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Entes Federativos e Seus Poderes – UN 01

Organização do Estado
O estudo da organização estatal objetiva investigar a forma de organização
política conforme as necessidades de desburocratização, democratização
e/ou manutenção da unidade territorial de determinado Estado.

1.1. Formas de Estado


As formas de Estado indicam como o Poder Político é distribuído
geograficamente, é dizer, se tal poder é centralizado ou descentralizado em
certo território, conforme Fernandes (2010). Se não há distribuição do poder
político, ou seja, se há centralização deste poder no território, o Estado é
denominado unitário. Há um ente centralizador do poder político que
monopoliza a capacidade de criar normas jurídicas, o que não impede,
contudo, a ocorrência de descentralização de natureza administrativa. Essa
forma de Estado é mais comum em locais com territórios menos extensos,
como é o caso de Portugal.
Em contraposição, pode-se optar pela distribuição do poder entre entes
autônomos em determinado território, com a instituição de Estado
federal. A descentralização política marca esta forma de Estado, que concilia
a existência de um único ente soberano com a autonomia dos demais entes,
que receberão competências nos termos da Constituição da federação.

O Estado federal originou-se da experiência estado-unidense, que objetivava


instaurar um “governo eficiente em vasto território”, conforme destacam Mendes e
Branco (2017, p. 849). O modelo foi seguido por outros países com grande extensão
territorial, como é o caso do Brasil.

Com o desenvolvimento dos Estados Nacionais passou-se a observar formas de


Estado intermediárias entre o Estado federal e o Estado unitário. É o caso do
Estado regional e do Estado autonômico.

O Estado regional surge na Constituição de 1948 da Itália e, embora tal constituição


o descreva como estado uno, a existência de descentralização legislativa o torna um
Estado regional.

O Estado autonômico, por outro lado, foi definido pela Constituição espanhola de
1978, que estabelece a possibilidade de existência de regiões autonômicas,
marcadas pela descentralização administrativa e legislativa.
Segundo Fernandes (2010, p. 535), o Estado regional diferencia-
se do autonômico na medida em que, no Estado regional, a
descentralização administrativa e legislativa é desenvolvida a partir da
deliberação do Estado nacional (descentralização “de cima para baixo”) e, no
caso do Estado autonômico, são as próprias províncias que pleiteiam a
descentralização, requerendo o exercício de competências constitucionais
(descentralização “de baixo para cima”).

A existência de formas de Estado intermediárias, como é o caso do Estado regional


e do Estado autonômico, respondem a necessidade de balancear a demanda por
maior autonomia com a manutenção da unidade territorial. Por vezes há um
desequilíbrio entre essas duas necessidades, como pode ser observado nos
recentes protestos de cunho separatista que pleiteiam a separação entre a Espanha
e a Catalunha.

Conforme destacam Mendes e Branco (2017), o Estado federal possui algumas


características.

Soberania e Autonomia: A soberania é uma característica dos estados


nacionais modernos e, no caso da federação, é um atributo do Estado federal
como um todo, é dizer que não há pulverização da soberania entre os entes da
federação. Os diversos entes federados são autônomos entre si, na medida em
que cada um deles conserva a capacidade de desenvolver suas próprias normas
(por exemplo: instituição de constituições estaduais ou regionais), observado os
limites e competências estipulados pelo poder soberano.
Existência de uma Constituição Federal: A unidade da federação, em seu
aspecto jurídico, é viabilizada pela existência de uma constituição federal, que dá
fundamento a todo o ordenamento jurídico da federação, estipulando suas regras
fundamentais e, em especial, a repartição de competências entre o poder
central/soberano e os demais entes federados.

Repartição de competência nos termos da Constituição Federal: A


convivência dos entes autônomos é propiciada pela existência de repartição de
competências a cada ente ou ordenamento da federação pela própria
constituição federal, de modo que a ação estatal seja eficiente e pacífica. Um
bom exemplo para compreender a repartição de competências é a capacidade
tributária de cada ente da federação. No Brasil, por exemplo, apenas os municípios
podem instituir impostos sobre serviços de qualquer natureza (art.153, III da CF/88).

