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CURSO PREPARATÓRIO PARA 1ª FASE DO 37º EXAME DA ORDEM DOS

ADVOGADOS DO BRASIL (OAB)


Direitos Humanos
2 Fábio Barbosa

APRESENTAÇÃO

Estimados Guerreiros e Guerreiras!

É com muita alegria que apresentamos o módulo de Direitos Humanos do preparatório para 38º
exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Sejam todos muito bem-vindos!

Preparei esse roteiro pensando no seu exame e sabendo da importância desses temas para sua prova,
então, valerá a pena o nosso esforço durante essas aulas!

Nosso módulo não dispensa suas anotações pessoais e, principalmente, a leitura e os grifos dos
dispositivos específicos de cada assunto que abordaremos. Utilize, portanto, o seu Vade Mecum (1ª Fase
da OAB e Concursos) e vamos juntos!

Espero que vocês tenham um excelente proveito!

Receba o nosso sincero abraço!

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A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E OS


DIREITOS HUMANOS
“Direitos humanos são o conjunto de direitos previstos em
instrumentos internacionais que proporcionam a todos os
seres, independentemente de qualquer condição, a base
essencial para que tenham uma vida digna e para que se
protejam contra violações praticadas ou toleradas pelo
Estado.” (Caio Paiva)

• O Direito Internacional dos Direitos Humanos constitui um movimento extremamente recente na


história, surgindo, a partir do Pós-Guerra, como resposta às atrocidades cometidas durante o
nazismo. É neste cenário que se desenha o esforço de reconstrução dos direitos humanos, como
paradigma e referencial ético a orientar a ordem internacional contemporânea.
• Uma das principais preocupações desse movimento foi converter os direitos humanos em tema
de legítimo interesse da comunidade internacional, o que implicou nos processos de
universalização e internacionalização desses mesmos direitos.
• Ao acolher o aparato internacional de proteção, bem como as obrigações internacionais dele
decorrentes, o Estado passa a aceitar o monitoramento internacional, no que se refere ao modo
pelo qual os direitos fundamentais são respeitados em seu território. O Estado passa, assim, a
consentir no controle e na fiscalização da comunidade internacional quando, em casos de violação a
direitos fundamentais, a resposta das instituições nacionais se mostra insuficiente e falha, ou, por
vezes, inexistente. Enfatize-se, contudo, que a ação internacional é sempre uma ação
suplementar, constituindo uma garantia adicional de proteção dos direitos humanos.
• Enfatize-se que a Constituição brasileira de 1988, como marco jurídico da institucionalização
dos direitos humanos e da transição democrática no país, ineditamente, consagra o primado do
respeito aos direitos humanos como paradigma propugnado para a ordem internacional.
• Os direitos humanos trazem um valor ético, pois, seu fundamento está na dignidade da pessoa
humana.

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DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS (DUDH) – 1948


 Maior referência da internacionalização dos direitos humanos > pós a segunda guerra mundial.
 A Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é um documento criado para estabelecer
medidas que garantam direitos básicos para uma vida digna. O objetivo da Declaração é que os
direitos humanos sejam assegurados a todos os cidadãos do mundo.

 Os princípios essenciais dos direitos humanos enunciados pela primeira vez na DUDH –
universalidade, interdependência e indivisibilidade, igualdade e não-discriminação – são
cruciais para a realização da justiça.

PRECEDENTES HISTÓRICOS DO DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO

 DECLARAÇÃO DE DIREITOS DO BOM POVO DA VIRGINIA (1776) – Foco na liberdade,


propriedade e segurança. A Declaração de Direitos de Virgínia é uma declaração de direitos
estadunidense de 1776, que se inscreve no
contexto da luta pela independência dos
Estados Unidos da América. Precede a
Declaração de Independência dos Estados
Unidos da América e, como ela, é de nítida
inspiração iluminista e contratualista.

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 DECLARAÇÃO DE DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADÃO (1789)


– Documento culminante da Revolução Francesa, que
define os direitos individuais e coletivos dos homens
como universais. Conservação dos direitos naturais
(liberdade, propriedade, segurança e resistência a
opressão).

 DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DO POVO


TRABALHADOR E EXPLORADO (1918) –
Direitos sociais, com foco na justiça social, fim
da propriedade dos meios fundamentais de
produção, tratando do comunitarismo. Visa
suprimir a exploração do homem pelo homem,
a abolir completamente a divisão da sociedade
em classes, a esmagar implacavelmente todos os exploradores, a instalar a organização socialista
da sociedade e a fazer triunfar o socialismo em todos os países. Visa a socialização do solo, sendo
extinta a propriedade privada da terra, onde todas as terras passam a ser patrimônio nacional e
são confiadas aos trabalhadores sem nenhuma espécie de reembolso, na base de uma repartição
igualitária em usufruto.

 DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO (DIREITO INTERNACIONAL DE GUERRA) –


Convenção de Genebra de 1864, Segunda Convenção de
Genebra de 1907, Terceira Convenção de Genebra de
1929 e Quarta Convenção de Genebra de 1949.

 LIGA DAS NAÇÕES – Relativização da soberania dos Estados. Criado em1920 para a proteção das
minorias após a Primeira Guerra.

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 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT) – Criada


após a 1ª Guerra Mundial, contemporânea à Liga das
Nações. Hoje é uma agência especializada da ONU.
Estabeleceu parâmetros normativos fundamentais
para a proteção de determinados direitos sociais.

CONCEPÇÃO CONTEMPORÂNEA
• A concepção atual de direitos humanos reproduz uma ideologia individualista do ser humano,
exclusivista, partindo deste pressuposto, percebe-se que o conceito de direitos do homem se
manifesta sob um viés antropocentrista que dificulta inclusive a efetivação e difusão desses direitos
ao redor do mundo.

A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E OS DIREITOS HUMANOS


• A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948, pela Assembleia Geral das Nações
Unidas, assinala o princípio da humanidade e da dignidade já no seu preâmbulo:
“Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os
membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis constitui
o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo (…). Considerando
que as Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nos direitos
fundamentais do homem, na dignidade e valor da pessoa humana (…)”.

