tema na igreja tem de enfrentar”, adverte Fabio.226
Por fim, percebe-se a urgência do envolvimento das religiões na luta contra
o fenômeno da violência contra as mulheres. A busca pela orientação e instrução
dos líderes religiosos é primordial. A criação de ações de pequeno e grande alcance
se fazem necessárias. E o envolvimento direto com as políticas públicas e serviços
oferecidos pelo governo, precisa ser imediato.

222
Idem.
223
Idem.
224
Idem.
225
Idem.
226
Idem.
70

3 ACONSELHAMENTO PASTORAL EM CASOS DE VIOLÊNCIA CONTRA A


MULHER

É notória a estreita relação entre a religião e a violência contra as mulheres


ao longo dos anos. Inúmeros fatores (conforme já se estudou nos capítulos
anteriores), contribuíram e ainda contribuem para que a violência se perpetue nos
dias atuais.
Discute-se neste capítulo o envolvimento das igrejas evangélicas
(protestantes, pentecostais e neopentecostais) como ferramenta para desconstrução
da violência familiar, sobretudo, contra as mulheres, através do aconselhamento
pastoral. Muitas consideram a igreja como um refúgio, saber como acolher e
aconselhar esta mulher, é fator determinante para coibir e prevenir a violência.
Infelizmente nem todos pastores entendem a violência contra as mulheres
como um problema social, esse “desinteresse” de alguns líderes religiosos implica
no seu entendimento sobre o aconselhamento pastoral, como um simples ato de dar
conselhos. Infelizmente, mesmo em meio aos avanços e constantes discussões
teológicas e eclesiásticas, ainda se nota essa visão. Sobre isso Oliveira e Fleury
ensinam que:

Aconselhamento pastoral deve ser entendido em seu sentido mais amplo


como, a ação do/a pastor/a, indivíduos cristãos e/ou a própria comunidade
que, subsidiados por ferramentas bíblico teológico-pastorais, além do auxílio
da área da psicológica, que juntos, ajudam e proveem ao apoio poimênico
como: cura, nutrição espiritual e orientações a (s) pessoa (s) e/ou grupo em
meio a momentos difíceis, de angústias e/ou crises, com vista a seu
desenvolvimento, crescimento e libertação.227

Partindo desse pressuposto, a conscientização dos membros é primordial,


não apenas para auxiliar a vítima, mas também para amparar o agressor a fim de
evitar sua reincidência. Observando sempre a leis, a igreja deve acompanhar o
agressor e sempre que necessário buscar apoio interdisciplinar de outros
profissionais habilitados.
Assim, compreender a conexão entre a teologia e a psicologia é fundamental
para definir os limites de atuação de cada uma, através do aconselhamento.

227
OLIVEIRA, Marcio D.; FLEURY, Kleyson. Aconselhamento Pastoral Matrimonial: Uma proposta
ade acompanhamento, enriquecimento e cura a casais em crise. Vox Faifae: Revista de Teologia da
Faculdade FAIFA, v. 5, n. 1, 2013.
71

O caminho do aconselhamento pastoral é promissor, e se imputado


corretamente será um grande aliado do governo federal na aplicabilidade e
efetivação das políticas públicas e serviços de atendimento, disponibilizados para a
mulher e os demais envolvidos.
Um novo paradigma será apresentado, tendo como base não apenas a
Bíblia, mas a ética, a moral, a lei e a ciência. Neste sentido, o aconselhamento
pastoral tem aprofundado suas raízes teológicas e ampliado sua metodologia para
cumprir seu papel perante a sociedade.

3.1 Definição de Aconselhamento Pastoral

Não existe uma definição unânime do termo aconselhamento pastoral. As


proposições vão desde “orientação da palavra de Deus para o indivíduo” ou
“disciplina eclesiástica” (Eduard Thurneysen) ou “psicoterapia no contexto da igreja”
(Dietrich Stollberg) até “ajuda cristã para a condução da vida” (Christoph Schneider-
-Harpprecht).228
As definições contemplam, além da Bíblia, ciências como a teologia,
sociologia e psicologia. Todas destacam o caráter multidimensional do
aconselhamento pastoral, como ver-se-á em sequência que a compreensão da
temática varia de acordo com o contexto cultural, social, histórico e eclesiástico. 229
Inicialmente cumpre dizer que o termo aconselhamento pastoral é uma
tradução para o português da palavra inglesa pastoral counseling, usada
especialmente no contexto norte-americano do século 20, segundo Schneider-
Harpprecht230. Para Zaracho,

Nos primeiros séculos o aconselhamento pastoral recebia o nome de “cura


das almas”. Em sua origem, a palavra cura não tem o significado atual, hoje
em dia se refere a sarar. Antes, uma pessoa curava a outra quando se dava
um trato adequado, quando se interessava por ela. Era primordialmente
uma atitude, e a ênfase não estava no resultado, mas, antes de tudo na
relação. Curar indicava comumente “cuidar”, “ter interesse por”, incluía o
conceito de saúde entendida como crescimento.231

228
SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph. As transformações do aconselhamento pastoral até hoje.
Estudos Teológicos, v. 56, n. 2, 2016.
229
Idem.
230
SCHNEIDER HARPPRECHT, C. Teologia Prática no Contexto da América Latina. 2ª Edição
Revista e Ampliada, São Leopoldo: Sinodal, 2005, p. 291.
231
ZARACHO, Rafael. Consejería pastoral. Buenos Aires: Lumen, 2007, p. 25.
72

Fredy McKinne232 (2012, p.12 apud Hurding, 1995) define aconselhamento


pastoral como: “um relacionamento interpessoal no qual o conselheiro assiste ao
indivíduo em sua totalidade no processo de ajustar-se melhor consigo mesmo e com
seu ambiente”.
Percebe-se que para McKinney, 233 o conselheiro apenas “assiste” o
aconselhando, enquanto este, decide sozinho o que lhe é mais propício. Neste
sentido, Friesen234 enfatiza que o aconselhamento “não é psicoterapia, nem
psicanálise, nem tampouco a tentativa de resolver problemas através de conselhos”.
Para Friesen, aconselhamento pastoral pode ser definido como:

A proclamação do Evangelho e proclamação do perdão dos pecados.


Aconselhamento Pastoral é, antes de tudo, a comunicação da palavra de
Deus. No aconselhamento pastoral desenvolve-se um diálogo que deve
levar ao rompimento com a vida nas trevas. Nele são utilizados os princípios
bíblicos para a orientação da conduta das decisões. Este é o
aconselhamento em nome de Jesus Cristo.235

Jay Adams236 vai mais a fundo e distingue aconselhamento pastoral de


aconselhamento bíblico. Segundo sua concepção, o primeiro, é integracionista, pois
assimila teorias e métodos da psicologia e demais ciências, já o segundo, utiliza
somente a Bíblia e o plano espiritual como norteador na resolução de conflitos.
Adams declara:

Biblicamente falando, não há base para o reconhecimento da existência de


uma disciplina separada e distinta chamada psiquiatria. Nas escrituras há
somente três fontes originadoras de problemas pessoais na vida diária: a
atividade de demônios (sobretudo a possessão), o pecado pessoal e as
enfermidades físicas. Essas fontes estão inter-relacionadas entre si. Todas
as opções podem ser cobertas por esses três fatores, não havendo espaço
disponível para um quarto: as enfermidades mentais não orgânicas.237

Sucintamente para Adams a origem de todos os males resulta da


depravação da natureza humana decaída. Segundo o autor, erroneamente todas as
outras ciências tentam transferir do pecador a sua responsabilidade, para fatores
estruturais ou sociais.

232
Ibidem, p. 19.
233
Ibidem, p. 19.
234
FRIESEN, Albert. Cuidando do ser: treinamento em aconselhamento. Curitiba: Evangélica
Esperança, 3ª Edição e Revisa, 2012, p. 19.
235
Ibidem, p. 26.
236
ADAMS, Jay. Conselheiro Capaz. São Paulo: Fiel, 1987.
237
Ibidem, p.155.
73

Em contrapartida, Clinebell238 define aconselhamento como “a utilização de


uma variedade de métodos de cura (terapêuticos) para ajudar as pessoas a lidar
com seus problemas e crises de uma forma mais conducente ao crescimento e,
assim, a experimentar a cura de seu quebrantamento”. Essa definição amplia
consideravelmente o campo de atuação do aconselhamento.
Essa linha de raciocínio tem se destacado e vem sendo adotada pelos
líderes religiosos cada vez mais. Seguindo este raciocínio, Hurding 239 define o
aconselhamento “como uma atividade com o objetivo de ajudar aos outros em todo e
qualquer aspecto da vida, dentro de um relacionamento de cuidado”.
Crabb (1977, apud Hurding, 1995, p. 36) 240, sustenta que o aconselhamento
pastoral deve buscar a capacitação do indivíduo para que este se mova em direção
ao outro, harmonizando-se com os princípios bíblicos, sentimentos, comportamentos
e pensamentos. Nascimento resume aconselhamento como:

Um processo de orientação espiritual e psicológico que ocorre entre dois ou


mais indivíduos, no qual um deles, o conselheiro, por sua posição e
capacidade, procurar aplicar conhecimentos e intervenções com a intenção
de compreender, orientar, influenciar e modificar a função mental e o
comportamento do outro (aconselhado). Quanto maior for a confiança que o
conselheiro transmite ao aconselhado, maior será o poder de ajudar.241

Pra finalizar, o salmista Davi no capítulo 139 e versículo 23 do seu livro, diz:
“Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus
pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho
eterno.”. Implicitamente o salmista aponta os movimentos básicos que deverão
acontecer durante o aconselhamento, a saber: sondar, conhecer, provar e conduzir
por caminhos eternos. 242
Diante do exposto até então e considerando o entendimento majoritário
entre os doutores do saber, o aconselhamento pastoral é o resultado de um conjunto
de conhecimentos, utilizados para orientar o indivíduo a fazer o que é certo.