Participação dos entes federativos (Estados-membros) na vontade Federal:


O Estado federal dispõe de mecanismos criados com o objetivo de fazer com
que os entes federativos tenham voz na formação da vontade nacional, como,
por exemplo, a existência do Senado Federal, que garante a representação
paritária dos Estados-membro e a participação destes entes na realização de
emendas constitucionais.
Inexistência do direito de secessão: ara preservação da unidade territorial
contra intentos e movimentos separatistas, estabelece-se a federação como
vínculo indissolúvel, inexistindo direito de secessão.
Mecanismos de solução de conflitos: A manutenção do vínculo indissolúvel
da federação necessita de bons mecanismos de solução de conflitos que
porventura surgirem entre os entes federados. Em termos jurídicos, a solução de
conflitos deve ser endereçada na constituição, que normalmente confere esta
competência a uma corte nacional, que esteja no topo da hierarquia do poder
judiciário (por exemplo: Suprema Corte, Supremo Tribunal Federal, a depender
do sistema jurídico estudado).

Um exemplo de solução de conflitos pela via judicial pode ser extraído da


experiência recente do Brasil. Com a edição da chamada Lei Kandir, em 1996,
firmou-se isenção do pagamento de Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) às exportações de produtos primários e
semielaborados ou serviços. O Congresso Nacional deveria ter
regulamentado compensação aos Estados, uma vez que esta medida de
isenção fiscal ocasionou queda na arrecadação do ICMS, mas não o fez. Por
essa razão, o governador do Estado do Pará ingressou com Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão (ADO 25), visando reequilibrar o
federalismo fiscal estabelecido pela Constituição Federal de 1988. Tal ação
foi julgada procedente pelo Supremo Tribunal Federal, que estipulou prazo
para que seja sanada a omissão legislativa.
De outro lado, caso não seja possível a resolução do conflito pelo poder
judiciário, tem-se a figura da intervenção federal que, segundo Mendes e
Branco (2017, p.853) “importa a suspensão temporária das normas
constitucionais asseguradoras da autonomia da unidade atingida pela
medida”.

1.3. Federação brasileira na Constituição de


1988
O art. 1º da Constituição de 1988 estipula que “a República Federativa do
Brasil é formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal” (BRASIL, 1988, documento online). Logo, a própria Carta
Magna estipula a inexistência do direito de secessão dos seus membros.
O Supremo Tribunal Federal já se posicionou sobre o conteúdo da
autonomia municipal.
“A CF conferiu ênfase à autonomia municipal ao mencionar os Municípios
como integrantes do sistema federativo (art. 1º da CF/1988) e ao fixá-la junto
com os Estados e o Distrito Federal (art. 18 da CF/1988). A essência da
autonomia municipal contém primordialmente (i) autoadministração, que
implica capacidade decisória quanto aos interesses locais, sem delegação ou
aprovação hierárquica; e (ii) autogoverno, que determina a eleição do chefe
do Poder Executivo e dos representantes no Legislativo [...]” (ADI 1.842.
Relator min. Gilmar Mendes. Julgamento: 06/03/2013. Publicação:
16/09/2013).

O título III da Constituição de 1988 disciplina sobre a organização do Estado


e a estrutura da Federação brasileira. O art. 18 da referida norma determina
as bases da organização político-administrativa do Brasil, em que a
República Federativa compreende como entes autônomos a União, os
estados, o Distrito Federal e os municípios.
Uma particularidade do federalismo brasileiro é a inserção dos municípios
na estrutura federativa, a deter a mesma estatura que a União e os Estados.

