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A cada dez anos é comum que se realizem diversos trabalhos e artigos sobre o
Movimento da Reconceituação e o seu legado. Ainda até hoje, são vários os
debates em aberto, com desenvolvimentos muito diferentes em cada país da região.
Mesmo assim, é difícil encontrar uma análise do contexto que vá além da
enunciação de alguns elementos comuns, pelo menos em muitos desses trabalhos
e artigos. Isto pode acontecer em decorrência das limitações de espaço para a
exposição. O que certamente é diferente já no caso de dissertações de mestrado e
teses de doutorado.
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Este texto é um rascunho inicial de uma produção necessária para a disciplina Fundamentos do Serviço Social
II, mas que certamente precisa ser ampliado e aprofundado pensando em uma publicação que contribua na
análise e exposição do contexto no qual surge, se desenvolve e entra em crise o Movimento da
Reconceituação no Serviço Social na Nossa América. Este rascunho é produto de reflexões em diversas
disciplinas, como professor, na Universidade Federal da Integração Latino-americana (2016-2017), da
Universidad Santiago de Cali (2017-2020) e como convidado do Mestrado em Trabalho Social da Universidad
del Centro de la Provincia de Buenos Aires (2021).
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Professor adjunto da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
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Recuperamos aqui a célebre expressão do cubano José Martí, para fazer referência a unidade da história dos
nossos povos e a necessária unidade das nossas lutas, desde o Rio Bravo até Magalhães.
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Para uma aproximação sobre as tendências do debate profissional que se assumem como “críticas” ver
Sierra-Tapiro (2021).
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O que se pretende com este texto é precisamente contribuir em uma síntese do
contexto da Reconceituação, não com a pretensão de trazer novos elementos, mas
de facilitar aos estudantes uma aproximação geral que, pelo menos na revisão que
fizermos até agora, não encontramos5, sobre o contexto da região entre as décadas
de 1960 e 1970.
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A disciplina de Fundamentos do Serviço Social II, neste período (2021-1), está sendo trabalhada em conjunto
com a professora Mary Jane de Oliveira Teixeira.
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Na reorganização da coerção, sob a roupagem de “defesa”, se gera uma
coordenação das forças armadas, comandada pelas forças militares
estadunidenses.
- Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR). Assinado em 1947 no
Rio de Janeiro – Brasil.
- Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Assinado em 1949 em
Washington – EUA.
- Organização das Nações Unidas (ONU), 1945. Embora seja um acordo entre os
países vencedores na denominada II Guerra Mundial, para supostamente manter a
paz mundial, é evidente a hegemonia histórica dos EUA que, inclusive quando não
concordam com a vontade da maioria, simplesmente fazem a sua vontade
particular.
- Organização dos Estados Americanos (OEA). Formada em 1948 em Bogotá –
Colômbia. Aqui sim é completamente evidente a dominação estadunidense, na sua
pretensão de expansão na região, sob a “doutrina Monroe” da América para os
Americanos6.
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A doutrina Monroe surge já no século XIX em confronto com o projeto de unidade bolivariana e da tentativa
da soberania dos nossos povos, iniciada nas lutas pela independência em vários países da região, nessa
doutrina se expressa o suposto Destino Manifesto dos EUA, o que implicaria a sua superioridade e por tanto
a necessidade de dominar as Américas todas.
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incentivar a cooperação econômica. Durante as décadas de 1950 e 1960 haverá
uma forte ênfase em políticas desenvolvimentistas para a região a partir da CEPAL
e da OEA.
É nesse espírito que se cria a Escola das Américas em 1946, para a formação de
militares de toda a região no suposto combate ao comunismo, o que na verdade
não é mais do que práticas de terrorismo de Estado no enfrentamento da questão
social, das lutas de classes, dos trabalhadores mais pauperizados e de todos
aqueles setores da sociedade que decidiram reivindicar direitos sociais e melhores
condições de vida.
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processo de disputa pelo mundo que seria mais no âmbito ideológico e cultural, já
que um enfrentamento bélico poderia implicar em uma guerra atómica-nuclear como
ameaça para toda a humanidade. A “guerra fria” teria finalizado, supostamente, com
o fim da URSS em 1991.
Mas, na verdade, durante todo esse período, o mundo fervia com processos de luta
pela libertação nacional, luta pelo socialismo, processos emancipatórios diversos
ao longo dos cinco continentes; e a resposta por parte dos Estados capitalistas e do
imperialismo foi o reforço e a intensificação da estratégia contra-insurgente.
1950 a 1953 – Guerra de Libertação da Coréia, conhecida por nós como a “Guerra
da Coréia”. Que terminou com a cisão permanente entre a República Democrática
da Coréia (Coréia do Norte, de carácter socialista, aliada da URSS e da China) e a
Coréia do Sul (aliada dos EUA).
1955 a 1975 – A guerra imperialista da Indochina (conhecida por nós como a Guerra
do Vietnã). Após a libertação do povo do Vietnã como colônia francesa, e dado o
seu caráter socialista autodeterminado, os EUA intervêm pretendendo uma cisão
como ocorreu na Coréia. Após 20 anos de guerra e brava resistência do povo (com
o apoio da URSS e da China), os EUA tiveram que sair e parar a intervenção, já
quando se detonava a crise estrutural do capital e havia uma forte recusa, por parte
do próprio povo dos EUA, à essa intervenção.
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populares e de luta armada na região; mas que, por sua vez, pôs os EUA em alerta.
Não por acaso nesse ano se cria o BID e em 1961 se cria a estratégia de Aliança
para o Progresso, com a promessa de desenvolvimento capitalista, implicando na
expulsão de Cuba da OEA em 1962.
Estas expressões de lutas não foram somente parte de uma disputa cultural,
insistimos na resposta brutal dos Estados capitalistas e do imperialismo, com
práticas de repressão generalizada, prisões arbitrárias, assassinatos, entre outras.
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Já na década de 1970, se realizará a primeira experiência de tentativa de uma
transição ao socialismo pela via das instituições democráticas burguesas, com o
Governo da Unidad Popular, no Chile. O Programa desse governo, sob a
Presidência de Salvador Allende, implicava em reformas democráticas econômicas,
políticas, sociais, em uma clara perspectiva anti-imperialista e internacionalista.
Desde o momento em que o Allende foi eleito começou o processo de boicote e
inclusive de atentados, até que em 11 de setembro de 1973 foi dado o golpe civil-
militar, onde se inicia a primeira experiência de neoliberalismo no mundo.
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Assim, a região seguia fervendo. Inclusive em 1979, na Nicarágua, triunfa uma
segunda revolução por meio da luta armada, o que novamente inspira diversas
expressões de resistências e lutas.
Bibliografia.
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Sierra-Tapiro, J. P. (2021). ¿Qué Trabajo Social crítico? Una aproximación a
debates contemporáneos sobre las perspectivas históricas para pensar la profesión
en NuestrAmérica. Revista Eleuthera, 23 (1), 157-179. DOI:
http://doi.org/10.17151/eleu.2021.23.1.9. Disponible en:
http://190.15.17.25/eleuthera/downloads/Eleuthera23(1)_9.pdf