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Direitos Humanos
Professor Luís Henrique Linhares Zouein
FUNDAÇÃO ESCOLA SUPERIOR DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
• Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem (DADDH), também de 1948 – anterior à DUDH!
• Formalmente, não possui natureza de tratado.
• Não previu mecanismos de proteção.
• Prevê direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais em espécie.
• Opinião Consultiva n. 10 (Corte IDH), de 1989:
• (i) a Declaração Americana consiste em interpretação autêntica do sentido e alcance do conceito de
direitos humanos positivado na Carta da OEA;
• (ii) a Declaração é fonte de obrigações internacionais dos Estados-membros da OEA.
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969):
• Editada em 1969.
• Estrutura da CADH:
• Parte I: deveres dos Estados e direitos protegidos.
• Parte II: meios de proteção.
• Existência de 2 “subsistemas”:
• Subsistema da OEA.
• Subsistema da CADH.
• Círculos concêntricos?
Convenção Americana sobre Direitos Humanos (1969):
• “Em primeiro lugar, trata-se de um sistema engendrado no seio da
própria OEA e que conta inclusive com a participação ativa de um órgão
principal da OEA, que é a Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
• Em segundo lugar, o financiamento do sistema da Convenção é feito pela
OEA e os membros do segundo sistema são, sem exceção, membros do
primeiro.
• Em terceiro lugar, as regras do primeiro sistema são subsidiariamente
aplicáveis ao segundo, de acordo com o disposto no artigo 29, ‘b’ da
Convenção Americana (...).
• Na realidade, temos dois círculos concêntricos: um círculo amplo
composto pelo sistema da Carta da OEA, com 35 Estados dessa
Organização; um círculo menor, composto por 23 Estados, que
ratificaram a Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH).
• Os dois sistemas comungam, na essência, da mesma origem, a OEA. A
diferença está no compromisso mais denso firmado pelos integrantes
do segundo sistema, que conta inclusive com um tribunal especializado
em direitos humanos, a Corte Interamericana de Direitos Humanos”.
• RAMOS, André de Carvalho. Processo Internacional de Direitos Humanos: análise dos
mecanismos de apuração de violação de direitos humanos e a implementação das
decisões no Brasil. São Paulo: SaraivaJur, 2022, p. 221-222.
Órgão de proteção do SIDH:
PARTE II
MEIOS DA PROTEÇÃO
CAPÍTULO VI
ÓRGÃOS COMPETENTES
Artigo 33
• São competentes para conhecer dos assuntos relacionados com o cumprimento dos compromissos assumidos
pelos Estados Partes nesta Convenção:
• CIDH como o “Ministério Público Interamericano” (Siddharta Legale; André de Carvalho Ramos).
Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH):
• Funções:
• Art. 106 da Carta da OEA: “Haverá uma Comissão Interamericana de Direitos Humanos que terá por principal função promover o respeito e a defesa
dos direitos humanos e servir como órgão consultivo da Organização em tal matéria.” – DPERO / Cespe / 2023.
• Art. 41 da CADH:
• a. estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América;
• b. formular RECOMENDAÇÕES aos governos dos Estados membros, quando o considerar conveniente, no sentido de que adotem medidas
progressivas em prol dos direitos humanos no âmbito de suas leis internas e seus preceitos constitucionais, bem como disposições
apropriadas para promover o devido respeito a esses direitos;
• c. preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes para o desempenho de suas funções;
• d. solicitar aos governos dos Estados membros que lhe proporcionem informações sobre as medidas que adotarem em matéria de direitos
humanos;
• e. atender às consultas que, por meio da Secretaria-Geral da Organização dos Estados Americanos, lhe formularem os Estados membros sobre
questões relacionadas com os direitos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar-lhes o assessoramento que eles lhe solicitarem;
• f. atuar com respeito às petições e outras comunicações, no exercício de sua autoridade, de conformidade com o disposto nos artigos 44 a 51
desta Convenção; e
• g. apresentar um relatório anual à Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos.
• Possibilidade de instituir relatorias ou grupos de trabalhos específicos, por país ou por tema (art. 15
do Regulamento da CIDH).