1.4 União, estados, municípios e Distrito


Federal
A União é formada pela aliança de todos os estados e representa a vontade
de toda a federação. Possui patrimônio próprio (art. 20), além de
competências materiais (art. 21) e legislativas (art. 22) estipuladas pela
Constituição de 1988.
Os estados-membro, como já visto, possuem autonomia, de modo que seus
representantes desempenham funções estatais referentes ao poder
executivo, cujo mandatário máximo é o governador; legislativo representado
pela Assembleia Legislativa Estadual e judiciário exercido pelos Tribunais de
Justiça Estaduais. O poder de auto-organização dos Estados é derivado (não
é soberano) e é exercido pela promulgação das Constituições Estaduais, cuja
força e limites normativos derivam da própria Constituição Federal.
Os municípios têm autonomia e organização que contempla apenas o
poder executivo e o poder legislativo (Câmara Municipal). Os municípios não
podem organizar poder judiciário próprio e nem instituir Ministério Público.
A legislação de auto-organização que rege o município é denominada de Lei
Orgânica (art. 29 CF/88)
O Distrito Federal (art. 32 CF/88) é sede da União, que também se auto-
organiza por meio de Lei Orgânica, sem que se confunda com a figura dos
municípios ou dos estados. Ao Distrito Federal, por suas peculiaridades,
atribuem-se as competências legislativas dos estados e também dos
municípios.
O Distrito Federal tem representação no Senado Federal, e seu poder
legislativo é constituído pela Câmara Legislativa do Distrito Federal. Por outro
lado, não pode organizar e nem manter poder judiciário e nem Ministério
Público, embora tenha capacidade de manter e organizar Defensoria Pública,
por força das alterações realizadas pela Emenda Constitucional n. 69/2012.
Os territórios, por fim, são parte integrante da União e podem ser criados,
transformados em estado ou reintegrados ao estado de origem na forma da
legislação complementar (art. 18, §2º CF/88). Ainda não se registrou a criação
de territórios no Brasil, mas caso estes passem a existir, a legislação aplicável
determinará como será sua organização administrativa e judiciária (art. 33
CF/88). A Constituição Federal permite a divisão dos territórios em
municípios, no caso destes contarem com mais cem mil habitantes. Para isso,
haverá órgãos judiciários de primeira e segunda instância, membros do
Ministério Público e defensores públicos federais, além do governador (art.
33, §3 CF/88º).

1.5 Formação dos estados e municípios


A formação de novos estados pode se dar por processos de incorporação,
subdivisão ou desmembramento para que estes se anexem a outros estados
ou formem novos estados ou territórios federais. A validade deste processo
deve obedecer às exigências do art. 18, §3º da Constituição de 1988, que
determinam a necessidade de realização de plebiscito para aprovar a criação
pela população diretamente interessada, bem como edição de lei
complementar com a aprovação do Congresso Nacional.

De forma análoga, o art. 18, §4º da Carta Magna aborda a criação, a incorporação, a
fusão e o desmembramento de municípios, que poderá ser ultimada por lei
estadual editada no período estipulado por Lei Complementar Federal (ainda não
publicada). O processo depende da prévia divulgação de Estudos de Viabilidade
Municipal apresentados e publicados na forma de lei, bem como da realização de
plebiscito para consulta prévia dos munícipes das áreas envolvidas.

A respeito da mora na edição da legislação complementar federal mencionada,


diversos municípios foram instituídos de fato. Diante da situação de insegurança
jurídica frente a esta irregularidade, a Emenda Constitucional n. 57, de 2008, inseriu
o art. 96 no ADCT, de modo a convalidar “os atos de criação, fusão, incorporação e
desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de dezembro
de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação do respectivo Estado à
época de sua criação” (BRASIL, 1988, documento online).

Em relação ao processo de desmembramento dos estados e municípios, o


Supremo Tribunal Federal (STF) já firmou o entendimento que a
interpretação do termo população diretamente interessada engloba
“toda a população do Estado-membro ou do Município, e não apenas a
população da área a ser desmembrada” (STF. ADI 2.650. Relator min. Dias
Toffoli. Julgamento: 24/08/2011. Publicação: 17/11/2011).

1.6. Vedações constitucionais de natureza


federativa
O art. 19 da Constituição Federal estipula vedações que se aplicam
conjuntamente a todos os entes federativos, ou seja, a União, aos estados,
ao Distrito Federal e aos municípios. São elas:

Cultos Religiosos e Igrejas: Estabelecimento, subvenção ou interferência ao normal


funcionamento de cultos religiosos e igrejas. O Estado brasileiro é laico e eventuais
relações entre estado e religiões só poderão ocorrer na forma da lei, quando houver
colaboração de interesse público, como é o caso das parcerias eventualmente
firmadas com fundamento na Lei de Organizações da Sociedade Civil (Lei n.
13.019/2014).