238
CLINEBELL, Howard. J. Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e crescimento.
São Leopoldo: Sinodal, 5ª Edição, 2011, p. 25.
239
HURDING, 1995, p. 36.
240
Idem.
241
NASCIMENTO, A. R. X. Aconselhamento Pastoral como base no Novo Testamento. Super Click
Monografias, 28 jul. 2012. Disponível em: <http://superclickmonografias.com/blog/?p=62>. Acesso
em: 22 de janeiro de 2017.
242
FRIESEN, 2012, p. 20.
74

3.2 Objetivos do Aconselhamento Pastoral

A igreja primitiva cuidava integralmente dos cristãos, atendia além das suas
necessidades espirituais, as físicas e psíquicas também. No decorrer dos anos a
missão foi redistribuída: a medicina passou a cuidar do corpo, enquanto a psiquiatria
e psicologia cuidavam da alma e a igreja em conjunto com a teologia, cuidavam do
espírito.
Entender esses desdobramentos históricos é necessário para compreender
os objetivos do aconselhamento pastoral. Partindo do pressuposto de que essa
redistribuição de funções vem sendo reconhecida cada dia mais, o resultado é a
aproximação das diferentes áreas do saber.
Essa parceria entre a religião e as demais ciências permitem que o
aconselhamento pastoral atinja seu objetivo com êxito, contribuindo desta forma
para acabar com o fenômeno da violência contra as mulheres, entre outros.
Para Clinebell,243 o maior objetivo do aconselhamento pastoral é “libertar,
potencializar e sustentar a integralidade centrada no espírito”. Através da sua função
reparadora, o aconselhamento promove o desenvolvimento do indivíduo quando seu
crescimento é seriamente comprometido ou bloqueado por crises.
Consequentemente após sua cura e libertação, o indivíduo contribuirá para o
crescimento das pessoas que o cercam.
Destaca-se aqui a integralidade humana que é entendida como “vida em
abundância”, porquanto uma pessoa liberta na sua totalidade desenvolve seu
potencial ao máximo, gerando oportunidade a si e a outras pessoas. 244
De acordo com Friesen245, o objetivo do aconselhamento pastoral é “tratar
das tensões interiores e dos diferentes complexos que interferem na qualidade de
vida”. Friesen prossegue destacando como objetivo do aconselhamento pastoral
libertar as pessoas de “atitudes inadequadas e distorções de percepção quanto à
realidade”, bem como “dos medos, culpas e das iras inadequadas”.
Desse modo, o aconselhamento pastoral utiliza os recursos da Palavra de
Deus, que devem permanecer “básicos e preponderantes, como diretrizes”, e os

243
CLINEBELL, 2011, p.25.
244
Ibidem, p. 27.
245
FRIESEN, 2012, p. 26.
75

recursos das outras ciências, como “complementares e auxílios instrumentais do


aconselhamento”.246
Por fim, como bem definiu Schneider-Harpprecht (1998, p. 82), um dos
principais objetivos do aconselhamento pastoral é amparar pessoas em situação de
conflito, crise e sofrimento “para que possam viver a relação com Deus, consigo
mesmas e com o próximo de uma maneira consciente e adulta”, bem como,
incentivá-las a assumirem sua responsabilidade perante a sociedade, corroborando
dessa forma para a “melhora das condições de vida numa sociedade livre,
democrática e justa”.

3.3 O Conselheiro Pastoral

Apesar do termo pastoral, o aconselhamento, não é exercido exclusivamente


pelo líder, pastor ou padre. Schneider-Harpprecht argumenta que: “[...] a poimênica
e o aconselhamento pastoral em primeiro lugar como uma expressão da vida
comunitária e não como uma tarefa reservada para os pastores e outros
especialistas da igreja”. 247
Tanto o termo “poimênica” quanto a própria expressão “aconselhamento
pastoral” são pouco utilizados, prova disso, é que ainda não foram incluídos no
dicionário da língua portuguesa. Todavia, os termos existem desde a antiguidade. O
termo poimênica, vem do grego "poimen" e significa "pastor de ovelhas”. A palavra
“pastoral”, portanto, também deriva desta raiz.248
Schneider-Harpprecht249 entende como “ciência do agir do pastor”, ou como
definiu Clinebell,250 “é o ministério amplo e inclusivo de cura e crescimento mútuos
dentro de uma congregação e de sua comunidade, durante todo o ciclo da vida”.
Collins251 ao enfatizar que “ajudar é tarefa de todos”, afirma que de um modo
ou de outro, todos assumem diariamente o papel de conselheiro.

246
Idem.
247
SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph. A teologia prática no contexto da América Latina. São
Leopoldo: 1998, p. 82.
248
NASCIMENTO, 2012.
249
SCHNEIDER-HARPPRECHT, 1998, p. 82.
250
CLINEBELL, 2011, p.25.
251
COLLINS, Gary. R. Ajudando uns aos outros pelo aconselhamento. São Paulo: Vida Nova, 2005,
p. 19.
76

Orientar nossos filhos numa crise, consolar um vizinho enlutado, aconselhar


um adolescente sobre um problema de namoro, ouvir um parente descrever
suas dificuldades com um filho ou filha problemático, encorajar a família de
um alcoolista, ajudar o cônjuge a enfrentar uma situação difícil no trabalho,
guiar um jovem cristão num período de dúvida [...].252

Procurar um amigo, parente ou vizinho geralmente é mais fácil, do que


buscar ajuda de um estranho (profissional) que detenha um título (psiquiatra,
psicólogo, terapeuta, etc.). A maioria dos ajudadores não tem nenhum treinamento
específico, entretanto, causam grande impacto na vida do outro e estão sempre na
linha de frente. Por isso é importante enfatizar que a missão de aconselhamento não
compete única e exclusivamente ao pastor ou líder religioso, tampouco a psicologia
e áreas afins. Ela é tarefa de todos, como mencionado acima.
Tratando-se do conselheiro pastoral propriamente dito, é indispensável que
este tenha princípios bíblicos bem definidos, leia a Bíblia, além de livros de cunho
teológico, obras científicas da psicologia, antropologia, pedagogia, filosofia e história.
E também que aprimore suas habilidades através de treinamentos, adote novos
métodos e técnicas sempre que possível e tenha conhecimento sobre o
desenvolvimento do ser humano e de sua personalidade. 253
Collins254 sintetiza que algumas características do aconselhador como,
empatia, cordialidade e autenticidade, são essenciais para o bom aconselhamento.
A empatia releva-se quando o aconselhador tenta ver e compreender o problema
sob a perspectiva do aconselhando; já a cordialidade se manifesta no cuidado, nas
expressões faciais, no tom da voz, gestos, postura e etc.; e por fim, a autenticidade
opera através da palavra do aconselhador que correspondem as suas ações.
Estudos comprovam que grande parte da população procura o clérigo, antes
de qualquer outro profissional para ajudá-los a resolver um problema pessoal, por
isso é imprescindível que o conselheiro tenha todas as aptidões necessárias para
realizar um aconselhamento disciplinado e competente. 255
Neste sentido, Clinebell256 afirma que “muitas vezes, tais pessoas confiam a
própria textura de suas vidas às aptidões de aconselhamento do pastor.

252
Idem.
253
FRIESEN, 2012.
254
COLLINS, 2005, p. 38-39.
255
CLINEBELL, 2011, p. 45.
256
Ibidem, p. 44.
77

Frequentemente, ele é a única pessoa a quem elas permitem entrar em seus


infernos particulares”.
Clinebell257 prossegue, alegando ser crucial que o aconselhador faça
treinamentos, tanto acadêmico, quanto clínico, sob supervisão, não com o intuito
somente de evitar causar danos, mas para potencializar sua capacidade de ser
instrumento de cura. Um conselheiro apto direciona o aconselhando à integralidade,
a cura e ao crescimento, gerando transformação da personalidade.
Importante mencionar que em alguns casos o conselheiro pastoral é também
o pastor da igreja. Esse fator acaba sendo negativo dependendo do caso, uma vez
que, o aconselhando automaticamente se coloca numa posição de submissão, e
acaba se sentindo intimidado. De fato, é uma tarefa difícil para o conselheiro
realizar, caso este não consiga estabelecer uma relação de confiança, com limites
bem definidos, o que pode incorrer, inclusive, em mais problemas.
Para melhor compreensão da função do conselheiro pastoral, é necessário
fazer uma retrospectiva histórica, levantando os aspectos mais relevantes que
culminaram no aconselhamento pastoral.
A seguir, serão estudados alguns métodos que auxiliaram o conselheiro
pastoral a executar essa tarefa com eficiência, mesmo em situações como a
mencionada acima.

