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AO JUÍZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE DO ESTADO DO AMAZONAS

FULANO, brasileiro, solteiro, médico, inscrita no CPF nº e RG nº SESP/AM, residente


e domiciliado na rua..., vem a presença de Vossa Excelência, por meio do seu Advogado, infra-
assinado, ajuizar:

AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MATERIAIS E MORAIS por


cancelamento de voo.

Em face de AZUL LINHAS AÉREAS, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no


CNPJ sob nº 09.296.295/0001-60, empresa cadastrada em citação eletrônica, pelos fatos e
fundamentos que passa a expor:

DA ADESÃO AO JUÍZO 100% DIGITAL

Importante ressaltar que com a adoção do juízo digital houve aumento da celeridade e da
eficiência da prestação jurisdicional, desta forma a parte autora manifesta interesse pela adesão
ao JUÍZO 100% digital de acordo com a forma adotada pela Resolução do CNJ. Para tanto
apresenta contatos para intimações e publicações:

DOS FATOS

O Autor, profissional da área de saúde, havia agendado viagem com a companhia aérea
Azul Linhas Aéreas, ora Ré, para o trajeto Manaus-Tefé/AM, com saída programada para o dia
06 de 06/03/2023 às 09:55h no voo 4183.
O Autor é médico e viaja para Manaus periodicamente para fazer plantões médicos e
acompanhamentos de pessoas pela prefeitura municipal de Tefé.
A Autora trabalha no hospital regional de Tefé como médico em regime de plantão, que
são pré-estabelecidos.
O seu retorno para Tefé, estava programado para o dia 06/03, pois teria plantão noturno
no mesmo dia.
Ocorre que ao chegarem no aeroporto Internacional de Manaus-AM a fim de retornar
para Tefé-AM onde ele prestaria plantão, se deparou com seu voo 4183, com saída às 07:40h do
dia 06/03/2023 CANCELADO pela companhia aérea, sem qualquer justificativa ou mesmo
antecedência.
A Autora soube do cancelamento do voo somente na hora do embarque, causando
diversos transtornos, haja vista que precisava está em Tefé-AM por conta de seu plantão que
estava agendado.
No dia 06/03 o Autor se dirigiu ao Aeroporto e até o horário próximo do voo, ainda
estava disponível a realização do check-in, o que fez com que o Autor acreditasse está
confirmado o voo, conforme tela abaixo:

Horário no telão
Horário da consulta
sobre o
para check-in no dia
cancelamento.
06/03/23

Pode-se verificar que não houve qualquer informação para o Autor, que descobriu seu
voo cancelado somente na hora do embarque.
Podemos verificar ainda que outros voos de horários próximos estavam normais, e que,
portanto, não havia problema com tempo.
O Autor teve que se socorrer com amigos do trabalho para cobrir o seu plantão e ainda,
passar pelo constrangimento de ter que falhar com seu compromisso por conta de uma má
prestação do serviço.
Ato contínuo, o Autor buscou soluções com a empresa Ré, que alegou que não teria
voos disponíveis no mesmo dia, podendo realocá-los para da data de 07/03/2023, ou seja,
somente um dia depois, ou seja mais de 24 horas.
No entanto, apesar de a empresa Ré ter reagendado a viagem para 24 horas depois, não
prestou nenhum auxílio alimentação, transporte ou mesmo hospedagem para o Autor, que
teve que arcar com todos os custos.
A passagem ficou reagendada para a data de 07/03/2023, ou seja, mais um dia de
espera por uma viagem que haviam se organizado antecipadamente, sem qualquer suporte
em alimentação, transporte e hotel pela empresa Ré.
Ora, sem qualquer razão ou culpa do Autor, a viagem que estava comprada para o dia
06/03/2023 ficou somente para o dia 07/03/2023, data em que conseguiu viajar para Tefé-AM,
após diversos danos causados pela companhia aérea.

DO DIREITO.
DO CANCELAMENTO DO VOO. FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO AO CONSUMIDOR.
RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA COMPANHIA AÉREA. DANO MORAL.

