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comunidades
terapêuticas na garantia
dos direitos humanos
Os Direitos
1 Humanos, a Política
Nacional de
Saúde Mental e a
Política Nacional sobre
Drogas
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Conteudista:
Matheus Caracho Nunes (Conteudista, 2021);
Diretoria de Desenvolvimento Profissional.
Enap, 2021
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Sumário
Unidade 1 – Direitos Humanos, Política Nacional de Saúde Mental e Política Nacional
sobre Drogas............................................................................................................................................5
1.1 Direitos Humanos.......................................................................................................................................................... 5
1.2. A relação entre a saúde dos usuários de álcool, tabaco e outras drogas e os Direitos
Humanos.......8
Referências ...............................................................................................................................................14
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MÓDULO
• Unidade 1 – Direitos Humanos, Política Nacional de Saúde Mental e Política Nacional sobre Drogas –
PNAD
• 1.2. A relação entre a saúde dos usuários de álcool, tabaco e outras drogas e os Direitos Humanos
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Unidade 1 – Direitos Humanos, Política Nacional
de Saúde Mental e Política Nacional sobre Drogas
Ao final desta unidade, você será capaz de compreender as origens e a importância dos direitos humanos
para a formação e consolidação de políticas voltadas a pessoas dependentes de drogas ou com transtornos
mentais.
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Saiba mais
Foi a primeira vez na história que um compromisso global entre países foi firmado com uma proposta de
direitos semelhantes a serem tutelados para todos os seres humanos. Tal documento trouxe a previsão da
proteção universal dos direitos de todas as pessoas, independentemente de raça, etnia, sexo ou crença
religiosa, reconhecendo que todos nascem livres, iguais e com dignidade, sem qualquer restrição.
Artigo 1º: Todos os seres humanos são livres e iguais em dignidade e em direitos;
Artigo 2º: Todo ser humano tem capacidade de gozar os direitos e as liberdades sem
discriminação; Artigo 3º: Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal;
Artigo 5º: Ninguém deve ser torturado ou receber tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante;
Artigo 6º: Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante
a lei. Artigo 18º: Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião;
Artigo 21º: item 2 “Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país” (...).
Saiba mais
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Neste sentido, a dignidade da pessoa humana ressalta o valor intrínseco (inerente) do ser humano, tendo
este valor por si mesmo. Assim, a dignidade humana, além de fundamento da República brasileira, deve
ser levada em consideração na elaboração de leis e políticas públicas, a fim de que o valor intrínseco do
indivíduo seja devidamente resguardado.
Característica Conceito
Agora que você aprendeu um pouco mais sobre as principais características dos direitos humanos, é
importante não termos dúvidas sobre o que estamos falando. Vimos anteriormente que a dignidade de
cada um de nós deve ser reconhecida simplesmente pelo fato de sermos seres humanos. Partindo desta
ideia, podemos considerar os direitos humanos como os direitos válidos a cada pessoa, necessários
para a realização de uma vida digna e previstos na Declaração Universal de Direitos Humanos.
Passemos para o nosso próximo tópico, no qual poderemos observar como a ideia de dignidade da pessoa
humana e os direitos humanos contribuem de forma relevante para a promoção da saúde e dos direitos
humanos entre usuários de álcool, tabaco e outras drogas, e pacientes portadores de transtorno mental.
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1.2. A relação entre a saúde dos usuários de álcool, tabaco e outras
dro- gas e os Direitos Humanos
A Lei Federal nº 10.216, de 6 de abril de 2001, que dispõe sobre proteção dos direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais, propôs a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos
mentais.
Ressalte-se que a referida Lei garante os direitos das pessoas com transtorno mental, incluindo aquelas
relacionadas ao uso de substâncias psicoativas. De modo geral, a Lei assegura ao usuário de drogas
ser tratado com humanidade e respeito e orienta que o tratamento promova sua reinserção social,
recebendo tratamento adequado de acordo com as suas reais necessidades.