• A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de 1969, estabelece, em seu art. 11, § 1º, que
“Toda pessoa humana tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade”.
• A dignidade da pessoa humana abrange uma diversidade de valores existentes na sociedade.
Preceitua Ingo Wolfgang Sarlet ao conceituar a dignidade da pessoa humana:
“[...] temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e
distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e
consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste
sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a
pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano,
como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida
saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-
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responsável nos destinos da própria


existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos”.

CLASSIFICAÇÃO E CONTEÚDO DOS DIREITOS HUMANOS


CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS
I) Historicidade - os direitos fundamentais apresentam natureza histórica, advindo do
Cristianismo, superando diversas revoluções até chegarem aos dias atuais;
II) Universalidade – alcançam a todos os seres humanos indistintamente; nesse sentido fala-se
em “Sistema Global de Proteção de Direitos Humanos”;
III) Inexauribilidade – são inesgotáveis no sentido de que podem ser expandidos, ampliados e
a qualquer tempo podem surgir novos direitos (vide art. 5º, § 2º, CF);
IV) Essencialidade – os direitos humanos são inerentes ao ser humano, tendo por base os
valores supremos do homem e sua dignidade (aspecto material), assumindo posição normativa
de destaque (aspecto formal).
V) Imprescritibilidade – tais direitos não se perdem com o passar do tempo;
VI) Inalienabilidade – não existe possibilidade de transferência, a qualquer título, desses
direitos;
VII) Irrenunciabilidade – deles não pode haver renúncia, pois ninguém pode abrir mão da
própria natureza;
VIII) Inviolabilidade – não podem ser violados por leis infraconstitucionais, nem por atos
administrativos de agente do Poder Público, sob pena de responsabilidade civil, penal e
administrativa;
IX) Efetividade – A Administração Pública deve criar mecanismos coercitivos aptos a efetivação
dos direitos fundamentais;
X) Limitabilidade - os direitos não são absolutos, sofrendo restrições nos momentos
constitucionais de crise (Estado de Sítio) e também frente a interesses ou direitos que, acaso
confrontados, sejam mais importantes (Princípio da Ponderação);
XI) Complementaridade – os direitos fundamentais devem ser observados não isoladamente,
mas de forma conjunta e interativa com as demais normas, princípios e objetivos estatuídos pelo
constituinte;
XII) Concorrência – os direitos fundamentais podem ser exercidos de forma acumulada,
quando, por exemplo, um jornalista transmite uma notícia e expõe sua opinião (liberdade de
informação, comunicação e opinião).
XIII) Vedação do retrocesso – os direitos humanos jamais podem ser diminuídos ou reduzidos
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no seu aspecto de proteção (O Estado não pode proteger menos


do que já vem protegendo).

DIMENSÕES/GERAÇÕES DE DIREITOS HUMANOS


• Classicamente, os direitos humanos são classificados, segundo a Teoria Geracional, em quatro
gerações de direitos, a saber:
→ Direitos humanos de 1ª GERAÇÃO são aqueles que dizem respeito aos direitos civis e
políticos, relacionando-se ao valor de liberdade.
→ Direitos humanos de 2ª GERAÇÃO são aqueles que dizem respeito aos direitos sociais,
culturais e econômicos, relacionando-se, assim, com os valores de igualdade.
→ Direitos humanos de 3ª GERAÇÃO são aqueles que dizem respeito aos direitos dos povos,
objetivando o respeito mútuo, o preservacionismo ambiental, uma distribuição melhor da
renda, por exemplo. Ou seja, fraternidade.
o Segundo LENZA (2008, p. 588), “os direitos de terceira geração emergiram do fato de
o ser humano estar inserido em uma coletividade e a partir daí ter direitos de
solidariedade.”
• Essas três primeiras gerações de direitos foram relacionadas respectivamente aos ideais e
princípios de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa.
→ Já os direitos humanos de 4ª GERAÇÃO referem-se aos direitos decorrentes da engenharia
genética.
• Além dessas quatro gerações de direitos humanos, há alguns autores que assinalam a existência de
uma quinta geração, relacionada aos direitos da informática.

• A Teoria Geracional dos direitos humanos é bastante questionada e combatida pela doutrina mais
atual, pois o termo geração confere uma ideia de sucessão ou substituição da geração anterior
pela posterior.

VIGÊNCIA E EFICÁCIA DAS DIMENSÕES DE DIREITOS HUMANOS


• De acordo, com o art. 5º, § 1º, da CRFB/88, as normas relativas às garantias e aos direitos
fundamentais possuem eficácia plena e imediata. Isso significa, que essas normas jurídicas não
precisarão da atuação do legislador infraconstitucional, para poderem ser efetivadas. Essas normas,
portanto, não precisarão receber regulamentação legal para serem eficazes. Assim, as mesmas
poderão ser aplicadas pelo intérprete imediatamente aos casos concretos.
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• O STF consagrou na jurisprudência pátria a teoria da eficácia


direta e imediata dos direitos fundamentais nas relações privadas, ao admitir que as
sociedades privadas devem obediência aos direitos fundamentais, e quando quiserem excluir um
sócio, deverão obedecer aos direitos fundamentais da ampla defesa, do contraditório e do devido
processo legal. Assim, a teoria da eficácia direta e imediata dos direitos fundamentais nas relações
privadas é um importante instrumento de efetivação dos direitos fundamentais.

