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1) Comente: “O dolo distingue se da negligência pela existência de culpa”.

O dolo é o prepósito de cometer o facto ilícito através da negligencia, que se define por ser a falta de
cuidado que leva a essa prática, como previsto no artigo 14 do código penal. O dolo pode ser dividido
em três: dolo direto, necessário, eventual. O dolo direto previsto no nº1 do artigo 14 caracteriza se
pela vontade livre e consciente de um individuo praticar uma determinada conduta tipificada na
legislação penal. De seguida, o nº2 consagra o dolo necessário e aqui a titulo de exemplo, uma
pessoa que pretende matar o marido e dispara uns tiros para o atingir a ele no meio de algumas
pessoas. No nº3, é expresso o dolo eventual que conta com a possibilidade de produzir o resultado
típico e apesar disso quer alcançar o fim pretendido.A negligencia pode ser distinguida entre
negligencia consciente e inconsciente. A negligencia consciente é a atuação de quem por não
proceder com cuidado a que está obrigado e que é capaz de representar como possível a realização
de um facto correspondente a um tipo de crime, mas atua sem conformar com essa realização, como
é previsto no artigo 15 alínea A). Na alínea B) é consagrado a negligencia inconsciente que se traduz
por ser a atuação de quem por não proceder com o cuidado a que está obrigado e de que é capaz,
nem sequer chega a representar a possibilidade da realização do facto a que corresponde um tipo de
crime. Assim, podemos distinguir o dolo da negligencia pela existência de culpa, porque enquanto
que no dolo o agente consciente, quer praticar o crime, na negligência o agente age por não
proceder com cuidado.
2) Pronuncie-se quanto ás fases do crime nas diversas modalidades.
Uma ação para ser punível percorre diversos graus e momentos, desde que surge a primeira ideia
para o seu cometimento até à sua consumação, conforme dispõe o artigo 21.
Os atos preparatórios em si não são puníveis salvo disposição em contrário. São atos preparatórios
todos aqueles atos do percurso criminal que não cabem ainda na previsão dos atos de execução,
como dispõe o artigo 22 nº2 do Código Penal. Assim estamos perante um ato de execução quando
este preencha um elemento constitutivo de um tipo ilícito, ou seja, adequado a produzir um certo
resultado típico. Por outro lado, podemos afirmar que os atos preparatórios não são conclusos, não
são claros sobre a finalidade da ação, mantendo se dentro da esfera dos atos pessoais do sujeito
ativo. Em suma, os atos preparatórios não são em principio puníveis, mas os atos de execução são
um dos elementos da tentativa que é punível do artigo 23 do Código Penal.
Contrariamente ao que acontece com os atos preparatórios, a tentativa de cometimento de um crime
já é punível sendo que existe um percurso que vai desde da decisão de cometer um crime até à sua
consumação passando pela sua preparação, começo de execução, conclusão da ação executiva e
produção do resultado, podendo se considerar ainda a desistência. Neste percurso temos a
resolução que se traduz na vontade de realização do facto ilícito, temos a não consumação que
consiste na interrupção do processo do crime, podendo corresponder assim à desistência e temos o
resultado que é o cumprimento do crime. À tentativa aplica-se a pena prevista para o crime
consumado, contudo, especialmente atenuada nos termos do artigo 23 nº2. O nº3 do mesmo artigo
faz referencia aquilo que se designa por uma tentativa impossível. A tentativa de cometimento de um
crime previsto nos artigos 22 e 23 do Código Penal pode deixar de ser punível, para tal, basta que o
agente desista de prosseguir na execução do delito e que essa desistência seja relevante. O artigo
24 vem estabelecer esses requisitos pelo que podemos considerar que a desistência é relevante
quando o agente evita que o resultado do crime se produza. Contudo, existem crimes de resultado
como a coação, ameaça, as ofensas á integridade física que continuam a ser puníveis.Por fim, o
crime consumado é o ultimo estado do percurso do crime, é aqui que reside plenamente a censura
penal a menos que funcionem e que tenham aplicabilidade as causas de exclusão da ilicitude e da
culpa.
3) Comente: “No que se refere à legitima defesa… não existem limitações”.