Art. 2º Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer natureza, a pessoa e seus familiares
ou responsáveis serão formalmente comunicados dos direitos enumerados no parágrafo único
deste artigo.
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Em que pese a Lei 10.216/2001 deixar claro que as pessoas com transtornos mentais deverão receber,
preferencialmente tratamento em serviços comunitários de saúde mental, também coloca de maneira
bastante objetiva e cristalina a possibilidade da realização de internação psiquiátrica, nas suas três
diferentes modalidades (voluntária, involuntária e compulsória), como segue abaixo:
Sendo assim, o cuidado e tratamento ofertados às pessoas com transtornos mentais, incluindo aquelas
que apresentam problemas com o uso de álcool e outras drogas, precisam levar em consideração a
necessidade de cuidado integral. Desse modo, se uma pessoa apresenta necessidade de cuidado e
tratamento em serviços de base comunitária, esse tipo de oferta precisa ocorrer. Entretanto, se houver
necessidade de tratamento em regime hospitalar, tal abordagem terapêutica também precisa ser
ofertada. Negligenciar ou negar a oferta de qualquer um desses cuidados, quando comprovada a sua
necessidade, é afronta grave aos Direitos Humanos. Aqui, também inclui-se o cuidado em regime de
acolhimento em comunidades terapêuticas, que precisa ser viabilizado, visando à oferta de cuidado
integral às pessoas com problemas com o uso de álcool e outras drogas.
Em 2011, houve a publicação da Portaria do Ministério da Saúde nº. 3088 de 2011, que instituiu a Rede
de Atenção Psicossocial (RAPS) para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades
decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Nessa
mesma Portaria, as comunidades terapêuticas foram reconhecidas como integrantes da RAPS, como rede
de “Atenção Residencial de Caráter Transitório”. Em 2017, com a publicação da “Nova Política Nacional de
Saúde Mental” (Resolução CIT nº. 32, de 14 de dezembro de 2017 e Portaria do Ministério da Saúde nº.
3588, de 21 de dezembro de 2017), os serviços assistenciais que compõem a RAPS foram expandidos,
justamente para que houvesse na prática a oferta de cuidado e tratamento integral às pessoas com
transtornos mentais e problemas com o uso de álcool e outras drogas, com inclusão de pontos de atenção
como Hospitais Psiquiátricos, Hospitais-Dia, Ambulatórios de Saúde, e manutenção de todos os demais
serviços que já compunham a RAPS, desde 2011, como as comunidades terapêuticas.
As comunidades terapêuticas já eram reguladas no âmbito da ANVISA pela RDC nº 101, de 30 de maio de
2001 e posteriormente pela RESOLUÇÃO DA DIRETORIA COLEGIADA – RDC Nº 29, DE 30 DE JUNHO
DE 2011, complementada pela NOTA TÉCNICA Nº 055/2013 – GRECS/GGTES/ANVISA.
Ainda que no âmbito administrativo, importante avanço em relação ao reconhecimento das comunidades
terapêuticas, como entidades de promoção da saúde, foi dada pela Lei nº 12.868/2013, no âmbito do
Certificado Beneficente de Assistência Social – CEBAS.
É neste cenário que a “Nova Política Nacional sobre Drogas” – PNAD, aprovada por meio do Decreto nº
9.761/2019, em consonância com a Lei Federal nº 10.216/2001, bem como a Portaria nº 3.588/2017,
propôs, dentre os seus pressupostos, garantir o direito à assistência intersetorial, interdisciplinar e
transversal, a partir da visão holística do ser humano, com tratamento, acolhimento, acompanhamento
e outros serviços, às pessoas com problemas decorrentes do uso, do uso indevido ou da dependência
do álcool e de outras drogas.
