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Universidade de Brasília – UnB

CARNOY, Martin. “Marx, Engels, Lenin e o Estado”. Estado e teoria política. Campinas:
Papirus, 1990, pp. 63-87.

Marx considera as condições materiais de uma sociedade como a base de sua estrutura social e da
consciência humana. Pg 65”
A forma do Estado emerge, portanto, das relações de produção e não do desenvolvimento geral da
mente humana. Pg. 65
Impossível separar a interação humana em uma parte da sociedade e a interação em outra: a consciência
guia e determina essas relações, é o produto das condições materiais. Pg. 65
Hegel delimita que o Estado envolve uma relação justa e ética de harmonia entre os elementos da
sociedade, o Estado «racional». Pg. 66
O estado é eterno, não histórico – transcende à sociedade como uma coletividade idealizada. Pg. 66
Marx colocou o Estado em um contexto histórico e o submeteu a uma concepção materialista da
história. Pg. 66
Marx: «Não é o Estado que mola a sociedade, mas a sociedade que molda o Estado». Pg. 66
O Estado que emerge das relações de produção não representa o bem-comum, mas é a expressão
política da estrutura de classe inerente à produção. Pg. 66
Hegel: «Estado é responsável pela representação da ‹coletividade social›, acima dos interesses
particulares e das classes, assegurando a competição entre os indivíduos e os grupos permanecerem em ordem.
Os interesses coletivos do todo social seriam preservados nas ações do próprio Estado». Pg. 66-67
Marx: «O Estado é um instrumento essencial de dominação de classe na sociedade capitalista, não está
acima dos conflitos de classe, mas profundamente envolvido neles». Pg. 67
O Estado é comunitário, representante dos interesses comuns e somente um Estado democrático poderia
corporificar o interesse comum. Pg. 67
O Estado não é algum ideal, é o povo. Pg. 68
Possuía vida própria, separada da sociedade civil, com seus próprios interesses particulares. Pg. 68
Após uma visita a Paris, sob influência de Engels, descreve o Estado como uma instituição com vinculo
de classe. Pg. 68
Todas as lutas no seio do Estado são «meramente formas ilusórias sob as quais as lutas reais das
diferentes classes se travam entre si». Pg. 68
O Estado capitalista é dominado pela burguesia, adota-o para fins externos e internos, para a garantia
mútua de sua propriedade e seus interesses. Pg. 68
Necessidade de mediar o conflito de classes e manter a «ordem», que reproduz o domínio econômico
da burguesia. Pg. 69
O Estado representa o braço repressivo da burguesia. Pg. 70
As formas democráticas são tanto um instrumento quanto um perigo para a burguesia. Embora possam
ser usadas para criar ilusões, podem também se tornar o meio pelo qual as massas venham a deter o poder.
Noção do Estado democrático e popular. Pg. 72
Para Miliband:
Os membros do sistema de Estado tendem a pertencer à mesma classe ou classes que dominam a
sociedade civil. Pg. 73
A classe capitalista domina o Estado através de seu poder econômico global. Pg. 73
O Estado é um instrumento da classe dominante porque, dada sua inserção no modo capitalista de
produção, não pode ser diferente. Pg. 73
O Estado de Luís Napoleão jogou uma classe contra a outra, liberando o Imperador a fazer como bem
entendesse através de seu controle inquestionável do mesmo. Não houve mudanças nas formas de produção,
fazendo com que a burguesia acumulasse grandes somas de capital e moveu-se contra os «grilhões do Estado
autônomo para reconquistar o controlo do aparelho estatal». Período caracterizado pelo equilíbrio das classes
em luta. Pg. 74-75
Para Marx e Engels há dois níveis de autonomia para o Estado:
Condição «normal» - a burocracia do Estado tem alguma autonomia frente à burguesia devido a aversão
inerente da burguesia em atuar diretamente no aparelho do Estado e devido aos conflitos entre os capitais
individuais. A burguesia atribui a gerência dos negócios políticos da sociedade a uma burocracia. Esta por sua
vez está subordinada à sociedade e à produção burguesas. Pg. 76
A degradação da burocracia leva ao segundo nível quando nenhuma classe consegue demonstrar seu
poder sobre o Estado. A burocracia ganha autonomia frente o controlo de classes não sendo dominada por
nenhuma classe da sociedade civil. Mesmo nesse caso, o poder do Estado depende das condições políticas
numa sociedade de classes. Se o Estado autônomo não muda a configuração do poder econômico, ele depende
da burguesia dominante para a acumulação de capital. Pg. 76
Para Lênin, Marx e Engels, o interesse do Estado centrava-se na estratégia revolucionária, numa teoria
de transformação do capitalismo para o comunismo. Pg. 78-79
As perspectivas de Lênin sobre o Estado foram desenvolvidas no contexto específico da Revolução
Russa. Pg. 79
Para Lênin o Estado é um órgão de dominação de classe que tenta conciliar o conflito de classes, porém
esse conflito é irreconciliável. Pg. 79
Segundo ele, «sem esse conflito, não há necessidade de Estado», a ditadura da burguesia deveria ser
derrubada e todos as suas instituições estatais deveriam ser destruídas, sempre através da força armada, e uma
nova ditadura, a do proletariado, deveria ser instaurada no lugar, com instituições próprias. A inexistência de
Estado requisitada por Marx para a implementação desse novo sistema era vista por Lênin como o vácuo
existente entre a derrocada de um regime e a instauração do novo. Considerava o aparelho do Estado como
um «produto e manifestação da irreconciliabilidade dos antagonismos de classe». As representações
democráticas capitalistas são na verdade uma farsa que visa servir os interesses do próprio capitalismo em
detrimento das massas, voltada para a minoria rica. Pg. 79-83
Rosa Luxemburgo critica Lênin e Trotski por seu centralismo e abandono da democracia operária,
alegando que as novas ordens soviéticas implementadas em 1917 se assemelham ao modelo burguês,
abandonando assim o conceito marxista de ditadura do proletariado. Pg. 84
«O poderio econômico e militar da União Soviética impôs a visão leninista da ditadura do proletariado
aos países socialistas, em vez de permitir [...] as necessárias garantias democráticas». Pg. 85
Segundo Luxemburgo com a «repressão da vida política no campo, a vida dos sovietes se tornará
também cada vez mais mutilada». Pg. 86