A legitima defesa (artigo32) assenta numa reação, a uma agressão atual ilícita que ameaça
interesses juridicamente protegidos de quem se defende ou de um terceiro. Essa reação tem de
ser adequada, necessária e proporcional a afastar a agressão atual ilícita. Na legitima defesa e
contrariamente ao que sucede no direito de necessidade não se infringe que exista
superioridade entre o bem que se pretende salvaguardar e o bem que é usado com a defesa.
Podendo ainda haver excesso de legitima defesa como é previsto no artigo 33 do Código penal,
podendo levar a que não estejamos perante uma causa de exclusão de ilicitude. As restrições
éticas á legitima defesa são todas as agressões provenientes de criança, pessoas embriagadas,
de um modo geral pessoas inimputáveis. Nestes casos entende se que fica somente a
necessidade de autotutela ou proteção de interesses. Assim, não concordo com a afirmação,
porque existem limitações à legitima defesa.
4) Imagine que o João é assaltado ao entrar no seu carro, no parque de estacionamento de um
Centro Comercial e ameaçado com uma faca ao pescoço, para que entregasse ao assaltante
todos os bens que tinha. João, mestre de karaté dá lhe um golpe, partindo lhe um braço e
imobilizando-o no chão. Mas como tinha umas garrafas na parte de trás do carro, foi buscar duas
e desferiu vários golpes, deixando o a esvair-se em sangue e inanimado e ainda irreconhecível.
Chamou de imediato o INEM e PSP, mas o assaltante veio a falecer por excessiva perda de
sangue.
Quid Iuris?
Perante a presente ocorrência, identificam se como intervenientes o João e o assaltante.
Poder-se-á afirmar que estamos na presença de factos jurídicos penalmente relevantes para o
Direito Penal. O assaltante pratica o ato de rouba quando assalta João que é punido por lei no
artigo 210º do Código Penal. De seguida ainda o ameaça, o que se também é punido pelo artigo
153º. João, entretanto, dá lhe um golpe, partindo-lhe um braço e imobilizando-o no chão e aqui
podemos colocar a hipótese que age por legitima defesa (artigo 32º).
João ainda não satisfeito, pega em 2 garrafas e desferiu ao assaltante vários golpes, deixando o
esvair se em sangue que acabou por falecer e aqui João já pratica um facto ilícito, ou seja,
ofensa á integridade física simples (artigo 143º) e homicídio (artigo 131º). Assim, podemos
concluir que João acaba por cometer excesso de legitima defesa, punido pelo artigo 33º do
Código Penal.
Pelo que, a moldura penal a aplicar aos intervenientes João e o assaltante, serão determinados
pela moldura penal legalmente aplicável aos ilícitos praticados (previsão de pena para os crimes)
e pelos critérios dos artigos 70 e 71 do Código Penal.
5) Explicite a diferença entre crime unitário, concurso de crimes e crime continuado.
O agente atua sozinho levando a cabo uma única ação sendo que estamos perante a
singularidade do agente e a unidade dos ilícitos praticados no concurso de crimes. No concurso
de crimes, o agente criminal com a sua conduta não pratica apenas um tipo ilícito, mas pratica
mais que um, mas pode praticar o mesmo tipo de ilícito mais que uma vez e outros e aqui
podemos estar perante uma pluralidade de ilícitos. Havendo concurso de crimes a lei distingue 2
situações. Podemos estar face a um concurso legal aparente ou impuro em que a conduta do
agente preenche vários tipos de crime, mas conclui se que o conteúdo dessa conduta é
totalmente absolvido por um dos crimes praticados ou poderemos estar perante um concurso
efetivo verdadeiro ou puro e aqui os tipos legais preenchidos são considerados na globalidade
não se verificando uma exclusão por via de nenhuma regra e isto significa que estamos perante
um concurso efetivo quando se comete mais de que um crime quer através da mesma conduta,
quer através de condutas diferentes. Desta forma, a regra que se aplica ao concurso de crimes
está consagrada no artigo 67 do Código Penal.
Diz-nos o código penal que há crime continuado quando através de várias ações criminosas se
repete o preenchimento do mesmo tipo legal de crime ou de tipos diferentes que preencham o
mesmo bem jurídico, usando se assim o mesmo procedimento que se reveste de uma certa
uniformidade conforme dispõe o artigo 30 nº2 do Código Penal. São pressupostos do crime
continuado, a realização múltipla do mesmo tipo de crime (artigo 164º), importunação sexual
(artigo 170º), lesão do mesmo bem jurídico e uma certa uniformização na prática do crime, e por
fim a persistência de uma situação exterior.