3.4 Métodos utilizados no Aconselhamento Pastoral

O objetivo principal do presente trabalho é apontar os métodos utilizados no


aconselhamento pastoral. Diante da diversidade de opiniões a respeito da temática,
buscou-se relacionar os modelos mais apreciados pelos líderes religiosos e em
paralelo, averiguar os métodos.
Iniciar-se-á pelo fundamentalismo de Jay Adams, em seguida o modelo
evangelical de Gary Collins, e por fim, o modelo holístico de libertação e crescimento
de Clinebell.

257
Ibidem, p. 46.
78

3.4.1 Modelo Fundamentalista

Este modelo de aconselhamento promovido pelo teólogo americano Jay


Adams tem a Bíblia como o único fundamento teórico, desprezando o uso de
qualquer ciência para auxiliar. A graça de Deus é suficiente para solução de
qualquer “problema”, desde que haja o arrependimento. 258
Segundo Adams,259 a Bíblia é a bússola para um aconselhamento com
excelência, nela estão definidos os valores, as crenças, os estilos de
comportamento, o que fazer e como fazer. Por isso, Adams denomina o
aconselhamento como bíblico.
Adams260 fundamenta seu estilo de aconselhamento na atividade do Espirito
Santo em convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo. “O Espírito Santo é
a fonte de todas as mudanças genuínas de personalidade, mudanças que envolvam
a santificação do crente – 2 Coríntios 3.18”.
Para melhor compreensão deste método, Adams cita três elementos básicos
que utiliza para desenvolver o aconselhamento, a saber: mudança, confrontação e
interesse. A mudança consiste no reconhecimento que há algo errado, para
posteriormente, através da confrontação mediante a palavra de Deus, ocorrer a
mudança de comportamento e personalidade, aliado ao interesse tanto do
conselheiro, como do aconselhado.261
Schneider Harpprecht262 diz que “chama atenção, neste modelo, a falta de
qualquer reflexão sobre o contexto social, histórico e cultural do aconselhamento”.
Apesar do radicalismo intrínseco neste modelo, deve-se considerar que, as vezes, o
problema de uma pessoa não seja da alçada de outras ciências. Todavia deve-se
cuidar para que a Bíblia não se torne um manual, único e exclusivo, de conduta para
a humanidade.

3.4.2 Modelo Evangelical

258
ROSA, Alexandre. Interface psicologia e aconselhamento pastoral: o cuidado nas crises da
psicologia pastoral. 2011.Tese (Mestrado) - Escola Superior de Teologia, São Leopoldo. Disponível
em:<http://tede.est.edu.br/tede/tde_arquivos/1/TDE-2012-06-09T205633Z-
349/Publico/rosa_a_tmp207.pdf>. Acesso em: 23 de janeiro de 2017.
259
ADAMS, 1987.
260
Ibidem, p. 68.
261
ADAMS, Jay. O manual do conselheiro cristão. São José dos Campos: Fiel, 1994, p. 58.
262
SCHNEIDER-HARPPRECHT, 2005, p. 291.
79

Gary Collins destaca-se neste modelo de aconselhamento principalmente


pela sua formação em Psicologia. Em diversas obras, ele promove a integração
entre a Psicologia e a Teologia, sobretudo para o desenvolvimento do
aconselhamento.
Collins, dentro desse modelo evangelical, desenvolveu algumas regras
básicas, que ele chama de habilidades, e discorreu sobre elas de forma objetiva e
simples. A primeira habilidade refere-se ao atendimento. O aconselhando deve
concentrar sua atenção no aconselhado, encorajando-o a falar livremente e através
de suas ações, demonstrar que está ouvindo atentamente o que vem sendo dito 263
A segunda habilidade diz respeito ao ouvir, todavia, não o ouvir no sentido
restrito da palavra, mas observar as expressões faciais, lágrimas, entonação da voz,
postura e outros indícios que levem a uma compreensão mais profunda do que de
fato está sendo dito.264
Inevitavelmente, em algumas situações o aconselhando vai se encontrar
indisposto, pouco receptivo e sem vontade de falar. Nessas ocasiões Collins sugere
a técnica do induzimento.

Faça uma pergunta ou pedido que não possa ser respondido por uma única
palavra [...]; Faça, periodicamente, um resumo da situação como a vê e
pergunte se está correta; Tente um comentário que possa induzir o
aconselhamento. Trata-se de declarações destinadas a manter a conversa
em andamento; Use a técnica que os psicólogos chamam de reflexão. Ela
inclui dizer palavras novas que o aconselhando parece estar expressando
ou sentindo; Reformule os pensamentos do aconselhado; Apresente uma
descrição do comportamento do aconselhado como você o vê.265

Segundo Collins, após esta abordagem o indivíduo terá uma perspectiva


mais clara do seu problema e o conselheiro mais informações. Outra técnica básica
é oferecer apoio, encorajar o aconselhando a se abrir, admitir seus defeitos e
reconhecer seu problema. Desse modo, através do apoio emocional e espiritual, o
aconselhando terá uma oportunidade de crescer e amadurecer. 266
O alvo de qualquer conselheiro, é a “mudança” do aconselhando, seja
mudança de pensamento, de comportamento, de atitude; enfim, o objetivo é mudar.
Durante esse processo, o conselheiro deve usar a técnica da influência para guiá-lo,

263
COLLINS, 2005, p. 50.
264
Ibidem, p. 52.
265
Ibidem, p. 53.
266
Ibidem, p. 57.
80

através de feedbacks, sugestões, conselhos, fornecimento de informações,


interpretações pessoais, autorevelação, reformulando e parafraseando coisas ditas,
entre outros.267
A técnica do confronto é controversa ainda. Para alguns pastores ela é
ineficaz, enquanto outros argumentam que o confronto, apesar de difícil, é
necessário. De forma branda, sem crítica ou julgamentos, o conselheiro deve levar o
aconselhado a abandonar seus comportamentos negativos e conduzi-lo no
aprendizado de atitudes mais eficientes.268
E por fim, tem-se a técnica ensinando, em que o aconselhamento pode ser
resumido como um tipo de ensino. Nele, o aconselhando aprende a agir, sentir e
pensar de maneira diferente. Este ensinamento pode ser manifesto através de
elogios, palavras de incentivo e estímulos, sempre que o aconselhando de um passo
em direção à cura.269
Importante ressaltar que, Collins eleva o uso da Bíblia e de Deus durante o
aconselhamento. Segundo ele, “toda verdade tem origem em Deus. [...] Deus
revelou estas verdades através da Bíblia, a sua palavra escrita à humanidade
[...]”270. Percebe-se que este método adota como base teórica principal, a Bíblia, no
entanto não ignora o conhecimento das demais ciências. Este método é o mais
utilizado atualmente, mas envolve grandes riscos um vez que deixa a razão em
segundo plano e eleva a fé, fator que pode resultar em grandes equívocos.

3.4.3 Modelo Holístico de Libertação e Crescimento

O idealizador deste modelo é Howard Clinebell, formado em Psicologia e


Psicoterapia, atualmente atua como conselheiro pastoral. Clinebell geralmente
associa a palavra poimênica (definida anteriormente) com o aconselhamento
pastoral. Para ele, a poimênica e o aconselhamento pastoral são “valiosos
instrumentos através dos quais a igreja permanece relevante para a necessidade
humana”271. Diante dessa perspectiva, Clinebell alega que:

267
Ibidem, p. 58.
268
Ibidem, p. 59.
269
Ibidem, p. 62.
270
ROSA, 2011, p. 23
271
CLINEBELL, 2011, p. 14.
81

O aconselhamento pastoral precisa achar um novo nível de auto-identidade


e maturidade aprofundando suas raízes teológicas, ampliando sua
metodologia e descobrindo sua contribuição singular na ajuda à
humanidade atribulada.272

Nesse modelo a integração entre a Psicologia e o aconselhamento pastoral


é fundamental. Segundo ele, “em nosso mundo de contínua mudança, a poimênica e
o aconselhamento pastoral precisam ser guiados por uma visão evolutiva”. 273
A constante renovação de conhecimentos é a marca registrada desse
modelo. Neste sentido, Clinebell274apresenta uma descrição completa desse
modelo, a saber: “o método holístico de poimênica e aconselhamento vê a nós,
seres humanos, como possuidores de uma riqueza de forças, potencialidades e
recursos não descobertos e não desenvolvidos”.
Conclui-se diante do exposto que nesse modelo o aconselhamento pastoral
é tarefa da igreja como um todo, sob a supervisão e orientação do líder religioso,
buscar aprimorar suas habilidades e conhecimentos, usando como base a Bíblia e
outras ciências.
Este método é o mais amplo e o mais completo, além de diminuir
consideravelmente a margem de erro, uma vez que utiliza-se a fé, a razão e a
ciência conjuntamente. Existe uma certa resistência no Brasil em adotar esse
modelo, mas em outros países como os Estados Unidos por exemplo, é comum,
inclusive, algumas igrejas evangélicas cobram por esse “atendimento”.
Todos esses modelos apresentados ao serem usados de forma equilibrada
serão úteis e eficazes na luta contra a violência praticada contra a mulher. Ignorar
esses métodos ou aplicá-los com imprudência agrava a situação do aconselhando,
podendo inclusive, tornar irreversível o caso. A mulher vê no aconselhamento
pastoral uma alternativa valiosa para ajudá-la a enfrentar seus medos. O conselheiro
deve analisar cada caso e escolher o método mais adequado a situação.

