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Erro de Tipo

1. ERRO DE TIPO ESSENCIAL

Em primeiro lugar, vamos observar o que diz o Código Penal:

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o


dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

ERRO é isso mesmo que você entende. O agente ERRA. A pessoa ERRA sobre
alguma coisa.

No erro de tipo essencial, o ERRO do agente recai sobre um elemento


ESSENCIAL do TIPO PENAL. Vou dar um exemplo.

O CP assim tipifica o crime de “estupro de vulnerável”:

Estupro de vulnerável Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato
libidinoso com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15
(quinze) anos.

Veja que esse TIPO penal contém vários elementos, dentre eles, que a “vítima”
seja menor de 14 anos.

Assim, se por uma falsa percepção da realidade, uma agente mantém relações
sexuais com uma jovem de 13 anos (que estava em casa noturna para maiores,
tendo mentido a idade, por exemplo). Claramente esse agente NÃO tinha
DOLO em praticar “estupro de vulnerável”, pois esse motivo, seu ERRO exclui
do DOLO.

No caso, haveria um ERRO sobre um ELEMENTO ESSENCIAL do TIPO


penal: a idade da “moça”.

Tudo bem, houve ERRO DE TIPO. E daí? Qual a consequência? Qual o efeito?

Como já dito, o ERRO exclui do DOLO.

Havendo ERRO DE TIPO, a possível punir a conduta como crime CULPOSO?

A resposta é DEPENDE.

Se o ERRO DE TIPO era INEVITÁVEL (invencível), haverá também a exclusão


da CULPA (por isso esse erro também é chamado de DESCULPÁVEL ou
ESCUSÁVEL).

No entanto, se o ERRO DE TIPO era EVITÁVEL (vencível), o agente poderá ser


punido por CULPA (por isso esse erro também é chamado de
INDESCULPÁVEL ou INESCUSÁVEL). Ressalta-se apenas que haverá crime
se prevista punição para a modalidade culposa.

2. ERRO DETERMINADO POR TERCEIRO

Veja o que diz o Código Penal:

Art. 20 - (…) Erro determinado por terceiro § 2º - Responde pelo crime o


terceiro que determina o erro.

Nesses casos, o terceiro (por dolo ou culpa) leva o agente ao ERRO.

Em outras palavras, o agente comete o crime devido a um erro, mas esse erro foi
determinado (induzido) por um terceiro.

O texto legal foi claro: o terceiro (indutor) responde pelo crime.

E o induzido, responde por algum crime?

Depende.

Se o erro for INEVITÁVEL, o induzido não responde pelo crime.

Entretanto, é permitida a punição do induzido, na modalidade culposa, se o erro


for EVITÁVEL.

3. ERRO DE TIPO ACIDENTAL

Como explicado, no erro de tipo essencial, o ERRO do agente recai sobre um


elemento ESSENCIAL do TIPO PENAL (uma ELEMENTAR do tipo penal).

Já no erro de tipo ACIDENTAL, o ERRO o agente recai sobre um elemento


acessório (que não é elementar do tipo penal). Nesses casos, não há exclusão
de dolo.

Vamos aos principais casos:

3.1 Erro sobre a pessoa

Veja o que diz o Código Penal:

Art. 20 (...) § 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não
isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da
vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.

Vamos exemplificar.
O agente quer matar alguém, mas por ERRO DE PERCEPÇÃO, mata outra
pessoa. Em outras palavras, ele se confunde. José quer matar a própria mãe, mas,
por um erro de percepção, mata uma tia.

O direito penal considera o que o agente buscou fazer.

O direito penal considerará que ele “matou” a própria mãe (e não tia). Em outras
palavras, não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima,
senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.

Esse tipo de situação é importante na aplicação de algumas agravantes ou


atenuantes de pena. Por exemplo, matar a própria mãe é uma agravante.

3.2 Erro na execução

Também conhecido como aberratio ictus.

Como o próprio nome já diz, o agente ERRA o alvo, ou seja, comete um erro na
execução do crime, atingindo pessoa diversa da pretendida.

Preste atenção nos nomes. Deste modo, você não se confunde.

No erro sobre a pessoa, o agente erra sobre a vítima (ele confunde um pessoa
com outra).

No erro na execução, o agente erra no momento de executar o crime. Ele não


confunde as pessoas, ele identifica corretamente a vítima, porém, é ruim de
“pontaria”, e atinge outra pessoa. Erra na execução.

Os efeitos, no entanto, são os mesmos. No erro na execução também não se


consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa
contra quem o agente queria praticar o crime.

3.3 Aberratio criminis

Segundo a doutrina o aberratio delicti (criminis) ocorre quando, ao invés de


acertar o bem jurídico desejado, por ERRO, o agente atinge outro bem jurídico.