6) Distinga autoria de cumplicidade e de comparticipação.
Para o código penal os agentes do crime, segundo o código são os autores (artigo 26) e os
cúmplices (artigo 27).A autoria a que se refere o artigo 26 é a participação no cometimento do
crime sendo, pois, o autor todo aquele que dá causa ou domina o facto ilícito. Assim, se a
realização da conduta for proveniente de uma ação individual temos a simples autoria ou autoria
singular, pelo contrário resultar de uma ação coletiva temos a coautoria ou comparticipação. A
autoria do crime pode ser vista em duas perspetivas: a autoria imediata ou matéria que
corresponde aquela em que o agente excuta o facto por si mesmo, e em segundo a autoria
mediata, moral ou intelectual e aqui corresponde aquela em que o agente pratica o facto por
intermedio outrem, isto é, o autor mediato acava por ser aquele que comanda o facto ilícito.
Por vezes acontece que o facto típico e compartilhado por uma pluralidade de agentes. Existe
assim a coautoria ou comparticipação quando existe conjugação de esforço no sentido da
consumação do facto ilícito (artigo 25).De acordo com o artigo 27 é cúmplice quem presta auxilio
material ou moral à pratica de um facto doloso cometido por alguém fazendo dolosamente e
utilizando qualquer meio. O cúmplice irá ser punido na moldura penal correspondente ao facto
típico praticado pelo autor, sendo a pena especialmente atenuada de acordo com o artigo 73 do
Código Penal.
7) Pronuncie-se quanto aos factos relevantes para o Direito Penal.
Na passada sexta-feira, Benedita resolve após vários meses de desconfianças no seu
casamento, perseguir Bernardo, seu marido, arquiteto, até ao atelier, ávida por descobrir a
amante do seu marido. É então surpreendida por Bernardino, amante de Bernardo que lhe abre
a porta em trajes íntimos, deparando-se com o marido no sofá, em semelhante situação. Em
choque e após 19 anos de casamento, resolve contar aos filhos, Gustavo de 17 anos e
Guilherme de 15 (que sofre de esquizofrenia).
Quando Bernardo chega a casa é surpreendido por Guilherme que por ver a mãe em choque, se
descontrolou e lhe atira facas, pratos e tachos (utensílios de cozinha) que o atingiram e o
deixaram inanimado no chão. Guilherme resolve ir procurar Bernardino…e de cabeça perdida
lhe diz uma série de impropérios tais como: “Oh meu grande Gay…tu desapareces de vez da
vida do meu pai…senão ficas sem miolos e corto-te aí a coisa” …. Bernardino Gusmão de
Atayde e Melo, é um conhecido empresário na área do Design e Arquitetura e Guilherme resolve
pedir a um amigo…que noticie e espalha o escândalo nas redes sociais…dizendo ao pai: “Toda
a gente vai saber que és um podre……ninguém mais vai confiar em ti…vou-te arruinar…pois
estás a dar cabo da mãe…ou deixas o tipo, ou eu dou-lhe um tiro “naquele sítio” e não vão ter
mais diversão.
Ao dirigir-se para casa de mota, teve um acidente, que acusou 1.8 g/l de taxa de alcoolémia.
Na passada segunda feira, Bernardino enraivecido atingiu Frederica com um tiro nas pernas…e
vendo-a ferida, resolveu matá-la por motivos passionais.
Quid Iuris
Perante a presente ocorrência, identificam se como intervenientes Benedita (mulher de
Bernardo), Bernardo, Bernardino (amante de Bernardo), Gustavo (filho mais velho), Guilherme
(filho mais novo que padece de esquizofrenia), Frederica e o amigo de Guilherme. Poder-se-á
afirmar que estamos na presença de factos jurídicos penalmente relevantes para Direito Penal.
Guilherme de 15 anos, filho mais novo de Benedita e Bernardo, padece de anomalia psíquica
(artigo 104º) ao descobrir que o pai traiu a mãe, enraivecido atira utensílios (facas, pratos…)
atingindo Bernardo, sendo que este ato é punido pelo artigo 143º do nosso Código Penal,
deixando o assim inconsciente. De seguida, este decide ir procurar Bernardino ameaçando-o
(artigo 153º). Entretanto, o rapaz de 15 anos, decide pedir a um amigo que acaba por se tornar
cúmplice (artigo 27º) no crime praticado que foi publicar nas redes sociais uma ameaça a
Bernardo, sendo punido assim pelo artigo 153º 3 183º do Código Penal. A caminho de casa,
Guilherme tem um acidente de mota e acusa 1,8g/l de álcool, o que pelo artigo 292º é
considerado crime.