3.5 Aconselhamento Pastoral e a Teologia

272
Ibidem, p. 16.
273
Ibidem, p. 24.
274
Ibidem, p. 28.
82

Schneider-Harpprecht,275 compreende o aconselhamento como a prática de


“ajuda a pessoas com problemas de saúde, problemas psíquicos, sociais ou
religiosos através de curto ou médio prazo com uma pessoa ou um grupo
qualificados”.
A partir desta concepção, Schneider-Harpprecht vincula o aconselhamento à
teologia. Neste caso, o que o diferencia dos demais aconselhamentos, é “o tipo de
problema e a qualificação dos aconselhantes”. Isto é, enquanto o aconselhamento
psicológico, trata das “dificuldades de ordem psíquica e psicossocial” e os seus
profissionais têm uma formação psicoterapêutica específica, o aconselhamento
pastoral “enfoca problemas e dificuldades da vida sob o ponto de vista religioso e
espiritual” e os seus aconselhantes têm uma formação em aconselhamento
pastoral.276
Vegt acentua que os cristãos devem proclamar a liberdade divina (Gottes
Freiheit) e fazer com que o aconselhamento pastoral seja uma “ação libertadora”.
Ele afirma (teologicamente) que:

A doutrina do Deus oculto e revelado liberta da pressão de ter que separar


ou excluir os lados obscuros da vida; (cristologicamente) o fato de Deus ter
se tornado humano liberta as pessoas da ilusão de terem que ser parecidas
com Deus; (pneumatologicamente) a presença do Espírito Divino no
aconselhamento pastoral liberta de ter que constantemente chamar Deus
pelo seu nome. A presença e a livre forma de agir do Espírito também
liberta de ter que esperar tudo de um método; (soteriologicamente) a
doutrina da “Justificação por Graça e Fé” e a aceitação incondicional do ser
humano por Deus liberta as pessoas de terem que se justificar por próprias
forças; (escatologicamente) o reconhecimento da forma quebrantada da
existência humana liberta de querer alcançar a santidade ou a perfeição
neste mundo; (eclesiologicamente) a doutrina do sacerdócio geral de todas
as pessoas crentes liberta de uma hierarquização do aconselhamento
pastoral: tanto quem busca como quem oferece aconselhamento se
encontra no mesmo degrau perante Deus.277

Diante do exposto, conclui-se que a teologia e o aconselhamento pastoral


coexistem, ambas têm o mesmo propósito e através da abordagem espiritual
atingem as dimensões social, emocional e física do homem. Em contraponto, a
teologia está inter-relacionada com a Psicologia.

275
SCHNEIDER-HARPPRECHT, 1998, p. 23.
276
Idem.
277
VEGT, T. Aconselhamento visto pela ótica da psicologia. Porto Alegre: EDC, 2001.
83

3.6 Aconselhamento Pastoral e a Psicologia

Assim como a psicologia privilegia a utilização de métodos para observar,


classificar e analisar comportamentos humanos, o aconselhamento pastoral também
valoriza conceitos teológicos fundamentais para a fé cristã. Nisso baseia-se a
proposta deste item, analisar os métodos utilizados, bem como, a integração de
ambas.278

Para o cristão, no processo de aconselhamento pastoral está normalmente


implícito o reconhecimento de um Deus criador, a quem a identidade do
homem de fé está vinculada, e com quem dialoga, nas suas lutas, para a
definição de quem é e a consciência de si mesmo. (Brissoslino, S.d, p. 36).

Partindo desta premissa, Schneider-Harpprechr279 pontua que o


aconselhamento pastoral antecede situações concretas de sofrimento individual e
coletivo. Objetiva-se conduzir as pessoas à libertação plena encontrada só em
Cristo, consequentemente, as induz a assumirem suas responsabilidades pessoais e
sociais. Neste sentido, o diálogo com as ciências humanas torna-se essencial para o
desenvolvimento do aconselhamento.
Bootz280 comprova que o aconselhamento pastoral necessita do
conhecimento de outras áreas do saber humano. Isso traz alguns benefícios à
poimênica, mas infelizmente tem contribuído para que muitos conselheiros cristãos
não valorizem a riqueza e profundidade dos recursos dispostos na Bíblia.
Neste sentido, o pastor Isaltino Gomes Coelho Filho, defende que qualquer
tentativa de curar uma pessoa que ignore a Bíblia, “será uma tentativa frustrada.
Não há rumo seguro para a vida fora dela. [...]. O cristão é servo de Cristo e é regido
pelas Escrituras em todas as áreas de sua vida”.281
Para Coelho Filho, a questão não é se a Psicologia é ruim ou não. O grande
cerne da questão, é que a última palavra sobre o homem, valores, e a vida, é de

278
BRISSOS-LINO, José. O Aconselhamento Pastoral perante a abordagem centrada na pessoa.
2008. Disponível em: <https://brissoslino.files.wordpress.com/2007/11/o-aconselhamento-pastoral-
perante-a-abordagem-centrada-na-pessoa-monografia.pdf>. Acesso em: 23 de janeiro de 2017.
279
SCHNEIDER-HARPPRECHT, 1998, p. 131.
280
BOOTZ, Erwin. Consultei a Deus, ele me colheu, e me livrou de todos os meus temores: o uso de
recursos espirituais no aconselhamento pastoral. Tese de Teologia, IEPG, São Leopoldo, 2003.
281
COELHO FILHO, Isaltino G. ACONSELHAMENTO PASTORAL OU ACONSELHAMENTO
PSICOLÓGICO? Isaltino, 16 nov. 2011. Disponível em:
<http://www.isaltino.com.br/2011/11/aconselhamento-pastoral-ou-aconselhamento-psicologico/>.
Acesso em: 23 de janeiro de 2017.
84

Deus e não da ciência. E no momento em que qualquer um dos princípios de


qualquer ciência, colida com a Bíblia, ela deve ser rejeitada, pois Coelho Filho
entende que “psicólogos não são Deus nem foram homens inspirados por Deus para
escrever a nova revelação. Este é o ponto” 282. Contudo, a Bíblia não é um manual
de aconselhamento. Esse aspecto necessita ser analisado com objetividade. Neste
sentido Coelho Filho (2011) alerta que:

Ela não é uma enciclopédia contendo tópicos de aconselhamento que


alistam o tratamento ou o remédio para os problemas das pessoas. Pinçar
versículos bíblicos como calmantes ou estimulantes pode ser uma prática
comum entre nós, mas não é a maneira correta de se usar a Bíblia. Mas
assim mesmo, ela é a Palavra de Deus, e se temos uma compreensão do
seu todo, podemos entender sua orientação para a vida do homem, tanto no
todo como nos particulares.283

A ressalva aqui é pela dicotomia empregada à vida cristã, relativizar a


autoridade e aplicabilidade da Bíblia não é correto, segundo Coelho Filho. A
incoerência manifesta-se ao dizer que a Bíblia é a verdade espiritual, mas não é a
verdade para a vida.284
A saber, a palavra psicologia vem do grego “psique”, que significa alma, e
“logos”, entende-se como tratado, estudo. Daí o entendimento de que a psicologia é
o estudo da alma285. O dicionário Aurélio da língua portuguesa, define como “ciência
dos fenômenos psíquicos e do comportamento” 286.
Percebe-se que o objetivo principal tanto do aconselhamento, como da
psicologia é o “bem-estar, o desenvolvimento e o cuidado do ser humano”. Apesar
de alguns fundamentalistas religiosos ainda resistirem as contribuições da
psicologia, o entendimento majoritário que prevalece é a conexão entre o
aconselhamento pastoral e os recursos científicos. Como bem citou Schneider-
Harpprechr287,” existe uma forte tendência de usar a psicologia para realizar um
aconselhamento mais efetivo”.
Muitos dos conceitos da Psicologia são válidos e podem ser utilizados com
segurança pelo conselheiro cristão. Do mesmo modo, muitas das técnicas de

