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PREFÁCIO
1-Responsabilização que:
c-Transforme a vergonha.
Comunidade
PRINCÍPIOS RESTAURATIVOS
A JR parte de uma concepção muito antiga de delito, baseada no senso
comum. Mesmo que ela seja expressa de modo distinto em culturas
diferentes, esta abordagem provavelmente é comum a todas as
sociedades tradicionais. Para a maioria de nós, com raízes europeias
constitui o modo como muitos de nossos ancestrais (mesmo pais)
compreendiam o comportamento socialmente nocivo:
a-O crime é uma violação de pessoas e relacionamentos interpessoais.
b-As violações acarretam obrigações.
c-A principal obrigação é corrigir o mal praticado.
Na vida social estamos todos interligados formando uma teia de
relacionamentos. Dentro dessa cosmovisão, o crime representa uma chaga
na comunidade, um rompimento da teia de relacionamentos. Significa que
vínculos foram desfeitos. E tais situações são tanto a causa como o efeito
do crime. Um mal como crime provoca ondas de repercussão e acaba por
perturbar a teia como um todo. Além dos mais, o comportamento
socialmente nocivo é via de regras, sintoma de que algo está fora de
equilíbrio nessa vida.
Relações implicam em obrigações e responsabilidades mútuas. Assim, não
é surpresa que essa visão do comportamento socialmente nocivo enfatize
a importância de corrigir, consertar, endireitar as coisas.
Como fica esta visão do crime se comparada àquela do sistema jurídico?
DUAS VISÕES DIFERENTES (ver quadro da página 33-cópia e não legível)
Tratar as causas
Além dos danos também é preciso abordar as causas do crime. A maior
parte das vítimas deseja exatamente isso. Elas procuram saber que
medidas estão sendo tomadas para reduzir o perigo para si e para os
outros.
Na Nova Zelândia, onde a JR é a norma, espera-se que os participantes
desenvolvam um plano consensual que todos apoiarão e que contenha
elementos de reparação e prevenção. O plano precisa dar contas das
necessidades das vítimas e das obrigações do ofensor em relação ao
atendimento dessas necessidades. Mas o plano deve também contemplar
medidas necessárias para modificar o comportamento do ofensor.
O ofensor tem o ônus de tratar as causas de seu comportamento, mas em
geral não é capaz de fazê-lo sem ajuda. Não raro outros, além, do ofensor,
são também responsáveis: as famílias, a comunidade ampliada e a
sociedade como um todo.
O ofensor como vítima
No processo é preciso examinar os danos que o próprio ofensor sofreu.
Pesquisas mostram que muitos ofensores foram, eles mesmos, vítimas de
traumas significativos. Muitos deles se percebem como vítimas. Os males
sofridos ou percebidos podem ter contribuído de modo importante para
dar origem ao crime. Conforme o psiquiatra Dr. James Gilligan, professor
do Harvard e pesquisador do sistema prisional, sustenta que toda
violência é um esforço para conseguir justiça ou desfazer uma injustiça.
Em outras palavras, muitos crimes podem surgir como resposta a uma
sensação de vitimização e esforço para reverter essa situação. Com isso,
via de regra a punição reforça o sentido de vitimização já existente.
Ocasionalmente os ofensores ficam satisfeitos quando sua percepção de
serem vítimas é reconhecido. Outras vezes sua percepção precisa ser
questionada. Em certas ocasiões o dano perpetrado deve ser reparado
antes que se possa esperar do ofensor uma mudança de comportamento.
Estamos diante de um assunto controvertido e é fácil entender porque isto
constitui algo especialmente difícil para muitas vítimas. Com frequência
esses argumentos racionais soam como desculpas. Além do mais, por que
algumas pessoas vitimizadas se voltam para o crime e outras não? Estou
convencido de que qualquer tentativa de mitigar as causas do crime
exigirá de nós uma análise da vivência de vitimização dos ofensores.
UMA LENTE RESTAURATIVA
A JR oferece uma estrutura alternativa para pensar o crime e a justiça.
Princípios
A lente ou filosofia restaurativa traz cinco princípios ou ações-chave:
1-Focar os danos e consequentes necessidades da vítima e também da
comunidade e do ofensor.