Face ao exposto, Guilherme de acordo com os artigos 19 e 20 torna se inimputável em razão da
idade e da anomalia psíquica que padece, e comete concurso de crimes (artigo 67º)
Na segunda feira passada, Bernardino dá um tiro a Frederica (artigo 143º) e de seguida acaba
por lhe tirar a vida, cometendo assim homicídio punido pelo artigo 131º.
Pelo que a moldura penal a aplicar aos intervenientes Guilherme, Bernardino e o amigo de
Guilherme, serão determinadas pela moldura penal legalmente aplicável aos ilícitos praticados
(previsão de pena) e pelos critérios dos artigos 70 e 71 do Código Penal.

8) Distinção entre pena de prisão e pena de multa.


O Direito Penal é considerado um conjunto de normas jurídicas que associam factos penalmente
revelantes a uma determinada consequência jurídica. Correspondem a penas que se encontram
reguladas no artigo 40 do Código Penal. As principais penas são a pena de prisão e a pena de
multa. A pena de prisão, tem um limite mínimo de 1 mês e máximo de 360 dias, como consta no
artigo 41 nº2. Já a pena de multa tem um limite mínimo de 10 dias e máximo de 360 dias, como
refere o artigo 47 do nosso Código Penal. O que distingue estas principais penas é o facto de a
pena de prisão ter um caracter privativo da liberdade, enquanto que a pena de multa tem uma
natureza especialmente pecuniária. Contudo, se a pena de multa não for paga existe
possibilidade de ser convertida em pena de prisão, como é previsto no artigo 49.
Além das principais penas o código penal contempla no artigo 65 as penas acessórias.
9) Explicite no que consiste a lei Penal, no tempo e no espaço.
Em relação à aplicação da lei penal no tempo, o artigo 1 do código penal diz que não há crime
ou pena sem que a lei a preveja, ou seja, temos o principio geral no direito penal da
irretroatividade. Esse principio, entretanto, se aplica apenas quando a lei posterior for mais
severa. Assim, considerando que a lei não pode criminalizar factos passados nem pode punir de
forma mais severa, crimes anteriormente praticados, cabe considerar o principio da não
retroatividade que vem expressamente consagrado no nº1 do artigo 2. Para além da garantia da
segurança jurídica, a proibição da retroatividade é também uma norma protetora do agente. O
principio da retroatividade da lei penal mais favorável está previsto no nº 2 do artigo 2, e dispõe
que é sempre aplicado o regime mais favorável ao agente.
Em relação á lei penal no espaço, a lei penal portuguesa é aplicada a factos praticados em
território português seja qual for a nacionalidade do agente e ainda a bordo de navios
aeronáuticos portugueses, como expresso no artigo nº3.
O nº4 do Código Penal reflete o principio da territorialidade. Este principio é complementado por
diversos outros consagrados no artigo 5, consagrando assim o principio da defesa dos
interesses nacionais. Na alínea c) do mesmo artigo é consagrado o principio da aplicação
universal da lei.
10) Distinga crimes comissivos de crimes omissivos.
A ideia de crime está sempre relacionada com a conduta humana voluntaria e culposa que
preencha alguns dos requisitos que a lei prevê como sendo bens jurídicos de proteção por
conduta. Assim, entende se o comportamento humano expresso de forma voluntaria, consciente
e ativo, o que implica uma ação omissiva (omissão).Os crimes cometidos por ação designam se
por crimes comissivos e praticados por omissão designam se por omissivos traduzindo se numa
abstenção de atuar. Existe dentro dos crimes omissivos, omissões puras e impuras. Nas
omissões puras estamos perante a responsabilidade jurídica do agente, isto porque omitiu uma
conduta que era exigível por lei. A titulo de exemplo o artigo 200 do Código Penal. No âmbito
das omissões impuras o agente é responsável por um determinado resultado, não porque ele
tenha adotado uma conduta descrita na lei, mas precisamente porque deu origem a um
resultado por mera inatividade. Na omissão impura o agente é responsabilizado por um crime
que sobre ele recaia um poder jurídico que obrigava a evitar a produção do resultado. Estas
encontram se previstas no artigo 10 do Código Penal em que se equipara a ação á omissão.