282
Idem.
283
Idem.
284
Idem.
285
ROSA, 2011, p. 16.
286
FERREIRA, Aurélio. B. Novo dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1986, p. 1.412.
287
ROSA, 2011, p. 33.
85

aconselhamento psicológico podem ser aplicadas no aconselhamento bíblico e


pastoral, também com segurança. 288
Para que o aconselhamento pastoral proceda de forma coerente e, aliado a
psicologia, apresente resultados mais eficazes, o pastor Coelho Filho listou alguns
erros que devem ser evitados no uso da Psicologia. Conforme já mencionado, o
conselheiro pastoral deve ter plena convicção de que a autoridade maior é da Bíblia
e não da Psicologia. “Sem o conceito de pecado, a moralidade se esvai e a
santidade de Deus não tem nenhum sentido. Se não há pecado não há santidade.
Se não há santidade de Deus não há pecado”.289
A Bíblia deve ser utilizada de forma criteriosa, isso implica em estudar com
profundidade a Teologia. “Não basta citá-la a torto e a direito. Ela não é um amuleto
nem um talismã. Não é um livro mágico. Tampouco seus versículos podem ser
isolados do contexto, como se fossem analgésicos”.290
Outra ressalva importante, o conselheiro não deve atribuir todas as mazelas
a doenças. Tal atitude isenta o homem de qualquer responsabilidade pessoal e
social. Neste sentido Adams ensina que:

A ideia de que é doença a causa dos problemas pessoais vicia todas as


questões da responsabilidade humana. Este é o ponto crucial da questão.
As pessoas já não se consideram responsáveis pelos erros que cometem.
Dizem que seus problemas são alógenos (gerados doutrem) e não
autógenos (gerados em si mesmo). Em vez de assumirem responsabilidade
pessoal por sua conduta, culpam a sociedade.291

O indivíduo que se vê sob a ótica alógena dos problemas se exime da culpa


sempre, e geralmente é manipulado. O homem, na realidade, é livre para tomar
decisões e é moralmente e juridicamente responsável por elas. Enfim, o diálogo
interdisciplinar é de suma importância para o desenvolvimento de uma prática de
aconselhamento pastoral coerente com o contexto de vida social, econômico e
político.

3.6.1 Psicologia Pastoral

288
COELHO FILHO, 2011.
289
COELHO FILHO, 2011.
290
COELHO FILHO, 2011.
291
ADAMS, 1987, p. 24.
86

A psicologia pastoral na América Latina ainda é bastante desconhecida.


Denominada também como “psicoterapia do conselho, doutrina da cura d’alma”,
entre outras, tem se revelado indispensável no acompanhamento e cuidado do
cristão.292
Schneider-Harpprecht293 conceitua a psicologia pastoral do seguinte modo,
“A interpretação pastoral sob a perspectiva psicológica”. Para Hernández 294, “é a
ciência que, partindo da tradição da espiritualidade cristã, desenvolve com
conhecimentos contemporâneos a sabedoria da cura d’alma”. S. Hiltner 295 (apud
Hoch, 1985, p. 253), um dos grandes nomes da psicologia pastoral nos EUA, “atribui
à psicologia pastoral uma característica bipolar, na medida em que é ao mesmo
tempo de natureza psicológica e teológica e de cunho simultâneo prático e teórico”.
Por ser considerada uma ciência nova, a psicologia pastoral ainda é muito
questionada por algumas pessoas, principalmente líderes religiosos. Nessa situação
Ellens296 considera que “o fato de que tanto a teologia como a psicologia são
ciências com suas próprias estruturas é não raro mal compreendido, principalmente
por pastores”.
A igreja tem como premissa o evangelismo e a pregação do evangelho, e
prepara seus ministérios neste sentido. Contudo, a psicologia pastoral se
interpretada como um campo de conhecimento da igreja, foge do tradicional. Ulloa
(2008, p. 22) menciona que “na atualidade as igrejas são chamadas a redefinir-se,
não à luz da doutrina que preservam, mas à luz da práxis pastoral”.
Considerar as teorias científicas é promover o conhecimento e garantir a
eficácia ministerial. O intuito não é confrontar a ciência com a fé, ou com preceitos
bíblicos, apenas destacar a necessidade de uma ação conjunta entre a fé e a
ciência, para corroborar com crescimento do ser humano.
Um dos mais renomados psicólogos dessa área, Gary Collins (2005, p. 304),
assinala que:

Limitamos, no entanto, nossa eficácia no aconselhamento quando


assumimos que as descobertas da psicologia nada têm a contribuir para a

292
ROSA, 2011, p. 32.
293
SCHNEIDER-HARPPRECHT, 2005, p. 291.
294
HERNÁNDEZ, Carlos J. Psicologia pastoral e espiritualidade. São Leopoldo: Cetela, 2008, p. 122.
295
HOCH, Lothar C. Psicologia a Serviço da Libertação: Possibilidades e Limites da Psicologia na
Pastoral do Aconselhamento. São Leopoldo: Escola Superior de Teologia, 1985, p. 253.
296
ELLENS, J. Harold. Graça de Deus e saúde humana. Sao Leopoldo: Sinodal, 1982, p. 53.
87

compreensão e solução dos problemas. Comprometemos nossa integridade


quando rejeitamos abertamente a psicologia, mas a seguir introduzimos
clandestinamente os seus conceitos em nosso aconselhamento – algumas
vezes ingenuamente e sem sequer perceber o que estamos fazendo.

Em síntese, adotar a psicologia pastoral como uma vertente ministerial é


facultar a interação de um trabalho colaborativo para atender as necessidades
básicas do ser humano. Ulloa avalia a psicologia pastoral da seguinte forma:

A psicologia pastoral deve definir-se em termos dos ministérios da igreja e


da teologia prática. (Tem duas dimensões: prática e teórica). Enquanto
atividade prática é um campo aplicado no contexto da vida e do ministério
da igreja (sua dimensão é pastoral). Entendemos por pastoral a tarefa
multifacetada da comunidade de fé a luz do projeto de Deus para o mundo
em meio à nossa realidade social concreta [...]. Enquanto atividade teórica é
uma disciplina interdisciplinar que contribui para a antropologia teológica e
do fundamento teórico a estas disciplinas: cuidado e aconselhamento
pastoral, orientação e terapia de casal e família, a educação cristã, a
pregação, o culto. [...] a psicologia pastoral deve dar atenção prioritária a
formação, transformação e a potencialização da comunidade de fé [...]. A
psicologia pastoral deve orientar-se para a meta de promover o emergir
humano à luz de Jesus Cristo e do evangelho do Reino”.297

Considerando a busca acirrada pela qualidade de vida plena nos dias atuais,
é plausível encarar a psicologia pastoral como uma ferramenta para restaurar vidas
de forma global, pois, “para a psicologia pastoral, gerar restauração tem a ver com o
desenvolvimento da liberdade e com o processo de humanização”.
A psicologia pastoral e o aconselhamento pastoral devem relacionar-se de
forma harmoniosa, porque cada uma tem o seu valor reconhecido e os limites
preestabelecidos têm que ser respeitados. Hoch neste sentido ressalta que:

É necessário dizer que falar das possibilidades e dos limites da psicologia


significa falar igualmente das possibilidades e dos limites do
aconselhamento pastoral. Reconhecer os méritos de uma disciplina não
significar desprezar as qualidades da outra. Assim como não queremos
exaltar excessivamente a psicologia, também não pretendemos elevar o
aconselhamento pastoral como a fórmula última para fazer frente aos
problemas que afligem as pessoas.298

O uso dos conhecimentos da psicologia pastoral no atendimento do ser


humano, sobretudo o cristão, deve ser vista e respeitada como um trabalho em

297
ULLOA. Pat C. Por uma psicologia pastoral que acompanhe e desafie as igrejas na América
Latina. In: SANTOS, Hugo N. Dimensões do cuidado e aconselhamento pastoral. São Paulo: ASTE;
São Leopoldo: Cetela, 2008, p. 22.
298
HOCH, 1985, p. 22.
88

equipe, agregando conhecimentos na mesma direção. No entanto, faz-se uma


ressalva importante em relação aos extremos. Não se deve utilizar-se somente o
conhecimento da psicologia, sob pena de anular as concepções da Teologia e a
divindade. O contrário também é verdadeiro, devendo-se evitar usar a teologia para
explicar tudo, ou ainda, usar a Bíblia e Deus como justifica para todos os
problemas.299
Diante do exposto, a teologia pode enriquecer muito sua área do saber,
encontrando subsídios nas outras ciências, entretanto, a cultura fundamentalista
deve ser relevada. Em contrapartida, a psicologia enquanto ciência que estuda o
comportamento humano e os processos mentais deve considerar a contribuição que
a teologia oferece no âmbito religioso. 300
O ser humano não pode ser visto de forma fragmentada, mas como um ser
completo e contextualizado em sua realidade. A relação entre a teologia, psicologia,
psicologia pastoral e o aconselhamento pastoral, devem coexistir pacificamente e
harmoniosamente, tendo como premissa sempre atender as necessidades do ser
humano.301