Posição do STF: A respeito dessa vedação, o STF já se posicionou pela


inconstitucionalidade de norma do estado de Rondônia que oficializava a Bíblia
Sagrada como livro base de fonte doutrinária para comunidades, Igrejas e grupos,
considerando que tal prática implica em discriminação entre crenças e grupos
religiosos, bem como interferência indevida do estado na organização de
estabelecimentos religiosos (STF. ADI 5.257. Relator min. Dias Toffoli. Julgamento:
20/09/2018. Publicação: 03/12/2018).

Documentos Públicos: Recusar fé aos documentos públicos, vedação que indica o


dever do estado de resguardar a boa-fé dos documentos públicos, bem como das
pessoas que os recebem e deles necessitam em suas relações jurídicas, ou no
exercício de direitos.

Distinções entre brasileiros: Criar distinções ou preferências entre brasileiros. A


esse respeito, o STF já decidiu pela inconstitucionalidade de lei estadual que
estabelecia, nas condições de acesso a cargos públicos, um critério de preferência
que beneficiava candidatos que prestaram serviço público no estado da Bahia. A
Corte entendeu que “o dispositivo legal impugnado tem o claro propósito de
conferir tratamento mais favorável a servidores do estado da Bahia, em detrimento
dos demais Estados da Federação, estando em frontal desacordo com o art. 19, III,
da CF” (STF. ADI 5.776. Relator min. Alexandre de Moraes. Julgamento: 19/12/2018.
Publicação: 03/04/2019).

O STF também já decidiu, com fundamento na vedação de preferências ou


distinções entre brasileiros, pela inconstitucionalidade da “lei estadual que
estabeleça como condição de acesso a licitação pública, para aquisição de
bens ou serviços, que a empresa licitante tenha a fábrica ou sede no Estado-
membro” (STF. ADI 3.583. Relator min. Cezar Peluso. Julgamento: 21/02/2008.
Publicação: 14/03/2008).

2. Repartição de competências
Imagine um time de futebol formado por jogadores que não sabem qual
posição deverão desempenhar na partida. É possível que mais de um queira
atuar como goleiro ou que vários queiram ser atacantes, disputando o título
de artilheiro. E é provável que o time não funcione bem. Esse problema
hipotético demonstra a razão pela qual toda a organização necessita da
distribuição de competências dos seus membros, de forma clara e específica.
No caso da Federação, considerando que os diversos entes possuem
autonomia e capacidade normativa, é preciso que a Constituição delimite as
competências e atribuições de cada um, de modo a evitar conflitos e
desperdício de recursos. A repartição de competências é essencial para
o equilíbrio da Federação.
Ao longo dos anos e das experiências dos diversos estados federados,
desenvolveram-se diversas técnicas de repartição de competência.
Conforme classificam Mendes e Branco (2017), por vezes, a repartição
definirá competências exclusivas ou horizontais (como é o caso das
competências materiais exclusivas e das competências legislativas privativas)
e, em outros momentos, é possível que haja distribuição de uma mesma
competência de forma vertical a mais de um ente, como é o caso das
competências comuns e concorrentes.
As competências materiais ou administrativas, conforme destaca Fernandes
(2010) estão relacionadas a processos de tomada de decisões,
gerenciamento da administração e execução de políticas públicas. As
competências legislativas estão relacionadas à capacidade de editar normas.
É comum que as competências materiais estejam relacionadas com as
competências legislativas, e que estas guardem correspondência com o tipo
de interesse detido pelo ente da federação por aplicação do princípio do
predomínio dos interesses.

2.1. Competência material exclusiva


enumerada da União e do município
A Constituição de 1988 optou por designar expressamente
algumas competências materiais para os estados e municípios,
considerando uma avaliação de conveniência e eficiência no desempenho de
certas funções estatais.
A delimitação de competências exclusivas tem sua origem no modelo de
repartição horizontal previsto pela Constituição dos Estados Unidos da
América de 1787, com as devidas adaptações ao modelo de federalismo
brasileiro, de modo que “as competências são enumeradas para a União e
também para os municípios, e as remanescentes são direcionadas para os
estados-membros” (FERNANDES, 2010, p. 546).
O art. 21 da Constituição Federal aborda funções atribuídas exclusivamente
à União por estarem diretamente relacionadas à soberania e representação
do Estado brasileiro, à prestação de serviços públicos ou atividades de
importância estratégica, bem como à própria segurança nacional, como pode
ser visto na tabela “Competências exclusivas da União”.
As competências materiais atribuídas aos municípios, previstas em diversos
dispositivos constitucionais (art. 29, §IV; art. 30; art. 144, §8º da CF/88, dentre outros)
dizem respeito à execução e ou fiscalização de serviços, recolhimento de tributos e
atividades de interesse local, organização territorial, bem como a atuação na
proteção do patrimônio histórico cultural, dentre outras atividades, como pode ser
visto na tabela “Competências exclusivas do município”.