2-Tratar das obrigações que resultam daqueles danos (as obrigações dos
ofensores, bem como da comunidade e da sociedade).
3-Utilizar processos inclusivos, cooperativos.
4-Envolver a todos que tenham legítimo interesse na situação, incluindo
vítimas, ofensores, membros da comunidade e da sociedade.
5-Corrigir os males.
(conforme círculo na página 45 e “flor” na página 46-cópia ilegível).
Valores
Os princípios da JR são úteis apenas se estiverem enraizados em certos
valores subjacentes.
Para que funcionem adequadamente, os princípios da JR devem ser
cercados por um cinturão de valores.
Para que floresçam, os princípios que constituem a flor da JR devem estar
enraizados em certos valores.
Subjacente à JR está a visão de interconexão. Estamos todos ligados uns
aos outros e ao mundo em geral através de uma teia de relacionamentos.
Quando essa teia se rompe, todos são afetados.
O autor elege o respeito como valor básico e de suprema importância. O
respeito nos remete à nossa interconexão, mas também a nossas
diferenças. O respeito exige que tenhamos uma preocupação equilibrada
com todas as partes envolvidas. Se praticarmos a justiça como forma de
respeito estaremos sempre fazendo a JR.
DEFININDO JUSTIÇA RESTAURATIVA
JR é um processo para envolver, tanto quanto possível, todos àqueles
que têm interesse em determinada ofensa, num processo que
coletivamente identifica e trata os danos, necessidades e obrigações
decorrentes da ofensa, a fim de promover o restabelecimento das
pessoas e endireitar as coisas, na medida do possível.
ANEXO 1
PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA JUSTIÇA RESTAURATIVA
Howard Zehr e Harry Mika
1-O Crime é fundamentalmente uma violação de pessoas e de
relacionamentos interpessoais.
1.1. As vítimas e a comunidade foram lesadas e precisam ser
recompostas.
1.1.1. As vítimas primárias são aquelas afetadas mais diretamente pela
ofensa, mas outros familiares das vítimas e dos ofensores, testemunhas e
membros da comunidade atingidos, são vítimas também.
1.1.2. Os relacionamentos afetados (e refletidos) pelo crime precisam ser
tratados.
1.1.3 A restauração é um continuum de reações a gama de necessidades e
danos vivenciados por vítimas, ofensores e pela comunidade.
1.2. Vítimas, ofensores e as comunidades afetadas são basicamente os
detentores de interesse na justiça.
1.2.1. O processo de JR enfatiza a contribuição e a participação dessas
partes – mas especialmente das vítimas primárias e dos ofensores – em
busca de restauração, superação, responsabilização e prevenção.
1.2.2. Os papéis dessas partes variarão segundo a natureza da ofensa, bem
como as capacidades e preferências das partes.
1.2.3. O Estado tem papel delimitado, como o de investigar os fatos,
facilitar os processos e garantir a segurança, mas o Estado não é uma
vítima primária.
2. A violação cria obrigações e ônus
2.1. A obrigação dos ofensores é corrigir as coisas tanto quanto possível.
2.1.1. Uma vez a obrigação primária é para com as vítimas, um processo
de JR empodera as vítimas para que de fato participem da definição de
obrigações.
2.1.2. Os ofensores recebem oportunidade e estímulo para compreender
o mal que causaram às vítimas e à comunidade, e desenvolver um plano
para cumprir suas obrigações de modo adequado.
2.1.3. Estimula-se a participação voluntária dos ofensores, enquanto se
minimiza a coerção e a exclusão. Contudo, caso não o façam
voluntariamente, poderá se exigir dos ofensores que assumam suas
obrigações.
2.1.4. As obrigações que advém do dano infligido devem guardar uma
relação com o empenho em corrigir a situação.
2.1.5. As obrigações podem ser vivenciadas como difíceis, e mesmo
dolorosas, mas não são impostas com o objetivo de punição, vingança ou
retaliação.
2.1.6. As obrigações em relação às vítimas, como a restituição de bens ou
a promoção de seu restabelecimento, são prioritárias em relação a outras
sanções ou obrigações diante do Estado, como as multas.