3.7 O Aconselhamento Pastoral frente às Mulheres Vítimas de Violência

Como visto até então, o tema da violência contra a mulher viralizou, está nas
mídias quase que diariamente. É notado que os governos têm redobrado as políticas
públicas na defesa, prevenção e penalização, e o mundo moveu-se em favor dessa
luta. Toda essa exposição e mobilização também tem despertado a atenção de
líderes religiosos para essa temática.302
Estudos recentes revelaram que a violência contra mulheres cristãs, tem
caráter de “epidemia” e os números são assustadores. Essa “epidemia” entre os
cristãos, é preocupante por dois motivos. O primeiro está relacionado ao advento do
cristianismo. Esperava-se que esta adesão trouxesse uma mudança de

299
ROSA, 2011.
300
Ibidem, p. 38.
301
Idem.
302
GUIAME. Entre a igreja e a delegacia: mulheres vítimas da violência doméstica. 11 de Nov. de
2011. Disponível em: <http://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/entre-a-igreja-e-a-delegacia-
mulheres-vitimas-da-violencia-domestica.html>. Acesso em: 24 de janeiro de 2017.
89

comportamento entre os homens, considerando que deveriam seguir o exemplo de


Jesus Cristo.303
O segundo motivo consiste na dificuldade que a Igreja tem em abordar esse
problema, dada a grande relevância que o casamento tem para os cristãos. A
manutenção da instituição do casamento, infelizmente tem custado alto para as
mulheres, não somente para as evangélicas, mas de um modo geral. 304
O agravante no caso das mulheres cristãs vítimas de violência, é que o
agressor muitas vezes usa como subterfúgio a sua fé, a manipula, pede perdão, usa
o nome de Deus, e a pressiona a perdoá-lo, no entanto, o ciclo da violência não se
rompe geralmente, e a violência acaba se repetindo 305. Neste sentido, um artigo
publicado pela revista “Guiame” retrata bem essa realidade:

O que dizer a uma mulher evangélica que apanha do marido? Que ela deve
esperar no Senhor para que o homem seja liberto deste espírito ruim que o
torna violento? Que tem de se sujeitar, porque o que Deus une o homem
não separa? Que precisa se calar porque é submissa ao esposo? Não raro,
muitas mulheres ouviram e ainda ouvem tais conselhos dentro de suas
igrejas e, não por acaso, os líderes evangélicos são frequentemente
apontados por associações de apoio às mulheres vítimas de violência como
omissos e coniventes. Pior ainda, quando o agressor está dentro da igreja,
sob a fachada de um homem de Deus, e nada é dito ou feito.306

O maior dilema enfrentado pelos aconselhadores, reside em lutar pela


manutenção do casamento ou pela sua segurança da mulher. A questão da
violência contra a mulher esbarra em outro tema delicado para a igreja: o divórcio.
Isso explica o receio que alguns líderes religiosos têm de incentivar a denúncia e a
separação. De acordo com a Bíblia, o divórcio só é permitido em duas situações:
infidelidade e abandono. 307
A psicóloga evangélica Esly Carvalho, autora do livro Família em Crise:
Enfrentando problemas no lar cristão, não crê que “Deus tenha nos chamado, a viver
em violência, com risco de vida, simplesmente para evitarmos um divórcio. Afinal, o
divórcio não é o pecado sem perdão”.308

303
MOURA, Vinicius. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A MULHER: O QUE FAZER?Ser Cristão,
17 nov. 2011. Disponível em: Desafio de ser cristão: <http://www.sercristao.org/2011/11/17/violencia-
domestica-contra-mulher-o-que/>. Acesso em: 24 de janeiro de 2017.
304
Idem.
305
Idem.
306
GUIAME, 2011.
307
Idem.
308
Idem.
90

Já o pastor e teólogo Ariovaldo Ramos, vice-presidente do Instituto Mulher


Viva, que atua na conscientização e prevenção da violência contra a mulher,
argumenta que, “não pode haver nenhuma lei que seja maior do que a mensagem
da Cruz, de que todos somos remidos pelo sangue do Cristo e vivemos pela Graça”.
Ele conclui, dizendo que “não é a Lei Maria da Penha que deve despertar a
necessidade de apoiar a mulher vítima de violência, e sim a mensagem da Cruz”.
Portanto, dizer para uma mulher, “ore que o Espírito Santo vai mudar seu parceiro,
mas continue com ele, firme, até que isso ocorra”, não faz sentido, quando sua vida
está em perigo. É como se ela tivesse uma infecção grave e o médico receitasse
antibiótico, e mesmo tendo consciência do risco, não o tomasse. A mulher deve orar
continuamente pela mudança do seu cônjuge, mas não deve deixar de tomar o
antibiótico receitado, ou seja, ela pode orar por ele, mas não no mesmo ambiente.
309

O pastor Silmar Coelho310, de formação metodista, especialista nas áreas de


família e formação de líderes, defende como pregador do Evangelho que casos de
agressões contra as mulheres, não devem ser tratados como simples crises no
casamento. “Em vez de oração, apenas, a ordem é denunciar”. Ele prossegue
afirmando que “espancamento é caso de polícia e não de oração. Os líderes devem
ser mais ativos, se intrometer, no bom sentido, na vida do casal que tem problemas.
Dar conselhos, orar e não fazer nada não resolve”.
Faz-se uma ressalva aqui: toda e qualquer alegação de maus tratos deve
ser apurada com muita cautela. O conselheiro pastoral antes de tomar qualquer
postura diante do dito agressor, deve observar se a “vítima” não está incorrendo na
violência moral contra seu cônjuge. 311
Para a delegada evangélica Márcia Noeli Barreto, diretora da Divisão de
Polícia de Atendimento à Mulher no Estado do Rio de Janeiro e membro da Igreja
Batista de Itacuruçá, “entre ir à igreja em busca de uma orientação ou à delegacia,
para registrar o crime”, a lei é a melhor opção. 312
Todo cuidado é pouco, qualquer argumento ou orientação, feito de forma
errônea pode agravar e muito a situação, a violência doméstica é delicadamente

309
MOURA, 2011.
310
GUIAME, 2011.
311
GUIAME, 2011.
312
Idem.
91

perigosa. Outra ressalva importante está relacionada ao perdão, que em alguns


casos, como de um alcoolista, por exemplo, a orientação a perdoá-lo não é e nem
será suficiente. Essa exposição é desnecessária se não preceder de um
encaminhamento para uma instituição especializada que possa ajudá-lo na cura.313
E por fim, cumpre mencionar a questão da submissão. A Bíblia não trata
especificamente do assunto, mas dá margem para interpretações equivocadas ao
dizer que a mulher deve ser submissa ao marido (Efésios 5:22), entretanto, no
mesmo capítulo, os maridos são advertidos a amar suas esposas, como também
Cristo amou (Efésios 5:25). De igual modo, em 1 Pedro 3:7, Paulo ensina os maridos
a ter consideração pela mulher como parte mais frágil, tratando-a com dignidade314.
De acordo com a Bíblia, Collins menciona que:

Os cristãos devem ensinar tudo o que Cristo nos ordenou e ensinou. Isto
inclui certamente doutrinas a respeito de Deus, autoridade, salvação,
crescimento espiritual, oração, a igreja, o futuro, anjos, demônios e a
natureza humana. Todavia, Jesus também ensinou sobre o casamento,
interação entre pais e filhos, obediência, relação entre raças, e liberdade
tanto para homens como para mulheres. Ele ensinou igualmente sobre
assuntos pessoais como sexo, ansiedade, medo, solidão, dúvida, orgulho,
pecado e desânimo.315

Em outras palavras, Deus jamais concedeu ao homem o direito de cometer


arbitrariedades contra a mulher. Em contraponto, as mulheres jamais devem ser
orientadas a tolerar tudo em nome de Deus. Não há base bíblica, nem moral, nem
social que justifique isso316. Neste sentido Roldan alega que:

Falar de aconselhamento pastoral é referir-se a um ministério que vai muito


mais além de meras técnicas de entrevista ou de um receituário de coisas
que se deve realizar. Diz respeito a uma abordagem interdisciplinar na qual
está presente [sic] a Bíblia e a teologia.317

O pastor e delegado de polícia Aristóteles Sakai de Freitas, que atua em


Goiânia, endossa esta ideia:

313
MOURA, 2011.
314
GUIAME, 2011.
315
COLLINS, 2005, p. 13.
316
MOURA, 2011.
317
LYOTARD, Jean F. apud ROLDÁN, Alberto F. Pós-modernidade e pluralismo: desafios para a
igreja hoje. In: BARRO, A. C; KOHL, M. W. Ministério pastoral transformador. Londrina: Descoberta,
2006, p. 17.
92

A lei Maria da Penha não veio para separar os casais, antes seu propósito é
dar à mulher agredida o direito a uma vida a dois, cercada de respeito,
carinho, cuidado, fidelidade e amor. Nisto a lei reforça um desejo que surgiu
no Éden, de que ambos fossem uma só carne. Homens e mulheres,
principalmente os evangélicos devem posicionar-se contra a invasão da
violência nos lares.318