As competências exclusivas não podem ser usurpadas por outros entes da


Federação. Por exemplo: uma lei municipal não poderia dispor sobre a
organização e prestação do serviço postal, cuja competência é exclusiva da
União. Da mesma forma, a União não pode prestar os serviços de interesse
local, como, por exemplo, o transporte coletivo nos limites do município ou
o próprio serviço de iluminação pública.

2.2. Competência material exclusiva reservada


ao estado
Em relação às competências materiais atribuídas exclusivamente ao estado
destacam-se os poderes de auto-organização e as competências
remanescentes, ou os chamados “poderes reservados”. O art. 25, §1º da
Constituição de 1988 determina que se reserva para os estados as
competências que não estejam vedadas na própria Carta Magna. São
exemplos de competências vedadas aquelas atribuídas aos estados e
municípios, bem como aquelas expressamente vedadas pela Carta Maior.
Conforme destaca José Afonso da Silva (2009, p. 619), um exemplo de
conduta vedada nos termos do art. 34, V da Constituição é “suspender o
pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo
motivo de força maior”.
Um exemplo de competência material que remanesce aos estados é o
transporte intermunicipal: a Constituição dispõe que o transporte
interestadual é de competência da União, e o municipal competência dos
municípios, sem abordar expressamente o transporte intermunicipal. Diante
deste espaço normativo, os estados podem regular tal espécie de transporte.
José Afonso da Silva (2009, p. 619) destaca também algumas competências
materiais exclusivas e especificadas pela Constituição. São elas:
· criação, incorporação, fusão e desmembramento de municípios (art.
18, § 4º);
· exploração direta ou por concessão dos serviços locais de gás
canalizado (art. 25, § 2º);
· faculdade de instituição de regiões metropolitanas, aglomerações
urbanas e microrregiões e o planejamento de funções públicas de interesse
comum (art. 25, § 3º).

2.3. Competência material comum a União,


estados, municípios e Distrito Federal
As competências comuns entre a União, os estados, municípios e o Distrito
Federal são aquelas previstas no art. 23 da Constituição e, em sua essência,
tratam de poderes-deveres para zelar pelo interesse público, em tais como:
· guarda da Constituição, leis, instituições democráticas;
· conservação do patrimônio público e do patrimônio histórico cultural;
· cuidado e proteção: meio ambiente, saúde, assistência pública;
· proporcionar cultura, educação, ciência, tecnologia, pesquisa e
inovação, programas de constrição de moradias e melhoria do saneamento
básico, política de educação para segurança no trânsito;
· fomento a agropecuária;
· combate à pobreza;
· registrar, “acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de
pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios”
(BRASIL, 1988, documento online).

A Lei Complementar n. 130/2011 regulamenta o art. 23, § único da


Constituição e dispõe sobre as formas de “cooperação entre a União, os
estados, o Distrito Federal e os municípios nas ações administrativas
decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das
paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à
poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna
e da flora” (BRASIL, 2009, documento online). A lei dispõe sobre os principais
instrumentos de cooperação institucional e delimita as principais ações
administrativas sob encargo da União, estados, municípios e Distrito Federal.

O exercício das competências comuns deve ocorrer de forma a manter o


“equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional”,
conforme determina o parágrafo único do art. 23 da Constituição (BRASIL,
1988, documento online). Para viabilizar o exercício harmônico dessas
competências, devem ser editadas leis complementares com o objetivo de
estabelecer normas de cooperação entre a União e os estados, o Distrito
Federal e os municípios.

