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CONTAGEM DE PRAZOS

Os prazos devem ser diferenciados em: processuais penais e penais.


Prazos processuais penais: regra disposta no art. 798, §1º do CPP, não se
computando o dia do começo, mas incluindo-se o do vencimento. Além disso, o prazo
que terminar em domingo ou feriado considerar-se-á prorrogado até o imediato dia útil
(art. 798, §3° do CPP) e a intimação feita na sexta-feira conduz ao início do prazo
processual na segunda-feira seguinte ou primeiro dia útil que se seguir (Súmula n° 31 do
STF).
Prazos penais: são improrrogáveis e obedecem a disposição do art. 10 do CP.
Assim, na contagem do prazo penal o dia do começo é incluído no cálculo. Tal forma de
cômputo se aplica a todos os prazos da lei material, tais como os de duração das penas,
do sursis, do livramento condicional, da prescrição, da decadência, etc.
Veja-se que a diferença na contagem dos prazos foi fixada apenas para beneficiar
o réu. Ou seja, na contagem dos prazos processuais, não se considerando o dia de início,
dá-se ao agente "um dia a mais" para realizar a providência processual adequada. Em
contrapartida, como os prazos penais sempre correm em favor do réu, começam a ser
contados um dia antes, sem possibilidade de prorrogação. Assim, se a prescrição se
verifica no dia 07/05, um domingo, será este o marco da extinção da punibilidade do
Estado, por favorecer o agente. Importante: embora insuscetível de prorrogação, o prazo
penal pode ser suspenso ou interrompido, como, por exemplo, nas hipóteses previstas nos
arts. 116 e 117 do CP.

Frações não computáveis: De acordo com o art. 11 do CP, se na fixação final da


pena, resultante das operações previstas em lei, não for atingido um número inteiro, deve
o juiz desprezar as frações de dia nas penas privativas de liberdade e restritiva de direitos
(horas, minutos ou segundos) e, na pena de multa, as frações de real (centavos).
CONFLITO APARENTE DE NORMAS

Há situações em que, ocorrido o fato criminoso, vislumbra-se a possibilidade de


aplicação de mais de um dispositivo legal, gerando, assim, um conflito aparente de
normas.
Veja-se que, na realidade, o conflito é meramente aparente porque, no plano da
concretude, apenas uma norma será aplicada, vedando-se, obviamente, a incidência de
várias normas em concurso, sob pena de retirar do Direito Penal o caráter sistemático e
harmônico de que é dotado.
Para que haja um conflito aparente de normas é necessário (1) a unidade do fato e
(2) a pluralidade de normas simultaneamente vigentes.
Verificados esses pressupostos, impõe-se a solução do conflito (aparente) para
assegurar a harmonia e coerência do sistema penal e, ao mesmo tempo, evitar a
possibilidade do bis in idem, que poderia ocorrer caso duas normas (aparentemente
aplicáveis) incidissem sobre o mesmo fato.
Três são os princípios fundamentais válidos para resolver um aparente conflito:
especialidade, subsidiariedade e consunção.
Importante: o princípio da alternatividade não resolve um conflito aparente
de normas, mas conflito dentro da própria norma. Isto é, o princípio da alternatividade
tem validade e aplicação prática nos chamados crimes de conteúdo múltiplo (ou variado).
Ou seja, tipos penais que contam com vários verbos nucleares (por exemplo, art. 33 da
Lei nº 11.343/2006, art. 12 da Lei nº 10.826/2003). Nessas hipóteses, se o agente realiza
vários verbos, porém, no mesmo contexto fático e sucessivamente (por exemplo, depois
de importar e preparar certa quantidade de droga, o agente traz consigo porções separadas
para venda a terceiros), por força do princípio da alternatividade, responderá por crime
único, devendo o juiz considerar a pluralidade de núcleos praticados na aplicação da pena.