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TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL (TPI)


– ESTATUTO DE ROMA

 O Estatuto de Roma é um tratado que estabeleceu a Corte Penal Internacional - CPI (também
conhecida como Tribunal Penal Internacional - TPI). O tratado foi adotado em 17 de julho de 1998,
em Roma, na Itália.
 Na oportunidade, 122 Estados assinaram o tratado.
 O Brasil, passou a ser signatário em 2002, quando o Congresso Nacional aprovou o texto em junho
de 2002 e promulgado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso através do Decreto 4.388/02,
em 25 de setembro 2002.
 A CPI começou oficialmente suas atividades em 11 de março de 2003.
 O Tribunal Penal Internacional (TPI) é uma corte permanente e independente, que julga pessoas
acusadas de crimes do mais sério interesse internacional, como genocídio, crimes contra a
humanidade e crimes de guerra.
 O TPI é uma corte de última instância. Ele não agirá se um caso foi ou estiver sendo investigado
ou julgado por um sistema jurídico nacional, a não ser que os procedimentos desse país não forem
genuínos, como no caso de terem caráter meramente formal, a fim de proteger o acusado de sua
possível responsabilidade jurídica. Além disso, o TPI só julga casos que ele considerar
extremamente graves.
 Em todas as suas atividades, o TPI observa os mais altos padrões de julgamento justo, e suas
atividades são estabelecidas pelo Estatuto de Roma.
 Embora não faça parte das Nações Unidas, ele mantém uma relação de cooperação com a ONU. O
Tribunal está sediado na Haia, Holanda, mas pode se reunir em outros locais. Ele é composto por
quatro órgãos: a Presidência, as divisões judiciais, o escritório do promotor e o secretariado.

PRECEDENTES DO TPI
 Desde a 2ª Guerra Mundial, ocorreram cerca de 250 conflitos de caráter internacional e não-
internacional, os quais produziram o que se estima serem 170 milhões de vítimas, gerando
crescente indignação diante dos crimes decorrentes de conflitos bélicos e a busca por uma justiça
penal supranacional, configurando a jurisdição internacional sobre pessoas físicas.
 1947 – A assembléia-geral das nações unidas solicitou à comissão de direito internacional (cdi) que
examinasse a possibilidade de se criar um órgão judiciário penal para julgar os autores de genocídio

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e de outros crimes relevantes de sua competência.


 1951 – CDI elaborou o primeiro projeto de Estatuto de um Tribunal Penal Internacional. Contudo,
o contexto de divergências ideológicas da "Guerra Fria" dificultou a formação de um consenso sobre
os valores considerados fundamenais para a humanidade.
 1989 – Foi apenas com o fim da "Guerra Fria" que o anseio da criação de uma jurisdição penal
internacional destacou-se. Em uma sessão especial da ONU sobre tráfico de drogas, Trinidad e
Tobago levantou a a sugestão de que um Tribunal Penal Internacional fosse estabelecido para lidar
com aquela questão, cnsiderando a atuação global dos traficantes.
 1993 – A CDI reuniu-se e elaborou um amplo e sistemático projeto de artigos, o qual foi enviado à
Assembléia-Geral, que convidou os Estados a apresentarem suas observações por escrito. Frente à
diversidade de propostas, foi necessária a criação de um Comitê Preparatório (PrepCom).
 1998 – Por fim, em Roma, foi realizada a “Conferência Diplomática das Nações Unidas de
Plenipotenciários sobre o Estabelecimento de um Tribunal Penal Internacional” para a aprovação
da proposta de Estatuto.

CARACTERÍSTICAS E COMPETÊNCIAS MATERIAL E TEMPORAL


 O Tribunal pode exercer jurisdição sobre genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de
guerra. Estes crimes estão definidos em detalhes no Estatuto de Roma. O Tribunal possui jurisdição
sobre os indivíduos acusados destes crimes (e não sobre seus Estados, como no caso da CIJ). Isto
inclui aqueles diretamente responsáveis por cometer os crimes, como também aqueles que tiverem
responsabilidade indireta, por auxiliar ou ser cúmplice do crime. Este último grupo inclui também
oficiais do Exército ou outros comandantes cuja responsabilidade é definida pelo Estatuto.
 O Tribunal não possui jurisdição universal. Ele só pode exercer sua jurisdição se:
I) O acusado é um nacional de um Estado Parte ou de qualquer Estado que aceite a
jurisdição do Tribunal;
II) O crime tiver ocorrido no território de um Estado Parte ou de qualquer Estado que
aceite a jurisdição do Tribunal;
III) O Conselho de Segurança das Nações Unidas tenha apresentado a situação ao
Procurador, não importando a nacionalidade do acusado ou o local do crime;
IV) O crime tiver ocorrido após 1° de julho de 2002;
V) Caso o país tenha aderido ao Tribunal após 1° de julho, o crime tiver ocorrido depois
de sua adesão, exceto no caso de um país que já tivesse aceito a jurisdição do Tribunal
antes da sua entrada em vigor

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DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS PARA AFIRMAÇÃO DA JUSTIÇA PENAL INTERNACIONAL


 O objetivo do TPI é promover o Direito internacional, e seu mandato é de julgar os indivíduos e
não os Estados (tarefa do Tribunal Internacional de Justiça). Ele é competente somente para os
crimes mais graves cometidos por indivíduos: genocídios, crimes de guerra, crimes contra a
humanidade e os crimes de agressão.

ALGUNS CASOS JULGADOS PELO TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL


I. Augustin Bizimungu (Ruanda): Acusado de genocídio pelo Tribunal Penal Internacional para
Ruanda (TPIR). Segundo ONU, 800 mil pessoas foram assassinadas em Ruanda, em 1994, em sua
maioria da etnia tutsi. Resultado: Condenado a 30 anos de prisão em maio de 2011.

II. Muammar Gaddafi (Líbia): Acusado por crimes contra a humanidade. Entre as acusações estão
o ataque a civis em vias públicas, disparos contra manifestantes com armas de fogo, uso de
armamento pesado em funerais e uso de franco-atiradores nos protestos.

III. Ante Gotovina (Sérvia): Acusado de crimes de guerra e contra a humanidade, cometidos em
1995 contra a população sérvia na Croácia. Segundo a acusação, eles foram responsáveis pela
morte de 324 civis ou soldados que entregaram armas e pelo deslocamento forçado de 90.000
sérvios de Krajina. Gotovina foi quem comandou a ofensiva militar "Operação Tempestade" que
tentou reconquistar a região de Krajina, ao sul da Croácia, a última zona de resistência controlada
pelos sérvios na Croácia em 1995. Resultado: Foi condenado a 24 anos de prisão, em maio de
2011, em um julgamento que durou mais de 303 dias.

