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Música e Sociologia – Profª. Drª.

Gina Denise Barreto Soares

Carlos Alexandre Kelert – Bacharelado Erudito

MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense,1994

CAPITULO PRIMEIRO: O SURGIMENTO

“A sociologia juntamente com a queda da sociedade feudal e consolidação do


capitalismo como uma forma de entender as mudanças vindas com isso. Seu
nascimento “não é obra de um único filósofo ou cientista, mas representa o
resultado da elaboração de um conjunto d e pensadores que se empenharam
em compreender as novas situações de existência que estavam em curso”
(MARTINS, 1994, p.5).

“O século XVIII teve grande importância na formação da sociologia. “A dupla


revolução que este século testemunha – a industrial e a francesa – constituía
os dois lados de um mesmo processo, qual seja, a instalação definitiva da
sociedade capitalista” (MARTINS, 1994, p.5).

“A importância da revolução industrial para a sociologia esta com “a


profundidade das transformações em curso colocava a sociedade num plano
de análise, ou seja, esta passava a se constituir em “problema”, em “objeto”,
que deveria ser investigado” (MARTINS, 1994, p.7).

“Nos primeiros momentos após revolução, a pobreza já começou a se


intensificar notavelmente com o intenso êxodo rural, dando origem a uma nova
classe social nas cidades: a do proletariado, trabalhadores industriais. “As
consequências da rápida industrialização e urbanização levadas a cabo pelo
sistema capitalista foram tão visíveis quanto trágicas [...]” (MARTINS, 1994, p.7).

“Essas mudanças desencadeiam uma necessidade de estudo da sociedade e seus


problemas. A sociologia constitui e m certa medida uma resposta intelectual
as novas situações colocadas pela revolução industrial. Boa parte de seus
temas d e analise e reflexão foi retirada das novas situações, como por
exemplo, a situação da classe trabalhadora, a organização do trabalho na
fabrica, etc.” (MARTINS, 1 994, p.8).

“A estaticidade das sociedades pré -capitalistas não impulsionava uma reflexão


aprofundada sobre os problemas da sociedade, estaticidade essa, inexistente
com a for mação da estrutura social capitalista. As modificações no pensamento
também se tratam de uma circunstância para o surgimento da sociologia. As
mudanças econômicas ocorrentes na Europa desde o século XV I
desencadearam uma nova visão sob a forma do saber sobre a natureza e
cultura, perdendo aquela visão de um mundo sobrenatural e substituindo por
pensamentos mais lógicos e racionais. “O emprego sistemático da razão, do
livre exame da realidade – traço que caracterizava os pensadores do século
X VII, os chamados racionalistas – representou um grande avanço para liberar
o conhecimento do controle teológico, da tradição, da “revelação” e,
consequentemente, para a formulação de uma nova atitude intelectual diante
fenômenos da natureza e da cultura” (MARTINS, 1994, p.9).

“Foi o século XVIII, um século de produtivos avanços, como que em relação


ao método de estudo da sociedade a partir de seus grupos e não por indivíduos
isolados. Também o surgimento de um grupo de filósofos franceses ideólogos
da burguesia, que eram de extrema oposição aos fundamentos da sociedade
feudal. Os iluministas tinham o intuito de estudar o mundo social de sua
época para que pudessem mostrar que era injusto e irracional, atentando contra a
natureza humana, ou seja, a liberdade. A revolução de 1789 foi de total
contribuição para a sociologia, visto que durante esse processo de tomada de
poder da burguesia, surgem os grandes pensadores pais da sociologia, como
Durkheim, que diante revolução industrial diz : “a tempestade revolucionaria
passou, constitui-se como que por encanto a noção de ciência social”. Comte, outro
fundador da nova ciência “a sociologia deveria orientar -se no sentido de
conhecer e estabelecer aquilo que ele denominava leis imutáveis da vida
social, abstendo -se de qualquer consideração critica, eliminando também
qualquer discussão sobre a realidade existente, deixando de abordar, por
exemplo, a questão de igualdade, da justiça, da liberdade” (MARTINS, 1994,
p.16)”.
“Teria a sociologia que se separar da das outras ciências, ter uma “autonomia”
da filosofia e da economia política, tornando os fenômenos sociais independentes
dos econômicos. [...] Sociologia sempre foi algo mais do que mera tentativa
de reflexão sobre a moderna sociedade. Suas explicações sempre contiveram
intenções pr áticas, um desejo de interferir no rumo desta civilização, tanto para
manter como para alterar os fundamentos da sociedade que a impulsionaram
e a tornaram possível” (MARTINS, 1994, p.17).