Especialidade (lex specialis derogat legi generali)


Previsto no art. 12 do CP, determina que a lei geral deve ser afastada para
aplicação da lei especial.
Entende-se como lei especial aquela que contém todos os elementos da norma
geral, acrescida de outros que a tornam distinta (chamados de especializantes). O tipo
especial preenche integralmente o tipo geral, com a adição de elementos particulares.
Ex.: Importação irregular de drogas. Observa-se que, num primeiro momento,
duas normas, aparentemente, conflitam, disputando a punição do
comportamento ilícito: art. 334-A do CP (crime de contrabando) e o art. 33 da
Lei n° 11.343/06 (crime de tráfico de drogas). Ao analisar as duas figuras
criminosas, evidencia-se que a Lei de Drogas derroga o crime do CP, pois o
artigo 334-A considera como contrabando o ato de importar ou exportar
qualquer mercadoria proibida. Já a Lei nº 11.343/2006 pune a importação
de mercadoria proibida dotada de circunstâncias particulares. Não será
qualquer produto importado ilegalmente que tipificará o crime de tráfico, mas
somente drogas (produto especial). O art. 33 da Lei 11.343/06 tem, portanto,
todos os elementos presentes no art. 334-A do CP e mais outro, especial. Logo,
deve prevalecer sobre a lei geral.

Importante: Não interessa se o crime especial representa um minus (punido com


menor rigor) ou um plus (punido com maior rigor) em comparação com o tipo geral. Não
se trata de uma relação gradativa entre os injustos penais, mas comparativo-descritiva in
abstrato. Por exemplo, o infanticídio (art. 123 do CP), tipo especial relativamente ao
homicídio (art. 121 do CP), é punido com pena menor (2 a 6 anos) quando comparado
com o tipo geral (6 a 20 anos).

Subsidiariedade (lex primaria derogat legi subsidiariae)


Uma lei tem caráter subsidiário relativamente a outra (principal) quando o fato
por ela incriminado é também incriminado por outra, tendo um âmbito de aplicação
comum, mas abrangência diversa.
Assim, a norma dita subsidiária atua apenas quando o fato não se subsuma a crime
mais grave. Ex.: o crime de constrangimento ilegal (art. 146 do CP) é subsidiário em
relação aos crimes de extorsão (art. 158 do CP) e estupro (art. 213 do CP), tudo vai
depender da finalidade do constrangimento.
Subsidiariedade expressa: quando a própria lei prevê a subsidiariedade
explicitamente, anunciando a não aplicação da norma menos grave quando presente a
mais grave. Por exemplo, arts. 132 e 307, ambos do CP.
Subsidiariedade tácita: quando um delito de menor gravidade cede diante da
presença de um delito de maior gravidade, integrando aquele a descrição típica deste. Ex.:
o mencionado caso do art. 146 ceder espaço às figuras do art. 158 e/ou 213 do CP.
Em ambas as hipóteses (subsidiariedade expressa ou tácita), ocorrendo o delito
principal (“o maior”), afasta-se a aplicação da regra subsidiária.
Importante: grande parte da doutrina não verifica utilidade no princípio da
subsidiariedade, visto que os conflitos poderiam perfeitamente ser resolvidos pelo
princípio da especialidade.
Consunção (lex consumens derogat legi consumptae)
Também conhecido como princípio da absorção, verifica-se a continência de
tipos, ou seja, o crime previsto por uma norma (consumida) não passa de uma fase de
realização do crime previsto por outra (consuntiva) ou é uma forma normal de transição
para o último (crime progressivo).
Os fatos aqui não se acham em relação de espécie e gênero, mas de parte a todo,
de meio a fim. Pode-se falar em consunção nas seguintes situações:
Crime progressivo: se dá quando o agente para alcançar um resultado/ crime
mais grave passa, necessariamente, por um crime menos grave. Por exemplo, no
homicídio, o agente tem que passar pela lesão corporal, um mero crime de passagem para
matar alguém.
Ante factum impunível: são fatos anteriores que estão na linha de desdobramento
da ofensa mais grave. É o caso da violação de domicílio para praticar o furto. Note que o
delito antecedente (antefato impunível) não é passagem necessária para o crime fim
(distinguindo-se do crime progressivo). Foi meio para aquele furto. Outros furtos ocorrem
sem haver violação de domicílio. Ademais, nesse sentido é importante salientar a Súmula
nº 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva,
é por este absorvido.”
Post factum impunível: pode ser considerado um exaurimento do crime principal
praticado pelo agente e, portanto, por ele não pode ser punido. O sujeito que furta um
automóvel e depois o danifica não praticará dois crimes (furto + dano), mas somente o
crime de furto, sendo a destruição fato posterior impunível.

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