Relatorias temáticas da CIDH:
1. Relatoria sobre os Direitos dos Povos Indígenas, criada em 1990;
2. Relatoria sobre Direitos da Mulher, criada em 1994;
3. Relatoria sobre os Direitos dos Pessoas Migrantes, criada em 1996;
4. Relatoria Especial para a Liberdade de Expressão, criada em 1997; (DPEPB / FCC / 2022)
5. Relatoria sobre dos Direitos da Criança e Adolescentes, criada em 1998;
6. Relatoria sobre Defensores de Direitos Humanos, criada em 2001;
7. Relatoria sobre os Direitos das Pessoas Privadas de Liberdade, criada em 2004;
8. Relatoria sobre os Direitos dos Afrodescendentes e contra a Discriminação Racial, criada em
2005;
9. Relatoria sobre os Direitos de Pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Trans e Intersex, criada em
2014;
10. Relatoria Especial para Direitos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais, criada em 2017;
11. Relatoria sobre Memória, Verdade e Justiça, criada em 2019;
12. Relatoria sobre os Direitos do Idoso, criada em 2019;
13. Relatoria sobre os Pessoas com Deficiência, criada em 2019.
Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH):
• Origem:
• Órgão criado pela CADH (1969).
• Nascimento em 1978 (com a entrada em vigor da CADH).
• Início efetivo dos trabalhos em 1982 (primeiras manifestações).
• Lembrete: para se levar um caso à CIDH, o Estado denunciado não precisa ser signatário da CADH.
• Estados signatários da CADH: principal fonte.
• Estados não signatários: Carta da OEA e Declaração Americana.
• Além da prova documental, admite-se a produção de prova testemunhal, por exemplo (art. 39.2 c/c art.
64 do Regulamento da CIDH).
• Mesmo nos casos submetidos à Corte por um Estado, exige-se etapa prévia perante a CIDH (art. 61.2 da
CADH).
• Defensor Interamericano.
• Sentenças vinculantes!
• Definitivas e inapeláveis (art. 67 da CADH).
• Art. 68.1 da CADH: “Os Estados Partes na Convenção comprometem-se a cumprir a decisão da Corte em todo caso em que forem partes.”
• E se o Estado não for parte? “Res interpretata”.
• Art. 1º, inciso III, c/c 4º, inciso II, da CRFB: primazia dos direitos humanos.
• Art. 7º do ADCT: “O Brasil propugnará pela formação de um tribunal internacional dos direitos humanos.”
• Boa-fé e pacta sunt servanda (Convenção de Viena e CADH).
• Recomendação n. 123/22 do CNJ: “observância dos tratados e convenções internacionais de direitos humanos em vigor no Brasil e a utilização da
jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH)” (art. 1º, inciso I);
• Recomendação n. 96/23 do CNMP: reconhece expressamente “o efeito vinculante das decisões da Corte Interamericana de Direitos Humanos, nos casos em
que o Brasil é parte” (art. 2º, inciso II).
• A) por Estado-membro da Organização dos Estados Americanos que não seja parte no Pacto de São José da Costa Rica, entre
outros legitimados, podendo versar sobre a compatibilidade de decisões das cortes constitucionais dos Estados
subordinados à sua jurisdição com a Convenção Americana e outros tratados de direitos humanos.
• B) pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e pelos comitês temáticos da Organização dos Estados Americanos,
entre outros legitimados, podendo versar sobre a interpretação da própria Convenção Americana sobre Direitos Humanos e
outros diplomas regionais, excetuada a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem.
• C) apenas pelos Estados-membros da Organização dos Estados Americanos subordinados à jurisdição da Corte IDH, podendo
versar sobre a compatibilidade entre a normativa interamericana de direitos humanos e qualquer de suas leis internas,
excluídas normas de natureza constitucional.
• D) pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, entre outros legitimados, podendo versar sobre todos os tratados
internacionais de proteção dos direitos humanos, mesmo aqueles concluídos fora do contexto da Organização dos Estados
Americanos, desde que eles sejam aplicáveis em pelo menos um dos Estados-membros da Organização.