Objetivamente, o conselheiro pastoral deve sempre priorizar a segurança da


mulher e não utilizar ou permitir que textos bíblicos sejam distorcidos para justificar a
violência. Neste caso, é indispensável que a igreja ofereça treinamentos aos líderes.
Uma observação importante, é que algumas mulheres vão procurar outras mulheres
(ministras, pastoras, líderes) para ajudá-las, principalmente, se a violência for de
cunho sexual. Nestes casos, o treinamento deve se estender a qualquer um que se
identifique com a função de conselheiro, não apenas pastores. 319
Neste sentido, a igreja como um todo deve estar preparada para acolher não
somente a mulher, mas os seus filhos e o próprio agressor. A segurança da
integridade da mulher deve ser prioridade em qualquer aconselhamento. Em
hipótese alguma a vítima deve ser criticada. A dificuldade que uma mulher passa
para superar um abuso, especialmente se ela tem filhos e não tem independência
financeira, é consideravelmente grande.320
O aconselhamento pastoral pode e deve ser um instrumento utilizado para
coibir a violência, desde que utilize-se um dos métodos supracitados e respeite os
argumentos que não devem ser mencionados. Quando o aconselhamento pastoral
observa tais coisas, contribui para a cura, crescimento e renovação dos envolvidos,
tendo como base, ciências sólidas como a teologia e a psicologia.

3.8 Dimensões Sociais, Políticas, Econômicas e Culturais do Aconselhamento


Pastoral

Sempre que acontece um aconselhamento pastoral, ele se efetiva em


determinado tempo e lugar. Do mesmo modo, as pessoas envolvidas no
aconselhamento, vivem em determinado lugar e época, convivem com pessoas,
valores e sentimentos diferentes. Tanto quem oferece, como quem busca orientação

318
MOURA, 2011.
319
Idem.
320
Idem.
93

vive em determinado contexto, ao mesmo tempo em que elas criam novo contexto,
elas sofrem influências e são moldadas também321. No entendimento de Hoch,

O atual contexto sócio-político-econômico e cultural apresenta muitas


dificuldades e problemas, como por exemplo, o desemprego, a destruição
da natureza, a poluição, guerras, má destruição de renda, isolamento e
estresse. Esses problemas são fatores que provocam doenças físicas,
emocionais e espirituais. 322

Diante desse paradigma, compete ao conselheiro pastoral adotar uma


postura crítica que vá ao encontro com o cenário atual, emergido em padrões que
provocam doenças e sofrimentos. O aconselhamento pastoral deve manter uma
postura rígida em relação às convenções sociais e religiosas sempre. Para Hoch, o
aconselhamento pastoral deve produzir liberdade. 323
O ajudador ao conduzir o ajudado a encontrar e viver o seu próprio eu, deve
atentar-se para as necessidades da segurança material que constituem a vida
humana em sociedade. O ajudador deve estar familiarizado com questões relativas
às forças políticas, sociais e também religiosas que movem a sociedade, bem como,
a igreja que acolheu o indivíduo no processo de recuperação.324
Como visto, todos sofrem influência do contexto no qual estão inseridos.
Diante dessa realidade, torna-se indispensável que o aconselhando conheça a si
mesmo, compreenda seu jeito de ser, agir e ver o mundo. Neste sentindo Hoch faz
uma ressalva,

O simples fato de um aconselhante ser um ministro ou religioso contribuirá


ou atrapalhar no processo de busca por aconselhamento, abrir ou bloquear
um diálogo. Também questões de gênero, raça, cor de pele, estado civil,
idade, posição econômica e social pode influenciar na relação de ajuda. 325

É natural do ser humano projetar uma imagem de cada pessoa com quem
convive. Essa projeção pode ser composta de simpatia, confiança, competência,
acolhimento, acessibilidade, etc. Um fator determinante que leva as pessoas a falar

321
NASCIMENTO, 2012.
322
HOCH, 1985.
323
Idem.
324
NASCIMENTO, 2012.
325
HOCH, 1985.
94

com alguém sobre suas dificuldades, são as qualidades que imaginam encontrar
naquela pessoa e que consideram essenciais para relacionar-se intimamente.326
A relação com o mundo exterior causa mudanças no mundo interior de cada
indivíduo, desde o seu nascimento. Sua personalidade é moldada a partir dos
relacionamentos, ambientes e estruturas com as quais convive. Assim como
Feldmann327 afirma que, “ninguém sai ileso de um encontro com outra pessoa”, pode
se dizer que ninguém sai intacto de um encontro com um grupo, uma igreja, um
trabalho, um governo, uma cidade ou lugar do interior. Por esse motivo, a importante
tarefa de identificar “o lugar a partir do qual o seu interlocutor fala” cabe ao
aconselhador. Para tal, é imprescindível que o conselheiro tenha empatia, tente
acompanhar o seu interlocutor na descoberta do seu mundo interior, paralelamente,
este se sentirá compreendido e passará a compreender melhor a si mesmo.
Resultando, no sucesso do aconselhamento pastoral.328
Além das diferentes relações sociais, tem-se as condições econômicas,
educacionais e culturais, bem como, as estruturas políticas, fatores determinantes
da vida de quem busca ajuda. A partir da constatação desses determinantes é
necessário que o aconselhamento pastoral se conecte a uma comunidade “como
uma rede de apoio dos membros”, como propõe Schneider-Harpprecht329
Além do aconselhamento individual, é de responsabilidade do conselheiro
promover a integração social e comunitária, e também ações junto às pessoas
responsáveis, com intuito de eliminar ou atenuar as causas dos problemas de que
se busca ajuda.330
Quanto a questões relacionadas à cultura, Hoch 331 constata que “no
contexto da América Latina o aconselhamento pastoral precisa se conscientizar da
diversidade cultural e religiosa de quem oferece e procura ajuda”. A pluralidade de
diferentes sistemas de educação, valores, credos, posturas e linguagens corporais,
dificulta a comunicação.
Diante disso, é necessário que o conselheiro desenvolva uma “sensibilidade
cultural” e que assuma uma postura de interpatia, ou seja, ir além de empatia,

326
NASCIMENTO, 2012.
327
FELDMANN, Clara; MIRANDA, Mario L. Construindo a Relação de Ajuda. Belo Horizonte: Crescer,
2002, p. 102.
328
NASCIMENTO, 2012.
329
SCHNEIDER-HARPPRECHT, 1998.
330
NASCIMENTO, 2012.
331
HOCH, 1985.
95

internalizar os pressupostos básicos do aconselhando e sentir com ele, a partir dos


mesmos332. A sensibilidade cultural é descrita por Schneider-Harprecht em três
aspectos:

Identificar a própria cultura, ou seja, aprofundar e conhecer a cultura do


aconselhante e perceber quais os preconceitos que este/a tem em relação a
outras culturas; Conhecer a cultura do/a outro; e, desenvolver a capacidade
técnica de intervenção do aconselhante após o conhecimento da sua e da
cultura do outro.333

O conselheiro que não atende essas perspectivas sociais, políticas,


econômicas e culturais, invalida o objetivo do aconselhamento, torna-se um
aconselhador fechado e opressor. Sobretudo, renovando o ciclo vicioso da violência
contra a mulher.

332
NASCIMENTO, 2012.
333
SCHNEIDER-HARPPRECHT, 1998
96

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao considerar a amplitude e complexidade que envolve a questão da violência


contra a mulher, não caberia nesse momento, fazer-se uma análise final definitiva.
Contudo, foi possível a partir deste estudo destacar alguns pontos relevantes.
Ao pesquisar sobre a historicidade da violência, percebeu-se que a
desigualdade, principalmente de gênero, sempre existiu. A mulher não era
reconhecida como uma pessoa detentora de direitos, sua participação civil, política e
econômica era aniquilada pela condição de inferioridade que lhe era imposta. A
sociedade estruturou-se e organizou-se através da relação de domínio do homem
sobre a mulher. Ante o exposto, é nítida a urgência do processo de desarticulação
desses pilares que sustentaram a sociedade até então, e a definição de novos
papeis pautados no respeito e reconhecimento dos direitos das mulheres.
O presente trabalho versou sobre as formas de violência existentes, suas
características e consequências e concluiu que a violência doméstica é a mais
preocupante. Tal forma de violência deixou de ser um problema pessoal ou privado,
que eventualmente envolvia o poder público, e tornou-se um problema social,
portanto, de responsabilidade de todos.
A conscientização coletiva deve acontecer inicialmente no ambiente familiar,
a desconstrução do sistema patriarcal depende exclusivamente do que é ensinado
nos lares. Enaltecer a igualdade entre homem e mulher e coibir a discriminação é o
método mais rápido e eficaz no combate a violência contra a mulher.
As mulheres são a bússola dos futuros homens da sociedade e tem em suas
mãos a oportunidade de acabar com os estereótipos machistas embutidos nas
mentes masculinas. Educar os filhos a dividir as tarefas domésticas, respeitar os
diferentes e desiguais é de suma importância para construção de um novo
paradigma, bem como, conquistar a igualdade de direitos e, por conseguinte,
assegurar preservação da sua vida.
Neste sentido, observou-se que a denúncia do agressor é primordial para
atuação efetiva do Estado. A violência quando não é denunciada, protege o agressor
e não a vítima. O silêncio é um inimigo altamente perigoso que fomenta o círculo
vicioso da violência, permite sua repetição e disseminação no ambiente familiar e
social. A violência quando aceita ou ignorada repetidamente, torna-se uma prática
comum, que se manifesta nas relações externas, tanto da vítima quanto do
97