O exemplo clássico é da pessoa que atingir uma vidraça de uma loja, mas por
erro na execução do delito, atinge e mata o vendedor.

Assim, a aberratio delicti é uma das hipóteses de resultado diverso do


pretendido, no qual o agente por inabilidade ou a9cidente atinge bem jurídico
diverso do pretendido.

Se apenas o bem não desejado for atingido (vendedor), o agente responderá pelo
crime referente ao bem atingido na modalidade culposa.
Ressalta-se que na hipótese dos dois bens serem atingidos (a vidraça e o
vendedor), o agente responderá pelos dois delitos em concurso formal.

Saudações.

A respeito dos erros no direito penal, julgue o item a seguir. Considere, a


propósito, que a sigla CP, quando empregada, refere-se ao Código Penal.

No caso de aberratio causae, há erro de tipo acidental e o CP determina para tal


caso a responsabilização do agente pelo resultado efetivamente produzido, em
adoção da teoria da concretização.

De fato, o erro acerca do nexo causal ou aberratio causae, é espécie de erro de tipo
acidental, que é aquele erro que incide sobre dados irrelevantes da figura típica.
Nesse sentindo, Capez citando Jescheck, aduz que “se o objeto da ação típica imaginado
equivale ao real, o erro será irrelevante, por tratar-se de um puro erro nos motivos”.
Nesse sentido, o erro sobre o nexo causal (aberratio causae), ocorre quando o agente,
supondo já ter consumado o crime, realiza nova conduta, pensando tratar-se de mero
exaurimento, mas atingindo nesse momento a consumação (CAPEZ, 2018).
Não obstante, haver alguns entendimentos doutrinários no sentido que a aberratio
causae e o dolus generalis são institutos idênticos, na verdade são distintos, pois no erro
sobre o nexo causal, há um único ato, e, já no dolo geral, há dois atos distintos
(MASSON, 2021).
Desta feita, quando ocorre o erro de tipo acidental, em qualquer de suas hipóteses (erro
sobre o objeto; sobre a pessoa; na execução; resultado diverso do pretendido; sobre o
nexo causal), não excluirá o dolo e nem a culpa, ou seja, o agente será responsabilizado
pelo resultado produzido.
Portanto, no caso de aberratio causae, há erro de tipo acidental e o Código Penal
determina, nos casos de erro acidental a responsabilização do agente pelo resultado
efetivamente produzido, não tendo relação com a teoria da concretização, que, por
sua vez, determina que haja responsabilização pelo que de concreto ocorreu.
Diante do exposto, o presente item foi considerado ERRADO.

Prezado concurseiro, de acordo com o estabelecido no texto do Código Penal


brasileiro, indique a assertiva CORRETA.
a) Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver
causado dolosamente.

INCORRETA, por contrariar o disposto no art. 19 do Código Penal, senão vejamos:


Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o
houver causado ao menos culposamente.
b) Não responde pelo crime o terceiro que determina o erro.

INCORRETA, por contrariar o disposto no art. 20, §2º do Código Penal, senão
vejamos:

Art. 20, § 2º - Responde pelo crime o terceiro que determina o erro.


c) A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando,
por si só, produziu o resultado.

CORRETA, nos exatos termos do §1º do art. 13 do Código Penal, senão vejamos:

Art. 13, § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a


imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto,
imputam-se a quem os praticou.

d) O desconhecimento da lei é escusável.

INCORRETA, por contrariar o disposto no art. 21 do Código Penal, senão vejamos:

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se


inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

Art. 73 - Quando, por acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, ao
invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como
se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no § 3º do art.
20 deste Código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia
ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.

Art. 20. § 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de
pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da
pessoa contra quem o agente queria praticar o crime.

Erro sobre elementos do tipo

Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas
permite a punição por crime culposo, se previsto em lei.

Concurso formal

Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais,
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As
penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os
crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo
anterior.
Lembrando que aberratio ictus (erro de tipo acidental quanto à execução) com unidade
complexa, ou resultado duplo, ocorre quando o agente vem a atingir a vítima virtual
e também a vítima real.

Não confunda com a aberratio ictus com unidade simples, ou com resultado único,
quando outra pessoa, dita virtual, que não a visada pelo agente, vem a sofrer a lesão
gerada pela conduta.

Código Penal

Art. 21 - O desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se


inevitável, isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.

Neste caso, o examinador tentou confundir o candidato. Por isso atenção ao efeito se
o erro sobre a ilicitude do fato for evitável e se for inevitável. Eis um detalhe
importante. Se inevitável, isenta de pena

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