• E) apenas pelos Estados subordinados à jurisdição da Corte IDH, pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e pela
própria Corte IDH, de ofício, podendo versar sobre a interpretação da Convenção Americana ou de outros tratados
concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos.
Ano: 2022 Banca: FCC Órgão: DPE-AP
• A FUNÇÃO CONSULTIVA da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), conforme previsão da normativa
internacional na interpretação que lhe dá a própria Corte IDH, pode ser demandada,
• A) por Estado-membro da Organização dos Estados Americanos que não seja parte no Pacto de São José da Costa
Rica, entre outros legitimados, podendo versar sobre a compatibilidade de decisões das cortes constitucionais dos
Estados subordinados à sua jurisdição com a Convenção Americana e outros tratados de direitos humanos.
• B) pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e pelos comitês temáticos da Organização dos Estados
Americanos, entre outros legitimados, podendo versar sobre a interpretação da própria Convenção Americana sobre
Direitos Humanos e outros diplomas regionais, excetuada a Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem.
• C) apenas pelos Estados-membros da Organização dos Estados Americanos subordinados à jurisdição da Corte IDH,
podendo versar sobre a compatibilidade entre a normativa interamericana de direitos humanos e qualquer de suas
leis internas, excluídas normas de natureza constitucional.
• D) pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, entre outros legitimados, podendo versar sobre TODOS os
tratados internacionais de proteção dos direitos humanos, mesmo aqueles concluídos fora do contexto da
Organização dos Estados Americanos, desde que eles sejam aplicáveis em pelo menos um dos Estados-membros da
Organização. (assertiva a ser marcada)
• E) apenas pelos Estados subordinados à jurisdição da Corte IDH, pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e
pela própria Corte IDH, de ofício, podendo versar sobre a interpretação da Convenção Americana ou de outros
tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos.
Competência consultiva da Corte IDH:
• Fundamento convencional da jurisdição consultiva (art. 64 da CADH):
• 1. Os Estados membros da Organização poderão consultar a Corte sobre a interpretação desta Convenção ou de outros tratados
concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão consultá-la, no que lhes compete, os
órgãos enumerados no capítulo X da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires.
• 2. A Corte, a pedido de um Estado membro da Organização, poderá emitir pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de
suas leis internas e os mencionados instrumentos internacionais.
• Legitimados:
• (i) Comissão;
• (ii) Estados-membros da OEA (incluindo aqueles que não sejam partes da CADH);
• (iii) assim como órgãos da OEA a respeito de matérias de sua competência.
• Obs: impossibilidade de iniciar OC de ofício.
• Parâmetro: QUALQUER tratada internacional de que os países membros sejam signatários (inclusive do sistema global).
• (i) CADH;
• (ii) outros tratados do Sistema Interamericano;
• (iii) outras convenções de direitos humanos que se apliquem nas Américas por terem sido retificados pelo Estado envolvido,
mesmo que Estados de outras regiões também sejam partes.
• A peculiaridade brasileira:
• “Entre as ditaduras do Cone Sul, o Brasil é o país que menos evoluiu em termos de justiça de transição. (...) o processo brasileiro,
desde o ponto de vista do Estado, segue privilegiando o tema das reparações (...). Contudo, é o único país do Cone Sul que ainda não
julgou criminalmente políticos. (...) os militares seguem comemorando a ‘Revolução de 64’ todo dia 31 de março, os desaparecidos
seguem desaparecidos e seus familiares sem nenhum acesso a qualquer informação sobre seu paradeiro. Práticas estas que seguem
presentes na violência policial contra pessoas que habitam os bairros mais pobres, como as favelas do Rio de Janeiro.” (Renata
Tavares)
Elementos, dimensões ou facetas da justiça de transição:
• 1. Direito à verdade;
• 2. Direito à memória;
• Direito ao luto?