COMPLEMENTAÇÃO RESUMIDA

MARX E ENGELS
• Marx e Engels defendem que o Estado surge da contradição entre o interesse de um indivíduo e o
interesse comum de todos os indivíduos.

• FUNDAMENTOS MARXISTAS PARA A ANÁLISE DA TEORIA POLÍTICA E DO ESTADO:

1) MATERIALISMO
- Condições materiais - ou seja, modo pelo qual as coisas são produzidas, distribuídas e consumidas – são
a base da estrutura social e da consciência humana.
- As relações de produção moldam a sociedade e a sociedade molda o Estado.
- Essa Submete o Estado à concepção materialista da História.

2) REJEIÇÃO DO ESTADO COMO CURADOR DA SOCIEDADE


- O Estado emerge das relações de produção e não do bem-comum.
- A sociedade capitalista é uma sociedade de classes dominada pela burguesia e o Estado é a expressão
política dessa dominação.
- Estado tem vida própria separada da sociedade civil e seus próprios interesses.
- O Estado capitalista é uma resposta à necessidade de mediar o conflito de classes e manter a “ordem”.
Ordem essa que reproduz o domínio econômico da burguesia.
- E, já que a classe capitalista domina o Estado através de seu poder econômico global, o Estado está
inserido no modo capitalista de produção.

3) ESTADO COMO BRAÇO REPRESSIVO


- O Estado funciona como aparelho repressivo da burguesia para conter os antagonismos de classe.
Legitimação do poder para reforçar a dominação burguesa.

• HEGEL vs. MARX


- HEGEL (IDEALISMO): Estado como “racional”, mediador de conflitos em prol do bem-comum,
criando uma relação justa e harmônica entre os membros da sociedade. Tal Estado é eterno e é a expressão da
“coletividade social”. MARX (MATERIALISMO): Estado como produto das relações de produção e da
dominação de uma classe sobre a outra. Não há a harmonia de Hegel, pois há conflito de interesses.

• DOIS NÍVEIS DE AUTONOMIA DO ESTADO

1) Em condições normais: A burocracia tem alguma autonomia frente à burguesia, devido à aversão desta
última em atuar diretamente no aparelho do Estado. A burocracia serve como uma espécie de executor
para toda a classe capitalista.

2) Em condições excepcionais: Quando a luta de classes é congelada, nenhuma classe tem poder
suficiente e o Estado ganha autonomia frente ao controle das classes. Exemplo histórico: império de
Luís Bonaparte.

LENIN
• Para Lenin, assim como para Marx e Engels, o interesse no Estado centrava-se na revolução, na
transformação do capitalismo para o comunismo.

• Estratégia revolucionária; teoria política marxista como uma teoria de ação.

• A que o conflito de classes não pode ser conciliado pela ação do Estado, a necessidade de um Estado,
uma vez que ele é o aparelho repressivo de uma classe dominante, só existe porque está presente um
conflito de classes. Sem esse conflito, não há necessidade de Estado.

• Já que o conflito é irreconciliável, a liberação da classe dominada não é possível a não ser por meio de
uma revolução violenta e a destruição do Estado burguês.

• O objetivo de Lenin em seu livro O Estado e a Revolução não era descrever a essência do Estado
burguês em si, mas estimular uma estratégia para a revolução socialista.

DUAS PARTES:
1) derrubada do Estado burguês
2) transição ao comunismo

• A luta de classes continua na transição do capitalismo para o comunismo e requer a ditadura do


proletariado, que consiste na eliminação da burguesia.

• Estado leninista era centralizador e autoritário, com todo o poder residindo em seu Comitê Central.

• Crítica de Rosa Luxemburgo: critica o centralismo leninista e o acusa de abandonar a democracia


operária. Ela defendia que quando o proletariado assumisse o poder, deveria exercer, na verdade, uma
ditadura de classe. Mas essa, baseada na participação da maioria do povo e não na dominação de um
partido ou grupo. A ditadura do proletariado não deveria eliminar a democracia, mas basear-se na
participação ilimitada e ativa do povo

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