11) Identifique causas de exclusão da ilicitude.
Para que um facto se torne punível exige se que além de típico, ou seja, previsto numa norma
criminal, tem de ser ilícito, isto é, demonstrar conformidade com a lei e ainda culposo. Só assim
não será quando ocorra alguma circunstancia que nos termos de lei exclua a ilicitude do facto ou
a culpa. O legislador concebeu as causas de exclusão da ilicitude do facto com os seguintes
pressupostos:
- Indicação de uma causa genérica de exclusão da ilicitude (artigo 31 nº1 do Código Penal);
- Enumeração das principais causas que se encontram no nº2 do mesmo artigo e que são a
legitima defesa, o exercício de um direito, o cumprimento de um dever por lei ou por ordem
legitima de autoridade e ainda o consentimento do lesado;
-Consagração de outras causas em diferentes normas jurídicas, como por exemplo o direito de
necessidade (artigo 34) e o conflito de deveres (artigo 36).
Em relação a cada uma das causas, em pormenor o direito de necessidade torna uma conduta
ilícita daí a necessidade de se verificarem alguns requisitos para que o mesmo tenha lugar,
salientando-se desde logo a superioridade do bem jurídico a proteger.
No consentimento do ofendido que se encontra previsto no artigo 31 nº2 alínea d) e no artigo 38.
Cabe aqui referir que para o consentimento ter eficácia é necessário que o individuo em causa
tenha mais de 16 anos e possua o discernimento necessário para avaliar o seu sentido e
alcance no momento em que presta o consentimento, por outro lado tem de ser um
consentimento expresso por qualquer meio que traduza uma vontade séria, livre e esclarecida
por parte do titular do interesse juridicamente protegido podendo ser revogado a qualquer
momento até á execução do facto (artigo 38 nº2). Cabe ainda referir que o artigo 38 nº1, o
consentimento exclui a ilicitude do facto quando se referir a interesses jurídicos livremente
disponíveis deixando de haver violação do direito.
O conflito de deveres é também uma causa de exclusão de ilicitude que corresponde aquelas
situações em que torna licito o agente não cumprir um dever, se cumprir outro de categoria igual
ou superior. O agente tem a liberdade de optar por um deles, não cumprindo o outro. Os
prossupostos dos conflitos dos deveres são:A existência de um conflito entre o cumprimento de
vez ou ordens legitimas, ou seja, podem surgir dois tipos de situações: um conflito entre o dever
de agir e o dever de omitir, mas a doutrina defende que só na primeira situação estamos perante
uma exclusão de ilicitude.
12) Regime de liberdade condicional.
O regime de liberdade condicional encontra se previsto nos artigos 61 a 64 do Código Penal.
Tem em vista por um lado criar um período de transição entre a prisão e a liberdade, durante o
qual o delinquente possa de forma equilibrada reaver o sentido de orientação social que foi
enfraquecida pelo efeito da pena privativa da liberdade. Por outro lado, tem em vista adaptar a
duração do cumprimento da pena á evolução do arguido no estabelecimento prisional
estimulando para que oriente a sua conduta de forma a poder beneficiar desta medida e assim o
artigo 61 nº1 do Código penal começa por nos indicar que a aplicação da liberdade condicional
depende sempre do consentimento do condenado. Por sua vez, o nº2 indica-nos os requisitos
necessários para que o tribunal possa colocar o condenado em liberdade condicional. No que se
refere ao nº3 este diz nos que o tribunal pode colocar o condenado em liberdade condicional
quando se encontrarem cumpridas 2/3 da pena e se encontra verificada a exigência da alínea a)
do nº2 do artigo 61. A duração desta independentemente do regime tem a duração igual ao
tempo de prisão que falta cumprir até ao máximo de 5 anos, período no fim do qual se considera
extinto o excedente da pena. Por força do disposto do artigo 64 do Código Penal é
correspondentemente aplicada á liberdade condicional e á extinção da pena o pressuposto nos
artigos 56 nº1 e 57. Desta forma e de acordo com o artigo 56 do Código Penal é nos referido que
a liberdade condicional é revogada sempre que a condenação infrinja de forma grosseira as
regras de conduta impostas. Importa referir que se for revogada o condenado terá de voltar a
cumprir pena de prisão. Contudo, encontra se prevista a possibilidade no futuro poder ter lugar a
conceção de nova liberdade condicional.