• 3. Direito à reparação;
• 4. Direito à justiça;
• “(...) as atrocidades cometidas pelo Estado nesta época, ‘devem ser relembradas, recordadas e jamais esquecidas,
pois fazem parte da identidade constitucional brasileira’.” (Bernardo Gonçalves)
• Direito ao esquecimento: “Se ele existe, certamente não se refere ao conhecimento das graves violações contra
os direitos humanos. (...) Invocar o ‘direito ao esquecimento’ em um caso como este cria um perigoso precedente
que pode ser utilizado para quaisquer outras graves violações de direitos humanos que venham a ser praticadas,
e que, pela sua própria natureza demandam a sua memória, não para a perpetuação do ressentimento ou para o
alimento da vingança (...), mas sim para que, ao mesmo tempo, se faça a justiça (não vingança) a crimes
imprescritíveis e para que não se repitam.” (Cristiano Paixão Araújo Pinto, Marcelo Cattoni, Emilio Peluso Meyer,
José Carlos Moreira da Silva Filho e Marcelo D. Torelly)
Direito à verdade e à memória:
• Comissão Nacional da Verdade e a Lei n. 12.528/11:
• Art. 1º É criada, no âmbito da Casa Civil da Presidência da República, a Comissão Nacional da Verdade, com a finalidade de examinar e esclarecer as
graves violações de direitos humanos praticadas no período fixado no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a fim de efetivar o
direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional.
• Art. 3º São objetivos da Comissão Nacional da Verdade:
• I - esclarecer os fatos e as circunstâncias dos casos de graves violações de direitos humanos mencionados no caput do art. 1º ; (...)
• VI - recomendar a adoção de medidas e políticas públicas para prevenir violação de direitos humanos, assegurar sua não repetição e promover a
efetiva reconciliação nacional; e
• VII - promover, com base nos informes obtidos, a reconstrução da história dos casos de graves violações de direitos humanos, bem como colaborar
para que seja prestada assistência às vítimas de tais violações.
• Art. 4º, § 4º As atividades da Comissão Nacional da Verdade não terão caráter jurisdicional ou persecutório.
• A posição do STF: “(...) A circunstância de o Estado requerente ter qualificado os delitos imputados ao extraditando como de lesa-
humanidade não afasta a sua prescrição, porquanto (a) o Brasil não subscreveu a Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de
Guerra e dos Crimes contra a Humanidade, nem aderiu a ela; e (b) apenas lei interna pode dispor sobre prescritibilidade ou
imprescritibilidade da pretensão estatal de punir”. (STF. Plenário. Ext 1362, Rel. Min. Edson Fachin, Rel. p/ Acórdão Min. Teori Zavascki,
julgado em 09/11/2016)
• A posição do STJ: “O disposto na Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade não
torna inaplicável o art. 107, inciso IV, do Código Penal. (...) considerou-se inaplicável o jus cogens, prevalecendo o entendimento no
sentido de que a qualificação do crime como de lesa-humanidade não afasta a sua prescrição, porquanto: (a) o Brasil não subscreveu
a Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade, nem aderiu a ela; e (b) apenas lei
interna pode dispor sobre prescritibilidade ou imprescritibilidade da pretensão estatal de punir (...). Não se coaduna com a ordem
constitucional vigente, admitir a paralisação da eficácia da norma que disciplina a prescrição, com o objetivo de tornar imprescritíveis
crimes contra a humanidade, por se tratar de norma de direito penal que demanda, da mesma forma, a existência de lei em sentido
formal. Ademais, se deve igual observância ao princípio da irretroatividade. Portanto, não é possível tornar inaplicável o disposto no art.
107, IV, do CP, em face do disposto na Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade,
sob pena de se vulnerar o princípio constitucional da legalidade e da irretroatividade, bem como a própria segurança jurídica, com
consequências igualmente graves, em virtude da mitigação de princípios relevantes à própria consolidação do Estado Democrático de
Direito.” (STJ. 3ª Seção. REsp 1.798.903-RJ, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/09/2019 - Info 659).
• 2ª função: garantir o acesso à justiça das vítimas ou seus familiares na qualidade de “assistente de acusação”.
• “(...) com a nova lei [LC 132/09, que alterou a LC 80/94] se abre uma grande quantidade de possibilidades. Se os
imputados nos crimes contra a humanidade têm direito ao Defensor, também os familiares e as vítimas dos atos.
(...) a participação das vítimas e de seus familiares pode ocorrer por meia da atuação do ‘assistente de acusação’.
Mas também nos casos de omissão do Ministério Público a Defensoria pode atuar.”