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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
ÍNDICE
Conflito Aparente de Normas Penais���������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Especialidade����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Subsidiariedade������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Consunção��������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
Alternatividade������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������5

Lei do Direito Autoral nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998: Proíbe a reprodução total ou parcial desse material ou divulgação com
fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na Internet, sem autorização do AlfaCon Concursos Públicos.
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Conflito Aparente de Normas Penais


Fala-se em concurso aparente de normas quando, para determinado fato, aparentemente, existem
duas ou mais normas que poderão sobre ele incidir. Porém, as denominações são inadequadas, pois
não há conflito ou concurso de disposições penais, mas exclusividade de aplicação de uma norma a
um fato, ficando excluída outra em que também se enquadra.
→→ O conflito é aparente, pois desaparece com a correta interpretação da lei penal, que se dá com a
utilização de princípios adequados. São quatro os princípios que resolvem os conflitos aparentes
de normas:
• Especialidade;
• Subsidiariedade;
• Consunção;
• Alternatividade.

Especialidade
O princípio da especialidade está previsto no Art. 12 do Código Penal e determina que se afaste a
lei geral para aplicação da lei especial.
Art. 12 – As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei especial, se esta não
dispuser de modo diverso.
Entende-se como lei especial aquela que contém todos os elementos da norma geral, acrescida de
outros que a tornam distinta (chamados de especializantes). O tipo especial preenche integralmente
o tipo geral, com a adição de elementos particulares.
Como exemplo, citam-se os crimes de homicídio e infanticídio. Mesmo que ocorra a morte de
uma pessoa, será aplicado o Art. 123, pois existem determinadas elementares contidas no seu tipo
que fazem o fato se amoldar a ele e não ao Art. 121. Se uma parturiente, ao dar à luz um filho, sem
qualquer perturbação psíquica originária de sua especial condição, desejar, pura e simplesmente,
causar-lhe a morte, responderá pelo crime de homicídio. Agora, se durante o parto ou logo depois
dele, sob a influência do estado puerperal, causar a morte do próprio filho, já não mais responderá
pela infração a título de homicídio, mas, sim, por infanticídio, uma vez que as elementares contidas
nesta última figura delitiva a tornam especial em relação ao homicídio.
Consequência: a lei especial prevalece sobre a geral, a qual deixa de incidir sobre aquela hipótese.
QUESTÃO COMENTADA
01. (ALFACON) O princípio da especialidade tem por regra que a norma especial prevalece sobre
a norma geral.
• Gabarito: Certo
• Comentário: Neste caso, a norma do tipo penal incriminador (especial) é mais completa
que a norma geral. Tal princípio é utilizado quando ocorre o conflito aparente de normas
penais, ou seja, quando duas ou mais normas aparentemente parecem reger o mesmo tema.
Na prática, uma conduta pode se enquadrar em mais de um tipo penal, mas isso é tão
somente aparente, pois os princípios do Direito Penal resolvem esse fato.

Subsidiariedade
Pelo princípio da subsidiariedade, a norma dita subsidiária é considerada, na expressão de
Hungria, como um “soldado de reserva”, isto é, na ausência ou impossibilidade de aplicação da
norma principal mais grave, aplica-se a norma subsidiária menos grave.
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→→ A subsidiariedade pode ser:


˃˃ expressa ou explícita;
˃˃ tácita ou implícita.
• É expressa quando a lei prevê a subsidiariedade explicitamente, anunciando a não aplicação
da norma menos grave quando presente a mais grave. Exemplo: Art. 307, Falsa identidade,
parte final do preceito secundário: “Pena – detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o
fato não constitui elemento de crime mais grave”. (Grifo nosso)
• É tácita, quando um delito de menor gravidade cede diante da presença de um delito de
maior gravidade, integrando aquele a descrição típica deste. Exemplo: Constrangimento
ilegal (Art. 146, CP), subsidiário diante do estupro (Art. 213, CP).
“A diferença que existe entre especialidade e subsidiariedade é que, nesta, ao contrário do que ocorre
naquela, os fatos previstos em uma e outra norma não estão em relação de espécie a gênero, e se a
pena do tipo principal (sempre mais grave que a do tipo subsidiário) é excluída por qualquer causa,
a pena do tipo subsidiário pode apresentar-se como ‘soldado de reserva’ e aplicar-se pelo residuum.”
(Nélson Hungria).
Rogério Greco explica que, na verdade, não possui utilidade o princípio da subsidiariedade, haja
vista que problemas dessa ordem podem perfeitamente ser resolvidos pelo princípio da especialida-
de. Se uma norma for especial em relação a outra, como vimos, ela terá aplicação ao caso concreto. Se
a norma dita subsidiária foi aplicada, é sinal de que nenhuma outra mais gravosa poderia ter aplica-
ção. Isso não deixa de ser especialidade.
QUESTÃO COMENTADA
01. (ALFACON – 2015) Conforme o Código Penal Brasileiro, é correto afirmar que se Jorge Mano
atirar com uma pistola em via pública com intenção de matar alguém, Jorge não responderá
pelo crime de disparo de arma de fogo, mas pelo crime que ele pretendia praticar, ou seja,
crime doloso contra a vida.
• Gabarito: Certo.
• Comentário: A Jorge será imputado o crime mais grave, o qual é o crime doloso contra
a vida. É importante observar que a Lei 10.826 de 2003 descreve, em seu artigo 15, que
disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em
via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática
de outro crime. Nesse caso, será aplicado o princípio da subsidiariedade expressa. Assim,
esse conflito é resolvido pelo conflito aparente de normas penais.