CAPÍTULO SEGUNDO: A FORMAÇÃO

“De início, a sociologia não possuía um entendimento unanime entre sociólogos


devido à divisão da sociedade em classes. O caráter antagônico da sociedade
capitalista, ao impedir um entendimento comum por p arte dos sociólogos em
torno ao objeto e ao s métodos de investigação desta disciplina, deu margem
ao nascimento de diferentes tradições sociológicas ou distintas sociologias, como
preferem a firmar alguns sociólogos.” (MARTINS, 1994, p. 18).

“Uma dessas tradições usa o conservadorismo como fonte de inspiração para


formá-la conceitos que explicam a realidade. Os conservadores, chamados
“profetas do passado” eram de oposição aos iluministas, defendiam a sociedade
feudal, e culpavam os pensamentos iluministas de desencadear a revolução de
1789 – que eles consideram o castigo de Deus na Terra – aniquilando com
isso a propriedade, autoridade religião e a própria vida em si, o que pode ser
entendido no seguinte trecho: A sociedade moderna, na visão conservadora,
estava em franco declínio. Não viam nenhum progresso numa sociedade cada
vez mais alicerçada no urbanismo, na indústria, na tecnologia, na ciência e no
igualitarismo. Lastimavam o enfraquecimento da família, da religião, da corpo
ração etc. Na verdade, julgavam eles, a época moderna era dominada pelo
caos social, p ela desorganização e pela anarquia. Não mediam esforços ao
culparem a Revolução Francesa por esta escalada do declínio da história
moderna. A Revolução de 1 789 era, na visão dos "profetas do passado", o
último elo dos acontecimentos nefastos iniciados com o Renascimento, a
Reforma Protestante e a Era da Razão.” (MARTINS, 1994, p.19, 20).

“As ideias dos conservadores serviram como base para os pioneiros da


sociologia, que defendiam a nova ordem econômica e política, implantados na
sociedade europeia no final d o século XIX, adaptando as concepções às novas
circunstâncias da época. Entre esses pioneiros positivistas destaca-se Saint-
Simon, August Comte e Emile Durkkheim, todos com grande influência
conservadora. “São estes autores que, de modo destacado, iniciarão o trabalho
d e rever uma série de ideias dos conservadores, procurando dar a elas uma
nova roupagem, com o propósito de defender os interesses dominantes da
sociedade capitalista” (MARTINS, 1994, p.20).

“O socialismo nasce com Marx e Engels, em uma sociedade inteiramente


industrial, meio a opressão de empresários ao proletariado, que passaram a
se revoltar contra essa minoria dominante. Tanto Marx quanto Engels não
tinham como interesse a fundação da sociologia como ciência especifica. “Em
suas obras, disciplinas que hoje chamamos de antropologia, ciência política,
economia, sociologia, estão profundamente interligadas [...]” ( MARTINS, 1994,
p.28).

“Visto que ambos concluem “serem os fatos econômicos a base sobre a qual
se apoiavam os outros níveis da realidade, como a religião, a arte e a política,
e que a análise da base econômica da sociedade deveria ser orientada pela
economia política [...] ” (MARTINS, 1994, p.30).

“Eram contra a visão egoísta de economistas da Escola Clássica, que falavam


da produção d e bens materiais da sociedade como impulsionada pela satisfação
particular de cada um. Argumentando contra essa concepção extremamente
individualista, procuravam assinalar que o homem era um animal essencial
mente social. A observação histórica da vida social demonstrava que os
homens se achavam inseridos em agrupa mentos que, dependendo do período
histórico, poderia ser a tribo, diferentes formas de comunidades ou a família”
(MARTINS, 1994, p.30).