IV. William Samoei Ruto, Henry Kiprono Kosgey e Joshua Arap Sang (Quênia): Acusados de
crimes contra a humanidade, entre eles, assassinatos, incitação de violência entre diferentes
grupos e perseguições à população civil.

V. Abu Garda (Sudão): Acusado de crimes de guerra e de comandar um ataque no qual teriam
morrido 12 soldados. Foi um dos primeiros acusados pelo Tribunal Penal a se entregar
voluntariamente. Resultado: No julgamento, em 2010, a Corte decidiu que não havia provas
suficientes para condenar Abu Garda.

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TRATADO DE VERSALHES E OS CRIMES DE GUERRA

 O Tratado de Versalhes foi um tratado de paz, concluído, em grande parte, com base nos princípios
entabulados durante a 2ª Convenção de Paz de Haia, em 1907, tendo como objetivo principal
encerrar a Primeira Guerra Mundial, onde estimou-se conservadoramente que pelo menos 10
milhões de soldados haviam morrido e 20 milhões restaram feridos. As perdas civis pareciam
incalculáveis, e havia grande clamor público para punir os responsáveis pela agressão e as
atrocidades cometidas em violação às leis da guerra.

 Ficou conhecido pela imposição de condições rigorosas à Alemanha. Nele, ingleses e franceses
impuseram os termos da rendição alemã no dia 28 de junho de 1919 após longos meses de
deliberações.

 Por leis da guerra, entenda-se a Convenção de Genebra de 1864. Comparato explica que em
1864 foi criada a Convenção de Genebra que tratava dos direitos dos civis e militares durante as
guerras. A Convenção proibia o mau tratamento de civis e militares capturados, configurando-
se como a “primeira introdução dos direitos humanos em âmbito internacional”. Mas também é
conhecida como um instrumento de direito humanitário, ou seja, a área do direito internacional que
trata do direito dos civis e militares em tempos de guerra, incluindo os refugiados e os asilados.

 A intenção de punir os violadores do direito humanitário surgiu pelas Potências Aliadas


(EUA, França, Inglaterra, Itália e Japão) em 25 de janeiro de 1919, tendo por inovador o conceito de
responsabilização penal individual no âmbito do direito internacional, sendo estabelecido pela
Comissão sobre as responsabilidades dos autores da Guerra e sobre as execuções das punições.

 Elaborado por 15 membros, o relatório foi entregue em março de 1919, com conclusão feita pela
referida comissão, estabelecendo a responsabilidade primária da Alemanha, haja vista que declarou
guerra ao perseguir uma política de agressão, planejada secretamente em suas origens e que possui
o caráter de uma conspiração sombria contra a paz na Europa.

 No entanto, na Conferência de Paz de Paris (1919) (Paris Peace Conference), houve intenso
debate, entre os Aliados, sobre as possibilidades de realizações de julgamentos por crimes contra
humanidade previstos na Convenção de Genebra de 1864.
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 Assinado em Versalhes, em 28 de junho de 1919, houve concordância quanto aos termos de


um Tratado de Paz entre os Aliados, os Poderes Associados e a Alemanha. O tratado previa, em
seu artigo 227, a criação de um tribunal penal internacional ad hoc para julgar Kaiser Wilhelm II
por haver dado início a guerra, bem como em seus artigos 228 e 229, o julgamento dos militares
alemães acusados de violar as leis e costumes da guerra por tribunais militares dos aliados (Allied
Military Tribunals) ou cortes militares de qualquer dos aliados.

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL AD HOC


 Tribunais ou juízos instituídos excepcionalmente, com a finalidade de julgar crimes específicos,
posteriores ao fato ou até mesmo, em razão da pessoa e possuem um caráter temporário.
 Nos anos 90, surgiram os Tribunais ad hoc, criados pelo Conselho de Segurança da ONU, o
Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPIY) e o Tribunal Penal Internacional para
Ruanda (TPIR) para julgar as violações do Direito Humanitário ocorridas durante as guerras civis
destes países.

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SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

 O sistema global de proteção dos direitos humanos, da ONU, contém normas de alcance geral e de
alcance especial. As normas de alcance geral e destinadas a todos os indivíduos, genérica e
abstratamente, são os Pactos Internacionais de Direitos Civis e Políticos e o de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais.
 No sistema global, além do sistema de denúncias individuais, há também o sistema de
investigações e o de relatórios.
 Ao ratificar os tratados internacionais mencionados, o Brasil assumiu a obrigação de enviar
relatórios periódicos para os Comitês e de sujeitar-se a uma eventual investigação sobre a situação
dos direitos humanos no seu território. Uma forma de participação e de intervenção das
organizações de direitos humanos no sistema da ONU é o encaminhamento de relatórios próprios
aos respectivos Comitês, para que sejam analisados juntamente com os relatórios enviados pelos
Estados.
 O sistema da ONU possui dois tipos de procedimento: os convencionais e os não convencionais.
I. O procedimento convencional requer a sua previsão expressa em tratados, pactos e
convenções internacionais, e é supervisionado pelos órgãos internacionais de supervisão,
os Comitês (através do sistema de denúncias, relatórios e investigações).
II. Os procedimentos não convencionais são mecanismos não previstos em tratados que
contribuem para a maior eficácia do sistema internacional de proteção.

TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS


 A Carta Internacional dos Direitos do Homem é constituída pela Declaração Universal dos
Direitos do Homem, pelo Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos Sociais e Culturais e pelo
Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos e seu Protocolo Facultativo.
 Inicialmente, foram expressos diferentes pontos de vista acerca da forma que a Carta deveria
revestir. O Comité de Redacção decidiu elaborar dois documentos: um, sob a forma de uma
delcaração que daria a conhecer princípios gerais ou normas de direitos humanos; o outro, sob a
forma de um acordo que definiria direitos específicos e as suas limitações.