Consunção
Segundo Fernando Capez, consunção é o princípio segundo o qual um fato mais amplo e mais
grave consome, isto é, absorve, outros fatos menos amplos e graves, que funcionam como fase normal
de preparação ou execução ou como mero exaurimento. Costuma-se dizer: o peixão (fato mais
abrangente) engole os peixinhos (fatos que integram aquele como sua parte).
Também conhecido como princípio da absorção, verifica-se a continência de tipos, ou seja, o
crime previsto por uma norma (consumida) não passa de uma fase de realização do crime previsto
por outra (consuntiva) ou é uma forma normal de transição para o último (crime progressivo).
→→ Os fatos aqui não se acham em relação de espécie e gênero, mas de parte a todo, de meio a fim.
Rogério Sanches fala em princípio da consunção nas seguintes hipóteses:
• Crime progressivo: dá-se quando o agente, para alcançar um resultado/crime mais grave,
passa, necessariamente, por um crime menos grave. Por exemplo, no homicídio, o agente
tem que passar pela lesão corporal, um mero crime de passagem para matar alguém.
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• Progressão criminosa: o agente substitui o seu dolo, dando causa a resultado mais grave. O
agente deseja praticar um crime menor e chega à sua consumação. Depois, quer praticar um
crime maior e também o concretiza, atentando contra o mesmo bem jurídico. Exemplo de
progressão criminosa é o caso do agente que inicialmente pretende somente causar lesões
à vítima, porém, após consumar os ferimentos, decide ceifar a vida do ferido, causando-lhe
a morte. Somente incidirá a norma referente ao crime de homicídio, Art. 121 do Código
Penal, ficando absorvido o delito de lesões corporais.
• Antefactum impunível: são fatos anteriores que estão na linha de desdobramento da ofensa
mais grave. É o caso da violação de domicílio para praticar o furto. Nota-se que o delito
antecedente (antefato impunível) não é passagem necessária para o crime fim (distin-
guindo-se do crime progressivo). Foi meio para aquele furto. Outros furtos ocorrem sem
haver violação de domicílio. Também não há substituição do dolo (diferente da progressão
criminosa).
• Postfactum impunível: pode ser considerado um exaurimento do crime principal pratica-
do pelo agente e, portanto, por ele não pode ser punido. O sujeito que furta um automóvel
e depois o danifica não praticará dois crimes (furto + dano), mas somente o crime de furto,
sendo a destruição fato posterior impunível.
Crime progressivo, portanto, não se confunde com progressão criminosa!
→→ No crime progressivo o agente, desde o princípio, já deseja o crime mais grave.
→→ Na progressão criminosa, primeiramente o sujeito almeja o crime menos grave (e o concretiza) e
depois decide executar outro, mais grave. Em ambos o réu responde por um só crime.
QUESTÃO COMENTADA
01. (CESPE) O princípio da consunção, consoante posicionamento doutrinário e jurisprudencial,
resolve o conflito aparente de normas penais quando um crime menos grave é meio necessá-
rio, fase de preparação ou de execução de outro mais nocivo, respondendo o agente somente
pelo último. Há incidência desse princípio no caso de porte de arma utilizada unicamente para
a prática do homicídio.
• Gabarito: Certo
• Comentário: O Princípio da Consunção tem como característica básica o englobamento
de uma conduta típica menos gravosa por outra de maior relevância; estas possuem um
nexo, sendo considerada a primeira conduta como um ato necessário para a segunda. Ou
seja, um indivíduo, sem porte de arma ou com arma ilegal, utiliza-se da mesma para ceifar
a vida de terceiro, praticando homicídio. A primeira conduta, de portar arma de fogo de
maneira ilegal, está descrita como crime no Estatuto do Desarmamento, artigo 14 da Lei
10.826/03. Porém, no exemplo, é absorvida pela conduta tipificada no artigo 121 do Código
Penal se usada unicamente para cometer o crime. O dolo do agente era o homicídio; o crime