agressor. Não se pode menosprezar a gravidade da violência doméstica; esta


precisa ser contida e punida com rigor pela lei.
A visibilidade que a problemática em questão ganhou exigiu do governo a
implementação de políticas públicas de proteção e segurança que acolham a mulher
vítima e auxiliem-na a superar e romper a violência. De forma gradativa, o Estado
brasileiro mobilizou-se em prol da efetivação das políticas públicas.
O objetivo das políticas públicas não deve ser apenas o de proteger e
assegurar os direitos das vítimas, mas igualmente, contribuir para que os motivos
que sustentam a violência sejam eliminados, através da criação de condições que
favoreçam, por exemplo, a independência financeira, elevação da autoestima,
autonomia pessoal, entre outros. Neste quesito verificou-se a construção de casas
de apoio que abrigam as mulheres em condições emergenciais, instituições que
oferecem apoio psicossocial, delegacias especializadas no atendimento e orientação
das mulheres, e mais outras entidades.
Um avanço considerável criado pelo governo foi a promulgação da Lei Maria
da Penha, que é considerada um instrumento vital, um remédio constitucional de
grande valia para o enfrentamento e erradicação da violência. Indiscutivelmente, a
intervenção estatal nas relações privadas é determinante, para o combate da
violência no ambiente familiar e doméstico.
Outrossim, destaca-se a importância da constante capacitação dos
profissionais que atendem às mulheres em situações de violência, a qualidade do
atendimento influência diretamente no resultado, pois, quando são bem acolhidas,
sentem-se seguras e motivadas para denunciar.
Além da dor física, a violência doméstica atinge a psique da mulher, que
transcende qualquer lesão corporal sofrida. O impacto dessa realidade se reflete na
percepção da mulher sobre si mesma e da sociedade. Sentimento de insegurança,
impotência e ansiedade contribuem para alienação e isolamento da vítima.
Em contrapartida, encontra-se o agressor, que também necessita de
acompanhamento, ou seja, de programas que possibilitem sua ressocialização e
reintegração na sociedade e na família. Neste sentido, os serviços disponibilizados
pelo poder público são escassos. É indiscutível a necessidade de desenvolver
mecanismos que permitam ao agressor tratar suas dificuldades, seus medos,
confrontar seus conceitos e preconceitos.
98

A atenção do governo e da sociedade deve voltar-se com urgência para esta


realidade. Além de oferecer um acompanhamento de cunho social, o Estado deve
oferecer um acompanhamento de cunho psicológico, pois de nada adianta acolher a
vítima sem tratar quem causou a violência.
O escopo do presente trabalho residiu em apontar os métodos utilizados no
aconselhamento pastoral nos casos de violência contra as mulheres, bem como sua
efetivação. Para tanto, foi necessário fazer uma abordagem histórica da contribuição
da religião na construção da sociedade.
Observou-se que a religião foi uma das grandes responsáveis pela
submissão das mulheres. Na antiguidade, a igreja por longos anos ditou as regras
sociais. Neste período, a Bíblia era tida como lei. Obviamente a interpretação da
escritura sagrada era feita de acordo com o pensamento machista de sua época. O
uso de passagens isoladas da Bíblia era recorrente para subjugar a mulher. Os
desdobramentos históricos fragilizaram o domínio da igreja, entretanto, não foi
suficiente para neutralizar os efeitos dela sobre a sociedade.
Assim como a sociedade foi se reinventando, a igreja também. Neste
sentido, a igreja passou a ser considerada como parte da sociedade, com deveres e
obrigações não somente com seus adeptos. Essa nova concepção atribuiu à igreja a
responsabilidade de se engajar nas políticas públicas e sociais. Entretanto, esse fato
tem sido motivo de grandes debates entre a fé e a ciência.
No caso específico de violência contra as mulheres, há líderes religiosos que
entendem que a igreja deve orientar a mulher vítima a suportar seu marido agressor,
pois nada acontece sem a permissão de Deus. Em contraponto, outros defendem
que a igreja deve recorrer a outras áreas do saber. Partindo dessa premissa, o
aconselhamento pastoral vem se destacando, tanto pelo seu papel quanto pelas
discussões que o envolvem.
Para compreender melhor o que seria o aconselhamento pastoral fez-se
uma pesquisa bibliográfica, a procura de conteúdos que pudessem elucidar
questionamentos relativos ao tema, todavia, isso se tornou um grande desafio. A
escassez de materiais é um indicador que este tema merece mais atenção por parte
dos psicólogos, teólogos e pastores, e produções científicas devem ser
desenvolvidas para que possam subsidiar o tema com aprofundamento.
Com base nas bibliografias encontradas, averiguou-se a existência de
basicamente três modelos/métodos predominantes (Modelo Fundamentalista,
99

Evangelical e Holístico de Libertação e Crescimento) de aconselhamento pastoral. O


primeiro consiste, no uso exclusivo da Bíblia no aconselhamento pastoral. Tudo o
que acontece é justificado pela Bíblia, a violência aqui, é considerada parte da
natureza pecaminosa do homem. Neste caso, o homem será punido por Deus. Este
modelo condena radicalmente o uso da ciência, entretanto, ele não é predominante.
Geralmente os fiéis mais radicais e extremistas, que hoje somam a minoria,
defendem essa metodologia.
O segundo modelo, procura estabelecer uma relação harmoniosa entre a
ciência e a religião. Sugere que além da Bíblia, outros métodos, como da psicologia
por exemplo, devem ser utilizados durante o aconselhamento pastoral. Aqui nem a
fé, nem a razão se sobrepõem, todavia, coexistem no mesmo patamar. Este método
é o mais utilizado pelos líderes religiosos. A busca pelo conhecimento secular sobre
a natureza humana para explicar assim seus comportamentos, tem sido grande.
Todavia, os ensinamentos bíblicos não ficam em segundo plano. Neste modelo, a
função de aconselhador contempla a todos que tenham vocação ou interesse em
aperfeiçoar-se no assunto.
Por fim, tem-se o terceiro modelo. Neste, o aconselhamento pastoral é visto
como uma ciência, que demanda conhecimentos específicos da área da psicologia e
psiquiatria. A fé não é o único fator determinante. Existe um padrão a ser seguido, o
aconselhador deve empenhar-se em aprimorar seus conhecimentos
constantemente. Esse método apesar de pouco utilizado, é o mais indicado. A
compreensão de que o aconselhamento não se limita ao sentido restrito da palavra é
fundamental para entender a profundidade e amplitude que a aplicabilidade desse
método pode alcançar.
O grande desafio do conselheiro é criar um panorama histórico, cultural e
social do aconselhando que explique a violência sofrida e causada. Para que isso
ocorra com menor risco, e necessário ter conhecimento de outras ciências como por
exemplo, a psicologia e a psiquiatria. Não deve o conselheiro abster-se apenas nos
ensinamentos da bíblia, ou ainda, basear-se apenas na fé.
A igreja tem se mobilizado, ainda que vagarosamente, em busca do modelo
ideal. Faz-se necessário que as lideranças religiosas se unam primeiramente para
conscientização dos seus fiéis, e consequentemente para discutir novos métodos,
novas abordagens de enfrentamento. Importante mencionar que é de competência
da igreja, sobretudo, apurar os casos de violência que ocorrem dentro da própria
100

igreja. Em hipótese alguma, o aconselhador deve “acobertar” casos de agressões


contra as mulheres.
O intuito do estudo não é exaurir o assunto, adverte-se que as pesquisas
realizadas sobre esta temática saiam do campo universitário, não fiquem restrita aos
seminários e congressos acadêmicos. Ademais, conclui-se que faltam muitos
subsídios, informações e espaços para que esse debate corra livremente pelas ruas,
escolas, mídia, empresas, poder público, sindicatos, partidos políticos e instituições
religiosas. Faltam, também, por parte de alguns setores decisivos, interesse e
confiança de que a transformação é possível. Trata-se de uma questão política:
sensibilizar cada indivíduo para que atue na construção das tão propaladas
igualdades, justiça social, cidadania, democracia, autonomia, etc.
Espera-se que o presente trabalho tenha proporcionado uma reflexão
profunda acerca desse fenômeno assustador e desperte o interesse por novos
estudos na área de aconselhamento pastoral, com o qual se pretende vislumbrar
novas possibilidades de estudos, provocando assim, outras discussões e
colaborações.
101

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104

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