2.4. Competência legislativa privativa da União


Em relação às competências legislativas privativas da União, deve-se
observar, em primeiro lugar, o rol de atribuições previstas no art. 22 da
Constituição de 1988. Contudo, conforme destacam Mendes e Branco (2017,
p 874), este rol não é exaustivo, considerando outras competências
legislativas previstas nos arts. 48, 49, 149, 164 e 184, dentre outras
disposições constitucionais, que necessitam de regulamentação, tais como
as chamadas “leis para o desenvolvimento de direitos fundamentais” e que
envolvem questões como a quebra de sigilo telefônico e a existência de
prestação alternativa ao serviço militar obrigatório.
Dentre as principais competências legislativas atribuídas privativamente à
União, pode-se destacar as descritas na tabela “Competências exclusivas da
União”.
2.5. Delegação de competência legislativa da
União para os estados
O parágrafo único do art. 22 da Constituição prevê a possibilidade de
“delegação de competência legislativa da União para os estados” (BRASIL,
1988, documento online). Fernandes (2010, p. 550) destaca os requisitos para
tal delegação:
a) forma: autorização por lei complementar;
b) matéria: a legislação deve ser sobre matéria específica, sem total
esvaziamento da competência da União;
c) manutenção da isonomia (art. 19, III CF/88): se houver delegação para um
estado, deve haver delegação para outros.
A delegação não indica que a União perderá suas competências, de modo
que ela poderá retomar/avocar suas competências legislação sobre o
assunto.

2.6. Competência legislativa concorrente da


União, dos estados e do Distrito Federal
A Constituição de 1988 estipula competências concorrentes por meio de
repartição vertical não cumulativa, o que significa dizer que a “União editará,
em uma mesma matéria, normas gerais, e os Estados e o DF irão
suplementar as normas da União para atender as peculiaridades regionais”
(FERNANDES, 2010, p. 546).

As disposições gerais da Lei n. 13.874/2019, a chamada Lei da Liberdade


Econômica, dispõe sobre a harmonização de competências concorrentes. O
art. 1º, §4º estipula quais regras são consideradas normas gerais de direito
econômico, a ser “observado para todos os atos públicos de liberação da
atividade econômica executados pelos estados, pelo Distrito Federal e pelos
municípios”. A lei também determina que as normas específicas só poderão
ser aplicadas aos estados, municípios e Distrito Federal caso: “I - o ato público
de liberação da atividade econômica for derivado ou delegado por legislação
ordinária federal; ou II - o ente federativo ou o órgão responsável pelo ato
decidir vincular-se por meio de instrumento válido e próprio”. Esta disposição
evita que a União invada as competências suplementares dos demais entes
(BRASIL, 2019, documento online).

O parágrafo segundo do art. 24 dispõe que a “competência da União para


legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos
estados” (BRASIL, 1988, documento online). De igual forma, quando não
houver normal federal geral, serão os estados responsáveis por exercer a
competência legislativa de forma plena (§ 3º). Neste caso, caso haja lei federal
superveniente, haverá suspensão da legislação estadual no que esta
contrariar as normas gerais de matriz federal (§ 4º).
A competência legislativa concorrente prevista no art. 24 da Constituição
abrange as matérias descritas na tabela “Competências privativas da União”.

2.7. Competência legislativa remanescente do


estado
O Estado possui competências remanescentes, inclusive no campo
legislativo: poderá elaborar normas que não estejam dentre as competências
exclusivas dos munícipios e da União, e desde que não incorra em vedações
previstas pela Constituição (art.25). Conforme explicam Mendes e Branco
(2017, p. 876), parte considerável destas atribuições não estão previstas de
forma expressa na Constituição e podem envolver “matérias orçamentárias,
criação, extinção e fixação de cargos públicos estaduais, autorizações para
alienações de imóveis, criação de secretarias de estado, organização
administrativa, do judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e
Procuradoria Geral do Estado”.
2.8. Competência legislativa exclusiva e
suplementar do município
O art. 30, I da Constituição determina que os municípios têm a
competência para legislar sobre assuntos de interesse local, ou seja, em
temas que repercutam de forma predominante na esfera municipal, como é
o caso “ dos transportes coletivos municipais, coleta de lixo, ordenação do
solo urbano, fiscalização das condições de higiene de bares e restaurantes,
dentre outros” (MENDES; BRANCO, 2017, p. 879).
O legislador municipal deve estar atento para não ferir outros princípios e
regras da Constituição com o pretexto de defender o interesse local. A esse
respeito, a súmula vinculante n. 49 do STF determinou que “ofende o
princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de
estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área”
(BRASIL, 2001, documento online).