de homicídio regula um bem jurídico de maior importância, a vida, possui uma pena mais
rigorosa, é mais abrangente e as condutas não possuem desígnios autônomos. Um bom
exemplo seria um preso algemado para frente que saca a arma de um policial e contra ele faz
disparos, ou seja, a arma foi usada somente para o crime de homicídio. Contudo, por outro
lado, se o agente estivesse há dias andando armado e somente depois efetuasse o homicí-
dio, teríamos a incidência de dois crimes, ou seja, porte de arma de fogo em concurso com
homicídio.
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Alternatividade
Ocorre quando a norma descreve várias formas de realização da figura típica, em que a realiza-
ção de uma ou de todas configura um único crime. São os chamados tipos mistos alternativos, os
quais descrevem crimes de ação múltipla ou de conteúdo variado.
Exemplo: o Art. 33, caput, da Lei nº 11.343/06 (Lei de Drogas), que descreve dezoito formas de
prática do tráfico ilícito de drogas, mas tanto a realização de uma quanto a de várias modalidades
configurará sempre um único crime.
Nesses casos, não se pode falar em concurso ou conflito aparente de normas, uma vez que as
condutas descritas pelos vários núcleos se encontram em um só preceito primário.
Art. 33, Lei nº 11.343/06: Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar,
entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar.
QUESTÃO COMENTADA
01. (CESPE) Considera-se, em relação aos crimes de conteúdo múltiplo, que, se em um mesmo
contexto, o agente realizar ação correspondente a mais de um dos verbos do núcleo do tipo
penal, ele só deverá responder por um único delito, em virtude do princípio da alternatividade.
• Gabarito: Correto
• Comentário: Esse é realmente o princípio da alternatividade que resolve o conflito
aparente de normas penais. Temos como exemplo o crime do Art. 33 da Lei 11.343/2006
(Lei de Drogas), em que o agente pode cometer os vários verbos que completam o tipo
penal, que ainda assim cometerá crime único. Por ter vários verbos é chamado de crime de
ação múltipla ou conteúdo variável. Imaginemos que no mesmo contexto um traficante de
drogas importe, exponha à venda e tenha em depósito a droga, ainda assim responderá por
crime único, e não crimes em concurso.
EXERCÍCIOS
01. Havendo conflito aparente de normas penais, aplica-se o princípio da subsidiariedade, que
incide no caso de a norma descrever várias formas de realização da figura típica, bastando a
realização de uma delas para que se configure o crime.
Certo ( ) Errado ( )
02. O princípio da consunção, consoante posicionamento doutrinário e jurisprudencial, resolve o
conflito aparente de normas penais quando um crime menos grave é meio necessário, fase de
preparação ou de execução de outro mais nocivo, respondendo o agente somente pelo último.
Há incidência desse princípio no caso de porte de arma utilizada unicamente para a prática do
homicídio.
Certo ( ) Errado ( )
03. Consoante o Código Penal Brasileiro, quando houver conflito aparente de normas penais,
aplica-se o princípio da alternatividade, utilizado no caso de a norma penal descrever várias
formas de realização da figura típica, sendo suficiente a realização de uma delas para que o
crime se configure.
Certo ( ) Errado ( )
04. Subsidiariedade, consunção, alternatividade e especialidade são princípios que resolvem o
conflito aparente de normas penais.
Certo ( ) Errado ( )
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05. Considere que uma mulher, logo após o parto, sob a influência do estado puerperal, estrangule
seu próprio filho e acredite tê-lo matado. Entretanto, o laudo pericial constatou que, antes da
ação da mãe, a criança já estava morta em decorrência de parada cardíaca. Nessa situação, a
mãe responderá pelo crime de homicídio, com a atenuante de ter agido sob a influência do
estado puerperal.
Certo ( ) Errado ( )
GABARITO
01 - ERRADO
02 - CERTO
03 - CERTO
04 - CERTO
05 - ERRADO

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