Conforme relatado, a Autora teve seu voo cancelado sem qualquer justificativa e
antecedência, haja vista que estava previsto viajar no dia 06/03/2023 – VOO CANCELADO, sendo
remarcado para o dia 07/03/2023.
O código do Consumidor em seu art. 141 disciplina a responsabilidade por danos
causados aos consumidores em razão da prestação de serviços, ainda, faz exata correspondência
ao art. 122 do mesmo diploma legal.
Trata-se de dano inequívoco causado pela empresa Ré, gerando o dever de indenizar.
Afinal, todo planejamento dos Autores foi rompido por uma falta de cautela da Ré, gerando o
dever de ressarcir todo o prejuízo causado.
Conforme demonstrado pelos fatos narrados e prova que junta no presente processo, a
empresa Ré ao falhar na sua prestação de serviços, deixou de cumprir com sua obrigação
primária de zelo e cuidado com os clientes, expondo os Autores a um constrangimento ilegítimo,
gerando o dever de indenizar.
A atividade descrita, evidentemente, caracteriza-se por uma prestação de serviço
prevista no Código de Defesa do Consumidor. De um lado, temos o fornecedor AZUL LINHAS
AÉREAS– (empresa aérea prestadora do serviço de transporte) e, do outro lado, os consumidores
(passageiros lesados).

1
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
2
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
A atividade exercida pela empresa aérea é fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração (art. 3º, do CDC), caracterizando-se, assim, como prestação de serviço.
Assinale-se, por oportuno, que os danos suportados pela Autora, mormente, os
decorrentes do cancelamento do voo e a remarcação para 24 horas depois, sem prestar
qualquer assistência de alimentação, transporte e hospedagem.
Conclui-se, portanto que, presentes os requisitos configuradores da CULPA
OBJETIVA, quais sejam o fato, o dano e o nexo de causalidade, estamos diante de um dano
indenizável.

DO DANO MATERIAL DECORRENTE DA PERMANÊNCIA SEM AUXÍLIO DA


EMPRESA RÉ.

Conforme dito alhures, restou comprovado que a relação entre as partes é típica relação
de consumo, e que, diante do dano causado pela Ré, deve ser responsabilizada.
Relativamente ao nexo de causalidade, ficou incontroverso nos autos, na medida em que
a autora adquiriu passagens aéreas e teve seu voo cancelado sem antecedência e justificativa.
Portanto, verificada a responsabilidade civil, passamos a identificar todo o dano
material ocasionado pela Ré, conforme segue:
Sabe-se que planejamento é uma maneira de economizar e não ter surpresas indesejadas
em uma viagem e que qualquer situação que fuja do controle pode causar diversos transtornos,
sendo exatamente o que foi experimentado pela Autora.
Conforme dito, o Autor é médico e precisava retornar ao trabalho no hospital, onde
existem atendimento de dezenas de pessoas, o que não pôde cumprir com sua obrigação, tendo
que buscar soluções imediatas para que não deixasse o hospital sem atendimento médico.
Portanto, contratou outro médico para cobrir o seu plantão para o dia 06/03/23 e
07/03/23, o que totalizou R$ 1.000,00 (hum mil reais) que não junta comprovante em anexo em
razão de só efetua o pagamento em dia de recebimento de salário.
Além do pagamento do plantão, o Autor teve gastos com transporte e alimentação, com
valores aproximados de 300,00 (trezentos reais) pelos dias em Manaus.
O Autor não guardou todos os comprovantes dos gastos, no entanto, segue uma tabela
com valores aproximado do gasto diário, incluindo café da manhã, almoço, janta e transporte:

AUTOR Segunda- Terça Total


feira (07/03)
(06/03)

R$ 50,00
(almoço) R$ 50,00
R$ 50,00 (café da
Erick manhã) R$ 300 (trezentos
(jantar)
Nathan reais)
R$ 100,00 R$ 50,00
(transporte (translado)
diário)

Os valores apresentados acima são uma média de gastos diários pela Autor, pois é uma
média de valores gastos por refeição e transporte.
O Autor não pode sofrer prejuízos que foram causados pela Ré, devendo ser
considerado o os valores médios que gastaram com alimentação e transporte.
Conforme demonstrado pelos fatos narrados, o nexo causal entre o dano e a conduta da
Ré fica perfeitamente caracterizado pelo atraso superior a 4 (quatro horas) do horário previsto,
conforme expressamente previsto na Resolução da ANAC:
Art. 27. A assistência material consiste em satisfazer as necessidades do
passageiro e deverá ser oferecida gratuitamente pelo transportador,
conforme o tempo de espera, ainda que os passageiros estejam a bordo da
aeronave com portas abertas, nos seguintes termos:
III - superior a 4 (quatro) horas: serviço de hospedagem, em caso de
pernoite, e traslado de ida e volta.