“Ao contrário de Marx e Engels, Max Weber tinha como objetivo a criação de uma
reputação cientifica a sociologia. Propunha uma sociologia neutra, sem
interferências do ideológico do sociólogo. [...] Desejava assinalar que um cientista
não tinha o direito de possuir, a partir de sua profissão, p referências políticas e
ideológicas. No entanto, julgava ele, sendo todo cientista também um cidadão ,
poderia ele assumir posições apaixonadas em face dos problemas econômicos
e políticos, mas ja mais deveria defendê-los a partir de sua atividade profissional
(MARTINS, 1994, p.33).

“Também em diferenciação com Marx, Weber não vê o capitalismo como de


todo mal, tentando entende-lo em toda sua essência, “para ele, as instituições
produzidas pelo capitalismo, como a grande empresa, constituíam clara
demonstração d e uma organização racional que desenvolvia suas atividades
dentro de um padrão de precisão e eficiência” (MARTINS, 1994, p.36).

“Independendo do que defendiam, os clássicos da sociologia buscam de modo


geral uma forma de explicação eloquente das transformações da sociedade
europeia de suas épocas. Seus trabalhos forneceram preciosas informações sob
re as condições da vida humana, sobre o problema do equilíbrio e da mudança
social, sobre os mecanismos de dominação, sobre a burocratização e a
alienação da época moderna. Geralmente, estes estudos clássicos, ao
examinarem problemas históricos d e seu tempo, forneceram uma imagem do
conjunto da sociedade da época. Suas análises também estabeleceram, via de
regra, uma rica relação entre as situações históricas e os homens que as
vivenciavam, propiciando assim uma importante contribuição para a compreensão
d a vinculação entre a biografia dos homens e o s processos históricos.” (MARTINS,
1994, p.37).

CAPÍTULO TERCEIRO: O DESENVOLVIMENTO

“Coincidir a chegada do capitalismo com o surgimento da sociologia gerou


um sentimento de otimismo em relação à nova ordem mundial, mas passar do
tempo essa ideia de não passava de ilusão. A burguesia da época larga a
ideia de fraternidade e igualdade, passando para ideologias mais conservadoras
e opressoras. Guerras, revoluções da classe operaria, o crescente poder
nas mãos de grandes empresas, são exemplos de motivos para a descrença na
civilização capitalista. A profunda crise em que mergulhou a civilização
capitalista em nosso tempo não poderia deixar de provocar sensíveis
repercussões no pensamento sociológico contemporâneo. O desmoronamento
da civilização capitalista, levado a cabo pelos diversos movimentos
revolucionários e pela alternativa socialista fez com que o conhecimento
científico fosse submetido aos interesses da ordem estabelecida. As ciências
sociais, de modo geral, passaram a ser utilizadas par a produzir um
conhecimento útil e necessário à dominação vigente “(MARTINS, 19 94, P.38).

“Com a Segunda Guerra Mundial, o estudo da sociologia recebe um ponta


pé, avançando bruscamente, em principal, a respeito da civilização capitalista e seus
efeitos. Mas apesar dos avanços, havia suas limitações. As pesquisas da
época eram de inspiração nos trabalhos de Durkheim, que “relegaram
decididamente a segundo plano as classes sociais como elemento explicativo
dos fenômenos sociais” (MARTINS, 1994, p.41).

“Com a sociologia vinda a se tornar um trabalho, e sociólogos assalariados


comuns, houve um desacelerar no desenvolver do pensamento sociológico,
mecanizando esses estudos. Em grande medida, a função do sociólogo de nossos
dias é liberar sua ciência do aprisionamento que o poder burguês lhe impôs e
transformar a sociologia em um instrumento de transformação social. Para isso,
deve colocá-la ao lado - sem paternalismo e vanguardismo - dos interesses
daqueles que se encontram expropriado s material e cultural mente, par a j unto
deles construir uma sociedade mais justa e mais igualitária do que a presente.”
(MARTINS, 1994, p.50)

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