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Universidade de Brasília – UnB

SELL, Carlos Eduardo. “Ideologias políticas”. Introdução à Sociologia Política. Petrópolis:


Vozes, 2005, pp. 51-78

As ideologias políticas são resultado da ação prática de grupos e organizações sociais, que dispõem de
valores e princípios que serão utilizados em uma atividade politica para a sociedade. Ideologia remete, no
sentido negativo, a falsas ideias, mas por um viés positivo, refere-se a projetos políticos (p. 51). Segundo Karl
Marx, a ideologia tem dois entendimentos: um “instrumentalista” (visões de mundo e da realidade
fundamentadas pelas classes dominantes como forma de legitimar seu domínio e esconder a verdade) e outro
“sistêmico” (sendo uma consequência da sociedade e não é enxergada pela população). Entretanto para
Norberto Bobbio, na percepção positiva, a ideologia designa um conjunto de ideias e valores que obedecem a
ordem pública, orientando os comportamentos sociais e reunindo os projetos (propostas) políticos, por outro
lado, podem ser considerada como o interesse de grupos, movimentos ou partidos políticos que desejem agir
na sociedade (p. 52-53).
Na primeira modernidade existem três concepções acerca da relação entre sociedade e Estado que se
destacam: o liberalismo, o socialismo e a social democracia, lembrando que mesmo ideologias diferentes
podem compartilhar de alguns aspectos como, por exemplo, a extrema-direita e a extrema-esquerda utilizarem
do fundamentalismo e da violência como tática política (p. 53-54). O liberalismo possui duas vertentes:
política (John Locke) e econômica (Adam Smith). A primeira estabelece que o poder político é proveniente
da vontade dos cidadãos e o Estado possui a função de proteger as liberdades fundamentais deles (vida,
liberdade individual e a propriedade). Já a segunda, expressa o princípio do livre mercado, no qual Adam
Smith expõe o papel do mercado no alcance de benefícios coletivos, além da divisão do trabalho que visa o
trocar, poupar e ganhar. Assim, observa-se que tanto o liberalismo político quanto o econômico pregam a ideia
do “Estado mínimo” (p. 55-60).
No século XX, houve crise nas ideias do liberalismo econômico, pela quebra da bolsa de valores de
Nova York (1929) e da propagação das ideias de John Keynes que explicava o fato de em certas situações
(crises) a renda dos capitalistas não é investida, prejudicando a produção de bens e empregos. Dessa maneira,
o princípio básico do liberalismo econômico (se todos os indivíduos puderem perseguir seus objetivos, sem
impedimentos, o próprio mercado garantirá seus benefícios), foi abandonado (p. 60-61). Posteriormente, veio
a crise do capitalismo (década de 70) e o neoliberalismo foi ganhando espaço, de modo que nos anos 80, ficou
quase hegemônico no continente devido ao Consenso de Washington (p. 61-63).
No que diz respeito ao socialismo, têm-se que Karl Marx que declarava que com a suspensão da
propriedade privada, desapareceria a divisão da sociedade em classes e onde não há classe social não
precisasse do Estado. Portanto, a abolição do Estado era uma condição fundamental do comunismo, mas era
necessário um período de transição entre o capitalismo e o comunismo, sendo conhecido como socialismo (p.
65-66). Nessa ideia, a Revolução russa foi o símbolo do movimento socialista e do ponto de vista histórico
teve quatro fases que correspondem aos períodos: insurrecional (1917-1929), stalinista (1924-1953), pós-
stalinista (1953-1981) e o de crise decadência (1985-1991). Embora existam muitas contradições sobre o
Estado soviético, essa ideologia conscientizou os trabalhadores de lutarem pelos seus direitos, além de
consolidar o valor da igualdade (p. 67-70). Atualmente, esse modelo é inexistente, mas deixou a herança a
social-democracia (ideologia reformistas ou do reformismo) por propor que as deficiências do capitalismo
fossem mediadas pelo Estado. Todavia, os seguidores de Karl Marx, dividiram-se em socialistas social-
democratas, que construíram o Estado de Bem-Estar-Social, e os revolucionários, responsáveis pela
Revolução Russa (p. 70-72). É importante salientar que o Estado de Bem-Estar-Social, foi lançado com base
na economia keynesiana. Já os sociais-democratas, conseguiram humanizar o capitalismo e colocaram-no a
serviço dos trabalhadores. Por isso, adaptaram-se ao sistema capitalista e não quiseram sair dele. No futuro,
os sociais-democratas deixaram o poder e para obtê-lo novamente, optaram pelo discurso da Terceira Vida
que incluía diferentes políticas, na tentativa de transcender tanto a social-democracia quanto o neoliberalismo
(p. 72-76).
A segunda modernidade é marcada por uma crise nas ideologias, devido aos valores de liberdade e
igualdade estarem consolidados em grande parte do ocidente e haviam problemas que ideologias existentes
não abrangiam, como a natureza, os direitos das mulheres, riscos de ameaça, entre outros (p. 76-78). Conclui-
se que as ideologias podem destruir a comunidade social e política caso sejam absolutizadas (nazismo,
fascismo e stalinismo). Por fim, é apresentado o esquema de Loparic que aponta para o perigo de quanto
totalizam um projeto social e político. Logo, compreende-se que as ideologias do século XXI necessitam de
ter o caráter aberto e contingente dessa fase da modernidade (p. 78).

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