O Código Civil, dispõe igualmente sobre o dever de indenizar:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Portanto, a reparação pelos danos materiais é totalmente devida, em face da


responsabilidade civil inerente ao presente caso.
Diante disto, requer a condenação do pagamento no valor de R$ 300 (trezentos reais)
referente aos gastos com alimentação e transporte. E o pagamento de R$ 1.000,00 (hum mil reais)
referente ao desembolso para pagamento de plantão de outro médico.
Portanto, o valor total dos danos materiais sofridos pelo Autor é de R$ 1.300,00 (hum mil e
trezentos reais)

DO DANO MORAL. QUANTUM INDENIZATÓRIO.

De início, cumpre enfatizar que os danos morais suportados pelo requerente decorreram
não apenas do cancelamento do voo e sim de todos os compromissos e todo o desgaste físico e
emocional passado pelo Autor.
Os danos morais caracterizam-se pelo desgaste físico e psíquico anormal enfrentado
pelo consumidor e devem ser reparados, conforme garantia constitucional, na exata proporção
em que sofridos, vedada qualquer limitação contratual ou legal (art. 25 do CDC).
O dano moral é aquele que afeta a personalidade e, de alguma forma, ofende a moral e a
dignidade da pessoa. Doutrinadores têm defendido que o prejuízo moral que alguém diz ter
sofrido é provado in re ipsa (pela força dos próprios fatos). Pela dimensão do fato, é impossível
deixar de imaginar em determinados casos que o prejuízo aconteceu.
No vertente caso, Excelência, a companhia aérea promovida, não cumpriu com sua
prestação de serviços, por livre arbítrio, descumprindo a avença pactuada de forma unilateral,
infringindo a Lei 8.078/90 e os art. 186 e 927 do Código Civil.
Ainda, acerca da matéria se manifestou com propriedade o Egrégio Tribunal de Justiça
do Amazonas:

APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS


– RELAÇÃO DE CONSUMO – APLICAÇÃO DO CDC – TRANSPORTE
AÉREO – ATRASO DE VOO E AUSÊNCIA DE ASSISTÊNCIA DEVIDA
AO CONSUMIDOR – EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE NÃO
CONFIGURADA – RESPONSABILIDADE OBJETIVA DA EMPRESA
AÉREA – ABORRECIMENTO E FRUSTRAÇÃO QUE CARACTERIZAM
COMO OFENSA À PERSONALIDADE – INDENIZAÇÃO DEVIDA –
VALOR RAZOÁVEL E PROPORCIONAL – RECURSO CONHECIDO E
NÃO PROVIDO – SENTENÇA MANTIDA. (Relator (a): Lafayette
Carneiro Vieira Júnior; Comarca: Capital - Fórum Ministro Henoch
Reis; Órgão julgador: Terceira Câmara Cível; Data do julgamento:
05/04/2022; Data de registro: 05/04/2022)