13) Como é que a pena é determinada. Explique.
A questão da determinação da pena constitui uma operação cuja responsabilidade se reparte
entre o legislador e o juiz. Cumpre assim ao legislador estabelecer as molduras penais abstratas
aplicáveis a cada um dos tipos legais ilícitos descritos na parte especial do Código Penal e
legislação avulsa, bem como os critérios de que os aplicadores da lei devem lançar mão para
determinar concretamente a pena dentro daqueles limites. Ao juiz por sua vez caberá
respeitando os limites fixados pelo legislador bem como os critérios estabelecidos a dizer em
concreto qual a pena que deve ser aplicada ao agente. Na determinação da pena o julgador terá
duas tarefas fundamentais. A primeira será encontrar a moldura penal abstrata que se enquadra
na situação em concreto que irá procurar através do tipo ilícito sujeito a julgamento. Em segundo
será estabelecer a medida judicial da pena dentro da moldura legal antes encontrada pelo que
deve fixar pena concreta ajustada á conduta do agente.
14) Identifique as medidas penais.
No âmbito de Direito Penal vigora o principio da culpa o que significa que tem como suporte
normativo um determinado grau de culpa. A culpa é assim o limite da medida da pena o que
significa que quanto maior culpa o agente infrator revelar na prática de um facto ilícito maior será
a pena. Quanto menor for a culpa menor será a pena. Para se fundamentar um juízo de culpa e
de censura é necessário que o agente, não obstante por a capacidade de culpa e consciência da
ilicitude de facto que comete, não esteja abrangido por nenhuma causa de exclusão de ilicitude
de culpa que lhe seja proveitosa. Com efeito, o Código Penal não define a capacidade de culpa
pela positiva, na medida em que o nosso legislador optou pela via negativa afirmando quem não
é capaz de culpa é inimputável, isto nos termos dos artigos 19 e 20. As medidas de segurança
têm um carater privativo, embora se apliquem sempre após o delito. São baseados na
perigosidade do delinquente, e assim existem medidas privativas da liberdade (artigo 99).
Também existem medidas não privativas da liberdade, como dispõe o artigo 100. O fundamento
que existe para aplicar uma medida de segurança está relacionado com o facto de se suspeitar
que aquele individuo que cometeu o facto, volte a cometer o ilícito de gravidade semelhante. Já
as medidas de corrupção se aplicam aos jovens delinquentes, isto é, considerando que o nosso
ordenamento jurídico reconhece que só aos 16 anos um individuo tem plena capacidade de
culpa, ou seja, não pode ser responsabilizado por um facto punível (artigo 19).
15) Tipologia de crimes.
Em relação á tipologia de crimes podemos já distinguir crimes formais ou de mera atividade. São
aqueles em que a mera conduta típica preenche de imediato a tipo legal, isto é, o crime. A titulo
de exemplo podemos identificar o crime de excursão (artigo 223) e ainda o rapto (artigo 161).
Relativamente aos crimes de resultado, estes implicam a produção de um resultado e como
exemplo podemos usar o artigo 140 do Código Penal.
Por tipicidade entende se adequação da conduta ao tipo, ou seja, um determinado
comportamento tem de ser enquadrado numa hipótese legal, por isso quando falamos em tipo
legal estamos a refletir na descrição de um crime ou de um delito a que o legislador aconselhou.
Também podemos fazer referencia á ilicitude que se encontra em desconformidade com o
direito, ou seja, um ato é ilícito quando ofende ou poe em perigo um bem jurídico tutelado pelo
direito. No que se refere á culpabilidade é um elemento subjetivo que consiste na relação que
estabelece entre a vontade do agente em cometer o crime e a conduta que o poe em pratica
essa vontade. Esta pode manifestar se através do dolo ou através da negligencia.

16) Causas de exclusão da culpa.


As causas de exclusão da culpa ou da culpabilidade podem definir se como as circunstancias
que impedem que determinado ato considerado ilícito perante a lei seja atribuído de forma
culposa ao seu ator.