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A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E OS TRATADOS DOSDIREITOS HUMANOS


 A Carta Magna de 1988 acolhe o princípio da indivisibilidade e interdependência dos direitos
humanos, pelo qual o valor da liberdade se conjuga com o valor da igualdade, não havendo como
separar os direitos de igualdade dos direitos de liberdade.
 Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
 Os tratados de direitos que vierem a ser incorporados no Brasil podem ter valor constitucional, se
seguirem o parágrafo 3º, do artigo 5º, da CRFB/88, inserido pela Emenda Constitucional 45, que
diz:
"Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que
forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois
turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão
equivalentes às emendas constitucionais".

 Os tratados já vigentes no Brasil possuem valor supralegal.


 O Direito constitucional, depois de 1988, conta com relações diferenciadas frente ao Direito
Internacional dos Direitos Humanos. A visão da supralegalidade deste último encontra amparo
em vários dispositivos constitucionais (CRFB/88, artigo 4º, artigo 5º, parágrafo 2º, e parágrafo 3º
e 4º do mesmo artigo 5º).

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RELAÇÃO DA CF/88 COM OS TRATADOS INTERNACIONAISE DIREITOS HUMANOS


I. Hierarquia
II. Incorporação
III. Impactos

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INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS – TIDH


(ARTS. 49, I, E 84, VIII, DA CRFB/88)

• Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem
encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional;
• Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso
Nacional;
• A incorporação dos tratados internacionais por parte do ordenamento jurídico brasileiro faz
primeiro objeto de análise deste trabalho: da fase de negociação, passando pela aprovação
parlamentar e chegando ao momento de ratificação desses acordos internacionais.
• Já a análise do caso específico de tratados internacionais de conteúdo de Direitos Humanos é
vista na segunda parte deste estudo, pontuando a previsão legal no que diz respeito à matéria:
Direitos Humanos.
• Os tratados internacionais ingressam na ordem jurídica interna brasileira mediante o
preenchimento dos seguintes requisitos:
(a) negociação pelo Estado brasileiro no plano internacional;
(b) assinatura do instrumento pelo Estado brasileiro;
(c) mensagem do Poder Executivo ao Congresso Nacional para discussão e aprovação do
instrumento;
(d) aprovação parlamentar mediante decreto legislativo;
(e) ratificação do instrumento; e
(f) promulgação do texto legal do tratado mediante decreto presidencial.
• A promulgação e publicação incorporam os tratados internacionais ao Direito interno,
colocando-os, em regra, no mesmo nível das leis ordinárias, excepcionando-se os tratados e
convenções internacionais aprovados na forma do artigo 5º, parágrafo 3º da Constituição Federal
após a EC 45/2004, que tratem sobre direitos humanos e forem aprovados em cada Casa do
Congresso Nacional em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, os quais
serão equiparados às emendas constitucionais com hierarquia superior às leis ordinárias.

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NATUREZA JURÍDICA DOS TIDH


• Os Tratados Internacionais consubstanciam-se em regras de direito internacional, segundo
as quais, à luz do artigo 5º, § 2º da Constituição Federal de 1988, ingressam no ordenamento jurídico
interno, sem exclusão dos direitos e garantias expressos em nossa Constituição Federal.
• A partir da emenda constitucional 45/2004, Tratados e Convenções Internacionais deverão ser
analisados sob os olhares do §§ 2º e 3º do artigo 5º da CRFB/88.
o Àqueles sobre direitos humanos, deverão passar pelo crivo do § 3º da CRFB/88, tendo status
de norma constitucional se forem aprovados de acordo com regras gizadas no referido
parágrafo, as mesmas para aprovação das emendas constitucionais.
o Já os que versarem sobre direitos humanos, mas com aprovação que não tenha respeitado os
requisitos do § 3º, terão natureza jurídica de norma supralegal.

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SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO


DOS DIREITOS HUMANOS

 Na atualidade, existem 3 sistemas regionais de proteção (interamericano, europeu e


africano) e um sistema universal (Nações Unidas).

SISTEMA UNIVERSAL > NAÇÕES UNIDAS


 O sistema global de proteção dos direitos humanos, da ONU, contém normas de alcance geral e
de alcance especial.
o As normas de alcance geral e destinadas a todos os indivíduos, genérica e abstratamente, são
os Pactos Internacionais de Direitos Civis e Políticos e o de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais.
 A ONU é uma organização internacional responsável por mediar conflitos entre países,
disseminar a cultura de paz entre as nações, defender o respeito aos direitos humanos e promover
o desenvolvimento sustentável e econômico dos países e a cooperação entre eles.
 Com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento humano sustentável, o crescimento do país e
o combate à pobreza, o Sistema das Nações Unidas no Brasil tem a constante missão de alinhar
seus serviços às necessidades de um país dinâmico, multifacetado e diversificado.

SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO


I. EUROPEU: O Sistema Europeu surgiu ao final da 2ª Guerra Mundial, contexto histórico marcado
por atrocidades e violações aos direitos humanos. Por ter sido o primeiro sistema efetivamente
instalado, é considerado como o de maior grau de evolução e o influenciador dos demais
Sistemas Regionais. No âmbito europeu, a proteção dos direitos humanos é desempenhada,
primordialmente, pela Corte Europeia de Direitos Humanos (CEDH), criada a partir da
Convenção Europeia dos Direitos Humanos, de 1950. Todos os direitos protegidos por este
sistema estão contidos em uma Convenção e nos Protocolos Adicionais, dos quais os mais
importantes são os de número 11 e 14.
II. AFRICANO: A Carta Africana sobre Direitos Humanos e dos Povos ou Carta de Banjul é o
principal instrumento normativo do Sistema Regional Africano, e foi adotada em 1981 pela
Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da Organização da Unidade Africana (atual União
Africana), entrando em vigor apenas em 1986.

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22 Fábio Barbosa

III. INTERAMERICANO: O sistema interamericano de proteção dos


direitos humanos é o sistema regional aplicável ao Estado brasileiro e é composto pela Comissão
Interamericana de Direitos Humanos e pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, órgãos
de monitoramento da Organização dos Estados Americanos (OEA). Trata-se de um único órgão,
com diferentes atribuições no âmbito da OEA e da Convenção Americana. Foi instalada em 1960
e atua estimulando a consciência dos direitos humanos nos países da América. Composição: sete
membros, de alta autoridade moral e reconhecido saber em matéria de direitos humanos (artigo
34 da CADH). Entre suas diversas funções, cabe à Comissão inquirir, garantir e promover os
direitos humanos, onde os Estados-membros ao desrespeitarem os atos prescritos na Carta da
OEA, se responsabilizaram pelos demais Estados-membros.