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Entre os pressupostos da Política Nacional sobre Drogas – PNAD, alguns merecem atenção especial:
As comunidades terapêuticas tiverem suas características reconhecidas e reguladas pelos artigos 26-A
e 23-B da Lei nº 11.343/2006, com as alterações da Lei nº 13.840/2019, como serviços de acolhimento
voluntário, de convivência entre os pares e extra-hospitalares, entre outros. A mesma Lei ainda distinguiu
claramente os serviços ambulatoriais, clínico-hospitalares no Art.23-A, trazendo clara distinção entre o
tratamento, próprio de ambulatórios, clínicas e hospitais, do acolhimento em comunidades terapêuticas.
Foi possível compreender neste tópico que a saúde dos usuários de álcool, tabaco e outras
drogas e pessoas com transtornos mentais estão intimamente ligadas com a valorização da
dignidade da pessoa humana, e as comunidades terapêuticas estão inseridas na rede de
atenção e cuidados a esse público-alvo, contribuindo para a promoção a garantia dos Direitos
Humanos.
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Unidade 2 – Intersetorialidade entre políticas de
saúde mental e drogas
Ao final desta unidade, você será capaz de compreender a articulação entre as políticas de saúde mental no
desenvolvimento de ações de atenção integral aos usuários de drogas.
A Lei nº 10.216/2001, de 6 de abril de 2001, é considerada o marco legal da assistência em Saúde Mental
no país, garantido às pessoas que apresentam transtornos mentais e transtornos decorrentes do consumo
de álcool e outras drogas, a universalidade de acesso e direito à assistência integral em saúde.
Apesar de alguns avanços percebidos com a reforma do modelo de assistência em saúde mental após a
publicação da referida lei, fez-se necessária, nos últimos anos, a revisitação no modelo de assistência em
saúde mental, assim como a realização de importantes mudanças no modelo, fazendo-se valer da
prerrogativa trazida pela lei, quando esta inclui, em seu art. 2º; § único, que ter acesso ao melhor
tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades, é um dos direitos da pessoa portadora
de transtorno mental.
No ano de 2017, por meio de pactuação na Comissão Intergestores Tripartite (CIT) do Sistema Único de
Saúde (SUS), foi publicada a “Nova Política Nacional de Saúde Mental”, por meio da Resolução CIT nº. 32,
de 14 de dezembro de 2017, que propõe alterações na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para pessoas
com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras
drogas, no âmbito do SUS. Na sequência, para que houvesse regulamentação dessa normativa no Ministério
da Saúde, foi publicada pela referida pasta a Portaria do Ministério da Saúde nº. 3588, de 21 de dezembro
de 2017.
De acordo com essas novas normativas, a RAPS conta com os seguintes serviços:
Assim sendo, todos os serviços, que compõem a RAPS, são igualmente importantes e devem ser
incentivados, ampliados e fortalecidos. Não há mais que se falar em serviços substitutivos a outros, não
havendo qualquer justificativa técnica, ou de garantia de direitos, o fechamento de unidades de qualquer
natureza. A Rede deve ser harmônica e complementar. Assim, não há mais motivo para se falar em “rede
substitutiva”, já que nenhum serviço substitui outro. O país necessita de mais e diversificados tipos de
serviços para a oferta de tratamento adequado e integral aos pacientes e seus familiares.
As mudanças que ocorreram na Política Nacional de Saúde Mental buscaram expandir a RAPS,
aumentando as possibilidades de oferta de cuidado, garantindo os direitos básicos de tratamento e
cuidado das pessoas com transtornos mentais e problemas com o uso de álcool e outras drogas.
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2.2 Política Nacional Sobre Drogas - PNAD
De forma semelhante ao que ocorreu na Política Nacional de Saúde Mental, a Política Nacional sobre
Drogas também passou por importantes transformações nos últimos anos.
Atualmente, duas Secretarias do Governo Federal estão envolvidas na estruturação da Política sobre
Drogas: A Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas (SENAD) do Ministério da Justiça e Segurança
Pública (criada em 1998 pelo Decreto nº 1.689/1998), responsável pela redução da oferta de drogas, e a
Secretaria Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas (SENAPRED) do Ministério da Cidadania (criada
em 02 de janeiro de 2019, pelo Decreto nº 9.674), responsável pela redução da demanda de drogas.