A imputabilidade poderá dividir se em 2 situações, em razão da idade ou anomalia psíquica nos
termos do artigo 19 do Código Penal. São inimputáveis os menores de 16 anos, e a esses
menores são aplicadas medidas populares educativas, entre as quais a reparação ao ofendido, a
imposição de regras de conduta e outras obrigações, a frequência de programas formativos
entre outros. Agora no que se refere á anomalia psíquica são inimputáveis todos aqueles que em
virtude de doença forem incapazes de avaliar a ilicitude do facto ou de configurarem essa
avaliação num momento da sua prática. Assim, podemos dizer que a imputabilidade constitui o
1º elemento sobre o qual recai o juiz de culpa e assim é inimputável quem por anomalia psíquica
for incapaz no momento da pratica do facto avaliar a ilicitude deste, ou de se auto determinar de
acordo com a avaliação (artigo 20 nº1).
A inexigibilidade de conduta diversa poderá ser por excesso de legitima defesa e aqui
englobamos as situações de excesso de meios em pregues resultar de meio de perturbação ou
inquietação (artigo 32 nº2). Quando se trata por excesso de meios em pregue ou de legitimidade
defesa ou ainda estado de necessidade desculpante, ou seja, quando o ato é praticado de
forma a afastar um perigo atual que ameace a vida em integridade física, honra ou a liberdade
do agente ou terceiro previsto no artigo 35.
Em relação á obediência indevida desculpante, prevista no artigo 37, sempre que o ato resulte
do cumprimento de uma ordem por parte de uma ordem por parte de um funcionário
desconhecendo que esse cumprimento conduz á pratica de um crime.
No artigo 16, é expresso o erro sobre as circunstancias de facto que incide sobre o
crime ou sobre proibições cujo conhecimento seja indispensável para que possa ter
conhecimento da ilicitude do facto.
Por último a falta de consciência de ilicitude não censurável o que se traduz aqui num
desconhecimento não censurável de que o facto era ilícito (artigo 16 e 17).

17) Erro das circunstancias de facto/ Comparação entre erro de circunstancias de facto e falta de
consciência de ilicitude.
O artigo 16 nº1 indica nos que o erro sobre os elementos de facto ou direto de um tipo de crime
ou sobre as proibições cujos conhecimentos sejam indispensáveis para que o agente tome
consciência da ilicitude do facto, exclui o dolo pelo que nos termos do artigo 16 nº3 o agente
apenas poderá ser punido a titulo de negligencia. O nº2 do artigo 16 refere-se aquelas situações
em que o agente representa erradamente que está perante uma situação objetiva de justificação.
Para estas situações de erro o referido preceito exclui o dolo. No que se refere à falta de
consciência da ilicitude resulta do artigo 17 do Código Penal que para se verificar a existência do
dolo não basta o conhecimento dos elementos do tipo e a respetiva vontade de realização sendo
necessário o conhecimento ou a consciência do carater ilícito da conduta assumida pelo agente.
Enquanto que no erro das circunstancias de facto, faltando ao agente o conhecimento da
circunstancia relevante a ausência da culpa e da censura fundam se na falta de conhecimento a
um nível da consciência psicológica ou intencional, conhecimento esse indispensável para
orientar o agente no que se refere á ilicitude. Aqui na falta de consciência de ilicitude a
consciência ética, pelo que o artigo 16 consiste num erro de conhecimento por isso é um erro de
conhecimento intelectual. O artigo 17 consiste num erro de valoração e por isso é um erro moral
e assim podemos dizer que age sem culpa quem atuar sem consciência da ilicitude do facto se o
erro não lhe for censurável, se o erro lhe for censurável o agente é punido embora veja a sua
pena a ser atenuável.
18) Obediência indevida desculpante.
Nesta situação a culpa é excluída com base numa ordem que é proveniente de um legitimo
superior hierárquico, sendo porem verdade que quando a ordem conduz a um crime o facto
praticado pelo subordinado à sombra dessa ordem será normalmente censurável que é o que
dispõe o artigo 36 nº2 do Código Penal. Isto significa se o subordinado não souber que a ordem
conduz a prática de um crime a sua culpa será excluída no quadro das circunstancias por si
representadas.
Em resume não é de exigir ao agente que ao cumprir a ordem daí resultasse a pratica de um
crime pelo que a sua conduta, embora seja ilícito deixa de ser culposo e o agente não será
punido.
19) Artigo 51 a 57
O artigo 51 é referente aos deveres que são impostos com o intuito de facilitar a readaptação
social do arguido contribui se assim para que ele tenha uma conduta correta durante o período
de suspensão evitando os danos culpados pelo cumprimento de uma pena privativa da
liberdade.