APELAÇÃO CÍVEL. Ação pelo procedimento comum, com pedido de


indenização por dano moral. Atraso em voo internacional, ocasionando
perda da conexão. Autores que tiveram que passar 2 (duas) noites no
aeroporto de Miami e depois foram obrigados a tomar um voo para
Nova Iorque, onde passaram o dia aguardando embarque noturno para
o Rio de Janeiro. Atraso de 3 (três) dias na chegada, implicando em
perda de compromissos profissionais e escolares. Sentença de parcial
procedência do pedido inicial, com condenação da ré ao pagamento de
indenização por dano moral, no valor de R$15.000,00 (quinze mil reais),
para cada um dos autores. Insurgência da ré, pela redução do montante
indenizatório, e dos autores, pelo afastamento da sucumbência
recíproca. Transporte internacional de passageiros. Falha na prestação
de serviços caracterizada. Dano moral configurado na espécie. Valor da
indenização fixado em observância aos critérios da razoabilidade-
proporcionalidade e não discrepante daquele usualmente praticado
nesta Corte Estadual. Enunciado nº 343 da súmula de jurisprudência
deste Tribunal de Justiça. Sucumbência recíproca que se afasta,
porquanto julgado procedente o pedido indenizatório (único formulado
na petição inicial). Artigo 86, parágrafo único, do Código de Processo
Civil. RECURSO DA RÉ A QUE SE NEGA PROVIMENTO, COM
PROVIMENTO DA APELAÇÃO INTERPOSTA PELOS AUTORES.
Conclusões: POR UNANIMIDADE, NEGOU-SE PROVIMENTO AO
RECURSO DA RÉ E DEU-SE PROVIMENTO À APELAÇÃO
INTERPOSTA PELOS AUTORES, NOS TERMOS DO VOTO DO DES.
RELATOR. (TJ-RJ, APELAÇÃO 0013838-73.2017.8.19.0207,
Relator(a): DES. PATRICIA RIBEIRO SERRA VIEIRA , Publicado em:
17/07/2020).

Ante o exposto, tem-se como caracterizados os requisitos necessários configuradores do


dano moral indenizável, quais sejam: o ato ilícito da Ré que consiste no cancelamento do voo e a
falta de assistência na alimentação, estadia e transporte; os contratempos advindos de tal situação
vexatória que consiste no dano efetivo; e por fim, o nexo de causalidade, posto que tais
constrangimentos decorrem diretamente do serviço falho e falta de assistência.
A indenização por danos morais possui duas faces, uma primeira relativa à reparação do
sofrimento vivenciado pelo autor, e uma segunda, possuindo caráter pedagógico, que visa
desestimular o agente agressor a praticar novos atos abusivos.
Sendo assim, é de bom alvitre salientar que a Ré é uma grande empresa aérea, detentora
de um grande poderio econômico e financeiro, de tal sorte que uma eventual condenação deva
ser suficiente para que esta demandada efetivamente compreenda que não pode, a seu bel prazer,
agir abusivamente, afetando de forma negativa a vida das pessoas.
Portanto, diante de todos os fatos narrados nesta exordial, comprovando todos os danos
experimentados pelos Autores, a indenização por dano moral deve representar para a vítima uma
satisfação capaz de amenizar de alguma forma o abalo sofrido e de infligir ao causador sanção e
alerta para que não volte a repetir o ato, uma vez que fica evidenciado completo descaso aos
transtornos causados.
Portanto, sugere-se o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para o Autor a título de
danos morais.

DOS PEDIDOS.

Diante do exposto, requer a Vossa Excelência:


1. A concessão da gratuidade de justiça, nos termos do art. 98 do Código de
Processo Civil;
2. A citação do réu, na pessoa de seu representante legal, para, querendo responder a
presente demanda e apresentar proposta de acordo na petição de contestação;
3. Seja a Ré condenada a pagar a Autora ERICK o quantum a título de danos
materiais, referente aos custos de desembolso do plantão, alimentação e transporte no de R$ R$
1.300,00 (hum mil e trezentos reais) e ainda, indenização a título de DANOS MORAIS em valor
não inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais).
4. Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidas e
cabíveis à espécie, especialmente pelos documentos acostados;
5. A inversão do ônus da prova de acordo com artigo 6º, VIII da lei 8078/90, ante a
verossimilhança das alegações e da hipossuficiência técnica dos autores.
6. A condenação do réu ao pagamento de honorários advocatícios em 20%, nos
parâmetros previstos no art. 85, §2º do CPC.

Por fim, manifesta interesse na audiência VIRTUAL conciliatória, nos termos do Art.
319, inc. VII do CPC, para tanto, informa os dados do patrono e Autora:

Ainda, a fim de dar celeridade, requer que a Ré seja intimada para apresentar proposta
de acordo, caso tenha interesse, nos próprios autos, independente de audiência.

Dá-se à presente o valor de R$ 11.300,00 (onze mil e trezentos reais)


Termos em que pede deferimento.
Manaus-AM, 19 de abril de 2023
OAB/
Documentos anexos:
1. Procuração.
2. Documento de identidade
3. Comprovante de residência – Tefé.
4. Bilhete de passagem

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