Em 2002, houve a elaboração da Política Nacional Antidrogas (posteriormente o nome foi modificado para
Política Nacional Sobre Drogas), em consonância com as normativas internacionais, e em 2006, a criação do
Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), por meio da Lei 11.343/2006, alterada pela
Lei 13.840/2019.
O SISNAD apresenta como seu órgão superior o Conselho Nacional de Política sobre Drogas (CONAD) e
sua organização assegura a orientação central e a execução descentralizada das atividades vinculadas à
PNAD, envolvendo diversos atores na esfera federal, estadual e municipal por atuar de forma transversal
entre as políticas públicas dos órgãos.
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A Lei de Drogas indica que o SISNAD é o conjunto ordenado de princípios, regras, critérios e recursos
materiais e humanos que envolvem as políticas, planos, programas, ações e projetos sobre drogas,
incluindo-se nele os Sistemas de Políticas Públicas sobre Drogas dos Estados, Distrito Federal e
Municípios. O SISNAD deve atuar em articulação com o Sistema Único de Saúde (SUS), e com o
Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
Em abril de 2019, foi instituída a “Nova Política Nacional Sobre Drogas”, por meio do Decreto nº
9.761/2019, que preconiza, entre uma série de medidas, a construção de uma sociedade protegida do
uso de drogas lícitas e ilícitas; o reconhecimento das diferenças entre o usuário, o dependente e o
traficante de drogas; e o foco na abstinência e recuperação das pessoas com dependência química, por
meio de ações e programas de cuidados, prevenção e reinserção social.
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O decreto presidencial que aprovou a PNAD tem foco na prevenção, promoção e manutenção da
abstinência, promoção à saúde, cuidado, tratamento, acolhimento, apoio, mútua ajuda, suporte social e
redução dos riscos e danos sociais e à saúde, reinserção social e também na redução de oferta
mediante ações de segurança pública, de defesa, de inteligência e outras medidas importantes no
campo da repressão da produção e do combate ao tráfico de drogas, à lavagem de dinheiro e crimes
conexos.
A PNAD apresenta algumas inovações, que têm como objetivo fazer frente aos desafios no cenário das
drogas no Brasil. O texto da política apresenta pressupostos que passam a nortear suas diferentes frentes.
Veja, a seguir, os principais pontos da “Nova Política Nacional sobre Drogas”:
• Busca pela construção de uma sociedade protegida do uso de drogas lícitas e ilícitas e da dependência
química.
A Política sobre Drogas, por força dos acordos internacionais dos quais o Brasil é signatário, é constituída
por um conjunto de eixos e subeixos, que se constituem como alicerces da política, a saber:
Como observamos no decorrer do texto, ambas as políticas (Saúde Mental e Drogas) têm compromisso e
respeito aos Direitos Humanos, com garantia de acesso aos serviços de saúde e social, diversificando as
estratégias de cuidado e de inclusão social, por meio do trabalho articulado e intersetorial no cuidado de
pessoas com sofrimento ou transtorno mental decorrentes do uso de drogas.
Neste tópico foi possível compreender a Política Nacional de Saúde e a Política Nacional sobre
Drogas e aprender um pouco mais sobre as suas principais diretrizes, destacando sua
importância.
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Referências
BRASIL. Decreto nº 9.761, de 11 de abril de 2019. Brasília, DF: Presidência da República, 2019.
Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/decreto/
D9761.htm. Acesso em: 24 junho 2021.
BRASIL. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Brasília, DF: Presidência da República, 2006.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.
htm. Acesso em: 12 junho 2021.
BRASIL. Lei nº 13.840, de 5 de junho de 2019. Brasília, DF: Presidência da República, 2019.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/lei/L13840.
htm. Acesso em: 24 junho 2020.
Declaração Universal dos Direitos Humanos. Assembleia Geral das Nações Unidas. 10 de
dezembro de 1948.
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