No artigo 52 o tribunal pode impor ao condenado o cumprimento do regime de conduta a que
estará obrigado durante o período da liberdade condicional.
O tribunal pode impor que o período de liberdade condicional acompanhado do regime de prova
que assenta igualmente num plano de reinserção social executado com vigilância e apoiado
pelos serviços de reinserção social, como previsto no artigo 53. No artigo seguinte, o regime de
liberdade condicional é possível aplicar um plano de reinserção social onde conste os objetivos
pelo delinquente período de liberdade condicional.
O artigo 55 traça as medidas a tomar pelo tribunal em liberdade em caso de incumprimento das
condições impostas. Poderão ser impostas novas regras de conduta ou a introdução de novas
regras.
O artigo 57 apresenta-nos duas situações, o seu nº1 dispõe que a pena é declarada distinta se
decorrido o período da sua suspensão não existam motivos que conduzam á sua revogação. O
nº2 do mesmo artigo refere que a pena só pode ser declarada extinta quando findo o período de
suspensão e se encontrar pendente processo por crime que possa determinar a sua revogação
por falta de cumprimento de deveres das regras de conduta ou do plano de reinserção.
20) Há mais de 15 anos, que Vitorino todos os dias bate na mulher Maria, que o provoca e ofende
permanentemente, aliás só se cala quando apanha do marido.
Sucede que passada sexta feira, quando Vitorino levantou a mão… ela deu lhe com a tampa de
um tacho na cabeça, tendo este ficado ferido, a sangrar e desmaiado. Assustada, fugiu..., mas
acabou por regressar uma hora depois, acompanhada de uma vizinha. Encontrou Vitorino
inanimado. Tendo sido levado para o hospital, sobreviveu.
Quid Juris?
Perante a presente ocorrência, identificam-se como intervenientes o Vitorino (marido) e a Maria
(sua mulher).
Poder-se-á afirmar que estamos na presença de factos jurídico penalmente relevantes para o
Direito Penal. Assim, há cerca de 15 anos que Vitorino pratica um facto ilícito, voluntário e
consciente e nesse sentido, tipificado pela norma jurídica penal, como crime. No caso em
apreço, poder-se-á referir a um Crime Continuado, de Ofensas à integridade física, nos termos
do artigo 143º do Código Penal, por parte de Vitorino, relativamente a Maria.
Diz-nos, contudo, o nº2 do mesmo artigo, que o procedimento criminal depende de queixa, o que
no caso em concreto, nunca ocorreu até ao momento, por parte da alegada vítima, Maria.
Face ao exposto, resulta que a Maria também “provocava” Vitorino, de que resulta que sempre
“consentiu” nas ofensas à sua integridade física, até ao momento em que reagiu, contra o
marido.
Aqui, poderemos colocar a hipótese de estarmos perante o Consentimento, plasmado no artigo
38º do Código Penal, que se consubstancia numa causa de Exclusão da Ilicitude, prevista no
artigo 32 nº2 alínea d) do Código Penal.
Considerando que certo dia Maria reagiu contra Vitorino, “dando-lhe com a tampa de um tacho
na cabeça” e que o deixou, feriado a sangrar e desmaiado, também ela incorreu nos termos do
artigo 143º em ofensa à integridade física, porém, dispõe o mesmo artigo no seu nº3 alínea b)
que pode o tribunal dispensar de pena quando “o agente tiver unicamente exercido retorsão
sobre o agressor”. E integra-se no caso supra descrito.
Também se poderá considerar como válida a referencia à violência doméstica, do artigo 152.
Exercida por ambas.
Quanto ao facto, de Maria ter deixado o seu marido desmaiado e ter regressado 1 hora depois,
na companhia de uma vizinha, estamos perante uma Omissão de auxilio, prevista e punida no
artigo 200 nº2 do Código Penal, considerando que o omitente foi o agente que praticou o crime
(Maria).
Aqui importa relembrar o artigo 10 do Código Penal que equipara a ação à omissão, para efeitos
de punição.
Pelo que, a moldura penal a aplicar aos intervenientes, Vitorino e Maria, serão determinadas
pela moldura penal legalmente aplicável aos ilícitos praticados (previsão de pena para os crimes)
e pelos critérios dos artigos 70 e 71 do Código Penal.

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