2.9. Competência legislativa reservada do


Distrito Federal
Nos termos do art. 31, §1º da Constituição, ao Distrito Federal são reservadas
as competências legislativas dos Estados e dos municípios. Significa dizer
que o interesse distrital ou regional é formado pela conjugação entre o
interesse local e o estadual ou regional (FERNANDES, 2010).
O STF já se pronunciou sobre a natureza singular do Distrito Federal.
O Distrito Federal é uma unidade federativa de compostura singular, dado
que:
• a) desfruta de competências que são próprias dos Estados e dos
Municípios, cumulativamente (art. 32, § 1°, CF);
• b) algumas de suas instituições elementares são organizadas e
mantidas pela União (art. 21, XIII e XIV, CF);
• c) os serviços públicos a cuja prestação está jungida são financiados,
em parte, pela mesma pessoa federada central, que é a União (art. 21,
XIV, parte final, CF).
Conquanto submetido a regime constitucional diferenciado, o Distrito
Federal está bem mais próximo da estruturação dos Estados-membros do
que da arquitetura constitucional dos Municípios. Isso porque:

• Competência
a) ao tratar da competência concorrente, a Lei Maior colocou o Distrito
Federal em pé de igualdade com os Estados e a União (art. 24);
• Intervenção
b) ao versar o tema da intervenção, a Constituição dispôs que a "União
não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal" (art. 34),
reservando para os municípios um artigo em apartado (art. 35);
• Poderes
c) o Distrito Federal tem, em plenitude, os três orgânicos poderes
estatais, ao passo que os municípios somente dois (inciso I do art. 29);

• Mandatos
d) a Constituição tratou de maneira uniforme os Estados-membros e
o Distrito Federal quanto ao número de deputados distritais, à
duração dos respectivos mandatos, aos subsídios dos parlamentares,
etc. (§ 3º do art. 32);

• Legitimação
e) no tocante à legitimação para propositura de ação direta de
inconstitucionalidade perante o STF, a Magna Carta dispensou à Mesa
da Câmara Legislativa do Distrito Federal o mesmo tratamento dado
às assembleias legislativas estaduais (inciso IV do art. 103);

• Modelo
f) no modelo constitucional brasileiro, o Distrito Federal se coloca ao
lado dos Estados-membros para compor a pessoa jurídica da União;
• Vontade
g) tanto os Estados-membros como o Distrito Federal participam da
formação da vontade legislativa da União (arts. 45 e 46).

A LC 101/2000 conferiu ao Distrito Federal um tratamento rimado com a sua


peculiar e favorecida situação tributário-financeira, porquanto desfruta de fontes
cumulativas de receitas tributárias, na medida em que adiciona às arrecadações
próprias dos Estados aquelas que timbram o perfil constitucional dos Municípios.
Razoável é o critério de que se valeram os dispositivos legais agora questionados.
Se irrazoabilidade houvesse, ela estaria em igualar o Distrito Federal aos Municípios,
visto que o primeiro é, superlativamente, aquinhoado com receitas tributárias.
Ademais, goza do favor constitucional de não custear seus órgãos judiciário e
ministerial público, tanto quanto a sua defensoria pública, polícias civil e militar e
ainda seu corpo de bombeiros militar. (ADI 3.756, rel. min. Ayres Britto. Data de
Julgamento: 21/6/2007, Data de Publicação: 19/10/2007).
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
· as principais formas de Estado são: unitário, federal, regional e
autonômico;
· o Brasil é uma república que adota a forma federativa, pela união
indissolúvel entre a União, o estado o município e o Distrito Federal;
· para permitir o bom desempenho das funções públicas, a Constituição
distribui entre os entes da Federação competências materiais (execução de
políticas públicas, gestão do estado etc), que normalmente estão
relacionadas com as competências legislativas;
· a distribuição de competências pode ocorrer de forma exclusiva ou
compartilhada (competências comuns e concorrentes), sendo que sua
distribuição segue o princípio do predomínio dos interesses;
· como há distribuição de competências, não se deve falar em hierarquia
entre a lei federal e as leis estaduais.

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