2.1.7. Os ofensores têm a obrigação de participar ativamente do esforço
para atender às suas próprias necessidades.
2.2. As comunidades têm obrigações diante das vítimas e dos ofensores e
também em relação ao bem-estar de seus membros em geral.
2.2.1. A comunidade tem obrigação de dar apoio e prestar ajuda às vítimas
de crimes a fim de que sejam atendidas as suas necessidades.
2.2.2. A comunidade é responsável pelo bem-estar de seus membros e
pelas condições e relacionamentos sociais que levam ao crime ou à paz na
comunidade.
2.2.3. A comunidade tem a responsabilidade de apoiar os esforços para
reintegrar ofensores à comunidade, de envolver-se ativamente na
definição das obrigações do ofensor e de garantir que o ofensor tenha a
oportunidade de corrigir o seu erro.
3. A JR busca restabelecer pessoas e corrigir os males.
3.1. As necessidades das vítimas de informação, validação, vindicação,
restituição de bens, testemunho, segurança e apoio são os pontos de
partida da justiça.
3.1.1. A segurança das vítimas é prioridade imediata.
3.1.2. O processo de fazer justiça fornece a estrutura para que se
desenvolva o trabalho de recuperação e restabelecimento, que em última
instância é domínio da vítima individual.
3.1.3. As vítimas são empoderadas através da valorização de sua
contribuição e participação na definição de necessidades e resultados ou
decisões.
3.1.4. Os ofensores estão envolvidos na reparação do mal tanto quanto o
possível.
3.2. O processo de fazer justiça amplia oportunidades para a troca de
informações, participação, diálogo e consentimento mútuo entre a vítima
e o ofensor.
3.2.1. Encontros presenciais são apropriados em alguns casos, enquanto
formas alternativas de troca são mais apropriadas em outros.
3.2.2. As vítimas desempenham papel principal na definição e direção dos
termos e condições do encontro.
3.2.3. O consentimento mútuo tem precedência sobre as decisões
impostas.
3.2.4. Há oportunidades para remorso, perdão e reconciliação.
3.3. As necessidades e aptidões dos ofensores são levadas em conta.
3.3.1. Reconhecendo que os próprios ofensores sofreram um dano, o
restabelecimento e integração dos ofensores à comunidade são
enfatizadas.
3.3.2. Os ofensores recebem apoio e tratamento respeitoso ao longo do
processo.
3.3.3. A perda de liberdade e o confinamento forçado dos ofensores se
limitam ao mínimo necessário.
3.3.4. A justiça valoriza mudanças pessoas mais do que comportamento
obediente.
3.4. O processo de fazer justiça pertence à comunidade.
3.4.1. Os membros da comunidade participam ativamente do processo de
fazer justiça.
3.4.2. O processo se enriquece com os recursos comunitários e, por sua
vez, contribui para a construção e fortalecimento dessa mesma
comunidade.
3.4.3. O processo procura promover mudanças na comunidade, tanto para
evitar que males semelhantes atinjam outras pessoas, como para
fomentar a intervenção imediata a fim de atender as necessidades das
vítimas e promover a responsabilização dos ofensores.
3.5. A justiça está consciente dos resultados intencionais e não
intencionais de suas respostas ao crime e à vitimização.
3.5.1. A justiça monitora e incentiva o acompanhamento dos acordos
resultantes do processo já que restabelecimento, recuperação,
responsabilização e mudança se amplificam quando tais acordos são
cumpridos.
3.5.2. A justiça é assegurada não pela uniformidade das decisões, mas por
disponibilizar apoio e oportunidades a todas as partes, evitando-se a
discriminação baseada em etnia, classe e sexo.
3.5.3. Decisões que são predominantemente coercitivas ou privativas de
liberdade deveriam ser adotadas como último recurso, utilizando-se
possível as intervenções restritivas e, ao mesmo tempo, buscando a
restauração das partes envolvidas.
3.5.4. Consequências imprevistas e não intencionais, como a cooptação de
processos restaurativos para fins coercitivos ou punitivos, orientação
indevida a ofensores ou a expansão do controle social, devem ser
rechaçadas.