1948
1959 1969
OEA Comissão 1979
Convenção
Declaração Interamerica Americana
na de Corte
Americana sobre
Direitos Interamericana
dos Direitos Direitos
Humanos de Direitos
e Deveres Humanos
Humanos
do Homem

 Meios de proteção: 2 órgãos, integrados, cada um, por 7 membros de altarespeitabilidade moral
e conhecimento.
I. Comissão Interamericana: Órgão político, quase judicial que apreciapetições.
II. Corte Interamericana: Órgão jurisdicional com competência contenciosa
(elabora sentenças) e consultiva (profere pareceres).

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DIREITOS FUNDAMENTAIS

• Os direitos fundamentais sociais, na sua grande maioria, estão expressamente previstos no art. 6º,
da CRFB/88.
o Art. 6. São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer,
a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituição.
• Além disso, várias medidas foram previstas no texto constitucional para conferir uma eficácia
maior a esses direitos sociais, como, por exemplo, percentuais mínimos para a saúde e educação
(arts. 198, § 2º e 212, da CRFB/88).
• Os direitos fundamentais podem ser identificados sob o ponto de vista formal e material.
• Sob o prisma do art. 5º, §2º da CRFB/88, o princípio da dignidade da pessoa humana é um excelente
critério material para a identificação dos direitos fundamentais. Nessa perspectiva, MENDES (2008,
p. 227) arremata que “os direitos e garantias fundamentais, em sentido material, são, pois,
pretensões que, em cada momento histórico, se descobrem a partir da perspectiva do valor da
dignidade da pessoa humana”.
• Segundo CANOTILHO (2003), os direitos fundamentais podem ser classificados em dois grupos:
direitos de defesa e direitos a prestações. Enquanto os direitos fundamentais de defesa exigem
que o Estado se abstenha de praticar condutas contrárias a tais direitos, os direitos fundamentais a
prestações exigem do Estado a realização de certas prestações positivas, por exemplo, saúde e
educação
• Apesar da diferenciação feita entre Direitos Humanos e Direitos Fundamentais em relação à sua
incidência, o conteúdo deles seria o mesmo, significa dizer que são direitos inerentes a toda e
qualquer pessoa, decorrentes da dignidade da pessoa humana e que atuam como limitação as ações
e omissões do Estado e nas relações dos próprios indivíduos, inclusive nas relações de trabalho.

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FEDERALIZAÇÃO DE PROCESSOS QUE ENVOLVAM VIOLAÇÃO


DE DIREITOS HUMANOS (EC 45/2004)

Ar. 109, V e § 5º, CRFB/88. Mudança de competência do inquérito/processo da Justiça Local (Estadual)
para a Justiça Federal.

Art. 109, V, CRFB/88. Aos juízes federais compete processar e julgar as causas relativas a direitos
humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com
a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais
de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal
de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de
competência para a Justiça Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

REQUISITOS
➢ Verificar a existência de um TIDH que o Brasil faça parte.
➢ Verificar a existência de grave violação de um direito lá previsto.
➢ Verificar se a Justiça Local está inerte ou viciada

PROCEDIMENTO: Só o PGR poderá propor um Incidente de Deslocamento de Competência no STJ.

QUESTÕES PARA TREINO:

1) A Assembleia Constituinte de 1988 reservou texto expresso para elevar os Direitos Humanos ao
patamar de princípio fundamental não só no território nacional, como também nas relações
internacionais. Além de valorizar a independência do país no cenário internacional, consagrou a
proteção dos interesses do ser humano. Considerando o texto constitucional do Estado-parte e a
Convenção Americana de Direitos Humanos, as afirmativas a seguir estão corretas, à exceção de uma.
Assinale-a.
A) Proibição de propaganda a favor da guerra e repúdio ao terrorismo e ao racismo.

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27 Fábio Barbosa

B) Proteção judicial mesmo quando a violação de direitos


fundamentais for cometida por pessoa atuando em função oficial.
C) Direito de retificação ou de resposta, que eximirão das outras responsabilidades legais.
D) Concessão de asilo político em delitos políticos ou comuns, conexos com delitos políticos.

2) João e Maria são casados e ambos são deficientes visuais. Enquanto João possui visão subnormal
(incapacidade de enxergar com clareza suficiente para contar os dedos da mão a uma distância de 3
metros), Maria possui cegueira total. O casal tentou se habilitar ao processo de adoção de uma criança,
mas foi informado no Fórum local que não teriam o perfil de pais adotantes, em função da deficiência
visual, uma vez que isso seria um obstáculo para a criação de um futuro filho.
Diante desse caso, assinale a opção que melhor define juridicamente a situação.
A) A informação obtida no Fórum local está errada e o casal, a despeito da deficiência visual,
pode exercer o direito à adoção em igualdade de oportunidades com as demais pessoas,
conforme previsão expressa na legislação pátria.
B) A informação prestada no Fórum está imprecisa. Embora não haja previsão legal expressa que
assegure o direito à adoção em igualdade de oportunidades pela pessoa com deficiência, é
possível defender e postular tal direito com base nos princípios constitucionais.
C) Conforme previsto no Art. 149 do Estatuto da Criança e do Adolescente, cabe ao juiz
disciplinar, por meio de Portaria, os critérios de habilitação dos pretendentes à adoção. Assim,
se no Fórum foi dito que o casal não pode se habilitar em função da deficiência é porque a
Portaria do Juiz assim definiu, sendo esta válida nos termos do artigo citado do ECA.
D) Como não há nenhuma previsão expressa na legislação sobre adoção em igualdade de
oportunidades por pessoas com deficiência e os princípios constitucionais não possuem
densidade normativa para regulamentar tal caso, deve-se reconhecer a lacuna da lei e raciocinar
com base em analogia, costumes e princípios gerais do direito, conforme determina o Art. 4º da
Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

