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Tutoria de Direito Penal I - Turma da Noite 2020/2021

Concurso de Crimes
Não dispensa a leitura dos manuais recomendados

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Suporte constitucional: Artigo 29º nº5 da CRP: (ninguém pode ser julgado 2 vezes pelo
mesmo facto).
Exemplo: A mata a mãe: Homicídio simples; Homicídio qualificado; Ofensa à
integridade física; Crime de dano;
Pergunta é: Responde por quantos crimes?
Artigo 30º Código Penal.

Critérios relevântes para perceber quando há concurso aparente (apenas um crime)


e concurso efetivo (a pessoa praticou mesmo vários crimes):

Prof. Cavaleiro de Ferreira: modelo de análise:

Concurso aparente Concurso efetivo


• Aparentemente há várias normas penais • Punido por tantos crimes quanto
(tipos penais) que tinham sido preenchidos, aqueles que tiver praticado.
mas pela relação lógico abstrata das normas • Artigo 30º CP.
em causa, conseguimos dizer que uma • Ir sempre 77º e ss CP.
norma se aplica e outra não. • Há uma pena para cada
• Quais são essas relações lógico-abstratas: crime (homicidio (14
• Especialidade: a norma especial anos) , violação (5 anos)
carateriza-se pelo facto por assumir e furto qualificado (4
todos os elementos da norma geral, anos)) --> deve haver
mas acrescentar-lhe mais um. reponderação das penas
Ex: Homicídio, homicídio e tendo em conta
qualificado (identidade da vítima). factualidade e
o Subsidiariedade: (diverge personalidade do
Prof. FD e Prof.CF) individuo deve
1. Expressa - está recalcular-se pena única
expressamente que normalmente é
prevista na lei inferior à soma, mas
150º nº2 CP deve ser no máximo de
última parte 25 anos.
(salvo se pena
mais grave não
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resultar de
outra
disposição) -
aplica-se a
norma que
tiver a pena
mais grave. -
logo no caso
do médico e
do paciente -
se o matasse -
seria punido
pelo 131º.
o 2. Implícita - há binómios de
normas que tem um espaço
de interceção e de não
interceção.
Ex: Roubo: subtração violência ou
ameaça. Por outro lado há também
crime de ameaça e o crime de
ofensa à integridade física.
Roubo e ameaça tem interceção
(roubo com ameaça), mas há
roubos sem ameaça os que são
feitos com violência e vice versa
amaças para subtrair e as que não
são feitas para subtração.
Como se resolve?

• Relação de subsidiariedade -
colocação do concurso numa zona
de sobreposição das duas normas,
que faz com que o agente apenas
seja punido por uma - o agente vai
ser punido pela pena mais grave,
que neste caso é o roubo.

Professor Figueiredo Dias: Divergência deProf.


Cavaleiro Ferreira.

Condução perigosa e homicídio

• Bem jurídico <--> crimes de dano


131º <--> crimes de perigo 291º .
• Várias barreiras sucessivas de
proteção do bem jurídico, se o bem
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jurídico é violado, pune-se por ter


violado o bem jurídico e não por ter
violado todas as barreiras do bem
jurídico - relação de subsidiariedade
implícita - complementar e sucessiva
do bem jurídico.

Consunção:

• Um dos crimes aparentemente em


concurso esgota todo o valor
associado àquela situação, logo não
deixa desvalor nenhum que possa ser
autonomamente punido.
• Homicídio esgota todo o desvalor da
situação - não sobra nada para outro
crime.
• Ex: alguém dá um tiro noutra pessoa
para o matar e fura a camisola e
depois em julgamento o juiz diz:
homicídio e dano por ter furado a
camisola - destruição da camisola não
revela desvalor próprio que justifique
uma punição autónoma.
• Ex2: Eu quero matar alguém, mas
chego ao pé do ferrari e ponho uma
bomba em baixo do ferrari - mata-se o
homem e destrói-se o ferrari. --> a
destruição do ferrari em si mesmo
revela um desvalor que não se
encontra todo consumido pelo
homicídio, devido ao valor
significativo do bem em causa. -
desvalor não consome o desvalor
patrimonial associado ao ferrari.

Prof. Figueiredo Dias


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• Não há relações lógico-abstratas. - Necessário saber como ocorreu o dano.


• Logo a consumpção deve ser separada.

Concurso de normas Concurso de crimes


--> critério valorativo: alguns casos e como foi
aplicado, ver muitos para ter termos de comparação. -
ver o sentido de desvalor autónomo.

o Especialidade o Efetivo: houve prática de vários crimes;


o Subsidiariedade o Aparente: consumpção:
• Existência de um único desvalor
prevalecente autónomo, e os
demais serem desvalores sem
força própria - só se pune por
um - desvalor prevalecente.
• Dois ou mais sentidos de ilicitude
prevalecentes com força
autónoma: concurso de crimes
efetivo.
Ex:
Alguém quer roubar subtraindo € a uma pessoa
sobre ameaça e violência subtraindo dinheiro
da máquina de multibanco, pega na vitima e
ameaça para saber o código de multibanco.

o Sequestro;
o Roubo
o Ameaça \ violência física -->
resolve-se pela subsidiariedade
com roubo

Entre sequestro e roubo como se faz? Dado


que não há subsidiariedade nem
especialidade?
• Concurso de crimes aparentes, há
consumpção - apenas vai prevalecer o
roubo, porque o sequestro é
instrumental, não tem autonomia
valorativa. - logo está todo contido
dentro do roubo - não se justifica 2
punição.
Ex2:
Vou Roubar alguém porque quero roubar
também dinheiro do multibanco, em vez de o
fechar, tranco-o na bagageira do carro, dou mil
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voltas a lisboa só para o amansar, quando abro


a mala ele já está com o cartão na mão - o
sequestro não é feito na estrita medida do
necessário. Para além do roubo - há um
desvalor autónomo da privação da liberdade
durante todo aquele tempo.
Assim permite-se uma 2 punição a título de
sequestro. - concurso de crimes efetivo por
roubo e por sequestro.

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