3) Maria e João são pais de uma criança deficiente que utiliza cadeira de rodas. O casal, de classe média,
optou por matricular o filho em uma escola particular. No ato da matrícula, foi-lhes informado, pela
administração da escola, que teriam de pagar um valor adicional, uma vez que haveria um trabalho
extraordinário, por parte da escola, para garantir o acesso dessa criança com deficiência, em igualdade
de condições, a jogos e a atividades recreativas, esportivas e de lazer, no sistema escolar. Insatisfeitos
com essa informação, Maria e João decidiram consultar você, como advogado(a), para saber se tal
cobrança seria legalmente aceitável e se não haveria alguma proteção específica para pessoas com
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28 Fábio Barbosa

deficiência contra esse tipo de cobrança. Diante disso, assinale a opção


que apresenta a resposta correta a ser dada ao casal.
A) A cobrança é aceitável e justificada, mesmo que desagrade ao casal, porque, de fato, a criança
cadeirante precisará de atenção especial e ajuda para sua mobilidade. Nada na legislação pátria
impede tal cobrança. A solução seria a matrícula da criança em uma escola pública.
B) A cobrança do valor adicional na matrícula é moralmente reprovável, pois expressa um tipo
de preconceito. Contudo, do ponto de vista estritamente legal, o caso se situa no campo da
liberdade contratual das partes, não havendo vedação legal a tal cobrança.
C) A Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência admite esse tipo de cobrança, uma vez
que reconhece o trabalho adicional a ser feito nas escolas, contudo prevê que as famílias
hipossuficientes sejam isentadas dessa cobrança, sendo devido à escola uma compensação
tributária.
D) A escola particular deve adotar as medidas inclusivas previstas na lei, tais como garantir o
acesso da criança com deficiência, em igualdade de condições, a jogos e a atividades recreativas,
sendo vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer natureza em suas anuidades, no
cumprimento dessas medidas

4) No estado em que você reside há cerca de quinze anos, cinco homens foram assassinados por tiros
disparados por pessoas encapuzadas. Houve uma alteração da cena do crime, sugerindo a mesma forma
de atuação de outros assassinatos que vinham sendo praticados por um grupo de extermínio que
contaria com a participação de policiais. Na época, a Polícia Civil instaurou inquérito para apurar os
fatos, mas concluiu pela ausência de elementos suficientes de autoria, encaminhando os autos ao
Ministério Público, que pediu o arquivamento do caso. A Justiça acolheu o pedido e alegou não haver
informações sobre autoria, motivação ou envolvimento de policiais. Segundo opinião de especialistas,
a apuração policial do caso foi prematuramente interrompida. A Polícia Civil teria deixado de realizar
diligências imprescindíveis à elucidação da autoria do episódio. Manter o arquivamento do inquérito,
sem a investigação adequada, significaria ratificar a atuação institucionalmente violenta de agentes de
segurança pública e, consequentemente, referendar grave violação de direitos humanos.
Para a hipótese narrada, como advogado de uma instituição de direitos humanos, assinale a opção
processual prevista pela Constituição da República.
A) O MPF deve ingressar com ação diretamente no Supremo Tribunal Federal para assegurar o
direito de acesso à justiça.
B) O advogado deve apresentar pedido de avocatória no Superior Tribunal de Justiça, a fim de
que se garanta a continuidade das investigações.
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C) O Procurador Geral da República deve suscitar, perante o


Superior Tribunal de Justiça, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.
D) O advogado deve ajuizar ação competente junto à Corte Interamericana de Direitos Humanos.

5) Como é sabido, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos estabelece em seu Art. 25 que todo
cidadão terá o direito e a possibilidade de votar e de ser eleito em eleições periódicas, autênticas,
realizadas por sufrágio universal e igualitário e por voto secreto, que garantam a manifestação da
vontade dos eleitores. Segundo informação da Agência Brasil (Empresa Brasileira de Comunicação), o
Brasil possuía, em 2014, cerca de 230 mil presos provisórios. Em relação a tais presos, assinale a
afirmativa correta.
A) A despeito do Pacto supramencionado, eles não possuem direito ao voto, por estarem em
situação de encarceramento, o que enseja perda da condição de cidadão.
B) Tais presos provisórios têm direito ao voto apenas se manifestarem expressamente o
interesse em votar e forem previamente cadastrados pelo TRE.
C) Todos aqueles que estão privados de liberdade por ato legal do Estado perdem seus direitos
políticos, não podendo, portanto, votar e nem se candidatar.
D) Presos provisórios têm o direito de votar em seções eleitorais especiais
devidamente instaladas em estabelecimentos penais e em unidades de internação de
adolescentes.

6) Segundo dados do CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados), o Brasil possuía, no fim de 2014,
6.492 refugiados de 80 nacionalidades. Como é sabido, o Brasil ratificou a Convenção das Nações Unidas
sobre o Estatuto dos Refugiados, assim como promulgou a Lei nº 9.474/97, que define os mecanismos
para a implementação dessa Convenção. Assinale a opção que, conforme a lei mencionada, define a
condição jurídica do refugiado no Brasil.
A) Possui os direitos e deveres dos estrangeiros no Brasil, bem como direito a cédula de
identidade comprobatória de sua condição jurídica, carteira de trabalho e documento de viagem.
B) Está sujeito aos deveres dos estrangeiros no Brasil e tem direito a documento de viagem para
deixar o país quando for de sua vontade.
C) Sendo acolhido como refugiado, tem todos os direitos previstos no seu país de origem, mas
deve acatar os deveres impostos a todos os brasileiros. Também tem direito à cédula de
identidade.

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D) Possui os direitos e deveres dos estrangeiros no Brasil, bem


como direito a cédula de identidade comprobatória de sua condição jurídica, carteira de
trabalho, documento de viagem e título de eleitor.

7) O padrasto de Ana Maria, rotineiramente, abre sua correspondência física e entra em sua conta de e-
mail sem autorização, ainda que a jovem seja maior de idade. Cansada dessa ingerência arbitrária e sem
o amparo de sua própria mãe, a jovem busca apoio na organização de direitos humanos em que você
atua. Com base no Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP), assinale a opção que indica
o esclarecimento correto que você, como advogado(a), prestou a Ana Maria.
A) O Pacto prevê a prevalência do poder familiar nas relações familiares e, como a conduta do
padrasto tem a concordância da mãe de Ana Maria, ainda que seja inconveniente, essa conduta
não pode ser considerada uma violação de direitos.
B) O Pacto assegura o direito à privacidade nas relações em gerais, mas nas relações
especificamente familiares admite ingerências arbitrárias se forem voltadas para a proteção e o
cuidado.
C) O Pacto dispõe que ninguém poderá ser objeto de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua
vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência.
D) O Pacto é omisso em relação à prática de ingerências arbitrárias na vida privada e na família,
tratando apenas da proteção da privacidade na vida pública e em face da conduta do Estado.

8) Você, advogado, patrocinou uma importante causa na jurisdição interna do Brasi, e, diante da demora
injustificada na decisão, apresentou o caso na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, onde o
Brasil foi condenado a reparar seu cliente. Diante da inadimplência do Estado brasileiro, a Comissão
enviou o caso à Corte Interamericana de Direitos Humanos, onde o Brasil foi condenado, sem, contudo,
efetuar a reparação exigida pela sentença da Corte. Diante desse fato e de acordo com a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, você deve
A) instar a Corte para, no ano seguinte, submeter o fato do descumprimento da decisão pelo
Estado brasileiro à consideração da Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos,
por meio de relatório sobre as atividades da Corte.
B) recorrer à Corte Internacional de Justiça de Haia, nos termos do que dispõe a Convenção
Americana sobre Direitos Humanos, uma vez que os sistemas regionais e o sistema global de
proteção dos direitos humanos são complementares.
C) conformar-se, pois não há mais nenhuma medida que possa ser feita pela Corte para buscar o
cumprimento de sua decisão pelo estado brasileiro condenado após o devido processo legal.
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D) ingressar com a competente ação de obrigação de fazer em


face do Estado brasileiro no Superior Tribunal de Justiça, conforme o procedimento previsto na
Convenção Americana sobre Direitos Humanos ratificado pelo Estado brasileiro.

9) Uma Organização de Direitos Humanos afirma estar tramitando, no Congresso Nacional, um Projeto
de Lei propondo que o trabalhador tenha direito a férias, mas que seja possível que o empregador
determine a não remuneração dessas férias. No mesmo Projeto de Lei, fica estipulado que, nos feriados
nacionais, não haverá remuneração. A Organização procura você, como advogado(a), para redigir um
parecer quanto a um eventual controle de convencionalidade, caso esse projeto seja transformado em
lei. Assim, com base no Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos em
Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – Protocolo de San Salvador –, assinale a opção que
apresenta seu parecer sobre o fato apresentado.
A) O Brasil, embora tenha ratificado a Convenção Americana de Direitos Humanos, não é
signatário do Protocolo Adicional à Convenção Americana Sobre Direitos Humanos em Matéria
de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais – Protocolo de San Salvador. Portanto, independentemente do que disponha
esse Protocolo, ele não configura uma base jurídica que permita fazer um controle de
convencionalidade.
B) Tanto o direito a férias remuneradas quanto o direito à remuneração nos feriados nacionais
estão presentes no Protocolo de San Salvador. Considerando que o Brasil é signatário desse
Protocolo, caso o Projeto de Lei venha a ser convertido em Lei pelo Congresso Nacional, é
possível submetê-lo ao controle de convencionalidade, com base no Protocolo de San Salvador.
C) A despeito de as férias remuneradas e a remuneração nos feriados nacionais estarem
previstos no Protocolo de San Salvador, não é possível fazer o controle de convencionalidade
caso o Projeto de Lei seja aprovado, porque se trata apenas de um Protocolo, e, como tal, não
possui força de Convenção como é o caso da Convenção Americana Sobre Direitos Humanos.
D) Se o Projeto de Lei for aprovado, não será possível submetê-lo a um controle de
convencionalidade com base no Protocolo de San Salvador, porque os direitos em questão não
estão previstos no referido Protocolo, que sequer trata de condições justas, equitativas e
satisfatórias de trabalho.

10) No âmbito dos sistemas internacionais de proteção dos Direitos Humanos, existem hoje três
sistemas regionais: africano, (inter)americano e europeu. Existem semelhanças e diferenças entre esses

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sistemas. Assinale a opção que corretamente expressa uma grande


diferença entre o sistema (inter)americano e o europeu.
A) O sistema europeu foi instituído a partir da Convenção para a Proteção dos Direitos do
Homem e das Liberdades Fundamentais, de 1950, e já está em pleno funcionamento. Já o sistema
(inter)americano foi instituído pela Convenção Americana Sobre Direitos Humanos, de 1998, e
ainda não está em pleno funcionamento.
B) O sistema (inter)americano conta com uma Comissão Interamericana de Direitos Humanos,
mas não possui uma Corte ou Tribunal. Já o sistema europeu possui um Tribunal, mas não possui
uma Comissão de Direitos Humanos.
C) O sistema europeu é baseado em um Conselho de Ministros e admite denúncias de violações
de direitos humanos que sejam feitas pelos Estados-partes da Convenção, mas não admite
petições individuais. Já o sistema (inter)americano não possui o Conselho de Ministros e admite
petições individuais.
D) O sistema (inter)americano possui uma Comissão e uma Corte para conhecer de assuntos
relacionados ao cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados-partes na Convenção
Americana Sobre Direitos Humanos. Já o sistema europeu não possui uma Comissão com as
mesmas funções que a Comissão Interamericana, mas um Tribunal Europeu dos Direitos do
Homem, que é efetivo e permanente.

GABARITO
1) C 2) A 3) D 4) C 5) D 6) A 7) C 8) A 9) B

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PARABÉNS PELO EMPENHO!

NÓS ACREDITAMOS
EM VOCÊ!!

Família CEJAS: Líderes em aprovação em todo o Brasil!

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